O CONCEITO DE GÊNERO EM SCOTT, BUTLER E PRECIADO, APROXIMAÇÕES, DISTANCIAMENTOS E A CONTRIBUIÇÃO PARA O OFÍCIO DO HISTORIADOR

May 27, 2017 | Autor: Natanael Silva | Categoria: História e Relações de Gênero, Discurso
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Edição Nº 19 OUT/2016

O CONCEITO DE GÊNERO EM SCOTT, BUTLER E PRECIADO, APROXIMAÇÕES, DISTANCIAMENTOS E A CONTRIBUIÇÃO PARA O OFÍCIO DO HISTORIADOR

Natanael de Freitas Silva Mestrando em História (PPHR/UFRRJ/CAPES) E-mail: [email protected]

RESUMO: Atualmente os estudos de gênero desfrutam de considerável reconhecimento acadêmico, social e político. Inegavelmente, a categoria gênero surgiu no bojo do debate sobre a História das Mulheres ao longo das décadas de 1960/70 e passou a ser usada como uma possibilidade de teorização sobre a diferença sexual oferecendo uma alternativa às explicações que pautavam no biológico as diferenças sociais e sexuais existentes. Em vista disso, este texto objetiva apresentar algumas aproximações e distanciamentos nas concepções de gênero propostas por Joan Scott, Judith Butler e Beatriz/Paul Preciado, focalizando, principalmente, a desconstrução do binarismo gênero/sexo, natureza/cultura e evidenciar a contribuição dessa categoria para o ofício do historiador.

Palavras-Chave: Gênero, historiografia, discurso. ABSTRACT: Nowadays gender‟s studies enjoy considerable academic recognition, social and political. Undeniably, the gender category emerged in the midst of the debate on the History of Women over the decades of 1960/70 and went on to be used as a possibility of theorizing about sexual difference by offering an alternative to explanations which marked social differences in the biological and existing sex. In view of this, this paper aims to present some similarities and differences in gender proposed designs by Joan Scott, Judith Butler and Beatriz/Paul Preciado, mainly focusing on the deconstruction of the binary gender/sex, nature/culture and highlight the contribution of this category to the historian occupation. Keywords: Genre, historiography, speech. Atualmente os estudos de gênero desfrutam de considerável reconhecimento acadêmico, social e político. Uma vasta, expressiva e impactante produção bibliográfica na área das ciências humanas, além de revistas acadêmicas, grupos de pesquisas e

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eventos diversos, tem articulado o conceito e/ou categoria gênero a uma diversa e significativa série de temas e discussões teórico-metodológicas como: Gênero e Identidades; Gênero e Escravidão; Gênero e Racismo; Gênero e Feminismos; Gênero e Família; Gênero e Saúde; Gênero e Sexualidade; Gênero e Masculinidades; Gênero, Parentesco e Conjugalidades; Gênero e Poder; Gênero e Sociedade etc. Um dos pontos fundamentais desta proposta analítica é a percepção de que o gênero é um dos modos de compreender e analisar as históricas concepções de masculinidades e feminilidades e uma forma de evidenciar as hierarquias entre os sexos, apontando a historicidade do “ser homem” e “ser mulher” numa determinada sociedade, segundo uma relação espaço-tempo. Deste modo, amplia-se o debate em torno das relações de gênero evidenciando o seu caráter não natural, denunciando as desigualdades

e

as

históricas

opressões

e

hierarquias

entre

os

sexos.

Por outro lado, não posso deixar de registrar que, como campo de investigação das relações sociais do sexo, os estudos de gênero têm sofrido certas resistências, protagonizado por setores conservadores da sociedade que o tem denominado, equivocadamente, de “ideologia de gênero”, produzindo uma espécie de “pânico moral” (MISKOLCI, 2007) contra toda e qualquer reflexão que coloque em xeque os privilégios da heteronormatividade1. Inegavelmente, a categoria gênero surgiu no bojo do debate sobre a História das Mulheres ao longo das décadas de 1960/70 (MATOS, 1998; RAGO, 1998; PERROT, 2006) e passou a ser usada como uma possibilidade de teorização sobre a diferença sexual oferecendo uma alternativa às explicações que pautavam no biológico as diferenças sociais e sexuais existentes. Segundo a historiadora francesa Michele Perrot, considerada a grande mestra da História das Mulheres,2 afirma que esta passou por uma significativa transformação (PERROT, 1995, 2006;

