\"O conhecimento histórico no mundo digital\"

May 29, 2017 | Autor: Pedro Silveira | Categoria: Digital Humanities, Digital History
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Pedro Telles da Silveira – “O conhecimento histórico no mundo digital”. Apresentação na mesa de mesmo nome organizada pelo Programa de Pós-Graduação em História (UFRGS). Porto Alegre, 23 de setembro de 2016

O conhecimento histórico no mundo digital Pedro Telles da Silveira Eu gostaria de começar pela indagação da pergunta que motiva esta mesa ou, se não a pergunta, ao menos a injunção sob a qual estamos reunidos: “o conhecimento histórico no mundo digital”. Esse título implica na existência de dois elementos, o conhecimento histórico e o mundo digital, e é discorrendo um pouco sobre eles que pretendo começar minha fala. Em primeiro lugar, o título pressupõe a existência de um mundo digital. Esse adjetivo “digital”, que qualifica um mundo, o mundo, está colocado ali para sinalizar uma mudança, até mesmo uma ruptura. É a ruptura entre um mundo, o digital, e outro mundo, o “real” ou, apenas, o não-digital. Essa ruptura não é somente temporal – antes havia um mundo X, agora há um mundo Y – nem apenas espacial – existem regiões do planeta inseridas nesse mundo digital e, outras, não –, mas sinaliza uma mudança qualitativa: esse mundo digital é de ordem diferente de outro mundo, não-digital. Não tenho subsídios para entrar numa discussão sobre a categoria de mundo em si, que sei que é grande importância para a fenomenologia, mas posso dizer que, se esse mundo digital é um mundo de ordem diversa do outro mundo, não-digital, então aquelas categorias que fazem do mundo um mundo, como espaço, tempo, expectativa, duração, experiência e a situação do corpo, que orienta todas as outras, encontram-se também modificadas. Creio ser essa uma conclusão relevante que vale a pena guardar, pois vou retomá-la ao final da minha fala. O outro elemento que compõe o título e nos é familiar é o “conhecimento histórico”. Ao contrário do outro, que está sob o signo da mudança, este é regido pela continuidade. Existe um conhecimento, que é o histórico (se ele está inserido na historicidade e, por isso, é histórico, é outra questão) e que remete a todo o aparato disciplinar que o sustenta, como cursos de graduação e pós-graduação, institutos, departamentos,

métodos,

problemas

de

pesquisa,

relações

pessoais,

vidas

compartilhadas sob essa configuração e que garantem que, apesar da multiplicidade de relações que o constitui, ele possa ser considerado como uno, o conhecimento histórico. E aqui eu gostaria de lembrar – e isso não é uma crítica – que no título está o conhecimento histórico, e não um conhecimento histórico ou os conhecimentos históricos. 1

Pedro Telles da Silveira – “O conhecimento histórico no mundo digital”. Apresentação na mesa de mesmo nome organizada pelo Programa de Pós-Graduação em História (UFRGS). Porto Alegre, 23 de setembro de 2016

