O conhecimento popular sobre plantas medicinais: um estudo etnobotânico em feiras do Distrito Federal

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Estudos Etnobotânicos no Cerrado O conhecimento popular sobre plantas medicinais: um estudo etnobotânico em feiras do Distrito Federal SANTOS, T.V.M.N.1

RESUMO Este estudo traz um levantamento etnobotânico realizado com vendedores das feiras populares da Região Administrativa de Taguatinga/DF, com o intuito de identificar o público alvo do consumo de espécies medicinais no Distrito Federal, bem como as espécies mais relevantes, seus usos e demais peculiaridades. Foram identificadas e visitadas, entre Novembro de 2013 a Maio de 2014, 12 feiras consolidadas da RA de Taguatinga. Foram entrevistados feirantes produtores e mercadores em seus próprios estabelecimentos comerciais, montados em feiras permanentes e livres. A coleta de dados foi realizada através de questionário e o material botânico foi fotografado e identificado por consulta à bibliografia específica, sítios eletrônicos, e a partir das características das plantas fornecidas pelos próprios vendedores. Foram entrevistadas 11 pessoas, 4 mulheres e 7 homens. 73% comercializam mercadorias produzidas por terceiros. 54,6% expõem seus produtos em três ou mais feiras. 73% dos entrevistados acreditam que são as mulheres quem mais procuram por plantas medicinais e 64% acreditam que a demanda vem aumentando com o passar dos anos. Apenas 18% dos entrevistados consideram-se como raizeiros. 46% afirmam ter aprendido sobre a medicina das plantas com a própria família. 73% acreditam que não há plantas sem efeito medicinal. As famílias botânicas com maior representatividade foram Fabaceae, Lamiaceae e Asteraceae. As plantas com maior número de citações foram Barbatimão (Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville), Arnica (Lychnophora ericoides Less.), Jatobá (Hymenaea stigonocarpa Mart. ex Hayne), Aroeira (Myracrodruon urundeuva Allemão), Hortelã (Mentha piperita L.) e Noni (Morinda citrifolia L.). As folhas são a parte mais usada, com 35% de todas as indicações. O modo de preparo mais comum é o chá. Palavras-chave: Conhecimento popular, Plantas medicinais, Feira, Taguatinga, Etnobotânica. INTRODUÇÃO O Brasil detém em seu território uma inestimável biodiversidade, com cerca de 24% do total de plantas superiores existentes no mundo. Além desse patrimônio genético, o país destaca-se como detentor de rica diversidade cultural e étnica. O 1

Voluntária no Programa de Iniciação Científica do Decanato de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade de Brasília, Edital ProIC/DPP/UnB – PIBIC (CNPq) 2013/2014; graduanda em Engenharia Florestal, sob orientação da professora Dra Rosana de Carvalho Cristo Martins. Departamento de Engenharia Florestal, Prédio da Faculdade de Tecnologia, Campus Universitário Darci Ribeiro, Brasília, DF, Brasil. CEP 70910-900. Email: [email protected]

acervo de conhecimentos sobre manejo e uso de plantas medicinais, resultado do acúmulo de conhecimentos e tecnologias tradicionais, passados de geração a geração, compõem a sociobiodiversidade (Articulação Pacari, 2010). O Cerrado está entre as mais ricas dentre as savanas do mundo e ocupa cerca de 23% do território brasileiro, uma área de aproximadamente 2 milhões de km² (Ribeiro & Walter, 1998). Devido à riqueza e ao elevado grau de destruição atual, o bioma Cerrado foi incluído na lista dos 34 hot spots da biodiversidade mundial (Mittermeier et al., 2005). Segundo Gottlieb & Borin (1994), o Cerrado apresenta a maior diversidade taxonômica em relação aos demais biomas brasileiros, e sua alta diversidade ocorre, principalmente, em níveis taxonômicos mais elevados, como gênero, família e ordem, o que implica no maior distanciamento filogenético entre as espécies e acarreta a produção de uma grande variedade de compostos bioativos. Silva (2007) destaca que nesse contexto de grande biodiversidade o Cerrado deve ser considerado área prioritária de pesquisas com plantas medicinais. A rica biodiversidade do Cerrado oferece raízes, cascas, resinas, óleos, folhas, argilas, água, e outros diversos recursos naturais que são primorosamente manejados por suas populações para a prática da medicina popular (Articulação Pacari, 2010). O Distrito Federal, apesar de possuir grande parte do seu território contemplado em alguma categoria de unidade de conservação, possui a expansão do agronegócio e a expansão urbana como os principais fatores de pressão sobre os ambientes naturais remanescentes, restringindo e isolando cada vez mais as populações de flora e fauna silvestres nas poucas áreas naturais efetivamente protegidas. Portanto, se faz necessário e urgente estudos etnodirigidos para permitir a recuperação e a conservação de conhecimentos sobre plantas medicinais, tendo em vista a seleção das mesmas para estudos farmacológicos, toxicológicos e fitoquímicos. A Etnobotânica auxilia na identificação de práticas adequadas para o manejo da vegetação, além de que, a valorização e a vivência das sociedades humanas locais podem embasar estudos sobre o uso adequado da biodiversidade, incentivando, não apenas o levantamento das espécies, como contribuindo para sua conservação (Fonseca-Kruel & Peixoto, 2004). As pesquisas com plantas medicinais podem trazer à luz o conhecimento de novas e efetivas drogas no combate a diversos males (Amorozo & Gély, 1998). Assim, catalogar e registrar corretamente informações sobre o uso das plantas medicinais de comprovado valor terapêutico, que ocorrem seja na flora regional ou nacional, é fundamental para a fitoterapia brasileira (Accorsi, 1992). O uso familiar ou popular de ervas e plantas medicinais é uma prática recorrente nas diversas regiões e tradições culturais locais do Brasil, sendo que em algumas comunidades, a utilização dos recursos naturais apresenta-se como única alternativa terapêutica (Oliveira, 2008). A fitoterapia é uma opção no tratamento de doenças, por ser financeiramente mais acessível e por ser alternativa mais natural frente à medicina alopática. As plantas medicinais têm um papel muito importante

