O Concelho de Sortelha em 1758 - Memórias Paroquias

June 14, 2017 | Autor: Carlos Jorge | Categoria: Historia Política y Social Siglos XVIII-XIX, Siglo XVIII, Historia Local, Municipalismo
Share Embed


Descrição do Produto

-

CARLOS HENRIQUE GONÇALVES JORGE

o CONCELHO

DE

SORTELHA EM 1758 MEMÓRIAS PAROQUIAIS

FORCALHOS-SABUGAL 1993

-.

-INTRODUÇÃO

I

. Começámos por transcrever algumas memórias paroquiais de 1758, no nosso jomalzito da Associação Recreativa e Cultural dos Forcalhos, em Janeiro de 1984. Surgiu, depois, a idéia de publicar as memórias das freguesias que hoje integram o concelho do Sabugal. Por diversas razões, decidimo-nos por organizar vários cadernos dedicados aos antigos concelhos de Alfaiates, Sabugal, Vila do Touro e Vilar Maior. De facto, na base do actual concelho estão, essencialmente, cinco antigas municipalidades: Sabugal, Alfaiates, Sortelha, Vilar Maior e Vila do Touro. No primeiro caderno, saído em 1989 e dedicado ao concelho de Alfaiates, publicaram-se as "memórias" das freguesias de Aldeia da Ponte, Alfaiates, F orcalhos e Rebolosa. O segundo, de 1990, contém as freguesias do concelho de Vila do Touro: Lomba dos Palheiros. Quintas de S. Bartolomeu, Rapoula do Coa e Vila do Touro. O terceiro. também de 1990, sobre o concelho do Sabugal, contemplou as freguesias da vila (S. João e Nossa Senhora do Castelo) e as restantes dó teimo: Aldeia Velha, Fóios, L~eosa. Nave, Quadrazais, Rendo. Ruivós, Ruvina, Souto, Vale das Eguas, Vale de Espinho. Valongo e Vila Boa. O quarto, de 1991, incluiu as freguesias de Aldeia da Ribeira. Badamalos, Bismula, Malhada Sorda, Nave de Haver. Poço 7 I

Velho e Vilar Maior. todas do concelho encabeçado por esta última. Este quinto caderno. preparado de há muito. ocupa-se do concelho de Sortelha. Não o vamos mandar imprimir. Dele faremos. apenas. moa meia dúzia de exemplares. em computador pessoal..

Como se sabe. as reformas administrativas do liberalismo. iniciadas com Mouzinho da Silveira, conduziram à extinção de muitos municípios, Das reformas da época damos especial relevo ao decreto de 6 de Novembro de 1836. publicado pelo Governo de Passos Manuel. Nele se declara que se eliminaram 465 municípios. Na realidade, o número foi superior(l). Segundo Marcelo Caetano, havia 828 concelhos. suprimiram-se 498. criaram-se 21 novos. ficaram a existir 351. Pois foi com este decreto de 6 de Novembro de 1836 que desapareceram os concelhos de Vila do Touro e de Alfaiates por serem absorvidos, respectivamente. pelo do Sabugal e pelo de Vilar . Maior. Passados poucos anos. em 1885. por decreto de 24 de Outubro. também os concelhos de Castelo Mendo, Sortelha e Vilar Maior foram extintos e incorporados no do Sabugal. Depois de outras alterações de menor importância, o concelho do Sabugal tem. presentemente, quarenta freguesias: Águas Belas, Aldeia do Bispo. Aldeia da Ponte. Aldeia da Ribeira, Aldeia de Santo Antônio, Aldeia Velha, Alfaiates, Badamalos, Baraçal.. Bendada, Bismula, Casteleiro, Cerdeira, Fóios, Forcalhos, Lageosa, Lomba, Malcata, Moita, Nave, Penalobo, Pousafoles, Quadrazais, Quintas de S. Bartolomeu, Rapoula, Rebolosa, Rendo, Ruivós, Ruvina, Sabugal, Santo Estêvão, Seixo do Coa, Sortelha,

8



Souto, Vale das Éguas, Vale de Espinho, Valongo, Vila Boa, Vila do Touro, Vilar Maior.

As "Memórias Paroquiais de 1758" surgem na sequência de uma tentativa de elaboração de um dicionário geográfico do país e enquadram-se numa série de inquéritos promovidos no século XVllI. Vamos aludir aos principais.

9

INQUÉRITO DE 1721 Por decreto de 1720, D. João V instituiu a Academia Real de História Portuguesa e confiou-lhe o encargo de escrever a "História Ecclesiastica destes Reynos, e depois tudo o que pertencer a toda a Historiadelles, e de suas conquistas" ou, como se lê nas noticias da primeira conferência da Academia. "compor a Historia Ecclesiastica com o titulo de Lusitania Sacra. e depois tudo o mais que pertencesse à Secular"(2). Para recolher elementos indispensáveis ao desempenho da sua missão, a Academia. logo na conferência de 5 de Janeiro de 1721, aprovou as listas de pedidos a remeter a Bispos e Arcebispos, aos Cabidos, às Ordens Religiosas.às Câmaras e aos Provedores das Comarcas de todo o reino. Obedeciam ao esquema que se segue.

MEMORIA

DAS NOTICIAS

QUE ELREY NOSSO SENHOR

ORDENA SE DEM Á ACADEMIA REAL DA mSTORIA PORTUGUESA DE TODOS OS CARTORIOS E ARClHVOS DO REYNO. Do. Arcebl.pados

e Bispados

Procura-se saber se ha alguns livros, ou memorias impressas, ou manuscritas das antiguidades dessa Cathedral, ou de alguma das outras do Reyno? Quando e por quem foy fundada essa Cathedral, e as Collegiadas, Paroohias, Ermidas, e Capellas dessa Diocesi? Que Igrejas suffraganeas teve, e tem essa Igreja, ou a quaes foy suffraganea, e a qual o he hoje? Que Bispos Coadjutores houve nessa Igreja? Se nessa Igreja, ou Diocesi ha algum exemplar aritigó· do proprio Missal, Breviario, Ritual, Bautisterio, Processionario, ou ~artirologio, de que antigamente se usava? Que Ritos, e Ceremonias houve, ou ha na Sé differentes dos Romanos? 10

\

-

.

Se ha nessa Díocesi alguns Santuarios celebres, ou Reliquias insignes, e que authenti.cas, ou tradições ha dellas, e que Imagens milagrosas ha em toda a Diocesi, e quantas são? Que rendas tem essa Igreja, em que consistem, se tem.ou teve alguma jurisdiçaõ temporal? Que extensaõ teve, e tem o seu destricto? Com que Díocesis confina. e por donde? Que Parochiastem, e que numero de fregueses? Que Mosteiros tem, de que Ordem, e sexo, e a quem saõ sugeitos os das Religiosas, quando, e por quem foraõ fundados todos? Que Seminarios, Casa.de Orfaõs, Casas de Misericordia, Recolhimentos, Hospitaes, e mais lugares pios tem essa Díocesi? Que Procissoens se fasem na Cidade por costume, ou voto, e qual foy a sua origem? Que Varoens insignes em virtudes, ou letras foraõ naturaes dessa Cidade, ou Díocesi, e se ha relações especiaes das suas vidas, impressas, ou manuscritas? Se dos Prelados dessa Díocesi ha Catalogo impresso; ou manuscrito, em que Prelado acaba, quem he o seu Author, e em que tempo viveo? Quem foy o primeiro Prelado dessa Díocesi, se os Prelados dessa Diocesi em a1gum tempo viveraõ em Communidade com os Conegos, e quando, e porque causa se separàraõ, e se dividimõ as rendas? Como se intituláraõ os Prelados, e de que Se110susáraõ? Em que tempo tomàraõ os Prelados posse; que annos govemàraõ; quando morrêraõ; aonde. estaõ sepultados, e que Armas, e letreiros tem nas sepulturas? Que fabricas fiseraõ os Prelados, que livros compuseraõ? Que Dignidades. Conesias, Benefícios, que Capellas, e Anniversariosinstituiraõ? Se esteve a Díocesi muitos annos sem Prelado,e porque causa? Se por causa de scisma se chamàraõ ao mesmo tempo dous Bispos Prelados dessa Igreja? Se estiverão os Prelados ausentes do Reyno, e porque causa, e quanto tempo, e adonde? Se fiseraõ Visitas, e Capitulos dellas? Se celebrarão Sinodos, fiseraõ Constituições, Estatutos, ou Pastomes? Se fiseraõ visitas ad limina Apostolorum, e se estas se conservaõ? 11

Se tiverão commisoens dos SlllIlIDOS Pontífices, e que obràraõ com ellas? Se assistirão em Cortes no Reyno, ou fóra delle? Que memoria ha das suas virtudes? Se déraõ algumas peças notaveis à sua Sé, ou a outras Igrejas? Que pleitos tiverão, ou com jurisdição secular, ou com os seus Cabidos, ou com as Ordens Regulares, Canonicas, Monacaes, Mendicantes, e Militares, e com que successo? Em especial do Cartorio da Camera Ecclesiastica se deseja o seguinte Inventario de todas as BulIas Apostólicas, que nelle .houver com o nome do Bispo, a que se dirigiraõ, e era, ou anno em que se passaraõ. Inventario de todos os privilégios, e doações Reaes, e das doações de quaesquer pessoas. Inventario de todos os autos de posse, e promoções de Bispos, e de todos os mais papéis, advertindo que nos livros, e massos se declare miudamente o que contem por partes, e declarando a era de cada Instrumento, e as partes que os assinaõ; e havendo alguns papéis, ou pergaminhos, que se naõ saibaõ ler, se avise para a Academia mandar pessoas que os leaõ; e se pergunta se ha nestes Cartorios como alfabetos, que facilitem a leitura, ou algumas memorias dos brasoens antigos antes da reforma em tempo delRey Dom Manoel, para conhecer as Armas das sepulturas antigas, e saber a que famílias pertencem. Inventario dos livros dos Registros, e Chancellaria., declarando os annos em que começa, e acaba qualquer delles. Inventario de todos os autos, Instrumentos, e inquirições sobre Relíquias, milagres, ou santidade de quaesquer pessoas. Inventario de todas as erecções de Parochias, Ermidas, Capellas, Confrarias, e mais obras pias. Inventario dos livros de Collaçoens, e Provimentos de Igrejas, com os annos em que cada hum acaba, e começa. Inventario que declare os annos, em que começaõ, e acabaõ os livros da Matricula dos Ordinandos. Inventario de todos os Emprasamentos, que os Bispos :fiseraõ, com seus nomes e annos. Inventario de todos os Censuaes das Igrejas. Inventario de todos os testamentos dos Bispos. 12

Inventario de todas as Instituições de Capellas, Hospitaes, e lugares pios, que na Camera estiverem registrados, declarando o anno em que foraõ feitos, e nomes dos Instituidores. Aos Parochos se recomende copiar os letreiros das sepulturas, e Capellas das suas freguesias, e as Almas que tiverem, e juntamente saber delles se nos Cartorios das Igrejas ha algumas memorias antigas, e quando se começaraõ os livros de Bautisados, Casados, e Obitos que se conservaõ; e a mesma diligencia se deve saber na Camera aonde he costume virem semelhantes livros a ella, depois de certo tempo, como tambem dos annos em que começaõ as diligeneias de genere mais antigas que se conservaõ. Deve-se ter a segurança que de nenhuma parte se ha de tirar papel algum original, e sómente se tiraráõ copias, e estas com tal attençaõ, e cautela, que quando convenha ter segredo em algumas eousas, que contem estes documentos, o guardará inviolavel o Secretario, tirando somente o que servir à Historia. A pessoa, a que se commetter esta diligencia, escreverá ao Secretario da Academia com este sobrescrito. Do Serviço de S.Magestade. Ao Conde de ViIlarmayor. Lisboa Occidental. E quando elle recomendar a alguns Academicos, assim dos que assistem na Corte, como dos que vivem nas Províncias, o exame de algus documentos, se espera que se lhes communiquem todas as noticias, e se lhes mostrem os originaes que pedirem, e lhes fàcilitem o exame dos Cartorios. Para se remetterem estas noticias ao Secretario da Academia, naõ se deve esperar que estejaõ todas juntas, mas he conveniente que se mandem successivamente assim como se forem descobrindo, para que mais promptamente possaõ usar dellas os Aeademicos, applicando-as cada hum logo à parte, a que pertencerem na Historia, que lhe está encomendada.

Dos Cabidos das Cathedraes Quem fez a fabrica da Sé, e de que consta? Se he sagrada essa Sé, por quem, e quando? Os letreiros das Capellas, e sepulturas dessa Sé com os escudos de Almas que tiverem. De que Sello usa ou usou esse Cabido? que Estatutos, e quem os confirmou? que Prebendas, e Dignidades? 13

Se ha memoria de o Cabido eleger os Bispos? Que Procissoens especiaes por voto, ou devoçaõ se costumaõ faser? Se tem Jurisdições, Padroados, e outras mais rendas, e em que consistem? Que pessoas ha curiosas de antiguidades, e que tenha.õ memorias antigas? E do seu Archivo se procuraõ os Inventarios de todas as Bullas, Privilegiosc.eDoações hiventario de todas as sentenças, transacções, e contratos com os Reis, Bispos, Ordens, e mais Communidades, e particulares. Inventario de todos os legados, Doações, e Testamentos, tudo com os annos, ou era, e nomes das pessoas que assinàra.Qos Instrumentos. Inventario que declare os livros dos Obitos que ha, e em que tempo c~ humcomeça, e acaba. Inventario que declare todos os Anniversarios, e CapeDas,que nos livros dos Cabidos, e taboas dos Anniversarios estiverem registrados. Finalmente Inventario miudo de todos os documentos antigos que ha, assim em livroacomeem.masso, declarando a cada Instrumento per si, e à parte com os nomes, e era. Se ha alguns alfabetos.para se lerem os papeis antigos? e seha alguns, que se naõ POS&aÕ ler, e.per esta causa não venhaõnos Inventarios? Todos os documentos, que for justo naõ se communicarem, ficaráõ com inviolavelsegredo occultos, e s6menteo Secretario da Academia tirará algum extracto necessarioà Histeria; e de nenhum Archivo publico, ou particular se tirará papel.algum se naõ por traslado; e a pessoa que se deputar nesse Cabido para esta diligencia, se corresponderá com o Secretario com este sobrescrito. Do Serviço de Sua Magestade. Ao Conde de Villarmayor. Lisboa Occidental.

Às pessoas que levarem carta do Secretario da Academia se devem mostrar os Arehivos, e facilitar os meyos de adquirirem as noticias, que procurarem.

14

..~.---

---------

Das ReUgIoens

i'

Aos Prelados mayores das Religioens se encomenda que mandem hum Catalogo' dos Conventos que tem, assim de Religiosos, como de Religiosas; em que lugares estaõ, que invocações tem, quem foraõ os seus Fundadores, e em que anno foy fundado cada hum delles. Que mandem hum Inventario, que com miudesa declare todos os papeis, títulos, e Instrumentos, que estaõ em cada Cartorio dessa Religiaõ, declarando o que contem cada hum em particular, era, ou anno, em que foy feito, e' de cada livro, ou masso se tire hum indice dos papeis, que contem. Que mandem hum miúdo Inventario de todas as doações, e privilegios antigos, com os nomes das pessoas, que assinaõ, era, ou anno, em que foraõ feitos. Que mandem à Academia os Catalogos dos livros das Livrarias dos Conventos, especialmente dos manuscritos, e as mais noticias conducentes à Historia Ecclesiastica, e Secular. Que avisem se ha, assim nos Conventos de Religiosos, como de Religiosas, alguns papeis, que por dífficultosos de ler naõ venhaõ nos Inventarios. Que mandem copiados à Academia todos os letreiros de Capellas, e sepulturas de todos os Conventos, e Collegios, assim antigos, como modernos, com os escudos de Armas, que houver em qualquer parte dos ditos Mosteiros, seja em muros, arcos, ou sepulturas. Que mandem noticia dos Ritos antigos, Relíquias, Milagres, e mais cousas notaveis de cada Mosteiro. Que mandem noticias de todas as pessoas de hum, e outro sexo, que na sua Religiaõ morrêraõ com opiniaõ de santidade, de que naõ houver memoria nas Chronicas da sua Religiaõ, declarando as terras, de que eraõ naturaes, e o mais que de cada huma se puder saber, e o dia, mes, e anno, em que morrêraõ, e lugar em que estaõ sepultadas, e com que Epitafios. Que mandem as noticias, que se puderem achar dos Arcebispos, e Bispos Portugueses da sua Religiaõ, assim Diocesanos, como Titulares. Que mandem as noticias dos Religiosos das suas Ordens, que fiseraõ alguns livros, ainda' que os naõ imprimissem, declarando as suas patrias, e mortes.

