O Cinema Como Uma Ferramenta Pedagógica Na Sala De Aula: Um Resgate À Diversidade Cultural / Film as a Teaching Tool in the Classroom: The Rescue of Cultural Diversity

June 4, 2017 | Autor: Milton Rosa | Categoria: Cinema
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Ensino Em Re-Vista, v.21, n.1, p.137-144, jan./jun. 2014

O CINEMA COMO UMA FERRAMENTA PEDAGÓGICA NA SALA DE AULA: UM RESGATE À DIVERSIDADE CULTURAL FILM AS A TEACHING TOOL IN THE CLASSROOM: THE RESCUE OF CULTURAL DIVERSITY Marger da Conceição Ventura Viana1 Milton Rosa2 Daniel Clark Orey3 RESUMO: Com o objetivo de proporcionar debates a partir de filmes e discussões que abordem situações críticas da realidade social e da diversidade em sala de aula, existe a necessidade de explorarmos a utilização da linguagem cinematográfica na educação. Isso tem como propósito subsidiar os professores com uma proposta pedagógica que utilize filmes de diferentes categorias e gêneros para contribuir com a formação crítico-reflexiva dos alunos com relação a assuntos relacionados com a diversidade cultural. Assim, por meio do cinema, os alunos podem adquirir habilidades para entender o diálogo que existe entre o currículo escolar e as questões socioculturais mais amplas que dominam a sociedade contemporânea. Nesse sentido, é necessário levar ao debate a utilização do cinema em sala de aula como um recurso que tem um grande potencial educacional e que pode ser utilizado pelos professores na elaboração de atividades pedagógicas curriculares. Dessa maneira, o papel simbólico do cinema se torna uma fonte rica e inesgotável para analisar a diversidade cultural, pois a sua utilização nas escolas pode trazer para as salas de aula o entendimento e a aceitação dessa diversidade presente na sociedade. PALAVRAS-CHAVE: Cinema. Diversidade Cultural. Ferramenta Pedagógica. Sala de Aula. Escola.

ABSTRACT: Due to a need to explore the use of film language in education, the aim of this work is to deliver movies that enable discussions addressing critical social reality situations and diversity in the classroom. This proposal aims to support teachers through the pedagogical use of film from different categories and genres to contribute to the criticalreflexive education of students with respect to matters related to cultural diversity. Through film, students can acquire skills to understand the dialogue that exists between the school curriculum and the broader sociocultural issues that dominate contemporary society. Thus, it is necessary to use film as a classroom resource that has great educational potential and to be used by instructional leaders in curriculum development for educational activities. The symbolic role of film represents a rich and inexhaustible source for examining cultural diversity. Its use in schools can bring to the classroom understanding and acceptance of cultural diversity present in society. KEYWORDS: Cinema. Cultural Diversity. Educational Tool. Classroom. School.

Doutor em Ciências Pedagógicas pelo Instituto Central de Ciências Pedagógicas de Cuba. Vice-diretora do Centro de Educação Aberta e a Distância (CEAD) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). E-mail: [email protected]. 2 Doutor em Educação na área de Liderança Educacional, pela California State University em Sacramento, EUA. Professor de Educação Matemática do Centro de Educação Aberta e a Distância (CEAD) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). E-mail: [email protected]. 3 Doutor em Educação na área de Educação Matemática e Multicultural, pela Universityu of New Mexico em Albuquerque, EUA. Professor de Educação Matemática do Centro de Educação Aberta e a Distância (CEAD) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). E-mail: [email protected] 1

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Introdução A ideia de utilizar o cinema na educação não constitui uma inovação. Antes de 1930, depois da imprensa, o meio de comunicação de massa mais importante era o cinema. Por exemplo, a Reforma de Francisco de Azevedo (1928) incluía o cinema educativo na reorganização do ensino, pois já era considerado um meio para auxiliar o processo de ensino-aprendizagem. Em São Paulo, o Serviço de Rádio e Cinema Educativo foi instituído pelo Código da Educação, em 1933, cujo artigo 133 tratava da instalação de aparelhos de cinematografia nas escolas (SIMIS, 1996). Dessa maneira, a invasão da imagem, por meio do cinema, mostra que o estímulo visual se sobrepõe no processo de ensinoaprendizagem, pois a cultura contemporânea é visual. Sabemos que ainda existem questionamentos diversos sobre a utilização dos meios de comunicação audiovisuais no processo de ensino-aprendizagem. No entanto, de acordo com Cipolini (2008), o impacto da comunicação visual na construção do conhecimento dos alunos é inegável. Porém, muitas dificuldades se impõem para a efetivação desse novo paradigma educacional, pois os professores não estão recebendo uma formação adequada para acompanhar essas mudanças tecnológicas. Nessa perspectiva, Marques (2002, p. 145) afirma que [...] os professores demonstram ter consciência de que poderiam agir melhor pedagogicamente, tanto em relação ao uso das Novas Tecnologias e dos Meios de Comunicação de Massa quanto às diferentes linguagens e possibilidades de trabalho pedagógico e discussões que o tema oferece. O que eles não sabem é como fazer, verdadeiramente, para acertar, pois não foram preparados para isso, nem nos cursos de graduação, nem através de programas de capacitação em serviço.

