O CAMPO DA HISTÓRIA SOCIAL BRITÂNICA: A TRADIÇÃO MARXISTA

June 23, 2017 | Autor: M. Parisi | Categoria: Marxismo, Historiografía, British historians
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O CAMPO DA HISTÓRIA SOCIAL BRITÂNICA: A TRADIÇÃO MARXISTA

Maurício Orestes Parisi

Revista Acadêmica Eletrônica Sumaré 10ª edição - ano 2014

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RESUMO: O artigo pretende apresentar uma primeira abordagem a respeito da constituição da história social britânica de vertente marxista a partir do desenvolvimento histórico da GrãBretanha como primeira potência capitalista e sua continuidade/ruptura com a tradição liberal whig. PALAVRAS-CHAVE: Grã-Bretanha; Capitalismo; Historiografia; Marxismo; Classe Operária.

PARTE I Eram Ilhas muito peculiares. Encarnaram e encarnam o Particular, o Singular e o Universal. Foram o Paraíso Perdido de Milton.Terra cercada (enclosured) e homens livres. Inspiração para as ilhas encontradas pelo Gulliver de Swift. Propriedade privada e homens privados. Céu e Inferno de William Blake. Foram tingidas de cinza pela fuligem de fábricas infernais. Tingidas de verde por jardins artificiais no countryside. Berço do Utilitarismo. Berço do Romantismo. Versos rebeldes de Coleridge e Wordsworth escritos ao mesmo tempo em que relatórios de inspetores de fábricas. Trabalhadores e suas Grandes Esperanças na prosa de Dickens. Carreiristas e alpinistas sociais por William Tackeray. Soldados e aventureiros por Tennyson e Kipling. Deserdados por Thomas Hardy. Aristocratas comicamente empertigados nas peças de Oscar Wilde. Sonhadores e vagabundos nos music halls, onde Chaplin se formou. Banca do Mundo. Oficina do Mundo. Reino da Economia Política. Nação (?) e Império. Capital e Trabalho. História pelo Alto. História por Baixo. Jardim e oficina da historiografia. (1)

As Ilhas Britânicas tem sido epicentro privilegiado da História Mundial (2). Os velhos reinos, Inglaterra, Escócia, Gales e Irlanda e, a partir deles, o Estado Nacional que, historicamente, se constituiu, o Reino Unido Grã-Bretanha e, posteriormente, a República da Irlanda e seu império de proporções globais, tornaram-se protagonistas, centrais ou coadjuvantes, de toda a processualidade histórica referente à formação da Modernidade, para uns, e para outros, a emergência do Modo de Produção Capitalista como sistema dominante global.

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Portanto, a história britânica, incluindo, os irlandeses, apresenta enredo, trama e urdidura, bem como os principais protagonistas dos fundamentais eventos e processos dessa História Mundial como, por exemplo, a crise do Absolutismo e as chamadas revoluções burguesas, o processo de expansão colonial, o desenvolvimento do capitalismo agrário, a industrialização, a formação da classe operária, a constituição da Economia Política. Enfim, a Grã-Bretanha foi a primeira sociedade burguesa e modelo de desenvolvimento capitalista (3).

Na lógica dessas transformações, o século XVIII se destaca como crucial tanto pela Revolução Industrial como pelo Iluminismo escocês. (4) Autores como David Hume, Lord Kames, James Ferguson, Thomas Baird, dentre outros, e, naturalmente, Adam Smith, o “pai da economia política” elaboraram concepções ideológicas (5) sobre a Sociedade, a Natureza e o Homem, que conformaram uma visão de mundo que ao ganhar materialidade nas primeiras obras de história pode ser caracterizada como historiografia liberal whig.

A tônica dessa historiografia é o Progresso entendido como desenvolvimento da Sociedade Civil, passando por estágios, do mais primitivo até a sociedade comercial, sendo que nesse processo, desenvolvem-se os valores do individualismo e da liberdade. A âncora social e econômica dessa liberdade se constitui a partir da propriedade privada. Citando Josep Fontana: “[...] O êxito que alcançou a escola escocesa não tem talvez precedentes na história intelectual da humanidade. Consegui fazer-nos compartilhar da sua visão linear do passado, que se estabelece como u8ma rota marcada por revoluções tecnológicas, que abrem para o homem suas etapas sucessivas de ascensão. Nos fez aceitar com isso, sua visão de progresso, que consiste em definir como avançado tudo o que conduz ao capitalismo e à industrialização, sem aceitar que possam existir outras formas válidas de configuração da economia e de organização da sociedade, às que se pudesse chegar por outros caminhos, desqualificando as vias alternativas como retrógradas ou impraticáveis (utópicas), [...]” (6).