15

--.

---

E se recomenda que a todos os Academicos, que com carta, e recomendação do Secretario quiserem ver os Archivos, e originaes delles, se lhe mostrem todos os documentos. Que estejaõ seguros de que de nenhum Cartorio se ha de tirar papel algum se naõ por traslado, nem destes se usará para outro fim, mais que o da Historia; e nos documentos, a que se dever por algum respeito segredo, o guardará inviolavel o Secretario, a quem se mandaraõ todas as noticias com este sobrescrito ..".

Das Cameras Devem as Cameras de cada Cidade, ou Villa remetter logo à Academia hu traslado do livro, em que estaõ lançados os titulos dos livros, e papeis que estaõ no Cartório; e porque costumaõ acharse muitas veses lançados nestes livros os titulos de cada hum que está no Cartorio, sem se declarar os papeis que contem, virá hum Indice particular de cada livro, e da mesma sorte dos papeis que estaõ em massos, ou soltos. Devem avisar se ha alguns Instrumentos difficultosos de ler, para se mandarem pessoas que os leaõ. Devem dar noticia das Aldeas do termo, do numero dos visinhos que tem, e mais cousas notaveis que nellas ha, sabendo-se se ha em algumas papeis, pergaminhos, privilegios, ou doações. Devem dar noticia se ha nessa terra pessoas curiosas, que tenhaõ memorias antigas, ou livros manuscritos tocantes à Historia, e antiguidade della, e quem saõ. Devem dar noticia dos votos, e Procissoens que fas essa Camera. Devem ter a certesa de que de nehuma parte se ha de tirar documento algum original, e que todos se devem communicar aos Aeademicos, que os quiserem ver, levando recomendaçaõ do Secretario, e se guardará inviolaval segredo nas materias, que o pedirem.

Das Provedorias das Comarcas Aos Provedores das Comarcas se encarrega, e encommenda muito que mandem hum Inventario de todas as instituições de Morgados, Capellas, Confrarias, Irmandades, Hospitaes, e mais legados, e lugares 16

----.



pios de sua jurisdiçaõ; declarando quem foraõ os Instituidores, em que era, ou armo, e quem são hoje os Administradores. Que mandem com grande cuidado trasladar os letreiros dos Romanos, Godos ou Mouros, copiando as letras que se puderem ler, com as mesmas regras, com os mesmos pontos, com as mesmas figuras, e mais circunstancias que tiverem, ainda que lhes falte parte, e estejaõ feitos em pedaços, avisando das mais memorias antigas, que houver nos seus destrictos. Que procurem saber se ha alguns livros manuscritos, que tenhaõ junto Epitafios, e outros letreiros de Portugal, e o avisem para se mandarem copiar.

Que avisem das pessoas curiosas que tem noticias, e memorias antigas, ou livros manuscritos, que condusaõ à Historia, e dos lugares, e Aldeas de sua Comarca com a sua situaçaõ, e se nelles ha algumas antiguidades notáveis

Algumas entidades eclesiásticas, para darem as respostas, acharam por bem elaborar, por sua vez. outros questionários que remeteram aos párocos. Parte deste material deve ter sido destruido pelo terramoto de 1755. Não obstante, é possível conhecer o conteúdo de muitas dessas respostas como é o caso das procedentes dos cabidos de Coimbra e de Leiria e dos Provedores das comarcas de Vila Real e de Leiria (3). A noticia da Cerdeira, por exemplo, apesar de integrada num volume do Dicionário Geográfico de Portugal, procede deste inquérito.

17

INQUERITO DE 1732

Em 1747 foi impresso o primeiro tomo do "Dicionario Geográfico ou noticia historica de todas as Cidades, Villas, Lugares, e Aldeas, Rios, Ribeiras, e Serras dos reynos de Portugal, e Algarve, com todas as cousas raras, que nellesse encontrão assim antigas como modernas", do Padre Luis Cardoso, membro da Congregàção do Oratório. A este tomo, com a letra A, seguiu-se, em 1751, o segundo, com as letras B e C. No prólogo do primeiro volume, o autor inclui o esquema do inquérito de que se serviu para a feitura da sua obra embora, como acrescenta, tivesse recorrido a outras fontes complementares. Esse esquema continha três "interrogatórios" (sobre as terras, serras e rios, respectivamente) de que a seguir se dá conta.

o que

se procura saber dessa terra he o seguinte:

1 Em que Província fica. a que Bispado. Comarca. Termo. e Freguesia pertence? 2 Se he delRey, ou de Denatario, e quem he este? 3 Quantos visinhos tem? 4 Se está situada em campina, valle, ou monte, e que povoações se descobrem della? 5 Se he Termo de outra terra, ou se tem Termo seu? 6 Se o tem, que Lugares, ou Aldeas comprehende, como se chamaõ, e que visinhos tem? 7 Se a Paróquia está fora do Lugar, ou dentro delle? 8 Qual he o seu Orago, quantos Altares tem, e de que Santos, quantas naves, se tem algumas Irmandades, quantas, e de que Santos? 9 Se o Paroco se chama Cura, ou Vigario, ou Reytor, ou Prior, ou Abbade, e de que apresentaçaõ he? 10 Se tem Beneficiados, quantos, e que rendas tem estes, e o Paroco? 11 Se tem Conventos, e de que Religiosos? 12 Se tem Hospital, e por quem he administrado? 18

---13 Se tem Casa de Misericordia, e qual fosse a sua origem? 14 E o que houver de notavel em qualquer destas cousas. 1.5Se tem algumas Ermidas, e de que Santos? 16 Se estaõ dentro, ou fóra do Lugar? 17 Se acodem a ellas romeiros, sempre, ou em alguns dias do anno, e quaes saõ estes? 18 Quaes saõ 05 frutos da terra, que os moradores recolhem em mayor abundancia? 19 Se tem Juiz ordinario, etc., e Camera, ou se está sugeita ao govemo das Justiças de outra terra, e qual he esta? 20 Se he Couto, cabeça de Concelho, Honra, ou Behetria? 21 Se ha memoria, de que florecessem, ou della sahissem alguns homens insignes por virtudes, letras, ou armas? 22 Se tem famílias nobres, quaes sejaõ os seus brames, appellidos, e prerogativas? 23 Se tem feira, em que dias? 24 Se he franca, e quantos dias? 25 Se tem alguns privilegios, antiguidades, ou outras cousas dignas de memoria? 26 Se ha nessa terra, ou perto della alguma fonte, ou lagoa celebre? Se as suas aguas tem alguma qualidade especial? 27 Se for porto de mar, descreva-se o sitio que tem por arte, ou por natureza, as embarcações que o frequentaõ, e que póde admittir. 28 Se a terra for murada, diga-se a qualidade de seus muros: se for praça de armas, descreva-se a sua fortificaçaõ. Se ha nella, ou no seu destricto algum castello, ou torre antiga, e em que estado se acha ao presente. 29 E tudo o mais que houver digno de memória, de que naõ faça mençaõ o presente interrogatorio.

o que se procura

saber dessa serra, he o seguinte:

1 Corno se chama? 2 Quantas legoas tem de comprido, e quantas de largo? 3 Os nomes dos principaes braços della? 4 Que. rios nascem dentro do seu sitio, e algumas propriedades mais notaveis delles; as partes para onde correm, e aonde fenecem? .5Que Villas, e Lugares estaõ assim na serra, corno ao longo del-la? 6 Se ha no destricto algumas fontes de propriedades raras? 19

7 Se ha na serra minas de metaes, ou canteiras de pedras, ou de outros materiaes de estimaçaõ? 8 De que plantas, ou hervas medicinaes he a serra povoada, e se se cultiva em algumas partes, e de que generos de frutos he mais abundante? 9 Se ha na serra alguns Mosteiros, Igrejas de romagem, ou Imagens milagrosas? 10 A qualidade do seu temperamento? 11 Se ha nella criações de gados, ou de outros animaes, ou caça? 12 Se tem alguma lagoa, ou fojos notáveis? 13 E tudo o mais que houver digno de memoria.

o que se procura

saber do rio dessa terra, he o seguinte:

1 Como se chama, assim o rio, corno o sitio onde nasce? 2 Se nasce logo caudaloso? 3 Que outros rios entraõ nelle, e em que sítio? 4 Se he navegave1, e de que embarcações he capaz? 5 Se he de curso arrebatado, ou quieto, em toda a sua distancia, ou em alguma parte della? 6 Se corre de Norte a Sul? 7 Se de Sul a Norte? 8 Se de Nascente a Poente? 9 Se de Poente a Nascente? lO Se he abundante de peixes, e de que especie saõ os que traz em mayor abundancia? 11 Se ha nelle pescarias, e em que tempo do armo? 12 Se as pescarias saõ livres, ou de algum Senhor particular, em todo o rio, ou em alguma parte delle? 13 Se se cultivaõ as suas margens, e se tem muitos arvoredos de fruto, ou silvestres? 14 Se tem alguma virtude particular as suas aguas? 15 Se conserva sempre o mesmo nome, ou o começa a ter differente em algumas partes, e como se chamaõ estas? 16 Se morre no mar, ou em outro rio, e como se chama este, e o sítio em que entra nelle? 17 Se tem alguma cachoeira, repreza, levada, ou açudes, que lhe embaracem o ser navegavel? 18 Se tem pontes de cantaria, ou de pao, quantas, e em que sitias? 20

19 Se tem moinhos, lagares de azeite, pizões, noras, ou outro algum engenho? 20 Se h.a memoria de que' em outro tempo tivesse outro nome? 21 Se em algum tempo, ou no presente se tirou ouro das suas areas? 21 Se os póvos usaõ livremente das suas aguas para a cultura dos campos, ou com alguma pensaõ? 21 E qualquer outra cousa notável, que naõ vá neste interrogatorio.

Os "interrogatorios" - informa, ainda, o Padre Luís Cardoso - remeteram-se, por ordem de Sua Magestade, aos bispos e cabidos para que, através deles, os párocos mandassem as noticias que se lhes pediam. No mais completo estudo que conhecemos sobre esta matéria, Maria José Bigotte Chorão, Conservadora do Arquivá Nacional da Torre do Tombo, conclui que os interrogatorios foram distribuidos em 1732. A continuação do "Diccionario" foi prejudicada pelo Terramoto de 1755.

21

INQUERITO DE 1756

As perguntas que serviram de base a mais este inquérito promovido pela Secretaria de Estado dos Negócios Interiores do Reino foram enviadas aos párocos em 1756 e tiveram, como única finalidade, a obtenção de informações sobre as características do terramoto, a extensão dos prejuízos e as providências tomadas( 4). Além deste inquérito de âmbito nacional, o terramoto de 1755 deu origem a outras averiguações de âmbito pesoal ou geográfico mais restrito. Questionário:

A que horas principiou o Terremoto do primeiro de Novembro, e que tempo durou? Se se percebeu, que fosse maior o impulso de huma parte, que de outra, v. g. do Norte para o Sul, ou pelo contrario, e se parece, que cahiraõ mais minas, para huma, que para outra parte? Que número de cazas arruinaria em cada Freguezia, se havia nella edificios notaveis, e o estado, em que ficarão? Que pessoas morrerão, se algumas erão distintas? Que nividade se vio no mar, nas fontes, e nos rios? Se a maré vazou primeiro, ou encheu? Quantos palmos cresceu mais do ordinário? Quantas vezes se percebeu o fluxo, e refluxo extraordinario? Se se reparou, que tempo gastava em baxar a agoa, e quanto em tomar a encher? Se abrio a Terra algumas boccas, o que nellas se notou, e se rebentou alguma fonte de novo? Que providencias se derão immediatamente em cada lugar pelo Ecclesiastico,pelos Militares,e pelos Ministros? Que Terremotos tem repetido depois do primeiro de Novembro, em que tempo, e que damno tem feito? Se há memoria de que em algum tempo houvesse Terremoto, e que damno fez em cada lugar? e

22

k

_

Que numero de Pessoas tem cada huma Freguezia declarando se poder ser, quantas há de diferente Sexo? Se se experimentou alguma falta de mantimentos? Se houve incendio, que tempo durou, e que damno fez?

23

-

lNQUERITO DE 1758

Com o terramoto de 1755 perdeu-se a maior parte do material que o Padre Luís Cardoso utilizava na preparação do seu Diccionario Geografico que se ficou, como vimos, pela impressão de dois tomos com as letras A, 8, e C, apesar de aquele oratoriano ter o trabalho muito mais adiantado. Em 1758 retoma-se o projecto de levar por diante a publicação e organiza-se mais um inquérito que repete, no essencial, o de 1732. Aproveita-se a oportunidade para lhe introduzir pequenas alterações e alguns .quesitos novos. À semelhança do que acontecera em 1732, para êxito da empresa, recorre-se à autoridade real e, através da Secretaria de Estado dos Negócios do Reino, enviam-se os "interrogatórios" aos prelados para estes os distribuirem pelos párocos, recolherem as respostas e as remeterem àquela Secretaria de Estado. O pedido dirigido a todos os prelados é idêntico ao que foi endereçado ao bispo da Guarda (5) : Ex. mo Rev. mo Sr. Sua Magestade manda remeter a V. E~ o maço incluso dos Interrogatórios declarados nos papeis que nelle vão. E he servido, que V. E~ os distribua e remeta aos Parochos desse Bispado, ordenando-lhes que com toda a distinção, e clareza respondão aos sobreditos Interrogatórios, com a mesma formalidade com que vão discriptos no presizo termo de trez mezes. E tanto que V. E~ tiver juntas todas as respostas, as remeterá a esta Secretaria de Estado dos Negócios do Reino para serem presentes ao mesmo Senhor. Deus guarde a V. E~ Belém, a 18 de Janeiro de 1758

Sebastião Joseph de Carvalho e Mello

24

As respostas dos párocos foram confiadas ao Padre Luís Cardoso que veio a falecer em 1769 sem conseguír a almejada publicação do dicionário geográfico do país. As diversas "memórias" conservaram-se no Convento das Necessidades. Foram depois reunidas em 41 volumes (6) Para suprir faltas, organizaram-se mais dois volumes ( 42° e 43). A este conjunto foi adicionado um outro ( o 44°) de índices, com um prólogo onde se pretende fazer um pouco de história desta importante colecção de documentos denominada "Dicionário Geográfico de Portugal", e muito conhecida pela designação apropriada de "Memórias Paroquiais de 1758". Depois de algumas vicissitudes, este valioso património foi parar ao Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Não é permitida, actualmente, a consulta directa; apenas se faculta, ao público, .o respectivo microfilme, Embora o Padre Luís Cardoso não tenha concretizado a sua ambição, acredita-se que aproveitou os dados recolhidos pelo inquérito de 1758 para publicar, sob o pseudónimo de Paulo Dia') de Niza, uma obra mais modesta: o "Portugal Sacro-Profano"(7). As respostas dos párocos é bastante desigual. Apesar de tudo, são um repositório importantíssimo para o conhecimento da história das nossas aldeias e da nossa região. Outros poderiam ser os critérios de transcrição. Utilizámos os que nos pareceram mais adequados aos nossos objectivos: a divulgação das memórias pela nossa gente simples. E, assim, actualizámos o uso do i e do j, do u e do v bem como o da cedilha. Modificámos maiúsculas e minuscúlas, com alguma frequência. Acentuámos vogais quando isso nos pareceu indispensável. Separámos palavras com recurso ao hífen e apóstrofo. Desenvolvemos abreviaturas. Alterámos, num ou noutro lugar, a pontuação.