SCHVARZMAN, 1995),

complexificando o olhar para além das mulheres e incorporando as relações entre os gêneros e, consequentemente, as masculinidades. Como bem aponta a historiadora Margareth Rago, a entrada maciça das mulheres no campo universitário entre os anos 60/70 do século XX, não só como

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estudantes, mas como produtoras de conhecimento, de certa forma, provocou uma “feminização do espaço acadêmico”, como também desestabilizou uma produção científica masculina e heterossexista. Elas não só reivindicaram seu lugar na História, como demandaram novos temas e novas abordagens. O que era considerado como característico do(s) mundo(s) feminino(s) ganhou visibilidade no relato histórico. “Histórias da vida privada, da maternidade, do aborto, do amor, da prostituição, da infância e da família, das bruxas e loucas, das fazendeiras, empresárias, enfermeiras” (RAGO, 1998, p.90). Logo, novos mundos foram descortinados, novas práticas problematizadas e novas interpretações forjadas. Indo além da inclusão das mulheres no discurso histórico, tratava-se “de encontrar as categorias adequadas para conhecer os mundos femininos, para falar das práticas das mulheres no passado e no presente e para propor novas possíveis interpretações inimagináveis na ótica masculina” (Idem, 1998, p.92). Desde então, uma série de autoras de diversas matrizes teóricas e metodológicas e de distintos campos do conhecimento como História, Sociologia e Antropologia, vem discutindo, teorizando e propondo definições para o termo gênero. Posso destacar nomes como Joan Scott (1990), Heleieth Saffiot (1992), Gaylin Rubin (1993), Margaret Rago (1998), Linda Nicholson (2000), Donna Haraway (2004), Judith Butler (2013), Raewyn Connell (2014, 2015), Paul B. Preciado (2014), entre tantas outras e outros. Todavia, em meio a essa miríade e, às vezes, divergentes definições e proposições em relação ao gênero, qualquer um de nós estudantes, pesquisadores e militantes pode sentir-se perdido em qual caminho seguir, qual perspectiva trilhar. Digo isso por que, na minha percepção, a consistência teórica de uma pesquisa (e me refiro especificamente aos estudos de gênero) ocorre quando alguns autores conversam minimamente entre si compartilhando, em alguma medida, um mesmo referencial epistemológico. Parto da ideia de que a elaboração do nosso referencial teórico é política, pois se constituem nas lentes que nos permitem olhar e analisar uma determinada realidade, ademais, como aponta Donna Haraway (1995), o nosso saber sempre é parcial, lacunar e localizado. Por isso, desconfio e não concordo com uma prática que considero redutora,

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que é o uso instrumental da teoria, uma prática de corte e cola de trechos de obras de diversos autores/as como um simples argumento de autoridade. Assim, penso que não basta dizer que trabalho com a noção do autor A, B ou C sem refletir o porquê ou como cheguei àquela concepção de gênero e não outra. Pois, como nos diz Foucault (1979, p. xxi), “não há saber neutro, todo saber é político”. Independente de ser entendido como conceito ou categoria, para historiadoras como Joana Pedro e Maria Izilda Matos, é fundamental uma reflexão mais aprofundada sobre o termo gênero. Joana Pedro, por exemplo, nos lança a seguinte questão: afinal, “do que estamos falando quando dizemos “relações de Gênero”? Estamos nos referindo a uma categoria de análise, da mesma forma como quando falamos de classe, raça/etnia, geração” (2005, p.78). Também gostaria de destacar que a categoria gênero, bem como os estudos por ela possibilitados, não é mais o que foi até os anos 1990, ou seja, sinônimo de mulher ou apenas de história das mulheres. “Falar de gênero, [significa] deixar de focalizar a „mulher‟ ou as „mulheres‟; [trata-se] de relações entre homens e mulheres, mas também entre mulheres e entre homens” (PEDRO, 2011, p.273). Maria Izilda Matos chama atenção para o caráter instável e transitório da categoria gênero. Segundo a autora, além de reivindicar para si um território específico, “em face da insuficiência dos corpos teóricos existentes para explicar a persistência da desigualdade entre homens e mulheres” (1998, p.69), o gênero possibilitou novas questões, novas temporalidades, ampliou o conhecimento do objeto histórico e diversificou a documentação. Porém, o que considero mais importante para a nossa reflexão é que, como categoria analítica, “o gênero apontou a necessidade de se libertar de conceitos abstratos e universais, bem como, a necessidade de se historicizar os conceitos e categorias” (MATOS, 1998, p.71), inclusive ele mesmo, além de aceitar a efemeridade e transitoriedade dos conceitos e da produção do conhecimento. Em dialógo com Joan Scott, Margaret Rago reconhece que o gênero como categoria, não nasce do interior de um sistema de pensamento definido como o conceito de classes em relação ao marxismo. [Porém] procede de um campo profundamente diverso daquele que tinha como horizonte a emacipação social de determinados setores sociais (RAGO, 2006, p.29).

