O CAVALEIRO CRISTÃO N\'A DEMANDA DO SANTO GRAAL E N\'O LIVRO DA ORDEM DE CAVALARIA.

June 3, 2017 | Autor: Adriana Zierer | Categoria: Medieval History, Medieval Studies, Chivalry (Medieval Studies)
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O CAVALEIRO CRISTÃO N’A DEMANDA DO SANTO GRAAL E N’O LIVRO DA ORDEM DE CAVALARIA Adriana Maria de Souza Zierer (UEMA/ Departamento de História e Geografia)

In: OLIVEIRA, Terezinha (Org). Educação, História e Filosofia no Ocidente: Antiguidade e Medievo. Itajaí, SC: Univali Ed., 2009, p. 305-319.

Introdução O objetivo deste trabalho é mostrar a consonância entre os ideais cavaleirescos apresentados n’ A Demanda do Santo Graal e n’ O Livro da Ordem de Cavalaria. Estas duas obras compostas no século XIII apresentam como modelo de cavaleiro ideal o cavaleiro cristão e que está melhor representado na literatura através do personagem principal da Demanda, Galaaz. Seus antagonistas são a maior parte dos cavaleiros da sociedade medieval representados pelos cavaleiros pecadores da Demanda, que possuem pecados como a luxúria, inveja, orgulho e a ira. Antes de tratarmos dos cavaleiros virtuosos e pecadores nessas obras, é necessário falar um pouco da cavalaria na Idade Média.

Aspectos Ideológicos do Cavaleiro Medieval De acordo com Flori (2005) o conceito de nobreza a partir do ano 1000 está associado às famílias aristocráticas que possuiriam uma qualidade superior, o sangue de reis. Além disso a palavra “nobre” está associada com notável, digno de admiração, celébre respeitado. Nobilis estaria ainda associado com liberdade e por isso servidão e nobreza seriam incompatíveis. Para vários autores, como Duby houve uma tendência a partir de fins do século X em associar cavalaria e nobreza, tendência esta completada mais tarde. Neste mesmo período já começa a ser composto um um conjunto ético-teológico voltado à sacralização da prática militar. No século XI, o termo miles substitui outros termos até então utilizados para designar um grupo de guerreiros junto a um dominus, a um príncipe (CARDINI, 1989, p. 58). O combatente a cavalo ganha cada vez mais importância, num momento de aumento da distância entre armados e desarmados e no qual ocorre um aumento nos custos do equipamento militar e também do próprio cavalo.

Ramon Llull em seu manual pedagógico sublinha essa concepção ao afirmar que o cavaleiro em primeiro lugar deveria ser proveniente de linhagem, além de necessitar de recursos para comprar a armadura e demais armamentos, bem como para a compra do cavalo e para a boa manutenção de seu equipamento. Esses elementos, linhagem e recursos já tornavam por si só impossível que um camponês se tornasse cavaleiro. Um elemento interessante a ser analisado no período medieval é a relação entre a Igreja e a atividade guerreira. Inicialmente o cristianismo se mostrou completamente avesso à violência. Inclusive Cristo pregava a necessidade de oferecer a “outra face” quando um cristão é agredido por alguém. Daí a necessidade da construção de uma ideologia que relacionasse o uso da força com moderação, a serviço de Deus e dos pauperes (pobres, humildes ou fracos) (CARDINI, 2002, p. 473). Santo Agostinho distinguiu como o cristão deveria engajar-se na guerra. Os objetivos deveriam ser a luta contra a injustiça e impedir a violência contra os fracos, constituindo-se num “mal menor”. A guerra justa (belum justum) teria três elementos: 1-ser defensiva e reparar uma injustiça; 2-ser declarada por autoridade reconhecida; 3restaurar a paz pela justiça (CARDINI, 2002, p. 475). Por estar sempre próxima do pecado em virtude do derramamento de sangue , a ação guerreira estaria interditada aos clérigos. Quanto aos demais leigos participantes das atividades bélicas, deveriam expiar os seus pecados, o que fazia com que muitos entrassem para mosteiros no fim da vida, se convertessem à beira da morte ou fizessem penitências (FLORI, 2005, p. 133). Com o fim das incursões guerreiras no século X e a suavização do clima no Ocidente, propiciando um aumento das colheitas, o maior entrave ao desenvolvimento passou a ser as guerras privadas. Daí toda uma legislação no sentido de buscar controlar esses conflitos que acabavam prejudicando a própria Igreja, detentora ela própria de uma série de bens e sujeita aos ataques dos nobres sem terras e das guerras feudais. Por este motivo, desde o final do século X a Igreja buscou cristianizar o cavaleiro através dos movimentos da Pax Dei (Paz de Deus) com a proibição de atacar santuários, ofícios, estradas e também todos aqueles considerados pobres, isto é, indefesos – os clérigos, camponeses, viúvas e órfãos, sob pena de excomunhão. Os milites deveriam jurar sob as relíquias “a renunciar a qualquer ‘exação’ ou violência cometidas contra as igrejas, suas pessoas e seus bens” (FLORI, 2005, p. 134). Além disso, foi criada também a Tregua Dei (Trégua de Deus), no século seguinte, proibindo combates em certos dias da semana (de quinta a domingo) e em dias