Contudo, devemos tomar certos cuidados para utilização do cinema na sala de aula, pois é necessário considerarmos que o cinema é um gênero híbrido, pois é, ao mesmo tempo, arte e indústria. Nesse sentido, existe a necessidade de compatibilizar as exigências da recepção estética com a utilidade dos recursos educativos do cinema. Diante desse contexto, o filme não pode ser [...] tratado apenas como motivação para temas e problemas, ou como técnica. A experiência propriamente artística implica, na formação do espectador, a posse de informações e de linguagens, de referências culturais, além da necessária circulação intelectual em torno dos problemas culturais. (FAVARETO, 2004, p. 12).

Nesse sentido, com o objetivo de proporcionar debates a partir de filmes e discussões que abordem situações críticas da realidade social e da diversidade em sala de aula, este texto procura explorar a utilização da linguagem cinematográfica na educação para subsidiar os professores a construírem uma proposta pedagógica que utilize filmes de diferentes categorias e gêneros a fim de contribuir com a formação crítico-reflexiva dos alunos e assim entenderem o diálogo entre o currículo escolar e as questões socioculturais mais amplas que dominam a sociedade atual. Nesse sentido, é necessário levar ao debate um recurso que, embora não tenha sido construído com finalidades educativas, tem um grande potencial educativo e, por isso mesmo não deve ser descartado pela escola e pelos professores em suas práticas pedagógicas. A importância do cinema na escola É importante que a educação escolar ofereça aos alunos oportunidades de conhecimento e aprendizagem por meio da linguagem cinematográfica. Nesse direcionamento, o trabalho com a linguagem do cinema contribui para o desenvolvimento da compreensão crítica da diversidade presente na sociedade por meio das novas tecnologias, pois esses instrumentos proporcionam benefícios à formação dos alunos. Nesse contexto, de acordo com Viana (2009), existe a necessidade de procurarmos meios pedagógicos diferenciados para provocar a aprendizagem nos alunos. Por

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isso, é importante encontrar instrumentos apropriados para a implementação das novas tecnologias de informação e comunicação no processo de ensino-aprendizagem, pois os jovens [...] recebem informações por diversos meios: rádio, revistas, filmes, seriados de TV e tantos outros. Logo, pode-se afirmar que novas estratégias de ensino são requeridas, principalmente ao se levar em consideração o perfil da juventude atual, inserida num mundo envolto em tecnologias e conhecimentos que se desenvolvem vertiginosamente (NISHITANI, 2008, s/p).

De acordo com essa asserção, é importante a utilização dos veículos de comunicação de massa, como o cinema, no desenvolvimento do ensino-aprendizagem dos conteúdos escolares, pois a linguagem cinematográfica auxilia os alunos a aprenderem e a conhecerem sobre a diversidade presente nas escolas. Contudo, Napolitano (2003) argumenta que, apesar da dificuldade de acesso a esses meios de comunicação, a escola pode contribuir para diversificar a cultura audiovisual, ao trabalhar com filmes de origens, épocas, culturas e linguagens diversas, facilitando o entendimento da diversidade presente em nossa sociedade. Diante dessa perspectiva, Machado (2002) afirma que um dos objetivos da utilização do cinema em sala de aula é informar aos alunos sobre os diversos aspectos do tema que está sendo trabalhado pelos professores. De Pablos (1986) argumenta que a função informativa do cinema, como recurso tecnológico, está relacionada ao conteúdo das mensagens, ou seja, a semântica do filme. Nesse sentido, Ferrés (1996) e Machado (2002) argumentam que essa semântica relaciona-se com a comunicação das mensagens trocadas pelos atores e que está centrada na realidade referenciada pelo filme. De acordo com Machado (2002), a semântica do filme permite a interpretação de realidades diferentes e a análise da diversidade cultural da sociedade. Por outro lado, Viana (2006) afirma que existe a necessidade de adequar os filmes aos conteúdos a serem pesquisados e, também, à faixa etária dos alunos, pois, por meio da utilização do cinema em sala de aula, é possível encontrar novas possibilidades educacionais para despertar o interesse dos alunos pela pesquisa. Em nosso ponto de vista, aprender a pesquisar é de extrema importância em qualquer disciplina, pois é essencial que os alunos aprofundem os conhecimentos adquiridos no ambiente escolar. Nesse sentido, a utilização do [...] cinema como prática pedagógica pode fazer o aluno se interessar pelo conhecimento, pela pesquisa, pelo modo mais vivo e interessante que o ensino tradicional, apoiado em aulas expositivas e seminários. O porquê do cinema na escola só se justifica se ele desperta o interesse pelo ensino no sentido tradicional e, ao mesmo tempo, mostra novas possibilidades educacionais apoiadas na narrativa cinematográfica (CARMO, 2003, s/p).