Para terminar essa análise inicial, o título da mesa não é “o conhecimento histórico” tampouco “o mundo digital”, mas “o conhecimento histórico no mundo digital”. Em sua forma final, esse título pressupõe que há algo que os ligue e algo que os modifique ou altere, ao menos, o elemento estável da combinação, o conhecimento histórico. A pergunta que nos guia a todos nesta mesa, portanto, é feita sob as implicações da mudança ou, mais apropriadamente, dos impactos que as tecnologias digitais causaram no conhecimento histórico. Sobre a noção de impacto, Pierre Lévy já comentou que ela é equivocada porque “a tecnologia não é um ‘projétil’, ‘pedra’ ou ‘míssil’ (...) tampouco a sociedade ou a cultura são seu alvo” (LUCCHESI, 2014, p. 26). Traduzindo a metáfora, o mundo não estaria passivamente à espera das tecnologias digitais. Eu concordo com a objeção de Lévy, todavia eu considero que houve efetivamente impactos dessas novas tecnologias sobre o nosso mundo – até mesmo porque, subvertendo a metáfora do autor francês, parece que ninguém estava esperando por elas (caso pensemos em nossas imagens do futuro ao longo do último século, a internet e as tecnologias de comunicação não são seu elemento primordial). E vale lembrar que o conhecimento histórico faz parte desse mundo, o nosso. Nesse momento, eu quero prosseguir pensando o problema que nos foi colocado – as relações entre o conhecimento histórico e o mundo digital – vislumbrando duas veredas distintas que se nos apresentam: a da revolução e a da inovação. Como muitos aqui devem saber, revolução é o termo moderno por excelência. Ela é o sinal mais indicativo de uma concepção de história na qual os seres humanos tomaram conta de seu destino e se propõem avançá-lo por todos os meios possíveis. Pode-se aqui lembrar de Kant e sua resposta à pergunta o que é o esclarecimento, a qual começa com a saída da “menoridade” humana. Ao mesmo tempo, o conceito de revolução não é tão simples assim, e se ele marca a possibilidade de uma agência sem precedentes dos indivíduos sobre a história, ela também se justificada pela necessidade dos tempos. A revolução seria o movimento lógico ou natural para chegar a outra etapa na história. Liberdade e determinação são os dois polos do conceito de revolução. Meu interesse pela revolução, no entanto, provém de outra fonte. No capítulo “The Politics of Historical Interpretation: Discipline and De-Sublimation”, o historiador norte-americano Hayden White comenta, a respeito do processo de disciplinarização do saber histórico, que 2

Pedro Telles da Silveira – “O conhecimento histórico no mundo digital”. Apresentação na mesa de mesmo nome organizada pelo Programa de Pós-Graduação em História (UFRGS). Porto Alegre, 23 de setembro de 2016 The desirability of transforming historical studies into a discipline could be urged on grounds more purely theoretical and epistemological. In an age characterized by conflicts between representatives of a host of political positions, each of which came attended by a “philosophy of history” or master narrative of the historical process, on the basis of which their claims to “realism” were in part authorized, it made eminently good sense to constitute a specifically historical discipline. The purpose of such a discipline would be simply to determine the “facts” of history, by which to assess the objectivity, veridicality, and realism of the philosophies of history that authorized the different political programs (WHITE, 1987, p. 61).

Em outras palavras, a história disciplinar teria surgido como uma resposta à Revolução e como uma forma de colocar no seu lugar os discursos que se propõe alterar a história – revolucionariamente – por meio de outro entendimento do que é a própria história. O conhecimento histórico, esse é o argumento de Hayden White, possui uma filosofia da história implícita. Antes de prosseguir, deixem-me citar uma passagem escrita por outro pensador, uma que li ontem mesmo e que casa bem com o que estou comentando aqui: O mal desencadeado pela revolução moderna é semelhante ao que desencadeia a metafísica: é o das palavras às quais nenhuma ideia determinada está ligada. Hobbes funda assim uma aliança entre o ponto de vista da ciência e o do lugar real, uma tradição teórica que proponho chamar de real-empirismo (RANCIÈRE, 1994, p. 30).

Esse modo real-empirista ou, para utilizar ainda outro historiador, Dominick LaCapra, modo documentalista de escrita da história, implica no afastamento do saber histórico disciplinado de qualquer perspectiva utópica, a qual, lembra Hayden White, só poderia existir caso se considerasse o passado não como uma narrativa organizada – “bela”, ele chama – mas como um problema, uma dificuldade – “sublime”, ele diz (WHITE, 1987, p. 72). A função da história, portanto, é organizar o tempo. Ao contrário da revolução, por seu turno, inovação é uma palavra cujo uso é recente. No gráfico que eu trouxe, vocês podem até ver que o uso de “revolução” declina justamente quando o de “inovação” ascende. Pode-se dizer, até mesmo, então, que elas são historicamente opostas. Mas o meu interesse aqui é destacar que existe outro tipo de narrativa que está associada à inovação, pois ela é intrinsecamente conservadora. A inovação se constrói lentamente, através de pequenas adições que não alteram o sentido geral da narrativa, mas confirmam uma estrutura prévia. A inovação domestica não apenas o passado mas também o futuro e, com isso, estende ou congela o presente indefinidamente. A inovação é a versão apresentada pelo capitalismo tardio para o problema colocado por Hayden White.