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Entenda-se, o proletariado. Com efeito, e retomo as palavras de Maria Izilda Matos, o crescimento da produção historiográfica sobre o gênero, ao contrário de esgotar as possilibidades, abriu controvérsias, instaurando um debate fértil. Contudo, alguns problemas de definição, fontes, método e explicação persistem, e entre eles a diversidade que envolve a própria categoria gênero (MATOS, 1998:74).

Não sei se concordo que seja um problema, no sentido negativo do termo, mas, talvez, um “problema de gênero”, como diria Butler, um problema que desorganiza mass também abre novos caminhos e possibilidades analíticas.

O GÊNERO EM SCOTT, BUTLER E PRECIADO

Ao longo da minha investida nesse campo minado, tenho me aproximado das proposições de três autoras de ampla ressonância, são elas: Joan Scott, com o texto Gênero: uma categoria útil de análise histórica (1990), Judith Butler e o seu Problemas de gênero (2013) e Beatriz Preciado (2014) com o seu provocativo Manifesto contrassexual. O exercício aqui proposto é o de identificar possíveis aproximações e distanciamentos nas definições da categoria gênero, aventado por elas. Todavia, não pretendo com esse exercício comparativo esgotar e dar conta de todas as proposições desses trabalhos, a ideia é apontar algumas aproximações e distanciamentos como um exercício de historicizição da categoria gênero e apresentar como o mesmo pode ser profícuo no ofício do/a historiador/a. Primeiramente, parto da ideia de que elas são instauradoras de discursividade, como sugere Foucault, no seu texto o que é um autor? (2006), pois além de assegurar uma posição classificatória, “instaura um certo grupo de discursos e seu modo singular de ser” (FOUCAULT, 2006, p. 278), ou seja, a partir de suas obras, uma série de pesquisas e reflexões são formuladas e fundamentadas, sedimentando um determinado modo de fazer e pensar as relações de gênero. Um dos outros pontos de aproximação entre elas é a utilização e apropriação das noções focaultianas de poder, verdade, sexualidade e discurso, o que aponta a necessidade de aprofudamento e conhecimento

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do saber proposto pelo filósofo do cuidado. É pensar, por exemplo, no efeito Foucault na historiografia como aponta Margaret Rago (1995) e Albuquerque Júnior (2004) e também na acolhida de Foucault pelo movimento feminista (RAGO, 2014). De modo geral, elas são consideradas pós-estruturalistas, que, segundo Miriam Pilar Grossi, esta corrente de pensamento entende que “o gênero se constitui pela linguagem, por aquilo que muitas autoras definem [como] discurso” (2004, p.5). Para Scott, “o discurso é um instrumento de orientação do mundo”, logo, ela entende que a “linguagem não designa somente as palavras, mas os sistemas de significação - as ordens simbólicas - que antecedem o domínio da palavra propriamente dita, da leitura e da escrita” (Scott, 1990, p.11). Aqui é evidente a influência de Foucault que entende o discurso “como uma série de segmentos descontínuos, cuja função tática não é uniforme nem estável, [...] mas, ao contrário, como uma multiplicidade de elementos discursivos que podem entrar em estratégias diferentes” (FOUCAULT, 1988, p.111). Scott reconhece que a linguagem não é tudo, pois, “sem o sentido não há experiência; sem processo de significação não há sentido” (SCOTT, 1990, p.11). Em seu texto A invisibilidade da experiência, Scott sublinha que a experiência não deve servir como uma evidência para ilustrar a diferença (de sexo, gênero ou sexualidade), pois não são indivíduos que têm experiências, mas sim os sujeitos que são constituídos pela experiência. Experiência nesta definição torna-se, então, não a origem de nossa explanação, não a evidencia legitimadora (porque vista ou sentida) que fundamenta o que é conhecido, mas sim o que procuramos explicar, sobre o que o conhecimento é apresentado (SCOTT, 1998, p.304).