Diante dessa perspectiva, a cada exibição cinematográfica, os olhares, as sensações e as experiências são renovadas e fortalecidas, gerando reflexões que se prolongam por toda a vida, pois a vivacidades das [...] imagens e sua reprodutibilidade facilitaram [...] [a] aceitação [do cinema] como pura representação da realidade. Mesmo sabendo que são montadas, a magia e o encantamento do fluxo de imagens fazem o espectador reagir como se fosse a própria realidade (OLIVEIRA, 2006, s/p).

Portanto, a cada filme projetado, a combinação do real com o imaginário propõe situações que simulam contextos e cenários que retratam a diversidade cultural da sociedade e os valores individuais e coletivos, que, posteriormente, podem ser discutidos e ampliados por meio da realização de atividades dialógicas mediadas pelos professores. Contudo, a linguagem cinematográfica compreende mecanismos de interfaces com outras linguagens, pois dialoga com vários conteúdos, tornando-se, assim, uma prática interdisciplinar. Por exemplo, a utilização de

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[...] filmes possibilita contextualizar os fatos contidos na história da Matemática. Além disso, apresentamse pretextos para que os alunos realizem pesquisas, por exemplo, com a utilização de novas tecnologias (Internet), em livros, revistas, artigos publicados em anais de eventos, entrevistas, etc. (VIANA, 2006, p. 560).

Um dos objetivos da utilização do filme em sala de aula é o de proporcionar aos alunos um resgate histórico dos conteúdos a serem estudados. No ponto de vista de Viana e Teixeira (2009), outro objetivo da utilização do cinema como um instrumento pedagógico é auxiliar os alunos a conhecerem a diversidade cultural dos matemáticos criadores das teorias relevantes que cercaram o desenvolvimento dessa disciplina. Nessa perspectiva, Duarte (2002, p. 17) afirma que “ver filmes é uma prática social tão importante, do ponto de vista da formação cultural e educacional das pessoas, quanto a leitura de obras literárias, filosóficas, sociológicas e tantas mais”. Outro objetivo importante da utilização do cinema na escola está relacionado com os Temas Transversais, propostos pelo Ministério da Educação na Lei de Diretrizes e Bases de 1996, que sugerem a utilização de filmes com o objetivo de contextualizar os valores humanos e a diversidade cultural. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997, p. 4), é necessário que os alunos “dominem os conhecimentos de que necessitam para crescerem como cidadãos plenamente reconhecidos e conscientes de seu papel em nossa sociedade” (p. 4). No entanto, esse objetivo somente será alcançado se oferecermos aos alunos o “pleno acesso aos recursos culturais relevantes para a conquista de sua cidadania”. Nesse contexto, entendemos que Os materiais que se usam como recurso didático expressam valores e concepções a respeito de seu objeto. A análise crítica desse material pode representar uma oportunidade para se desenvolverem os valores e as atitudes com os quais se pretende trabalhar. Discutir sobre o que veiculam jornais, revistas, livros, fotos, propaganda ou programas de TV trará à tona suas mensagens — implícitas ou explícitas — sobre valores e papéis sociais (BRASIL, 1997, p. 36).