na questão socioeconômica, tanto para as populações que vivem no meio rural, como as que vivem no meio urbano (Calixto & Ribeiro, 2004). Observa-se que em muitas cidades brasileiras o comércio e uso de plantas medicinais, aromáticas e condimentares é muito intenso, e geralmente é protagonizado pelos “raizeiros”, figuras com espaço garantido nas ruas, em feiras livres e nos mercados, comercializando plantas medicinais e orientando como usálas e prepará-las para curar diversas enfermidades (Araújo et al, 2003). Em estudos etnobotânicos, os “raizeiros” representam uma importante fonte de informação sobre plantas medicinais por serem um elo entre a produção e o consumo destes produtos (Miura, 2007). Oliveira (2008) destaca a importância da fitoterapia no contexto político brasileiro, pois após uma série de ações favoráveis ao uso e estudo sobre as plantas medicinais foi aprovada, em 2006, a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, Decreto nº 5.813, a qual estabelece diretrizes e linhas de ação prioritárias para o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos. Destaca também a importância da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), da qual o Brasil é signatário, no que se refere à garantia dos direitos dos povos indígenas e das comunidades locais sobre seus conhecimentos tradicionais. Ciente da relevância das plantas medicinais, do conhecimento tradicional e da fitoterapia no cenário brasileiro atual, este estudo traz um levantamento etnobotânico realizado com vendedores das feiras populares da Região Administrativa de Taguatinga/DF, com o intuito de identificar o público alvo do consumo de espécies medicinais no Distrito Federal, bem como as espécies mais relevantes, seus usos e demais peculiaridades, importantes para se idealizar alternativas de produção sustentável das mesmas através de divulgação de conhecimento etnobotânicos adquiridos. MATERIAL E MÉTODO A área de estudo escolhida para a realização da presente pesquisa é a Região Administrativa de Taguatinga, localizada no Distrito Federal a 21km de Brasília. Devido ao tamanho do Distrito Federal (5.802 km²), a coleta de dados foi realizada apenas em uma Região Administrativa, representativa do universo amostral pela quantidade e forte tradição de suas feiras populares. Sua escolha se deve ao fato de ser cidade com grande representatividade do DF pois é exemplo da expansão urbana sobre o meio natural e possui muitos quilômetros de áreas de proteção ambiental previstas em legislação, como as áreas de preservação permanente (APPs), os parques ecológicos e as unidades de conservação (UCs). A cidade de Taguatinga foi projetada no “Plano Urbanístico de Brasília” com a finalidade de ser uma cidade-satélite para 25.000 habitantes, a qual deveria ser construída dez anos após a inauguração de Brasília. No entanto, em 5 de junho de 1958, a localidade foi criada em função do superpovoamento da Cidade Livre (Núcleo Bandeirante), que já não tinha condições para abrigar o grande número

de trabalhadores que chegavam de toda parte do país para a construção da nova capital. A cidade foi fundada em terras que anteriormente pertenciam à fazenda Taguatinga, e em 1960, Taguatinga já contava com uma população de aproximadamente 26.000 moradores. Em 1964, a Lei nº. 4.545 de 10 de dezembro dividiu o Distrito Federal em oito Regiões Administrativas – RAs, denominando para Taguatinga a RA III. Posteriormente, devido ao crescimento populacional e pela necessidade de novos espaços para habitação, ocorreu o desmembramento nas cidades Ceilândia e Samambaia, que faziam parte do território original da RA III até 1989. Em 2003, foi desmembrada também de Taguatinga a Região Administrativa Águas Claras e, em 2009, a última a ser criada foi Vicente Pires - RA XXX. A Região Administrativa de Taguatinga, localiza-se na porção oeste do Distrito Federal, e suas coordenadas são 15°50’00’’ S, 48°03’23’’ O, ficando a uma altitude de 1200 metros acima do nível do mar. O clima é tropical de altitude, com um verão úmido e chuvoso e um inverno seco e relativamente frio. Todo o Distrito Federal, consequentemente a RA Taguatinga, está inserido no Bioma Cerrado. Segundo a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD), realizada pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal em 2013, a população do Distrito Federal, assim como ocorre em Taguatinga, é formada por imigrantes de diferentes estados brasileiros, cada um trazendo de sua origem a cultura local, promovendo uma grande diversidade étnica e cultural. Em 2013, a população urbana de Taguatinga foi estimada em 214.282 habitantes. 48,20% do contingente populacional de Taguatinga é nascido no Distrito Federal, enquanto 51,80% são constituídos por imigrantes. A maioria da população é constituída por mulheres: 54,33%. No grupo de 15 a 59 anos, que concentra a força de trabalho, encontramse 62,83% do total de habitantes. A faixa etária de 60 anos ou mais é representada pelo total de 20,61% dos habitantes (CODEPLAN, 2013). As feiras populares em Taguatinga são muito comuns. Entre as feiras livres e permanentes é possível obter desde itens eletrônicos a peças manufaturadas, além de itens orgânicos como frutas, verduras e as plantas medicinais. Para subsidiar a coleta de dados, foram identificadas e visitadas, entre Novembro de 2013 a Maio de 2014, 12 feiras consolidadas da RA de Taguatinga, as quais estão descritas a seguir: 1. Feira dos Importados de Taguatinga: Feira permanente, localiza-se em Taguatinga Centro, abaixo da Avenida Samdu. 2. Rei das Ervas: Referência na venda de plantas medicinais em Taguatinga, a “Kombi” do Rei das Ervas fica permanentemente localizada no Centro de Taguatinga, duas quadras acima da estação do metrô “Praça do Relógio”. 3. Feira do Bicalho: Feira livre. Acontece em Taguatinga Norte, no bairro QND, acima da Igreja São José, Praça do Bicalho. Sempre aos domingos, de 06:00 às 13:00. 4. Feira dos Goianos: Feira permanente localizada na Avenida Hélio Prates, em Taguatinga Norte. Acontece de terças a domingos.

