O Conceito de Repetição em Mrs.Dalloway de Virginia Woolf e em As Horas de Stephen Daldry

June 13, 2017 | Autor: Matilde Real | Categoria: Gilles Deleuze, Henri Bergson, Virginia Woolf, Mrs Dalloway, The Hours, Stephen Daldry
Share Embed


Descrição do Produto

Introdução à Problemática das Ciências Humanas Maria Matilde Real nº49986

O Conceito de Repetição em Mrs.Dalloway de Virginia Woolf e em As Horas de Stephen Daldry “The human race seems to repeat itself insufferably” Virginia Woolf Introdução A questão do Tempo tem-se revelado um dos maiores problemas filosóficos desde a Antiguidade. De Platão e Aristóteles, passando por Santo Agostinho, Kant, Nietzsche, Bergson, entre muitos outros, o conceito de Tempo foi definido e explorado a partir de inúmeras perspectivas. Na literatura, visões tradicionalistas abordaram o Tempo cronologicamente, tratando este conceito como um fluxo unidireccional de passado, presente e futuro. Novas teorias emergiram no final do século XIX, desconstruindo a ideia de Tempo e apresentando-o sob uma nova luz. Virginia Woolf nasceu durante a revolução do conceito e foi uma das grandes romancistas do Tempo, pioneira no abandono de atitudes convencionais que há muito tinham deixado de servir o escritor. O seu romance Mrs.Dalloway serviu de inspiração para o livro As Horas de Michael Cunningham, que em 2002 foi adaptado ao cinema por Stephen Daldry. O Tempo tem um papel importantíssimo nestas três obras, tendo já sido estudado exaustivamente. No entanto, dentro do tema do Tempo, a presença da repetição no romance de Woolf e no filme de Daldry foi ainda pouco explorada. Repetir qualquer coisa é, por definição, apresentar essa mesma coisa em dois (ou mais) momentos distintos no tempo. Virginia Woolf usa esta técnica em Mrs.Dalloway para estabelecer uma posição filosófica vincada em relação ao Tempo, que é aproveitada em As Horas. Há portanto dois tipos de repetição que analisarei neste trabalho: a repetição que se dá dentro dos enredos de cada obra (auto-referencial) e a repetição que é constituída pelo recontar de Mrs.Dalloway em As Horas. Para uma melhor compreensão da influência da repetição no livro e no filme, começarei por analisar as influências que esculpiram a visão do Tempo de Virginia Woolf, fazendo depois a comparação entre o uso da repetição em Mrs.Dalloway e As Horas.

Mrs.Dalloway Publicado em 1925, Mrs.Dalloway conta a história de um dia na vida de Clarissa Dalloway, que tenta cobrir o seu sofrimento e infelicidade ao fazer compras por Londres para uma festa que dará essa noite. Clarissa questiona-se sobre se tomou a decisão certa ao casar com Richard Dalloway em vez de Peter Walsh, uma escolha que fora mais segura e entediante. No mesmo dia, Septimus Warren Smith, um veterano da Primeira Guerra que sofre de stress pós-traumático, passeia com a mulher num parque de Londres, tendo várias alucinações. Suicida-se no mesmo dia ao saltar de uma janela. Durante a festa de Mrs.Dalloway é-lhe dada a notícia de que um homem se suicidara, uma acção que Clarissa admira por se tratar de uma tentativa de preservar a pureza da felicidade. 1

Introdução à Problemática das Ciências Humanas Maria Matilde Real nº49986

As Horas As Horas conta a história de um dia na vida de três mulheres em três épocas distintas, que são representadas alternadamente. A primeira, em 1923, é Virginia Woolf, que começa a escrever Mrs.Dalloway nos subúrbios de Londres, onde se sente presa e infeliz. Virginia ouve vozes e tem alucinações, tendo cometido várias tentativas de suicídio. É apenas em 1941 que tira a própria vida, afogando-se num rio com pedras nos bolsos, sendo essa a primeira e última cena do filme e a única que é a excepção da representação de um único dia na vida de Virginia. A segunda mulher é Laura Brown, uma dona de casa deprimida que vive nos subúrbios de Los Angeles em 1951 e que está a ler Mrs.Dalloway numa tentativa de escapar à trivialidade da sua vida. Apesar de fantasiar com a ideia, não tem coragem para cometer suicídio. Clarissa Vaughan vive em Nova Iorque em 2002 e prepara-se para dar uma festa em honra do seu amigo e amante Richard, um escritor com sida que recebeu um prémio. A alcunha que Richard dá a Clarissa é Mrs.Dalloway por esta se distrair da sua própria vida, tal como a protagonista no romance de Woolf. Richard não chega a receber o prémio, pois atira-se da janela do seu quarto, pondo um fim à sua vida.