santos (CARDINI, 1989, p. 58-59). Segundo Flori, a Trégua de Deus foi um importante passo na elaboração eclesiástica da guerra justa, inspirada em Santo Agostinho e que se voltou para as Cruzadas, pois foi prescrita por uma autoridade legítima, o papa com o objetivo de proteção da Igreja e da Cristandade. O ideal das Cruzadas tornou o cavaleiro um miles christi (cavaleiro de Cristo) que lutaria contra os muçulmanos em nome da fé cristã e por isso teria seus pecados perdoados em caso de morte. De acordo com São Bernardo no século XII, a luta contra os muçulmanos deixa de ser um homicidium (morte de um homem) e se tornava um malicidum (eliminação de um mal) (CARDINI, 2002, p. 476). Assim, segundo Flori, a Cruzada se tornou então, além de uma guerra justa, segundo a concepção de Agostinho, uma guerra santa. A nobreza no século XIII representava uma ameaça para a ordem na sociedade Ocidental. Devido à concentração das heranças nas mãos dos primogênitos, boa parte dos nobres não possuía terras, tendendo ao banditismo e às guerras privadas. Segundo Norbert Elias, percebendo o caráter instável da nobreza, os poderes instituídos trataram de elaborar normas de comportamento para este grupo, no intuito de civilizá-lo. Essas normas de comportamento para a nobreza, associadas ao conceito de cavaleiro, já vinham desde os tempos das Cruzadas quando foi tecida a noção do miles christi que deveria lutar contra os muçulmanos na Palestina ou contra os hereges na própria Europa, sendo absolvido de seus pecados se morresse na guerra santa. Outro elemento importante foi a sacralização da cerimônia da sagração do cavaleiro, na qual este deveria permanecer em vigília durante a noite, rezando, e no dia seguinte assistia a missa antes da sua sagração. Ao longo do século XII, visando controlar e afirmar as características da nobreza, foi elaborada a noção do cavaleiro cortês, o antecessor do gentleman, aquele que era educado com as damas e sabia como se comportar à mesa, além de ser corajoso e ter atitudes éticas (manter a palavra dada, ter mercê dos vencidos, ser justo, entre outros elementos). O século XIII é um momento de reelaboração do ideal de cavaleiro, que, em certa medida, buscava retomar aspectos do ideal de miles christi já pregado pela Igreja desde fins do século XI. O momento foi de fortalecimento da figura régia no Ocidente com o apoio de mercadores e banqueiros que passaram a pagar impostos aos monarcas. Estes começaram a contar com vários nobres na sua corte e desejam uma nobreza mais dócil.