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Pedro Telles da Silveira – “O conhecimento histórico no mundo digital”. Apresentação na mesa de mesmo nome organizada pelo Programa de Pós-Graduação em História (UFRGS). Porto Alegre, 23 de setembro de 2016

Mas porque estou falando sobre isso, sobre revolução, inovação, capitalismo, conservadorismo, ao invés de falar sobre história digital ou sobre os impactos do mundo digital sobre o conhecimento histórico? O motivo é que, ao menos assim me parece, muito do que é dito sobre história digital é feito com o idioma da inovação. Citarei alguns exemplos. Eles estão organizados em ordem cronológica mas provêm de diferentes contextos institucionais e acadêmicos. Stefano Vitali, no livro intitulado Passato digitale. Le fonti dello storico nell’era del computer, publicado em 2004, escreve assim na introdução de seu volume: (...) i tradizionale ferri del mestiere dello storico, e soprattuto la sua acribia e il suo rigore critico, richedono certamente di esse reconsiderati e in parte aggiornati, ma non perdono affato la loro eficácia (VITALI, 2004, p. 4).

Comparada a outras, a passagem é sutil, mas é interessante que o rigor e a acribia dos historiadores deva ser em parte reconsiderada e atualizada, mas não perdem sua importância. Ainda no contexto italiano, Filippo Chiochietti, em capítulo do livro Fare storia in rete, organizado por Gianfranco Bandini e Paolo Bianchini, em 2007, defende que a facilidade de publicação dos textos online implica na perda de estabilidade textual e reclama a presença de um filólogo, um especialista para remediá-la (CHIOCHIETTI, 2009, p. 129). Percebe-se, então, que a manutenção das virtudes e práticas associadas ao historiador vem sob o temor de uma perda, transformação ou instabilidade das fontes utilizadas por eles. Prosseguindo no nosso levantamento, em artigo publicado em 2011 em nossa revista discente do programa de pós-graduação, a Aedos, Fábio Chang de Almeida, que utiliza as fontes digitais para estudar a atuação de grupos neonazistas na internet, afirma, com todas as letras, por assim dizer, que (...) acreditamos que a “História Digital” não implica em uma revolução metodológica. Ela necessita, sem dúvida, de uma metodologia particular, porém fundada nos princípios básicos já consagrados da pesquisa historiográfica, apenas adaptados ao formato digital (ALMEIDA, 2011, p. 25).

E o italiano Serge Noiret, um dos mais destacados proponentes da história digital em sua interação com a história pública, afirmou no mesmo ano ser (...) bastante evidente que a demanda transversal feita à história digital seria aquela de mudanças tecnológicas, talvez de mudanças epistemológicas mas certamente não de mudanças ontológicas. Os elementos de crítica interna e externa, próprios à abordagem que os medievalistas adotam para a crítica de seus documentos, são os pontos essenciais do método crítico a utilizar nos

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Pedro Telles da Silveira – “O conhecimento histórico no mundo digital”. Apresentação na mesa de mesmo nome organizada pelo Programa de Pós-Graduação em História (UFRGS). Porto Alegre, 23 de setembro de 2016 contextos digitais. A passagem à Web 2.0 não muda nem os problemas colocados de partida pela introdução do digital nem as necessidades de elaboração de um método crítico adaptado ao novo meio da internet (NOIRET, 2011, s/página).

