O CONFRONTO ESTADOS UNIDOS E CHINA NA ERA CONTEMPORÂNEA

May 24, 2017 | Autor: Fernando Alcoforado | Categoria: Economics, Development Economics, International Relations, Geopolitics, Political Science
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O CONFRONTO ESTADOS UNIDOS E CHINA NA ERA CONTEMPORÂNEA Fernando Alcoforado * O declínio econômico dos Estados Unidos se acentuou na primeira década do século 21 ao tempo em que ocorreu a ascensão econômica da China que pode assumir a condição de maior potência mundial em meados do século 21. Não fica claro, entretanto, se haverá um final feliz para a humanidade. Se a prosperidade da China acontecer à custa da inviabilização da recuperação das economias dos Estados Unidos e da União Europeia e, também, da economia mundial, poderia levar os Estados Unidos e outros países a confrontá-la nos campos econômico e militar. Robert D. Kaplan, jornalista norte-americano estudioso de política internacional, afirma que a emergência da China como uma superpotência é inevitável e que conflitos de interesses com os Estados Unidos serão incontornáveis. Ele admite uma confrontação militar entre os Estados Unidos e a China. Kaplan sugere uma coalizão suficientemente ampla para o enfrentamento da China nos moldes da organizada para derrotar a Alemanha na Segunda Guerra Mundial (BRUSSI, Antônio José Escobar. A pacífica ascensão da China: perspectivas positivas para o futuro? Brasília: Revista Brasileira de Política Internacional, vol.51, no.1, 2008). James Pinkerton, escritor e analista político norte-americano, é um duro crítico da estratégia de contenção militar de Kaplan e da proposta de acomodação de Kissinger que entende que o interesse americano será muito mais facilmente alcançado a partir da cooperação com a China. Pinkerton se opõe a Kaplan porque considera inviável uma coalizão suficientemente ampla para o enfrentamento da China. Pinkerton propõe que, ao invés do enfrentamento direto, o governo dos Estados Unidos coloque as atuais potências asiáticas (Índia, China e Japão) umas contra as outras (BRUSSI, 2008). Para ascender à condição de potência hegemônica do planeta, a China terá que adotar 6 estratégias: 1) alcançar níveis elevados de crescimento econômico para ultrapassar os Estados Unidos; 2) elevar continuamente sua participação no comércio internacional para liderá-lo; 3) retirar dos Estados Unidos a liderança econômica e militar na Ásia, o que significa atingir o cerne do poder norte-americano na região; 4) impedir a Índia de se constituir como polo autônomo de atração econômica na Ásia, possivelmente em alinhamento com os Estados Unidos; 5) tornar-se potência imprescindível para a paz no golfo Pérsico entre persas (Irã) e árabes (particularmente a Arábia Saudita) com o declínio da influência dos Estados Unidos nesta região; e, 6) reforçar a aliança econômica e militar com a Rússia. A China está construindo uma grande força naval para controlar o Oceano Pacífico tendo como objetivo imediato frear o poderio militar americano no Pacífico ocidental. Os chineses estão construindo uma força defensiva, que inclui armas que podem atingir alvos militares norte-americanos. Os gastos militares chineses vão ultrapassar os orçamentos combinados das doze outras grandes potências da Ásia-Pacífico (WINES, Michael. EUA e China procuram acordar estratégia militar. Disponível no website ). A China está aumentando o seu poder naval com a construção de ilhas artificiais em uma área marítima detentora de grandes reservas de petróleo em disputa com o Japão, 1

no Mar do Sul da China. Segundo a revista The Economist, a China vai ultrapassar os gastos militares dos Estados Unidos até 2025 (ALVES, José Eustáquio Diniz. EUA, China e Índia: disputa de hegemonia e destruição do meio ambiente. Disponível no website ). A partir do ano 2000 a Rússia resolveu desenvolver uma parceria estratégica com a China. A Rússia considerou que a China poderia ajudá-la na sua resistência às ambições geopolíticas dos Estados Unidos tanto na Europa Oriental, quanto no Cáucaso ou na Ásia Central. A Organização da Cooperação de Xangai (Shanghai Cooperation Organization – SCO) foi criada em 2001 para estabelecer uma aliança entre a Rússia e a China em termos militares e de combate ao terrorismo, ao fundamentalismo religioso e ao separatismo na região da Ásia (MAZAT, Numa e SERRANO, Franklin. A Geopolítica das Relações entre a Federação Russa e os EUA: da “Cooperação” ao Conflito. Disponível no website , 2012). Numa Mazat e Franklin Serrano (2012) afirmam que a parceria entre a China e a Rússia existe, também, no setor do armamento. Ao longo da década de 1990, as vendas de armas para a China foram essenciais para a sobrevivência do complexo militarindustrial russo. A Rússia é o maior fornecedor de armas modernas da China. Enfim, a parceria estratégica entre China e Rússia é tão fundamental para os dois países que as divergências de interesses, naturais entre as duas potências, por mais importantes que sejam, não foram capazes de ameaçar a colaboração entre os dois países no que diz respeito à tentativa de limitar o poder dos Estados Unidos. Para barrar a ascensão da China como potência hegemônica do planeta, a estratégia militar norte-americana está centrada na região Ásia-Pacífico, Como aliado dos Estados Unidos, o Japão colabora com a estratégia norte-americana de “cerco” da China reforçando seu poder militar até 2020 (SOUZA, Ricardo. Japão reforça estratégia militar para reagir à China. Disponível no website , 2010). A alternativa de não confrontação com a China resultaria da interdependência econômica existente entre os Estados Unidos e a China porque esta depende do mercado e dos investimentos norte-americanos e os Estados Unidos precisam do Banco Central chinês para comprar boa parte dos títulos da dívida dos Estados Unidos. Esta situação reforça a posição defendida por Henry Kissinger, ex-Secretário de Estado norte-americano, que entende que o interesse americano será muito mais facilmente alcançado a partir da cooperação com a China. Nos Estados Unidos, há opositores e defensores de uma postura de confrontação com a China no campo econômico. Há aqueles que pedem uma fiscalização mais dura pelos Estados Unidos das regras comerciais domésticas e internacionais e que o governo Trump se esforce para pressionar a China a abrir setores de sua economia nos quais os investimentos estrangeiros são restritos. Eles afirmam que essas medidas deveriam ser empreendidas junto com esforços para atrair a China para novos acordos comerciais e de investimentos com os Estados Unidos. Outros são temerosos de que Trump possa desencadear uma destrutiva guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo que seria prejudicial a ambas. Há outros que consideram a China cada vez mais 2

protecionista e mercantilista não deixando outra opção para Trump a não ser adotar uma postura mais dura cumprindo as promessas de campanha para se impor na relação com Pequim. Por sua vez, as autoridades chinesas acreditam que Trump vai adotar uma politica relativamente moderada por causa dos profundos laços econômicos entre os dois países e dos danos que uma guerra comercial infligiria a ambos. Entendem que as economias dos Estados Unidos e da China estão tão intimamente ligadas que uma retaliação chinesa a medidas de Trump afetaria os interesses do povo americano (DONNAN, Shawn e HORNBY, Lucy. Especialistas americanos apoiam postura mais dura com a China. Disponível no website http://salvador2012.blogspot.com.br/2017/02/especialistas-americanos-apoiampostura.html, 2017). *Fernando Alcoforado, 77, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia SustentávelPara o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015) e As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016). Possui blog na Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: [email protected].

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