O AVANÇO TECNOLÓGICO E SEUS IMPACTOS SOBRE O MUNDO DO TRABALHO E A SOCIEDADE

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O AVANÇO TECNOLÓGICO E SEUS IMPACTOS SOBRE O MUNDO DO TRABALHO E A SOCIEDADE Fernando Alcoforado* No artigo de John Naughton Os robôs realmente vão dominar o mundo disponível no website , consta a informação de que David Grossman fez um excelente filme para o telejornal do Newsnight sobre a ameaça da robótica avançada para o emprego. Nesse filme, ele realizou a peregrinação padrão ao MIT para entrevistar Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee, que fizeram muitos avanços nesta área com a publicação de vários livros, dos quais o mais recente é The Second Machine Age (A segunda era da máquina). O argumento de ambos, disse Grossman, foi que nossa sociedade alcançou um "ponto de inflexão” que é um ponto de uma curva em que a curvatura ou concavidade muda de sinal, de positivo para negativo (ou vice-versa). No livro The Second Machine Age (A segunda era da máquina), seus autores afirmam que “a combinação do poder de computação maciço com redes abrangentes, aprendizado de máquinas, mapeamento digital e a "Internet das coisas" estão produzindo uma revolução industrial completa, na mesma escala que as transformações causadas pela energia a vapor e a eletricidade. Mas enquanto essas revoluções mais antigas suplantaram a força física humana (e equina), a nova vai suplantar muito da cognição humana, e o trabalho que exigia empregar pessoas para fazer tarefas de processamento de informação afinal será feito por computadores. A implicação é que até as pessoas em muitas ocupações de colarinho branco poderão se ver desempregadas”. A maioria das pessoas não tem ideia das capacidades dessas novas tecnologias. Há o carro que se autodirige da Google e da Tesla que são mais seguros que os veículos controlados por humanos. Os carros que não precisam de motorista carregam uma imagem mental dos pontos cegos de todos os demais veículos que estão na estrada, e podem perceber que um deles está desacelerando a distância maior que um motorista poderia. E se computadores podem dirigir carros com segurança em ambientes urbanos saturados, certamente podem fazer muitas tarefas hoje realizadas por funcionários de escritório. Desta vez é diferente. Estamos realmente à beira do ponto de inflexão. Segundo John Naughton, a tecnologia é a principal força – senão a única – que está movendo a história na era contemporânea. Essas novas tecnologias chegaram em um momento em que o capitalismo neoliberal parece ter sido construído de propósito para intensificar a extrema racionalização do trabalho que as novas tecnologias permitem. É provável que o sistema mundo capitalista que apoia a maciça transferência de empregos dos países capitalistas centrais para países periféricos de baixa remuneração não deixaria de aproveitar a oportunidade de substituir funcionários de colarinho branco caros por robôs que custam cerca de 4 dólares por hora para funcionar e que não têm sindicatos e não ficam doentes ou deprimidos. Segundo Brynjolfsson e McAfee, temos tecnologias que estão moldando o mundo para o qual rumamos. O ponto de inflexão de que David Grossman falou poderia na verdade ser a borda de um precipício. A ameaça aos empregos atuais é bastante evidente. A consultoria Boston Consulting Group prevê que, em 2025, até um quarto dos empregos seja substituído por softwares ou robôs, enquanto que um estudo da Universidade de Oxford, no Reino Unido, aponta que 35% dos atuais empregos no país correm o risco de serem automatizados nas próximas duas 1

