O CAMINHO DE UM NOVO CONHECIMENTO DE SI MESMO

May 22, 2017 | Autor: E. Bauch Zimmermann | Categoria: Analytical Psychology
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O CAMINHO DE UM NOVO CONHECIMENTO DE SI MESMO

A Psicologia Analítica Junguiana constitui a base teórica de uma das
modalidades de Psicoterapia que vem se destacando atualmente: a Análise
Junguiana. Correspondendo a uma necessidade crescente do desenvolvimento do
indivíduo, numa sociedade que, cada vez mais, se volta para o consumo e
massificação, ela afirma a necessidade do auto conhecimento e da ligação
entre consciência e inconsciente. Prevê um processo natural de crescimento
em direção à inteireza da personalidade, conhecido como INDIVIDUAÇÃO. Sua
abordagem terapêutica inclui a interpretação simbólica de sonhos e imagens
interiores que podem ser objetivados através de várias técnicas expressivas
não verbais como a Imaginação Ativa, o Desenho Livre, a Dança Criativa, e
Meditativa e o Jogo na Areia. A Análise Verbal é associada a essas
técnicas, favorecendo a elaboração das experiências vividas, dos conflitos
e dificuldades pessoais.
A Imaginação Ativa, uma técnica terapêutica não-verbal criada por
Jung, é uma experiência meditativa que visa a emergência de imagens
interiores impregnadas de emoções importantes na história do
desenvolvimento do indivíduo.
O Desenho Livre possibilita a expressão de conteúdos psíquicos
inconscientes, como já foi observado em diversos testes projetivos. A única
instrução dada aos participantes dos grupos é que desenhem aquilo que
esteja presente no momento, sendo o objetivo dar uma realidade concreta a,
pelo menos, parte do acontecimento imaginário. A objetivação dos conteúdos
interiores através do desenho é vista como uma forma de estimular o diálogo
do Eu consciente com as imagens interiores consteladas no momento.
O Jogo na Areia, introduzido por Dora Kalf utiliza uma bandeja cheia
de areia que se constitui num espaço livre e protegido, possibilitando às
pessoas, ao criar situações, o contato com o inconsciente e a expressão de
experiências pré-verbais e energias bloqueadas. Este cenário serve para a
construção de imagens, através do uso de uma grande variedade de miniaturas
que representam uma amostra do mundo real e da fantasia. Em sua prática
clínica, Kalf percebeu que o efeito da expressão lúdica na Caixa de Areia
correspondia à ativação de energias regeneradoras e curativas, enfatizando
a conexão entre o Self inconsciente e o Ego consciente, resultando na
restauração do funcionamento natural da Psique.
Dentre essas técnicas expressivas, nosso ponto de concentração foi a
Dança Meditativa.
A premissa teórica do nosso trabalho é a de que existe uma relação
direta entre as imagens interiores de uma pessoa - os estados emocionais
ligados a ela - e a movimentação do seu corpo no espaço e no tempo. O
movimento corporal tem um significado próprio na sua realidade espacial e
na sua expressão dinâmico-afetiva.
Pode-se dizer, a partir de observações clínicas, que os estados
emocionais de uma pessoa se expressam numa sensação espacial interior que
se manifesta na postura do corpo e no padrão de movimento.
No início da vida, podemos observar que a comunicação não verbal se
desenvolve como uma linguagem vital e mesmo primal. Neste estágio os
movimentos servem como único meio de comunicação. Em seu livro "Das Kind",
Neuman (Bonz Verlag, Fellbach, 1980) descreve como a criança em seu
primeiro ano de vida existe quase que exclusivamente como corpo, ou seja, é
principalmente o Self corpóreo, a totalidade única e delimitada do
indivíduo que ocorre pela unidade biofísica do corpo.
Entende-se que o corpo é uma realidade simbólica, cujos significados
precisam ser desvendados. Para quem se dispõe a pesquisar e ater-se às
mensagens que o corpo expressa, elas são fontes inesgotáveis de dados
proveitosos no trabalho terapêutico.
