O Conceito de Pequenos Grupos nos Escritos de Ellen G. White

June 23, 2017 | Autor: Everton Santos | Categoria: Church History, Seventh-day Adventist history, Ellen G. White
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O conceito e a prática do método de Pequenos Grupos nos Escritos de Ellen G. White

Por Everton Santos

Era o início do século dezenove, a América do Norte vivia um período de grande despertamento, ainda, possivelmente, sob a influência de Jonathan Edward, John Wesley e George Whitefield. Vários movimentos religiosos se destacaram neste período, "mas foi metodismo baseado no método de "classes", alcançou desenvolvimento sem precedentes". Na metade do século dezenove, surgiria o movimento milerita, tendo em vista que parte dos pioneiros do milerismo e do adventismo tinham ligação metodista wesleyana,e ao considerar-se a familiaridade das personalidades proeminentes do adventismo com o método wesleyano de classes. Nos "é possível então compreender que os pequenos grupos foram parte do que eles entendiam como método viável para a vida e o desenvolvimento da igreja."
É importante notar que "o interesse em trabalhar com células ou pequenos grupos, estava constantemente presente na vida dos pioneiros da Igreja Adventista do Sétimo Dia e no ministério de Ellen G. White. Ela também herdou da igreja metodista o conceito de formação de pequenos grupos para o fortalecimento da igreja, por meio do estudo da Bíblia e oração, e para motivar a unidade cristã". Entre os pioneiros adventistas, esses encontros eram também chamados de reuniões sociais. No início do movimento adventista, os pioneiros estavam preocupados em manter um equilíbrio entre o cognitivo (racional) e o relacional em sua vida espiritual. E a principal forma que eles encontraram para preservarem o elemento relacional foi através dos encontros que eram conhecidos como "reuniões sociais", estas reuniões possuíam um cunho exclusivamente relacional, tendo em vista que pouco ou nenhum estudo da Bíblia era realizado ali, não que o estudo fosse negligenciado, mas o tempo que era dedicado ao estudo da Bíblia "em comunidade" já havia sido dedicado durante a escola sabatina e no momento do culto.
Portanto durante as reuniões sociais os participantes tinham a oportunidade de compartilhar testemunhos, lições sobre o sermão ouvido pela manhã e orar em comunidade. E estes encontros então acompanhavam o estudo que já havia sido feito das Escrituras. Segundo Russell Burrill "essa abordagem fez com que os pioneiros ficassem fortes tanto em sua compreensão da Bíblia quanto em seu relacionamento de uns para com os outros."
Esta reunião social adventista primitiva era semelhante ao nosso conceito atual de pequenos grupos. O pequeno grupo é uma das melhores formas de atingir uma dinâmica relacional em nossas igrejas hoje. Desde que sua ênfase seja no relacional e não apenas no cognitivo.

Ellen G. White e os pequenos grupos

Logo após o período de 1844, Ellen G. White começou a falar sobre a importância da organização em pequenos grupos para manter a unidade da igreja e para pregar o evangelho. Uma pesquisa fora feita por Umberto Moura sobre as ocorrências das palavras "pequeno grupo", "pequenos grupos" e "grupos pequenos", em 62 obras de Ellen White, em língua portuguesa, na qual se verificou a ocorrência de "grupos pequenos" 4 vezes, "pequenos grupos" 26 vezes e "pequeno grupo" 40 vezes, perfazendo um total de 70 referências.
Em 1900, Ellen White mudou-se de Sunnyside, Austrália, para Elmshaven, Santa Helena, Califórnia, EUA. E em 12 e 15 de agosto, respectivamente, de 1902 aparece publicada sua mais destacada declaração sobre pequenos grupos: "A formação de pequenos grupos como base de esforço cristão, foi-me apresentada por Aquele que não pode errar. Se há na igreja grande número de membros, convém que se organizem em pequenos grupos a fim de trabalhar, não somente pelos membros da própria igreja, mas também pelos incrédulos. Se num lugar houver apenas dois ou três que conheçam a verdade, organizem-se num grupo de obreiros. Mantenham indissolúvel seu laço de união, apegando-se uns aos outros com amor e unidade, animando-se mutuamente para avançar, adquirindo cada qual ânimo e força do auxílio dos outros." Esta poderia ser considerada a melhor definição dada por Ellen White sobre o conceito de pequenos grupos em seus escritos. A ênfase da escritora é de que a ideia de dividir a igreja em pequenos grupos fora-lhe dada por "Um que não podia errar".
Nesse mesmo ano, quando o sétimo volume do livro Testemunhos para a Igreja foi publicado, Ellen disse: "Reúnam-se em pequenos grupos de manhã bem cedo, ao meio dia ou à tarde para estudar a Bíblia. Dediquem tempo em oração para que fiquem fortalecidos, esclarecidos e santificados pelo Espírito Santo." Novamente Ellen White destaca o valor de tais reuniões para a vida espiritual, e o equilíbrio entre o cognitivo e o relacional. O conselho para modelar a igreja em pequenos grupos foi repetido em muitos de seus livros e artigos, fato este que evidencia que não fora unicamente um pensamento passageiro, mas sim um conselho prioritário para a igreja. Orientação esta, dada por "Um que não pode errar".
Em visão profética, ela viu um grande reavivamento ocorrendo na igreja de Deus no fim dos tempos. Referindo-se a este tempo, ela disse: "Houve na igreja um reavivamento do espírito missionário. Foi demonstrado um grande desejo de aprender a trabalhar pelo Senhor. Pequenos grupos se reuniram para oração e estudo da Bíblia". Ainda referindo-se aos dias finais, Ellen White afirmou que devido a perseguição, a igreja grande (congregações) não mais existiriam, e a única maneira com que a igreja poderia sobreviver seria em pequenos grupos.
Ellen White não só defendeu os pequenos grupos na igreja, mas aconselhou que fossem usados na obra de publicações, e na obra educacional também. Este era um plano amplo que deveria ser encontrado em cada extensão da igreja. Para Ellen White, os pequenos grupos eram o princípio organizador principal da obra da igreja. No conceito apresentado pela autora "a igreja deve ser ativa, se quiser ser uma igreja viva", então também os pequenos grupos devem ser ativos, se quiserem ser vivos e cumprirem com o seu papel evangelístico. Nos escritos de Ellen G. White encontramos algumas sugestões relacionadas às atividades e à metodologia de trabalho de pequenos grupos. Aqui estão algumas delas: (1) Atividades missionárias; (2) Que as famílias adventistas, reunidas em pequenos grupos nos lares, sejam uma influência positiva na comunidade; (3) O grupo deve incluir pessoas com características diferentes (faixa etária, cultura, sexo, profissão, etc.); (4) Trabalhar como grupo evangelista ou ajudar nas campanhas evangelísticas, orando pelos projetos e por si mesmos; (6) Estudo da Bíblia, testemunho e oração; (7) Oração pelos enfermos.
Ellen White possuía uma visão bem equilibrada de pequenos grupos, sua concepção de pequenos grupos era muito ampla. Incluía não só evangelismo, mas também o reunir-se para estudo da Bíblia e oração. Assim como a igreja primitiva tinha a sua existência por meio da comunidade, a igreja hoje também deveria existir por meio deste método de comunidades reunidas a fim de estudar a Bíblia e orar em grupos pequenos. Ellen White "deu à Igreja Adventista um claro endosso para os pequenos grupos se reunirem para oração, estudo bíblico, testemunhos, encorajamento mútuo e cuidado."

