O conhecimento para Nietzsche

July 5, 2017 | Autor: Attilio Barros | Categoria: Philosophy Of Law
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O conhecimento para Nietzsche

Em seu texto Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extramoral (1873), Nietzsche traz uma severa crítica à metafisica, aos valores enraizados na cultura ociedental. Em seu escrito percebe-se o quão intrínseco se constitui para o filólogo a problemática da relação entre verdade e linguagem.

Nietzsche é conta essa metáfisica ocidental jà que ela busca chegar a conceitos absolutos, como uma "verdade universal" ou uma "razão universal". Para ele, os conceitos são fabricados, construídos pelo homem para designar e nomear as coisas. Porém, nesse processo de criação, quando as palavras adquirem a dimensão de conceito (que é a ferramenta de qualquer forma de pensamento racional) são abandonadas e desconsideradas as diferenças, as singularidades entre as coisas e os acontecimentos do mundo. Desse modo, há uma padronização dos objetos,de modo a possibilitar a comunicação entre os homens, diante das utilidades da vida prática e das necessidades de sobrevivência.

"Pensemos ainda uma vez, particularmente, na formação dos conceitos: toda palavra se torna imediatamente conceito, não na medida em que ela tem necessariamente de dar de algum modo a idéia da experiência original única e absolutamente singular a que deve o seu surgimento, mas quando lhe é necessário aplicar-se simultaneamente a um sem-número de casos mais ou menos semelhantes, ou seja, a casos que jamais são idênticos estritamente falando, portanto a casos totalmente diferentes. Todo conceito surge da postulação da identidade do não-idêntico." (NIETZSCHE, 1873)

Para Nietzsche, a linguagem humana não é capaz de expressar a essência de cada coisa, logo, ele diz que existem apenas intepretações sobre essas coisas, e nao uma verdade absoluta.

O pensador mostra que, por exemplo, quando pronuncio a palavra "folha", todos imaginam que o som dela se refere a alguma realidade empírica. Entretanto, para poder traduzir todas as folhas reais, tão diferentes umas das outras, por esse som unitário e invariável, é preciso jogar fora todas as características singulares que tornam cada folha uma realidade única, incomparável, intraduzível.

Os conceitos, que com o decorrer do tempo são consolidados, passam a ser vistos já não mais como ficções necessárias a um grupo social num dado contexto histórico, mas sim como "verdades", como essências mesmas da realidade. Essa atitude é agudamente criticada por Nietzsche, já que, para ele,um simples conceito não consegue explicar a singularidade de tudo.

A partir desse raciocínio, Nietzsche mostra que não existe uma verdade absoluta, e que para ele, não existem critérios específicos para avaliar se uma enunciação é verdadeira ou não. Dependendo do critério adotado, qualquer enunciação poderá ser verdadeira ou falsa. Nietzsche mostra ainda, que para nossa sociedade existir, são criadas certas normas que impõem uma interpretação particular e própria, como se fosse universal, o que nos faz a valorizar demasiadamente a verdade e condenar a mentira. Para ele, a verdade é apenas

"... uma multidão móvel de metáforas, metonímias e antropomorfismos; em resumo, uma soma de relações humanas que foram realçadas, transpostas e ornamentadas pela poesia e pela retórica e que, depois de um longo uso, pareceram estáveis, canônicas e obrigatórias aos olhos de um povo: as verdades são ilusões das quais se esqueceu que são, metáforas gastas que perderam a sua força sensível, moeda que perdeu sua efígie e que não é considerada mais como tal, mas apenas como um metal". (NIETZSCHE, 1873)

Nietzsche diz que o homem está sempre em busca da verdade e que o mito ou a arte são os recursos que devem ser usados para satisfazê-lo, e não a razão. Para ele, o mito e a arte são capazes de ir além dos limites impostos pelas convenções, pelas regras, logo, pelas mentiras e pelas verdades. Isso se da pelo fato de que os mitos e as artes baseiam-se nas intuições.

Nietzsche vê a intuição como condição necessária para o conhecimento abstrato, sendo ela o primeiro contato da mente com a coisa e, através dela, a razão tem contato com o mundo objetivo. Portanto, depois de ter percorrido este processo de construção do conhecimento abstrato, observa-se que a intuição é o iniciante do processo cognitivo. Para Nietzsche a metáfora intuitiva não se iguala a realidade, pois no intelecto não há uma percepção, mas sim uma criação. Mas ainda sim, a intuição não deixa de ser o conhecimento mais puro da realidade objetiva.