Enquanto para Almeida não há qualquer mudança, Noiret é um pouco mais generoso, e concede a necessidade de adaptar o método crítico ao novo meio da internet. Mas podese admirar a capacidade da disciplina histórica de manter-se a mesma ainda que ela sofra, como ele diz, alterações tanto tecnológicas quanto epistemológicas – mas ufa, a ontologia ainda é a mesma. Já em dossiê publicado pela revista Diacronie sobre o assunto, em dois momentos o mesmo topos aparece. Na entrevista com a historiadora francesa Claire Lemercier realizada por Elisa Grandi e Émilien Ruiz, afirma-se que “tudo mudou” “sem que isso obrigue a mudar os princípios” (LEMERCIER, 2012, pp. 3-4) e, no artigo assinado por Franziska Heimburger e Émilien Ruiz, é dito que To put it bluntly, we do not have the impression that the “digital revolution” will lead to a change in the fundamental epistemology of historical research (HEIMBURGER, RUIZ, 2012, p. 19),

isso se conjuga, aliás como acontece frequentemente nessas apresentações, com uma defesa de que “it is therefore solide training in source criticismo which is needed for the use of IT tools to become generalised” (HEIMBURGER; RUIZ, 2012, p. 23). Por úgtltimo, no livro intitulado El desorden digital, de autoria de Anaclet Pons e editado em 2013, se afirma que, para pensar a introdução das tecnologias digitais sobre o conhecimento histórico, é necessário refletir sobre as atividades mais elementares do historiador (PONS, 2013, s/página). Até aí, tudo bem, mas ao cabo da introdução também se sustenta que as mudanças trazidas por essas tecnologias foram enormes, pois afetam a produção e a difusão do conhecimento, ainda que “no el método que nos caracteriza pero sí las prácticas que ejercitamos diariamente” (PONS, 2013, s/página). Novamente, é difícil não concordar – e eu concordo – com Pons, mas porque essa estranha reiteração de que os princípios do saber histórico, principalmente os do método, permanecem intocados, e que leva a constituir o impacto das tecnologias digitais como mais uma adição, uma inovação que permite realizar a pesquisa mais rápida ou eficientemente, mas não revolucioná-la? Não quero reeditar o debate entre apocalípticos e integrados, como bem definiu Umberto Eco nos anos 1960. Não se trata de defender que “tudo mudou” ou “nada mudou”, mas de compreender a estrutura de um discurso segundo o qual “tudo mudou” 5

Pedro Telles da Silveira – “O conhecimento histórico no mundo digital”. Apresentação na mesa de mesmo nome organizada pelo Programa de Pós-Graduação em História (UFRGS). Porto Alegre, 23 de setembro de 2016

sem nada verdadeiramente relevante, essencial, ter mudado. Esse discurso afirma que as tecnologias digitais afetaram profundamente o trabalho dos historiadores, mas desde que eles mantenham os princípios metodológicos e os ideias e traços de caráter que sempre os caracterizaram, então tudo permanecerá seguro, estável e inteligível. Percebese, aqui, o conhecimento histórico atuando como elemento de permanência capaz de neutralizar as mudanças advindas das tecnologias digitais – ou gestadas no interior da historiografia por essas mesmas tecnologias. Tudo isso é um problema porque tenho certeza que todos sairiam frustrados caso eu dissesse que não houve qualquer alteração significativa trazida pelo encontro entre conhecimento histórico e mundo digital. Entretanto, só se faz a pergunta pelo conhecimento histórico no mundo digital caso se espere uma mudança. Esse complexo é ainda mais interessante quanto se percebe que os impactos sofridos pelo conhecimento histórico em décadas recentes foram muitos: alterações no ambiente de trabalho, que se organiza em torno ao espaço do historiador e não num gabinete específico ou numa sala de arquivo; transformações na comunicação entre os pares, com o resultado de uma crescente aceleração na produção e circulação do conhecimento; alterações na natureza dos arquivos e acervos documentais consultados, agora disponibilizados em maior escala e acessíveis a profissionais que não se encontram na mesma cidade, país ou continente que a documentação estudada; o surgimento de possibilidades ainda não levadas a cabo nas formas de escrita, exposição e divulgação do conhecimento histórico oriundas das novas tecnologias e dos aspectos sociais relacionados a elas. Mas tudo isso não é a revolução que se esperava – e, na verdade, pode-se questionar se ela era esperada: o que aquele discurso faz é antecipar uma revolução que nunca vem e, no fim, transformar essa frustração em felicidade, considerar positivo que ela nunca venha. Esse é o traço de permanência e continuidade inscrito no conhecimento histórico em sua forma mais pura e visível. O que é preciso para uma revolução no conhecimento? Essa pergunta tem de atender a duas outras questões anteriores: que revolução queremos? E, inversamente, com qual revolução conseguimos arcar? O que pretendo destacar com essas perguntas não é uma mera condenação do saber histórico tampouco um apelo para a adoção desenfreada das novas tecnologias. Pelo contrário, considero ser necessária uma postura não necessariamente cautelosa mas sim que refreie seu entusiasmo, que considere as novas tecnologias em sua historicidade, que reflita a fundo sobre o que elas representam 6