Ao mesmo tempo, é a época da perda definitiva da Terra Santa para os muçulmanos. Num momento de enfraquecimento da nobreza frente a outros grupos, essa camada social visou revalorizar o seu prestígio, buscando afirmar-se frente aos não-nobres camponeses e citadinos. A Igreja contribuiu com a reelaboração da cavalaria, revalorizando o aspecto dos cavaleiros como guerreiros de Deus em luta contra os infiéis, ao mesmo tempo que buscou incutir nos cavaleiros o respeito pelos preceitos cristãos. Neste sentido é que podemos perceber na literatura um modelo literário que caracterizaria o chamado cavaleiro cristão. Este modelo foi construído no século XIII, momento de prosificação e cristianização das narrativas arturianas, bem como da construção de um manual pedagógico do cavaleiro ideal, O Livro da Ordem de Cavalaria, por Ramon Llull. De acordo com Duby na passagem do século XII ao século XIII foi construído por Étienne de Fougeres o Livre de Manières (1175) com o comportamento que deveria ser empreendido pela nobreza. Os nobres deveriam ser bons cristãos e perseguidores dos não-cristãos; manter-se unidos, daí a noção unificadora da cavalaria, além de possuir uma unidade moral, respeitando três princípios: valentia, lealdade e submissão à Igreja; todos os pares seriam iguais e deveriam respeitar determinadas virtudes (DUBY, 1989, p. 89). Veremos mais adiante que Llull em seu manual de cavaleiro segue o mesmo princípio. Além da questão do grande número de secundogênitos sem terras, Duby enfatiza o empobrecimento da nobreza francesa ao longo do século XIII devido a um aumento nos seus gastos; a necessidade cada vez maior de desprezar a fortuna como maneira de se diferenciar de outras camadas sociais e ao mesmo tempo a concorrência dos ricoshomens provenientes do comércio, com os nobres. Os primeiros passaram muitas vezes a ser contratados pelos príncipes nos exércitos como mercenários ou fazerem parte da burocracia dos monarcas, concorrendo assim com os nobres. Estes procurarão então uma ética para diferenciá-los das outras camadas sociais que por vezes conseguiram se enobrecer através do casamento com filhas de nobres arruinados. Flori enfatiza que a nobreza enquanto grupo procurou desde fins do século XII fechar o acesso da cavalaria aos não-nobres e que estes conseguiram excepcionalmente este privilégio através de dispensas dos soberanos (FLORI, 2005, p. 122).

Segundo Duby uma das características da nobreza no século XIII é a sua progressiva dependência de cargos públicos (gerência do tesouro régio) e também como combatentes do rei, recebendo por isso pensões do monarca. O desejo deste grupo de ser somente ele a ocupar tais cargos e de afastar os não-nobres destas funções implica a criação de uma moral cavaleiresca associada ao cristianismo, especialmente nos textos compostos no século XIII, dos quais O Livro da Ordem de Cavalaria é um importante exemplo. Ao mesmo tempo a dificuldade dos nobres em se tornar cavaleiros em virtude do alto custo com a cerimônia de investidura fez com que muitos deles ficassem a vida toda na condição de escudeiros ou donzéis e que poucos conseguissem realizá-la em caso de fazer um bom casamento ou se fossem filhos de monarcas. Norbert Elias aponta para a necessidade de controle da agressividade da nobreza no período medieval. Tanto o modelo do cavaleiro cortês, o cavaleiro que sai em busca de aventuras e deve agradar uma dama, modelo dos romances corteses e criticado por Llull, como o modelo do cavaleiro cristão, proposto pelo autor como um modelo a ser seguido pelos bellatores, são tentativas de controle da agressividade da nobreza e nos auxiliam a compreender as imagens construídas sobre o cavaleiro na Idade Média.

O Cavaleiro Cristão no Livro da Ordem de Cavalaria O Livro da Ordem de Cavalaria foi produzido pelo filósofo catalão Ramon Llull entre os anos de 1279-1283. O filósofo era um pregador leigo, admirador das ordens mendicantes e anteriormente havia sido casado e prestou serviços na corte do rei Jaime II, de Maiorca. Sua obra visa defender os interesses da nobreza frente a outros grupos e apresentar um manual de comportamento com as atitudes ideais do cavaleiro cristão, que tinha por função amar a Deus e defender a Igreja Católica. O início de sua obra mostra um eremita vestido muito pobremente, indicando simplicidade. O eremita é um homem sábio e temente a Deus que se afastou do convívio dos homens para se dedicar à vida espiritual. Este eremita se encontrava num local paradisíaco e próximo de uma árvore carregada de frutos, um símbolo de sabedoria, além de estar também próximo de uma fonte, outro símbolo do Éden, que pode ser relacionado com a pureza do sábio. Era uma figura bastante valorizada no período medieval. No caso do romance A Demanda do Santo Graal, os eremitas são os detentores da sabedoria enquanto que os

