O conhecimento na filosofia grega e medieval

June 7, 2017 | Autor: Gisiela Klein | Categoria: Idade Média, Giovanni Reale
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC
CENTRO DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO E SOCIOECÔNOMICAS – ESAG
PROGRAMA ACADÊMICO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO


Disciplina: Epistemologia da Ciência em Administração
Turma: Mestrado Acadêmico 2015
Professor: Mauricio C. Serafim
Discente: Gisiela Hasse Klein
Aula: O conhecimento na filosofia grega e medieval
Obra estudada: REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia. São Paulo: Paulus, 2005. v. 2. [Primeira Parte, cap. primeiro: II; Segunda Parte, cap. segundo: III; Quarta Parte, cap. sétimo: I a IV; Quinta parte, cap. X: I e II; Sétima Parte, cap. décimo sétimo (I e II).

Sobre o que é o livro?
O livro faz um resgate histórico sobre como se deu a passagem do pensamento grego clássico para a mensagem bíblica, e como o cristianismo se consolidou no mundo ocidental. Para fazer esse resgate, Reale e Antiseri relembram os principais pensadores da Idade Média, a criação das escolas e universidades e a relação entre fé e razão, que norteou a filosofia e a metafísica nesse período - do século V até XIV.

O que está sendo dito, de modo detalhado, e como está sendo dito?
Após um breve relato sobre a estrutura da bíblia e o significado da palavra testamento, os autores expõem as principais ideias bíblicas que influenciaram o pensamento ocidental. Aqui, podemos destacar o monoteísmo, o criacionismo a partir do nada, a moral como vontade divina, os conceitos de pecado como desobediência e a providência relacionada à redenção, a humildade e a pureza como virtudes, a ideia de ressurreição, e um sentido retilíneo da história (criação, queda, aliança, espera do messias, vinda de cristo e juízo final).
Essas ideias passam a substituir, aos poucos, o pensamento grego clássico e, em certo momento, se apropriam da filosofia grega, adaptando-a ao cristianismo. Na metafísica, a principal mudança são as dimensões do ser. Enquanto os gregos entendiam o ser como corpo e alma, os cristãos o entendem como corpo, alma e espírito. Enquanto os gregos debatiam a eternidade da alma, a mensagem bíblica aceita a ressureição dos mortos. Para os gregos, o homem alcançaria o divino pelo conhecimento. Para o cristianismo, o divino é alcançado pela fé e pela "vontade de querer o querer de deus" (página 14).
Paralelamente ao pensamento bíblico, aparecem também as correntes religioso-filosóficas do paganismo. Entre essas correntes, o livro destaca a gnose. Trata-se de uma doutrina que explora a mitologia e um mundo de tristeza e angústia. Para os gnósticos, haveria um deus mau (Demiurgo), criador deste mundo, e um deus bom que criou o outro mundo bom. Os homens seriam originais desse mundo bom, mas estariam exilados no mundo mau.
Para escrever a história da filosofia dessa época, Reale e Antiseri resgatam os principais pensadores medievais, especialmente os representantes da Escolástica, linha de pensamento que procurava respostas para a fé cristã. A Escolástica vai se ocupar de dois universos distintos – a fé herdada da mentalidade platônica e a razão aristotélica.
No século VI, são fechadas as últimas escolas pagãs e criadas as novas escolas cristãs. É o início da formação de uma nova cultura, que resultou em nossa sociedade atual. São instituídos três tipos de escolas: monaicas (anexas a uma abadia e conduzidas por monges); episcopais (anexas a uma catedral e com objetivo de formar sacerdotes e funcionários para a administração pública) e palatinas (anexas à corte). Entre as escolas palatinas, destaca-se a criada por Carlos Magno no fim do século VIII. A intenção do imperador era criar uma nova Atenas.
Carlos Magno não alcançou o objetivo por completo, mas sua contribuição para o pensamento medieval é inegável. Entre os méritos da escola está a estruturação do ensino em três graus: 1) leitura e escrita do latim vulgar, textos litúrgicos e resumo da bíblia; 2) trivio (gramática, retórica e dialética) e quadrívio (aritmética, geometria, astronomia e música); e 3) estudo aprofundado da bíblia.
A partir dos séculos XII-XIII, a escola se configura como universidade, produto típico da Idade Média. As primeiras foram a de Paris e a de Bolonha, que serviram de modelo para as demais. No início, as universidades eram associações que tutelavam o interesse de uma categoria e tinham caráter clerical. Entre os efeitos da criação dessas instituições está o surgimento de irmandades de mestres leigos e sacerdotes (antes, eram apenas sacerdotes). Uma curiosidade sobre as primeiras universidades é o fato de serem populares. Só mais tarde se tornaram aristocráticas. No início, aceitavam todos os interessados e, nos estudos, todos eram tratados da mesma forma: conceito de gentileza (nobreza) a partir da cultura adquirida.
O "tema de pesquisa" dessas universidades era a relação entre fé e razão. Por séculos, pensadores se debruçaram sobre o assunto. Aqui, temos dois filósofos para analisar: Pedro Abelardo (1079 a 1142) e Guilherme de Ockham (1280 a 1349).
Abelardo é um crítico em relação à natureza dos universais. Defendeu a razão para explicar a fé, foi um precursor da linguística e criou uma espécie de método para a pesquisa. Primeiramente, parte-se da dúvida e, aí, se empreende a pesquisa para se chegar à verossimilhança, já que a verdade é acessível apenas a Deus. Para a pesquisa, o primeiro passo seria a análise linguística dos termos de um texto; depois, a comprovação da autenticidade do texto; em seguida, o exame crítico de textos dúbios; e, por fim, o estudioso não poderia confundir as opiniões expostas no texto com as opiniões do autor.
As especulações sobre os universais durante a Idade Média podem ser resumidas a quatro: 1) realismo extremo; 2) nominalismo; 3) conceitualismo; e 4) realismo moderado. No realismo extremo, os universais existem como ideias platônicas antes das coisas. São defensores dessa linha Escoto Eriúgena, Guilherme de Champeaux e Anselmo de Aosta. No nominalismo, os universais são apenas nomes, sem relação substancial com as coisas. Roscelino é considerado o principal nominalista e Ockham, seu discípulo.
Abelardo era um conceitualista para quem os universais não existem na natureza, mas em nossa mente, como conceitos. Eles seriam formados quando observamos as semelhanças e excluímos as diferenças, criando as generalizações. É a expressão do ser sobre bases lógicas e linguísticas. Para os realistas moderados, que tem em Santo Tomás o principal representante, há três momentos para os universais: anterior à coisa (ideia platônica, na mente de Deus), imanente às coisas (forma aristotélica, no corpo do indivíduo) e posterior à coisa, conceito lógico, na mente humana.
Quanto ao nosso segundo filósofo medieval – Guilherme de Ockham – pode-se afirmar que foi quem estabeleceu as bases para as descobertas de Galileu, quase 300 anos depois. Além disso, iniciou as ideias do individualismo e, o mais relevante para sua época, colocou fé e razão em planos assimétricos. Criou, ainda, o conceito que ficou conhecido como "navalha de Ockham", ou princípio da economia, segundo o qual "não se deve multiplicar os entes se não for necessário" (página 301). O frade franciscano respondeu por suspeita de heresia em 1324, fugiu de Avignon, e acabou morrendo em Munique em 1349, vítima da epidemia de cólera.
Para Ockham, as verdades da fé não são demonstráveis experimentalmente. Logo, a teologia não é ciência, mas um complexo de proposições vinculadas pela força da fé, não pela coerência racional. Para o frade, o cosmo é fragmentado em inúmeros indivíduos e o conhecimento é baseado na experiência de cada um desses indivíduos. Por isso, a realidade é individual e a experiência científica demonstra certo grau de probabilidade – só conhecemos das coisas o que experimentamos. Não a substância.
Os estudos de Ockham o levaram a concluir que, assim como fé e razão não estão no mesmo plano, os poderes espiritual e civil também não estariam, sugerindo a limitação do poder da igreja às questões do espírito. Trata-se de um dos pressupostos do humanismo renascentista, que levaria, mais tarde, ao protestantismo.
Na ciência, Ockham liberou a física da metafísica ao criar o método de pesquisa experimental. Para o filósofo, só podemos conhecer cientificamente aquilo que é controlável por meio da experiência empírica, devendo ser fiel ao concreto, numa perspectiva quantitativa e não qualitativa. Em vez de perguntar sobre o que é um fenômeno, Okcham propôs a pergunta sobre como se verificam os fenômenos. Essa mudança levou à matematização das ciências. Por fim, considerou ainda a multiplicidade das hipóteses explicativas e foi crítico ferrenho de Aristóteles e Platão.

