O conceito de \"leigo\" no Catolicismo
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Em julho de 1994 participei de uma reunião na rádio américa da igreja
católica
juventude.
de
Naqela
belo
horizonte
ocasião
eu
representando
participava
do
a
pastoral
grupo
de
da
jovens
“Andanças” da paróquia nossa senhora do rosário de pompéia, um grupo grande, com cerca de 40 jovens e adolescentes do bairro, cantávamos todos os domingos as 19 horas e nos reuniamos também aos domingos, mas naquela reunião na rádio américa eu representava a regional leste dois da pastoral da juventude. Foram convidados vários segmentos da igreja, particularmente aqueles relacionados à família, tratava-se de um programa de rádio semanal organizado e produzido pelas irmãs paulinas com assuntos sobre a família, havia entre
os
participantes
da
reunião
os
casais,
as
pastorais
da
criança e adolescente, do menor, da saúde e a PJ. Eu estava com meu companheiro Alex, na ocasião seminarista capuchinho e membro da PJ de belo horizonte. Eu estava la como estou agora, buscando Jesus, o mestre, seus ensinamentos. Eu era um fanático comunista da PJ, havia conhecido padres, freiras, religiosos tão diferentes, tão
outros.
Na
pompéia
o
pároco
era
o
amado
Ari,
um
lider
interessantíssimo que havia promovido a PJ na paróquia de uma maneira muito viva, como um pão da vida. Vinho de festa e alegria. Mas a militância para mim tinha começado bem antes, em 1984, como coroinha da paróquia. meu primeiro encontro com Jesus foi aos 12 anos,
em
uma
celebração
dos
coroinhas
da
pompéia
na
sala
do
santíssimo sacramento, onde em um momento semanal o grupo inteiro de coroinhas liderados pelo Frei Farias ficava em grande silêncio. Em 1989 entrei para a PJ. Mas naquela reunião da radio, em 1994 eu estava já num processo de crise de minha participação na igreja católica, tinha passado um tempo bom, dez anos de participação. Na hora da sugestão dos temas para a montagem de uma espécie de pauta dos
programas,
concordado
em
já
que
todos
representar
os
suas
presentes
respectivas
na
reunião
escolas
e
haviam
pastorais
como uma equipe do programa da família, ocorreram interessantes temas; “familias de dependentes quimicos”, “catequese em família”, “a família do povo de deus”, “o divórcio”, “conversão em família”, “a sagrada família”, … e eu senti vontade de propor um assunto, tinha
achado
todos
os
temas
eram
bacanas,
e
senti
que
havia
condição de contribuir e ai eu propus “A família homossexual”. Como professor de antropologia da educação na uemg de bh recebo semestralmente
pessoas
em
sala
para
cursarem
a
disciplina,
estudantes que jamais tinham escutado a palavra antropologia. Era leigos,
etimologicamente
falando.
Talvez
leigos
espiritualmente
falando já que como não conheciam a palavra antropologia, ela nada podia indicar de sensação, a não ser o senso de ignorância. Minha função é tira-los da condição de leigos. Estou dizendo isso porque a
palavra
“leigo”
Francico,
incomoda.
esperado
por
nós
Vou a
aproveitar tanto
a
tempo,
chegada
do
sonhado
Papa
por
nós
militantes da década de 1990. como seria proveitoso para nosso trabalho em 1992 esse papa! João Paulo II era o pontífice daquele período e foi um grande mestre, um sábio. Naquele ano a campanha da fraternidade foi sobre o jovem, o tema era “caminho aberto”, era um caminho para mudanças na igreja. Não pretendo manter leigos meus alunos, a condição de emancipação que a educação exige. Penso que chamar o povo de deus de “leigo”, e se situar, se colodar dentro da palavra “religioso”, na condição de religioso, é uma coisa burra. Caetano veloso me ensinou a chamar de burro apenas o ideário,
nunca
os
sujeitos.
Não
ha
pessoas
burras,
ha
idéias
burras, segundo ele, e eu concordo. Não me sinto confortável ser chamado de leigo dentro de uma reunião. Não sou leigo, tãopouco religioso. Esta última: condição de nobreza que encanta estudantes de filosofia cristã, mas que cria uma parede, uma emoção ruim. Somos
universitários,
Wittgenstein:
aquele
esclarecidos
problema
da
da
palavra
semântica, e
do
poder
lemos
fazer
as
coisas existirem através da palavra. Me incomoda ser chamado de leigo, título perpétuo da condição do católico comum, normal, em condições
de
vivência
espiritual
impossíveis
de
medir,
pelo
religiômetro da mais pura congregação de “religiosos” que houver. Não me chame de leigo. Me chama de idiota, é preferível, ao menos a
condição
condição religioso
de é
de
idiotia
leigo a
tem
evolução
pode uma
evoluir evolução
possível
do
para
algo
linear: leigo,
diverso; o
assim
já
a
religioso.
