O Conceito deEducação

September 30, 2017 | Autor: Marcos Spitzer | Categoria: Marxismo e educação
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O Conceito de Educação Antes de debater quaisquer formas de educar, visões pedagógicas, linhas de pesquisa etc., é necessário refletir sobre o que é educação e, consequentemente, os fatores que envolvem a intervenção educacional. A palavra data do século XVII, do latim educãtîõ –õnis, fazendo alusão ao processo de desenvolvimento físico, moral e intelectual da criança, tornando-a polida. Ora, para estes indivíduos, inseridos nesse contexto histórico, polir era tornar lustroso, brilhante, com luz. Os chamados filósofos iluministas se autodenominavam assim, por acreditarem que sua missão era trazer luz para o pensamento da sociedade europeia. Uma vez que a sociedade medieval era chamada por eles com muito preconceito de idade das trevas. Dessa forma, é necessário questionar e analisar quem eram de fato esses pensadores? Quem eles representavam ou defendiam? Qual era a classe social desses indivíduos? Algo um tanto óbvio, e ilustrado com muita ironia e graça na música: Metrô Linha 743 do cantor brasileiro Raul Seixas diz: “...quem pensa, pensa melhor parado”. Estaria Sócrates, Platão ou Aristóteles carpindo o campo quando desenvolveram seus pensamentos? Para que estes e outros grandes mestres da antiguidade desenvolvessem seu trabalho existia uma camada social trabalhando arduamente, que nesta época eram os escravos. Assim como, os filósofos iluministas - Voltaire, Diderot ou Rousseau - com certeza não estavam em nenhuma marcenaria, mina de carvão ou algo do tipo quando defendiam seus pontos de vista. Por essa ótica pode-se dizer que tal pensamento pertence a uma classe social dominante, que está completamente longe de ser imparcial ou despretensiosa. A definição de educação aplicada a mais de trezentos anos continua viva e, não por acaso, impera ainda hoje. Trata-se de uma conveniência da classe dominante que vê na instituição Escola uma excelente ferramenta de dominação e manutenção do status quo. Atualmente, existem outras visões sobre educação, por exemplo: a encontrada no livro História da Educação no Brasil de Otaíza de Oliveira

Romanelli, que compreende que o ser humano está no mundo e relaciona-se com ele, transformando-o e sendo transformado. Esses seres indivíduos comunicam-se, “transmitindo a outrem os resultados de sua experiência”. Educação nesse caso está ligada ao ato de transmitir o saber. Não o saber preestabelecido pelos que governam e dominam, mas um saber geral, das mais simples tarefas domésticas às maiores descobertas da biogenética. Antonio Gramsci é o pensador que vai além dessa afirmação de que a educação está a serviço da classe dominante. Para o pensador não só a educação, mas toda a cultura é ditada pelo poder dominante. O empresário estabelece dentro do sistema que já criou, as funções para servir a esse sistema. Logo, a escola, o diretor, o professor são apenas exemplos das criações do “empresário”, assim sendo, é impossível pensar uma educação dentro dos moldes já estabelecidos que não seja para manutenção do sistema político e econômico que os criou. Na mesma linha de raciocínio, Che Guevara afirmava que não era possível mudança política através das eleições, uma vez que essa ferramenta fora criada apenas para manutenção da ideologia capitalista, que engana a si mesma com a farsa da democracia. Um aluno de sexta ou sétima série que tenha lido Leandro Konder compreende esta farsa. Konder apresenta a democracia como algo para muito além das urnas. Democracia é a participação efetiva do povo nas decisões políticas. A sociedade capitalista separa desde muito cedo, os indivíduos que pensarão daqueles que trabalharão de forma braçal. Perecendo que os últimos são incapazes de exercerem funções intelectuais na sociedade. Entretanto, é impossível desenvolver qualquer forma de trabalho manual sem exercer o mínimo de atividade intelectual. Não se separa o homo sapiens do homo faber. Portanto, todos os seres humanos são intelectuais, sendo capazes de decidir e de governar.1

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Gramsci in MONASTA, Attilio. P.21 Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana,2010.

Essa teoria de que a educação está a serviço do sistema capitalista se comprova naquilo que é “ensinado” nas escolas. Criou-se uma cultura da escrita e da leitura do texto escrito, desprezando o saber não acadêmico. Há um verdadeiro culto à academia. Isso claro porque a academia pode então controlar o que se deve ou não ensinar nas escolas. Há variações dentro dos pensamentos pedagógicos, entretanto, a maioria leva ao mesmo caminho, a valorização da vida acadêmica, como se a solução para todos os problemas fosse a universidade, como se os acadêmicos tivessem resposta para tudo. Já a realidade da população brasileira é bem distinta, pouquíssimos alunos das escolas de periferia pensam em fazer faculdade e, quando pensam, esbarram em inúmeros obstáculos que irão selecionar e reduzir o número de pessoas que acessarão o nível superior. Mesmo assim as escolas desprezam aqueles que não pensam em vestibular e focam seus objetivos e metas nessa tão temida ferramenta de segregação da elite capitalista. Está claro que o papel da educação não deve ser o de transmissora de conhecimentos, ou melhor, de conteúdos preestabelecidos. A educação deve ser algo que nos liberta. Nos liberta da alienação, da dependência do pensamento elitista, com a pretensão de emancipar a capacidade de pensar e agir dos educandos e educadores.

Por Marcos Spitzer [email protected]

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