25

Para melhor compreender as respostas, torna-se indispensável dar a conhecer o esquema dos "interrogatórios" mandados aos párocos. Ele consta do prólogo do 44° volume (de índices) do Dicionário Geográfico de Portugal:

PRÓLOGO

1 - O Diccionario Geográphico do Reino de Portugal, que o erudito e infatigável P.e Luís Cardoso, da Congregação do Oratorio de Lisboa, tinha composto sobre as memorias, que os Parochos do Reino enviarão, por ordem superior, à Secretaria d'Estado, perdeo-se miseravelmente nas ruinas do Terremoto de 1755, escapando, apenas, as letras A B C do primeiro, e segundo volumes, por estarem já impressos e distribuidos por partes aonde não chegou o estrago. 2 - A simples leitura destes volumes, que restão, basta para convencer os verdadeiros Portuguezes, quero dizer, os amantes da gloria e da Patria de que a perda dos que faltão foi grande e irreparável, e o seria muito mais, se o Author, apezar de ser já avançado em annos, não concebera o projecto de refundir a sua obra, adicionando-a com a relação dos estragos, e catástrofe, que acaba de mudar a face de todo o Reino. 3 - Com este fim pedio novamente, instou, e conseguiu da Secretaria do grande e respeitável Sebastião José de Carvalho ordem para que todos os Parochos do Reino enviassem novas descripções das suas freguezias com aquellas escrupulosas, e circunstanciadas miudezas, que mais abaixo constarão da cópia dos interrogatorios que, impressos, lhes foraõ enviados. com o preceito de responderem. Preceito que a maior dos Parochos cumprirão no mesmo anno de 1758, em que lhes foi intimado; não quis porém o P.e Cardoso approveitar-se destas Participações. 26

4 - Não quis, ou não pôde: porque as enfermidades, ou a velhice, ou o presentimento da morte, ou tudo juncto fês, que o P.e Cardoso olhasse como impossivel a execução do seo Projecto: e assim, por sua morte, em 1769, ficarão em montão confuso, mas bem guardado, todas as "Descripções" que lhe tinham sido enviadas: guardados até agora, em que hum P.e da mesma Congregação do Oratório, e Casa das Necessidades, zeloso da utilidade e instrucção públicas, as fês arranjar em forma de "Diccionário" e mandou encadernar em 44 volumes de F ólio, incluso este Índice, para na Biliotheca da mesma Casa estarem patentes à instrução, utilidade e curiosidade Portuguezas. 5 - De todos os 43 volumes, todos com o título - "Diccionário Geográfico de Portugal", se extrahio o prezente "Índice Geográfico" para facilitar a invenção de qualquer cidade, villa, concelho, ou aldeia paroquial, devendo advertir -se, que, havendo sido, apezar de bem guardadas; havendo sido desvairadas mais de 500 descripções, foi necessario, para completar a obra supprir com a leitura estas faltas: supplemento que, certamente, não há-de satisfazer a muitos leitores; mas na sua mão está emmendarem, e corrigirem' escrevendo, quantas faltas em excessos se acharem, maxime nos supplementos, ou volumes 42 e 43. 6 - De resto, damos a copia dos "Interrogatorios" conforme aos que se achão feitas as respostas e são do theor seguinte:

§1

0 -

O que se procura saber desta terra é o seguinte:

Venha tudo escripto em letra legível, e sem breves. 10 _ Em que província fica? a que bispado, comarca, termo e freguesia pertence? 2

0 -

Se he del Rei, ou de donatario, e quem o he ao prezen-

te?

27

30 - Quantos vizinhos tem, e o número das pessoas? 40 - Se está situada em campina, valle, ou monte, e que povoações se descobrem della, e quanto dista? 50 _ Se tem termo seo; que lugares, ou aldeas comprehende, como se chamam; e quantos vizinhos tem?

60 - Se a parochia está fora do lugar, ou dentro delle? e quantos lugares ou aldeas tem a freguezia, e todos pelos seus nomes?

r - Qual é o seo orago; quantos altares tem, e de que sanctos; quantas naves tem; se tem irmandades, quantas e de que Sanctos? 80 - Se o Parocho é Cura, Vigario, ou Reitor, ou Prior, ou Abbade, e de que apprezentação he, e que renda tem? 90 - Se tem beneficiados; que renda tem; e quem os apprezenta? 100 - Se tem conventos, e de que religiosos, ou religiosas, e quem são os seus padroeiros? 11

0 -

Se tem hospital; quem o administra, e que renda tem?

120 - Se tem casa de Misericórdia, e qual foi a sua origem, e que renda tem? e o que houver de notável em qualquer destas cOUSa&.

130 - Se tem algumas ermidas, e de que sanctos: e se estão dentro ou fora do lugar, e a quem pertencem?

28

14° - Se acodem a ellas romagens sempre, ou em alguns dias do ano e quaes são estes? 15° - Quais são os fructos da terra, que os moradores recolhem com maior abundancia. 16° - Se tem Juis ordinário e Camara; ou se está sujeita ao governo das justissas de outra terra, e qual he esta? 17° - Se é couto, cabeça de concelho, honra ou behetria? 18° - Se há memoria de que florescessem, ou della saíssem alguns homens insignes na virtude, letras ou armas? 19° - Se tem feira, e em que dias, e quantos dura, e se he franca ou captiva? 20° - Se tem correio, e em que dias da semana chega, e parte? e se o não tem de que correio se serve, e quanto dista da terra aonde elle chega? 21° - Quanto dista da cidade capital do bispado, e quanto de Lisboa, capital do Reino? 22° - Se tem alguns privilégios, antiguidades, ou outras couzas dignas de memoria. 23° - Se há na terra, ou perto della, alguma fonte, ou lagoa celebre, e se as suas águas tem alguma especial virtude. 24° - Se for porto de mar, descreva-se o sítio, que tem por arte ou por natureza; as embarcações, que a frequentão, e que pode admittir?

29

25° - Se a terra for murada, diga-se a qualidade de seos muros; se for Praça de armas descreva-se a fortificação; se há nella, ou no seo districto algum castello, ou torre antiga, e em que estado se acha ao presente? 26° - Se padeceo alguma ruina no Terremoto de 1755, e em quê; e se esta reparada? 27° - E tudo mais, que houver digno de memoria, de que não faça menção o presente interrogatório.

§ 2° - O que se procura saber dessa serra é o seguinte: 1° - Como se chama? 2° - Quantas léguas tem de comprimento, e quantas de largura, aonde principia, e acaba? 3° - Os nomes dos principaes braços della? 4° - Que rios nascem dentro do seo sítio, e algumas propriedades mais notaveis delles: as partes para onde correm; e onde fenecem? 5° - Que villas e lugares estão assim na serra, como ao longo della? 6° - Se há no seo districto algumas fontes de propriedades raras? 7° - Se ha na serra minas de metaes, ou canteiras de pedras ou de outros materiaes de estimação?

30

80 - De que plantas ou hervas medicinais he a serra povoada e se se cultiva em algumas partes; e de que género de frutos he mais abundante? 9 Se há na serra alguns mosteiros, Igrejas de romagem, ou imagens milagrosas? 0

-

100 - A qualidade do seo temperamento? 110

-

Se há nela criação de gados, ou de outros animais, ou

caça? 120 - Se tem alguma lagoa, ou fojos notaveis? 13

0 -

E tudo o mais, que houver digno de memória?

§ 30 - O que se procura saber do rio dessa terra é o seguin-te: 10 - Como se chama, assim o rio, como o sítio onde nasce? 20 - Se nasce logo caudaloso, e se corre todo o anno? 3

0 -

Que outros rios entrão nelle, e em que sitio?

40 - Se he navegável, e de que embarcações é capás?

50 - Se he de curso arrebatado, ou quieto com toda a sua ,distância, ou em alguma parte della? 60 - Se corre de norte para sul; se de poente a nascente; se de sul ao norte, ou de nascente a poente. 70 - Se cria peixes, e de que especie são os que trás em maior abundância? 31

8° - Se há nelle pescarias; e em que tempo do armo? ~ - Se as pescarias são livres, ou de algum senhor particular em todo o rio, ou em alguma parte delle? 10° - Se se cultivão as suas margens; e se tem muito arvoredo de fructo, ou silvestre? 11° - Se tem alguma virtude particular as suas aguas? 12° - Se conserva sempre o mesmo nome, ou o começa a ter diferente em algumas partes; e corno se chamão estas; ou se ha memoria, de que, em outro tempo, tivesse outro nome? 13° - Se morre no mar, ou em outro rio; e como se chama este, e o sítio em que entra nelle?

14° - Se tem alguma cachoeira, represa, levada, ou açudes que lhe embaracem o ser navegavel? 15° - Se tem pontes de cantaria, ou de páo; quantas, e em que sítio. 16° - Se tem moinhos, lagares de azeite, pizões, noras, ou algum outro engenho? 17° - Se em algum tempo, ou no presente, se tirou ou tira ouro de suas areas? 18° - Se os povos usam livremente as suas aguas para a cultura dos campos, ou com alguma pensão? 19° - Quantas leguas tem o rio; e as povoações por onde passa desde o seo nascimento até onde acaba?

32

20° - E qualquer cousa notável, que não vá neste interrogatório.

33

Notas: 1) José Antônio Santos, Regionalização

- Processo

Histórico,

Lisboa,

1985, pág. 90.

Marcelo Caetano,.Manual boa, 1973, pág. 147.

de Direito Administrativo,

I, 10" edição, Lis-

2) Colleçam dos Documentos Estatutos e Memorias da Academia Real de Htstoria Portuguesa, Lisboa, 1721, Vol. I. 3) Maria José MexiaBigotte Chorão, Inquéritos Promovidos pela Coroa no Século XVIII, em "Revista de História Económica e Social", n° 21, SetembrolDezembro, 1987, Lisboa, págs, 94 e 95. A. G. da Rocha Madahil, Novas fontes da História local portuguesa As informações paroquiais pedidas pela Academia Real da História em 1721, em "Bib1os",VoI. X. Coimbra, 1934, págs. 590 a 607. Notícias de algumas vilas e freguesias do Distrito de Leiria escritas em 1721 e enviadas à Academia Real - Edição de "O Mensageiro", Leiria, Biblioteca Nacional.,F. O. Cod. 222. Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Cod. 503. 4) Femando Portugal e Alftedo de Matos, Lisboa em 1758 - Memórias Paroquiais de Lisboa, Lisboa, 1947, págs. 8 alO. M. J. B. Chorão, ob. cit., págs, 101 a 106. 5) Adriano Vasco Rodrigues, O despotismo e a Igreja - Cartas régias para o Bispo da Guarda na época pombalina, Vila Nova de Famalicão, 1981, págs. 80 e 81. 6) Antônio Baião, estudo incluido no prólogo dOEIlivros O Megasismo do ]O de Novembro de 1755 em Portugal (Lisboa, 1919, págs. 5 a 7) e O Terremoto do r de Novembro em Portugal (Lisboa, 1919, VoI. I, págs, 7 a 9)

de Francisco Luis Pereira de Sousa. 7) M. J. B. Chorão, ob. cit., págs. 113 a 115.

34

ÁGUAS BELAS

(VoZ. 1, pág. 359)

Antonio Baptista da Guerra, Prior da Igreja d'Agoas Bellas, satisfazendo a huma ordem do meu Prelado pera responder a huns interrogatorios, que me foram remetidos, respondo o que se segue pella ordem dos mesmos interrogatórios. 1 Fica este lugar d'Agoas Bellas em a provincia da Beyra, arciprestado de Pennamacor, bispado da Guarda, comarca de Castello Branco, termo da villa de Sortelha, e freguezia de Santa Maria Magdalena deste mesmo lugar. 2 A igreja, e terra pertense ao Marquês d'Arronches; e agora he Senhor, e pessuhidor o Excelentissimo Duque de Lafõns. 3 Tem esta freguezia outenta, e hum moradores;(1) pessoas mayores de confissão, e communhão, cento, noventa e seis; de confissam somente trinta, e nove; e pequenos, que inda não sam de confissam sesenta; que todos fazem o numero de 295. 4 Está situado este lugar em huma campina, que correspondendo as terras vezinhas he algum tanto alta, por cuja cauza he bastantemente fria; delle se não descobrem povoassois algumas por estarem mais bayxas, (como em huma meya cova) as cazas, e so do cimo deste dito povo se ve huma quinta que chamão a Sobreyra, que dista hum terso de legoa pera a parte do norte, a Serra das Fra35

goas pera a mesma parte no termo da Guarda, a Serra d'EstreIla pera o poente, e a de S. Comelio pera o sul distante hum quarto de lego a, no termo, e freguezia de Sortelha; e não ha mais que dizer deste, nem do 5°. 6 A Igreja Parochial está fora do lugar hum tiro de balla pera a parte do norte; a freguezia tem dois lugares: este de Agoas Bellas, e o de Valroourisco, que dista deste meya legoa descendo pera a parte do nascente, situado em hum valle entre dois ribeyros, e dois montes pequenos, ou outeyros.

7 O orago he Santa Maria Magdalena; tem esta igreja tres altares, convem a saber o altar mor (que he da mesma Santa) o da parte do Evangelho, que he do Menino Jessus; e o outro colatral da parte da Epistola (2), que he da Senhora do Rozario. Tem Irmandade das Almas debayxo da protessão da mesma Senhora do Rozano. 8 O Parocho he Prior cuja apprezentassão pertense e he do sobredito Marquês d'Arronches; renderá o dito Priorado huns annos pellos outros cento, e sesenta mil réis, ou cento e outenta entre frutos certos e incertos. Ao nono, decimo, undecimo e duodecimo, não ha que dizer, porque nada tem. 13 Tem esta freguezia huma Hermida de S. Sebastiam no cimo deste lugar d'Agoas Bellas no principio, mas dentro do povo, que he do mesmo povo. Tem outra em o lugar de Valmourisco de Sam Salvador, no meyo, e dentro do mesmo lugar, que he do dominio, e admenistrassão do mesmo povo; , e naõ ha mais que dizer deste nem do decimo quarto.

36

15 A mayor abundancia de fructos desta freguezia he centeyo; e colhe algum trigo, linho, vinho, milho, feyjois, castanha verde, alguma d'India, algum gado vacum, e de Iam, de tudo pouco. 16 Tem hum Juiz annual, Espadaneo, ou da Vara elleyto, e approvado pella Camera de Sortelha, a cujo governo está sugeyto, que d'ordinario he o mais pobre, e incapáz, por se desprezarem de o ser, e quazi todos os que tem alguma cousa de seu se livrão e por se livrarem mutos, costuma esta, e mutas mais terras os mais dos annos estar hum, dois, e as vezes parte de tres mezes sem Juizes, ficando tudo ao dezemparo, servindo os incapazes quazi sempre, e os prmcipais raras vezes, ou nunca. Não ha mais que dizer deste nem do 17, 18, 19 nem do 20. O correyo donde se servem d'ordinario he do da Guarda, que dista deste quatro legoas; tambem se podem servir do da villa do Sabugal, que dista huma legoa. 21 Dista esta freguezia da cidade capital do bispado, que he a Guarda, a qual fica pera a parte do norte, quatro legoas; e de Lisboa sincoenta. 22 Tem este lugar d'Agoas Bellas e goza dos previlegios que gosam os foreyros encabessados do Regedor, Governador, e Dezembargadores da Supplicassão; os quais foram concedidos pello Senhor Rey D. Pedro 2° sendo ainda Principe e Regente deste Reyno no anno de 1677 ao Marquez d'Arronches, Senhor desta terra, sendo Governador do Porto; nam ha mais que dizer deste, nem do vigessimo tercio, e vigessimo quarto. 25 So tem hum forte a que chamão Roduto, aonde se recolhem quando ha alguma invazam d'inimigo, que está em parte arruinado, e cahido.

37

-----------------------------

No terremoto nam padeceu ruina; e não ha couza alguma mais, de que se faça mensam. Agoas Bellas de Abril 26 de 1758 Antonio Baptista da Guerra

Notas:

1) Morador,

nestas memórias, significa fogo, família,

2) Antes das reformas litúrgicas operadas a seguir ao Concilio Vaticano 11,os altares, como regra, estavam ligados a paredes mestras, a retábulos, a toda uma estrutura mais ou menos complexa. O sacerdote oficiava de costas para o povo. Ao subir ao altar começava as leituras, em que sobressaia a Epístola, servindo-se de uma pequena estante colocada em cima do mesmo altar, do lado direito. Em dado momento da missa, o sacristão mudava o missal para o lado esquerdo do altar,onde o celebran1elia o Evangelho. Compreende-se, assim, que, como era usual, o autor da memória situe um altar lateral por referência ao ''lado da Epístola". Esta expressão significa o lado direito de quem, do corpo da igreja, olha para o altar moro Logicamente, o lado do Evangelho é o oposto, que também aparece designado por" à esquerda" ou "à mão esquerda".

38

..

