O CÍRIO DE NAZARÉ DE BELÉM DO PARÁ: ECONOMIA E FÉ

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O CÍRIO DE NAZARÉ DE BELÉM DO PARÁ: ECONOMIA E FÉ* Francisco de Assis Costa** Marcelo Bentes Diniz*** Alexandre Magno de Melo Faria**** José Nazareno Araújo dos Santos***** José de Alencar Costa******

RESUMO O Círio de Nazaré, a procissão matriz em honra de Nossa Senhora de Nazaré e suas derivações, é o evento central e fundador do Círio de Nazaré, o grande momento vivenciado anualmente pela cidade de Belém – Pará - e suas adjacências. O objetivo deste artigo é apresentar esse “evento total” como um sistema submetido à regulação por princípios reprodutivos que combinam forças de expansão e de retração e demonstrar sua capacidade adaptativa e de expansão sob tais condições, nesses mais de duzentos anos de ocorrência. Como parte da análise, uma avaliação do seu significado para a economia de Belém. Palavras-chave: Círio de Nazaré. Economia do Turismo. Turismo Religioso. Cultura Amazônica.

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Artigo resultante de pesquisa realizada no contexto da Rede de Pesquisa em Sistemas e Arranjos Produtivos e Inovativos Locais (RedeSist) do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de janeiro (IE-UFRJ), com apoio do SEBRAE Nacional. Os autores agradecem enfaticamente a ambas instituições. Ph.D. em Economia pela Freie Universität – Berlin-Alemanha; Professor e Pesquisador Associado do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará (NAEA/UFPA). Belém-PA. E-mail: [email protected]; Visiting Fellow do Center for Brazilian Studies, University of Oxford (Hilary and Trinity Terms 2007) e Pesquisador Associado da RedeSist (IE/UFRJ). Doutor em Economia pelo Centro de Aperfeiçoamento de Economistas do Nordeste da Universidade Federal do Ceará (CAEN/UFC); Professor Adjunto do Departamento de Economia da Universidade Federal do Pará (UFPA). Belém-PA. E-mail: [email protected] Doutor em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido pelo NAEA/UFPA. Professor Adjunto da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Cuiabá-MT. E-mail: [email protected] Mestre em Planejamento do Desenvolvimento pelo NAEA/UFPA; Professor Assistente de Economia do Instituto de Estudos Costeiros da UFPA. Bragança-PA. E-mail: [email protected] Graduado em Desenvolvimento de Sistemas e de Software pela Universidade da Amazônia (UNAMA). Campus Senador Lemos. Belém-PA. E-mail: [email protected]

Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.

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THE CÍRIO OF NAZARÉ OF BELÉM OF PARÁ: ECONOMY AND FAITH ABSTRACT The Círio of Nazaré, the main procession in honor of the Lady of Nazareth, always accomplished in second Sundays of October, and its derivations, is the central event and the founder cellebration of the Círio de Nazaré de Belém – Pará - Brasil, the great, magic moment lived annually by the city of Belém and its surroundings. The objective of this article is to present this “total event” as a system submitted to the regulation of reproductive principles that combine expansion and contration forces and to demonstrate its adaptive capacity and expansion under such conditions, in those more than two hundred years of existence. As part of the analysis, an evaluation of its meaning for the economy of Belém. KeyWords: Círio de Nazaré - Amazon Culture - Tourism Economics - Religious Tourism.

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1INTRODUÇÃO O Círio de Nazaré1, como evento religioso, é o centro de um acontecimento mais amplo, chamado de Círio de Nazaré de Belém: um evento total o qual combina um conjunto ou seqüência de rituais que se realizam em diversas instâncias e esferas da vida da Cidade de Belém (MAUSS, 2003; ALVES, 1980). A cada ano se realiza um Círio de Nazaré de Belém: um momento do processo histórico da construção social de um espaço-tempo simbólico estruturado por legítimas razões de fé, com o concurso oportunista da alegria, da cultura, da política e do mercado. Trata-se, ao mesmo tempo, de momento de validação da dimensão sagrada da vida e sua consagração profana. Tal construção se manifesta concretamente na criação de oportunidade de vivência sob impacto dos mistérios do poder divino, de sua capacidade de interferir e definir o rumo da vida dos mortais com a mediação da Virgem Mãe de Cristo, e no estabelecimento de audiências privilegiadas, sobretudo para os prodígios e a palavra de Deus, na perspectiva da catequese da fé católica. Ela se realiza, também, nas celebrações de pertencimento (à família, a grupo, a lugar), para a exposição aos/dos signos da arte (comunicação performática dos seres sociais), e para as mediações simbólicas e objetivas do poder e do capital (validação/negação de imagens e realização de compras e vendas). Nessa confluência, o lugar que cria e recria a cada ano a grande celebração, o povoamento de Santa Maria de Belém do Grão-Pará, portal da Amazônia, ponto de partida de sua colonização européia, centro estratégico do comércio que a conecta com o mundo, torna-se denso de significados para cada um dos que o conformam em funções centrais ou periféricas, próximas ou remotas, em posições imediatas Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.

ou mediatas. Com isso, revela-se atrativo simbólico para o outro, para o estranho que busca aqui, de algum modo, o paraíso (Perdido? Prometido? Perdido na promessa?) da fé, da alegria e da beleza. Isso implica em diversas viagens: a viagem interior que motiva a generosidade e a prodigalidade; a viagem em torno de si (as procissões, o “arrastão”, o “auto”, as “paradas” – conforme Costa et al., 2006) onde se expõem os símbolos tangíveis da fé e da arte, onde se grita a diferença, onde se pavoneia o poder; a viagem desde o interior que aproxima o rural do urbano articulados pela cultura a qual tem nesses símbolos seus elementos de identidade; a viagem desde o exterior que traz ao lugar os curiosos e os carentes dos seus atributos: de fé, de alegria e de beleza. Nessas viagens se assenta a economia do Círio de Nazaré de Belém: a prodigalidade altera o ato de consumir, posto que influi na disposição e na forma do consumo; a exposição requer a produção, em sentido palpável, material e tangível, dos símbolos, da representação, da performance; a aproximação do centro com o interior implica em custos, isto é gastos efetivos de energia e matéria para romper a inércia do afastamento, do mesmo modo que o deslocamento para a visitação do estranho. Em meio a tudo, o poder econômico ou político, paga para se naturalizar ou para se divinizar nos símbolos - paga, naturalmente, com o que arrecada pela condição de poder. É nessa perspectiva que ele constitui objeto deste artigo: enquanto economia, isto é, como momento especial da reprodução social em lugar preciso, fundado na integração de processos produtivos de sistemas particulares, dentre os quais se destaca o evento religioso. 95

2 O CÍRIO DE NAZARÉ: O SISTEMA CENTRAL DO CÍRIO DE NAZARÉ DE BELÉM O Círio de Nazaré, a procissão matriz e suas derivações, é o evento central e fundador do Círio de Nazaré de Belém, o grande momento vivenciado anualmente. Cada celebração é um momento, o último da série que constitui o processo histórico da construção social de um lugar santificado: aquele por onde perambula o ente que santifica e para onde perambularão os carentes dessa santificação. O Círio de Nazaré é, pois, por um lado, um lapso de tempo definido e finito, momento presente, oportunidade da realização e exposição de prodígios mediante os critérios da confissão religiosa católica; por outro, um lapso de tempo indefinido e infinito, que configura o passado, o lugar psicossocial onde residem os prodígios realizados, e o futuro, o lugar psicossocial onde se realizarão sonhos, partes desses prodígios. De um passado de milagres se alimentam as esperanças de um futuro abençoado. O Círio de Nazaré é a oportunidade de vivências que aproximam, sob os auspícios da confissão católica, essas duas realidades mentais: a da fé alicerçada no passado e a da esperança antevista como futuro tocado pela divindade. Assim percebido, o Círio de Nazaré é, em si, um sistema constituído de uma esfera de produção, da qual resulta um produto ajustado a necessidades de pessoas concretas, e uma outra de reprodução, de que faz parte a) uma orientação finalística para a realização de objetivos sistêmicos, materializáveis em capital simbólico, acumulável, como todas as formas de capital, e b) mecanismos de feed back orientados por aferição do alcance dessas finalidades em um trajeto evolutivo. Um a um, os elementos constitutivos do sistema Círio de Nazaré são os seguintes: A produção do Círio - o processo objetivo que articula meios tangíveis e intangíveis para estabelecer, a cada ano, oportunidades Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.