Margaret Rago, em diálogo com Scott, corrobora essa ideia ao dizer que: a experiência, portanto, deixa de ser vista como autenticidade do vivido, como evidencia em si mesma, assim como o discurso deixa de ser considerado como mera abstração conceitual, reflexo da realidade, a partir da oposição binária que hierarquiza teoria e prática, pensamento e ação (RAGO, 2013, p.31)

Desta forma, o que Scott está defendendo é a historicidade da própria noção de experiência, é o “exame crítico de todas as categorias explicativas normalmente tomadas como óbvias” (SCOTT, 1990, p.11), logo, o potencial produtivo e questionador da experiência encontra-se no momento em que ela é usada como possibilidade de exploração do processo de construção das próprias diferenças, por isso, é possível

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pensar historicamente nas hierarquias entre os gêneros, nos processos de produção, normatização e normalização dos corpos, tomado como ponto de partida, um conjunto plural de experiências sociais, culturais e históricas que delineiam, e dão sentido, às experiências de masculinidades e feminilidades. Nas palavras de Margareth Rago: trata-se, nessa referência, de perceber que as subjetividades são históricas e não naturais, que os sujeitos estão nos pontos de chegada e não de partida como acreditávamos então; e ainda, que as conexões podem ser estabelecidas entre campos, áreas, dimensões sem necessidade exterior pré-determinada (1998, p.91).

Com efeito, o sujeito de gênero não é um dado ontológico, mas um devir, um sujeito em processo. Nesse sentido, para Scott, qualquer teoria “que não leve [a linguagem] em consideração não saberá perceber os poderosos papéis que os símbolos, as metáforas, e os conceitos jogam na definição da personalidade e da história humana” (SCOTT, 1990, p.11). Na esteira da desconstrução, Butler e Preciado evidenciam como o discurso heterocentrado atua na produção de corpos-homem e corpos-mulher. Um dos alvos de suas reflexões é desmontar os binarismos natureza/cultura, homem/mulher, heterossexualidade/homossexualidade, etc. Diferentemente de Scott, para quem o gênero “é um elemento constitutivo de relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos [e é] um primeiro modo de dar significado às relações de poder” (1990, p.14), Butler vai propor uma indiferenciação nas noções de gênero e sexo. Em suas palavras se o carater imutável do sexo é contestável, talvez o próprio constructo chamado “sexo” seja tão culturalmente construído quanto o gênero; a rigor, talvez o sexo sempre tenha sido gênero, de tal forma que a distinção entre sexo e gênero revela-se absolutamente nenhuma (2013, p.25).

Desta forma, Butler afirma que o gênero não está para a cultura como o sexo para a natureza; ele também é o meio discursivo/cultural pelo qual “a natureza sexuada” ou “um sexo natural” é produzido e estabelecido como “pré-discursivo”, anterior à cultura, uma superfície politicamente neutra sobre a qual age a cultura (2013, p.25).

Assim ela termina dizendo que “a dualidade do sexo num domínio pré-discursivo é uma das maneiras pelas quais a estabilidade interna e a estrutura binária do sexo são eficazmente asseguradas” (2013, p.25). Por isso, e de acordo com Butler, é possível

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entender que as experiências dos sujeitos de gênero não são anteriores ao acontecimento, pelo contrário, os mesmos são produzidos e constituídos na ação com o Outro, inseridos numa ampla e complexa rede de relações socioculturais que inscrevem nos corpos, através da repetição estilizada de atos, uma suposta coerência entre sexo e gênero, produzindo assim corpos-homens e corpos-mulheres, inserindo-os numa matriz de

inteligibilidade.