cavaleiros os portadores da ação. Por esse motivo somente os primeiros eram capazes de desvendar os sonhos dos cavaleiros durante a demanda, além de fazerem previsões. Neste romance alguns dos ex-cavaleiros se tornam no final da vida eremitas, como o cavaleiro Boorz e o próprio Lancelot. O eremita possui analogia com o próprio Llull que foi também um ex-cavaleiro, como aquele. A narrativa de Llull conta sobre um escudeiro que se dirigia à corte de um rei muito nobre que o faria cavaleiro. Este encontra o eremita e fica maravilhado com os seus conhecimentos, pois o último lia o Livro da Ordem e assim o jovem pede ao eremita que o ensine. É interessante a analogia da obra com a Demanda uma vez que o rapaz se dirigia a corte de um grande rei, numa clara referência ao rei Artur, mas ao mesmo tempo não conhecia as regras do Livro da Ordem de Cavalaria. Podemos tecer a hipótese de que Ramon Llull conhecia A Demanda do Santo Graal quando escreveu seu manual de cavalaria e que dialogava com aquele texto. Além de realizar o ensinamento do jovem, o eremita entrega a este a obra e pede que ele a divulgasse entre os cavaleiros. Llull enfatiza em seu livro que a cavalaria é um ofício e também uma ciência, necessitando por isso de aprendizagem, o que enfatiza o caráter pedagógico do manuscrito. O cavaleiro deveria aprender os princípios da cavalaria com base na leitura daquele livro e através dos ensinamentos de um outro cavaleiro. O filósofo, estabelecendo uma relação do número sete com a criação do mundo e os planetas, também associa este número com a salvação e danação dos cavaleiros através das sete virtudes (teologais e cardeais) e dos sete pecados capitais. É possível percebermos na obra de Llull uma primeira oposição entre o bom cavaleiro, que conduziria a sociedade para o bem, e o mau cavaleiro, associado à desarmonia na sociedade conforme o quadro:

QUADRO 1. Bons e Maus Cavaleiros no Livro da Ordem de Cavalaria BONS CAVALEIROS

MAUS CAVALEIROS

VIRTUOSOS

PECADORES

VIRTUDES:

VÍCIOS:

TEOLOGAIS  fé, esperança, caridade

ira, glutonia (gula), acídia (preguiça), soberba

CARDEAIS  justiça, prudência,

(orgulho), invídia (inveja), avareza e luxúria

fortaleza e temperança BONS CRISTÃOS

MAUS CRISTÃOS

DEFENSORES DA FÉ CRISTÃ

NEGLIGENTES NA DEFESA DA FÉ

DEFENSORES DOS FRACOS

OPRESSORES DOS FRACOS

Os pecados segundo Llull devem ser combatidos pelos bons cavaleiros através da leitura do Livro da Ordem de Cavalaria, da freqüência às missas, da leitura da Bíblia e das orações. Já os maus cavaleiros atacam inocentes, fracos, mulheres e são duramente criticados pelo autor. Observemos a sua censura aos maus cavaleiros, que como podemos perceber constituíam a maior parte da conduta adotada naquele momento e que o autor pretendia “corrigir”: [...] se destruir vilas, castelos, cremar cidades, cortar as árvores, as plantas e matar bestiário e roubar os caminhos fosse ofício e Ordem de cavaleiro, obrar e edificar castelos, fortes, vilas, cidades, defender lavradores, ter atalaias para manter os caminhos seguros, e as outras coisas semelhantes a estas seria desordenamento da Cavalaria; e se isto fosse assim, a razão pela qual a Cavalaria é constituída seria uma única mesma coisa com o seu desordenamento e seu contrário (LLULL, 2000, p. 41).

O autor chama a atenção justamente para as faltas dos cavaleiros que ameaçavam a ordem social tais como destruir propriedades e plantações alheias e atacar os camponeses. Na sua argumentação faz um jogo de contrários, parece concordar com o errado para depois mostrar que ao invés de destruir, o cavaleiro deveria defender castelos, cidades e proteger os camponeses. Além das virtudes teologais (fé, esperança e caridade) e cardeais (justiça, prudência, fortaleza e temperança), o cavaleiro segundo Llull deveria também possuir outras virtudes como a humildade, a simplicidade e a castidade. Veremos como a