privilegiadas de vivências que estimulem a fé e a esperança em Deus e na divindade católica justificada pela história do Círio. O produto do Círio - a experiência do Círio, o ato de vivenciá-lo perpetrado por cada crente seria o ato de consumo do produto derivado do processo produtivo deste; cada vivência subjetiva, individual, seria uma unidade absorvida (de consumo). Os demandantes do Círio - Os que o vivenciam são seus demandantes. Tal audiência se divide entre os que demandam o Círio para pedir, os que demandam o Círio para agradecer, os que demandam o Círio para pedir e agradecer, os que demandam o Círio para ver os que pedem e os que agradecem – conferir o evento, indagar sobre razões, se extasiar sobre formas, sentir o espetáculo. Os que pedem o fazem em silêncio. Os que agradecem alardeiam com os recursos performáticos das diversas formas de pagamento de promessas, a saber: a) a exposição do objeto da graça, demonstração para o mundo do poder (de intermediação?) da Santa – recurso recorrente em outras oportunidades religiosas; b) a demonstração pública da Fé na Santa, pelo autoimputação de sacrifício e c) pela prestação imediata de um serviço à Santa, em retribuição à graça alcançada. As duas primeiras formas são recorrentes em manifestações católicas de características semelhantes; a última, entretanto, é típica do Círio de Nazaré – é seu distintivo. A finalidade do Círio - o sistema se orienta, no seu processo reprodutivo, pelo número dessas vivências, sua finalidade sendo a de permitir o maior número possível delas. A formação de capital simbólico e a reprodução do Círio - cada unidade de vivência, cada unidade de audiência, ao mesmo 96

tempo em que satisfaz uma necessidade subjetiva, individual, agrega memória e tradição e, portanto, significado histórico e cultural ao Círio (como história), podendo ser interpretado como mecanismo de formação do capital simbólico (BOURDIEU, 1974) que fundamenta a própria produção do Círio (como momento): uma unidade consumida a mais do produto do Círio implica um incremento de seu fundamento de última instância. Seu consumo produz, em si, um milagre: amplia o objeto consumido. A história do Círio – sua trajetória a evolução do processo de produção do Círio – a evolução do sistema nele baseado - é, assim, a) influenciado pela história e, portanto, path dependent - dependente de trajetória; b) resultado de procedimentos path eficient, isto é incorporados na produção por demonstrarem resultados finais superiores às demais alternativas nos termos da finalidade já explicitada. O desenvolvimento (e política) do Círio - a cada edição, pois, o Sistema amplia um dos fundamentos sobre a qual operará a próxima edição, a partir do mecanismo endógeno da ampliação e a densidade de sua própria história. Tal processo, contudo, pode ser contido por fatores aprisionadores do sistema em estados de inércia ou potenciado por fatores que o excitam. A política de desenvolvimento do Círio se constituiria da mediação institucional que favorece a gestão consciente de mecanismos reguladores, a cada edição, do número dos que vivenciam as experiências de fé e esperança oferecidas pelo sistema. A razão (racionalidade) do sistema – a percepção de eficiência, os investimentos e as inovações - a eficácia

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do sistema e do processo decisório que lhes orienta se demonstra, em princípio, pelo número dos que vivenciam as experiências de fé e esperança, isto é, pela audiência atingida para a constatação do poder da fé e para a palavra de esperança em cristo. Tanto maior a audiência, mais eficaz terá sido o sistema em sua finalidade. Há duas possibilidades lógicas para isso: a) operar para ampliação numérica dos que aproveitam as mesmas oportunidades (ampliação por desenvolvimento extensivo); b) operar para multiplicação do número de oportunidades (ampliação por desenvolvimento intensivo). Dependendo da escolha, exigirá ao sistema esforço de mudança - isto é, capacidade de inovar e de arregimentar a energia extraordinária para tanto. Uma inovação se afirmará se, além de permitir eficiência de escala (expandir a audiência) comparável às possibilidades concorrentes, reduzir, mais que qualquer dessas, o volume de esforço despendido por cada unidade dessa audiência. A concorrência - o Círio de Nazaré é um mecanismo operado pela fé católica num tempo e num espaço preciso. O tempo do Círio é concomitante com o tempo de outras manifestações realizadas em espaços distintos. Para os que fazem a “viagem do exterior”, o Círio é alternativa a outras oportunidades de exercício de fé e de esperança sob a égide da crença católica em outros lugares. Por outra parte, a fé católica (e sua institucionalidade) não detém o monopólio das oportunidades de exercício da fé e da esperança cristãs como ingredientes da vida social – como um dos seus mecanismos de coesão e estabilidade. Para os que realizam “a viagem do interior” para exercitar “a viagem interior”, a oportunidade do Círio realiza-se como alternativa num campo em que outras confissões atuam oferecendo signos equivalentes.

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2.1 A LONGA TRAJETÓRIA DO CÍRIO A construção do Círio, como processo histórico, está marcada por dois tipos de eventos: os que construíram os símbolos em torno dos quais se estruturam os movimentos objetivos que fazem os percursos de cada ano e os que criam e recriam tais percursos. Em ambos existem aspectos fundamentais, que criam elementos de grande significado, e mudanças que complementam ou dão seqüência às inovações fundamentais. Destacam-se duas grandes ondas de criação: a primeira seqüência produz os principais símbolos do Círio e se estende por um século e meio; a segunda, amplia o espaço-tempo de influência desses símbolos: um processo iniciado há três décadas e em notável andamento. A produção dos símbolos - a descoberta/revelação da (imagem da) Santa em 17002; o modo apoteótico de demonstração de milagres na criação/adoção dos carros em 18053; a exposição da veneração por parte do poder político por carros apoteóticos em 1826; a santificação oficial do evento em 18454; a condução da Santa por carro puxado por número indeterminado de pessoas, pela invenção articulada da Berlinda e da Corda, ambos em 18555. Estes eventos fundam os elementos que estruturam atualmente a procissão do Círio de Nazaré (para detalhes ver COSTA et al., 2006). A produção do espaço-tempo do Círio - em 1700, a própria Santa estabelece seu lugar, o ponto para onde, se removida, sempre retornará; um pouco menos de um século depois, em 1793, fará sua primeira viagem, sagrará seu primeiro roteiro – o caminho entre sua morada e as moradas do poder político (1793) e eclesiástico

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(1882) do Grão Pará – vizinhos no centro da povoação de Santa Maria de Belém. Este foi o espaço do Círio por quase dois séculos, quando então, em 1972, se criaram as peregrinações e, em 1986, se iniciaram, com a Romaria Fluvial, as romarias especiais. As peregrinações - idealizadas como metodologia de evangelização e catequese baseada nas comunidades e nos lares. Como parte da preparação para o Círio, réplicas da imagem da Santa são transferidas de casa em casa, ensejando a oportunidade de orações e reflexões em torno de temas renovados a cada ano. Objetivamente, a inovação: a) leva ao espaço privado as oportunidades do Círio que até então só se realizavam em espaços públicos e; b) rompe com o roteiro único, dando mobilidade aos símbolos em conseqüência do atributo de mobilidade agora representado na Imagem Peregrina da Santa que, com isso, torna-se capaz de ir onde o povo está. Com isso, abrem-se caminhos para as romarias especiais, iniciadas com a Romaria Fluvial, em 1986, orientadas a públicos particulares e cumprindo roteiros próprios, tendencialmente de abrangência crescente. Hoje, são sete essas procissões (ver Quadro 1). Ademais, a Imagem Peregrina empreende longos trajetos para o exterior e aprofunda viagens interiores. No primeiro esforço, capitais e grandes cidades do País são visitadas nos anos de 1991, 1992 e 1993, como parte das comemorações dos 200 anos do Círio de Nazaré; no segundo, a peregrinação se aprofunda no espaço privado, alcançando, desde 2003, instituições e empresas. Em 2006, 36 dessas organizações serão visitadas pela Santa.

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Quadro 1 – Cronologia e descrição das novas romarias do Círio de Nazaré. Fonte: Pantoja (2005).

Associada aos novos roteiros e espaços, interiores ou exteriores, ocorre a reformulação do tempo do Círio de Nazaré - extensiva e intensivamente. Há uma elevação da extensão do tempo na medida em que se expandiu, até 2006, da quinzena original para um calendário que, no que se refere aos eventos em espaço público, vai de 25 de agosto a 23 de outubro; no que se refere

ao roteiro privado das peregrinações, vai do dia 12 de agosto até 4 de novembro. Ao lado disso, há uma intensificação, um adensamento do tempo quando se operam múltiplos eventos num mesmo espaço de tempo. No dia 7 de outubro, por exemplo, ocorrera 5 romarias e em vários momentos sete peregrinação concomitante entre si e com outros eventos.