Essa historiografia estará relacionada ao discurso vitorioso da Economia Política e sua justificativa da expansão política e econômica do Império Britânico. Tornou-se modelo na Europa e em todas áreas ocidentalizadas do globo. Correspondia ao “real” inquestionável e

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modelar. Contudo, vias mais radicais e violentas de superação do Antigo Regime e da constituição da sociedade burguesa, a Revolução Francesa, tornaram-se rivais do modelo britânico constitucional e pacífico, supostamente. No século XIX, o Romantismo revolucionário (7) e o desenvolvimento dos movimentos operários e doutrinas socialistas, eles mesmos filhos da “dupla revolução” do Iluminismo e da Revolução Industrial, (8), além da luta política pela reforma ou superação da sociedade burguesa, também desenvolveram-se novas formas de pensar e escrever a História, destacam-se as perspectivas que colocavam o povo como sujeito da História, tipicamente, românticas em sua concepção.

Depois da turbulência de 1848, Friedrich Engels e Karl Marx acabam por, finamente, se estabelecer, definitivamente, na Inglaterra. Engels foi o pioneiro, enquanto encarregado dos negócios familiares, pode acompanhar in loco toda a vida social de uma nação, economicamente, determinada pela economia industrial. Ao observar e narrar as condições de vida dos operários de Manchester, em sua obra A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra (9), Engels estabeleceu um padrão analítico no qual seu objeto, a classe trabalhadora, é apreendida pela sua inserção em relações sociais concretas, onde a condição operária só existe em relação com a classe burguesa, mediada pela propriedade privada e o trabalho assalariado como exploração.

Marx transformou a sala de leitura do Museu Britânico em seu quartel-general intelectual. Centenas de relatórios de inspetores de fábrica, os clássicos da economia política, as coleções de leis dos monarcas Tudor e Stuart, panfletos cartistas, etc, todo esse material fazendo parte da construção de sua obra magna, O Capital, que enquanto Crítica da Economia Política possibilitou poderosos aportes para elaboração de uma concepção de história que entendesse a produção de mercadorias e a sociabilidade oriunda da propriedade privada como, propriamente, históricas e não como o desdobramento de essências naturais na vida social. Significando possibilidade concretas de novas formas de organização social vinculados a atuação política da classe trabalhadora. (10)

A emergência do movimento trabalhista na Grã-Bretanha fez com que a concepção liberal whig se alterasse. Historiadores do movimento operário gestaram uma outra forma de narrar a história britânica, a ênfase passou a ser a história local, das transformações dos ofícios,

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de pequenas comunidades como mineiros, a história da fundação de sindicatos e partidos operários. É a história que foi feita pelo casal Hammond, J. B.e Barbara, pelo casal Sidney e Beatrice Webb, por G. H. D. Cole e por R H. Tawney. Esses autores e suas obras descendiam da historiografia whig, porém, gradativamente, o evolucionismo liberal era cada vez mais substituído pela percepção da ruptura Histórica e o papel das classes subalternas. A dissidência em relação ao modelo historiográfico liberal filiava-se tanto a dissidência religiosa em relação à Igreja Anglicana oficial, Batistas, Metodistas, etc e periférica em relação à Merry England, as regiões da Norte da Inglaterra, Escócia e Gales. Enquanto “oficina do mundo” e “banca do mundo”, a Grã-Bretanha não acumulava só capitais e sim bens, artefatos e documentos históricos. Cada nova ala do Museu Britânico, praticamente, correspondia a uma nova aquisição colonial. Logo, os arquivos britânicos tornaram-se loci privilegiados, como o Foreign Office, para o estudo da História Mundial. O empurrão para a crítica da historiografia liberal whig será dada pelas próprias transformações da Grã-Bretanha e do Mundo no início do “breve século XX”.

