O CICLO SAGRADO DOS ALTOS CUMES: crenças e modos de vida Misak. Paper

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O CICLO SAGRADO DOS ALTOS CUMES: crenças e modos de vida Misak.1 Resumo. Este ensaio fotográfico reflete sobre as formas de vida do povo indígena Misak no norte dos Andes na Colômbia. Os Misak que moram nas altas montanhas lutam por conservar seus territórios sagrados e reproduzir seus conhecimentos tradicionais através da aprendizagem no fogão das cozinhas: lugar tradicional de reunião das famílias e a comunidade, onde os sabedores falam e ensinam para as crianças e jovens. Durante minha pesquisa de campo para o mestrado, onde tenho explorado as formas tradicionais de aprendizagem Misak, visitei os cumes, as lagoas e as cozinhas querendo entender as dinâmicas sociais e rituais através das quais se constroem, mantêm e transferem os conhecimentos e saberes tradicionais, enquanto que capturei com minha câmera momentos e paisagens que são parte da cosmologia andina Misak, composta por um sistema de crenças que como mostram as fotografias, são constantemente transformadas em fatos da vida cotidiana. Palavras chaves: Misak, Fogão, alta montanha, cotidianidade, aprendizagem. Abstract. This photo essay shows Misak indigenous people lifestyle in the northern Andes in Colombia. The Misak, who living in the high mountains, struggle for keeping their sacred territory and to reproduce the traditional knowledge by learning in fire kitchen: a traditional meeting place for families and the community, where the wise speaks and teaches children and youngsters. During my field work for my master, I could explore the Misak traditional ways to learn, I have visited the mountains, the lakes and the kitchens in order to understand social dynamics and ritual they use to build, keep on and transmit their traditional knowledge. Indeed, I have taken with my camera moments and landscapes which are part of the Misak Andean cosmology, that it is formed by a beliefs system, as well as it is shown on photography, are constantly transformed into real facts of everyday life. Keywords: Misak, fire kitchen, high mountain, everydayness, learning. 1

O presente artigo é apresentado por Duvan Murillo Escobar. Faz parte da minha pesquisa de mestrado em andamento, titulada: DEL AGUA Y EL BARRO: aspectos sobre cosmologia, conocimiento y aprendizaje en el Pueblo Misak – Colombia. A pesquisa é orientada pelo professor Carlos Rodrigues Brandão, tem previsão de defesa para março de 2017 e está vinculada ao programa em Antropologia Social do Ifch-Unicamp. A banca está composta por Carlos Rodrigues Brandão, Arthur Shaker e Mauricio Arruti.

Uma das discussões mais fortes na etnografia, refere-se à relação sensível através da qual o pesquisador se envolvi com o campo de pesquisa e acaba sendo influenciado na produção do seu trabalho. Dita sensibilidade é observada com desconfiança, e com frequência indentificase como uma fraqueza no método etnográfico, entretanto que, leva ao afastamento da tradição purista e objetiva da ciência. Aliás, a influência que pode ter o pesquisador no campo e a subjetividade com a qual são produzidos os conhecimentos acadêmicos, tem sido uma resposta efetiva na crise epistemológica das ciências humanas, crise que basicamente aparece pela impossibilidade de entender as relações sociais desde uma perspectiva positivista. Assim que, o caráter sensível nos modelos etnográficos abre as possibilidades para produzir conhecimentos desde uma base científica mais flexível, que permite à antropologia aproximar-se a outras formas de conhecimento como a literatura e a arte. Essa condição permite aos antropólogos e etnógrafos, interatuar com ferramentas que as ciências humanas desde abordagens metodológicas mais ortodoxos veriam com receio. Grandes aportes têm feito antropólogos clássicos como Malinowski (1976) nas ilhas Trobriand, e Bateson e Margaret Mead (1942) na ilha de Bali, onde além da observação participante, usaram em seus trabalhos etnográficos uma câmera fotográfica. Hoje a antropologia não só consegui usar a câmera como ferramenta de registro, senão que, através da antropologia visual tem se desenvolvido um enfoque que permite de forma inclusiva a aproximação entre propostas etnográficas e artísticas, colocando a fotografia num espaço privilegiado, sendo esta possivelmente a fala mais icônica sobre o que pode ser etnografado e interpretado. Pois diferentemente da palavra, pela qual se diz algo a respeito de alguma coisa, com a fotografia se pretende tornar visível algo tal como, de algum modo e em algum plano da realidade, é (Brandão, 2004). No meu caso, sendo antropólogo, mas também –e primeiramente fotografo, considero fundamental nas pesquisas o uso da fotografia como eixo articulador entre o que percebe e vivência o pesquisador e o que não consegue expressar por completo através de sua escrita. É a fotografia o mecanismo ideal para transmitir a experiência particular levando-a progressivamente até uma experiência geral, percebida por quem observam as imagens.