questão da castidade é fundamental na novela de cavalaria A Demanda do Santo Graal, onde o problema da maior parte dos cavaleiros e seu maior pecado consiste justamente no pecado da luxúria, o que irá impedir, ao longo da narrativa, que a maior parte dos cento e cinqüenta cavaleiros da távola redonda atinjam o seu objetivo principal: encontrar o Santo Graal, vaso com propriedades curativas e alimentícias capaz de restaurar a harmonia da corte arturiana. Também é possível observar com base no quadro que no modelo de Llull o bom cavaleiro é essencialmente um defensor da fé cristã enquanto o mau cavaleiro é negligente nos assuntos da fé e ataca os fracos, desrespeitando as regras da cavalaria. Uma segunda rede de oposição que podemos perceber no LOC é entre o cavaleiro e outras categorias sociais, como o campesinato. Aqui a oposição vai ser pela falta de atributos. Ele enfatiza os elementos que fazem alguém se tornar cavaleiro. Possuir linhagem é o primeiro e principal elemento, que também aparece na Demanda. Em algumas situações, cavaleiros da távola redonda recusam tornar um escudeiro cavaleiro, por não conhecer a sua linhagem. Isso ocorre, conforme vimos antes, porque a nobreza pretende neste momento afirmar os seus privilégios e impedir que outros grupos tenham acesso à cavalaria, buscando assim criar uma ética identitária da nobreza. Os textos cristianizados visam preservar este ideal. Portanto a relação de oposição entre cavaleiros e não-cavaleiros seria linhagem/ sem linhagem e recursos/ sem recursos (para custear armamentos e cavalo). Outras funções do cavaleiro seriam contribuir para o ordenamento social, impedindo os camponeses de realizarem revoltas, bem como auxiliando os reis e imperadores a tomar boas decisões. Para Llull, a função dos cavaleiros quase que se equiparava com a dos clérigos, pois para ele: “(...) o cavaleiro (que) é após o ofício de clérigo, o mais nobre ofício que existe” (LLULL, 2000, p. 79). É possível concluirmos que no manual de comportamento proposto por Llull, o cavaleiro deveria seguir toda uma ética que tinha como eixo central a defesa dos ideais cristãos, além do fato de o cavaleiro contribuir com a salvação do restante da sociedade e para o bom ordenamento social, impedindo revoltas camponesas e ataques de nobres secundogênitos às propriedades, nobres esses que podemos muitas vezes identificar aos maus cavaleiros. Desta forma, o cavaleiro cristão contribuiria com a salvação da sociedade na outra vida. O Cavaleiro Cristão n’A Demanda do Santo Graal

Conforme tratado anteriormente, a absorção de elementos cristãos na ideologia cavaleiresca contribuiu para o fortalecimento da identidade deste grupo ao longo do século XIII, revalorizando elementos da identidade do cavaleiro já construídos anteriormente, como a noção de miles christi, a cerimônia de sagração do cavaleiro e seus elementos religiosos, as noções de Paz e Trégua de Deus. A Demanda do Santo Graal é uma novela de cavalaria anônima, proveniente da França e composta em língua vulgar. Compõe um ciclo de cinco livros, a chamada de Vulgata da Matéria da Bretanha (1215-1230). A versão que chegou a Portugal por volta de 1250 é a segunda prosificação do ciclo da chamada Post –Vulgata (1230-1250), inspirada na Vulgata, mas com algumas diferenças, e que contém também elementos de outros ciclos, como o do Tristan em prosa. A Post –Vulgata é composta por três livros, inclusive com a fusão de A Demanda do Santo Graal e a Morte do Rei Artur, versão utilizada neste trabalho. Vejamos agora por quê Galaaz, personagem central da Demanda é o cavaleiro que no plano literário melhor representa os ideais de Llull referentes ao cavaleiro ideal. Em primeiro lugar é importante pensar na trama da Demanda. Com os cavaleiros reunidos em volta da távola redonda aparece o Santo Vaso, recipiente com o sangue de Cristo na cruz que alimenta a todos de forma material e espiritual. Porém após esta aparição, retira-se da corte devido aos pecados do rei e dos seus cavaleiros, só podendo ser encontrado pelo cavaleiro perfeito, Galaaz. Após a chegada deste na corte, a Demanda é iniciada. Embora seja filho bastardo de Lancelot, o cavaleiro é puro de coração. Aliás esta é uma contradição enfatizada na novela: Deus, desejando mostrar o seu poder coloca um bastardo como cavaleiro puro e o eleito para ter as mais altas revelações do Santo Vaso, que ao final da novela ascende aos céus juntamente com o escolhido de Deus, após este ter revelações mais profundas que os outros cavaleiros. Dois outros eleitos acompanham Galaaz na jornada; Persival, também virgem, mas uma vez tentado por uma bela donzela que na verdade era o diabo e Boorz, cavaleiro que através de encantamento teve relação sexual uma única vez, pela qual se penitenciava pelo resto da vida, e da qual teve um filho bastardo, Elaim, o Branco. Fica claro o respeito dos eleitos pela Igreja. Boorz se compromete a passar toda a Demanda à base de pão e água e os três eleitos adotam posturas penitentes: rezam, jejuam e se confessam com os eremitas que encontram ao longo do caminho. Persival e Galaaz também realizam ações curativas.