Estas

experiências

são

definidas

historicamente,

e

não

biologicamente. Isso não quer dizer, como sugerem algumas das criticas simplificadoras e redutoras ao pensamento dito pós-estruturalista, que se esteja negando a materialidade dos corpos, a dimensão biopsicossocial dos sujeitos, pois, inegavelmente, é através do corpo que vivemos, nos movemos, existimos e constituímos nossa posição de sujeito no campo das históricas experiências de masculinidades e feminilidades. Todavia, se trata de historicizar os sentidos, os valores atribuídos sobre o corpo que forjam binarismos classificatórios como belo/feio, normal/anormal, doente/sarado. Ao analisar as experiências trans, Berenice Bento (2003), Guacira Lopes Louro (2008) e Simone Ávila (2014) salientam como o gênero é um constructo social, cultural e histórico e não um dado biológico. Louro alega que ao nascer, o corpo é inserido numa teia de significados. Através de uma pedagogia de gênero é agenciada uma série de atributos, gestos, performances que “inscreve nos corpos o gênero e a sexualidade legítimos” (LOURO, 2008, p.16). Bento destaca, como exemplo dessa estratégia pedagógica do gênero, que “a ecografia é uma tecnologia prescritiva e não descritiva” (BENTO, 2003, p.97), com isso, ela chama a atenção ao fato de que antes mesmo de nascer somos inseridos em uma histórica matriz de inteligibilidade heterossexual. Para Louro, a afirmação „é um menino‟ ou „é uma menina‟ “inaugura um processo de masculinização ou de feminilização com o qual o sujeito se compromete” (2008, p.15). Assim, a ecografia (exame médico aplicado através do ultrassom que identifica o sexo biológico da criança) é uma das estratégias da biopolítica que produzem corpos-homens e corpos-mulheres. Nas palavras de Guacira Louro, “o ato de

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nomear o corpo acontece no interior da lógica que supõe o sexo como um “dado” anterior à cultura e lhe atribui um caráter imutável, a-histórico e binário” (2008, p.15). Portanto, o ato de interpelar já é uma ação política e não apenas verbal, de atribuir um lugar para aquele indivíduo. É marcar, definir o sujeito pela sua sexualidade, inserindo-o numa matriz de inteligibilidade, pois ao nascer, o corpo já é inscrito em um campo discursivo heteronormativo. Assim, entende-se que “o corpo já nasce maculado pela cultura” (BENTO, 2003, p.98). À vista disso, para autoras como Butler e Preciado, filósofas contemporâneas e primordiais para os chamados estudos queer,3 o gênero é entendido como uma sofisticada tecnologia social heteronormativa que produz gêneros inteligíveis, que, segundo Butler, são “aqueles que, em certo sentido, instituem e mantêm relações de coerência e continuidade entre sexo, gênero, prática sexual e desejo” (2013, p.38) e, consequentemente, exclui todos aqueles e aquelas que fogem a essa norma. Neste caso, como afirma Ávila, “a transexualidade coloca em xeque normas sociais”, pois implica no reconhecimento sobre “o que é sexualidade para além das concepções biológicas, obrigando-nos a pensar nas vivências da sexualidade nos âmbitos privado e público, tanto como prática individual, como prática social e política” (2014, p.25-26). Como bem observa Guacira Lopes Louro, não se trata de negar a materialidade dos corpos, mas o que se enfatiza são os processos e as práticas discursivas que fazem com que aspectos dos corpos se convertam em definidores de gênero e de sexualidade e, como conseqüência, acabem por se converter em definidores dos sujeitos (2008, p.80).

Não obstante, e partindo de uma episteme similar, Preciado propõe primeiramente “uma análise crítica da diferença de gênero e sexo, produto do contrato social heterocentrado, cujas performatividades normativas foram inscritas nos corpos como verdades biológicas”, em seguida, sublinha que “a contrassexualidade aponta para a substituição desse contrato social que denominamos Natureza por um contrato contrassexual” (PRECIADO, 2014, p.21). Nesse contrato, os corpos não se reconheceriam mais como homens ou mulheres, mas sim como corpos falantes, desejantes, renunciando “não só a uma identidade sexual fechada e determinada naturalmente, como também aos benefícios que poderiam obter de uma naturalização dos efeitos sociais, econômicos e jurídicos de suas práticas significantes” (Idem).

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O

que

Butler

e

Preciado

criticam,

principalmente,

é

o

binarismo

Natureza/Cultura, presente no paradigma estruturalista, duvidando que exista uma estrutura universal “da troca reguladora que caracteriza todos os sistemas de parentesco” (BUTLER, 2013, p.68) como argumenta Lévi-Strauss. E, ademais, elas desmontam o sistema sexo/gênero proposto por Gayle Rubin (1993 e 2003; MOSCHKOVICH, 2012) que segundo Haraway (2004, p.223): Rubin examinava a “domesticação das mulheres” na qual as fêmeas humanas eram o material bruto na produção social de mulheres através da troca nos sistemas de parentesco controlados por homens na instituição da cultura humana. Ela definia o sistema sexo-gênero como o sistema de relações sociais que transformava a sexualidade biológica em produtos da atividade humana e no qual são satisfeitas as necessidades sexuais específicas daí historicamente resultantes.