BENDADA

(VaL 6, pág. 647)

1 Esta terra se chama o lugar da Bendada, está na provincia da Beyra, bispado da Guarda, comarea de Castello Branco, termo da villa de Sortelha. 2 He dei Rey. 3 Tem septenta e septe vizinhos, pessoas mayores de ambos os sacramentos cento e oitenta e hüa, menores trinta e quatro. 4 Está situada no simo de hum valle a meya ladeira de híia serra pequena chamada da Senhora do Castello, ficando esta para a parte do norte, della se descobre a villa de Sortelha, que dista hüa legoa, a qual fica para a parte do nascente, e para a parte do sul em distancia de dous terços de legoa se avista hüa quinta chamada de Rebelhosdo lemite e freguezia deste lugar. 5 Não tem termo seu por. pertencer ao de Sortelha. 6 Tem a parochia com o titulo de Santa Luzia dentro do dito lugar, e tem as aldeas a que vulgarmente chamão quintas que se seguem: Rebelhos que consta de dezanove fogos, e pessoas mayores quarenta e septe, e menores dezasepte; a Quinta da Ribeira que consta de septe fogos, pessoas mayores catorze, e menores septe; a Quinta das Galinhas que tem somente hum morador, e são duas 39

pessoas mayores, e duas menores;Quinta dos Peneiros que tãobem não tem mais de hum morador ou cazal com sinco pessoas mayores; Quinta dos Bacêlos, que tem dous fogos, pessoas mayores nove, e menores tres; Quinta do Ribeiro que consta de septe fogos, tem pessoas mayores quinze e menores septe;Quinta de Santo Antonio das Cizirotas, que não tem mais de hum morador ou cazal, e duas pessoas mayores; Quinta do Souto, que consta de sinco fogos, e tem nove pessoas mayores, e seis menores; Quinta do Monteiro que tem sinco fogos, pessoas mayores onze, e menores duas; e assim tem este lugar com as quintas que de prezente são da sua freguezia cento e vinte e sinco fogos, pessoas mayores de ambos os sacramentos de confissão e comunhão duzentas e noventa e sinco, menores somente do sacramento da confissão septenta e oito. 7 O orago da igreja parochial he Santa Luzia, tem sinco altares, o altar mor em que está o Santisssimo Sacramento collocado em sacrario, tem no meyo hum paynel da Senhora da Rosa, cujo orago foi antigamente, e do anno de mil e seiscentos a esta parte se mudou para o de Santa Luzia, tem de. híía parte tambem hum paynel de Santa Luzia, e da outra o de Santa Agueda, e da parte do Evangelho tem híia imagem de São João Baptista, que no dia delle do anno preterito de 1757 mandou nelle collocar o Prior actual desta igreja e da parte da Epistola está São Caetano; o altar colIateral da parte do Evangelho he da Senhora do Rozario, que he imagem de vulto, e outro que fica da mesma parte he do Menino Deos; o collateral da parte da Epistola he de Santa Luzia aonde está a sua imagem, e outro que falta para os sinco he do Santo Christo das Almas, que tem Irmandade, e he a unica que tem a freguezia, não tem naves mais que o arco cruzeiro. 8 O Parocho he Prior da apresentação de S!JRMagestade por ser do seu real padroado, renda duzentos mil réis..

40

Não tem Beneficiados, nem convento algum, nem hospital, nem Caza de Misericordia, e assim não tenho que dizer do numero 9 the 012. 13 Tem tres ennidas, a saber o Divino Espirito Santo ao simo do lugar, e ao fundo São Sebastião; e ambas ficão fora do lugar, e a Senhora do Castello na serra, ou'outeiro assim chamado, que pertencem ao povo, por ter obrigação de as fabricar de tudo o necessario; e a aldea ou quinta de Rebelhos tem a Cappella de Santo Apollinar no simo da povoação, que fabricão de todo o necessario os moradores da mesma. 14 Não acode a ellas romagem com frequencia, somente a dita Ermida da Senhora do Castello costuma ir o povo desta freguezia em procissão o segundo dia das Ladainhas de Mayo, e nella se diz missa, e no mesmo dia vem a ella o Reverendo Padre Cura do lugar de Penalobo com os seos freguezes, e dos povos vizinhos vem em romagem à dita Senhora alguas pessoas principalmente no tempo paschal. 15 Os frutos que os moradores deste lugar recolhem em mayor abundancia he centeo, e todos os mais são em pouca quantidade. ' 16 Tem dous Juizes Pedaneos hurh no povo, ou lugar, e outro commumente em algíia das quintas do seu lemite, sujeitos à justiça ordinaria da villa de Sortelha, donde he termo. Aos numeros 17, 18, e 19 não ha que responder, por não ser couto, cabeça de concelho, nem ha memória de que nella houvese, ou della sahisse homem algum insigne em virtudes, letras, ou armas, nem feira ha em dia nenhü do anno. 20 Não tem correyo, e se serve do da Guarda, que dista 41

coatro léguas, ou do da villa da Covilhaã, que dista coatro para sinco legoas, que hum, e outro chega ao domingo de cada semana. 21 Dista da cidade da Guarda capital do bispado coatro legoas, e da de Lisboa capital do reyno quarenta, e oito legoas. 22 Privilegios não os tem em observancia, porque alguns que teve não estão em seu vigor. e por antigos se perderão. e outros pella mesma razão se não sabe o que contem, ainda que existem ainda alguns instrumentos. 23 Não ha nesta terra, nem perto della fonte, ou algíia lagôa celebre, nem as agoas que nella ha são conhecidas com virtude, ou especial qualidade. 24 Fica esta terra em distancia do mar que discorre para o poente vinte e nove legoas, e por isso não tem nem pode ter porto de mar. 25 He terra aberta, e no sitio em que hoje está nunca teve muros. 26 No terremoto do anno de 1755 não padeceo mina. E no que respeita aos itens do segundo interrogatorio acerca da serra, tem este povo, ou lugar a serra chamada da Senhora do Castello, que lhe fica ao norte, e o lugar contíguo às fraldas della e se chama da Senhora por estar nella a Ermida da Senhora da Rosa, e do Castello por ser antigamente murada, e estar nella fortificação pellos vestígios que ainda hoje se vem assim de muros, como de casas, mas não consta de que tempo, e dizem alguns ser prezidio do tempo que os Saracenos existirão nas Hespanhas, não tem braços, nem muita distancia, por ser pequena, nem della nasce rio algum.

42

5 As povoações que estão ao longo della he este lugar, que lhe fica ao nascente, e proximo a ella, como assima se disse, e a Quinta da Ribeira, entre poente, e norte, e a das Galinhas ao norte. 6 Algíias fontes nascem desta serra para húa e outra parte, mas não são conhecidas terem propriedades raras. 7 Não consta haja nella minas de metaes, ou canteiras de pedras finas, nem de outros materiaes de estimação, e do que tem muita abundancia he de pedra grosseira, por estar quazi toda cercada de penhas. 8 As ervas medicinaes que produs não são aqui conhecidas, por não haver erbularios que as saibão distinguir, nem uzem dellas, e muita parte della se cultiva e lavra para produzir centeo. 9 Não ha nella mosteiro, somente a Igreja ou Ermida da Senhora do Castello, aonde vão de romagem nos dias assima ditos. 10 O seu temperamento he algum tanto frio, e ventoso. 11 Alguns gados se crião nella, a saber: cabras, e ovelhas, e caça de perdizes e de coelhos; e rapozas que se crião entre os penedos. e grandes barrocos, que ha assim nesta serra, como em outros montes, que ficão fronteiros a este lugar para a banda do nascente, e lobos que se crião assim neste lemite, como em os mais do termo de Sortelha por ter muitas penhas, cujos animais cauzão grave prejuizo muitas vezes nos gados e criações dos lavradores destas povoações. 12 Não tem lagoa algúa, nem fojo notavel. Esta terra não tem rio de nome, mas sim alguns ribeiros pequenos, dous nascem do Cabeço das Fragoas, que fica ja no 43

termo da cidade da Guàrda pouco maus de hua legoa, hum delles vem discorrendo Quinta do Ribeiro donde toma o nome, e o outro vem descendo da Quinta dos Bacêlos á dos Peneiros, e se vem ajuntar ambos pouco assima da Quinta da Ribeira, que toma o nome por ahi se ajuntaren quatro ribeiros, estes dous assima e outro que principia na Quinta do Souto, e vem á de Santo Antonio, onde se lhe vem ajuntando alguns regatos, que discorrem entre esta quinta, e a do Monteiro, e do Cabeço do Gato para a parte do poente vem discorrendo outro pequeno ribeiro, que se vem ajuntar com outros tres e todos quatro se unem por baixo da referida Quinta da Ribeira, e no inverno toma muitas vezes bastante agoa, mas fora de trovoadas se passa sem ser necessario ponte. á

Da Quinta da Ribeira para baixo the o fundo dos moinhos vai algum tanto enfragada, corre do norte ao poente, não cria peyxes, porque de verão se secão as suas agoas. As suas pequenas margens se cultivão para centeo, e tem alguns pequenos tapados para ortas, e algíias figeiras e parreiras, e castanheiros. Não tem nome proprio, e conforme o sitio por onde discorre assim lhe dão o nome, quando passa por onde estão os moinhos, se chama a Ribeira dos Moinhos, e dahi para baixo lhe chamão a Ribeira de Adão onde se mete outro pequeno ribeiro chamado da Carga, the dar no assude de hum lagar de azeite, e daqui para baixo a Ribeira do Lagar. Não tem ponte de cantaria por lhe não ser necessario, tem húa de páo junto ao lagar com seo cortamar. Abaixo da referida Quinta da Ribeira tem CNRtromoinhos

44

de moer pão, e hum lagar de azeite, que antes e depois da sua factura tambem moe paro com a mesma roda, e não tem outra casta de engenhos; e por sima da dita quinta em cada hum dos ribeiros della tem tãobem algumas moinhelas que por todas são sinco, ou seis que andão somente no inverno, quando ha muita agoa. Ha mais outro ribeiro que tãobem nasce fora do lemite deste lugar junto da Quinta de VaI de Nicolao da freguezia de Penalobo em distancia de legoa, e em entrando no lemite deste lugar lhe chamão o Ribeiro da Pereyra, e dahi couza de tres tiros de baUa se começa a enfragar entre dous montes fragozos que ficão ao nascente deste lugar e ao sahir deUes tem hum moinho de moer pão, e pouco abaixo hum lagar de azeite, donde toma o nome, o qual fica perto do lugar, que em annos secos, e que não chove de inverno pouco, ou nada trabalhão, como sucedeo nos annos de 1752, e 753, e pouco abaixo no caminho que vay para Sortelha tem húa ponte de pao, a que chamão pontão, e do assude do mesmo lagar tirão húa levada de agoa, quando a ha, para regarem alguas propriedades, e chãos que semeão de linhos.



E logo por baixo do sobredito pontão está outro moinho de moer pão, e daqui vai discorrendo the a fonte do prado, onde se ajunta com a Ribeira do Lagar, e deste' sitio para baixo se chama a Ribeira das Alvercas, e se vay a meter no sitio do Reixido em outra ribeira como esta, que tem o seu nascimento em os montes, ou cabeços que estão por sima das Quintas do Clerigo, e Quarta Feira, que são do lemite e freguezia de Sortelha, aonde entrão dous pequenos ribeiros que vão do lemite deste lugar, hum chamado da Malhada Velha, e o outro dos Carvalhos, que de verão se secão inteiramente. Do Reixido para baixo pouco mais de dous tiros de bana entra no lemite do lugar das Enguias que he termo da villa de Bellomonte, e discorrendo pouco mais de húa legoa se vai meter na

45

ribeira do lugar de Caria, e dahi em outra tanta distancia pouco mais ou menos no Rio Zezere nas direituras da Covilhaã, o qual vai dezagoar no Tejo junto da villa de Punhete. Não consta que se tirasse em tempo algum ouro das suas areas.

o

povo uza livremente das suas agoas sem pagar penção

algúa. He o que pude achar e descobrir para informar e responder aos itens dos tres interrogatorios, e para constar me assigno; Bendada 3 de Mayo de 1758

o Prior de Santa Luzia do lugar da Bendada João Pinto Pereira de Ftgueireâo e Castelbranco

46



CASTELEIRO

(VoL 9, pág. 1351)

Ao 1. Está na provincia da Beira, bispado da Guarda, comarca de Castello Branco, freguezia do Salvador anexa de Sancta Maria do Castello da villa de Sortelha, e termo da mesma villa. Ao 2. He anexa da Igreja Matris de Sancta Maria da dieta villa de Sortelha, pertence a El Rei. Ao 3. Tem cento, e sincoenta, e dois fogos; pesoas de confissão, e comunham trezentas, e quarenta, e oito; so de confissão setenta, e quatro; crianças que ainda se não confessão cento, e tres; pessoas ao tudo quinhentas, e vinte e, sinco. Ao 4. Está situada em valle; della se descobre para a parte do nascente o luguar Moita distancia de meia legoa; para a parte do norte a villa de Sortelha distancia de huma legoa. Ao 5. Nada. Ao 6. A parrochia está fora do luguar logo junto às cazas, tem huma quinta que chamam Cantalegallo tem hum morador, tem outra que chamam do Espirito Sancto tem outro morador. Ao 7. O orago desta freguezia he o Salvador do Mundo, a igreja tem tres altares, dois da parte do Evangelho, hum dedicado 47

-----------

ao Menino Deos, e o outro a Sancto Antonio; e da parte da Epistola tem outros dois, hum dedicado a Nossa Senhora do Rozario, e outro às Almas do Purgatório; naves tem somente o arco da capella mor, e huma Irmandade das Almas do Purgatorio, e outra de Sam Pedro. Ao 8. O Parrocho he Cura e aprezentado pello Reverendo Vigario da dieta villa de Sortelha, por ser anexa da Igreja Matris de Sancta Maria da mesma villa cuja caza pertence a E1 Rei, tem de rendimento vinte mil reis. Ao 9. Nada. Ao 10. Nada. Ao 11. Nada. Ao 12. Nada. Ao 13. Tem quatro ermidas, huma de Sam Sebastiam, esta está fora do luguar quazi cem paços, e outra do Devino Espirito Sancto esta está dentro do luguar, e outra de Sancta Anna esta está fora do luguar distancia de meia legoa e outra de Sam Francisco esta está fora do luguar quazi trinta passos, e nella está erecta a Irmandade dos Terceiros sujeita ao Convento de Sancto Antonio da villa de Pennamacor e todas estam sujeitas à Igreja Matris do dicto luguar do Castelleiro. Ao 14. À Ermida de Sancta Anna costumão os moradores do mesmo povo fazer romagem em dois dias do anno, hum em dia de Sancta Crux a tres de Maio, e outro o terceiro dia das Ladainhas do dicto mes de Maio, e nesta e em todas as mais asima numeadas se custuma dizer missa.

48

Ao 15. Os fructos que nesta terra se colhem em mais abundancia sam centeio, vinho, azeite, castanha, e linho, mas esta maior abundancia apennas será mediocre respeitando a terras ferteis. Ao 16. Está sujeita aos Juizes Ordinarios da villa de Sortelha, e nella se acha este anno servindo hum Juiz Ordinario por se costumar fazer hum da villa, e outro do termo como tambem hum Vereador e todos os annos tem dois Juizes Pedaneos que sam feitos pellos oficiais da Camem da dieta villa. Ao 17. Nada. Ao 18. Nada por ser gente muito rustica, e não se lembrarem de memoria alguma. Ao 19. Nada. Ao 20. Nam tem correio serve-sse do correio de Pennamacor que dista daqui tres legoas. Ao 21. Dista da cidade da Guarda capital deste bispado seis legoas, e de Lisboa capital do reino dista quarenta, e tres. Ao 22. Nada. Ao 23. Nada. Ao 24. Nada. Ao 25. Nada. Ao 26. Não padeceo ruina alguma no terremotto de 1755. Ao 27. Nada. 49



Serra Ao 1. O luguar do Castelleiro esta fundado em hum valle como assima se declara em cujo lemite se achão huma chamada a Serra d'Opa, e outra a Serra da Preza. Ao 2. Esta chamada Serra d'Opa tem de comprimento quazi duas legoas, e de largura meia legoa, principia no lemite do luguar Moita em o sitio da Cabeça Gorda, e acaba em o sitio que chamam Sam Dinis no lemite do luguar chamado Bemquerença distante deste povo duas legoas, e a serra chamada Serra da Preza terá de comprimento huma legoa, e de largura quazi o mesmo, principia no lemite deste luguar, e acaba no lemite do luguar chamado Escarigo distante deste luguar legoa e meia; correm ambas estas serras de norte a sul. Ao 3. Nada. Ao 4. Da serra chamada d'Opa nasce hum pequeno ribeiro e a este chamam o Ribeiro de VaI de Casteloins e logo se mete em huma ribeira que corre ao pe do povo e este ribeiro da Serra d'Opa corre do nascente para o poente, e da serra chamada da Preza nasce outro pequeno ribeiro chamado de Cantalegallo e tambem se mete na mesma ribeira e desta corre outro pequeno ribeiro que pasa ao pe da Quinta do Espirito Sancto, e corre tambem para a mesma ribeira, e este ribeiro se mete nella aonde chamam o sitio Guaralhais, e aquele no sitio chamado Tinte e estes ambos correm do poente para o nascente e tudo está no lemite deste luguar. Ao 5. Nada. Ao 6. Nada. Ao 7. Nada. 50

Ao 8. A serra chamada d'Opa se cultiva com seáras de centeio de hurn e outro lado a meia ladeira e a serra chamada da Preza se cultiva com searas tambem de centeio em todo o simo, e em todos os lados della, e o mais nada. Ao 9. Quazi no meio da serra chamada d'Opa está a Ermida de Sancta Anna asima ja declarada e somente os moradores do mesmo povo custurnamhir lá em romagem algumas vezes. Ao 10. O temperamento destas duas serras asima declaradas he frio mas saudavel. Ao 11. Cria-sse nestas duas serras gado miudo, e caça de coelhos e perdizes. Ao 12. Nesta serra chamada Preza acha-çe em todo o meio os alicerces de hurna grande preza que ali houve antiguamente, donde a serra tomou o nome de Serra da Preza, e a agoa desta preza se conta a queriam em o tempo antigo levar por canos aonde chamam a Torre dos Namorados distante della quatro ou sinco legoas, e nesta mesma serra de hurna crux que chamam da Relva Velha para a parte do luguar chamado Escarigo tem a Mitra duas partes em todos os fructos,e a Comenda hurna. 13. E da mesma crux para a parte do dicto luguar do Castelleiro tem a Comenda duas partes e a Mitra hurna em todos os fructos.