Em nosso ponto de vista, a utilização do cinema em sala de aula se enquadra na perspectiva pedagógica apresentada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais sobre os Temas Transversais (BRASIL, 1997), pois os temas como ética, cidadania, pluralidade e diversidade cultural devem ser abordados de maneira que possam auxiliar no processo de formação de alunos que desempenhem, na sociedade, o papel de cidadãos críticos e responsáveis. O cinema e a diversidade cultural Na atualidade, o cinema e as outras mídias, em geral, auxiliam a apresentação e a discussão de temas pertinentes à sociedade como, por exemplo, a diversidade cultural e a discriminação social. De fato, a realização de sessões de cinema que abordam essa temática pode possibilitar e até facilitar o enfoque desse conteúdo de ensino. Nessa perspectiva, um dos objetivos desse trabalho é ampliar o conhecimento e aprofundar a reflexão sobre os desafios da educação escolar, proporcionando aos professores uma nova ferramenta para o processo de ensino-aprendizagem. Além disso, uma parcela da produção cinematográfica pode ser utilizada na sensibilização e estimulação do debate entre os alunos sobre as questões que envolvem a temática da diversidade. Isso acontece porque a linguagem cinematográfica permite explorar, de maneira bastante satisfatória, a perspectiva das representações sociais e culturais do imaginário social que envolve a escola e os seus sujeitos, pois esses elementos corroboram a melhor compreensão das diferentes facetas das características da sociedade globalizada. Da mesma forma, a utilização da linguagem cinematográfica em sala de aula também tem como objetivo a promoção e o respeito pela diversidade das expressões culturais em todas as suas vertentes e manifestações, em nível nacional e internacional. Entendemos que, nesse enquadramento, o cinema, como instrumento pedagógico, tem como características proteger, promover e encorajar a diversidade das expressões culturais e a conscientização social do seu valor, em nível regional, nacional e internacional.

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Nesse contexto, a diversidade cultural deve ser apresentada, discutida e debatida no ambiente escolar por meio da dialética da igualdade e da diferença (TEIXEIRA e LOPES, 2006). Dessa maneira, existe a necessidade de entendermos os diferentes registros culturais para que possamos compreender as novas perspectivas e visões de mundo. Em virtude disso, Teixeira e Lopes (2006) sugerem que é de suma importância que os professores trabalhem a “sensibilidade para a diferença e para o diverso, entendendo, porém, que o diferente é, ao mesmo tempo, igual, porque é sujeito de direitos e parte da humanidade” (p. 16). Nesse ponto de vista, a escola trabalha com a diferença em suas práticas escolares (TEIXEIRA e LOPES, 2006). No entanto, é necessário que, no ambiente escolar, os alunos sejam estimulados a criar a própria interpretação de mundo, para que possam discordar, identificar, analisar e confrontar diferentes pontos de vista e estilos de vida. No entanto, Bourdieu (1997) destaca que a mídia, inclusive o cinema, pode reforçar a dificuldade de compreensão da complexidade dos problemas e das questões sociais, reduzindo, dessa maneira, as situações e as perspectivas enfrentadas pela sociedade. Isso se deve ao fato de que as sociedades modernas quase sempre encaram a diversidade social e cultural como um obstáculo a ser ultrapassado. Nesse direcionamento, é necessário que os professores, ao utilizarem os filmes em sala de aula, elaborem atividades pedagógicas que tenham como objetivo a compreensão da trajetória histórica dos grupos culturais envolvidos no contexto do filme por meio de debates sobre o tema. É importante salientar que as pesquisas sobre as relações entre as diferentes culturas podem favorecer a discussão e a compreensão dessas questões para que não fiquem cristalizadas no passado, pois, ao contrário, essas questões continuam problemáticas. Finalizando, a utilização do cinema nas escolas pode trazer para as salas de aula o desafio de entender e aceitar a riqueza da diversidade cultural que está presente na sociedade. Utilizando o cinema em sala de aula Embora, para a utilização do cinema na sala de aula, os professores não tenham que ser críticos profissionais da linguagem cinematográfica, é de extrema importância que conheçam alguns elementos necessários para o desenvolvimento eficaz das atividades curriculares, ou seja, o argumento, o roteiro, o figurino, a produção, a edição e a exibição. Viana e Teixeira (2009) afirmam que todos esses elementos compõem a sétima arte e possuem o poder de transmitir ideologias e valores implícitos para a audiência cinematográfica. É importante que os professores conheçam um pouco da história do cinema e os grandes clássicos para que possam ter condições de escolher os filmes apropriados para cada situação de aprendizagem e saber onde e como localizá-los. A educação e o cinema são partes integrantes do processo interpretativo da diversidade cultural. Nesse processo, a educação possibilita que os alunos tenham condições de analisarem criticamente a sociedade já o cinema mostra “a natureza humana em toda a sua plenitude e decadência” (TEIXEIRA e LOPES, 2006, p. 28). De acordo com esse contexto, a exibição de filmes possibilita discutir a diversidade cultural sob diversas perspectivas como, por exemplo, “situações, contextos, imagens e enredos” (TEIXEIRA e LOPES, 2006, p. 28). Então, existe a necessidade de que os professores utilizem filmes que despertem o interesse, estimulem a reflexão e facilitem os contatos com a diversidade cultural que constitui a sociedade contemporânea. Em suma, devemos fomentar novos públicos de alunos que articulem compreensões múltiplas sobre a diversidade cultural e a produção cinematográfica contemporânea. Porém, para que isso ocorra satisfatoriamente, Teixeira e Lopes (2006) argumentam sobre a necessidade de discutirmos filmes “que tematizem a problemática da diversidade cultural” (p. 27). A representação da diversidade cultural no cinema deve ser profundamente explorada nos filmes escolhidos para exibição em sala de aula por meio de uma ação pedagógica que facilite o ensinoaprendizagem. Nessa ação pedagógica, é importante que os professores atuem como mediadores e facilitadores desse processo, ou seja, realizem a mediação entre o mundo do cinema e os alunos, atuando

