O avanco da internet e sus influências na esfera publica

June 4, 2017 | Autor: Eduardo Gayer | Categoria: Sociology, Comunicacion Social
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O avanço da internet e sus influências na esfera pública Eduardo Gayer O acesso à informação transformou-se significativamente ao longo da história. Na Idade Média, a Igreja Católica tinha pleno controle das informações que circulavam nas sociedades europeias, já que o Index impedia a disseminação de conteúdos que poderiam ameaçar tal supremacia, além do fato de que a maioria dos cristãos não-clérigos eram analfabetos naquele tempo. Até mesmo os projetos educacionais do papado eram reguladores de conteúdo, em vista de que as escolas das ordens religiosas seguiam rigorosamente as doutrinas do Concílio de Trento. A transição do período medieval para a Idade Moderna abalou significativamente tais estruturas. Martinho Lutero, no contexto da Reforma Protestante, aproveitou-se da revolucionária invenção de Gutemberg, a imprensa, para reproduzir Bíblias traduzidas para o alemão, permitindo, assim, que mais pessoas (o luteranismo incentivou largamente a alfabetização) pudessem ter acesso aos dizeres das Sagradas Escrituras, que até então eram em latim, destruindo o monopólio da leitura da Bíblia que até então era restrita aos religiosos. A imprensa de Gutemberg, no entanto, não foi utilizada apenas para reproduzir exponencialmente as Bíblias. Com tal invenção, podia-se, com maior rapidez, multiplicar o número de livros e outros escritos, como os jornais mais rudimentares que começavam a surgir (de uma forma diversa da atual, mas ainda assim eram noticiosos), o que expandiu, inevitavelmente, o acesso à informação. O decorrer da Idade Moderna fez com que a burguesia em ascensão, interessada a expandir seus negócios, passasse a questionar as monarquias, em sua maioria absolutistas, vigentes. A constante difusão das ideias em crítica ao poder do Estado resultaram no que se chama de “esfera pública”. Jurgen Habermas foi um grande teórico da comunicação que dissertou a respeito da existência de uma “esfera pública”, que seria um território ideal de interrelações humanas que visa a discussão de deliberação de temas de interesse comum. Ou seja, trata-se de um ambiente onde as escolhas coletivas são operadas via debate racional entre indivíduos livres e conscientes, a fim de formar uma opinião coletiva. A teoria habermasiana ainda diz que a esfera pública teve seu apogeu entre o fim do Antigo Regime, quando a burguesia consegue derrubar definitivamente o absolutismo, até a Revolução Industrial. Esse período de tempo teria sido o momento em que a esfera pública mais se dinamizou com a criação de novos e diversos espaços públicos. É importante diferenciar esfera pública de espaço público. Este último não se trata do tal território abstrato de interrelações, mas sim o que classifica o próprio local de discussão. Entre o Antigo Regime e a Revolução Industrial, como dito, houve a criação de diversos espaços públicos para deliberar a respeito de temas da esfera pública – os cafés europeus (que já surgiam, mas

vão crescer ainda mais no final do século XIX) sediavam discussões literárias, filosóficas e políticas. A esfera pública surge, portanto, dentro de uma lógica burguesa. O passar do tempo levou a um fenômeno de Habermas denominou como “mudança estrutural da esfera pública”. Essa mudança, que mais se assemelha a uma crise, teria tido início com a Revolução Industrial (portanto, após o período auge da esfera pública), quando a burguesia conseguiu expandir seus lucros e influência. Tal processo, contudo, como pode parecer a primeira vista, não se limita a um desenvolvimento da comunicação, pois a esfera pública condiciona modos de organização política, social e econômica. A inegável capitalização dos mais diversos setores da sociedade chegou a atingir a informação. A informação, em tese, por ser parte da esfera pública, não pode estar submissa aos interesses privados. É fato, todavia, que ela está sim submissa aos pilares do capitalismo mais ávido pelo lucro. Essa mudança, ou seja, o momento em que a informação deixa o âmbito da esfera pública para migrar aos interesses privados, altera completamente a natureza do debate na esfera pública: a mediação do debate não mais desempenha exclusivamente uma função social, mas passa a ter função comercial. Dessa forma, a burguesia, detentora de grande parte dos espaços públicos, pode transformá-los em plataforma das ideias burguesas, impondo à sociedade seus interesses privados travestidos em temas de interesse coletivo. Essa mudança estrutural da esfera pública também afeta os pilares da democracia, na medida em que, a partir daí, debates de relevância para a população são ocultados pelos anseios burgueses. A imprensa, que deveria promover debates e articular o diálogo, perde essa função social e passa a atender anseios econômicos, dificultando o debate. A indústria cultural também tem seu papel na precarização da esfera pública. Produções de cultura de massa que não oferecem qualquer acréscimo na vida de seu receptor evidenciam uma manipulação, na medida em que impedem a reflexão e induzem a sociedade a gostarem e ficarem presas às suas exibições. Passados alguns séculos, a internet surgiu como um instrumento revolucionário que permite transferir conteúdo informativo do mundo físico, isto é, o palpável, para o mundo cibernético. Desde então as transformações na sociedade e na forma como ela se relaciona com seus indivíduos são notórias – o que demanda esta problematização. O advento da internet surge como a criação de um novo espaço público no mundo cibernético que pode ser utilizado para deliberar a respeito de temas inerentes à esfera pública. O surgimento da internet como novo espaço público abala essa estrutura de domínio da elite. Eis o debate: até que ponto a rede diminui a influência dos interesses privados sobre a esfera pública e pode trazer de volta a função social da mesma através de sua dilatação? Sem dúvidas, a popularização do acesso à internet e seu caráter mais livre (pois necessita de recursos mais baratos, ao contrário das Tvs e jornais) permitiu que milhares de pessoas pudessem criar seus espaços de expressão, como blogs, sites e páginas, que criam uma multiplicidade de opiniões que