2.2 A CONFIGURAÇÃO ESPAÇO-TEMPO E A FINALIDADE DO CÍRIO DE NAZARÉ Pode-se sintetizar esquematicamente no Gráfico 1 os movimentos mencionados. Ali se representam o tempo no eixo vertical e o espaço no eixo horizontal. O processo se inicia com uma audiência formada no centro de Belém (o espaço e) em data fixada no segundo domingo de Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.

outubro (o tempo t=0). A criação do Recírio, a primeira inovação, ampliou o tempo de t para t+15 – já não se trata mais do dia, mas da quinzena. A audiência, antes At, a multidão que compõe o cortejo da procissão, é, agora, At + At+15, sendo esta última parcela a audiência 99

adicional ganha pela existência do Recírio que, por quinze dias mais, enseja oportunidades adicionais para a reflexão e para a Palavra. O traslado Belém-Ananindeua produz um deslocamento no espaço de 40 quilômetros, que abarca uma audiência adicional representada por Ae+40. Por outro lado, no centro de Belém se produz um deslocamento para outra dimensão, a da esfera privada. Isso cria um adicional de audiência, da mesma maneira que o

deslocamento do tempo para antes do tempo 0, o segundo domingo, representado pelas peregrinações. De modo que, ao final, a configuração espaço-tempo do Círio de Nazaré determina a sua audiência total. A Audiência Total do Círio de Nazaré (ATCN) é o somatório de todas as audiências auferidas: a da procissão matriz e dos demais movimentos ensejado pelos deslocamentos, seja do tempo, seja do espaço. Assim, ATCN = ÓAt + ÓAe.

Gráfico 1 – Representação esquemática da produção da audiência total do Círio de Nazaré pela sua configuração espaço-tempo. Fonte: Elaboração dos autores.

A reconfiguração espaço-tempo do Círio de Nazaré não é, pois, neutra em relação a sua finalidade, a formação de uma audiência para o poder e para a palavra de fé em Deus e esperança em Cristo, com a mediação de uma manifestação

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particular da Virgem, sua Mãe. A rigor, do manejo dessas duas variáveis tem dependido a eficiência do sistema6. Sobre isso nos debruçaremos no próximo segmento.

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2.3 AS FONTES DE EVOLUÇÃO DO CÍRIO DE NAZARÉ NO CUMPRIMENTO DE SUA FINALIDADE: CRIAÇÃO E RECRIAÇÃO SIMBÓLICA – INOVAÇÃO DO QUE SE OFERECE; CONFIGURAÇÃO ESPAÇOTEMPO – INOVAÇÃO DO COMO SE OFERECE. A demonstração das condições mediante as quais evoluiu a ATCN, sua finalidade, é fundamental para a compreensão do seu desenvolvimento. No Gráfico 2 estão as compilações históricas e estatísticas em relação a audiência e sua composição (Procissão do Círio e outras procissões). Além dos números estimados para as audiências do Círio ao longo dos últimos 150 anos anotou-se, também, as taxas geométricas médias de incremento anual para os períodos para os quais se dispôs de informações. Consideradas essas taxas médias de crescimento observadas para os períodos irregulares, modelou-se a série completa ano a ano, obtendo as taxas para cada ano como os termos de progressões aritméticas (PA), uma para cada período explicitado no Gráfico 2. Para cada período, o primeiro termo da progressão aritmética correspondente foi obtido considerando que o valor da soma dos seus termos é igual ao número de anos do intervalo vezes a taxa geométrica de incremento médio conhecida e o último termo é um valor igual ao primeiro termo da progressão correspondente ao intervalo seguinte. De posse desses valores calculou-se a razão da progressão em questão (a variação absoluta da taxa de ano para ano, naquele período) utilizando uma variação da fórmula da soma dos termos de um PA finita7. Os cálculos se fizeram iniciando pelo período mais recente (1999 a 2005), para o qual o último termo da progressão foi estabelecido como de 12,4%: a taxa média de crescimento dos três últimos anos. O resultado do modelo é apresentado nos Gráficos 3 e 4. Observa-se três períodos importantes da evolução da ATCN e, em cada um, fases distintas. Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.

1. Um primeiro período (1900 a 1970) se caracteriza por um ciclo completo, com fases de expansão em dois estágios – um com taxas crescentes e o outro a taxas decrescentes – auge e declínio: a) a fase de crescimento a taxas crescente começa nos primeiros anos do século XX, se estendendo até fins dos anos trinta (Gráfico 3). Este parece se constituir um período caracterizado pela consolidação dos símbolos já estruturados, como mencionado, em meados do século anterior. No período, vários eventos reforçaram esses símbolos: em 1901 concedeu-se indulgência plenária para quem participar piamente em qualquer dia do novenário do Círio; em 1909 criouse o Hino Oficial do Círio “Vós Sois o Lírio Mimoso”, até hoje muitíssimo apreciado; de 1909 a 1914 foi construída a Basílica de Nazaré, a qual recebeu de Roma o título de Basílica em 1926. Ademais, em 1910, criou-se a Diretoria da Festa, uma inovação organizacional de grande significado, como veremos depois; b) em contraste com essa vivacidade, os períodos que seguem se caracterizam por baixa atividade de reforço ou criação simbólica, ou de inovação no processo de produção e gestão do Círio de Nazaré. c) em consonância com isso, cai o ritmo de expansão ao longo dos anos quarenta, decrescendo a taxa a ATCN de ano para ano até o ponto em que, em meados de cinqüenta, inicia uma fase de declínio que tem seu ponto mais baixo em fins dos anos sessenta. 2. Um segundo período (1970 a 1990/1993) inicia nos primeiros anos da década de setenta e tende à estagnação no início da década de noventa: 101

a) no início dos anos setenta recuperamse as taxas de crescimento e até os primeiros anos da década de oitenta verifica-se uma expansão acelerada, caindo a partir daí até atingir níveis próximos de zero no início dos anos noventa. A retomada do crescimento nesse período parece claramente associada à grande inovação das peregrinações da Santa, em 1972 – o que permitiu uma primeira reconfiguração espaço-tempo do Círio (Gráfico 3). Parece, também, atrelada a uma importante inovação organizacional, a criação da Guarda da Santa, em 1974. Deve-se considerar, ainda, o novo hino (1975), o reforço simbólico representado pela benção do Papa à Santa (1980) e pela criação de carros e barcas (1980 e 1982); b) a partir de 1983, ao par com uma baixa atividade de reforço e criação, verifica-se queda

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continuada da taxa de incremento, a qual apresenta valores negativos nos primeiros anos da década de noventa, chegando ao ponto mais baixo em 1993. 3. A terceira fase (1990/1993 até o presente momento) inicia com recuperação das taxas de crescimento na primeira metade dos anos noventa (Gráfico 6). O novo momento parece marcado por um aprofundamento das estratégias iniciadas no período anterior, com ênfase nas peregrinações e, na esteira dos primeiros experimentos (a Romaria Fluvial, em 1986, e a Romaria Rodoviária, 1990), nas romarias especiais. Digno de nota é, também, a mudança organizacional representada pela criação, em 2001, de um novo Regimento que reformula profundamente a gestão do Círio. Isso será abordado na próxima seção.

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Fonte: Pantoja (2006); IPHAN (2004a; 2004b); Amaral (2003).

Gráfico 2 – Evolução da Audiência Total do Círio, 1793 a 2005.

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Fonte: Cálculos dos autores com base nos dados do Gráfico 2.

Gráfico 3 – Evolução da Audiência Total do Círio de Nazaré - 1902 a 1969.

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Fonte: Cálculos dos autores com base nos dados do Gráfico 2.

Gráfico 4 – Evolução da Audiência Total do Círio de Nazaré – 1970 a 1994.

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Fonte: Cálculos dos autores com base nos dados do Gráfico 2.

Gráfico 5 – Evolução da Audiência Total do Círio de Nazaré – 1995 a 2005.