PARTE II O Grupo de História do Partido Comunista da Grã-Bretanha (CPGB) tornou-se um dos pilares da historiografia marxista e do Marxismo em geral. Concebido e conduzido por Dona Torr, figura de extrema relevância para a história da esquerda e responsável por uma tradução do Capital de Marx de extremo vigor, esse Grupo, incluía a figura célebre do economista, Maurice Herbert Dobb, que recrutou jovens estudantes universitários nos anos trinta e quarenta seduzidos pelo marxismo como solução dos problemas daquela, nossa, época.

Sociedade imperial e imperialista, as universidades britânicas reuniam estudantes dos quatros cantos do império, como o canadense Herbert Norman, figura de proa do comunismo em Cambridge e dezenas de estudantes do subcontinente indiano e, ainda, jovens das regiões da indústria e do protagonismo operário como o Norte da Inglaterra, Escócia e Gales também se faziam presentes. Assim, como as tradições de dissidência religiosa, pacifismo e reforma social de classe média.

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A conjuntura era marcada pelos efeitos da Grande Depressão e pela militância antifascista. O fascismo, simultaneamente, produto e contraposição da ordem liberal, prepararia mais uma confrontação militar de proporções catastróficas. Caberia evitá-la e construir um novo porvir tendo a construção do socialismo na (URSS) como modelo.

Esboçada após a ascensão de Hitler ao poder na Alemanha, a estratégia de construção de Frentes Populares, possibilitou aos Partidos Comunistas inaugurarem um novo período de militâncias de massas. Caberia aos intelectuais a tarefa de realizar a luta na frente artística, acadêmica, educacional e cultural.

Buscando a união das camadas subalternas, o povo, contra as elites, visceralmente, fascistas. Iniciou–se nas Ilhas Britânicas o combate a versão whig da história britânica contra a linearidade do evolucionismo liberal e o exercício do poder por suas elites bem-pensantes, contrapunha-se o povo, na sua condição de agente da História, com uma agenda radical de direitos, que iam da esfera política à econômica, que em última instância seriam os verdadeiros suportes da democratização, exemplar dessa perspectiva é Peoples’s History of England de A. L. Morton. (11) . Contudo, é a partir da geração que finaliza sua graduação universitária nos anos da Segunda Guerra Mundial e, participa do conflito, que o grupo ganhará sua grande impulsão. A publicação em 1946 de Studies in the Development of Capitalism, de Maurice Dobb (12) inaugura, talvez, o mais célebre debate da historiografia marxista, não só britânica.

O Debate da Transição, como ficou conhecido, colocou marxistas dos EUA, França, Itália e Japão nos inícios dos anos cinquenta e foi responsável pela primeira notoriedade internacional da produção do Grupo. Debate que até hoje não foi extinto “o Debate Brenner” dos anos oitenta é só um prolongamento seu, a questão se focou em qual foi o motor da transição do feudalismo para o capitalismo.

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De um lado Dobb, com sua tese de superação do feudalismo pelas suas contradições internas entre senhores e servos e, de outro, o economista norte-americano, Paul Sweezy, defendendo fatores exógenos vinculados às atividades mercantis como primo movens da dissolução dos laços feudais. Os demais participantes assumiam posições nuançadas entre esses dois pólos.O historiador V. G. Kiernanestava, mais próximo de posições ditas de Sweezy, ao considerar o estado absolutista como capitalista, fato que gerou um debate menos conhecido do público brasileiro, o Debate Kiernan, (13).

Ao fazer o balanço do debate Rodney Hilton aponta como grande mérito a caracterização rigorosa do capitalismo feito a partir da análise marxista, que foi incorporada ao mundo acadêmico. Nesse sentido, a primeira grande ação intelectual e política do grupo foi a desnaturalização das relações capitalistas e a demonstração do caráter histórico do Mercado e da Propriedade Privada. De certo, confirmando o postulado dos comentaristas da trajetória do Grupo, que sustentam que essa historiografia se desenvolveu como um apêndice aos capítulos históricos do Capital, em particular, o capítulo “A assim chamada Acumulação Primitiva” . Enfrentando as vicissitudes da Guerra Fria, o grupo adentra os anos cinquenta com sérias dificuldades de relacionamento com o stablishment historiográfico anglo-saxão, mesmo com a fundação da revista Past & Present de caráter aberto e receptivo ao diálogo e com a dificuldade de alocação em postos universitários, a produção bibliográfica de uma geração começa a se destacar como Christopher Hill, Eric Hobsbawm, George Rude, Geoffrey de Sainte-Croix, Victor Kiernan e membros, ligeiramente, mais novos como E. P. Thompson, John Saville e Raphael Samuel.