O
como
o
homo
sapiens do homo faber, e este do homo neandertalis. Posso estar
fora já, desse debate, ele pode estar muito mais evoluído nas cadeiras
de
teologia
cristã
católica,
e
nas
pastorais
socioculturais, mas ver algo como “congressos nacional de leigos”, por exemplo, não me estufa o peito de nada, nem de ar. Enquanto eu estava na PJ, ser leigo era uma honra. Em 1992 participei da coletiva de imprensa da campanha da fraternidade ao lado de Don Serafin, la no palácio do bispo, sai no mgtv e diário da tarde e tal, eu era um leigo convicto. Convicto, carregava essa bandeira da igreja feito as almas as margens do rio de fogo no inferno de Dante
encantadas
hipnotizadas,
uma
almas imagem
pelas
bandeiras
literária
da
que
ignorância
carregavam, diante
de
um
certo pecado talvez, o de levar a sério demais a lei, e não o amor,
que
em
Jesus
nos
faz
iguais,
idênticos
a
ele,
numa
participação sem fronteiras. Me permito o direito de discutir com quem me chama de leigo, num espaço de trabalho pastoral. Prefiro ser
chamado
de
iniciante,
iniciante
da
arte
de
buscar
os
ensinamentos do mestre, não me importo com quem está mais perto de Jesus do que eu, sei que somos humanamente possíveis, caimos, nos reinventamos. Não tenho medo do olhar de teólogos como Caio Fábio, que
inquere
em
suas
reflexões
a
necessidade
de
medirmos
constantemente nossa distância da presença de Jesus. Ele olha para a câmera do youtube e diz: você está longe de Jesus. O genérico meaculpa já perdeu o poder que tem sobre os leigos em minha vida espiritual, o olhar me atravessa e vai a lugar nenhum em mim, hoje não vejo ninguém leigo. Não é como meus alunos de antropologia que precisam
ser
advertidos
antropologia, religiosos”.
leigos, Não.
os
Vamos
das
complexidades
leigos,
“vocês
partilhar,
os
ficar
dessa
palavra,
leigos,
igual,
nós
recebam
os a
leiguice, ser leigo é ter preguiça de ir a igreja todo dia, à igreja física é claro, os cuidados do templo, atitudes levíticas demais, e... ha de carecer de rejeitar a palavra leigo, tirar da boca e do pensamento, se referir a isso falando de um outro tempo da igreja, antes do papa francisco, o latinoamericano, naquele tempo chamavam de leigo o povo de deus que não era religioso. Peço uma desculpa pois deve ser um assunto morto o que trato aqui, mas é
um
jornal,
e
jornais
são
atitudes
poderosas,
mesmo
que
necessitando
de
miriades
de
anuncios,
ou
outras
entidades
sangrentas e sensacionalistas como vemos nos jornais todos que temos
ao
nosso
redor,
mas
são
atitudes
poderosas
os
jornais,
transformadoras, como em jornais operários do século XX, ou outra coisa nesse formato que possa ter modificado a história de alguma pessoa, a gestão das palavras e das idéias, o encontro com o leitor, sinapses,
ali,
no
texto,
e
cremos
que
que tudo
vai isso
gerar, está
ao
estimular,
provocar
alcance
espírito
do
santo. Por isso eu sugeri o tema “familia homossexual” naquela reunião,
fazendo
uma
certa
psicanálise
durante
a
escrita
do
presente texto assumo o trauma que a palavra leigo dita naquela reunião,
nos
instantes
que
se
seguiram
à
análise
de
minha
proposta, provocou em mim, já havia espaço em meu coração para receber outros significados da palavra leigo. A palavra leigo se opõe a um fluxo, ela participa do “fiz sem querer” do brasileiro. Não somos leigos. Já fomos leigos, depois que um papa convida a igreja
a
prestar
contas
de
sua
economia,
inclusive
economia
linguística, economia da participação democrática, ou ao menos do surrealismo no cristianismo. Vivemos um tempo quando um chefe da igreja católica se sente inabilidoso para assuntos estruturais, ou seja, se assume leigo para algo, como o fez generosamente Bento XVI, e renuncia. Quem é dono da palavra?, como ela chega, como ela sai, como surge? Onde
encontrar
edificar,
se
o
leitor
completar
em
em
sua
sua
emoção
episteme
e os
seu
tempo,
vários
para
se
sentidos
da
realidade, realizar as conecções racionais, fictícias, literárias, imaginéticas? Onde encontrar mais palavras para além da missa? Para além da programação católica em rádio e televisão? Como usar contemporaneamente
um
veículo
outrora
tão
poderoso
e
hoje
tão
informativo como um jornal? Eu não sei!!! onde tocar no fracasso da doxologia, da língua oral, onde está o sucesso da escrita? Como a palavra “Leigo” está sendo representada no presente jornal da paróquia, ou nos corações dos presentes? Porque ela me incomoda tanto? Os discipulos imediatos de Jesus eram religiosos ou leigos? Pedro era leigo? religioso? diocesano? Se alguém tatuar a palavra
“Leigo” no antebraço ela terá ocasião de orgulho com essa tatuagem em sua pele?
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