3 A PRODUÇÃO E A REPRODUÇÃO DO CÍRIO A produção do Círio de Nazaré, como processo que combina elementos tangíveis e intangíveis na criação e vivência de oportunidade especial de “... adoração a Deus, com o incentivo à devoção a Nossa Senhora de Nazaré, padroeira do Povo Paraense” (DIRETORIA DA FESTA, Regimento, 2006), se faz em dois momentos: o da arregimentação dos meios de produção e o da sua realização. O primeiro implica em garantir os pressupostos para que a Palavra seja bem pronunciada e bem ouvida, melhorando assim sua captação; os requisitos para que a Visão corresponda ao idealizado, ou melhor, para além do imaginado, esplendoroso e magnânimo; para que a ordem e harmonia necessárias à contrição, à reflexão, à meditação, à oração, ao encanto, sejam alcançadas. Disponibilizados (pregadores, meios de audição, estética de apresentação dos símbolos, agentes coordenadores, meios e espaço de deslocamentos), tais elementos se combinam na realização do Círio. O processo ocorre com a presença dos que demandam o Círio para pedir ou para agradecer: os romeiros preenchem os carros com os seus motivos, puxam a berlinda, pedem graças em reverência luminosa ou agradecem em estardalhaço impressionante. Eles são a energia viva que articula e move os símbolos. Eles criam o momento mágico, enfim a mágica da oportunidade que é o Círio. E consomem o resultado. De modo que o momento da realização do Círio é o momento da sua absorção e os que o realizam são que o absorvem. Absorvido, o Círio se torna memória – passado - ao mesmo tempo que promessa – futuro, como tal, contrato. E, assim, terá que ser como resultado de ter sido. Ele terá que ser para que as esperanças hoje formadas como um devir de promessas, sejam amanhã relatadas em cera, em barro, em madeira, em Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.

suor, em sangue, em lágrimas e risos, como realidades alcançadas. Como tal, o Círio de Nazaré é uma cadeia infinita de eventos, sempre uma repetição do mesmo processo para o cumprimento de uma finalidade dada e específica; sempre, porém, algo diferente, posto que realização particular e única desse processo, combinação histórica de elementos em mutação. Trata-se, isto posto, de um sistema dinâmico em reprodução, com a particularidade de ter a produção e o consumo articulados num mesmo momento e as esferas de produção e de consumo articuladas pelo mesmo agente. Como um sistema, o Círio tem propriedades de auto-poiesis (auto-organização), ajustando-se para a garantia da sua permanência e refazendo-se orientado por critérios de eficiência reprodutiva. Ao mesmo tempo, é subsistema de um todo social mais complexo, com o qual interage. O Círio, como um sistema capaz de se autoorganizar, vem ajustando ao longo do tempo uma estrutura própria de governança, a tornar mais eficientes a disponibilização dos meios de realização, a preservação da memória, a formação de mecanismos de feed back , a sistematização do aprendizado e a absorção das capacidades alcançadas em outros sub-sistemas sociais e sua utilização nos ajustamentos de trajetória e correção de rumo. Esse movimento carrega consigo uma tensão que cresce na medida em que se distanciam as razões e propósitos dos que planejam, das razões e propósitos dos que produzem o Círio. Disso tratase na próxima seção. Como um subsistema do todo social, o Círio de Nazaré capta energia social em outros sub-sistemas que fazem a formação econômico-social onde se insere. Esses aspectos serão discutidos no tema financiamento do Círio de Nazaré. 107

3.1 INOVAÇÕES E EXPANSÃO: A DIRETORIA DA FESTA, O CENTRO ESTRATÉGICO DO CÍRIO DE NAZARÉ, SUA GOVERNANÇA O centro estratégico da produção do Círio de Nazaré é a Diretoria da Festividade de Nossa Senhora de Nazaré (DF). Instituída em 1910, representa uma inovação de grande relevância, pois é uma dimensão institucional própria do Círio, um momento da sua configuração como um sistema em emergência. Nos seus primórdios, a gestão estratégica esteve a cargo do poder político, na medida em que o governador providenciava para que o Círio fosse realizado. Em seguida, foram irmandades e confrarias religiosas que do âmago da Igreja Católica eram encarregadas de organizar o evento (AMARAL, 1998). A criação da DF pôs fim à pendulação entre o mundo laico e o religioso na gestão da festa, criando estatutariamente um modelo híbrido, que fazia convergir todas as forças, religiosas e laicas, interessadas na reprodução do Círio. Trata-se de uma estrutura de governança de grande alcance, que tem garantido eficiência cooperativa entre as necessidades doutrinárias da igreja e sua capacidade de gerir bens simbólicos e a capacidade de outros setores sociais de arregimentação de forças materiais – energia social e esforço privado - para a produção objetiva e para a logística de apresentação dos símbolos. Desde sua versão inicial, a DF vem articulando representações de diversas Paróquias – dividindo a responsabilidade e expandindo os fundamentos para o conjunto da Igreja de Belém; representações de diversos setores do mundo laico – dividindo responsabilidades, expandido fundamentos e aprofundando a divisão do trabalho com forças sociais e econômicas relevantes da cidade de Belém; e representações de diversos níveis hierárquicos da Igreja Católica – preservando, como força hegemônica, sua orientação doutrinária e simbólica. O resultado foi a formação de um aparato de grande coerência Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.

finalística, com consistência programática e capacidade operacional, co-responsável pelo longo período de expansão do primeiro ciclo de crescimento do evento analisado. É possível, até, que mesmo a já mencionada densidade de eventos que reforçam os símbolos do Círio em toda a primeira metade do século XX, onde se inclui esforços de grande envergadura, como a construção da Basílica de Nazaré, esteja associada à existência e consolidação da DF. No entanto, no final dos anos sessenta se expôs uma lacuna na formatação da DF: a ausência de um mecanismo de coordenação na realização da Romaria. A DF, eficiente no planejamento e na preparação, não dispunha de um braço executivo na realização da Romaria - a grande capacidade de planejamento e produção do Círio até o início de sua realização, não tinha correspondência com a sua execução propriamente dita. Enquanto a pressão derivada da relação entre as dimensões da audiência e o espaço objetivo de realização do cortejo não ameaçou o seu núcleo - o Carro da Santa e seu cortejo imediato - tal lacuna não se fez notar. Todavia, na medida em que, como resultado de um longo período de expansão, a multidão tendeu a se tornar incontrolável no que se refere à sua relação com os símbolos do Círio, em particular com a Corda, a necessidade de correção se fez premente8. É assim que em 1974 efetivou-se uma segunda grande inovação organizacional do Círio - a criação da Guarda da Santa, “... responsável por colocar em prática o que fora planejado pelos diretores [da DF]” (PANTOJA, 2006; p. 69). Após essa inovação, o sistema parece ter readquirido capacidade de expansão, potenciada pela notável ampliação do tamanho da corda: de 50 metros, em 1983, a corda passa a 400 metros em 1990. Correlata a isso se verifica uma inflexão positiva nas taxas de crescimento da audiência (Gráfico 4). 108

3.1.1 A diretoria da festa em novo formato A Diretoria da Festa é a estrutura de governança do Sistema-Círio de Nazaré, a qual tem garantido eficiência cooperativa entre as necessidades doutrinárias da igreja e sua capacidade de gerir bens simbólicos e a capacidade de outros setores sociais de arregimentação de forças materiais – energia social e esforço privado - para a produção objetiva e para a logística de apresentação dos símbolos que fundamentam o evento. Em 2001, foi criado um regimento que aperfeiçoa a organização, dando-lhes, sobretudo, maior flexibilidade operacional. A DF compõe-se de um Conselho Consultivo e de uma Diretoria Colegiada. Pelas características estatutárias das suas funções e representações o Conselho Consultivo9 é o ápice da estrutura e faz interagir, sob hegemonia dos primeiros, os princípios que resguardam a coerência doutrinária do evento – sua autenticidade, pois, na perspectiva da Igreja Católica -, com os desafios operacionais do presente cotejados por uma memória de curto e médio prazo. Os primeiros são mediados pelo titular da Arquidiocese de Belém, presidente do Conselho e autoridade máxima do arranjo, e pelos titulares da Congregação Barnabita e da Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré; os segundos, pelas presenças do coordenador do mandato anterior e dos diretores presidentes e coordenadores atuais. A Diretoria Colegiada cumpre o desafio de garantir a reprodução do Sistema, fazendo valer as decisões estratégicas do Conselho Consultivo – do qual, aliás, faz parte, fornecendo feed back. Trata-se de uma complexa operação, na qual o Diretor-Presidente processa as concatenações internas entre as necessidades operacionais da produção do Círio com a hierarquia e as redes da Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.

Igreja Católica e o Diretor-Coordenador e seu aparato de gestão, que compreende a Diretoria Administrativo-Financeira, garantem o bom funcionamento das concatenações entre as diversas diretorias e entre essas e a sociedade envolvente. As demais diretorias estão divididas em dois grupos: diretorias-fim (Diretoria de Evangelização e a Diretoria de Procissões) e diretorias-meio. A Diretoria de Evangelização organiza o conteúdo substantivo do evento, o seu principal componente de valor de uso, na perspectiva dos organizadores – os temas, as mensagens, a palavra, a reflexão, a evangelização. Organiza, enfim, o conteúdo que autentica o evento e procura garantir a consistência doutrinária dos que o produzem e dos que o vivenciam. Seus principais produtos são as oportunidades de reflexão, o livro das peregrinações onde estão contidas os métodos e conteúdos de evangelização e os roteiros (agenda) da peregrinação da Santa (DIRETORIA DA FESTA, 2006). Com essa última atribuição, a Diretoria tem papel decisivo na produção do espaçotempo, como se discutiu acima, permitindo o Sistema penetrar um espaço interior e privado da vida social. A Diretoria de Procissões gere a produção das romarias – a preparação dos símbolos e seus diversos deslocamentos em Romaria – coordenando, portanto, a expansão do sistema pela colonização de um espaço exterior e público da vida social da cidade. Por seu turno, desenvolvem atividadesmeio, fornecendo inputs para o conjunto do evento, em particular para as atividades-fins, a Diretoria de Marketing, a Diretoria de Eventos, a Diretoria de Decoração, a Diretoria de Sonorização e a Diretoria do Arraial (Quadro 2). 109

Quadro 2 – Diretorias da DF e suas respectivas funções. Fonte: Diretoria da Festa. Planos de Trabalho 2004 e 2005 (PANTOJA, 2006).