O ano marcante seria 1956, a celeuma provocada tanto pela invasão da Hungria como pelas declarações do XX Congresso do (PCUS) provocaram uma ânsia por democratização e debate interno no partido britânico que não encontrou resposta a altura. Segui-se, portanto, a debandada dos membros do Grupo do partido, sendo, Hobsbawm, a única exceção de monta a permanecer até sua extinção.

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Assim, os historiadores do Grupo emancipam-se do partido e passa a constituir uma Escola histórica marxista de escopo mais amplo, muitos se incorporam às chamadas Novas Esquerdas, de atuação no mundo anglófono, mas com inúmeras conexões com estudos marxistas e as tradições de esquerda no mundo.

Ao bater de frente com a historiografia whig, encorpada e incorporada pelo stablishment acadêmico conservador estadunidense, os historiadores britânicos apresentaram na possibilidade de leitura de mundo pelo pólo ontológico do trabalho, desafiaram e terçaram lanças com figuras neoconservadoras como Talcott Parsons, Isaiah Berlin, Walter Rostow, Karl Popper, Alfred Cobban. Enfrentaram concepções como “revolução atlântica”, “milenarismo alienante”, “ascensão social operária. Constructos como a Teoria da Modernização e o Mundo Livre sustentaram a radicalidade e racionalidade das ações políticas das classes subalternas, bem como de sua cultura e crenças religiosas. Provaram que a propriedade privada era uma relação social baseada na expropriação dos que trabalham. Tornaram a Grã-Bretanha a ilha da Grã~Loucura, num belo continuum entre lutas revolucionárias do passado e presente. (14).

Abandonar essa historiografia é deixar o campo de batalha ao inimigo como advertiu o historiador V. G. Kiernan ao historiador estadunidense Harvey J. Kaye:

“Em toda parte, como na Grã-Bretanha hoje, as classes dominantes têm estado na direção política, porque são mais unidas, com mais consciência de classe, melhor aparelhadas e politicamente mais inteligentes”. (15)

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NOTAS (1) Obviamente a inspiração para este parágrafo introdutório foi Dickens em ‘A Tale of Two Cities’. Cf. DICKENS, Charles. Um Conto de Duas Cidades. São Paulo. Nova Cultural. 1996. p. 19. E também a “visão de mundo” de Raymond Williams, Christopher Hill e E. P. Thompson, respectivamente, O Campo e a Cidade. São Paulo. Companhia das Letras. 1989, O Mundo de Ponta-cabeça. São Paulo. Companhia das Letras. 1987 e Os Românticos. A Inglaterra na Era Revolucionária. Rio de Janeiro. 2002 (2) O termo História Mundial aqui não está associado a qualquer idéia de ‘história universal’ teleologicamente orientada e sim corresponde à unificação das várias histórias locais e regionais pelo processo de mundialização do Capital, que tornou a história humana única. Cf. MARX, Karl. O Manifesto Comunista. São Paulo. Boitempo. (4 reimp.). 2005 (3) Para a descrição deste processo em linhas gerais, mas de forma precisa. cf. HOBSBAWM, Eric. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. Rio de Janeiro. Forense Universitária. 4 ed.1986 (4) Para o desenvolvimento das concepções historiográficas vinculadas ao Iluminismo escocês, cf. FONTANA, Josep. História: Análise do Passado e Projeto Social. Bauru. Edusc. 1998. pp. 79-97 (5) Uso o conceito de ideologia aqui, não só como falsa consciência, mas como elaboração mental/intelectual/cultural vinculada a práxis social concreta e com funcionalidade na mesma; Sigo as orientações do prof. José Paulo Netto, a partir da tradição ontológica do marxismo. cf. NETTO, José Paulo. Introdução ao estudo do Método em Marx. São Paulo. Expressão Popular. 2011. O espaço de análise para a cultura, ideologia, tradições será uma das principais características da historiografia originada do Grupo de História do Partido Comunista da GrãBretanha, fruto do enfrentamento com concepções reducionistas e mecanicistas. (6) FONTANA, Josep. História: Análise do Passado e Projeto Social. Bauru. Edusc. 1998. p.96 (7) O prof. Michael Löwy tem se destacado como estudioso internacional dos desdobramentos revolucionários do Romantismo europeu. Enfatiza a importância da crítica romântica ao capitalismo e do seu papel nas origens do socialismo. Cf. LÖWY, Michael. A Teoria da Revolução nop Jovem Marx. São Paulo. Boitempo, 2012. pp.29-31 (8) Cf. HOBSBAWM, Eric J. A Era das Revoluções (1789-1848). Rio de Janeiro. Paz e Terra. 4ª ed. 1982. pp. 17-20 (9) Cf. ENGELS, Friedrich. A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra. São Paulo. Boitempo.2008. É importante ressaltar que a obra de Engels antecede em cerca de duas décadas, as obras de Comte e Durkheim, que iriam colocar em circulação o termo sociologia. Logo, a obra de Engels não é só pioneira da História Social, mas sim de uma história social que não é um apêndice conceitual da sociologia e sim capaz de constituir um corpus analítico a partir da explicitação das determinações ontológicas de seu objeto de estudo. Outro clássico historiográfico de Engels é As Guerras Camponesas na Alemanha. (10) O Capital de Marx não é um livro de economia, como é frequentemente classificado. E sim uma obra de desvelamento das condições concretas de existência da sociedade capitalista, da sua lógica de reprodução, bem como o entendimento de sua formulações ideológicas, por isso, é crítica da economia política.Portanto, a valorização da historicidade é intrínseca ao método marxista. Lembrando que o capítulo 13 ‘Maquinaria e grande indústria’ foi construído