5. Feira Permanente de Taguatinga Norte: Localizada na QNL. Funciona de terça a domingo em horário comercial. 6. Centro Comercial Mercado Norte: Feira permanente localizada na QNG, Taguatinga Norte, ao lado da Avenida Hélio Prates. 7. Feira da QND: Feira Livre. Acontece em Taguatinga Norte, no início da QND, acima da Avenida Comercial. Sempre às quintas-feiras pela manhã. 8. Mercado Sul: Feira livre de Taguatinga Sul. Acontece às quartas-feiras de 06 às 13 horas no Mercado Sul, localizado na QNB acima da Avenida Samdu. 9. Shopping popular de Taguatinga: Feira permanente de Taguatinga Sul, localizada acima do Pistão Sul entre dois Hipermercados. 10. Sítio Geranium: O Sítio Gerânium é referência em produção orgânica de plantas medicinais e olericultura. A Feira de produtos orgânicos acontece às terças e sextas no próprio Sítio, que fica entre as cidades de Taguatinga e Samambaia. 11. Feira da Vila Dimas: Feira Livre. Acontece aos domingos pela manhã na Vila Dimas, Taguatinga Sul. 12. Feira da Vila Matias: Feira livre montada na Vila Matias, em Taguatinga Sul, acima da Avenida Samdu. Acontece aos sábados pela manhã. Foram entrevistados feirantes produtores e mercadores em seus próprios estabelecimentos comerciais, montados em feiras permanentes e livres na RA de Taguatinga. De acordo com o artigo 4° da Lei Distrital nº 1.828/1998, a qual disciplina a organização e o funcionamento das feiras livres e permanentes no Distrito Federal, entende-se como feirante produtor aquele que comercializa única e exclusivamente o produto de sua lavoura, criação ou industrialização e como feirante mercador, aquele que comercializa mercadorias produzidas por terceiros ou presta serviços. Todos os entrevistados vendem produtos tais como mudas, raízes, cascas, sementes, folhas, flores, xaropes, garrafadas e compostos fitoterápicos. Como critério de inclusão da amostra, o feirante deveria necessariamente vender plantas vivas ou partes de plantas como cascas, raízes e compostos, e aceitar participar da entrevista. A coleta de dados foi realizada através de questionário adaptado a partir do proposto por Albuquerque e Hanazaki (2006), a respeito de quais informações são relevantes em um levantamento etnodirigido. O questionário inicial foi testado com dois vendedores e então modificado, pois algumas questões foram de difícil entendimento para os colaboradores, além de que, inicialmente, havia grande volume de questões a serem feitas, o que deixou a entrevista num ritmo lento e consumiu muito tempo do entrevistado. Fez-se grande esforço no sentido de reduzir o número de questões e organizá-las de modo a tornar a entrevista quase uma conversa, evitando parecer um interrogatório. O questionário utilizado na pesquisa é composto por 23 questões e organizado em 5 blocos: I. Apresentação; II. Identificação do colaborador; III. Perfil do mercado; IV. Registro das plantas mais vendidas; V. Informações adicionais sobre o colaborador.

A coleta de consentimento formal foi testada com dois entrevistados, mas percebeu-se que a prática intimida os colaboradores, os quais se sentem inseguros em assinar um documento para fornecer informações. Portanto, esse consentimento por escrito foi desconsiderado, de modo que a própria participação da pessoa e o fornecimento de informações já podem ser entendidos como um consentimento à realização da entrevista. O material botânico foi fotografado e a identificação foi realizada por consulta à bibliografia específica, também a partir das informações disponíveis em sítios eletrônicos, como a partir das características das plantas fornecidas pelos próprios vendedores. Todas as conversas, assim como outras observações, foram registradas em um diário de campo. O levantamento realizado com os especialistas locais pode ser considerado representativo, uma vez que estes informantes são reconhecidos pela população local como bons detentores do conhecimento sobre plantas e cultivo das mesmas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO O público alvo das entrevistas foi identificado em 8 das 12 feiras visitadas. Foram entrevistadas 11 pessoas, 4 mulheres e 7 homens. Apesar de a amostragem ser de apenas 11 pessoas, elas são responsáveis por 26 barracas de plantas em 8 importantes feiras. Foi observado que 45,4% (5) dos feirantes expõem seus produtos em apenas uma feira, enquanto 27,3% (3) montam suas barracas em três feiras diferentes e outros 27,3% (3) montam suas barracas em quatro feiras diferentes, conforme demonstra o esquema montado na tabela 1. Tabela 1. Distribuição dos feirantes pelas feiras em que foram observados.