Virginia Woolf e o Tempo Virginia Woolf escolheu padrões temporais fora da norma para os seus romances. O seu conceito de Tempo influenciou tanto a estrutura das obras como a caracterização das suas personagens. Tendo crescido no seio de uma família intelectual e literária, Woolf encontrou cedo a necessidade de formular novas abordagens perante o Tempo. De acordo com visões tradicionalistas que vigoraram durante séculos antes do nascimento de Virginia, o Tempo era uma corrente cronológica e ininterrupta, composta por passado, presente e futuro. A estrutura do romance tradicional era baseada nos padrões cronológicos de uma série de eventos. No entanto, já de acordo com a teoria da relatividade de Einstein, a duração de um acontecimento depende das referências do observador. Por outras palavras, o Tempo é relativo, estando este argumento na base da visão do Tempo do escritor moderno. Virginia Woolf vê o Tempo de uma forma muito pessoal, subjectiva e variável, que contrasta profundamente com o tempo do relógio, com o qual se preocuparam os tradicionalistas. De acordo com o Tempo tradicional, cada dia tem a mesma duração, tal como cada hora e cada minuto. Tal como o tempo do relógio é baseado na repetição do espaço percorrido por ponteiros, o tempo da mente também é criado a partir desta repetição, mas a um nível pessoal. O interesse original de Virginia Woolf era transmitir o Tempo como um fluxo dentro do qual encontrava algo permanente: a repetição de padrões. A autora Margaret Church afirma que Woolf captura o sentido de permanência através de duas maneiras: “(…) by a sense of return to the past and by an arrested moment within which the return is effected.”1 Estes “arrested Margaret Church, Time and Reality, North Carolina, The University of North Carolina Press, 1963, p.100 1

2

Introdução à Problemática das Ciências Humanas Maria Matilde Real nº49986 moments” de Woolf são o padrão através do qual o homem consegue medir o seu tempo pessoal, a tal repetição. Woolf foi extremamente influenciada pelas teorias de Henri Bergson. Em Essai sur les données immédiates de la conscience, Bergson afirma que o Tempo é um meio através do qual as experiências são dispostas pela mesma ordem na qual se encontram no espaço: uma experiência segue-se directamente de outra. A sua maior contribuição para o escritor contemporâneo foi tê-lo libertado das divisões artificiais do tempo do relógio, apresentando um conceito de Tempo que encontra significado nas experiências íntimas do homem. Para Bergson, a diferença entre medir o Tempo com um relógio e Tempo que é sentido e experienciado intimamente é a diferença entre o Tempo que pertence ao espaço e o Tempo que pertence à duração, sendo na experiência íntima de duração (durée) onde se encontra a realidade. Durée é um fluxo constante que existe na mente, onde o presente, passado e futuro não estão separados, ignorando a sucessão do tempo do relógio. O tempo interno é pura duração, que pode, em apenas um momento ou um dia, conter a essência de uma vida, sendo Mrs.Dalloway e As Horas um exemplo desta teoria. Não há provas de que Woolf tenha lido Heidegger, no entanto também ele tinha uma visão do Tempo que abordava o conceito de forma íntima. O Tempo existencial focava-se na duração da vida do indivíduo, onde este tem consciência do seu nascimento e da sua morte, e portanto das suas potencialidades. Há uma ligação forte entre esta visão do Tempo e as obras de Virginia Woolf.

A Repetição em Mrs.Dalloway e n’As Horas A ligação entre estas duas obras é complexa e difícil de explicar. No entanto, a repetição é certamente um elemento de conexão entre Mrs.Dalloway e As Horas. Há dois tipos de repetição que fazem o elo entre as obras: o primeiro é a repetição existente dentro de cada enredo, sendo auto-referencial. O segundo é os pormenores em Mrs.Dalloway que são repetidos em As Horas, incluindo o facto de As Horas ser em si mesma uma repetição do romance de Woolf. Começando pela repetição dentro de Mrs.Dalloway, Virginia Woolf usa este método para dar coesão ao romance e especialmente para enfatizar a ligação entre as personagens. Tal como Bruce Kawin explica em Telling It Again and Again, “Repetition makes identical. People who perform identical actions are related by virtue of that action; the differences between them are obliterated, just as the temporal discrepancies between performances of an identical act are suspended”2. Woolf usa a repetição para ligar personagens mas também para desafiar o tempo do relógio pois, tal como Kawin afirma, o espaço temporal fica suspenso entre duas acções que são idênticas. Um exemplo deste argumento está também n’As Horas, onde o tempo que separa as três mulheres fica suspenso por meio das pequenas frases ou gestos repetidos que as ligam. Ao usar a repetição com este objectivo (suspender o tempo que liga personagens) Virginia Woolf e Stephen Daldry regressam