Mas fica sempre clara a primazia da eleição de Galaaz sobre os demais. O nome deste último significa homem ‘escolhido’, o ‘puro dos puros’, o próprio Messias. Simboliza um mundo novo, ou um Cristo sempre vivo em peregrinação mística pelo mundo (MOISÉS, 1975, p. 31). Ele é um cavaleiro virgem e puro, que usa uma estamenha (túnica de lã com farpas) para reforçar a sua condição de penitente e a quem os ermitãos consideram como uma “cousa santa” (DSG, I, 1955, p. 7). Galaaz realiza várias ações dos cavaleiros eleitos: em primeiro lugar é o único que consegue sentar no “assento perigoso” da távola redonda, dedicado ao eleito; outros que tentassem sentar ali encontrariam a morte. Logo depois vai recebendo outros elementos que caracterizam o herói por excelência, elementos estes que confirmam a sua eleição divina. Logo no princípio da narrativa há uma aventura de retirar uma espada da pedra, aqui representando soberania espiritual e pureza. Vários cavaleiros apontam Lancelot para tentar a aventura. Lembremos que em outras narrativas, como O Cavaleiro da Carreta, de Chrétien de Troyes, Lancelot é chamado de o “melhor cavaleiro do mundo”. No entanto, como a Demanda critica o amor cortês e louva principalmente os atributos espirituais, Lancelot recusa a aventura, uma vez que mantém uma relação amorosa com a rainha e portanto não é merecedor da espada. Um outro cavaleiro tenta a aventura e perde: é Galvão. Este irá realizar várias mortes na Demanda, é um cavaleiro pecador por excelência. Michel Pastoreau salienta que nos romances do século XII Galvão (Gauvain) é apresentado de forma positiva como um exemplo de bom cavaleiro, fiel e galante (PASTOREAU, 1989, p. 48). É um representante do modelo de cavaleiro cortês. Já nas narrativas posteriores, escritas no século XIII com forte influência cristã, Galvão é um exemplo de mau cavaleiro, contrário aos modelos do cavaleiro cortês e cristão. Ele não segue as normas da cavalaria e torna-se um verdadeiro antagonista. Embora Galvão seja o primeiro cavaleiro a convidar os demais para a demanda, vários presságios confirmam que ele traria desgraças. Num primeiro momento, uma donzela feia com uma espada prevê que aquele cavaleiro que ao segurar a espada a tornasse rubra de sangue, seria o que mataria mais cavaleiros na Demanda. A profecia se cumpre, pois Galvão matará dezoito companheiros da távola redonda participantes da busca do Graal. Mongelli salienta que ele é o “bode expiatório”, aquele representante de todos os pecados dos cavaleiros

(MONGELLI, 1995, p. 130-140) e a narrativa chama Galvão de o “cavaleiro do diáboo” (DSG, I, 1955, p. 195). Galaaz, ao contrário é o exemplo máximo do cavaleiro perfeito descrito por Llull no Livro da Ordem de Cavalaria. É um cavaleiro que honra as regras da cavalaria e vence todos em combate devido não somente a sua valentia, mas principalmente por causa da sua pureza e também ao respeito que dedica ao cristianismo e à defesa da fé cristã. As vezes passa por covarde por recusar-se a combater somente para mostrar que é melhor que os demais, atitude desejável no modelo cortês, mas mundana segundo o modelo cristão. O cavaleiro muitas vezes luta sem que outros saibam a sua identidade e vence todas as batalhas. A narrativa apresenta um cavaleiro que se suicida por haver perdido o combate contra Galaaz, o que representa a vaidade pela necessidade de ser o melhor cavaleiro e ter glórias terrenas advindas disso, o que representaria o pecado do orgulho. A fidelidade de Galaaz ao ideal cristão é mostrada em vários momentos, pelo fato de, além de usar a estamenha, indicando a sua condição de penitente, sua postura de defesa do cristianismo e de perseguição aos “infiéis”, representados na novela pelo muçulmano Palamades, chamado na narrativa de “o bom cavaleiro pagão”. Este elemento também está em consonância com Ramon Llull, que prega no seu manual cavaleiresco a necessidade primordial dos cavaleiros de amar a Deus, além de combater os inimigos da fé, numa clara atitude cruzadística. Palamades perseguia a besta ladradora, animal associado ao diabo, que havia matado os seus onze irmãos. Ele vence vários outros cavaleiros na Demanda, mas não Galaaz. Este convida o cavaleiro pagão a converter-se ao cristianismo e desta forma poupa a vida do cavaleiro que seria morto por ele em combate. Como recompensa por haver se convertido, Palamades tem imediatamente todas as suas feridas curadas. Também consegue matar a besta ladradora e é um dos doze cavaleiros a encontrar o Santo Graal. A devoção total de Galaaz ao cristianismo e aos ideais da Igreja o tornam invencível. Nem mesmo quando o rei Marcos, marido de Isolda e principal inimigo de Artur nesta narrativa tenta matá-lo com veneno, este não faz efeito, devido à interferência divina em favor do eleito. Outros objetos confirmam a eleição de Galaaz e o distinguem dos demais cavaleiros: ele recebe o escudo branco da cruz vermelha, cuja cruz havia sido feita com