Os aspectos doentes de nosso corpo ou, segundo a cultura em que
vivemos, inadmissíveis, evocam o conceito de sombra de Jung - aquela parte
da história que não assimilamos e que dificilmente reconhecemos como sendo
nossa. O corpo torna-se então, um arquivo vivo de experiências não
assimiladas, sendo por isto, considerado sombrio e perigoso. Muitas
proibições e muitos tabus giram em torno de necessidades fisiológicas ou
instintivas que o corpo manifesta.
O encontro com o corpo e seu movimento, além de concentrar-se na
vivência atual do Eu consciente, pode ser vivenciado simbolicamente, como
expressão da realidade interior da pessoa , tanto em sua manifestação
passada como futura.
A Dança Meditativa é uma das possibilidades de vivenciarmos o ser
corpóreo nas dimensões de tempo e espaço, representando uma genuína e
direta experiência existencial.
Este trabalho baseia-se em exercícios estruturados para que o
indivíduo alcance a consciência corporal, seguidos de improvisação com
movimentos livres e exercícios de concentração. A conscientização corporal
é buscada através de uma integração harmoniosa de movimentos elementares
ordenados e do uso das possibilidades de movimentação orgânica do corpo. A
música e o movimento combinam-se numa vivência associada aos princípios da
Imaginação Ativa Junguiana. Durante a improvisação livre e a realização dos
exercícios de concentração, a vivência intensa com a música compreendida
como energia sustentadora, ajuda na expressão das imagens, sensações e
acontecimentos psíquicos emergentes. A calma resultante dessa vivência,
possibilita a concentração que cria o espaço e o tempo para se chegar a si
mesmo. A polaridade entre movimento e repouso desenvolve um ponto de
referência pessoal através de uma nova percepção de si e uma consequente
autoconfiança.
A conjugação de movimento meditativo e expressão de imagens
interiores no Desenho Livre e na Caixa de Areia proposta neste trabalho
possibilita um processo de integração dos estados emocionais opostos do
indivíduo, favorecendo uma experiência interior de plenitude e harmonia. A
vivência expressiva é vista como o espaço em que se possibilita ao
indivíduo o contato com as imagens interiores relacionadas com seu processo
de integração psíquica. Assim, os vários aspectos opostos ou polares da
personalidade podem vir à consciência acompanhados das emoções conectadas
com as imagens emergentes. Através da relação com estes estados emocionais
pode ocorrer a objetivação, possibilitando ao paciente, a resolução de
questões pendentes do passado e a integração de novas realidades
interiores. Estas realidades novas, emergindo do Inconsciente, tanto em sua
dimensão pessoal como coletiva, vão enriquecer e completar a percepção
consciente do indivíduo.
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Bibliografia
1- Blackmer, Joan D. - Acrobats of the gods - Dance and transformation,
Inner City Books, Toronto, 1989.
2- Chodorow, Joan - Dance therapy and depth psychology: The moving
imagination. Routledge, London, 1991.
3 - Conger, John P. - Jung e Reich: o corpo como sombra, Sumus Editorial,
S. Paulo, 1993.
4 - Hall, E. - The silent language, Anchor Press Doubleday, New York, 1981.
5 - Kalf, Dora M. - Sandplay, Sigo Press, Santa Monica, Califórnia, 1980.
6 - Noak, Amelie - Dance movement therapy: theory and practic, Helen Payne
Editors, 1992
7 - Woodman, Marion - A coruja era filha do padeiro, Cultrix, S. Paulo,
1980.
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Elisabeth Bauch Zimmermann é Psicóloga Analista Junguiana, Doutora em Saúde
Mental. Atende em seus consultórios e orienta grupos de Dança Meditativa.
Telefones: São Paulo - 011-815-4271; Valinhos - 019-881-1647; Campinas
E-mail: [email protected]
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