Rio Ao 1. Ao pe deste luguar do Castelleiro corre hurna ribeira sem outro nome mais que o nome de ribeira, esta principia a nascer 51

ao pe da serra chamada do Mosteiro, ao pe de huma quinta chamada Alagoas, freguezia de Sancto Antonio da Orgueira termo da villa de Sortelha, e nella tambem se mete outro ribeiro pequeno, que chamam o Ribeiro do Poio o qual principia a nascer em o sitio chamado Corredoura no lemite da dieta villa de Sortelha, e este se vem meter nella no sitio das Alvercas lemite deste luguar. Ao 2. Esta ribeira corre quazi todo anno, ou ao menos athe o fim de Julho, e ao depois sempre nella se conservam alguns poços de agoa, este ribeiro chamado do Poio no principio corre algum tanto arrebatado porem em se metendo na tal ribeira entra a correr com ella quieto. Ao 3. Nesta somente se metem tres pequenos ribeiros chamados hum o Ribeiro de VaI de Castelloins, e outro de Cantelegallo, e outro, do Espirito Sancto, este se mete nella no sitio chamado Guaralhais aquelles no sitio chamado Tinte. Ao 4. Nada. Ao 5. A ribeira em si corre quieta mas os tais ribeiros que nella se metem correm algum tanto arrebatados. Ao 6. Esta tal ribeira aonde principia corre das partes do nas-cente, e couza de hum quarto de legoa no sitio chamado Alvercas lemite do mesmo luguar dá huma meia volta, e corre de norte a sul. Ao 7. Nada. Ao 8. Nada. Ao 9. Nada.

52

Ao 10. As suas margens se custumam cultivar para centeio, as arvores que ha ao pe della sam algumas oliveiras" e alguns amieiros porem estes nam dam fructo, tambem ao pe do luguar em alguns chaons que estam junto della se custuma semear linho de secadal. Ao 11. Nada. Ao 12. Emquanto corre no lemite deste luguar não tem outro nome mais que de ribeira, mas fora do lemite toma o nome de Ribeira do Anacer. Ao 13. Morre na ribeira chamada Meimoa entre o luguar Bemquerença e o luguar Escarigo. Ao 14. Nada. Ao 15. Tem esta ribeira duas pontes de pao hua no sitio chamada Alaia dos Ramos, e outra no sitio chamado as Relvas da Ponte. Ao 16. Tem dentro do lemite desta freguezia esta ribeira sete moinhos, e tres laguares de azeite, e dois pizoins, e algum dia teve tambem hum tinte, porem hoje se acha demolido. Ao 17. Nada. Ao 18. Gozam os povos livremente das suas agoas. Ao 19. Tem de comprimento donde principia athe aonde se mete na Ribeira Meimoa duas legoas, e não Rasa senam ao pe deste luguar do Castelleiro.

53

Ao 20. Quando a folha cabe para a parte desta ribeira que chamam a folha de Guaralhais de hum sitio que chamam as Portellas para baixo tem a Mitra duas partes e a Comenda huma e das Portellas para sima terá a Comanda duas partes e a Mitra huma em todos os fructos. Castelleiro 25 de Abril de 1758 Manoel Pires Leal

Cura deste dicto luguar

S4

""--MALCATA

(VaL 22, pág. 235)

Informaçam de huma ordem que o Excelentissimo e Reverendissimo Senhor Bernardo Antonio de Melo Ozorio Bispo deste bispado da Guarda foi servido remeter-me que manou da Secretaria de Estado a instancia do nosso Fidelissimo Monarca, o Senhor Dom Jozé, que Deos guarde, primeiro, Rey de Portugual. Malcata Fica na província da Beira Baixa bispado da Guarda comarqua de Castello Branco termo da villa de Sortelha, fillial da mesma. Foi de Comendador e de prezente he de Sua Magestade que Deos guarde. Esta tem setenta e tres vezinhos, com os F oyos anexa pessoas duzentos e trinta e seis. Está situada em huma meia serra nam se descobre da mesma povoaçam alguma. Nam tem termo, que está sugeita à villa de Sortelha que he cabessa.

55



A Parroquia está fora do luguar tem huma aldeia que se chama Foyos.

o orago

da mesma chama-ce Sam Bamabe; tem tres altares, hum he de Nossa Senhora do Rozario e outro he de Sancto Antonio, tem huma nave e huma irmandade com o titulo do Spirito Santo

o

Parrocho he Cura e aprezenta o Reverendo Vigario de Sortelha tem de porçam seis mil réis quarenta e outo alqueires de trigo e mais tres para hostias. Nam tem Beneficiados Sortelha.

antes está anexa ao Beneficiado

de

Nam tem conventos que he lugar pobre. Narn tem hospitais pela rezam dita. Nam Caza de Mizericordia. Esta tem duas ermidas huma he de Sam Domingos que está demolida e o Santo está na freguezia tem outra do Spirito Santo, ambas estam fora do luguar, Sam Domingos pertence ao Parrocho do mesmo e o Spirito Santo pertence ao Parrocho de Coadrazais e tambem ao deste luguar. Acode gente de romage ao Spirito Santo na terceira octava do mesmo. Os fructos que os moradores recolhem sam iguais que sam pam castanha linho lã e mel em meia abundancia. Tem Juiz de Vara este está sugeito ao Juiz Ordinario da villa 56

de Sortelha. Nam he couto, nem cabeça de concelho honrra nem behetria. Da mesma sahiram huns homens insignes por armas hum Capitam de Cavalos e hum Alferes filho do mesmo Capitam. Nam tem feiras nem franca nem captiva. Nam tem correio servem-ce do correio da villa de Penamacor que dista tres legoas. Dista da cidade capital do bispado seis legoas e de Lisboa capital do reyno sincoenta legoas. Tem previlegios de nam poder-ce fazer-ce soldados nem cambios pello celebrado choque que este povo deu no sitio da Malhoqua. Nam tem lagoa nem fonte celebre. Nam he porto de mar. He murada de pedra piçarra e tem reduto por donde se defendiam os moradores no tempo da guerra. Nam padeceo ruína somente a igreja alguma padeceo. E nam ha mais couza alguma digna de memoria.

Informaçam da serra

57

--Chama-ce o Cabesso do Forno tem de cumprimento digo o principal do Cabesso. Tem tres legoas de cumprimento e duas de largo, principia na Serra das Mezas e acaba no Cabeço dos Pradinhos. Os nomes dos principais braços sam Porquira e Malhadinha Nascem da mesma o Rio Coa corre para o poente e fenece no Rio Douro. Ao longo desta serra está os F oyos está a villa do Sabugal Nam tem no seu districto fonte alguma de propriedade rara. Nam tem minas de metais ou canteiras de pedra nem de materiais de estimaçam que eu saiba. A serra he povoada de madronheiras cultivada e o fruto sam linhos.

em algumas partes he

Nam tem mosteiros nem igrejas somente Sam Domingos como dito fica e ha mais a Capella do Spirito Santo. A qualidade do temperamento he fria e húmida. A mesma tem criaçois de gados de seda veados lobos e mais bicharia silvestre. Nam tem lagoa alguma nem fojos notaveis. "

E nam tem esta serra couza mais alguma notavel que o que está dito.

58

Informaçam do rio Chama-ce o Rio Coa o sitio aonde nasce chama-ce a Serra das Mezas aonde se devide o nosso Portugal Castella e coatro bispados Guarda, Lamego, portuguezes, Cidade Rodrigo e cidade de Coreia, castelhanos. Nam nasce logo caudelozo e todo o anno corre. Entra no Rio Coa o Rio da Paá no sitio da Seredeira. Este he navegavel. Este he de curço munto arrebatado em parte e nam em toda a sua distancia. Corre de nascente a poente. Cria munto peixe da especie de trutas e estas em matar abundancia. Algumas vezes he pescado fora do tempo da criaçam digo mas fora do tempo da criaçam. As pescarias sam livres em todo o rio. Em algumas partes cultivam as suas margens e tem algum arvoredo silvestre. Nam sei que tenham as suas agoas alguma virtude particular. Sempre teve e tem o nome Rio Coa e em toda a parte conserva o mesmo nome. 59

Morre em outro rio que se chama o Rio Douro, nam sei o sitio aonde entra por ficar munto distante o Douro. Tem levadas e açudes mas nam embaraçam a navegaçam. Tem pontes huma de cantaria na villa do Sabugual e outra de cantaria e de pao no sitio do luguar de Coadrazais. Tem moinhos pizois e nam tem laguar nem noras nem outro algum engenho. Algum dia se tirou ouro de suas areas e de prezente se tira. Livremente uzam os povos das suas agoas sem pençam alguma para cultura dos campos. Nam sei decerto quantas legoas tem, mas parece tem sincoenta povoaçois, parece que tem vinte pouco mais ou menos e isto he desde o seu nascimento the o Rio Douro aonde acaba. E nam ha couza mais digna de memoria e he a informaçam que posso dar por saber algumas couzas e outras tambem as . . procurei e sam as mais. Malcata

o Padre

Cura

Apollinario Joze d'Elvas Roballo

60

MOITA

(VoL 25, pág. 1855)

Resposta à primeira parte dos interroguatorios 1° - Que este luguar da Mouta está na provincia da Beyra, e que he bispado da Guarda, comarca de Castello Branco, termo da villa de Sortelha, e freguezia de Sam Pedro do mesmo luguar. 2° - Ré de El Rey Nosso Senhor sem ter Donatario há muitos tempos, que nos preteritos foi dos Condes de Sortelha caza que se extingío. 3° - Tem sesenta moradores entrando molheres viuvas e solteyras; e que tem pessoas de confissam e communham cento, e quarenta e duas, e de confissam somente quarenta, e huma. 4° - Está situada em hum valle entre duas serras huma chamada a Serra de Opã, outra a Serra do Trisvical, descobre-se della o luguar do Castelleiro em distancia de meya legoa, e a villa de Covilham em distancia de sinco legoas. 5° - Nam tem termo seu porque como ja disse o he da villa de Sortelha. 6° - A Parochia está dentro do luguar, e narn tem luguares, nem quintas sojeitas, e somente tem huma anexa, que he o luguar 61

de VaI de Lobo, que he orago Sam Thiago em que o Prior desta igreja aprezenta Cura. 7° - O orago he o Principe dos Apostollos Sam Pedro, a igreja tem tres altares, o mayor, segundo o Divino Espírito Santo, terceiro da Virgem Nossa Senhora do Rozario, nam tem mais que huma nave, e tem huma irmandade dedicada às Almas do fogo do Purguatório. 8° - O Parocho he Prior dá aprezentaçam o Padroado Real, e tem de renda comparados huns annos por outros cento, e sesenta mil reis. 9° - Nam tem Benificiados. 10° - Nam tem conventos assim de religiozos como de religiozas. 11 ° - Nam tem hospital. 12° - Tambem nam tem Caza de Mizericordia. 13° ~ Tem huma ermida dedicada ao Martir Sam Sebastiam fora do luguar em distancia de hum tiro de baIla que pertence ao povo e a sustenta digo a fabrica do nessessario. 14° - Nam acode a esta romagens somente vem do luguar do Castelleiro em dia que detriminam entre as Paschoas em romagem ao padroeiro desta igreja, e nesta ermida principiam a procissam, e nella a fanelizam, em que sam obriguados a vir de cada caza sua pessoa, a qual procissam fas o Parocho do mesmo luguar. 15° - Os fructos que os moradores da terra recolhem com

62

mayor abundancia he centeyo, algum vinho, castanha, milho, linho, e pouco feyjam. 160 - Nam tem Juis Ordinário, e menos Camera, e somente tem dois Pedanios, que sam sujeytos à justiça ordinaria da villa de Sortelha donde he termo. 170

Nam he couto, cabeça de concelho, honrra ou behe-

-

tria. 18 Nam ha memoria que della sahissem, ou florececem homens insignes por virtudes, letras, ou armas porque sempre se compos de homens lavradores 0

-

19

Nam tem feyra.

0 -

200 - Nam tem correyo, e se serve do de Pennamacor, que dista deste luguar tres legoas, e entra na mesma villa nos sabados de cada somana, e sai-sse logo no domingo. 21 Dista este luguar da cidade da Guarda capital do bispado sinco legoas e da muito nobre e sempre leal Corte de Lisboa capital do reyno de Portugal sincoenta legoas. 0

-

220 - Nam tem mais previlegio que nam paguarem os moradores portagem como consta do foral dado à villa de Sortelha pello Senhor Rey Dom Manoel da Gloriosa Memoria que compreende ao todo o termo da mesma villa. 230 - Nam tenho que responder a este interreguatorio. 240 responder.

-

Como nam tem porto de mar tambem namtenho

63

que

25° - Nam he terra murada, nem praça de armas nem tem no terretorio castello, ou torre antigua de que se de noticia. 26° - Nam terremoto do anno de mil setecentos, e sincoenta, e sinco pela bondade de Deos nam padeceo mina alguma. 27° - Nam ha outra couza alguma digna de memoria de que se possa dar noticia.

Resposta à segunda parte dos interroguatorios cem à serra.

que perten-

1° - Emquanto vay no lemite desta freguezia se chama de Opã, que em outras tem outro nome de que os Parochos dellas daram noticia. 2° - Depois que emtra no reyno de Portugual esta serra, que pello luguar de VaI de Espinho termo da villa do Sabugual e bispado de Lamego, tem de cumprimento nove legoas, e de largura meya legoa e fmaliza no Rio Zezere junto a hum luguar chamado Alcaria termo da villa do Fundam, e sempre entendo que he braço da celebrada Serra de Estrella. 3° - Desta serra nasse hum braço chamado a Serra do Tresviscal que entre ambas está situado este luguar como ja disse e tem legoa e meya de comprimento, e meya de largura. 4° - O principal rio que nasse nesta serra he no destricto e freguezia dó luguar de Malcata, e se chama o Rio Coa, e que fenece no Rio Douro, e he o principal pescado delle trutas, barbos, e boguas de que os povos destas vizinhanças se sustentam. Nasse mais junto da Quinta das Alagoas huma ribeira chamada da Nave, que he povoada de poucos peixes por cauza das 64

muitas açudes para os moinhos, laguares de azeite, e pizoens e se mete na Ribeira da Meymoa, e esta no Rio Zezere. 5° - Estam situados ao longo da serra da parte do norte o luguar de Val de Espimho, Malcata, freguezia de Santo Antonio da Urgueyra, este luguar da Mouta, Castelleiro, Peraboa, e Ferro, e da parte do sul os luguares do Meimam, Santo Estavam, VaI de Lobo, Escarigo, Quintaens do Salgueyro, Capinha e Perovizeu. 6° - Nam tenho que responder a este in(terroguatorio). 7° - Na mesma forma nam tenho que responder. 8° - Nam sey que seja povoada de plantas ou ervas madicinais e se coltiva na mayor parte della, e os frutos que mais produs he centeyo, alguma castanha, e as mais arvores sam silvestres, como carvalhos, e outras arvores, que nam dam fruto. 9° - Nam há mosteyros alguns, e somente na freguezia de Sam Thiago de VaI de Lobo annexa desta de Sam Pedra da Mouta está huma Ermida de Nossa Senhora com o titullo da Povoa. Imagem milagroza, a que comcorrem varios romeyros, especialmente na segunda outava da Festa do Divino Espirito Santo, em que vay a villa de Sortelha, este luguar da Mouta, Castelleiro, Santo Estevam, Meymoa, Bemquerença, Escarigo, e Caria, e todos com suas folias, e fazem suas procissoens, e no fim festa sollemne, que celebra o luguar de VaI de Lobo a que todos assistem. 10° - O temperamento he frio. 11° - He a serra povoada de muita cassa como sam perdizes, coelhos, javalis, veados, eguados de cabello, e 100. 12° - Nam tem lagoas ou fojos notaveis. 65

13° - Nam ha outra couza digna de memoria.