O livro é verdadeiro? Todo ele ou somente parte dele?
Considerando o ensinamento do monge Abelardo - não confundir as opiniões citadas com a opinião pessoal do autor (página 163) – o livro é verdadeiro. Confesso que "briguei" com o texto em vários momentos e tive que relê-lo várias vezes. Um exemplo está na página 23 "...Há grande riqueza no pensamento grego. Mas a mensagem cristã vai muito além, ultrapassando-o precisamente nos pontos essenciais". No primeiro momento, tomei como um insulto ao pensamento grego. Após repassar todo o livro, no entanto, compreendi o autor.
Outra passagem que me deixou em dúvida está na página 9. Os autores defendem que, após a difusão da mensagem bíblica, só seriam possíveis três posições: 1) filosofar na fé, crendo; 2) filosofar crendo, mas procurando distinguir razão e fé; e 3) filosofar fora da fé e contra ela. Questiono-me sobre essas três alternativas. Fora da fé, só é possível pensar contra ela?

E então? Qual a importância do livro para mim?
O texto foi importante para que eu conhecesse os filósofos da era medieval, pouco estudados nas escolas e universidades brasileiras. Além disso, ficou clara a relação do momento histórico (político/social) e os pensamentos que daí florescem. Um dos exemplos é Ockham, contemporâneo do início dos movimentos de ruptura entre a igreja e os estados nacionais e dos debates sobre a riqueza da igreja. Seus pensamentos parecem refletir ou mesmo responder os anseios da sua época. A partir dessa leitura, percebi a necessidade de entender melhor o contexto histórico de cada pensador.

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