O CANTO DO CISNE SOB O SIGNO DA MEMÓRIA

September 9, 2017 | Autor: W. Lima Torres Neto | Categoria: Anton Tchekhov
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Nada coma urna odiçao depois ca outra... 0 Folhetim n o zero I ol nosso balão de ensaio o agora, da plateforma do Iancamenta. parts 000 1. Novos campanheiros juntaram-se a nos, tornando mais agradveis flosses tarefas. A boa acoihida quo a revista recebou ca impronsa e dos loitores anima-nos a insistir na idOia de quo ha espaco pare uma iniciatm coma sate. Portanto, ate juiho! Os editores

INDICE CON FUSIC IA PAM ZURIOUE Adolphe Appia ' —PNG, VOLTAIRI • SEND FArifASMAS

FatimaSaacb ........................................................................ 17 KAIITOR E A RECUSA DA INTERPRETAcAO AngelaLeite Lopes ............................................................... 35 o CANTO DO CISNE SOB 0 SIGNO DA MEMOIUA Walter Lime Torres ............................................................... 47 A COdA, A PtATEIA... DOtS UNIVERSOS. MUITOS SENTIDOS AntonioGuedes ................................................................... 57 GRUPOS A PR0CURA BE SEllS PARIS RosyaneTrotta ..................................................................... 69 DOMINGOS OUVURA £0 ELOGIO DO TEATRO Entrevista a Antonio Guedos 0 Fatima Saadi ......................... 78

O CANTO DO CISN

SOB 0 SIGFIO DA MEMORIA. WALTER LIMA fORBES A fantasia desonha o quo não existo... A imaginaçäo desenha a quo No for rnas pod 0,13 SOf. A memoS e Irma da imaginacão."

C. Stanislavski

A eficacia de urn texto teatral pode sec alcançada por duas vias: a leitura ou a enconacão. Na leitura, a leitor dave esforcar-se, continuamente, para colocar-se coma espectador e. nun esforco suplernentar, inaginar a espaciatidade proposta pelo autor, seja nas rubricas relatives a lugares e tempos ca aço seja na superposico do pianos narrativos... Em contrapartida, na encenacão, este estorco de espacializacão do texto é resultado do trabaiho do encenador. 0 leitor ultrapassa a condicao do ledor do texto teatral, sendo alçado so estatuto de real espectador. Ele nao lO mais 0 texto, ye a sue matecializacao pails representacao diante dole e ouve atravAs dos stores a palavra do urn autor. Entretanto, em arnbos Os CBSOS, estamos diante do triunfo ca irnaginação. A encenacão vive basicarnente do processo maginativo do encenador e de sue equipe na transfocnacão das palavras contdas no texto em acontecirnento cénico. Foi-se a tempo em qua a diretor era somente 0 porta-vOZ do autor. Desde a surgirriento ca encenação cono arte autOnonia, no corneco deste século, Os encenadores no cessaram do problernatizar a niatéria ficcional oferecida polo autor teatral. 0 encenador transforma-se nun intermedi6rio/inter-