No novo estatuto cada diretoria, além do Diretor Responsável, poderá ter um número variável de diretores, dependendo das necessidades que se lhes apresentem. Igualmente, poderão se constituir comissões especiais para cobrir necessidades singulares na operação das diretorias ou das comissões arrecadadoras. A DF é composta pelos diretores responsáveis e diretores membros, além de auxiliares permanentes e eventuais. Ao todo, a organização conta com 124 pessoas, ¼ delas na condição de diretores. Os demais são auxiliares, com 2/3 do total de voluntários e pouco mais de 1/10 força de trabalho paga. Desses, apenas 4 (3% do total) têm caráter permanente.

Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.

Todos os diretores são voluntários10; têm nível superior e vivência profissional avançada nas suas áreas de atuação na produção do Círio. No conjunto dos que fazem parte da DF, a proporção dos que possuem formação superior completa e incompleta é de 36% e ensino médio completo e incompleto é de 65%. Trata-se de uma densidade elevada de formação (capital humano) em um grupo de trabalho na Região Metropolitana de Belém, considerando que na população em geral, no Censo (IBGE, 2000) a presença de formação universitária é de 3,4% (um décimo da percentagem verificada na DF) e do segundo grau completo é 17,3% (próximo de ¼ da DF).

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3.1.2 A orientação da DF à inovação e sua visão de resultados A DF não vê dificuldades na operação de suas tarefas. Ou seja, na sua perspectiva, a operação do Círio não oferece problemas para a contratação de pessoas qualificadas (numa escala de 0 a 1, o índice resultante da avaliação de todos os diretores para este item foi de 0,15 e o custo de mão-de-obra é adequado (índice de 0,06). Aponta, entretanto, para alguma falta de capital de giro (índice 0,35) e para eventual falta de investimentos (índice de 0,29). Ela entende que há vantagens inquestionáveis nos fundamentos já dados em Belém, tanto os culturais (índice de 0,70), como os arquitetônicos e infra-estruturais (0,72). Sugere, entretanto, que a capacidade de criação de atrativos – a atualização permanente do evento – é fator competitivo de grande relevância (0,66), ao lado da sua capacidade de divulgação (0,63). Como desdobramento do primeiro desses fundamentos de dinâmica e da capacidade de atração, a qualidade dos equipamentos, dos artistas e pregadores são fortemente considerados (avaliados, ambos, com índice 0,56). Competitividade do evento tem aqui o preciso sentido de sua afirmação mediante: a) outras possibilidades de atração da audiência, no que se refere ao público local; b) outras possibilidades de atração de audiência extralocal. Comente-se, em relação a este último ponto, que o Círio sofre a concorrência frontal da festa de Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira do Brasil, que se festeja no dia 12 de outubro na cidade de Aparecida do Norte, no interior de São Paulo. Para criar condições permanentes de afirmação do evento é preciso ter capacidade de produzir novos atrativos – essa parece ser a compreensão dos membros da DF. Para tanto, se requer informações e conhecimento. Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.

Indagados sobre isso os diretores indicaram que as principais fontes desses requisitos são internas (índice de 0,74), baseadas na formação, habilidades, contatos e posições profissionais dos seus membros. Das fontes externas, destacam-se a internet (0,59) e os órgãos de comunicação (0,58), seguido pelo público (0,55) e fornecedores de insumos (0,42). Os institutos culturais comparecem secundariamente (índice de 0,26) e as universidades marginalmente nesse papel (0,13). No que se refere ao treinamento e a elevação das capacidades internas, na perspectiva da DF se destaca a promoção de cursos livres oferecidos pela própria DF (índice de 0,68), secundada, muito de longe, pela promoção de cursos livres e oficinas oferecidas por outras organizações (0,10). Os efeitos observados (provavelmente intencionados) desses treinamentos são mais de elevação das habilidades para o desenvolvimento de novos atrativos (0,36) e para a implementação de melhorias incrementais e rotineiras nos atrativos já existentes (0,33) do que para melhorar os processos de gestão e realização (0,0). A DF mostra-se, assim, fortemente orientada à inovação. Os resultados de tal disposição foram 42 inovações relevantes nos últimos 10 anos, 83% das quais entre 2001 e 2006 (Tabela 1). A Diretoria mais inovadora foi a de Procissões (11 itens), combinando inovações de processo (como as relativas à estrutura da Corda e ao andamento da procissão) e de produto (como a incorporação de novas procissões). Em segundo lugar a de eventos, apresentando 7 itens, quase a metade deles relacionados ao projeto Círio Musical. A Diretoria de Evangelização, a Presidência, Secretaria e Patrimônio e a do Arraial apresentaram 5 itens; a Diretoria de Decoração 4, a de Sonorização 3 e a de Marketing 2 (Tabela 1). 111

Tabela 1 - Inovações relevantes implementadas pela Diretoria das Festividades do Círio de Nazaré de 1995 a 2006.

Fonte: pesquisa de campo.

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3.1.3 A orientação da DF à cooperação e inovações associadas A DF apresentou também elevada disposição à cooperação. Das 9 Diretorias, 8 descreveram ações de cooperação na última edição do Círio. Os agentes mais importantes nesse quesito foram, pela ordem: o público participante (índice 0,60), os órgãos públicos (a Prefeitura de Belém e o Governo do Estado do Pará (índice 0,56), fornecedores de insumos (0,42) e órgãos de comunicação (0,42). As universidades e instituições de pesquisa, bem como institutos culturais fazem parte do rol de parceiros com pesos baixos e equivalentes (0,30).

No contexto das cooperações, a DF destaca uma inovação importante, identificada como Projeto Patrocinador Oficial do Círio, o qual se propõe a dar contrapartida vantajosa, a partir de um pacote de produtos de Marketing, aproveitando toda a infra-estrutura já existente de mídia e o potencial de venda do Círio de Nazaré, para a empresa que se dispuser a comprar uma das 20 cotas postas à disposição ao custo de R$ 65.000,00.

3.2 A GUARDA DA SANTA E A CAPACIDADE DE EXPANSÃO COORDENADA Tal evolução, contudo, volta a ser contestada já na primeira metade dos anos noventa. Após o considerável crescimento dos quinze anos anteriores, a audiência da grande procissão estagna por quase toda a década de noventa. Ao par do fenômeno, encontra-se um período em que se manifesta de modo particularmente tenso a relação entre o valor simbólico da Corda e seu significado objetivo na operação do Círio. Aqui convém uma digressão. Como já esclarecido, a Corda adquiriu um valor simbólico extraordinário na estrutura do Círio enquanto um componente que permite uma relação física entre o crente e a divindade. De um lado, isso enseja uma especificidade no Círio de Nazaré, que o diferencia e engrandece simbolicamente comparativamente a outras manifestações semelhantes; de outro, cria uma correlação objetiva e direta entre ATCN e os que demandam a proximidade física com a Santa – os que participam dessa audiência na condição de “Promesseiros da Corda”. Há uma corda, objeto físico, que é a mediação dessa proximidade simbólica. Na medida em que cresce a demanda por essa proximidade (porque a audiência cresceu conduzida em parte pela expectativa Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.

de poder praticar tal possibilidade), se a corda não cresce no mesmo passo, existirá uma tensão, correspondente à diferença dos ritmos. Tal tensão se expressa ou como demanda insatisfeita por não se ter acesso à corda ou como desordem e perturbação – a eliminação de um pressuposto, de um ingrediente de construção do Círio - ou, ainda, como desagrado por um sacrifício para além do prejulgado. Crescer o tamanho físico da corda constitui forma de reduzir essa tensão. A via de elevação da extensão da corda como forma de adequar a demanda simbólica à disponibilidade objetiva, contudo, reduz a capacidade de controle sobre o andamento da Berlinda e, portanto, define o ritmo da evolução de toda a Romaria: tanto maior a corda, menor o controle sobre o andamento, maior o tempo de duração da Procissão. A duração, por seu turno, implica um custo objetivo pela vivência renovadora que o Círio propicia – quanto mais longa sua extensão temporal, mais se expõem as fronteiras de resistência física dos romeiros em geral pela sede, pela fome, pelo esforço, pelo cansaço. Ou simplesmente pela saturação, quando se trata de romeiros especiais, aqueles atraídos pelo espetáculo. 113