Feirantes/ Feiras

Feira Feira da da Vila QND Matias

Feira Feira Feira Permanente Feira do Feira Rei da do de Mercado Sítio das Vila Bicalho Taguatinga Sul Geranium Ervas Dimas Norte

Total de feiras em que o vendedor foi encontrado

Feirante 1

X

X

3

X

Feirante 2 Feirante 3

X

X

Feirante 4

X

1

X

3

X

1

Feirante 5 Feirante 6

X X

X

X

1 X

Feirante 7

4 X

Feirante 8

X

X

Feirante 9

X

X

X X

1

X

4

X

4

Feirante 10 Feirante 11

X X

Total de vendedores 6 entrevistados em cada feira

X

5

4

4

X

1

4

1 3

1

1

26

Fonte: dados da pesquisa. 46% dos entrevistados (5) nasceram no Estado da Bahia, destes, 2 nasceram em Gentil do Ouro/BA, 2 nasceram na Região do Rio São Francisco/BA e 1 na cidade de Xique-xique/BA. 27% (3) dos entrevistados nasceu no Distrito Federal, 2 em Taguatinga/DF e 1 em Brasília/DF. 1 pessoa nasceu no Estado do Goiás, na cidade de Vianópolis/GO. 1 pessoa nasceu no Maranhão, na cidade de Codó/MA e 1 pessoa nasceu na cidade Pedro Segundo/PI, no Estado do Piauí. A respeito da faixa etária dos colaboradores, 64% (7) têm entre 40 a 59 anos, 18% (2) têm entre 19 e 24 anos e outros 18% (2) têm mais de 60 anos. Quando questionados sobre o tempo em que trabalham com plantas, 1 pessoa (9%) afirmou ter mais de 50 anos de experiência com as plantas. 27% (3) dos entrevistados têm mais de 20 anos de experiência, 9% (1) tem entre 10 e 20 anos de experiência, 18% (2) têm entre 5 e 10 anos e 37% (4) têm até 4 anos de experiência. 46% (5) da amostra possui o Ensino Médio completo, 27% (3) passou apenas pela alfabetização e apenas 1 pessoa possui Ensino Superior. 73% (8) dos entrevistados são feirantes mercadores, enquanto 27% (3) são feirantes produtores, o que revela que a maior parte dos feirantes entrevistados é um canal entre o produtor e o consumidor e não está envolvido com a produção ou exploração das plantas ou compostos. Dos feirantes produtores, 66,67% (2) produz as plantas de forma orgânica, sem adição de insumos químicos. Segundo Clemente (2013), para algumas empresas que trabalham com óleos essenciais, o cultivo agroecológico é fundamental, pois a produção no sistema convencional, com a utilização de adubos sintéticos e defensivos agrícolas, pode alterar a qualidade das plantas aromáticas, principalmente no que diz respeito aos óleos essenciais, além da possível contaminação por metais pesados em níveis prejudiciais à saúde. Portanto, as plantas aromáticas, condimentares e medicinais devem ser preferencialmente produzidas em sistema orgânico. Questionados sobre como consideram ser o nome da profissão que exercem, 46% (5) consideram que são feirantes, comerciantes ou vendedores. Apenas 18% (2) dos entrevistados consideram-se como raizeiros. A fala do Feirante 10 ilustra essa informação, de que quem considera esses vendedores como raizeiros é a população e não os vendedores em si. "A sociedade nos considera como raizeiros, mas nós nos consideramos como comerciantes (Feirante 10).”

73% (8 pessoas) acreditam que são as mulheres quem mais procuram por plantas medicinais. Três pessoas (27% da amostra) acreditam que a procura por plantas medicinais é balanceada entre homens e mulheres. Em relação à estabilidade do mercado, 64% (7) dos vendedores acreditam que a demanda por plantas medicinais vem aumentando com o passar dos anos. 18% (2) acreditam que a demanda vem se mantendo constante, não se alterou. 1 pessoa não respondeu à pergunta e outra pessoa acredita que a demanda varia de feira para feira. Todos os feirantes (11) afirmaram ter clientes fixos. Resultados semelhantes foram obtidos por Martins et. al. (2013), em um levantamento feito nas feiras da Região Administrativa de Ceilândia/DF, onde 77,7% dos entrevistados alegou que o consumo de plantas medicinais aumentou nos últimos anos. Segundo Santos (2004), o crescimento do mercado de plantas medicinais ocorre devido a diversos aspectos, como aumento do interesse das pessoas pelo consumo de produtos naturais; acessibilidade, principalmente para os segmentos sociais de baixa renda; eficácia no tratamento de enfermidades, além de efeitos colaterais muito menores em relação aos medicamentos alopáticos. Na história da humanidade, as virtudes terapêuticas dos elementos da natureza foram testadas empiricamente e transmitidas pela tradição oral, de forma lenta e gradual, gerando uma acumulação de conhecimentos e de técnicas de utilização voltados para o alívio da dor, a cicatrização de feridas, o cuidado com o corpo ou o adiamento da morte (Oliveira, 2008). Essa tradição oral ainda pode ser verificada, pois 46% (5) dos entrevistados afirma ter aprendido sobre a medicina das plantas com a própria família. Os demais entrevistados variaram quanto às respostas sobre a origem do conhecimento, afirmando que aprenderam em livros, reportagens e principalmente com o contato com os clientes, como pode ser verificado pelas falas abaixo. "Os compradores chegam e trazem informação. Cada um tem o seu entendimento. (Feirante 4).” “Aprendi através do contato com outros vendedores, reportagens e também com os clientes. Quem vem comprar já sabe pra que serve a planta. (Feirante 6).” "Aqui a gente aprende mais do que ensina. (Feirante 10).”