Publicado originalmente em 1975, em seu texto O tráfico de mulheres: notas sobre a “economia política” do sexo, Gayle Rubin buscava compreender as relações sociais que transformavam “uma fêmea da espécie” em “uma mulher domesticada” (RUBIN, 1993, p.2). Alicerçada numa perspectiva marxista, Rubin pressupunha uma dicotomia entre natureza e cultura. Entretanto, Butler enfatiza que essa alocação do sexo como elemento pré-discursivo não passa de um efeito do aparato de construção cultural que “designamos por gênero”. Com efeito, ao apresentar a noção de “identidade subjetiva” como o quarto aspecto da sua definição do gênero, Scott concorda com a visão da antropóloga Gayle Rubin de que a psicanálise fornece uma teoria para a reprodução do gênero, uma descrição da “transformação da sexualidade biológica dos indivíduos à medida da sua aculturação” (RUBIN, apud SCOTT, 1990:15). Por isso, Scott enfatiza que as categorias homem e mulher são “ao mesmo tempo categorias vazias e transbordantes, pois que, quando parecem fixadas, elas recebem, apesar de tudo, definições alternativas, negadas ou reprimidas” (1990, p.19). Mas ainda assim, Scott mantém a noção de diferença com o algo inerente do campo biológico, sem historicizar os sentidos atribuídos à noção de “natureza”. Entre os diversos pontos abordados por Preciado - seja em relação ao corpo, ao gênero e à sexualidade-, considero importante a sua concepção de “tecnologia social heteronormativa”, entendida como um conjunto de “instituições linguísticas como

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médicas ou domésticas que produzem constantemente corpos-homem e corpos-mulher” (PRECIADO, 2014:28). Tal concepção é forjada a partir da noção de tecnologia de Foucault. Para a autora, a força da noção foucaultiana de tecnologia reside em escapar à compreensão redutora da técnica como um conjunto de objetos, instrumentos, máquinas ou outros artefatos, assim como escapar à redução da tecnologia do sexo às tecnologias implicadas no controle da reprodução sexual. Para Foucault, uma técnica é um dispositivo complexo de poder e saber que integra os instrumentos e os textos, os discursos e os regimes do corpo, as leis e as regras para a maximização da vida, os prazeres do corpo e a regulação dos enunciados de verdade (PRECIADO, 2014, p.154).

Deste modo, Preciado vai defender que a noção de “tecnologia do sexo” permite compreender que o sexo e a sexualidade não são efeitos de um sistema repressivo, pelo contrário, “as técnicas disciplinadoras da sexualidade [são] estruturas reprodutoras, assim como técnicas de desejo e de saber que geram diferentes posições de sujeito de saber-prazer” (PRECIADO, 2014, p.156). Por consequência, ela crítica a distinção sexo/gênero e propõe compreendê-los como tecnologias, “como dispositivos inscritos em um sistema tecnológico complexo” (PRECIADO, 2014, p.23). Inspirada em Donna Haraway (2009), a autora defende que a noção de “Natureza Humana” nada mais é do que “um efeito de negociação permanente entre humano e animal, corpo e máquina, mas também entre órgão e plástico” (PRECIADO, 2014, p.23). Deste modo, ela sugere que o sexo não é um lugar biológico preciso nem uma pulsão natural. [Mas] é uma tecnologia de dominação heterossocial que reduz o corpo a zonas erógenas em função de uma distribuição assimétrica de poder entre os gêneros, (feminino/masculino), fazendo coincidir certos afectos com determinados órgãos, certas sensações com determinadas reações anatômicas. [Assim] a natureza humana é um efeito da tecnologia social que reproduz nos corpos, nos espaços e nos discursos a equação natureza=heterossexualidade (PRECIADO, 2014, p.25).

Outro ponto que merece destaque é a sua concepção de gênero. Em Preciado ele não é simplesmente performativo (isto é, um efeito das práticas culturais linguístico-discursivas) como desejaria Judith Butler. O gênero é, antes de tudo, prostético, ou seja, não se dá senão na materialidade dos corpos. É puramente construído e ao mesmo tempo inteiramente orgânico. Foge das falsas dicotomias metafísicas entre o corpo e a alma, a forma e a matéria (2014, p.29).