o sangue das narinas de Josefes, filho de José de Arimatéia. Lembremos que José de Arimatéia foi aquele que recolheu o sangue de Cristo da cruz e o levou para o reino de Logres (Inglaterra). Confirma-se que Galaaz é fruto de uma linhagem divina, a linhagem de Davi, garantindo também uma associação messiânica a sua figura. O tipo de escudo usado por ele é uma referência aos Cruzados e às ordens militares (em especial os Templários), cujo comportamento Galaaz parece imitar e que Ramon Llull também admirava. Na narrativa fica muito clara a divisão entre os cavaleiros eleitos e os pecadores que não conseguirão ver outra vez o Santo Graal. Desde o princípio da novela é afirmado categoricamente que os cavaleiros não poderiam levar consigo damas na viagem ou não conseguiriam encontrar o Santo Vaso. Porém dos 150 cavaleiros da távola redonda apenas os três eleitos principais e mais nove, num total de doze, poderão ver de novo o Graal. O número doze está associado aos doze apóstolos de Cristo na Última Ceia. Dentre os não-eleitos o motivo principal são os pecados e em especial o pecado da luxúria. Por isso sobressai em Galaaz o fato de ser virgem e puro. Com relação ao manual de Llull, o pecado da luxúria também seria o pior de todos. Segundo o filósofo:

[...] na Cavalaria deveria ser evitado mais fortemente do que o é o vício da luxúria; e se fosse punido o vício da luxúria como deveria, de nenhuma Ordem seriam expulsos tantos homens como da Ordem de Cavalaria (LLULL, 2000, p. 47) (grifo nosso).

Podemos citar a tentação oferecida a Galaaz pela filha do rei Brutus, o qual hospedava os três cavaleiros eleitos (Galaaz, Persival e Boorz) em casa quando a filha se apaixona perdidamente por Galaaz, mas este não se sente tentado pela donzela, apesar de esta deitar-se na sua cama no meio da noite. Ao contrário, o cavaleiro recusa e se dispõe a manter-se fiel à busca do Graal. Somente quando a moça ameaça matar-se, o cavaleiro titubeia para evitar que ela cometesse pecado mortal. Porém Deus efetivamente permite o suicídio da donzela e a pureza de Galaaz se mantém intacta (ZIERER, 2008b, p. 321-322). Outro objeto recebido por Galaaz a confirmar a sua eleição divina é espada da estranha cinta, trazida pela irmã de Persival, uma jovem com atributos marianos. Embora soubesse que a espada era dedicada a ele, este pede aos seus companheiros, Persival e Boorz, que tentem retirá-la da bainha, mas estes não conseguem. Galaaz