Bruce, Telling It Again and Again, Repetition in Literature and Film. Ithaca and London: Cornell University Press, 1972, p145 2Kawin,

3

Introdução à Problemática das Ciências Humanas Maria Matilde Real nº49986 uma vez mais às teorias de Bergson, onde as regras do tempo do relógio são ignoradas e o tempo psicológico é enfatizado. A repetição dá uma ideia de coerência a Mrs.Dalloway, porque para além de ligar as personagens entre si, aponta o leitor para a primeira ocorrência da frase ou imagem repetida. A narrativa não progride cronologicamente de evento para evento porque se refere repetidamente a si mesma. Em Mrs.Dalloway há uma frase de Shakespeare que é repetida por diferentes personagens (“Fear no more the heat o’ the sun, nor the furious winter’s rages”). Clarissa Dalloway diz ou pensa nesta frase pelo menos três vezes durante o romance, uma frase em que Septimus Warren Smith também pensa. O facto de estas duas personagens pensarem na mesma frase indica que estão ligadas. A sua separação no tempo e espaço desaparece quando a frase é repetida, e assim se unificam. Semelhantemente, As Horas também contém frases repetidas (ou semelhantes). No filme, Virginia Woolf pensa na frase que iniciará o seu romance: “Mrs.Dalloway said she would buy the flowers herself”, havendo de seguida um corte na montagem para 1951, onde Laura Brown lê e repete essa mesma frase no livro de Woolf: “Mrs.Dalloway said she would buy the flowers herself”, havendo um terceiro corte para 2002, onde Clarissa Vaughan diz: “Sally, I think I’ll buy the flowers myself”. Esta repetição liga as três mulheres, desafiando mais uma vez o tempo do relógio. No entanto, a maior diferença entre Woolf e Daldry no que toca o uso da repetição é que em Mrs.Dalloway esta técnica é utilizada de forma muito subtil, sem que o narrador lhe dê atenção, quase que passando despercebida ao leitor. N’As Horas, contudo, a repetição é bastante enfatizada pela montagem do filme, que se foca precisamente nos pormenores comuns às três mulheres. Um dos motivos mais marcantes em Mrs.Dalloway é o Big Ben e as suas batidas repetidas. É um elemento que divide o romance em unidades temporais. Cada vez que o Big Ben soa em Londres marca o início de um novo episódio. Também funciona como um elemento unificador, criando uma realidade em relação à qual o tempo psicológico de cada personagem se coloca e pode ser medido. As personagens (e o leitor) são relembradas de que existe uma realidade exterior cada vez que ouvem as batidas repetidas do relógio. As Horas é uma imitação de Mrs.Dalloway (entre outras coisas), onde se repetem motivos do romance. Um deles é precisamente o batimento do Tempo que Virginia Woolf descreve através do Big Ben, que n’As Horas toma a forma da banda sonora composta por Philip Glass, onde cadências repetitivas transmitem a passagem do Tempo quase como num relógio. Há também durante muitas cenas do filme o som do Tempo a passar em relógios, uma vez mais relembrando as personagens (e o espectador) de que há uma realidade exterior aos seus pensamentos. Tanto As Horas como Mrs.Dalloway usam a repetição para dar uma estrutura cíclica aos enredos. O filme começa e acaba no mesmo momento: o suicídio de Virginia Woolf. A morte é o instante no qual o tempo do relógio se esgota, relembrando o argumento de Heidegger em que o Tempo se foca na duração da vida do indivíduo. A repetição desta cena transmite também uma impressão cíclica do filme, tal como os sinos do Big Ben em Mrs.Dalloway. no romance, o Tempo avança de uma forma linear, da manhã para a noite, e no entanto os sinos são recorrentes, dando à história uma atmosfera repetitiva em vez de progressiva. O facto de cada uma das histórias se passar num único dia da vida das personagens contribui para o tema da circularidade. Para além dos suicídios de Richard no filme e de Septimus no livro (e a quase 4

Introdução à Problemática das Ciências Humanas Maria Matilde Real nº49986 tentativa de suicídio de Laura Brown), os eventos que formam as duas obras não são particularmente notáveis, sugerindo que estes acontecimentos banais (ex.: dar uma festa, receber a irmã para almoçar, preparar um bolo, comprar flores, etc.) podem ter lugar em qualquer dia e acontecem todos os dias. O conceito de circularidade explorado em relação à repetição é o tema central de uma das teorias de Deleuze.