Resposta à terceira parte dos interreguatorios 1° - O rio que corre nesta freguezia he a Ribeira da Nave, e nasse junto à Quinta das Alagoas, que he freguezia de Santo Antonio da Urgueyra. 2° - Nam nasse logo caudalozo, porque vay crescendo com os reguatos que se lhe ajuntam em varias partes, e ordinariamente seca, e por isso nam corre todo anno. 3° - Nam tenho, que responder. 4° - Da mesma sorte nam tenho que dizer. 5° - Corre do nacente para o poente. 6° - No tempo do imvemo he de curço arebatado por correr entre serras. 7° - Nam cria peixes, nam podem sahir dos outros rios em que entra pellas muitas asudes que ha de moinhos pizoens, e laguares de azeite. 8° - Pella mesma rezam nam há pescarias em tempo algum do anno. 9° - Nam tenho, que responder. 10° - Cultivam-ce as suas margens, semeando-ce de centeyo, e em algumas partes com seu reguadio se colhe linho, e feyjoens, e tem arvoredos, que constam de castanheiros, carvalhos, 66

amieiros, e salgueyros. 11° - Nam tenho noticia, que as suas agoas tenham alguma virtude especial. 12° - Desde o seu nassimento athe entrar na Ribeyra da Meymoa conserva o mesmo nome, e nam ha memoria se chamace de outra forma. 13° - Morre na Ribeira da Meymoa, e esta no Rio Zezere, e este no rejo, e o sitio em que entra na Meymoa he chamado o Anasser junto ao luguar da Bemquerença. 14° - Como nam he naveguavel as asudes que tem nam cervem de embaraço. 15° - Nam tem ponte alguma de cantaria, e somente tres de pau, huma no porto que vay deste luguar para o de Castelleyro, outra no caminho, que vay para a villa de Sortelha, e outra no porto do camunho que vay do Castelleiro para o luguar de VaI de Lobo. 16° - Emquanto corre pello lemite desta freguezia tem treze moinhos, tres laguares de azeite e tres pizoens sem outro mais algum engenho. 17° - Nam tenho que responder. 18° - Nam tem impedimento algum os povos para uzarem de suas agoas sem pensam alguma. 19° - A ribeyra desde o seu nassimento athe fenecer na da Meymoa tem duas legoas de comprimento, e passa pello lemite deste luguar, pello de Sortelha, Castelleiro, e Bemquerença aonde

67



feneliza. 20° - Nam mais couza alguma digna de memoria de se de noticia. Estas sam as que achei assim pella esperiencia, que tenho, como por irnformaçoens, que tomei e por verdade me assignei. Mouta o primeyro de Mayo de mil e setecentos, e sincoenta, e outo annos.

o Prior Diogo de Pinna.Botelho

de Oliveira

68



PENALOBO

(VoL 28, pág. 899)

1

He este lugar de Pennalobo, da provincia da Beyra, bispado da Goarda, termo da villa de Sortelha, commarqua de Castello Branco. 2 He anexa da igreja do Salvador, do lugar de Pouzafolles do Bispo, cujo Beneficio, he, in quoqunque mense, do Excelentissimo Bispo da Goarda. 3 Consta esta freguezia, ao prezente, de outenta e septe fogos, tem pessoas mayores de confissam e comuham, duzentas e vinte e septe, e de confissam somente quarenta e outo, e pessoas abzentes vinte e seis, e ao tudo duzentas e outenta e huma, e o lugar tem somente sessenta e tres fogos. 4

Está este lugar situado em hum valle muy fundo, rodeado de grandissimas penhas, que o inpossibilitam para dele se avistar povoaçam alguma somente do cimo dele se avista a villa de Sortelha, distante deste legoa e meya.

69

12 Nam tem Caza de Miziricordia.

13 Tem huma Errnida de Sam Sebastiam, contigua a este mesmo lugar, para a parte do poente; que he do mesmo povo, e o paramenta, do que hé necessario. 14 Esta nam he frequentada de gente de romagem, mais que tam somente de gente do mesmo povo. 15 Os fructos que os moradores desta freguezia recolhem sam centeyo, trigo, linho, vinho, e castanha, porem destes, o que em maior abundancia recolhem, he centeyo.

16 Tem Juis Pedaneo, sugeito ao Juis Ordinario, e Camera da villa de Sortelha. 17 Nam hé couto nem goza de previlegio algum. 18 Nam há memoria de que desta terra florecessem homens insignes, e somente consta que dela se ordenasse hum clerigo, chamado Francisco Soares.

19 Nam se costuma fazer nesta terra feyra alguma, em todo o anno.

71

20 Nam tem correyo, e se serve do da cidade da Goarda, que dista tres legoas deste lugar.

21 A cidade capital deste bispado, he a Goarda, e distam deste lugar a ela, tres legoas: à de Lisboa capital deste reyno, distam sincoenta legoas.

22 Nam tem esta previlegios, nem antiguidades, dignas de memona.

23 Em todos os montes, que comprehende o lemite deste lugar, há varias fontes de agoa, porem nenhuma delas hé celebrada, nem com expecial qualidade sabida the o prezente; Nam tem nenhuma lagoa; tem duas fontes de boa agoa, de que se serve este lugar, huma em a ponta do lugar, da parte do nascente; otra em a otra ponta, da parte do poente; e nam consta que nunqua se secassem senam em o anno de mil septecentos e sincoenta e sinco.

24 Nam hé porto de mar, nem o pode ser, pela distancia em que fica do Rio Teyjo que he o porto mais vezinho distante deste lugar, trinta legoas. 25 Nam he terra morada, nem praça de armas, nem tem castelo, nem torre, nova nem antigua

26 No terremótto do primeyro de Novembro de mil e septecentos, e sincoenta e sinco, nam padeceo esta terra, nem as con72

vezinhas, mina alguma digna de memoria. He o que na verdade posso dizer a estes vinte e seis interrogatorios.

Resposta aos interrogatorios das serras deste lugar 1 Dentro do lemite deste lugar, nam há serra nenhuma que tenha nome; somente huma penha muy alta, a que chamam a Serra da Vinha; para a parte do sul, que se avista deste lugar; e fica distante dele, meyo quarto de legoa: e as mais penhas que há no circuito deste lugar, nam tem nome de que se fáça mençam. 2 Terá esta serra, de comprimento, dois tiros de bála, e hum de largura.

3 Nam tem esta braços que tenham nome. 4 Desta nam nasce rio algum, e ao redor dela, e entre as mais penhas que há no lemitte deste lugar, há algumas propriedades regadias, porem poucas, e piquenas, e as agoas que delas nascem se juntam em ribeyro, que vay deste lugar, incorporar -sse em huma ribeyra, que chamam dos Vieyros: lemite de Sortelha, que vay ter seo fim no Rio Zezere, e este no Rio Teyjo.

5 Entre estas penhas estam situadas tres aldeyas, todas desta freguezia, a saber .Agua da Figueyra, Malhada Velha, e Vale de Niculao que estes sam os seos nomes. 73

6 Há, entre estas penhas, algumas fontes com aguas porem nam sam de propriedades raras.

7 Nam há nopticia que nelas haja nem tenha havido minas de metais nem canteyras de pedras, nem de otros materiais dignos de estimaçam. 8 Nam tem estas penhas, arvores de fruto, nem silvestres; nem sey que nelas haja ervas medicinais, por serem muy cultivadas para centeyo e sam dele muy naturais, e nam costumam dar otro genero de fructo. 9 Nam há nelas mosteyro algum, nem igrejas de romagem, nem imagens milagrozas,

10 He o seo temperamento, de qualidade muy fria. 11 Sam estas pastadas pelos gados deste lugar, e freguesia, porem sam estes muy poucos pelas pastagens mais nam permitirem, tem alguma caça de coelhos, e perdizes, porem pouca por nam ter matos.

12 Nam ha entre elas, lagoa, nem fojo notavel. He o que poso responder a respeyto das serras deste lugar.

74

-

Resposta ao interrogatorio das serras deste lugar. 1 Os rios que esta terra tem, sam somente duas ribeyrinhas. 2 Tem huma destas seo principio nas fontes deste lugar; e em otras que estam em o caminho que vem para este lugar; da parte do nascente, no sitio que chamam a Tapada Velha ao pé deste lugar; e otra que tem seo principio em hum sitio que chamam o .Salgueyrinho, para a parte do poente, distante deste lugar meyo quarto de legoa, e qualquer delas nam corre senam de inverno.

3 Nam se mete nestas otra alguma e a que se principia nas fontes deste lugar se vay meter em otra que chamam a Ribeyra dos Vieyros distante deste lugar meya legoa no fundo de hum sitio a que chamam a Retorta, lemite da villa de Sortelha; e a que principia no sitio do Salgueyrinho se vay meter em otra ribeyra que vem junto ao lugar da Bendada, na distancia de huma legoa. 4 Nam sam navegaveis nem capazes de o ser.

5 Ambas tem seo cursso arebatado; por hirem sempre por penhas, the se meterem nas sobreditas ribeyras.

6 Correm estas, do norte ao sul.

7 Huma destas cria alguns peyxinhos, junto ao sitio em que se

75

-.

mete na Ribeyra dos Vieyros, e a otra nam cria peyxes, the se meter na da Bendada, 8 Nestas, se nam fazem pescarias, por haver pouco que pescar. 9 Nam tem pescarias de Senhorio, e os poucos peyxes que há os pesca livremente, quem quer. 10 As margens destas sam fragozas, porem sempre se cultivam para centeyo; e nam tem arvores, fructiferas, nem silvestres. 11 Nam me consta que as suas aguas, tenham alguma expecial virtude. 12 Chamam-se estas, huma, a Ribeyrinha da Retorta; otra, a do Salgueyrinho; e nam tem otro nome, the se meterem em as otras ribeyras.

13 Tem estas seo fim, huma, na Ribeyra dos Vieyros, no sitio da Retorta; e a otra, na Ribeyra da Bendada, junto ao sitio que chamam das Alvercas.

14 Tem algumas levadas, e açudes, tanto huma como otra.

15 Nam tem pontes de cantaria, somente tem cada huma seo

76

pontam de pao, huma no sitio que chamam os Moinhos, para por ele se passar P8.Fcl a villa de Sortelha; e a otra tem otro pontam tambem de pao no sitio que chamam Pontam do Freyxial; para por ele passar, quem for para o lugar da Bendada. 16 Tem estas outo moinhos, de moer centeyo, que somente moem de inverno; e nam tem lagares de azeyte, pizoens, nem atafonas, e estam em huma dois, e em a otra, seis. 17 Nam me consta que em tempo algum se tirase ouro de suas areas. 18 Os moradores desta freguezia uzam livremente das suas agoas para os seos campos. 19 E ambas estas se vam incorporar em a Ribeyra da Bendada, na distancia de huma legoa e juntas com esta se vam meter em o Rio Zezere, junto ao lugar de Alcaria, que dista deste, sinco legoas e com ele, vam fenecer no Rio Teyjo. He o que na verdade posso responder aos interrogatorios que me foram remetidos e por verdade fis esta resposta que assiney Pennalobo, de Mayo, o primeyro, de mil e septecentos e sincoenta e outo annos. O Cura

JoamGomes

77

SANTO ESTEVÃO

(VoL 14, pág. 585)

Ao 1. Está na provincia da Beira. bispado da Guarda, comarca de Castello Branco, freguezia de Nossa Senhora da Conceição, termo de Sortelha. Ao 2. He dei

Rey.

Ao 3. Tem fogos noventa e sinco; pessoas de confição, e comunhão duzentas e sincoenta e tres; so de confição trinta e outo; crianças que ainda se não confeção setenta e duas; pessoas, ao todo, trezentas e sesenta e tres. Ao 4; Está situada em serra; dela de descobre, para a parte sul, o lugar de Vai de Lobo, a distancia de meia legoa; e o lugar de Bemcrença, a distancia de legoa e meia. Ao 5. Nada. Ao 6. A parochiaestá

dentro do lugar; ao mais nada.

Ao 7. O orago desta freguezia he Nossa Senhora da Conceição; a igreja tem tres altares; o altar mor; hum da parte do Evangelho dedicado a nossa Senhora do Rozario; e outro dedicado a Santo Estevão da parte da Epistola; tem huma so nave; e huma so Irmandade das Almas do Purgatorio. 79

Ao 8. O Paroco he Prior e da aprezentação Ordinaria; he o seu rendimento commumente 130$ Ao 9. Nada. Ao 10. Nada. Ao 11. Nada. Ao 12. Nada. Ao 13. Nada. Ao 14. Nada. Ao 15. Os fructos; que nesta terra se colhem em maior abundancia; são trigo, centeio. castanha, e linho, e azeite; mas esta maior abundancia apenas será mediocre em respeito de terras ferteis. Ao 16. Está sujeita aos Juizes Ordinarios da villa de Sortelha; e, em si, so tem dous Juizes Pedaneos. Ao 17. Nada. Ao 18. Nada; mas esta gente he muito rustica; para conservar memorias ainda de couzas grandes. Ao 19. Nada. Ao 20. Serve-se do correio de Penamacor; que dista daqui tres legoas. Ao 21. Dista, da cidade da Guarda capital deste bispado, 80

seis legoas; e, de Lisboa, quarenta e tres. Ao 22. Tem previlegio, por despacho do Conselho de Guerra; para seus moradores não serem alistados em soldados pagos; mas ja lho quebrarão algumas vezes, os Governadores das Armas da Provincia; e, em outras, lho tem observado. Ao 23. Nada. Ao 24. Nada. Ao 25. Nada. Ao 26. Não padeceu mina alguma no terremoto de 1755. Ao 27. Nada.

Serra Ao 1. O lugar de Santo Estevão está fundado de huma serra chamada do Mosteiro.

á

meia ladeira

Ao 2. Esta Serra do Mosteiro he huma maior altura, com comprimento de meio quarto de legoa, de hum braço da Serra de Estrela. A Serra de Estrela corre de sul e norte para a cidade da Guarda; e dahi vira, de norte a sul neste ramo; em que está a Serra do Mosteiro; e dela continua, athe se misturar com a Serra de Alpedrinha, tendo athe aqui de comprimento, desde a Guarda, des legoas. Ao 3. Cada sitio deste ramo da Serra de Estrela tem seu nome particular; conhecido porem so destes seus moradores. Os 81

dous mais conhecidos são; daqui a meia legoa, para a parte do sul: a Taberna Seca; e, andando mais meia legoa para a mesma parte: a Serra de Santa Martha. Ao 4. Da Serra do Mosteiro nascem dois pequenos rios; hum da parte do levante, e lemite desta serra; do qual abarca o 3° interrogatório; outro da parte do poente chamado Ribeira da Nave; corre de norte a sul; mistura suas agoas na Ribeira Meimoa junto ao lugar Bemcrença. Ao 5. Nada. Ao 6. Nada. Ao 7. Nada. Ao. 8. Em parte se cultiva com searas de centeio; que correspondem mal ao trabalho: ao mais nada. Ao 9. Nada. Ao 10. O temperamento he frio, mas saudavel. Ao 11. Cria-se nella gado miudo, e tem caça cervua, de javalis, e miuda. Ao 12. Nada. Ao 13. Nada.

Rio Ao 1. Na Serra do Mosteiro, dentro do lemite deste povo, 82

-no sitio chamado Mina, nasce huma ribeira, sem outro nome mais, que o de ribeira athe meia legoa do seu curso; dahi por diante chama-se a Ribeira de Vai de Lobo. Ao 2. Corre todo o anno; mas divirtidas as agoas para regadias; corre so no principio do seu curso no verão. Ao 3. Nada. Ao 4. Nada. Ao 5. Ao principio corre com algÚa precipitação, ao depois quieto. Ao 6. Corre de norte a sul. Ao 7. Nada. Ao 8. Nada. Ao 9. Nada. Ao 10. Emquanto corre com precipitação; se divertem as suas agoas para regadias de chãos; que dão trigo, linho, hortaliça, e alguma fruta; no demais das suas margens so dá trigo, e centeio. Ao 11. Nada. Ao 12. Junto do lugar de Vai de Lobo toma o nome de Ribeira de Vai de Lobo; e sempre o conserva. Ao 13. Morre na Ribeira da Nave, no sitio chamado o Anascer.