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como um facilitador da aprendizagem que revê constantemente as suas práticas pedagógicas, que não impõe verdades e que nem é uma autoridade absoluta nessa proposta pedagógica. Selecionando e exibindo filmes Para selecionar um filme, é necessário que os professores conheçam as várias modalidades cinematográficas produzidas pela Sétima Arte. É possível consultar catálogos, porém nem sempre estão atualizados e ao alcance dos professores. E, as locadoras, em geral, não possuem um catálogo variado que contém filmes antigos ou clássicos importantes que são poucos conhecidos do público em geral. Essas locadoras possuem catálogos limitados aos sucessos americanos do momento, restringindo a cultura cinematográfica ao cinema comercial. Uma boa opção é iniciar essa seleção pela leitura de livros e dissertações que têm sido escritos sobre a utilização de filmes na educação. Pode-se lançar mão de informações de colegas, consultas a páginas da Internet, artigos de revistas, jornais e catálogos de teses e catálogos de editoras. Como a pré-seleção do filme pode acontecer por meio da indicação de um amigo ou de um profissional da área que já tenha experiência em trabalhar com filmes em sala de aula, o filme deve ser assistido várias vezes, procurando-se destacar o conteúdo que está relacionado com a disciplina a ser trabalhada. Viana e Teixeira (2009) afirmam que na primeira vez, em geral, não se descobre um relacionamento da história do filme com o conteúdo a ser trabalhado, mas, nas vezes seguintes, essas relações começam a ficar mais claras. No entanto, de acordo com Betti (2003), é necessário preparar os professores para a mediação entre o cinema e a escola e o cinema e a educação, dando-lhes sugestões de utilização das práticas e propostas pedagógicas que envolvem esse meio de ensino-aprendizagem. Os filmes devem ser escolhidos pela articulação dos conteúdos e conceitos a serem trabalhados ou já trabalhados, tendose em mente o conjunto de objetivos e metas a serem atingidas na disciplina. Porém, é certo que não encontraremos filmes adequados para todos os conteúdos. Por isso, é necessário que os professores articulem o conteúdo do filme a ser trabalhado com a disciplina a ser lecionada. Após a seleção do filme, é imprescindível elaborar um roteiro para ser apresentado aos alunos antes de sua exibição. Esse roteiro também visa ao estabelecimento de parâmetros para avaliação dos alunos de acordo com os objetivos das atividades propostas. O roteiro deve conter elementos informativos fundamentais como, por exemplo, a ficha técnica, o gênero e o tema central do filme, a sinopse, a lista dos personagens principais bem como as suas características e, também, as funções dramáticas que foram percebidas durante a exibição cinematográfica. O roteiro também deve conter elementos interpretativos que são constituídos por um conjunto de questões que dirijam a atenção dos alunos para os aspectos mais importantes do filme. Essas questões estão baseadas nos princípios, no conteúdo disciplinar e nos objetivos previstos pelos professores. As atividades a serem realizadas pelos alunos devem ser de preferência em grupos e apresentadas sob a forma de seminários para debates em sala de aula. Além disso, os textos de apoio diretamente relacionados aos filmes podem ter grande importância para uma análise fílmica de qualidade. De acordo com Napolitano (2003), as entrevistas com o diretor e os atores e as críticas publicadas em jornais podem servir de textos geradores de problemas e questões a serem colocadas no roteiro de atividades, enriquecendo, assim, a assimilação do conteúdo curricular a ser trabalhado com os alunos. Depois de tomados todos esses cuidados, é importante que os professores escolham a melhor maneira de exibição do filme para que esteja de acordo com as atividades propostas pelo currículo escolar. De acordo com Napolitano (2003), existem três formatos que podem auxiliar os professores na realização das atividades curriculares, ou seja, a exibição-assistência durante o horário da aula; a exibição-assistência em casa formada por grupos de alunos previamente agrupados pelos professores e a exibição-assistência, na sala de aula, composta por cenas ou sequências previamente selecionadas pelo professor. No entanto, o aspecto mais importante desse processo é ter coerência entre a forma de exibição-assistência e os objetivos-amplitude da atividade planejada.