Aproveitando o potencial que tem a fotografia para capturar com uma capacidade impressionante a sensibilidade do antropólogo e sua relação com os espaços2 onde pesquisa, quero apresentar desta vez, um curto ensaio fotográfico que faz parte da minha pesquisa de mestrado com a população indígena Misak, no norte dos Andes, mais especificamente no Cauca – Colômbia. Esta população indígena tem uma cosmologia baseada na água das lagunas, o arco-íris e as altas montanhas, tudo dentro do território ancestral de Guambía, com mais de 3800 metros sobre o nível do mar. As fotografias que apresentarei foram feitas no contexto do meu trabalho de campo para o mestrado, fazendo parte da pesquisa titulada “DEL AGUA Y EL BARRO: aspectos sobre cosmología, conocimiento y aprendizaje en el Pueblo Misak – Colombia” desenvolvida durante mais de quatro meses. Ora, compõem uma pequena parte de um processo no qual deixei a minha sensibilidade voar apoiando-me na câmera como a melhor ferramenta para expressar os conteúdos que meu texto não consegui mostrar. Espaços sagrados, rituais e representações cotidianas são trazidas nas imagens, permitindo dar uma aproximação ao sonho profundo que dá sentido à existência dos Misak.

Roteiro de fotografias: Guambía – Colômbia. Povo indígena Misak Imagem 1: Tudo tem vida: os paramos ou cumes, os lagos, o céu... os antigos seres espirituais desceram sobre os lagos Ñimpi e Piendamó e ali aconteceu o ato de fertilização que deu vida aos Misak. Imagem 2: Desde os altos cumes saiu o desabamento de barro e água, onde baixaram os Pishau, primeiros Misak, eles eram sábios e alimentavam-se de tudo o que lhes dava a terra. Imagem 3: O conhecimento ancestral dos Misak está baseado nas famílias, assim sua cosmologia indica sempre uma composição de três: pai, mãe e filho.

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O “espaço” como uma categoria onde as pessoas e as paisagens dialogam produzindo um conjunto de representações manifestas de forma cotidiana. É naquelas representações onde o antropólogo se inseri formando parte de uma produção intersubjetiva.

Imagem 4: O Nú-Pirau: Território grande Misak, é observado desde os cumes, sendo estes guardiães ancestrais. Imagem 5. Imagem 6: O equilíbrio entre os seres espirituais, a terra e os Misak se produz através das praticas rituais do Mørøpik (xamã). Imagem 7: Psruk Tun: Morro do Cabelo, onde permaneciam antigamente os Mørøpik, trazendo e enxotando a chuva, e comunicando-se com os não-humanos. Imagem 8. Imagem 9: Dizem os Mørøpik que as árvores são como a família, cada pessoa é um ramo e cada uma tem uma função, todas constituem a grande família Misak. Imagem 10. Imagem 11: O Mørøpik fala com o Pishimisak e pede para enxotar os espíritos malignos, através de uma leve conversa no meio do vento frio da montanha. Assim garante um caminho mais tranquilo com esperança para o seu povo. Imagem 12. Imagem 13: O Nak Chak (fogão), é a matriz do conhecimento, de aí sai a sabedoria, ali também se planta cada cordão umbilical dando continuidade à cultura através da aprendizagem. Imagem 14. Imagem 15. Imagem 16: O Nak Chak e as parteiras estão intimamente ligados, pois os dois são mediadores de vida. Depois de uma manhã fria, deve-se mexer com calma na lenha do fogão enquanto os alimentos são cozinhados.

Bibliografía Bateson, G., & Mead, M. (1942). Balinese Character: A Photographic Analysis. New York: The New York Academy of Sciences. Brandão, C. R. (2004). Fotografar, documentar, dizer com a imagem. Cadernos de antropologia e imagem , 18, 27-54. Malinowski, B. (1976). Os Argonautas do Pacífico Ocidental: Um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné melanésia. São Paulo: Abril Cultura.

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