83

Ao 14. Nada. Ao 15. Nada. Ao 16. No lemite deste povo tem dous lagares de azeite; e outros dous adiante. Ao 17. Nada. Ao 18. Uzão os povos livremente das suas agoas. Ao 19. Tem de comprimento legoa e meia, e passa pelo lugar VaI de Lobo. Ao 20. Nada.

Santo Estevão, 2 de Abril de 1758 Francisco Tudella de Castilho Costa

Prior do dito lugar

84

--------------------------1

SORTE LHA

(VoL 35, pág. 1513)

João dos Santos, Vigario da Parochial Igreja de Santa Maria das Neves desta villa de Sortelha; A mim me foy inviada huma ordem do Excelentissimo e Reverendissimo Senhor Bernardo Antonio de Mello Ozorio, Bispo deste bispado da Guarda, com huns interrogatórios para dar resposta a elles, o que faço pela maneira e forma seguinte. 1 - Fica esta villa de Sortelha na provincia da Beira, bispado da Guarda, comarqua de Castello Branco termo da mesma villa freguezia de Santa Maria das Neves, e esta he orago da matris igreja; que tem dentro de seus muros. 2 - Algum dia era esta Comenda de Santa Maria das Neves Condado, e ainda o era no tempo dos Senhores Reis F elipes, quando este reino estava sugeito a Espanha, e de prezente se acha no Padroado Real, e não tem outro Senhorio, mais que Sua Magestade que Deos guarde, e o he de prezente. 3 - Tem esta freguezia duzentos, e onze fogos; pessoas maiores quinhentas, e trinta, e nove; e menores cento, e vinte e duas; ignocentes cento e trinta. 4 - Está situada esta dita villa, em o cume de hum monte, agreste por todas as partes, só pela do nacente não he tam 85

•••

agreste, como pelas outras. Desta dita villa se avistão as povoaçois seguintes: a villa da Covilhan que dista desta coatro legoas, a villa de Belmonte, que dista duas legoas, a villa de Monsanto, que dista cinco para seis legoas; a villa de Castello Branco, que dista des legoas; o lugar do Casteleiro, que dista meia legoa; o lugar da Bendada, que dista humalegoa. 5 - Tem termo proprio, o qual consta dos lugares seguintes: O lugar do Casteleiro com cento, e cineoenta, e dois fogos; pessoas maiores trezentas, e quarenta, e outo; e de confissam setenta, e coatro; pessoas que não andam no rol cento e tres. Anexa desta matris que aprezenta o Vigario. O lugar da Mouta com sessenta fogos; pessoas de comunham cento, e quarenta, e duas; de confissão somente quarenta, e huma. O lugar de Santo Estevão com noventa e cinco fogos, pessoas maiores de confição e comunhão duzentas, e cincoenta e tres; só de confissão trinta, e outo. O lugar da Orgueira' com noventa e seis fogos; pessoas de confição e comunham duzentas, e sessenta, e cinco; pessoas de confissão somente cincoenta e tres. Anexa desta matriz, aprezentação do Vigario. O lugar de Malcata, com settenta e dous fogos; pessoas de confissão, e communhão, cento, e outenta, e seis; pessoas de confissão somente cincoenta, que tambem he anexa da mesma aprezentação. O lugar de Agoas Bellas com outenta, e dous fogos; pessoas maiores cento e noventa, e seis; menores trinta e nove: O lugar de Penalobo com outenta, e septe fogos; pessoas maiores duzentas e outenta, e sette; menores quarenta, e outo; e seis abzentes. O lugar da Bendada com cento, e vinte, e cinco fogos; pessoas maiores duzentas, e noventa, e cinco; pessoas menores set86

tenta, e outo. E não são mais lugares os do termo desta villa, e pessoas, e fogos são os que me derão os Reverendos Parochos na informação que lhe pedi. 6 - Está esta Parochia dentro dos muros e tem as aldeyas seguintes: A Quinta de Santo Amaro, que dista da Parochia meya legoa.

A Quinta de Quarta Feira, que dista meya legoa. A Quinta do Clerigo, que dista quaze huma legoa. A Quinta do Dirão da Rua, que dista quaze huma legoa. A Quinta do Espinhal que dista legoa e meya. 7 - O Orago desta freguezia he Nossa Senhora das Neves. Tem cinco altares: o altar do Santissimo Sacramento, o altar das almas, o altar da Senhora do Rozario, o altar do Divino Spirito Santo, o altar de São Francisco Xavier, asim se chamão por nelles estarem colocadas as ditas imagens, não tem senão sua nave que he huma, ou corpo da igreja com seu arco muito bem feito, Tem a Irmandade das Almas, e a Irmandade dos Congregados de São Francisco Xavier e a Confraria da Senhora do Rozario, e a do Santissimo Sacramento. 8 - O Parocho he Vigario, aprezentaçam he de Sua Magestade que Deos guarde, a renda que tem são quarenta mil reis, e dous para vinho, e dous por ensinar a doutrina, e cinco alqueires de trigo, e hum aratel de sabam para lavagem dos corporais mais nada. 9 -Não tem. 10 -Não tem.

87

II - Tem huma caza a que chamão Hospital, que serve para se recolherem alguns pobres, que vem de passagem, administrada pelos irmãos que servem na Meza da Santa Caza da Mizericordia, porem não tem renda alguma. 12 - Tem Caza de Mizericordia; a sua origem foy no anno de mil, e seiscentos, e. vinte, e seis, que a fizeram os homens nobres desta freguezia de huma igreja, que algum dia foy matris que fica fora dos muros, que antigamente se chamava a Igreja de São João, o que tudo consta de hum termo feito no dito anno. Tem de renda huns annos pelos outros trinta mil reis. Tem a dita igreja tres altares, o de São João, o do Santo Christo, e o de Santa Ritta, e esta imagem he muito prefeita, e milagrosa. 13 - Tem esta freguezia as hermidas seguintes: a de São Tiago extra-muros, a de São Sebastião tarnbem fora dos muros, a de Santa Catharina, fora dos muros, a de Santo Amaro que dista meya legoa, a de Santa Bárbara que dista meya legoa, a de São Marcos que dista legoa e meya, a de Nossa Senhora da Graça que dista duas legoas, e esta Senhora he muito prefeita, e milagroza, e a Cappella de São Comelio que está feita de novo, e se ha de colocar o dito Santo nella para Septembro que vem no dia do dito santo. Fica esta Cappella de São Comelio no cume de hum monte, para hirem os materiais para se fazer se levou tudo às costas por não poder la chegar besta nem carro e foy feita com esmolas; que athe os tempos prezentes esteve o Santo sempre em huma la-pa que fica no mesmo cume do dito monte chamado o Outeiro de São Cornelio, e não ha memoria de como aparecesse o dito Santo na lapa, he muito milagrozo, e advogado das sezois, e concorre gente de varias partes, e ainda de fora do reino em romagem como he de Espanha, que dista deste monte sette legoas. Dis-se que algumas vezes se tinhão levado o santo da dita lapa para a Cappella de Santa Bárbara, e que ao outro dia achavão o Santo outra vez na sua lapa aos temporais pois quando chovetambém chove na dita lapa. 88

--------------------------.

14 - Ainda, que vem gente em romagem, não tem dias detreminados. Só à Capela de São Marcos no dia do dito Santo por serem Ladainhas vay a cruz de Agoas Bellas, e a gente de freguezia acompanhando-a e a cruz do lugar da Orgueira e sua freguezia. E a cruz das Quintas de São Bartholameu com sua freguezia, e no dito dia se faz feira junto à dita capela, não dura mais que hum dia que he vinte, e cinco de Abril. 15 - Os frutos que se recolhem nesta terra são centeyo, vinho, azeite. 16 - Tem esta villa Juis Ordinário, e dous Vereadores, e hum Procurador do Conselho, que são os que governão a terra, tem mais Juis dos Orphaos, Escrivão dos Orphaos, e dous Escrivains do Publico. Tem Caza da Camera com suas Armas Reais, não está sugeita a outra justiça mas estes ditos são a que governão a Republica. O Provedor e Corregedor desta comarqua vem a esta villa em correição. 17 - He cabessa de todo seu termo e nelle poem as mais justiças que são precizas como Juizes Espadanos nos lugares do termo, e esta Camera os faz, e livra quando he justo. 18 - Nada. 19 - Tem tres feiras na freguezia que são a de São Marcos como fica dito, a vinte, e cinco de Abril, que dura hum dia, que he na Quinta do Espinhal; e as duas mais são na Quinta de Santo Amaro hum dia cada huma, e estas são huma a quinze de Janeiro, e outra, a segunda outava da Pascoa, e dentro dos muros não tem feira alguma. 20 - Não tem correio; serve-sse ordinariamente do correio da cidade da Guarda, que chega na segunda feira de tarde, e parte na sesta feira de madrugada, e dista desta villa coatro legoas.

89

21 - Dista da cidade capital do bispado que he a cidade da Guarda coatro legoas, e de Lisboa capital do reino quarenta, e seis legoas. 22 - Tem os moradores desta villa, e seu termo privillegio de não pagarem portagem neste reino, asim das couzas que comprarem como das que venderem, concedido pelo Senhor Rey Dom Manoel, que a Santa Gloria haja. Tem esta mesma villa de Sortelha por contrato muito antigo hirem os Officiais da Camara hum dia em cada hum anno à villa do Sabugal com suas varas e lhe dam os Officiais da Camara da dita villa do Sabugal hum jantar e no fim delle o Procurador da dita villa do Sabugal paga hum tostão de EI Rey Dom Manoel ao Procurador desta villa de Sortelha, que lhe oferece em huma salva de prata perante todos, e os Vereadores e Procurador da dita villa do Sabugal, servem a meza aos Officiais da Camara desta villa de Sortelha, o que tudo consta do foral da Camara desta villa de Sortelha, e do Tombo do Concelho feito no anno de mil e seiscentos, e quinze. Tambem esta villa tem Alcaide Mor, que aprezenta o dito Alcaide, e Carcereiro da Cadeia desta villa, e terá de renda cada hum anno pouco mais ou menos sesenta mil reis, e de prezente o he Manoel Bemardo de Mello e Castro morador na cidade de Lisboa.

23 -Nada 24 -Nada. 25 - Esta he murada seus muros são todos de cantaria, tem duas torres huma dentro do castello, que tem fichado com bastante fortaleza por ser hum arife, e despinhadeiro muito agreste, que o faz invencivel principalmente pela parte do sul, e a dita torre he muito alta, e forte toda de cantaria. Tem outra torre tambem de 90

cantaria, que fica para a parte do poente tambem muito forte, E tem tres portas a Porta do Concelho, e a Porta Nova e outra que está tapada desde o tempo das guerras, e as duas são por onde se serve esta villa, não he praça de armas mas mostra que o foy nos tempos antigos, e dizem o hera, no tempo em que não estavam as terras de Sima Coa sugeitas a Portugal, o que bem mostra pela formalidade com que está feita. Os muros desta villa tem tres portais porem nenhum dá ainda passagem de pé, Tem huma torrinha que asim se chama porem esta se acha já meia aruinada por ficar arumada a hum dos ditos portais, que fica para a parte do nacente. Tem mais a Cappella de São Gens extra muros, e a Cappella de Santo Antonio, as coais são de particulares. 26 - Não padeceo esta terra estrago algum pela mizericordia do Altissimo. 27 - Responderey nos interrogatorios que se seguem

Serra 1 - Ha aqui hum monte agreste a que chamão a Serra do Casteleiro, porem mais se lhe pode por o nome de monte que de serra, por ser redondo, e toda a sua circunferencia em roda poderá ser de huma legoa. 2 - Está respondido supra. 3 - Não tem braço algum. 4 - Não nasce rio algum della senão alguns regatos que não são dignos de memoria pela sua tenuidade. 5 -Nada.

91

6 - Nada. 7 -Nada. 8 - Esta serra ou monte não se cultiva, pelas suas faldas tem soutos e terras de centeio, e azeite, ou olivais, e vinhas, e pelo cume do dito monte ou serra tem carvalhos, e giestas e alguns sobereiros, e são as arvores que tem a dita serra. 9 -Nada. 10 - Não deixa de ser fria por ser dezabrida de todos os ventos. 11 - Pastão nella os gados seguintes ovelhas, carneiros, e cabras, E tambem tem a cassa seguinte coelhos, perdizes, e lebres porem não são em muita abundancia. E tambem nella ha lobos, e rapozas, teixugos, tourois, e papalvos. 12 - Não mais que dispinhadeiros de penhascos, por cauza dos coais em algumas partes não dá passagem ainda a gente de pé. 13 - Tem mais esta freguezia o Outeiro de São Comelio em que já faley, este tabem tem alguns despinhadeiros grandes de penedos huns em sima de outros e muito agrestes aonde se não po-de chegar em algumas partes. Não ha nesta freguezia minas nem lagoas, nem fontes, ou agoas algumas de que haja noticia tenhão virtude nem ervas de que se possa fazer memoria, em toda esta freguezia ha cassa em que ja faley mas não em muita abundancia.

92

Rio 1 - Não ha nesta freguezia rio algum somente ha os ribeiros seguintes: a Ribeira da Nave que só corre no tempo de inverno, e de veram se seca esta nasce e se faz do Ribeiro da Truta e do Ribeiro de Carvalhal Redondo, e nascem no dito sitio, corre de nascente a poente, e se mette na Ribeira do Casteleiro, distancia de meia legoa e se mete na Ribeira da Meimoa, e se metem no Rio Zezere distancia daqui de coatro legoas. Ha mais o Ribeiro dos Pedreiros, que nasce no Outeiro da São Cornelio, e corre de nascente a poente, e se mete na Ribeira das Enguias distancia de legoa, e meia, e se metem no Rio Zezere distancia de tres legoas.Ha mais a Ribeira de Quarta Feira que nasce tambem no Outeiro de São Cornelio, no sitio dos Covoens, e se lhe juntão varios regatos, e o ribeiro que vem de Penalobo, que nasce junto ao dito lugar, e se mette na dita ribeira, e corre athe se meter nella de norte a sul, e depois de nascente a poente, e se mettem na dita Ribeira das Enguias distancia de hurna legoa, e se metem no Rio Zezere distancia de tres legoas, e meya, e todos estes ribeiros e ribeiras se sequarn de verão, e nelles não ha pescado algum na minha freguezia porque todos se sequarn no tempo do verão. 2 - Não são caudalosos senão nas enchentes do inverno quando todos os ribeiros enchem. 3 - Nada por ficar respondido só se entrarem alguns mais fora da minha freguezia de que darão os outros Parchos conta. . 4 -Nada. 5 - Nesta minha freguezia todos os ditos ribeiros, e ribeiras são de curso arebatado por serem todos por pedras, e em partes bastantemente despinhados por passarem por sitios muito agrestes,

93

quaze em toda a esta freguezia, sem pouca diferença, por ser a terra agreste. 6 - Ja fica respondido no paragrafo primeiro e a esta não ha mais nada que dizer. 7 - Não ha nelles pescado como fica dito supra. 8 - Nada por não haver o dito pescado. 9 -Nada. 10 - Aonde os ditos ribeiros fazem algumas ensiadas nellas ha olivais, e semeão linhos, e nabais, e hortas, com suas latadas de vinhas, e figueiras, e tambem alguma fruta porem pouca nesta freguezia como he pera, masã, ameixas, jinjas, e algumas pessoas fazem tambem seus meloais, porem poucos. 11 - Que se saiba não tem virtude suas agoas mais que para regarem as terras aonde podem chegar suas agoas.

12 - Sempre tem conservado memoria de que tivessem outro.

o mesmo nome, e não ha

13 - Fica respondido, que correm para o Zezere, e este me consta corre para o rejo, e que este se mette no mar na capital cidade, corte de Lisboa, os sitios em que se mette no rejo não pude averiguar, a que responderão os que ficarem mais perto. 14 - Nada mais que o serem arebatados nesta minha freguezia. 15 - Não tem ponte alguma nesta minha freguezia senão somente hum pontão no sitio da Quarta Feira, no ribeiro, que vem 94

e nasce no sitio dos Covoens, e outro pontam no sitio dos Vieiros ambos de madeira, que dam passagem no tempo do inverno, e não sey demais. 16 - No ribeiro que vem de Penalobo a que chamam o Ribeiro de Penalobo ha varios moinhos, que servem para moer o pão de centeio, milho grosso e miudo, e algum trigo porem destas tres sementes pouca abundancia ha nesta freguezia. E no ribeiro que vem do sitio dos Covoens, que faz a Ribeira de Quarta Feira tambem ha moinhos que servem para o mesmo menisterio. Em hum ribeiro a que chamão o Ribeiro do Poyo tambem ha alguns moinhos e humlagar de azeite junto à freguezia do Casteleiro distancia desta vilIa meya legoa. E no Ribeiro dos Pedreiros ha no sitio da Azenha ha outro moinho de azeite. e nestes não ha mais. E na ribeira a que chamão da Nave ha dous moinhos de azeite ou lagares, e não ha nesta freguezia mais lagares. Ha tambem na dita Ribeira da Nave dous pizois que servem para pizar o pano de seragossa e alguns moinhos de moer pão, de centeyo, e trigo e o mais que asima tenho dito, e não ha mais. engenhos, que os em que tenho falIado. 17 - Não consta que das areas dos referidos ribeiros, e ribeiras se tenha tirado ouro. 18 - Suas agoas são livres, e cada hum uza della livremente naquelas partes aonde lhe he primitido sem prejuizo de treceiro sem pensão alguma. 19 - Ja fica respondido a este paragrapho supra, não passão que saiba por povoaçois algumas nesta minha freguezia, e por serem ribeiros tambem são de poca memoria, e nota.