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ventor entre autor e pUblico. Na verdade, modernarnente, autor e encenador são parceiros numa criação e protagonistas de urn diálogo que, por exceléncia, discute a realizacao material e estOtica do fato toatral, de farina complete, elevando-o a condiçäo do obra de one. No caso do montagem d'O canto do cisne de Tchekhov não é diferente.2 Tchekhov é urn parceiro exponencial e o seu texto é urn ponto de particle. PEQUENA GENESE Originalrnente, 0 canto do cisno foi escrito para ser representado por urn celebre ator russo: Lenski do Teatro Maly do São Peteisburgo ou Davidov. ator do teatro Alexandrinski e, rnais tarde, integrante do rnesmo teatro Maly.' Davidov era conhecido, segundo Stanislavsk, SObretudo por suas interpretacOes de tipos do teatro russo clAssico e papéis rornanescos ligados a culture cigana. Lensk, é assii-n descrito em Minha vida na arts: Eu estava tascinado pci Lenski, por sous grandes olbos awls languidos e pensativos, por sue rnaneira de portar-se, por sue plástica. por sues rnâos, belas e oxpressivas, por sue voz do tenor quo enfeitiçava, por sue pr000ncia elegante, por sua sensibilidade exiremarnente fina sobre a sentido das frases; su estava fascinado pela multiplicidade do seu talento: para 0 teatro. pare a escultura, pare a pintura, pare a literatura,4 Seja conlo for, tendo Tchethov escrito Para Lenski Cu pare Davidov, Os dois atores certarnente deviarn equaler-se. Tratava-se, no fundo, de dais grandes intOrpretes ligados a tradiçäo do 'monstro sagrado", tao em yoga no virada do seculo e que rernonta a Tornrnaso Salvini, Ermete Novelli,

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no quo diz rospeito aos homens, e a Eleonora Duse e a Sarah Bernhardt, no tocanto as muiheros. 0 canto do cisne A a adaptacão do conto Kalkhas, do Tchekhov, quo nao chegou ate nossas rnaos. Entrotanto, podemos irnaginar quo Tchekhov teria escrito uma narrative baseada em algum dos traços do personagem de Calcás, qua nos remete a urn dos papéis cOrnicos de A be/a Helena, Opera but a em trés atos, cujo libroto A da dupla Meilhac-F-ialéw e cuja mUsica 101 composta polo não rnenos cOlebre Jacques Offenbach. Calcés e 0 oréculo do tempo de JUpiter quo, nesta paradia do episOdio do rapto de Helena pot Pens, näo passe do personagorn-tipO do alcoviteiro de figure bonachona a fanlarrona, adjuvants de Paris. A poca de Tchekhov conta a histOnia de urn velho ator decadente, Vassili Vassilievitch Svotlovidov, do sessenta e oito anos, que so apresenta 80 espectador trajando o figurino do Calcas. Descobrindo-se trancado no teatro apis o tOrmino do espotáculo, ele comeca a rofletir sobre sua condição de ator. Em seguida, 0 ponto, Nikita vanytch, entra en cane e a amargura desto balanço acentuaso. Nikita vive uma situacão semelhante a do VassiliAvitch, so quo sem a cornpensacão dos apausos e dos louros do reconhecimento do pUblico. Desta forma, como preconiza o prOprio titulo da peca, o velho ator cOmico, pressentindo a iminéncia da morte, A levado a representar, não son alguma colaboracäo do ponto, Os grandes textos "sArios" do repertOrio classico, sobretudo Shakespeare - Aci Lear. Hamlet e Otelo e do repertOrio tradicional russo - Boris Godunov o Poltava

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de Pushkin; e Os ma/s ficios S possuk espurito de Griboyedov. ENTRE LEMBRANcA E SOUVENIR Reza a lenda qua durante toda a Vida 0 cisne emits urn son de mediocre qualidade e de aterradora feiUra, pronunciando seu latidico canto, de rare 0 extraordinaiia beleza. sornente quando agonize. A metafora trabaihada polo autor russo nos permits ver em cone urn ator real izando. nos seus supostos Ultimos instantes de vida. tudo aquilo qua sempre sonhou a nunca ousou fazer. No Casa, Svetlovidav interpreta, diante do ponto e do uma platoia supostamente vazia, urn repertOrio distante de sue especialidade coma ator. Além Costs espaco do rnetäfora criado par Tchekhov, salta aos olhos do leitor ou do espectador uma outra questão, a rnemoria do teatro e a memOria no teatra. 0 canto do cisne, 'estudo dramtica em urn ato', podoria receber coma segunda subtitulo: "rnemOrias dQ 0 brn o palco". A rnemOria não é urn privitOgio do vethice. mas urn exercicio perpétuo no transrnissao de uma prAtica o de urn saber, urn conhecimento. F, sob este aspecto, a atMdade teatral, talvoz rnais do qua qualquer outra atividade artistica, depends ba*arnente dos processos mnernanicas. Do lade do platéia, como espectadores, a rnemOria nos permite conservar a lombranca de sensacOes, de experiencas e vivOncias a, em especial, do fragrnentas de irnagens qua ficarn no rnemOria depois do urna representacão: dais vagabundos e urna arvore, urna muiher enterrada ate 0 pescaco... Godot Oh quo be/os dies .4; urn professor, um punhal e sue aluna (.4 Iicão); urna mae empurranda sue carroca no