Ainda sobre a origem do conhecimento, Salgado & Guido (2008) obtiveram resultados semelhantes, onde a maioria dos entrevistados afirmou que o gosto e conhecimento sobre as plantas é de origem familiar. Percebe-se, aí, a grande influência que os pais, avós ou outra figura familiar representou para tais informantes. Foi feita a seguinte pergunta aos colaboradores: “Em sua opinião, existem plantas sem efeito medicinal?”. As respostas foram divergentes: 73% (8) dos entrevistados acreditam que não há plantas sem efeito medicinal, o que pode ser embasado pela fala do Feirante 10, explícita abaixo. 18% (2) acreditam que sim, existem

algumas plantas que não têm efeito medicinal, como demonstra o Feirante 7 em sua fala descrita abaixo. 1 pessoa (9%) não respondeu à pergunta. "Pra mim toda planta tem efeito. Até as ervas daninhas tratam dor de barriga dos cachorros. (Feirante 10). ” "É perigoso achar que tudo é medicinal. Existem as plantas que são tóxicas e pode ser que a toxicidade sirva para alguma coisa, em alguma dosagem. (Feirante 7). ”

Questionados sobre as cinco plantas mais vendidas e suas respectivas indicações terapêuticas, os entrevistados citaram 40 plantas diferentes, sendo que algumas plantas foram citadas por mais de um colaborador, totalizando 66 citações. As famílias botânicas com maior representatividade no presente estudo foram, respectivamente, Fabaceae (citada 15 vezes), Lamiaceae (citada 11 vezes) e Asteraceae (citada 10 vezes). Ao todo foram identificadas 21 famílias botânicas. As plantas que foram citadas mas que não foi fornecido nenhum dado sobre as indicações de utilização das mesmas foram desconsideradas da listagem. Pinho et. al (2012), em levantamento etnobotânico realizado no estado do Maranhão, destacaram as famílias Fabaceae e Lamiaceae como as mais representativas em espécies medicinais. Lós et. al (2012), também encontraram Fabaceae, Lamiaceae e Asteraceae como as 3 famílias botânicas mais representativas, dentre outras listadas. Cada pessoa entrevistada tem uma visão acerca das propriedades medicinais da planta, sendo que as plantas que foram citadas por colaboradores diferentes aparecem mais de uma vez na tabela (Tabela 2), de modo a abarcar toda a diversidade de visões sobre a utilização da espécie. Os únicos dados da tabela 2 que foram obtidos a partir da literatura foram os nomes científicos e as famílias botânicas. Não foram pesquisados na literatura as indicações terapêuticas das plantas mais citadas, visto que o objetivo era justamente elucidar as indicações dos colaboradores locais. Tabela 2. Plantas comercializadas nas feiras populares da Região Administrativa de Taguatinga e suas indicações, de acordo com o entendimento do vendedor. NOME NOME POPULAR CIENTÍFICO

FAMÍLIA BOTÂNICA

PARTE USADA

Alecrim

Rosmarinus officinalis L.

Lamiaceae

Folha

Alecrim

Rosmarinus officinalis L.

Lamiaceae

Folha

USO

MODO DE PREPARO

Retarda envelhecimento. Ajuda a dormir. Indicado para casos de pressão alta, para cuidar do Chá, coração, para infusão banhar o cabelo e também é utilizado na culinária.

Alfavaca

Ocimum Benth

Algodão Arnica

selloi

Lamiaceae

Folha

Gossypium hirsitum L.

Malvaceae

Folha

Lychnophora ericoides Less.

Asteraceae

Raiz

Arnica

Lychnophora ericoides Less.

Asteraceae

Arnica

Lychnophora ericoides Less.

Asteraceae

Arnica

Lychnophora ericoides Less.

Asteraceae

Arnica

Lychnophora ericoides Less.

Asteraceae

Aroeira

Myracrodruon Anacardiaceae urundeuva Allemão

Aroeira

Myracrodruon Anacardiaceae urundeuva Allemão

Utilizada como Água e calmante, bom folhas de para ajudar a alfavaca dormir Chá ou Cicatrizante suco Utilizada para Põe tratar a dor. álcool.

no

Conserva Boa para tratar no álcool e da dor, Folhagem lava. Ou faz pancadas e o chá e machucados. toma. Coloca no Tronco, Utilizada para álcool e folha e tratar a dor. deixa por 8 casca dias. Tratamento de inchaços, Folha machucados. Usada como anti-inflamatório. Indicada para tratar Raiz Chá inflamações e sinusite. Casca

Indicada para tratar doenças ou machucados nos ossos.

Põe de molho, coa e depois toma.

Casca

Indicada para tratar manchas na pele, espinhas, úlcera e gastrite.

Coloca na água ou ferve. Usado também na forma de sabonete.

Aroeira

Myracrodruon Anacardiaceae urundeuva Allemão

Casca

Arruda

Ruta graveolens L. Rutaceae

Folha

Cistite, inflamações, problemas na pele. Utilizado também para Garrafadas, banhos de banho energia (mística), úteis contra mau olhado, inveja. Utilizada para tratar inflamações nos olhos

Arruda

Ruta graveolens L. Rutaceae

Vernonanthura Assa-peixe phosphorica (Vell.) Asteraceae H.Rob.

Banana

Musa spp.

Musaceae

Folha

Folha

"Umbigo"

Stryphnodendron Barbatimão adstringens (Mart.) Fabaceae Coville

Casca

Stryphnodendron Barbatimão adstringens (Mart.) Fabaceae Coville

Casca

Stryphnodendron Barbatimão adstringens (Mart.) Fabaceae Coville

-

Stryphnodendron Barbatimão adstringens (Mart.) Fabaceae Coville

Casca

Indicado para tratar problemas no olho e casos de inflamação. Também muito usado na crendice popular, para espantar mau olhado. Usado como antibiótico e também indicado em casos de gripe e tosse.

Ponha um galho na água e após cinco minutos lave o olho.

Chá, xarope.