95

Não ha mais couza que se faça digna de memoria nesta freguezia pois o de que pude alcansar noticia aqui vay copiado. Sortelha 20 de Mayo de 1758

o Vigario João dos Santos

96

URGUElRA

(Voz. 41, pág. 2185)

Eu Antonio Martins Cura da Igreja de Santo Antonio do lugar da Urgueyra satisfazendo a h'Ulllaordem do meu Superior para effeyto de responder a huns interrogatorios que me forão remetidos, respondo o seguinte pella ordem dos mesmos interrogatorios. 1 - Fica na provincia da Beyra, bispado da Guarda, comarca de Castello Branco, termo de Sortelha, e freguezia de Santo Antonio. 2 - Cuja lugar digo igreja está sita na Quinta ou Aldeia de Santo Antonio, que pertense a Sua Magestade que Deos guarde e he filial da Igreja Matriz de Nossa Senhora das Neves da sobredita villa de Sortelha, de cuja aldeya he Senhor o Alcayde Mor de Sortelha. 3 - Tem noventa e seis fogos a freguezia, e duzentos e sesenta seis pessoas mayores de eonãssam, e comunhão; e menores de confissão somente sincoenta e trez. 4 - Está situada em lugar playno, ainda que algum tanto alto. 5 - Ao quinto não ha que dizer. 97

6 - A Parrochia está fora do lugar principal que he a Urgueyra, na Aldeya de Santo Antonio, cuja freguezia consta de quatro povoassois, que vem a ser a principal a Urgueyra, Aldeya de Santo Antonio, a Quinta dos Amiais e a Quinta das Lagoas.

7 - O orago he Santo Antonio, tem tres altares, o altar mor do mesmo Santo Antonio, o do Evangelho do Santo Cristo, e o da Epistola de Nossa Senhora do Rozario, e narn tem irmandades. 8 - O Parocho he Cura annual apprezentado pello Vigario de Sortelha, tem de renda cento e outo alqueyres de centeyo e quatorze e meyo de trigo, eouto mil reis em dinheyro dos quais paga a Comenda trinta e dois alqueyres de centeyo, quatorze e meyo de trigo, e os outo mil reis, e o mais os freguezes. Ao nono, decimo, undecirno, e duodecirno nam ha que dizero

13 - Tem huma capella dentro do lugar da Urgueyra da Senhora do Pillar, erecta avera sincoenta annos, que he do povo, na qual ha huma Irmandade das Almas. Ha outra capella, ou herrnida sita na marge do Rio Coa com a invocação da Senhora da Grassa, e aprezentada pello sobredito Vigario de Sortelha, que se sustenta de esmolas, nella vive hum hermitão e em algum tempo viverão sinco ou seis. 14 - À sobredita hermida costuma hir alguma gente em romage principalmente dia d'Ascensão no qual vay a Camera e Sortelha; e muita gente do Sabugal, Malcata, e de outras partes circunvizinhas, e d'algumas remotas. 15 - Os principais fructos, e de mais abundancia, que recolhem os moradores da dita freguezia, sarn centeyo, algum pouco trigo, gado, e castanha. 98

16 - Tem hum Juiz Espadano, annual, elleyto pella Camera da villa de Sortelha, e a ella sujeito. 17 - Ao decimo septimo, 18. 19. nam ha que dizer. 20 - Nam tem correyo, mas serve-sse do da vilIa do Sabugal, que dista meya legoa. 21 - Dista da cidade principal do bispado quatro legoas; e de Lisboa dizem que sincoenta. E do vigessimo segundo, 23, 24, 25, 26 e do 27 nada; nem do tocante à serra nada pella não aver. Pello que toca ao Rio Coa que fica devidindo a dita freguezia com a de Santa Maria do Sab(ug)al com o termo da mesma villa, e com o bispado de Lamego, partindo pelIo meyo do mesmo rio, nasce aonde chamão a Serra das Mezas que dista quazi sinco legoas na raya de Castella, aonde partem os reynos e quatro bispados, este da Guarda, o de Lamego e dois de Castella, convem a saber, Cidade Rodrigo e Coria para memoria do qual se acha huma meza de pedra antiga com quatro acentos aonde se diz estiverão ou podem estar os quatro prelados dos ditos bispados na mesma meza cada hum no seu bispado . . 2 - Nasce com bastante agoa, mas nam caudeloso, ainda que corre todo o armo. 3 - Ao terceyro, quarto, e quinto nam he que dizer nem ao quarto nem ao quinto. 6 - Corre do sul contra o norte, e nascente. 7 - Cria alguns peyxes cria como sam trutas, bogas, bor99

dalos, e a mayor abundancia barbos. Ao outavo e nono nam ha que dizer. 10 - As marges cultivam-se na mayor parte tem arvoredos agrestes como sam amieyros, e carvalhos, e matos sylvestres. 11 - Ao undecimo nada.

12 - Ao duodecimo sempre conserva o proprio nome athe entrar no Rio Douro, aonde fenece, e o citio o poderão declarar os vezinhos Ao decimo segundo digo 13, 14, nada. 15 - Tem nesta freguezia huma ponte de pedra antiga de pedra com .... olhais.

16 - Tem hum so moinho, e em hum regato que entra no dito rio por bayxo da ponte, tem trez moinhos, e hum pizam. A decimo septimo não ha que dizer. 18 - Nam se uza das agoas do dito rio nesta freguezia, não se uza de suas agoas para regar por não dar o sitio lugar. Ao decimo nono, e vigessimo nam ha que dizer, nem outra alguma couza e por verdade madey fazer esta que asigney. Urgueyra de Abril 8 de 1758

o Cura Antonio Martins 100

VALVERDINHO

(VoL 38, pág. 355)

Excelentissimo e Reverendissimo Senhor Bispo Dando comprimento às ordens de Vossa Excelencia Reverendissima, e às que manda Sua Magestade Fidelissima expedidas pella Secretaria de Estado pella informaçam que tirei achei o seguinte: I - Primeiramente respondendo aos cappitollos dó impreço junto, esta Igreja do Espírito da Quinta de Valverdinho, que hoje he Curato aprezentado pellos Senhores da Caza de Penedono foi Cappellania da freguezia do lugar de Caria, a qual desanexada sendo Bispo neste bispado. da Guarda o Senhor Dom Affonço de Mendonça Furtado no aMO de mil setesentos e quinze por consintimento do Reverendo Prior da dita igreja de Caria, que nese tempo existia ficando, os dizimos, e primicias, salvos para a dita igreja do lugar de Caria, e nam seriam em tempo algum obrigados os Priores da dita igreja a pagar o celario aos Curas nem menos para a fabrica da dita Cappellania que hoje he Curato apprezentado pellos Senhores da Caza de Penedono e jure devoluto pello Ordinario da cidade da Guarda. Esta terra está sita na província da Beira, bispado da Guarda, comarqua da notavel villa de CastelloBranco, termo da villa de Sortelha, e nam pertence a freguezia alguma no espiritual, porquanto nesta igreja se baptiza e interra e se administram todos os 101

~~~ mais sacramentos sem dependencia de outra e so sim fiquam os dizimos, e premicias, para a Igreja de Caria como fica dito. 2 - Achei por informaçam de pessoas velhas que he Senhor donatario deste lugar Joam Bemardo Pereira Coutinho de Vilhena da villa de Penedono, de quem he este lugar e que os moradores delle so sam simples colonos das terras e cazas do dito lugar em que vivem conhecendo ao Senhorio da dita Caza de Penedono com as suas rendas, que lhe pagam dos frutos, que recolhem em todos os annos. 3 - Tem vinte, e dous vizinhos ahonde entra hum moinho que tem para a parte do norte dous tiros de mosquete, e tem setenta e duas pessoas mayores de sacramento, e menores deza-nove, que todos fazem a soma de noventa, e huma. 4 - Está situada em hum val por cuja cauza se chama Valverdinho fiqua distante da villa de Sortelha pella parte do nascente huma legoa, e da villa de Belmonte pella parte do norte huma legoa, e da villa da Covilham duas legoas, e meia, porem nenhuma destas povoaçons se avistam, e somente a villa da Covilham do sitio da igreja a qual fica fora do dito lugar em hum oiteiro da parte do sul hum tiro de pedra. 5 -Nada. 6 - Nada. 7 - O orago desta igreja he o Divino Espírito Santo, e nam tem senam hum altar, nam tem naves, nem irmandade alguma. 8 - O Parrocho desta igreja he Cura aprezentado pello donatario asima dito, e em falta deste pello Ordinario Eclesiastico da cidade da Guarda, rende somente oitenta alqueires de senteio, e 102

nove mil reis que tudo paga o donatario. 9 -Nada. 10 -Nada. 11 -Nada. 12 -Nada. 13 -Nada. 14 -Nada. 15 - Os frutos que esta terra da e os moradores della recolhem em mayor abundancia, sam senteio, trigo, milho, feijam pequeno. 16 - Nam tem Juizes nem justiça alguma por estar subjeita à justiça da villa de Sortelha, a qual consta de Juizes Ordinarios no crime e sivel, e tem Juiz dos Orphaons separado, Veriadores, Almotaceis e Alcaide. 17 - Tem esta terra o privilegio das tabuas vermelhas, por rezam de o ter o donatario, e por este motivo se nam fazem nella soldados nem se lançam egoas da criaçam. 18 - Nada. 19 -Nada. 20 - Nam tem correio porem o que lhe fiqua mais perto he da villa da Covilham, que dista duas legoas, e meia.

103

21 - Dista da cidade capital, que a cidade da Guarda, sinco legoas, e da de Lisboa cidade capital deste reyno dista sincoenta legoas. 22 - Nam tem mais privilegies, que os das taboas vermelhas ja ditas.

23 -Nada, 24 -Nada. 25 -Nada.

26 -Nada. 27 -Nada.

1 - Respondendo aos segundos cappitollos digo que tem huma serra da parte do nascente, a qual se chama a Serra da Preza, que comesa no lugar do Castelleiro, e finda no lugar de Ferro. 2 - Tem de comprimento tres legoas e de largura hum coarto de legoa.

3 -Nada. 4 -Nada,

5 -Nada. 6 -Nada, 7 -Nada.

104

8 - Nada mais dá esta serra neste lemite que algum senteio em parte e he composta de mato miudo como sam estevas, e gestas. 9 -Nada. 10 - Nada tem de quente mas sim he fria. 11 - Nada mais se cria nella que tam somente gados miudos, e alguma caça. 12 -Nada. 13 -Nada.

Respondendo aos terceiros cappitollos digo 1 - Da parte do norte corre huma ribeira, e nam tem nome proprio comessa junto ao lugar do Castelleiro, e junta-se com outro regato que vem da villa de Sortelha. 2 - Corre quaze todo o anno e nam caudeloza. 3 -Nada. 4 - Nada. 5 - Nada, tem decurso quieto em algumas partes porque tambem he arebatado miutas vezes. 6 - Corre do norte para o poente. 7 -Nada.

105

8 -Nada. 9 - Nada. 10 -Nada. 11 - Nada. 12 - Nada. 13 - Esta ribeira se junta com huma ribeira que vai do lugar de Caria que chamavam algum dia Ribeira de .Lavacolos que corre para o poente e se ajunta no lemite do lugar de Caria ahonde chamam o Pinheiral. 14 - Nada. 15 - Tem huma ponte de pao no lemite do lugar de Caria ahonde chamam a Ladeira. 16 - Tem hum moinho junto a este lugar de Valverdinho como ja esta dito. 17 Nada. 18 - Nada. 19 - Tem duas legoas desde o nascente the onde acaba, e passa junto a este lugar de Valverdinho tambem junto ao de Caria. 20 - Nada.

E nada mais pude descubrir do que o relatado asima que

106

tudo aqui declarei fielmente, o que he na verdade, e para tudo o que Vossa Excellencia Muito Reverendissima me ordenar fico promptissimo Valverdinho 7 de Mayo de 1758 annos De Vossa Excelencia Muito Reverendissima subdito muito obediente

o Cura Antonio da Fonseca dos Reys

107



APENDICE

"

",

-----------~

Para contemplar a área do actual concelho do Sabugal, só faltam as memórias das freguesias da Cerdeira ( que, em 1758, era do termo de Castelo Mendo), a da Pousafoles e a de Seixo do Coa (estas, naquele ano, do termo da Guarda). Como estas tres memorias não justificam um outro caderno e não vamos alargar a transcrição a mais paróquias, incluímo-Ias aqui, embora deslocadas por nada terem a ver com o antigo concelho de Sortelha. A notícia da Cerdeira, integrada embora no Dicionário Geográfico de Portugal do ANTT, não corresponde aos quesitos do Inquérito de 1758. Pelo conteúdo e data, trata-se, certamente, de uma informação prestada pelo Vigário para servir de base de resposta a uma das circulares expedidas pela Academia Real de História Portuguesa, na sequência do inquérito que promoveu em 1721.

111

-

-

-----

CERDEIRA

(VoL 42, pág. 35)

Eu Manuel Francisco Damaso, Vigario na Parochial Igreja de Nossa Senhora da Vizitaçam do lugar da Serdeira do Arceprestado da villa de Castello Mendo, dando comprimento à ordem do muito Reverendo e Illustre Cabido, acho que nesta minha freguezia se nam sabe quem foi o fundador da igreja mas sim he esta da admenistraçam do Reverendissimo Padre Dom Abbade do Real Mosteiro de Santa Maria de Aguiar, e tambem se diz que antiguamente foi villa e tinha muitos e grandes previlegios como consta do Cartorio do real Mosteiro. He orago della Nossa Senhora da Vizitaçam Tem pessoas maiores duzentas e corenta; menores corenta e tres Nam tem mosteiros nem de religiozos nem de religiozas: nem seminarios nem cazas de meziricordia nem de orfons nem ospitais nem lugares pios. As proseçois que nesta freguezia se custumam fazer sam as Ladainhas Reais nos dias de São Marcos; dia de Santo Amaro se vai em prosiçam a hurna capella do mesmo santo sita na Quinta do Cortelho da mesma freguezia; no dia seguinte despois do dia d'Asençam de Christo se vai a hurna Capella de Nossa Senhora do Monte foi esta enstituida para aplacar a peste do garrotilho; e no sabado seguinte se vai tambem à dita capella com preces para que Deus livre os frutos de vinhas do polgam; 113

tem mais todos os domingos terzeiros proseçam do Sacramento. Mais todos os domingos primeiros do mes prosiçam de Nossa Senhora do Rozario; Tem mais o primeiro sabado da quaresma obrigaçarn de hir em prosiçam à dita Capella de Nossa Senhora do Monte: à qual capeHa concorrem todos os sabados da quaresma muitos povos repartidamente em cada sabado;do bispado da Guarda sam os seguintes: Pouzade, Cazal de Cinza, Villa Femando, Marmeleiro, Monte Margarida, Seixo de Coa; bispado de Lamego delle vem em romaria à dita capella Vallongo, Vadamallos; deste bispado de Vizeu vem tambem em romaria os seguintes povos: Miuzella, Porto de Ovelha, Cazas do Gordo, Mesquitella duas vezes no armo, Adem duas vezes no anno, Cabreira duas vezes por armo, Amoreira, Freixo, Parada e os mais dam cirios de esmolla à dita capella. Di-se por tradiçam que esta Senhora apareceu no mesmo sitio e foi fundada com as esmollas dos fieis christãns e com ellas se governa; e he hua caza muito suntuoza toda de pedra lavrada e tem hu muito grave fronteespycio e tres arcos, he administrada por dois mordomos que todos os annos sam eleitos por eleiçam que se fas no povo pellos moradores e parocho. Tem os tais mordomos obrigaçam de pedir esmolla pellos povos fAVlt\l
Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.