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É preciso esclarecer que a sua crítica à noção de gênero performático de Butler não o invalida, mas aponta a historicidade do conceito e os seus limites. Assim, ao observar as proposições de Butler e Preciado, percebo uma crítica à perspectiva de Joan Scott - de que a base biológica continua sendo estruturante das construções de gênero possíveis-, e levando a cabo reflexões que ficaram conhecidas como Estudos Queer, elas apontam a associação limitada feita entre gênero e biologia, cujo efeito principal é a negação da feminilidade às mulheres transexuais, travestis e também aos homens. Pois como enfatiza Butler quando o status construído do gênero é teorizado como radicalmente independente do sexo, o próprio gênero se torna um artifício flutuante, com a consequência de que homem e masculino podem, com igual facilidade, significar tanto um corpo feminino como um masculino, e mulher e feminino, tanto um corpo masculino como um feminino (2013, p. 24-25).

Por isso, ela entende que “localizar o mecanismo mediante o qual o sexo transforma-se em gênero é pretender estabelecer, não só o caráter de construção do gênero” (BUTLER, 2013, p.67), como também o seu caráter não natural, mas histórico e performativo. Outra questão a se pensar é que, possivelmente, a percepção de Scott quanto ao sistema sexo/gênero seja um dos efeitos da sua transposição do campo da história social para a história cultural, como aponta o artigo de Carla Pinsky, Estudos de Gênero e História Social (2009). Diante do que foi apresentado cabe agora pontuar em que medida essa reflexão sobre a categoria gênero pode ser profícua ao ofício do historiador. Primeiramente, não é possível circunscrever o termo gênero apenas como sinônimo de uma história das mulheres, das sexualidades, das homossexaulidades, enfim, das chamadas dissidências de gênero. Considero adequado que todos/as os/as que se filiam ao campo da História (e nas ciências humanas em geral) percebam, e reconheçam, que os estudos de gênero são muito mais do que estudos localizados e à parte da considerada “grande história”, pelo contrário, o gênero nos oferece um rico e vasto arcabouço teórico e metodológico para pensarmos as relações sociais dos indivíduos baseados, não só na diferença sexual entre homens e mulheres, como também questionar a assimetria na esfera social (como a

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presença no espaço público e privado) sustentada historicamente por essa diferença; o gênero é também um modo de investigar o processo que forja e naturaliza essa diferença, atribuindo hierarquias entre os indivíduos com base no seu sexo. Gênero é investigar, também, a dinâmica social baseada nas identidades de gênero; as atribuições sociais, profissionais e políticas atribuídas a homens e mulheres em diferentes sociedades, de acordo com a sua relação espaço-tempo; é denunciar e nomear os históricos processos de exclusão das chamadas “minorias sexuais e sociais”, é problematizar a ocupação dos espaços de poder por homens e mulheres ao longo da história e apontar como a noção de violência e de dominação não são as mesmas para homens e mulheres (WELZER-LANG, 2004; SARTI, 2009), ou seja, os sentidos atribuidos são marcados pela experiência e condição social e sexual do sujeito de gênero. Assim, entendo que o gênero possibilita rastrear as diferentes concepções de tempo para homens e mulheres e, algo que considero fundamental, a radical historicidade de tudo, inclusive daquilo que, socialmente e culturalmente, é percebido e entendido como homem e mulher. Isso, a meu ver, politiza o nosso olhar e nos leva a desconfiar dos discursos normativos, excludentes e androcêntricos. Em segundo lugar, é mister que historiadores/as leiam o que uma produção feminista tem a dizer sobre a sociedade e sobre o nosso ofício. De acordo com o sociólogo francês Daniel Welzer -Lang, é preciso abandonar o androcentrismo - que é “a tendência a excluir as mulheres dos estudos históricos e sociológicos” (WELZERLANG, 2004, p. 112)-, em nossas reflexões e produções acadêmicas, ou seja, a tendência a excluir tudo o que se refere às mulheres e também sejam escritos por elas. É reconhecer que “elas vivem e escrevem como um dos componetes do social, e não como uma especificidade do geral, do normal que supostamente só eles [os homens] representariam” (WELZER-LANG, 2004, p.112). Por fim, e não menos importante, parto da ideia de que o discurso historiográfico não só relata ou interpreta uma dada realidade, ele também é partícipe e instituinte disso que chamados de real. Como sugere Rago (2006, p.20), “o discurso não é reflexo de uma suposta base material das relações sociais de produção, mas produtor e instituinte