3.3 EXPANSÃO E AUTO-REGULAÇÃO: OS TRADE-OFF DA “CORDA” Se crescer a audiência, expande correlatamente a demanda por acesso à Corda. Sem mecanismo de coordenação, a regulação do acesso tende a ser feita por um “estado de natureza” que gera caos, desestabiliza o andamento da procissão e produz insegurança e incerteza, fazendo crescer o custo da vivência. A isso se assistiu em fins dos anos sessenta e início da década seguinte. A criação da Guarda da Santa, em meados dos anos setenta, constitui o estabelecimento de uma regulação e disciplinamento do acesso por métodos de contenção: mediante uma oferta fixa, a inovação se faz no sentido de conter, pela força ou pelo controle, institucionalmente, portanto, a demanda. Isso reduz a insegurança, fazendo retornar o crescimento da audiência e uma correlata pressão de demanda sobre a corda. Ao longo dos anos oitenta se procurou responder a isso pela expansão da dimensão física desse ícone. O que arrefeceu a tensão sobre a corda elevando, contudo, o grau de descontrole sobre o tempo de duração da Procissão. Com isso se estabeleceu um novo item de “custo” para a audiência total, pela vivência do Círio. Tal “custo” se fez crescente com o tamanho da corda e conteve a expansão da audiência, levando à estagnação que se observa claramente nos anos noventa. Instalou-se no Sistema-Círio, assim, em torno da Corda, um mecanismo de autoregulação, de contenção endógena de seu crescimento. O que se assiste, ao longo dos anos noventa, é uma crise mediante a efetividade de tal mecanismo. Para um sistema que se exige, como regra finalística de reprodução, a expansão, posto que em concorrência com outros sistemas na acumulação do capital (simbólico) específico do campo religioso, a auto-contenção implica em contradições que fundamentam crises. As crises se resolvem por dissolução ou por evolução dos seus termos. Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.

Com efeito, ao longo dos anos noventa, duas trajetórias estavam postas numa bifurcação evolutiva provocada pelos mecanismos de regulação criados em torno da Corda. De uma parte, se propõe eliminá-la da estrutura simbólica do Círio, ou porque se alega ser ela objeto não sagrado, ou porque se atribui à sua existência uma insegurança que compromete o conjunto do evento11. De outra parte, se fazem experimentos para a sua manutenção, de modo a lhes dar maior dirigibilidade e andamento: se fazem experimentos na estrutura e comando da “cabeça da corda”, nos diversos formatos que ela pode assumir – de circular a linear – e nas formas de composição com a Berlinda – tempos e momentos diversos de atrelamento e desatrelamento. A primeira abordagem propunha refazer o produto, suprimir um seu valor de uso simbólico na expectativa de controlar o preço (i.e. manter baixo o tempo do Círio e alta a ordem de sua execução): uma mudança radical. A segunda abordagem propõe a manutenção da integridade simbólica do Círio – a inteireza de seu produto naquilo que o diferencia12 -, buscando, contudo, por mudanças incrementais e adaptativas, também controlar o tempo e a ordem de execução do evento para voltar a liberá-lo em sua capacidade de crescer. Esta última posição parece ter prevalecido, ao par do fortalecimento e dinamização da busca de novos espaços e tempos de reprodução do Círio. De modo que, em fins dos anos noventa, o sistema volta a crescer a taxas expressivas – e, assim, permanece até o presente momento. Um marco organizacional dessa fase parece ser a reformulação da Diretoria da Festa, por um novo regimento promulgado em 2001. 114

4 A EXPANSÃO DO CÍRIO NO ÚLTIMO CICLO DE INOVAÇÕES Os impactos das inovações e das atividades de cooperação, na visão dos diretores, concentram-se na elevação da qualidade (índice 0,86) e no maior reconhecimento do evento (0,42), indicando três resultados fundamentais: a) a ampliação da audiência (por ampliação do número de participantes tradicionais (0,70) e por atração de participantes não usuais (0,58); b) redução dos custos (0,61); c) criação de fontes de recursos (0,50). Com efeito, as inovações implementadas elevaram a audiência do Círio de Nazaré, tanto a tradicional, como a baseada em novos participantes. Como demonstrado antes, no Gráfico 2, a taxa de incremento médio da ATCN na corrente década elevou-se para 9,7% quando fora, em média, 2,2% na década anterior; no Gráfico 5 verifica-se que se trata de fase de

crescimento a taxas crescentes – um momento, portanto, de aceleração na expansão da ATCN. Tal mudança se explica por uma retomada do crescimento da procissão matriz do Círio de Nazaré, após quase uma década de estagnação (de 1% a.a., passa para 4,9% a.a., (Gráfico 2) e por forte incremento de novas audiências (o público associado a outras procissões cresceu 19,7% a.a.). Verifica-se, ademais, um forte incremento no público que não tem origem no Pará. Modelamos essa expansão, detalhando os componentes do público de 2000 a 2005 e sua importância, apontando para quatro efeitos fundamentais: 1) sobre a concorrência de outras confissões; 2) sobre a concorrência de outros eventos; 3) sobre o custo de operação da festa; 4) sobre sua importância relativa para a economia local. (COSTA et al. 2006).

Tabela 2 – Estimativa dos participantes do Círio por origem e condição.

Fonte: Costa et al. (2006).

Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.

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4.1 EFEITO SOBRE A CONCORRÊNCIA INTERNA DE OUTRAS CONFISSÕES A Mesorregião Metropolitana de Belém tem participado com algo em torno de 58% da multidão do Círio. Isso tem significado que a cada 2 habitantes de Belém, 1; e a cada três católicos de Belém, 2 acompanham o Círio. Nessa fase, a taxa de crescimento da audiência do Círio tem sido 4 vezes maior que a taxa de crescimento da população católica de Belém, a despeito do fato de que, refletindo um

movimento amplo no País, a expansão das igrejas evangélicas se fez a uma taxa geométrica de 8,0% ao ano entre 1980 e 2000, elevando a participação dessas confissões a 19,2% do total da população belenense. Tais números expressam, pois, uma contra-tendência de reordenamento do campo religioso em Belém, um mecanismo fundamental de recuperação de espaços crescentemente contestados.

4.2 EFEITO SOBRE A CONCORRÊNCIA EXTERNA DE OUTROS EVENTOS Os visitantes de fora do Pará constituem minoria no total de visitantes de Belém e menos de 5% do fluxo de visitantes em Aparecida do Norte no mesmo período. Porém, sua participação cresceu substancialmente nos últimos anos, saindo de 2,1% para 5,1% em 2004 e 5,6% no ano seguinte, por força de uma taxa de incremento médio de 25% a.a..

Igualmente, tem crescido nos últimos anos a participação dos que se hospedam na rede hoteleira em comparação a todos que provêm de outros estados: de 24% nos três primeiros anos, passou para 49,8% em 2003, 53,3% em 2004 e 60,3% em 2005.

4.3 EFEITO SOBRE A COMPOSIÇÃO DA RECEITA A receita total tem se mantido relativamente constante em termos reais no período, alterando, contudo, a composição das fontes. Desde 2003, as doações do Governo do Pará e da Prefeitura de Belém caíram para

50% da receita – quando representaram quase a totalidade até então. Os demais recursos provêm agora de doações de empresas no contexto do Projeto Patrocinador Oficial do Círio.

4.4. REDUÇÃO DO CUSTO TOTAL E POR UNIDADE DE AUDIÊNCIA: EXPANSÃO DO SALDO O custo real total do Círio de Nazaré (retirada a inflação) apresenta tendência de queda entre 2000 e 2005, saindo de algo em torno de R$ 1,2 milhões para próximo de R$ 1,0 milhão. Todavia, são distintas as evoluções observadas para as Diretorias e grandes itens de custo. Quatro itens de Custo crescem mais rápido que a média e, por isso, elevam sua importância Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.

como item de custo. A Guarda da Santa (era 2%, passou a 4%), a Diretoria de Evangelização (de 21 para 29%), a Presidência e seu secretariado e setores de apoio, e a Barraca da Santa. A diretoria de Marketing mantém sua participação (em torno de 3%) e os demais reduzem a participação. As variações dos dois primeiros itens demonstram duas tendências já antes discutidas: o esforço 116

crescente para controlar o andamento do Círio – como forma de não elevar seu custo (na forma de tempo de duração para além do tolerável) para a audiência e o esforço de fazer crescer essa audiência pela ampliação das peregrinações. O reordenamento na estrutura de custos do Círio teve um efeito importante sobre as proporções em que suas compras se fazem em

Belém ou fora do Estado do Pará. (2000 – 75%, 2005 – 86%) (2000 – 25%, 2005, 14%). Dado que a ATCN tem crescido e seu custo total diminuído, o Custo por Unidade de Audiência do Círio reduziu fortemente. Conforme se demonstra no Gráfico 6, sai de um valor em torno de R$ 0,50 para algo próximo da metade disso entre 2000 e 2005.