Corta o umbigo da Utilizado para banana, tratar bronquite passa mel e deixa no sereno. Indicado para tirar manchas da pele. Também indicado para lavar partes íntimas da mulher após parto normal. Bom pra tratar inflamações, Ferve a melhor casca e lava antibiótico que o local. Se eu já vi até hoje. for pra Cicatriza de tomar o chá, dentro pra fora. tem que ser As mulheres só um usam para lavar pedacinho as partes da casca. íntimas. Indicado para mulher fazer banho de assento. Indicado para cicatrizar algo que esteja enrascado Indicada para Coloca tratar água inflamações, ferve. lavar ferimentos.

na ou

Stryphnodendron Barbatimão adstringens (Mart.) Fabaceae Coville

Stryphnodendron Barbatimão adstringens (Mart.) Fabaceae Coville

Casca

Casca

Cajueiro

Anacardium occidentale L.

Calunga

Simaba ferruginea Raiz Simaroubaceae ST Hil. folha

Cana Brejo

do

Costus spicatus (Jacq.) Sw

Anacardiaceae

Costaceae

-

Folha

Canela

Cinnamomum verum J. Presl

Carqueja

Baccharis trimera Asteraceae (Less.) DC

Folha

Carqueja

Baccharis trimera Asteraceae (Less.) DC

Folha

Cavalinha

Lauraceae

Equisetum arvense Equisetaceae L.

Casca

-

Indicada para Lavar a pele tratar inflamada, inflamações e infusão feridas. Bota a casca pra cozinhar e se lava o Antiinflamatório, ferimento. cicatrizante, Pode-se antibacteriano. tomar o chá Bom contra também veneno de exceto em cobra. casos de pressão alta ou problemas cardíacos. Indicado para tratar da dor de Chá barriga. Utilizada para e fazer aborto. Infusão ou Trata estômago água fria. e fígado. Diuretico. Indicada para tratar gripe. Muito utilizada na culinária, como no preparo do quentão. Bom para emagrecer e para baixar colesterol. Também é indicado para controlar diabetes. Tratar do fígado, estômago e casos de diabetes.

-

Chá

Bater no liquidificador com água

-

Infusão. 1 xícara de Diurética, pedacinhos depurativa do frescos ou sangue e 1/2 xícara limpeza dos rins. de pedacinhos secos.

Cavalinha

Equisetum arvense Equisetaceae L.

Echinodorus Chapéu de macrophyllus couro (Kunth) Micheli

Chá-verde

Camellia L.

sinensis

Endro

Anethum graveolens L.

Alismataceae

Caule

Folha

Theaceae

Folha

Apiaceae

Semente

Erva-doce

Pimpinella anisum Apiaceae L.

Semente

Guaco

Mikania glomerata Spreng.

Folha

Asteraceae

Hibisco

Hibiscus sabdariffa Malvaceae L.

Folha

Hibisco

Hibiscus sabdariffa Malvaceae L.

Flor

Hortelã

Mentha piperita L.

Lamiaceae

Folha

Hortelã

Mentha piperita L.

Lamiaceae

-

Hortelã

Mentha piperita L.

Lamiaceae

Folha

Muitas indicações. "Panacéia". Utilizado com sucesso no tratamento contra osteoporose. Trata rins, vias urinárias, próstata. Ação diurética. Ação diurética. Indicado para tratar problemas na bexiga e retenção de líquido.

Prepara o chá por infusão.

Prepara o chá por infusão.

Ferve e vai Bom para tomando emagrecer. durante o dia Indicado para tratar dor de barriga e cólicas Chá em recém nascidos. Indicado como calmante e para Chá tratar cólicas. Gripe, tosse, Chá, garganta. xarope. Indicado para casos de pressão alta. Planta diurética, usada para emagrecer. Inchaço, excesso de líquido. Ação diurética. A hortelã é batida com Gastrite talos de couve e água Tira febre do intestino Usada como vermífugo. Chá, suco, Indicada para fervida no ajudar a leite. emagrecer. Também é

utilizada culinária.

na

Já foi utilizado com sucesso para tratamento contra câncer. Utilizado como antiinflamatório, para aumentar a imunidade e para tratar inflamação no ovário.

Ipê roxo

Tabebuia impetiginosa (Mart. Bignoniaceae Ex DC.) Standl

-

Jatobá

Hymenaea stigonocarpa Mart. Fabaceae ex Hayne

Casca raiz

Jatobá

Hymenaea stigonocarpa Mart. Fabaceae ex Hayne

-

Tosse, gripe.

Jatobá

Hymenaea stigonocarpa Mart. Fabaceae ex Hayne

Casca

Indicado para tratar problemas Chá na próstata.

Jatobá

Hymenaea stigonocarpa Mart. Fabaceae ex Hayne

Casca

Jatobá

Hymenaea stigonocarpa Mart. Fabaceae ex Hayne

Casca

Laranja

Citrus spp.

Casca polpa fruta

Manjericão

Ocimum basilicum Lamiaceae L.

Rutaceae

Ocimum basilicum Manjericão Lamiaceae L.

Folha

Folha

e Raiz é boa para emagrecer

Indicada para tratar do estômago, fígado e casos de gastrite. Indicado para tratar problemas na próstata, gripe, problemas no pulmão, pneumonia e problemas associados ao aparelho respiratório. e Utilizada para da desintoxicar a pessoa Ação cicatrizante. Trabalha nos campos etéreos.

Chá

-

Chá

-

-

Culinária (pizza, macarrão,..). O Chá chá ajuda em casos de gripe e

resfriados.

Melissa

Melissa L.

officinalis

Lamiaceae

Folha

Mirra

Commiphora myrrha (Nees) Burseraceae Engl.

Folha

Noni

Morinda citrifolia L. Rubiaceae

Fruto

Noni

Morinda citrifolia L. Rubiaceae

-

Noni

Morinda citrifolia L. Rubiaceae

-

Orégano

Origanum vulgare Lamiaceae L.

Folha

Pepino

Cucumis sativus L. Cucurbitaceae

-

Perdiz

Croton antisyphiliticus Mart. ex M. Arg.