Considerações finais

Ao analisar-se o conceito de pequenos grupos encontrado nos escritos de Ellen G. White, nos deparamos com uma proposta divina para enfrentarmos um perigo atual. A preocupação em ter crescimento quantitativo ao invés de qualitativo, o que representa um desafio para a Igreja Adventista na atualidade. Tendo em vista o grande número de apostasias, é importante fazer uso de ferramentas que possam alavancar um crescimento qualitativo, e uma das melhores ferramentas para se obter este tipo de crescimento é o método de pequenos grupos. Ellen White, ao longo de seus 70 anos de ministério cumpriu o papel de confirmar as verdades bíblicas, e dentre os conselhos divinamente inspirados está o conceito de pequenos grupos, aquela que fora uma ideia apresentada a ela por "Aquele que não pode errar". O homem pode discutir novos métodos, conceitos, estratégias, mas todos serão passíveis de erros, mas quando os princípios apresentados por Deus forem seguidos conforme expressos em Sua revelação. A igreja poderá ter a certeza do êxito, se ela aceitar o desafio e seguir o conselho divino, com certeza poderá seguir sem medo, pois não está seguindo os planos e métodos de homens, mas sim de Deus.



Aluno concluinte do curso de Teologia pelo SALT-IAENE - Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia/Instituto Adventista de Ensino do Nordeste. E-mail: .
A History of the Methodist Episcopal Church, v. 2, (Nova York: Carlton e Porter, 1860), p.266.
Josiah Litch, George Storrs, Apollos Hale, Hiram Edson, John Byington, John Loughborough e Ellen White foram figuras notáveis que vieram do movimento metodista.
Everett Dick afirma que de 174 pregadores mileritas de afiliação religiosa, cerca de 44, 3 % eram metodistas. Everett N. Dick, William Miller and the Advent Crisis 1831-1844, ed. Gary Land, (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1994), p.166.
Ellen G. White, Notas Biográficas de Ellen G. White ( Florida, Buenos Aires: ACES, 1995), p. 36, 42, 46.
Russell Burrill. Como reavivar a igreja do século 21: o poder transformador dos pequenos grupos. Tradução de Ellen Mary T. B. de Franco. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2005. p. 118.
Umberto Moura. Pequenos grupos: uma fundamentação bíblica, teológica e histórica. Engenheiro Coelho, SP: sn, 2013. P. 91.
Richard W. Schwarz e Floyd Greenleaf, Portadores de Luz, (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2009), p. 348-350.
Ellen G. White, "Teh Work of Soul Saving", Advent Review and Sabbath Herald, 12 de Agosto de 1902.
Australasian Union Conference, Sidney, "Union Conference Record", 15 de agosto de 1902.
Ellen G. White, Testemunhos Seletos, vol. 3, p. 84. (itálicos acrescentados)
Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, vol. 7. P.195. (itálicos acrescentados)
A afirmação é repetida nos seguintes livros e artigos: Serviço Cristão, pág. 72; Evangelismo, pág. 115; Beneficiência Social, pág. 107; Relatório da União Australasiana, 15 de agosto de 1902; Revista da Pacifc Union, 9 de outubro de 1902; Advent Review and Sabbath Herald, 12 de agosto de 1902.
Ellen G. White, "A Call to All Our People", The Indiana Reporter, 25 de fevereiro de 1903.
Ellen G. White, Manuscript Releases, vol. 17, pág. 350.
Ellen G. White, Manuscript Releases, vol. 9, pág. 98.
Ellen G. White, Relatório da União Australasiana, 31 de julho de 1899, pág. 6.
Ellen G. White, Serviço Cristão, pág. 83.
Ellen G. White, Obreiros evangélicos, p. 401, 402.
Ellen G. White, Evangelismo, p. 115.
Idem, p. 389.
Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, vol. 7. P.195
Russell Burrill. Como reavivar a igreja do século 21: o poder transformador dos pequenos grupos. Tradução de Ellen Mary T. B. de Franco. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2005. p. 157.




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