décadas (Wakefield, Jane. Quais profissões estão ameaçadas pelos robôs? Disponível no website ). Quais profissões estão ameaçadas pelos robôs? Wakefield informa que são os motoristas de táxi, operários de fábrica, jornalistas, médicos, advogados, “barman”, etc. Motoristas de táxi ao redor do mundo estão ameaçados porque tanto o Uber quanto fabricantes de veículos e até mesmo o Google já estão buscando criar um serviço que dispense a presença do motorista. O governo britânico está atualizando as placas de trânsito para viabilizar o funcionamento dos carros sem motorista. Operários de fábrica estão ameaçados porque as linhas de montagem estão sendo cada vez mais automatizadas e na China estão sendo construídos robôs que eventualmente substituirão os seres humanos. A primeira fábrica apenas operada por robôs está sendo construída na cidade de Dongguan, famoso polo operário da China. A Foxconn, por exemplo, que fabrica aparelhos eletrônicos como os iPhones da Apple, também planeja um exército de robôs com a substituição de 30% da atual força de trabalho nos próximos cinco anos. A profissão de jornalista está ameaçada porque em futuro próximo, reportagens não serão mais escritas por jornalistas. Cada vez mais companhias vêm oferecendo softwares capazes de coletar dados e transformá-los em textos minimamente compreensíveis. Kristian Hammond, chefe-cientista da Narrative Science, estima que, em 15 anos, 90% das notícias serão escritas por máquinas. 90% dos jornalistas vão perder seu trabalho. Os médicos estão ameaçados porque alguns procedimentos médicos são feitos de forma mais rápida por robôs que são capazes de analisar dados para descobrir possíveis tratamentos para doenças. O Watson, um supercomputador da IBM, está atuando em conjunto com dezenas de hospitais nos Estados Unidos para oferecer recomendações sobre os melhores tratamentos para diversos tipos de câncer. Robôs também vêm ajudando médicos a realizarem cirurgias. A velocidade é um fator crucial no sucesso de tais operações e as máquinas são capazes, por exemplo, de costurar vasos sanguíneos muito mais rápido do que os humanos. Os advogados iniciantes foram praticamente substituídos por software de pesquisa judicial e os “barman” estão ameaçados com o lançamento pelo cruzeiro de luxo Anthem of the Seas de um bar automatizado a partir de uma máquina desenvolvida pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos) há alguns anos. As bebidas podem ser pedidas por meio de um tablet e usuários não estão limitados ao menu que recebem à mesa – eles podem, inclusive, criar seu próprio coquetel. O braço robótico mistura o coquetel e o coloca em um copo de plástico (para evitar acidentes) que é acoplado a uma tina. Financial Times publicou o artigo Robôs já substituem humanos fazendo ronda policial e diagnóstico de câncer (). Com 1,5 metro de altura e repleto de sensores, o robô de guarda patrulha uma área, usando dados de sensores ópticos e de som e sistemas de reconhecimento de placas de licença de automóveis para transmitir informações às autoridades locais ou serviços privados de segurança. O robô pode portar muito mais equipamento do que um policial poderia carregar em seu cinturão, e livrá-lo de trabalhos "monótonos, entediantes e rotineiros". Máquinas agora podem diagnosticar câncer de mama melhor do que seres humanos. 2

O artigo do Financial Times informa ainda que a maior vantagem é que os robôs são bons para fazer coisas perigosas ou que não são apropriadas para um ser humano, como empurrar um carrinho com 120 quilos de roupa para lavar, recolher resíduos infecciosos, transportar medicamentos muito dispendiosos de quimioterapia. A Blue Prism, companhia britânica que trabalha em serviços de back office para clientes como os bancos Barclays e Co-operative Bank, vende um robô que preenche formulários e usa sistemas de computador como um ser humano usaria, sem necessidade de outras mudanças na plataforma de tecnologia. Um fato é indiscutível: enquanto a primeira era da máquina, a 1ª Revolução Industrial, substituía o uso dos músculos humanos pelo uso das máquinas, a revolução científica e tecnológica em curso trará a substituição pelas máquinas de tarefas cognitivas realizadas por seres humanos. "Haverá algumas semelhanças com a primeira era da máquina –uma tremenda abundância–, mas também diferenças importantes", diz Brynjolfsson. "Quando você substitui trabalho braçal por máquinas, ainda precisa de seres humanos para tomar decisões sobre o que deve ser feito, o que torna o trabalho humano mais valioso; mas na nova onda não está claro se as máquinas substituirão ou complementarão os seres humanos". Outro fato é evidente: os robôs muitas vezes custam menos que os seres humanos, trabalham jornadas mais longas, e podem executar tarefas menos seguras. Especialistas acreditam que a inteligência das máquinas se equiparará à de humanos até 2050, graças a uma nova era na sua capacidade de aprendizado. Computadores já estão começando a assimilar informações a partir de dados coletados, da mesma forma que crianças aprendem com o mundo ao seu redor. Isso significa que estamos criando máquinas que podem ensinar a si mesmas a participar de jogos de computador – e ser muito boas neles – e também a se comunicar simulando a fala humana, como acontece com os smartphones e seus sistemas de assistentes virtuais. Mas o que os seres humanos vão fazer quando suas habilidades não tiverem mais utilidade? Para Martin Ford ─ autor do livro Rise of the Robots ("Ascensão dos Robôs", em tradução livre), o mundo enfrentará desemprego em massa e um colapso financeiro a menos que sejam implementadas mudanças radicais, como a garantia de um salário mínimo (Wakefield, Jane. Inteligência artificial: máquinas que pensam devem surgir 'até 2050'. Disponível no website . Mas, mais do que um salário mínimo para os desempregados, é preciso edificar um novo modelo de sociedade que evite uma crise de humanidade sem precedentes com a substituição do trabalho humano pelas máquinas Uma sociedade em que os seres humanos sejam descartados da atividade produtiva é insustentável social e politicamente. Tudo o que acaba de ser relatado mostra que o avanço tecnológico é inevitável e seus efeitos sobre a sociedade são catastróficos. Sobre o avanço tecnológico, cabe observar que Gordon Earl Moore, co-fundador da Intel Corporation, uma das maiores empresas fabricantes de processadores do mundo, escreveu em 1965, um artigo para a revista Electronic Magazine, que foi publicado no dia 19 de abril daquele mesmo ano no qual conjecturava a respeito da fantástica evolução da tecnologia dali para frente. E foi nestas reflexões que fez uma das previsões mais certeiras sobre a informática do último meio século.