Quiabo

Abelmoschus esculentus L. Moench

Euphorbiaceae Raiz

Malvaceae

Calmante Utilizada como incenso, repelente. Utilizada para banhos de limpeza espiritual. Indicado para cuidar da saúde Indicado para tratar problemas na coluna. Indicado para ajudar na circulação do sangue e tratar ressecamento do intestino. Desintoxica. Estimula o apetite. Usado na culinária (pizza, massas, frango). Máscara de pepino utilizada para tirar manchas da pele Indicada para tratar inflamações e doenças no útero, menopausa.

Chá

Chá banho

-

Chá

-

-

Lavar feridas.

-

Faz-se melado Utilizado para partir tratar bronquite. caroço quiabo

Rabo tatu

de Centrosema Fabaceae bracteosum Benth.

Raiz

Estômago, fígado. Abortivo.

Rabo tatu

de Centrosema Fabaceae bracteosum Benth.

Raiz

Indicada para tratar do fígado Chá e estômago.

Raiz

Repositor hormonal

Rúcula

Eruca sativa Mill.

Brassicaceae

ou

-

-

as

a do do

Sabugueiro Sambucus nigra L. Caprifoliaceae

-

Stevia

Stevia rebaudiana Asteraceae Bert.

Folha

Sucupira

Pterodon pubescens Benth.

-

Fabaceae

Sucupira Branca

Pterodon pubescens Benth.

Tomilho

Thymus vulgaris L. Lamiaceae

Fabaceae

Semente

-

Febre e gripe Adoçante natural, pode ser consumida por pessoas diabéticas. Indicada para tratar problemas na garganta. Indicada para problemas de osteoporose, coluna, bico de papagaio. Tratamento de problemas na garganta através do gargarejo. Estimulante, energizante potente.Trabalha nos campos etéreos.

Chá Consumir folha fresca ou seca

-

Chá. Alguns colocam semente triturada no biotônico.

-

Fonte: dados da pesquisa. Em relação às plantas mais vendidas, a planta que obteve mais citações foi o Barbatimão (Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville), mencionado por 6 dos 11 colaboradores. Em segundo lugar, a Arnica (Lychnophora ericoides Less.) e o Jatobá (Hymenaea stigonocarpa Mart. ex Hayne), ambos com 5 citações, seguidos pela Aroeira (Myracrodruon urundeuva Allemão), pela Hortelã (Mentha piperita L.) e pelo Noni (Morinda citrifolia L.), todos os três citados por 3 colaboradores diferentes. Martins et. al. (2013) encontraram resultados semelhantes para as plantas mais relevantes, pois em seu estudo as plantas que obtiveram maior número de citações também foram Barbatimão, Arnica e Jatobá, respectivamente. Questionados sobre o porquê de essas espécies serem as mais procuradas, duas pessoas concordam que elas são mais vendidas pois são as mais conhecidas. 4 pessoas não responderam à pergunta. As demais respostas (5) estão transcritas abaixo. “Porque o cliente compra, se dá bem e volta para comprar de novo. (Feirante 3).” “Porque o povo gosta, são úteis. (Feirante 6).” “O pessoal já conhece. O conhecimento vai passando de pais, avós. (Feirante 8).” “Por causa dos antepassados, os avós. O conhecimento vai passando. (Feirante 9).” "É uma coisa que já vem dos antepassados, já vem de família. Os clientes vêm aqui e falam 'minha mãe me dava isso quando eu era pequeno' ou então 'não aguento mais

tomar remédio de farmácia'. O cliente já sabe pra que serve a planta. A internet também ajudou muito na popularização do conhecimento. Não é preciso convencer ninguém de que a planta cura. (Feirante 10).”

Em relação à parte da planta mais usada para fins medicinais, as folhas são as mais usadas, com 35% (23) de todas as indicações (66). O modo de preparo mais comum é o chá. 9 entre 11 entrevistados vendem cascas, raízes e folhas. Outro tipo de produto bastante vendido é o chamado ‘xarope’. Os xaropes feitos a partir de plantas foram encontrados sendo vendidos por 7 vendedores. As especiarias em pó foram encontradas sendo vendidas por 6 dos 11 vendedores. 3 pessoas vendem mudas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando os dados levantados constatou-se que a população de Taguatinga tem acesso a uma ampla variedade de plantas medicinais responsáveis por auxiliar no tratamento de diferentes enfermidades. Percebeu-se que mesmo com os avanços tecnológicos atuais, a população continua interessada na utilização de plantas com a finalidade medicinal, sendo que a internet é hoje um meio muito utilizado para a obtenção de informações sobre as plantas. Os dados demonstraram que a tradição de transmissão oral do conhecimento popular ao longo das gerações está se mantendo entre aqueles que comercializam e consomem as ervas e que a demanda por estas plantas vem crescendo. Verificou-se o desconhecimento de grande parte dos entrevistados quanto à toxicidade das plantas, uma vez que para a maioria, toda erva é medicinal, e representa tratamento natural e benéfico. Ressalta-se que para o uso medicinal de plantas, a qualidade e procedência das mesmas deve ser considerada, visto que o cultivo com químicos bem como o modo de armazenamento das mesmas podem influenciar em suas propriedades químicas, assim como na saúde do consumidor. O modelo de levantamento utilizado neste estudo pode ser aplicado em demais feiras do Distrito Federal, o que certamente contribuirá para a compreensão desse universo tão peculiar. Estudos químicos e farmacológicos devem ser feitos para comprovação laboratorial dos efeitos medicinais das espécies já utilizadas pela população, principalmente para as famílias botânicas e espécies mais relevantes, as quais são Fabaceae, Lamiaceae e Asteraceae e Barbatimão, Arnica e Jatobá. Destaca-se a importância da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos no estímulo à pesquisa e à valorização do conhecimento tradicional, ambos de extrema relevância para o desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional de plantas medicinais e fitoterápicos. Finalmente, acredita-se que essa pesquisa foi essencial para o resgate etnobotânico do Distrito Federal, especialmente da Região Administrativa de Taguatinga, permitindo verificar quais as plantas medicinais de maior interesse