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mejo da guerra (Mae coragem); urn principe 0 0 fantasma do seu pal (Hamlet urn roi quo divide o reino entre suas flihas (Ref Lead... Especificarnente, do lado do palco, verifica-se a rnemorizaço do diãlogos, de monOlogos pelos atores. Criaçao o disposicäo especial quo nos remetern a urn fundo memorial quo, originando-se no trabaiho ospecifico do ator, vern estirnular, do outro lado do proscènio, a rnernaria do espectador. Para Os intérpretes, o processo é muito complexo, pals ao esfocco rnnernOnico requerido pela massa textual, irnagistica a gestual propiciada pelo trabatho do autor somarn-so as inforrnaçoes e indicaçOes cénicas do encenador. E a memoria vem solicitar 0 auxilio da repetição. Repetir, ensaiar, piovar. novarnente... pare manter fresca a rnornOria! 0 teatro tern sue base na rnernOria e esta so consogue Se corporificar, tornar-so presença, fixar-se, ainda quo do forma efèmera, atraves do exercicio da repeticão. No teatro como na vida a mernOria é a esforço contra a esquecimento. Coube-nos, portanto, duranto o pr000sso de alacáo d'O canto do cisne, descobrir quo elomentos seriam colocados em evidOncia dentro da perspectiva destas memories do e sobre o palco. Ficou claro quo não seria a caso de sornente contar a histOria oscrita pot Tchekhov ha mass do cern anos. Se o toxto sobrevive como urna caredial em ruinas imagom tomada de empréstirno a Antoine Vitez), a da ruina quo devemos partir 0 flO necessariamente do urn esforco corn vistas a sua reconstruceo. Desde sue rodação em 1886. 0 canto do cisne ja estava sob o signo da mernOria do toatro, em seu estado geral, tendo sido a poca oferecida pot urn autor a urn ator.

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o fato, apesar de recorrente, dove ser lembrado. Quando urn autor oferece urna peca sua, ou escreve urn personagem sob medida para urn ator determinado, deixa implicito quo a sobrevivéncia deste texto ou personagern esté con- sgnada a figura Caste ou daquele ator. 0 autor trabaiha, portanto, a pactir do suas bases memorials: a Iembranca deste ator ou daquela atriz (fisionomia, voz, gesto, andar, sentimento). Neste aspecto. lembre-se 0 caso do Victorian Sardou que. no Franca, no mesmo perlodo, não cansou de escrever suas pecas no intençOo do eternizar a gOnio dramático do uma atriz coma Sarah Bernhardt. Na presents inontagem para 0 canto do cjne houve urn interesse evidente em prolongar a discusso de Tchekhov sobre teatro, ate rnosrno por urna questäo pratca, pois quinzo ou vinte rninutos do representacãO náo seriarn o bastante para perfazer urn espetcuIo. Desta feita, produziu-se uma incisão no traducão do texto russo, corn a insecção do trechos quo retomam as opiniOes de autores teatrais, corno Pirandollo ou atores-encenadores como o prOprio Stanisavski. Corn a rnesma finalidade, foi pinçado urn texto do operate 0 ebria, irnortahzada pale voz do Vicente Celestino. Especificarnente, neste caso, faz-se urna alusão a condign do ator brasileiro mainbembe, qua conta as suas desventuras de artista juvenil talentoso, esposo dedicado e pal do familia traido, sue gloria e sue queda devido a bebida. Estes fragmentos procuram desdobrar urna ref lexão sobre a posicão do ator, Os limites do sua criação em face do texto do autor e a exigOncia de urn sentido no sua execuco. Para Car voz a estes textos, Coss personagens foram convocados a falar', uma vez quo já erarn citados no

