O BRASIL TERÁ O MESMO DESTINO DO TITANIC

June 9, 2017 | Autor: Fernando Alcoforado | Categoria: Sociology, Economics, Public Administration, Social Sciences, Political Science
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O BRASIL TERÁ O MESMO DESTINO DO TITANIC? Fernando Alcoforado* O Transatlântico Titanic foi construído com base em uma tecnologia revolucionária. O casco do navio era dividido em dezesseis compartimentos e protegido por um inovador sistema de portas à prova d’água, baixadas de forma manual ou automática, por meio de poderosos eletroímãs. O Titanic foi projetado para flutuar com dois compartimentos inundados, mas acreditavam que a embarcação permaneceria navegando com até quatro deles inundados. Ao ser rasgado por um iceberg, cinco deles foram inundados, fato este que levou ao naufrágio do Titanic em 1912 com mais de 1.500 mortos. Com isso, a frente do Titanic, muito mais pesada por conta da inundação, começou a submergir, fazendo a traseira levantar para fora da água. Para estudiosos do desastre, o principal culpado pela sua ocorrência foi o capitão Edward Smith, que não reduziu a velocidade do navio diante dos vários avisos sobre icebergs enviados por outros navios durante todo o dia. A tripulação do Titanic manteve o navio na velocidade máxima mesmo depois de ter recebido informações sobre icebergs na área. Se o alerta sobre o iceberg chegasse pelo menos 30 segundos antes, teria sido possível evitar a colisão. Outro problema crucial foi a pouca quantidade de botes salva-vidas, suficientes para abrigar apenas metade dos passageiros e tripulantes a bordo do navio. Só havia 20 barcos salva-vidas a bordo do navio, mas o Titanic era capaz de carregar até 64 e o plano inicial era para que ele carregasse 48. Muitos dos barcos salva-vidas não estavam com a sua capacidade máxima de pessoas a bordo. Se estivessem, seria possível salvar 53,4% dos passageiros, mas apenas 31,6% deles sobreviveram. O número foi reduzido para fazer com que o deck não parecesse desorganizado. O desorganizado processo de salvamento de passageiros também contribuiu para o alto número de vítimas porque quase todos os botes foram lançados ao mar sem lotação máxima. Constata-se, pelo exposto, que os responsáveis pela operação do navio não adotaram as medidas de precaução necessárias para evitar a ocorrência do desastre. A precaução é uma ação para fazer frente a riscos potenciais que correspondem a acontecimentos perigosos que pode ou não ocorrer ao qual não se pode atribuir probabilidade. A possibilidade de haver icebergs na trajetória do Titanic exigia a adoção de medidas de precaução na operação do navio que deveria contemplar a redução da velocidade do navio, a existência da quantidade de botes salva-vidas suficientes para abrigar os passageiros e tripulantes a bordo do navio e melhor organização na operação de salvamento. A não adoção de medidas de precaução foi decisiva para o naufrágio do Titanic. Idêntica situação ocorre com o Brasil porque o governo Dilma Rousseff agiu irresponsavelmente durante seu primeiro mandato devido à total falta de planejamento estratégico de longo prazo para nossa economia haja vista que o governo vem trabalhando como bombeiro “apagando incêndios” com a adoção de medidas emergenciais para tratarem problemas que seriam facilmente resolvidos se houvesse um planejamento macro. O Brasil bateu em 2015 uma série de recordes negativos porque alcançou os piores resultados da história recente da economia brasileira no crescimento econômico, na geração de emprego, nas contas do governo, no aumento da inflação e no empobrecimento da população. Além disso. O Brasil perdeu o selo de bom pagador no mercado com a perda do grau de investimento. 1