Deleuze e os Três Modelos do Tempo Repetir uma frase significa (tradicionalmente) dizer a mesma coisa duas vezes em dois momentos distintos. Gilles Deleuze reconsidera o conceito de repetição ao teorizar três modelos do Tempo. O primeiro é o Tempo visto como um círculo. O Tempo circular passa por repetições naturais, tais como o Sol levantar-se todas as manhãs ou a passagem da Primavera para o Verão. Deleuze sugere que os elementos da tragédia também operam ciclicamente. O destino é um círculo, uma sucessão de instantes governados por uma lei externa. Mrs.Dalloway e As Horas contêm este modelo do Tempo representado no passar do dia, no facto de as histórias se passarem num único dia, onde o Sol se levanta e se põe para todas as personagens, ainda que em anos diferentes. Quando o Tempo é considerado nestes termos, Deleuze argumenta que a repetição está apenas relacionada com o hábito. O indivíduo está sujeito à passagem de momentos que se repetem (ex.: o movimento do Sol) e adquire hábitos que fazem do Tempo um presente contínuo que se repete. O suicídio de Virginia Woolf no filme é um exemplo deste modelo do Tempo, repetindo-se no começo e no fim da obra, tão seguro e constante como o ciclo do Sol. Gilles Deleuze liga o segundo modelo do Tempo a Kant, vendo o Tempo como uma linha recta. Em Crítica da Razão Pura, Kant liberta o Tempo do seu modelo circular ao vê-lo de uma forma que se baseia na experiência: “O Tempo não é um conceito discursivo, ou, como se diz, um conceito universal, mas uma forma pura da intuição sensível.”3 Para Deleuze, este argumento coloca o Tempo numa linha recta, onde nada regressa e cada momento é único. Para se ter uma ideia dos acontecimentos é necessário um processo constante de síntese, que vai buscar significado a instantes passados. Deleuze chama a esta síntese memória. Ao contrário do hábito, a memória não se relaciona com o presente mas com o passado. Neste modelo do Tempo, o papel da repetição é activo na síntese dos acontecimentos, pois estes repetem-se na memória. Deleuze insiste que estes dois modelos do Tempo forçam a repetição a servir o idêntico, fazendo do conceito um processo secundário. O terceiro modelo é onde Deleuze propõe fazer da repetição em si a forma do Tempo. Deleuze liga os conceitos de diferença e repetição, argumentando que a repetição não pode ser compreendida como a repetição do mesmo objecto. Para melhor explicar o conceito de repetição como forma do Tempo, Deleuze regressa à teoria de Nietzsche do Eterno Retorno. No entanto, Deleuze explica que o Eterno Retorno não deve ser visto como um retorno do idêntico, não se trata do ciclo do hábito (Primeiro modelo do Tempo), pois isso resultaria apenas no retorno de algo que já existira. Para Deleuze, o Eterno Retorno 3

Kant, Crítica da Razão Pura, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2001, p97

5

Introdução à Problemática das Ciências Humanas Maria Matilde Real nº49986 é a repetição daquilo que é diferente de si mesmo: “the subject of the eternal return is not the same but the different, not the similar but the dissimilar”4. A repetição no terceiro sentido do Tempo toma a forma do Eterno Retorno, porém tudo o que existe como uma unidade não voltará, apenas aquilo que difere de si mesmo. Enquanto que o hábito era o tempo do presente e a memória o tempo do passado, a repetição como Eterno Retorno é o tempo do futuro. Mas se apenas o que é diferente pode voltar, então o Eterno Retorno opera selectivamente, sendo a afirmação da diferença. As três histórias das mulheres n’As Horas são um exemplo deste modelo do Tempo. São uma história que se repete em três tempos diferentes e que difere de si mesma nas três épocas, mas que no entanto continua a ser recontada. Virginia Woolf, Laura Brown e Clarissa Dalloway contam essencialmente três versões diferentes da mesma história. Cada uma com as suas idiossincrasias e adaptada à sua época, mas que não deixa de ter o fio comum de uma clara repetição. Não são apenas as histórias dentro d’As Horas que estão sujeitas ao Eterno Retorno, mas a própria obra é um exemplo dessa teoria. As Horas é um recontar de Mrs.Dalloway que no entanto difere do próprio romance, contendo também a sua história. Ao escrever (ou reescrever) o romance,”although Michael Cunnigham remains true to Woolf’s general vision and depiction of human consciousness, he clips her style and popularizes her techniques.”5 As Horas é um recontar de Mrs.Dalloway que, de acordo com a teoria de Deleuze, chegou até nós por meio do Eterno Retorno.