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ao mesmo tempo de novo e o que elas trazem de velho. Dito de outro modo, nem “tudo mudou” tampouco “nada mudou”. O que eu gostaria de destacar é a presença desse discurso que corre sob a história digital, às vezes manifesta-se mais abertamente, e caracteriza muito do modo como os historiadores concebem seu ofício e sua atuação no espaço público. Pois a preocupação parece ser mais anunciar que podemos continuar fazendo as coisas sem necessidade de alarmar com as transformações em curso – e, na verdade, pode-se fazê-las mais, melhor, mais rápido, com mais dados – que refletir sobre o que significativa pode ser tirado da revolução pela qual todos, indivíduos, sociedade, coletividades políticas e o próprio conhecimento histórico, estamos passados. E se algo, não necessariamente tudo ou nada, mas algo muito significativo efetivamente mudou? O que mudou? E como mudou? Da minha parte, poderia reverter a pergunta para a consideração de qual revolução quero. Eu gostaria de uma historiografia atenta aos modos como a história é pensada, consumida, difundida, que se pretenda uma crítica do presente e não somente estudo do passado; um saber histórico que rompa a continuidade do tempo e limitação do espaço, pois o “mundo digital” torna mais complexa a relação não apenas com as identidades nacionais mas com os próprios parâmetros da experiência histórica, tais como mundo e espaço que comentei antes. Não é à toa que sentimos haver uma privatização do passado e do cotidiano, as “bolhas” que são frequentemente mencionadas e condenadas. Não existe mais uma história a ser contada e compreendida, mas será uma tarefa daqui para a frente coordenar essas diferentes percepções num espaço público que estará sempre aquém de sua construção e, por isso, será ainda mais premente construí-lo. Uma história que se abra para outros agentes e seus saberes, do invisível ao macroscópico. Em suma, um conhecimento histórico entre muitos, os conhecimentos históricos. Como epílogo, gostaria de ler uma passagem de um autor que gosto bastante, apesar de eu ter de constantemente de refrear meu entusiasmo com ele, mas que me parece pertinente para o que pretendo dizer. Na introdução a seu Metafísicas canibais, o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro sugere que (...) embora o colonialismo constitua um de seus a priori históricos [da antropologia], está hoje encerrando seu ciclo cármico, é preciso então aceitar que chegou a hora de radicalizar o precesso de reconstituição da disciplina, levando-o a seu termo. A antropologia está pronta para assumir integralmente

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Pedro Telles da Silveira – “O conhecimento histórico no mundo digital”. Apresentação na mesa de mesmo nome organizada pelo Programa de Pós-Graduação em História (UFRGS). Porto Alegre, 23 de setembro de 2016 sua verdadeira missão, a de ser a teoria-prática da descolonização permanente do pensamento (VIVEIROS DE CASTRO, 2015, p. 20).

No caso da história, o fim do Estado-nação que constituiu seu primeiro espaço de atuação sob forma disciplinar leva a considerar a reconstituição da história como crítica, construtiva e permanente, dos diversos modos de se situar no passado e o significado que provê para as comunidades que, pelos meios tecnológicos mais desenvolvidos ou não, o estudo, a elaboração, a manutenção e a transformação desse passado. Essa, eu creio, é a promessa da história digital.

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