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Finalizando, entendemos que uma atividade de fundamental importância para a formação crítica dos alunos é a apresentação de seminários sobre as pesquisas realizadas. Considerações finais Franco (2004) afirma que “o cinema será utilizado exclusivamente como instrumento de educação e como auxiliar de ensino que facilite a [ação] do mestre sem substituí-lo” (p. 23). De fato, existem indicações de como não utilizar o filme em sala de aula como, por exemplo, o caso do filme tapa-buraco, que tenta substituir o professor em caso de sua ausência. Utilizar esse expediente eventualmente pode ser útil, mas, se for utilizado com frequência, a sua utilização fica desvalorizada e os alunos podem associar a exibição de filmes como um processo utilizado pelos professores para matar as aulas. Igualmente, existe também o cinema-enrolação, ou seja, quando o filme exibido não tem muita ligação com o conteúdo a ser estudado. Nesse sentido, os alunos podem perceber que o filme está sendo utilizado como uma maneira de camuflar as aulas. Devemos tomar cuidado também com a utilização do cinema como exibição do filme–deslumbramento, no qual os professores utilizam um filme que os empolgou e se esquecem de elaborar e desenvolver as atividades pedagógicas relacionadas com o conteúdo e contexto do filme. Portanto, a má utilização do filme diminui a sua eficácia e empobrece as aulas. Dessa maneira, exibir o filme sem discuti-lo e sem integrá-lo com o conteúdo a ser desenvolvido em sala de aula é didaticamente insatisfatório. Diante desse contexto, entendemos que a comunicação de massa e a indústria cinematográfica podem ser consideradas como um sistema simbólico repleto de significações e que seus produtos podem ser considerados como produções simbólicas. O cinema, no contexto escolar, tem um papel de grande importância pela sua audiência e amplitude. E é pelo seu papel simbólico que o cinema se torna uma fonte rica e inesgotável para analisar a diversidade cultural da sociedade contemporânea. Finalizando, existe a necessidade de se pensar sobre as questões educacionais e escolares como, por exemplo, o multiculturalismo e a diversidade cultural, que estão relacionadas com o cinema, pois a globalização acarretou uma mistura cultural, na qual conviveremos frequentemente com as diferenças. É de suma importância que os professores discutam com os alunos que o encontro com o outro e com o diferente pode ser um potencializador de experiências que pode auxiliar na luta contra a reprodução de ações de preconceitos e dominação cultural que existe nas escolas. Nesse sentido, é nosso dever, como professores, pensarmos sobre a diversidade cultural e estarmos atentos aos encontros e às dinâmicas culturais que acontecem dentro e fora do ambiente escolar. REFERÊNCIAS BETTI, M. Educação física e mídia: novos olhares, outras práticas. São Paulo, SP: Hucitec, 2003. BOURDIEU, P. Sobre televisão. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar, 1997. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: temas transversais. Brasília, DF: MEC, 1997. CARMO, L. O cinema do feitiço contra o feiticeiro. Revista Iberoamericana de Educación, v. 32, MaioAgosto, 2003. CIPOLINI, A. Não é fita, é fato: tensões entre instrumento e objeto. Um estudo sobre a utilização do cinema na educação. Dissertação de mestrado em Educação. Faculdade de Educação, São Paulo, SP: Universidade de São Paulo, 2008. DE PABLOS, J. Cine y enseñanza. Madrid, España: Ministério de Educación y Ciencia, 1986. DUARTE, R. Cinema e Educação. Belo Horizonte, MG: Editora Autêntica, 2002.

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