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diretamente com as fontes documentais da industrialização britânica, incluindo relatos de operário e o capítulo 24 “A assim chamada acumulação primitiva” com base nos relatos da expropriação dos camponeses das Highlands escocesas. Ambos capítulos denotam o caráter da obra que nitidamente se opõe à escola escocesa do progresso. A história da constituição da propriedade privada é aqui feita de ferro e sangue, onde a categoria histórica da expropriação é fundamental para entender os horrores impostos à classe trabalhadora pelo capitalismo. Neste sentido, O Capital é a primeira obra de “história por baixo” (history from bellow). MARX, Karl. O Capital. Livro I. São Paulo. Boitempo. 2013 (11) Esta seção se baseia em PARISI, Maurício Orestes. O Grupo de História do Partido Comunista da Grã-Bretanha. Primeiras aproximações. Anais do V Seminário Internacional “Teoria Política do Socialismo. Marília. Unesp. As obras de fôlego sobre o tema são KAYE, Harvey J. The British Marxist Historians. New York. St. Martin’s Press. (1995), SAMUEL, Raphael. British Marxist Historians, 1880-1980; Part One. New Left Review 120. p. 21-96, SCHWARZ, Bill. ‘The People’ history: the Communist Party Historians’ Group, 1946-1956 I JOHNSON, Richard, McLENNAN, Gregor, SCHWARZ, Bill, SUTTON, David (eds) Mg Histories. Studies en history writing and politics. Minneapolis. University of Minnesota Press. (1982), HOBSBAWN, Eric. The Historians’ Group of Communist Party i CORNFORTH, Maurice (ed.) Rebels and their Causes. Essays in honour of A. l. Morton. London. Lawrence and Weishart. 1978 (12) Existe tradução para o português. MORTON, A. L. História do Povo Inglês. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira. 1970 (13) A tradução é DOBB, Maurice. A Evolução do Capitalismo. Rio de Janeiro. Guanabara. 1986. Esta obra além de ter sido crucial no debate da transição britânico. Também foi capital no debate referente formação colonial do Brasil e os supostos modos de produção existentes. (14) Para o Debate Brenner e suas implicações políticas no movimento comunista. Cf.DWORKIN, Dennis. Cultural Marxism in Postwar Britain. Durham. Duke Univesity Press.1997. pp. 34-38 (15) Novamente a inspiração é a obra de HIIL, C. O Mundo de Ponta-cabeça. São Paulo. Companhia da Letras. 1987 (16) No original: “ In general, as in Britain today, the upper classes have been in the driving seat because are more united, more class conscious, better equipeed,and politically more intelligent.”.

Victor Kiernan Letter to Harvey Kaye, June, 1988 O historiador Victor Kiernan (1913-2009) foi um dos mais longevos do Grupo de Historiadores do PCGB e o historiador estadunidense Harvey J. Kaye tem se destacado como um dos mais importantes comentaristas da historiografia britânica.

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