muitas vezes não é vista na mídia convencional. Essa novidade, inevitavelmente, ao ampliar o acesso à esfera pública participação nela, inicia um processo de democratização da informação, que também deve ser buscada na mídia convencional através de leis que barrem o monopólio de meios de comunicação, prejudiciais à nossa democracia. É primordial que a população receba informação de qualidade e menos ligada à interesses mercantis, para que possa formar sua opinião livre de parcialidades de interesse privado e possa exercer sua cidadania de forma plena. É possível sustentar que a constante criação de blog e outros mecanismos de expressão é uma dilatação da esfera pública, na medida em que dinamizam os debates, tornando-os mais abrangentes e com maior leque de pontos de vista. Na internet, o usuário pode ser emissor e receptor de informação em um minúsculo intervalo de tempo, o que revela sua surpreendente dinâmica. A notável capacidade comunicacional da internet fez, inclusive, com que as empresas ligadas à mídia convencional buscassem nesse novo espaço público meios para divulgar seus materiais, pois o mundo cibernético pode oferecer uma versatilidade de formatos e recursos que são mais restritos no papel de jornais e revistas ou nos meios de difusão eletromagnética. A grande novidade da rede é que, por conta de seu caráter mais popular e de fácil acesso, não precisa obedecer a um só interesse político ou ideológico – como dito, oferece uma multiplicidade de opiniões que dificultam meios de manipulação. Por exemplo, a Petrobrás, ao criar seu portal institucional em que divulga dados da empresa a qualquer cidadão, pode coibir a mídia comum de disseminar informações falsas ou mal-apuradas. É de conhecimento de todos que a internet, também, teve papel fundamental na organização de protestos no Oriente Médio no início da chamada “Primavera Árabe”, o que adiciona, também, a possibilidade de usá-la contra os autoritarismos presentes em muitos países. Nesse sentido, pode-se discorrer da novidade do “jornalismo cidadão”, que exemplifico com o site Brasil Wiki, como feito por Mariana Dourado, da Unesp, em seu artigo “A Esfera Pública no Jornalismo Cidadão Online”. Brasil Wiki propõe que qualquer pessoa possa produzir e publicar notícias – o jornalista, com suas práticas a valores, apenas editam o conteúdo para um formato agradável, impede a publicação de textos homofóbicos e racistas e confere a credibilidade da informação. O jornalismo cidadão, por não atender necessariamente ao capital, não oferece coerções ou pressões editoriais. Aqui, talvez, tenha-se o exercício da esfera pública nas formas anteriores à sua mudança estrutural discorrida por Habermas. Entretanto, deve-se também problematizar a expansão da internet, que já revela diversos revezes e paradoxos. Há quem diga que a rede reforçou tendências da esfera pública, como a perda de identidade e a disseminação de informações falsas (o que, aqui, pode ser feito em escala muito maior); e exatamente essa falta de controle dos conteúdos circulantes causam empobrecimento do debate da esfera pública. Ainda existe a argumentação de que justamente o fato de a internet oferecer uma multiplicidade de opiniões e

milhares de sites faz com o que o debate se fragmente, afinal, há uma descentralização de acessos. Também não se pode esquecer que para ter acesso à internet é necessário possuir um computador ou smartphone com plano de dados que, infelizmente, ainda não estão ao alcance de toda a população mundial. Além disso, é fato que nos dias de hoje, os instrumentos da rede podem ser utilizados para expor a público a intimidade pessoal de pessoas que não se atentam aos perigos das novas tecnologias, evidenciando que essas novas e rápidas transformações podem ser prejudiciais em sua sociedade em que a linha entre “público” e “privado” é muito tênue. Essas duas correntes de pensamento a respeito dos avanços e limites da internet no processo de dilatação da esfera pública são muito recorrentes. Acredito que, sim, a internet fortalece a esfera pública, apesar de transformá-la para um campo ainda pouco estudado por se tratar de um processo muito recente. Dada a multiplicidade de opiniões oferecidas, pode haver maior participação popular, inclusive da política, através da mais facilitada obtenção de informação (desde que em fontes seguras) e dos portais de transparência, que são uma tendência em vista dessa demanda da sociedade. A manutenção do debate com aumento da visibilidade de fatos e versões fortalecem a esfera pública e reduzem a hegemonia da informação dos grandes grupos de mídia atuais. A fim de superar a alta incidência de boatos nas redes, o ideal é combinar os dois modos de provimento de informação – a internet (através da leitura de diferentes pontos ideológicos) e meios tradicionais. Apenas a assídua leitura pode ser capaz, como diz o ditado popular, de “separar o joio do trigo”. Sem contar que, cada vez mais, a população tem acesso a esses meios de comunicação. Portanto, a Internet segue uma linha de democratização da informação, pois como já disse Wilson Gomes, professor de Teoria da Comunicação na UFBA, “instrumentos que ofereçam alternativas a este monopólio operam em favor da cidadania”. Todas essas transformações no meio comunicacional estão remodelando a esfera pública e criando novos espaços públicos para debate. Iniciativas como o jornalismo cidadão do Brasil Wiki são importantes para o fortalecimento da esfera pública em uma possível retomada de seu caráter democrático, como era no período anterior à mudança estrutural proposta por Habermas, mas que, de certo, é quase utópica frente ao poder dos grandes conglomerados midiáticos. Deve-se trabalhar para que a internet atinja seus objetivos democráticos reduzindo o tão perigoso monopólio da informação, por meio da conscientização dos cidadãos e formação do espírito crítico coletivo. Com informação de qualidade, a sociedade sempre sairá ganhando.

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