Gráfico 6 – Evolução da Audiência Total, do Custo Total e do Custo por Unidade de Audiência do Círio de Nazaré (R$ constantes de 2005, corrigidos pelo IGP-DI/FGV). Fonte: Costa et al. (2006).

Mantida constante a receita em termos reais no período, mediante custos totais decrescentes, tem se expandido o saldo que a

Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.

Diretoria da Festa destina para as obras beneméritas da Paróquia de Nazaré.

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5 O CÍRIO DE NAZARÉ DE BELÉM: CULTURA E ECONOMIA Em torno da festa religiosa do Círio de Nazaré circulam um conjunto de bens culturais diretamente associados ao evento e outros por ele mobilizados. Entre os primeiros encontramse os que fazem parte do evento central, tais como o Arraial do Círio, feira de bens e serviços de lazer que se desenvolve em torno da Basílica de Nazaré, o Almoço do Círio, o Auto do Círio; o Arrastão do Boi Pavulagem; a Festa das Filhas da Chiquita; o Festival da Canção Mariana; o Concurso de Redação sobre o Círio de Nazaré; a Feira de Brinquedo de Miriti; a Exposição de Jóias sobre o Manto da Santa etc. A este conjunto de bens culturais mais ou menos invariantes a cada Círio, se somam programas especiais nos aparatos culturais da cidade, como o Teatro da Paz, a Estação Gasômetro, a Capela do Pólo Joalheiro entre outros, eventos que ocorrem em paralelo com a realização do Círio de Nazaré para aproveitar

a efervescência cultural e o fluxo de turistas na cidade. Esses eventos gozam, por assim dizer, das externalidades econômicas que o Círio proporciona. Tradicionalmente, aqui aparecem o concurso Arte Pará, o Festival Internacional de Dança da Amazônia e, mais recentemente, o ExpoPará, além de outros empreendimentos artísticos de dança, de música e de teatro. O conjunto determina um momento especial na economia de Belém, resultado da combinação de três fenômenos: 1) a flutuação populacional de Belém derivada das festividades e seu impacto sobre a demanda efetiva da cidade; 2) o aumento do consumo do habitante de Belém, elevação da sua propensão a consumir média, resultante do “espírito nazareno” – um efeito do caráter de “Natal dos Paraenses” que o Círio apresenta; 3) gastos diretos resultantes da produção dos eventos.

5.1. O IMPACTO DA FLUTUAÇÃO POPULACIONAL DE BELÉM DERIVADA DO CÍRIO Sobre a demografia do Círio de Nazaré apresentada na Tabela 2, fundamenta-se a economia do Círio, cujas principais variáveis tem

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evoluído a partir dos dispêndios (ou receita bruta dos setores) apresentados na Tabela 3 (COSTA et al., 2006).

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Tabela 3 – Estimativa dos dispêndios dos participantes do Círio e correspondentes receitas dos diversos setores da economia de Belém (R$ a preços constantes de 2005).

Fonte: Costa et al. (2006).

Deles se deve destacar o seguinte: 1. Em valores reais de 2005 o impacto direto de dispêndios e receitas adicionais na economia de Belém chega próximo aos R$ 400 milhões, crescendo, do ano de 2000 a 2005, a uma taxa de 4,7% a.a. 2. O grupo de visitantes com maior expressão nesses valores é que provém de outras regiões do Pará. A participação vem decrescendo nos últimos quatro anos, saindo de 98% em 2001 para 92% em 2005. 3. Os que vêm de fora do Pará têm em contrapartida participação crescente graças aos que vêm utilizando a rede hoteleira da cidade: eles deixam de representar 1% e nos três últimos anos avança para 4%, 5% e 6%, respectivamente. Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.

4. O principal item de dispêndio é o relativo a alimentação movimentando dois sub-setores de serviços: o de Bares e Restaurantes (inclusive seu componente de entretenimento), com aproximadamente 21% e do de Supermercados e Feiras com próximo de 14%. 5. Compra de souvenirs e outras, movimentando o comércio em geral, participa com 20%. 6. Os gastos com transporte compreendem, nas diversas modalidades, 34%. 7. Todos os itens apresentam estabilidade. Apenas o item hospedagem teve multiplicada por 7 sua participação: saindo de 0,3% para 2,3%. 119

Esses dispêndios diretos, enquanto variação exógena da demanda efetiva de Belém, se submetem aos multiplicadores de produto de sua economia, na formação da base de remuneração dos fatores envolvidos e, portanto, de formação do valor adicionado. Utilizando multiplicadores das Matrizes de Contabilidade Social para o ano de 1999 (SANTANA et al., 2005) e os parâmetros de carga tributária de 2003 (MACHADO, 2002, p. 56), estimou-se para o ano de 2005 a massa de salários, a massa de lucros, número de ocupações e a receita fiscal derivadas dos visitantes do Círio. Os resultados (primeira linha da Tabela 4) são consistentes, uma vez que compatíveis com a variação sazonal absoluta do mês de outubro da

arrecadação real de ICMS do Governo Estadual em relação a média no ano de 2005, explicando 65% da arrecadação extraordinária (acima da média anual) do mês de outubro. Os demais 35% da variação positiva da renda de Belém no mês de outubro resultam, por sua vez, de variações nos gastos dos belenenses resultantes do espírito nazareno: o efeito “Natal dos Paraenses” na propensão a consumir dos habitantes de Belém, que o período produz (segunda linha da Tabela 4). De modo que, os efeitos diretos e indiretos dos gastos dos visitantes, mais os efeitos diretos e indiretos do Natal dos Paraenses, somam tudo o que o “Ciclo do Círio” representa para a economia de Belém e, por via de conseqüência, do Pará.

Tabela 4 – Estimativa para 2005 das variáveis macroeconômicas considerando os efeitos diretos e indiretos dos gastos dos visitantes do Círio de Nazaré (com base nos multiplicadores da Tabela 48), em R$ de 2005.

Fonte: Costa et al. (2006).

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O Círio de Nazaré, como evento religioso, é o centro de um acontecimento mais amplo, denominado Círio de Nazaré de Belém do Pará. A produção do Círio é um processo coletivo, no qual um centro estratégico de coordenação e governança (DF) cuida da boa preparação e apresentação dos símbolos mediadores de uma vivência de grande intensidade de significados – este o “produto” do Círio, objetivado e realizado, produzido e consumido, portanto, por seus participantes, em diversos papéis.

apresentando ciclos marcados por períodos mais céleres, outros mais lentos e fases de estagnação. O sistema superou as fases de crise com inovações de grande significado para a sua operação ou para a sua gestão; teve seus momentos de expansão mais notáveis mostrou-se particularmente reforçado por novidades e, ao contrário, reduzia a dinâmica quando, por falta de mudanças, os mecanismos de auto-contenção se mostraram mais atuantes.

O poder público coopera de diversos modos – fornecendo recursos financeiros (hoje em torno de ½ do orçamento de 1,2 milhões de reais) e agentes para o controle das manifestações (milhares de bombeiros, policiais, militares das forças armadas, etc.). As empresas, que se pretendem vistas como financiadoras oficiais do evento, investem na associação de suas imagens o que corresponde a aproximadamente a outra metade do orçamento. Todavia, o público é a força viva que dá sentido aos símbolos – ele, pois, produz o Círio no sentido de que move e articula seus elementos pré-existentes, tangíveis e intangíveis, dando-lhes vida, construindo a vivência em toda sua extensão e plenitude. Os custos dessa participação são difusos, cada indivíduo arcando às suas expensas, com o esforço de deslocamento e acompanhamento (monetizado ou não).

A fase mais recente inicia com uma crise de crescimento de audiência nos anos noventa e um período subseqüente particularmente ativo em inovações. Baseada em estratégia que combina extensão do tempo e do espaço do Círio, com a intensidade do uso do tempo e do espaço estabelecido – i.e. ao mesmo tempo que amplia o número de viagens (procissões, peregrinações, romarias, etc.) que santificam novos espaços, públicos (Ananindeua, as águas do Guajará, etc.) ou privados (novenários, visitas a casas, visitas a empresas, etc.), busca aumentar o número de presenças nessas viagens, a começar pela recuperação da audiência da procissão matriz, o Círio de Nazaré (pelas inovações para a gestão do tempo e do andamento, o que reduz o custo de produção difuso, arcado pelo público), seguindo pelos novos atrativos em cânticos e falas.