utilizadas pela população. Dessa forma, ela é de fundamental importância para subsidiar trabalhos sobre uso sustentável da biodiversidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ______. Ministério da Saúde. Decreto nº 5.813, de 22 de junho de 2006. Aprova a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Diário Oficial da União, Brasília, jun. 2006. ACCORSI, W. R. Apresentação. In: VIEIRA, L. S. Manual de plantas medicinais (A farmácia de Deus), Ed. São Paulo, Agronômica, Ceres. 347p. 1992. ADF (2013). Anuário do DF. Taguatinga. Disponível em: . Acesso em: 12 de junho de 2014. ALBUQUERQUE, U. P. de; LUCENA, R. F. P. de (Org). Métodos e técnicas na pesquisa etnobotânica. Recife: LivroRápido/NUPEEA, 2004. 189p. ALBUQUERQUE, U.P. de; HANAZAKI, N. As pesquisas etnodirigidas na descoberta de novos fármacos de interesse médico e farmacêutico: fragilidades e perspectivas. Revista Brasileira de Farmacognosia. 16(Supl.): 678-689, Dez. 2006. Recebido em 14/06/06. Aceito em 26/09/06. ALMEIDA, C. de F. C. B. R. de; ALBUQUERQUE, U. P. de. Uso e conservação de plantas e animais medicinais no Estado de Pernambuco (Nordeste do Brasil): um estudo de caso. Interciência, v. 27, n. 6, p. 276-285, jun. 2002. AMOROZO, M. C. de M. & GÉLY, A. Uso de plantas medicinais por caboclos do baixo Amazonas, Barbacena, PA, Brasil. Bol. Mus. Para Emílio Goeldi, Ser. Bot. Belém, 4 (1): 47-131, 1998. ARAÚJO, T.S. et al. (2003). Perfil sócio-econômico dos raizeiros que atuam na cidade de Natal (RN). Infarma, CFF, Brasília, v.15, n. 1/3, p. 77-79. ARTICULAÇÃO PACARI. Farmacopéia Popular do Cerrado. Coordenação: Jaqueline Evangelista Dias e Lourdes Cardozo Laureano. Goiás: Articulação Pacari (Associação Pacari). 2010. 352 p.: IL. color. BALICK, M. J.; COX, P. A. Plants, people, and culture: the Science of Ethnobotany. New York: Scientific American Library, 1997. 228p. BRASIL. Lei n.º 1.828, de 13 de janeiro de 1998. Disciplina a organização e o funcionamento das feiras livres e permanentes no Distrito Federal. Disponível em: Acesso em: 05 de fevereiro de 2014. BRASIL. Lei n.º4.545, de 10 de dezembro de 1964. Dispõe sobre a reestruturação administrativa do Distrito Federal, e dá outras providências Disponível em: Acesso em: 10 de março de 2014. CALIXTO, J.S. & RIBEIRO, E.M. O Cerrado como fonte de plantas medicinais para uso dos moradores de comunidades tradicionais do Alto Jequitinhonha, MG. 2004. CLEMENTE, F.M.V.T. Plantas aromáticas e condimentares: uso aplicado na horticultura. Embrapa Hortaliças, Brasília, DF: Embrapa, 2013. CODEPLAN. Companhia de Desenvolvimento do Planalto Central. Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios – Taguatinga – PDAD 2013. Brasília: CODEPLAN, 2013. 65 p. FONSECA-KRUEL, V. S. da; PEIXOTO, A. L. Etnobotânica na Reserva Extrativista Marinha de Arraial do Cabo, RJ, Brasil. Acta Botanica Brasilica, v. 18, n. 1, p. 177-190, mar. 2004. GARROTE, V. Os quintais caiçaras, suas características sócio-ambientais e perspectivas para a comunidade do Saco do Mamanguá, Paraty-RJ. 2004. 186 p. Dissertação (Mestrado em Recursos Florestais) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2004. 186p. GOTTLIEB, O.R. & BORIN, M.R.M.B. 2004. Quimiossistemática como ferramenta na busca de substâncias ativas. In: SIMÕES, C.M.O.; SCHENKEL, E.P.; GOSMANN, G.; MELLO, J.C.P.; MENTZ, L.A.; PETROVICK, P.R. (orgs). Farmacognosia: da planta ao medicamento. 5ª edição. Editora da UFRGS/UFSC. 1102 p. LÓS, D.W.S; BARROS, R.P. de; NEVES, J.D.S. das. Comercialização de Plantas Medicinais: Um Estudo Etnobotânico nas Feiras Livres do Município de Arapiraca – AL. Revista BIOFAR. ISSN 1983-4209 - Volume 07– Número 02 – 2012. MARTINS, P.M.; CARNEIRO, R.G.; GUIMARÃES, N.C. Avaliação do comércio de plantas medicinais feita por raizeiros na Região Administrativa de Ceilândia. Curso de Farmácia, Faculdade de Ceilândia, UnB, Brasília, DF, Brasil. 2013. MEDEIROS, M. F. T.; FONSECA, V. S. da; ANDREATA, R. H. P. Plantas medicinais e seus usos pelos sitiantes da Reserva Rio das Pedras, Mangaratiba, RJ, Brasil. Acta Botanica Brasilica, v. 18, n. 2, p. 391-399, jun. 2004.

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