Para Nietzsche, a razão, o intelecto do homem está sempre pronto para enganá-lo pois ele sempre pretende dar uam explicação absoluta sobre as coisas. Logo, os homens "...estão profundamente mergulhados nas ilusões e nos sonhos, seu olhar somente desliza sobre a superfície das coisas e vê apenas as formas , sua percepção não leva de maneira nenhuma à verdade, mas se limita a receber as excitações e a andar como que às cegas no dorso das coisas." (NIETZSCHE, 1873). Porém existe, segundo o filólogo, um homem que, com sua força de vontade, pode sair dessa ilusão e desse sonho de uma explicação absoluta sobre o mundo.

Em 1878, com a publicação de Humano Demasiado Humano, Nietzsche assume um discurso mais próximo ao das ciências naturais e históricas, por acreditar que elas desempenhariam um papel crucial na elucidação dos fatores condicionantes do conhecimento, e, portanto, seriam fundamentais para a filosofia ao desempenharem um novo entendimento das condições e processos cognitivos necessários para a busca do conhecimento. Nietzsche pretende, com isso, criticar a noção kantiana de um
conhecimento transcendente metafísico, a priori, onde o trabalho do filósofo seria o de
deduzir, introspectivamente, as categorias metafísicas que condicionam o conhecimento.

Nietzsche ambiciona conceber "o mais novo dos métodos filosóficos" mais próximo ao das ciências naturais e históricas, como forma de combater todas as realidades suprassensíveis sejam elas filosóficas, religiosas ou metafísicas. Para ele, "não podemos acreditar nesses dogmas da religião e da metafísica, quando trazemos no coração e na cabeça o rigoroso método da verdade".

Esse novo método filosófico, que ele apresenta dá um tom científico à atividade filosófica, enunciada na imagem do espírito livre. Para combater a fé e a superstição, o espírito livre se vale do método científico, nesse aspecto o espírito livre se aproxima do espírito científico. O espírito livre seria para Nietzsche

"...aquele que pensa de modo diverso do que se esperaria com base em sua procedência, em seu meio, sua posição e função, ou com base nas opiniões que predominam em seu tempo. Ele é a exceção, os espíritos cativos são a regra; estes lhes objetam que seus princípios livres têm origem na ânsia de ser notado ou até mesmo levam à interferência de atos livres, isto é, irreconciliáveis com a moral cativa." (NIETZSCHE, 1878)

(São aquelas pessoas capazes de superar as opiniões alheias e conceitos pré-concebidos, a fim de enxergar o mundo e a vida sob uma óptica diferente. Capazes de olhar nos olhos de um desconhecido, abraçá-los e amá-los livremente; os chamados de loucos, os defensores de novos ideais – são eles os indivíduos capazes de conectarem-se à alma do universo, os corajosos, alegres, sábios e, principalmente, os inovadores, os seres do futuro; aqueles a quem o mundo clama com urgência.)

Ao afirmar que o espírito livre "terá ao seu lado a verdade, ou pelo menos o
espírito da busca da verdade" já que "ele exige razões; os outros, fé", Nietzsche referia-se às verdades científicas, transitórias, das modernas ciências naturais e históricas, como pretexto para combater às verdades universais, da metafísica e da religião.

Em Opiniões e Sentenças Diversas (1879), O Andarilho e Sua Sombra (1880) e Aurora (1881) percebe-se uma certa continuação dos textos de Humano, Demasiado Humano, contudo percebe-se algumas diferenças significativas em sua argumentação, sobretudo quando se trata do conceito de verdade. Nestes escritos, Nietzsche parece aos poucos abrir mão do pacto feito com a ciência na obra de 1878 e, ao mesmo tempo, encaminhar suas formulações no sentido de uma revalorização da arte para além dos limites do pensamento metafísico. Nietzsche também demonstra, deixar de lado a perspectiva científica como forma de se contrapor à metafísica, o que se percebe por meio de um abandono progressivo do conceito de verdade, inclusive ao das "verdades despretensiosas" das ciências naturais e da história, as quais ele elogiava.

A partir de A gaia ciência, a valorização das ciências como instrumentos que lhe permitiriam realizar a crítica da tradição de pensamento não é mais um recurso utilizado.
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