Conclusão Ao escolher o nome As Horas para o seu romance, Cunningham desafia a cronologia dos acontecimentos, posicionando a sua obra antes da criação de Mrs.Dalloway, pois As Horas foi o título original escolhido por Virginia Woolf para Mrs.Dalloway. A ligação entre as duas obras é complexa e difícil de definir. As Horas são um recontar de Mrs.Dalloway que no entanto é bastante diferente do original de Woolf. Apesar de partilharem muitas características no seu estilo e estrutura, a sua relação vai muito além da relação entre o original e a cópia. O filme de Daldry ainda se consegue aproximar mais do romance de Woolf do que o livro de Cunningham devido à sua montagem e banda sonora, que forma muitos paralelos com a história de Clarissa Dalloway. Essa história encontra-se representada em várias personagens, tais como Clarissa Vaughan, mas também a protagonista do livro que a personagem Virginia Woolf imagina, e a protagonista do livro que Richard escreveu. As ligações entre as personagens existem para além do tempo do relógio, sendo estabelecidas através do uso da repetição, que se torna óbvio através da montagem do filme de Stephen Daldry. Há dois tipos de repetição presentes nas obras: a repetição dentro dos enredos de cada uma, sendo auto-referencial, e a repetição que se dá entre as obras, sendo As Horas um recontar de Mrs.Dalloway. Daldry não só integra cenas de Dalloway em As Horas como também repete imagens em diferentes partes do filme para indicar que as personagens partilham os mesmos sentimentos e 4

Gilles Deleuze, Difference and Repetition, Bloomsbury Publishing, 2004, p126

5

http://www.ethesis.net/Dalloway/Dalloway.htm

6

Introdução à Problemática das Ciências Humanas Maria Matilde Real nº49986 tempo psicológico. Imagens repetidas tais como um ramo de rosas são usadas como pontos de transição que enfatizam as ligações entre personagens. No início do filme o espectador é confrontando com um ramo de rosas nas três narrativas. Cada ramo filmado segue-se rapidamente de outro ramo noutro espaço temporal, estabelecendo uma forte conexão entre a vida das três protagonistas. Woolf usou elementos tais como o barulho de carros ou um avião que escreve uma mensagem no céu para ligar personagens. Woolf e Daldry regressam às teorias de Henri Bergson, onde as regras do tempo do relógio são ignoradas e o tempo psicológico é enfatizado, criando fortes ligações entre personagens. Ao usar as mesmas técnicas que Woolf usou, Daldry revive Mrs.Dalloway, que nos é mostrada sob uma nova luz mas que é a mesma na sua essência, dando voz ao argumento do Eterno Retorno defendido por Gilles Deleuze.

Referências Bibliográficas 1. Bergson, Henri, Time and free will, an essay on the immediate data of consciousness, George Allen, 1957 2. Church, Margaret, Time and Reality, North Carolina, The University of North Carolina Press, 1963 3. Cunningham, Michael, The Hours: a Novel, Picador, 2005 4. Deleuze, Kant, Difference and Repetition, Bloomsbury Publishing, 2004 5. Duran, Jane, Virginia Woolf, Time, and the Real, Project Muse, 2004 6. Kant, Immanuel, Crítica da Razão Pura, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2001 7. Kawin, Bruce, Telling It Again and Again, Repetition in Literature and Film. Ithaca and London: Cornell University Press, 1972 8. Miller, Joseph Hillis, The J. Hillis Miller Reader, Stanford University Press, 2005 9. Woolf, Virginia, Mrs.Dalloway, Penguin Books, London, 2006

Filmes: The Hours realizado por Stephen Daldry

Sites: 1. h t t p s : / / r e p o s i t o r i e s . t d l . o r g / t t u - i r / b i t s t r e a m / h a n d l e / 2346/14308/31295004139241.pdf?sequence=1

7

Introdução à Problemática das Ciências Humanas Maria Matilde Real nº49986 2. http://voices.yahoo.com/repetition-as-social-criticism-virginiawoolfs-3398158.html 3. http://www.ethesis.net/Dalloway/Dalloway.htm 4. http://www.iep.utm.edu/deleuze/#SH4c

8

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.