A situação econômica do Brasil está se agravando a cada dia que se passa em meio a um quadro recessivo de grandes proporções. A atual situação econômica do Brasil vem fazendo com que empresários adiem investimentos e novos empreendedores aguardem momentos menos incertos para iniciar seus projetos. Os números negativos relativos ao crescimento do PIB, taxa de inflação, taxas de juros, falência generalizada de empresas e desemprego em massa não deixam dúvidas sobre a gravidade da situação econômica brasileira. A atual situação econômica do Brasil é tecnicamente de estagnação. É fato que teremos mais um ano extremamente difícil, com muitas incertezas e, provavelmente, com o agravamento de todos os problemas atuais. O pior deles deverá ser o empobrecimento geral da população, duramente conquistado nas últimas décadas, especialmente por conta do aumento substancial da inflação. Apesar de o modelo econômico neoliberal adotado pelo governo Dilma Rousseff dando continuidade aos governos FHC e Lula apresentar sinais de esgotamento não houve nenhuma iniciativa no sentido de sua substituição por um modelo alternativo de desenvolvimento do País. Outro problema enfrentado pelo governo Dilma Rousseff é que perdeu a confiança da nação. A confiança é a mola propulsora da economia. Se não existe confiança não existe investimento e, por consequência, não existe geração de empregos, aumento de renda e riqueza, ou seja, não existe melhora da situação econômica do País. Reverter esse quadro crítico em que vivemos com uma crise fiscal de grande magnitude requer um período longo de recuperação. Constata-se, pelo exposto, que o governo Dilma Rousseff não adotou as medidas de precaução necessárias para evitar a ocorrência do desastre econômico em que se encontra o País. O “iceberg” na trajetória da economia brasileira é representado pelo modelo econômico neoliberal que precisa ser substituído por outro que contribua para a reversão do quadro atual. Com um governo completamente à deriva e sem qualquer perspectiva ou plano de salvamento como ocorreu com o Titanic, a única saída para uma melhora consistente da confiança da população, de investidores e empresários seria: 1) o impeachment de Dilma Rousseff do PT e de Michel Temer do PMDB que é, também, corresponsável pelo descalabro político e administrativo atual do Brasil; 2) a convocação de uma Assembleia Constituinte para reordenar a vida nacional; 3) o banimento de partidos e políticos corruptos; e, 4) a convocação de novas eleições gerais no País. Esta seria a solução efetiva para a crise atual do País porque nada assegura que apenas com a substituição de Dilma Rousseff por Michel Temer os problemas do País sejam resolvidos. Para dar sustentação a uma nova estratégia de desenvolvimento para o Brasil é necessário que o Estado brasileiro seja comandado por gente competente, com visão estratégica e comprometida com os interesses da maioria do povo brasileiro. O Estado brasileiro deve dispor, em todos os seus níveis, de uma estrutura organizacional eficiente e eficaz diferente da atual a fim de que o projeto de desenvolvimento do país tenha caráter progressista gerando transformação, mudança, progresso, criação e distribuição de riqueza. O desenvolvimento econômico se materializa quando há transformação, mudança, progresso e criação de riqueza, e o desenvolvimento social só acontece quando a riqueza é amplamente distribuída pela população, isto é, não é concentrada. Um projeto de desenvolvimento tem, portanto, caráter progressista quando o desenvolvimento econômico e o desenvolvimento social ocorrem simultaneamente.

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O novo projeto de desenvolvimento para o Brasil requererá, portanto, na atualidade uma nova e urgente reforma do Estado e da Administração Pública no Brasil para dar-lhe sustentação. Repensar a reforma do Estado requer uma ruptura com o paradigma ainda dominante nos estudos desta área que privilegia o papel da tecnocracia na gestão governamental em detrimento da manifestação de setores da sociedade civil. Não basta mais e mais concentração do poder técnico, como ocorre na atualidade. É preciso levar em conta também a dimensão política da reforma do Estado, contemplando a participação de setores da sociedade civil através de audiências públicas, plebiscitos e referendos nas tomadas de decisão sobre as questões mais relevantes. A ênfase na política requer, fundamentalmente, o fortalecimento das conexões do Estado com a sociedade e com as instituições representativas, expandindo também os procedimentos de cobrança e de prestação de contas, os meios de controle social externo, a transparência e a publicização dos atos do governo. * Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no BrasilEnergia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).

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