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de “reais””. Isso quer dizer que, ao produzirmos uma interpretação sobre um dado acontecimento já estamos atribuindo e produzindo um determinado sentido. Assim sendo, entendo que o gênero, como categoria de análise, não está desconectado de outras categorias sociais como classe e raça. Como sublinha a antropóloga Fátima Cecchetto (2004, p.57), gênero como categoria de análise não “compreende a simples dicotomia masculino e feminino; antes, o gênero cruza-se com uma rede de elementos vinculados às estruturas de classe, poder e etnicidade, que estruturam as relações sociais”, e são essas conexões que devemos identificar e analisar em nossos objetos. Por conseguinte, entendo que esses marcadores sociais da diferença estão no mesmo plano, pois são constituintes da experiência do sujeito, todavia, dependendo das redes de sociabilidade e dos espaços que o indivíduo atua e/ou circula, um desses elementos pode se sobressair mais do que outro, no entanto, não se trata de substituir uma categoria por outra, o desafio é trabalharmos na perspectiva interseccional (CRENSHAW, 2012) articulando os diferentes conceitos nas nossas pesquisas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com o que foi analisado, o gênero possibilita explicar continuidades e descontinuidades bem como analisar as desigualdades e diferenças sociais e sexuais nas relações inter-gêneros (homens e mulheres) e intra-gêneros (homens e homens/mulheres e mulheres). Entendo, também, que a elaboração do conhecimento histórico a partir do gênero, como sugere Scott (1990, p.7), implica em uma tomada de posição, seja sobre a desigualdade ou o poder, é marcar um lugar de enunciação e denunciar as práticas institucionalizadas que tendem a silenciar e perpetuar uma concepção hegemônica do discurso histórico. Por fim, ao propor esse exercício de aproximação e distanciamento entre essas definições da categoria gênero, entendendo-o como um modo de explicar as relações sociais entre os sexos, buscando, como sugere Foucault, a partir de uma análise dos discursos, recompor a trama de sua produção, as regras que incidem em

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Edição Nº 19 OUT/2016 coisas ditas e ocultas, em enunciações exigidas e interditas; com o que supõe de variantes e de efeitos diferentes segundo quem fala, sua posição de poder, o contexto institucional em que se encontra (FOUCAULT, 1988, p.111).

No mais, cabe a nós historiadores/as questionar o que está posto e tensionar a produção do discurso histórico, afinal, se o nosso discurso é instituinte de reais, por que repor o que já está posto, o já dito? É preciso rachar os sentidos das palavras (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2013), recompor a trama de sua produção e historicizar as verdades, as formalidades, as teias que sustentam e engendram os históricos modos de opressão (seja de gênero, sexual, racial). Não nos cabe julgar, como já dizia Bloch (2001), no entanto, nos cabe lançar luz sobre os diversos fenômenos, de modo a compreendê-los na sua relação espaço-tempo, mas também elucidá-los de acordo com os conceitos, as armas do nosso tempo presente (PROUST, 2008, p.131). Por fim, é nessa perspectiva diacrônica e sincrônica que a categoria gênero pode nos auxiliar e enriquecer o nosso olhar sobre os acontecimentos passados.

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Segundo O sociólogo Richard Miskolci (2012) e a psicóloga Jaqueline Gomes de Jesus (2015), a heteronormatividade é a ordem sexual vigente, fundada no modelo heterossexual, familiar e reprodutivo, entendida como característica de todo ser humano “normal”. Desse modo, qualquer pessoa que não se adeque a esse padrão é considerada “anormal”, o que justificaria sua marginalização. 2 PEDRO, Joana Maria. Michelle Perrot: a grande mestra da História das Mulheres. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 11, n. 2, p. 509-512, Dec. 2003. 3 Segundo Miskolci, o Queer pode ser definido como “o estudo daqueles conhecimentos e daquelas práticas sociais que organizam a „sociedade‟ como um todo, sexualizando - heterossexualizando ou homossexualizando - corpos, desejos, atos, identidades, relações sociais, conhecimentos, cultura e instituições sociais” (2009, p. 154). A problemática queer vai além das homossexualidades, é uma recusa do regime de gênero heterossexista e da violência praticada na manutenção de uma fronteira rígida entre os que são socialmente aceitos e os que são relegados à humilhação, à abjeção e ao desprezo. Os estudos queer propõem o estranhamento de tudo que é considerado universal, de todas as formas de binarismos: feminino/masculino, natural/cultural, homem/mulher, hétero/homo. Por sua vez, promove a inserção da diferença, colocando no lugar do reconhecimento e da estabilidade, a alteridade e a diversidade, focalizando os processos de invenção e desdobramentos das identidades.

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