vence a aventura desta nova espada facilmente, o que comprova a sua condição superior de cavaleiro puro a dar cabo das aventuras do Graal. Outros episódios ainda confirmam o caráter especial do eleito: o fato de ele conseguir expulsar o demônio (DSG, 1995, p. 301), curar uma leprosa que veste a sua estamenha (DSG, 1995, p. 307) e também fazer um paralítico andar (DSG, II, 1970, p. 490-491), ações em analogia com os feitos de Jesus. Dentre os não-eleitos o motivo principal são os pecados e em especial o pecado da luxúria, como vimos. Porém mesmo entre os pecadores há diferenciações. Um primeiro grupo pode ser representado por Lancelot e Tristão que, embora sejam excelentes cavaleiros, são pecadores por sua fidelidade ao amor cortês. Ambos desrespeitam o seu senhor (rei Artur-rei Mars) em virtude do amor que sentem por Gunivere-Isolda, e por este motivo são luxuriosos. Lancelot inclusive será criticado por ermitãos e terá sonhos nos quais verá a si e a sua amada no fogo do inferno. O cavaleiro tenta se regenerar, mas por fim mantém-se fiel ao amor cortês e por este motivo não encontraria o Santo Vaso e nem a salvação no além-túmulo. Um outro grupo de pecadores são aqueles que são invadidos por sentimentos como a ira, a inveja, o orgulho e também a luxúria. Esse grupo, no qual se inserem Galvão e Morderete realizam a luxúria com maldade, atacando donzelas e matando seus pais e irmãos. Galvão também é mentiroso e nega os valores do cavaleiro cortês. Mata mesmo ao saber que determinados cavaleiros são seus companheiros da távola redonda, mata cavaleiros desarmados e feridos, ataca mulheres. Mente a Persival afirmando que não havia matado parentes dele, quando na verdade havia matado seu pai e irmãos, indicando a sua covardia. Portanto suas ações se adequam ao tipo de cavaleiro que é criticado por Llull. Na Demanda, Galvão reconhece que não era digno de ver o Santo Graal ao se referir a um outro cavaleiro, Elaim, o filho bastardo de Boorz: - Ai Deus! Disse Galvam; como fremosas maravilhas aqui há! Verdadeiramente sam demostradas de Nosso Senhor e sam altas maravilhas do Santo Graal e sam as grandes pruridades da Santa Egreja. Certas, disse Galvam a Estor, per esto que Deus mostrou a Elaim devemos nós a entender que jazemos em pecado mortal e que nom nos ama Deus como a ele e que mais deve seer cavaleiro do Santo Graal que nós (DSG, 1995, p. 118). (grifo nosso)

Outro defeito dos cavaleiros é a ira. Neste caso, podemos citar o irmão de Boorz, Leonel. Boorz passa por uma situação em que precisaria salvar dois necessitados de sua

ajuda: uma donzela prestes a ser violentada por um cavaleiro; e seu irmão, também em risco de morte, ameaçado por cavaleiros em maior número. Boorz reza por seu irmão e salva a donzela. Deus salva Leonel devido à oração do irmão. Ainda que ermitãos e outros religiosos expliquem isso a Leonel este fica com ódio de Boorz e deseja matá-lo. Tentarão proteger Boorz um eremita e o cavaleiro Calogrenante e ambos são mortos por Leonel. Portanto, vários cavaleiros da Demanda se mostram indignos de encontrar o Santo Graal por pecados como a luxúria, a inveja, o orgulho e a ira. Como não conseguia mais impedir a luta e após as duas mortes, Boorz decide lutar contra o irmão, mas Deus impede que a luta continue para evitar que um dos três cavaleiros eleitos para encontrar o Santo Graal cometesse pecado mortal. Por isso aparece uma voz do céu e também o fogo para separar os dois irmãos.

Conclusão O modelo de cavaleiro cristão que aparece n’ A Demanda do Santo Graal e n’ O Livro da Ordem de Cavalaria estão em perfeita consonância e Galaaz é o melhor representante deste modelo. No entanto este modelo próximo do ideal das ordens militares era muito difícil de ser adotado na prática do cotidiano da sociedade medieval. Galaaz possui todas as virtudes teologais, cardeais e ainda outras como a simplicidade e humildade. É um exímio defensor do cristianismo e sua cavalaria é voltada exclusivamente para este fim. Está tão próximo dos religiosos, como queria Llull para seu cavaleiro ideal (“cavalaria depois de clérigo é o mais nobre ofício que existe”) que está mais perto dos oratores que dos bellatores. O eleito expulsa o demônio, realiza curas e por fim ascende aos céus com o Santo Graal e os anjos. Quanto aos cavaleiros da távola redonda em sua maioria e os cavaleiros da sociedade medieval criticados por Llull, estavam próximos dos pecados, sua fidelidade à Igreja era incerta e necessitavam de narrativas moralizantes para ter as suas atitudes mais suavizadas e civilizadas em nome do bom ordenamento da sociedade medieval. Com relação aos camponeses, essenciais ao sustento daquela sociedade eram louvados em ambas as obras contanto que mantivessem a sua condição social e não buscassem uma condição voltada exclusivamente aos portadores de linhagem. Assim, podemos compreender a Demanda e o Livro da Ordem de Cavalaria como instrumentos utilizados para forjar determinadas posições da nobreza elaboradas com base numa perspectiva ideológica de valorização dos ideais da Igreja, que procurou

delinear comportamentos desejáveis tanto a este grupo quanto aos demais que conviviam com ele no período medieval.

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