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Moore afirmou que "A complexidade para componentes com custos mínimos tem aumentado em uma taxa de aproximadamente um fator de dois por ano. Certamente, em um curto prazo, pode-se esperar que esta taxa se mantenha, se não aumentar. A longo prazo, a taxa de aumento é um pouco mais incerta, embora não haja razões para se acreditar que ela não se manterá quase constante por pelo menos 10 anos. Eu acredito que circuitos grandes como este poderão ser construídos em um único componente (pastilha)". Foi assim que surgiu a Lei de Moore que diz que o poder de processamento dos computadores dobraria a cada 18 meses. Já se passaram 50 anos desde que Moore criou a sua “lei”. E mesmo meio século depois ela continua firme e forte. É uma marca impressionante, especialmente se tratando de evolução do hardware. Em síntese, Moore previu, baseado em suas observações da indústria, que o número de transistores em um processador dobraria, em média, a cada dois anos e mantendo o mesmo (ou menor) custo e o mesmo espaço. Em 1975 houve uma revisão dessa “lei” onde Moore redefiniu o período em que o número de transistores dobraria de dois anos para 18 meses. E ela tem se mostrado certeira até hoje. Os supercomputadores representam muito bem a evolução dos processadores da Lei de Moore. Vale frisar que a Lei de Moore não engloba apenas os processadores domésticos, que usamos em nossos computadores. Ela vale para todos os tipos de processadores em uso, desde calculadoras e câmeras digitais até supercomputadores. A indústria de semicondutores, vendo que podiam alcançar a meta que Moore havia falado em seu artigo, passou a investir pesado em pesquisa e desenvolvimento, de forma que de fato eles conseguiram dobrar o número de transistores nos processadores a cada 18 meses. O avanço tecnológico gerará inevitavelmente três consequências: 1) a queda no consumo ou demanda geral de bens e serviços devido ao aumento do desemprego e a redução do poder aquisitivo da população trabalhadora; 2) o declínio da classe média com grandes implicações de natureza política haja vista que ela atua como aliada da burguesia; e, 3) o enfraquecimento da luta dos sindicatos em prol dos trabalhadores e da luta de classes entre burguesia e proletariado. As consequências políticas do fim do emprego graças ao avanço tecnológico são bastante graves porque a população precisa trabalhar para sobreviver. Esta situação poderá abrir caminho para o advento de uma revolução social de consequências imprevisíveis, a não ser que seja implantado um novo modelo de sociedade inspirado na social democracia escandinava (Suécia, Dinamarca, Noruega, Finlândia e Islândia). O modelo nórdico ou escandinavo de social democracia poderia ser melhor descrito como uma espécie de meio-termo entre capitalismo e socialismo (Wikipedia. Modelo nórdico Disponível no website ). Não é nem totalmente capitalista nem totalmente socialista, sendo a tentativa de fundir os elementos mais desejáveis de ambos em um sistema "híbrido". Em 2013, a revista The Economist declarou que os países nórdicos são provavelmente os mais bem governados do mundo. O relatório World Happiness Report 2013 da ONU mostra que as nações mais felizes estão concentradas no Norte da Europa, com a Dinamarca no topo da lista. Os nórdicos possuem a mais alta classificação no PIB real per capita, a maior expectativa de vida saudável, a maior liberdade de fazer escolhas na vida e a maior generosidade. Sem mudança do modelo de sociedade imperante hoje no mundo, o neoliberalismo, não serão superados os problemas do desemprego.

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*Fernando Alcoforado, 77, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia SustentávelPara o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015) e As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016). Possui blog na Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: [email protected].

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