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texto original do Tchokhov: Egorka e Petrouchka, a versäo russa do Polichinelo originado do commed,à de!I'artc. Sua presorlça, no ambito do montagem, A simbOliCa: 05 dais personagens são alegorias do figures distintas, oriundas do universo do teatro, espIritos do arte, fantasnias de teatro. Egorka sintetiza uma espAcie de entidade autor-diretor quo cornarida e organhza a encenação, Pctrouchka faz alusão a condico prirneira do teatro, 80 10thCa, ao infantil, a improvisacao, em suma, ao ator. Para isto use urn "figurino-disfarce" qua pode ser tudo, desde a fantasia do urn centurião romano, passando pela de urn cavaleiro medieval, pals imagem de Sao Jorge, ate chegar A figure de urn Cyrano do Bergerac. Petrouchka A, sobretudo, o herai vista pelos olhos do urna criança, urn tempo rernoto, sen necessidade do datacão, visto que a rnemOria A atemporal. Os figurinos e as posturas desenvolvidas pelos atores quo interpretarn Petrouchka e Egorka contrapOom-se ao pert ii realista dos personagens credos por Tchekhov: a ator e 0 ponta. E, portanto, 0 espaco do alegorta-fantasmagorica que, no fundo, dá lugar a presença do textos, escritos por gente do toatro quo, nun deterrninado moniento, pensou o fazer teatral do alguma outra forma qua näo sornente atravAs do suas pages e/ou seus registros do encenaçoes. A traducOo cènica de urn pensarnento do Pirandello ou do urna reflexao de Stanislavski sobro 0 ator ganha vice através do voz do Potrouchka ode Egorka, fantasmas do teatro. Em terrnos espaciais, não ha uma indhcacao clara do Tchekhov sobro a disposiço palco/plateha. Tudo leva a crer quo so trata de urna caixa de teatro vazia. 'A açáo so passa A noite, apOs a espetáculo, no palco de urn teatro do

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interior de segunda categoria (rubrica inicial). E urna visão do ponto do vista do platéia parece so irnpor. 'A direita, urna fileira do portas toscas e grosseiras em madeira bronco dã acosso aos carnarins" Odom). A revolacão do elementos do teatro so ovidencia rnais ac, final dessa prinoira didascAlia. 'A esquorda e no fundo do palco, urn arnontoado de acossorios' (idem). Essos acessorios soarn corno simplesrnento tigurativos, urna paisagern do fundo quo procure transrnitir a atmosfora do urn teatro apas a representaco do noito, visto quo o espaco reservado so ator a designado no final do texto: 'No moio do palco, urn banquintlo virado do cabeca pare baixo. Penumbra" (idorn). A idOia do urn ambiente pouco, ou nada iluminado fica evidento 80 final dosta rubrica qua insinua quo a acao transcorre a altas horas do rnadrugada. Na rnontagem, optou-se por colocar [ado a lado Ospectadores o atores. Ou seja, a irnposicão do urn lugar não convencional 80 pubhco do hoje, incite a urn trabalho do irnaginacäo diforente daquolo sugerido por urna relacao do frontalidade, provista inicialrnente no toxto do Tchekhov. hazer o espectador pare a cabca do toatro 6, por urn lado, car-lhe a possibilidade do ver sob urn outro ângulo a pratica do toxto e, por outro lado, rornoto a reprosontacão para 0 século Will rnemOria do espaco - quarido 0 palco era ontulhado de ospectadores nobres e aristocratas, quo dosfrutavarn do privilégio do acornpanhar a representacão sontados sobro bancos, acotovSando-se corn Os atores. TR4GEDIA MEMORIAL Como dissernos, a rnernOria não 6 sornonte urn prvilégio do velhice, mas urn jogo do teatro corn o prOprio