O Círio de Nazaré, tratado como um sistema, revelou-se submetido à regulação por princípios reprodutivos que combinam forças de expansão e de retração. Sob tais condições demonstrou, todavia, grande capacidade adaptativa, reinstaurando, continuamente, nesses mais de duzentos anos de reprodução, a sua capacidade de crescimento. Observado pelo número de sua audiência, o sistema expandiu-se tendencialmente, não obstante

Os resultados demonstram-se tanto na elevação da audiência total da procissão matriz e do conjunto de romarias a taxas significativas, como na redução do custo (esforço social) por unidade de audiência, seja quando medido por recursos monetários, seja quando avaliado por tempo diretamente despendido na produção do evento. O sistema, neste momento, está se expandido, portanto, elevando a sua “eficiência reprodutiva”.

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O Círio de Nazaré fornece a audiência – e outras externalidades, como a predisposição de organismos financiadores – para outras manifestações culturais. Três delas se destacam e foram aqui tratadas: o Arrastão do Boi Pavulagem, o Auto do Círio e a Festa das Filhas da Chiquita. Essas manifestações se caracterizam por baixo custo (respectivamente R$ 25.000,00, R$180.000,00 e R$ 24.700,00), pela capacidade de crescimento e atração e pela intensa capacidade de criar e inovar. Combinando estes com inúmeras outras manifestações e atrativos culturais, a cidade de Belém recebe um número impressionante de visitantes, que tem crescido extraordinariamente nesta década: de 678.366 em 2000, passou para 850.956 em 2005. A maior parcela desse público provém do próprio estado do Pará (672.828 no primeiro e 803.118 no último ano). A parcela que mais cresce, porém, é a de visitantes de fora de Belém, a qual saiu de 14.438 para 47.837 (multiplicou por 3,5), puxada por turistas, digamos, autênticos, por se hospedarem em hotéis – estes saíram de 3.483 para 28.095 (multiplicou por 8). Estes números estão na base de um momento importante da economia da cidade, fundamentando o que aqui chamamos de economia do Círio de Nazaré de Belém. Os gastos diretos dos visitantes e da produção dos eventos e os dispêndios adicionais dos belenenses e seus efeitos indiretos produzem uma variação de R$ 2,1 bilhões em Renda/Receita Bruta Total, gerando R$ 190,2 milhões de Valor Adicionado (R$ 166,0 milhões de salários, para 295,1 mil ocupações, e R$ 24,2 milhões em lucros) e R$ 6,5 milhões em tributos (R$ 5,2 ICMS e R$ 1,3 ISS). Trata-se de uma grande economia, para a qual não há políticas públicas deliberadas – apenas a cooperação dos governos, mediante

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pedido, por meio de donativos orçamentários e disponibilização de agentes, cujo valor parece não ultrapassar 1/10 da arrecadação fiscal proporcionada pelo evento. Por outro lado, também não há, por parte dos agentes privados ligados ao turismo e outros arranjos afins, uma mobilização coordenada e objetivada ao evento. De modo que os entrevistados indicaram forte carência de políticas públicas na melhoria da infra-estrutura física, na melhoria da infraestrutura de conhecimento, na divulgação e promoção do evento, na capacitação de profissionais, na promoção crescente de eventos culturais paralelos, na elaboração de normas para a preservação das características típicas dos diversos eventos, na promoção de eventos públicos e na criação de entidades locais para gerir música e turismo. Observada como um todo, a Economia do Círio de Nazaré de Belém exige tratamento estratégico que a faça convergir com à tendência indicada por Silveira (2004), mediante a qual o turismo religioso estaria gerando um movimento complexo de hibridização do sagrado (fé, devoção, sofrimento) e do profano (consumo, lazer, festa) em um mesmo fluxo de intenções: onde o hedonismo de certos sub-conjuntos de visitantes incluem razões de fé, ao passo que a devoção que caracteriza outros, convivem com uma face consumidora de seus participantes fora do tempo/espaço sagrado. Orientada por tal mote a cidade de Belém – e o estado do qual é capital – poderia realizar cada vez mais efetivamente a oportunidade do Círio de Nazaré como base de acesso à parcela crescente de turistas, hoje estimada em 167 milhões de cristãos que peregrinam anualmente no mundo, dos quais, 80% (133,6 milhões) para participar de cultos e eventos religiosos relacionados com Nossa Senhora (SALGADO, 2006).

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NOTAS 1 Etimologicamente, a expressão “círio”, do latim “cereus” significa uma grande vela de cera. Em suas origens portuguesas, os círios representavam um ajuntamento de pessoas que se organizavam para, em romaria, ir ao santuário de Nossa Senhora de Nazaré, em Portugal.

7 Nessas condições, a fórmula da soma dos termos da PA é n.i=n.(a1+an)/2, para i sendo a média do crescimento anual do período conhecida, n o número de anos, a1 o primeiro termo e an o último termo. Assim, a1 = na - 2i. E a razão r = ( an - a1)/n.

2 A imagem da Santa é substituída, desde final dos anos sessenta do século passado, por uma outra imagem designada Imagem Peregrina. Desde então, a imagem original não sai da Basílica. Criou-se, todavia, uma cerimônia em que ela desce do altar principal, o altar Glória, para ficar por toda a quinzena de celebrações do Círio, no Presbitério da Basílica, mais perto do povo (AMARAL, 2003).

8 Com grande sensibilidade Pantoja detecta o problema: “... praticamente todo planejamento levado a cabo pela DF durante o ano todo se desfaz por ocasião das procissões. A regra desse cenário quase sempre é o improviso, sendo o principal personagem, o leigo comum, mais precisamente o promesseiro da corda.” (PANTOJA, 2006; p. 68).

3 Atualmente a procissão conta com 12 carros: Carro do Caboclo Plácido, Barca dos Escoteiros; Barca Nova; Carro do Anjo Custódia, Barca com Vela, Carro do Anjo Protetor da Cidade, Barca Portuguesa, Carro dos Anjos I, Barca com Remos, Carro dos Anjos II, Carro dos Milagres Dom Ruas Roupinho/Brigue São João Batista e Carro da Santíssima Trindade. 4 O reconhecimento do caráter purificador da festa pela alta cúpula da Igreja Católica é mais que um reforço: é consagração dos símbolos e seus poderes. 5 Segundo Vanda Pantoja (2006), para leigos e sacerdotes envolvidos com a organização do Círio a Corda é um dos mais representativos símbolos da devoção. A Corda é entendida, ademais, como o elemento através do qual o povo se manifesta de fato na celebração, o instrumento pelo qual o povo controla e se apropria da procissão (PANTOJA, 2006, p.70). 6 Há uma diferença importante entre eventos como o Círio, que resulta da sagração do lugar por um tempo determinado (a criação e recriação de um espaço-tempo), e lugares permanentemente sagrados, como Fátima, em Portugal, ou Juazeiro do Norte e Aparecida do Norte, no Brasil. Fora da “quadra nazarena” se perde a áurea sagrada do espaço, em Belém do Círio. Em Aparecida da padroeira do Brasil, por seu turno, os espaços são sagrados, independentes da temporalidade: o porto, o Santuário Maior, o Santuário Menor e outras atrações não precisam de tempos sagrados para receber os visitantes. Assim como não tem tempo o poder dos lugares onde o Padre Cícero Romão Batista fez seus milagres. Nesses casos, o espaço possui independente do tempo, a capacidade de ligar os fiéis às divindades.

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9 De acordo com o Art. 7º (DIRETORIA DA FESTA, 2006), o Conselho Consultivo terá os seguintes membros: Arcebispo Metropolitano de Belém; Provincial da Congregação Barnabita; Pároco da Paróquia de N. S. de Nazaré; Diretor-Presidente da Diretoria Colegiada; Diretor-Coordenador da Diretoria Colegiada do mandato em curso; Diretor-Coordenador da Diretoria Colegiada do mandato anterior; Diretor-Secretário da Diretoria Colegiada do mandato atual. 10 “O exercício de qualquer função da Diretoria será encarado essencialmente como um serviço cristão, a ser desempenhado com humildade, dedicação e espírito de doação voluntária, isento de qualquer privilégio mundano”. Diretoria da Festividade de Nossa Senhora de Nazaré, Regimento Interno: Cap. I, Art. 1º. p.3. 11 Vânia Pantoja registra essa controvérsia qualificando-a de “ambiguidade do símbolo”, pois far-se-ia entre seu caráter popular e as prescrições doutrinárias de uma igreja romana e de elite (PANTOJA, 2006; p.100). Não discutimos essa possibilidade. Apenas indicamos o sentido disso na reprodução do sistema estudado. 12 O que, também, se faz em meio a uma controvérsia de grande significado, agora entre o que se avalia deste símbolo desde uma perspectiva exógena e o seu sentido para os que produzem o Círio. Segundo Antonio Miguel Kater Filho, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Marketing Católico, a imagem do Círio deve ser melhor “lapidada”, pois “uma festa com um bando de fanáticos segurando uma corda” não é bem vista no cenário nacional e internacional, fato que, segundo ele, estaria dificultando a nacionalização do evento e o rompimento com seus limites regionais (PANTOJA, 2006; p.100).

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