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teatro engendrado por Tchokhov para falar do homern diants do morte, de seus desejos e anseios mais recOnditos. Nests sentido, deixando de lado a memOria do teatro propriamente dita, ou o personagem do ator em 0 canto do cisne, gostariarnos de lembrar quo outros herOs tchekhovianos tambAm são elaborados segundo um estado memorial especifico. Apontarornos, rapidamento, duas destas ocorréncias no obra do autor. Em primeiro lugar, 0 exemplo do dois personagens paradigmãticos desta condicão memorial: Liubova e Gaev em 0 jardim dos cerejeiras. A questão do momoria invade a cena, visto qua ela coils ao encontro do espaço: a histOria a sac contada 4 a do um espaco especitico, urn jardim do cerejeiras ou urn cerejal, como preferem certos tradutores. Néste texto, 0 Jardim deixa de ser simplesmente lugar do acâo para ganhar estatuto do personagern. Toda a lembrança, portanto a meniOria, quo advem do discurso do Gaev e Liubova tern por fonts este imenso espaco memorial, o Jardim, quo não deixa de ser a metáfora do urn pals. Um segundo exomplo aparece corn as porsonagons Mocha, Olga e Irma em As trés irmãs, colocadas em stuacão do reféns do uma lombrança ancestral quo acaba por paralisA-las impodindo sue particle pare a tao desejada Moscou. Voltando a 0 canto do cisne, construida em um Unico ato, observaremos, para concluir, qua o texto so configure como urn concentrado memorial, transformandoso nurna peca reprosentativa do grande parts da drarnaturgia tchekhoviana, once a memOria ocupa 0 lugar do motor dos discursos das porsonagens a do agenciador dos acôes a serem pensadas pelos atores.

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NOTAS • STANISLAVSKI, Constantin, Notes 1997.

arnstiques. Strasbourg: TNS, Circe,

0 canto co cisno, de Anton Tchekhov foi encenado polo auto, do artigo no Espaco II do Teatro Ville-Lobos no primoiro semestre do 1990. Corn espaço cenico de Doris floilonterg, figurinos a ade,ecos de Augusto Pessoa. No elenco: Carolina Virgüez (A Atdz), José AraOjo (Petrouchkah Paulo Trajano 0 Porito) e José Caetano (Egorka). Segundo a edicão francesa - TCHEKHOV. Anton. Theatre complet II, Paris: Gallimard. 1965. p. 627 - 0 texto foi mosmo oscr!o para 0 ator Alexandre Pavlovitch Lenski 1847-1900). Enlrotanto, segundo a edicao brasiloira do one do correspondencia do Tchekhov - ANGEUDES, Stua. A P. Tchekhov. Ca,tas porn urns podtica. São Paulo: Edusp, 1995- percebe-se quo quern deveria intaipretar 0 texto s&ia 0 ator Vladimir N. Davidov (1849-1925): Escrovi urns peca do quatro follies tipogrãficas. Us sara representada em quince oo vinte nhinutos, o manor drama do rnundo Vai ser interpretada polo famoso Davidov, quo estâ agoa trabalhando no Teatro de Korcb. A Eamon a ssth pttlicando a, por isso, ole sets espalhada por toda parte. Em geral, a muto melhor oscrever colsas pequenas do quo grandos: he pouca pretenso a fazem sucesso... 6 necessario mais do quo stoP Escrevi 0 meu drama em uma horse cinco minutos.' Carta de 14-0117, p, 61, STANISLAVSKI, Constantin. Ma vie dens !'art. Trad. Denise Yoccoz. Lausanne: LAg. d'Homme, 1900, p.61. Trad. 11we do sutor.

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