O conqueísmo: Extensão de uma construção e dinâmica de forças

May 30, 2017 | Autor: P. Chagas de Souza | Categoria: Syntax, Construction Grammar, Brazilian Portuguese, Causative constructions
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Paulo Chagas de Souza DL-FFLCH-USP [email protected] LINCOG novembro 2014

Conqueísmo  Doutorado (2000): relação entre semântica lexical e sintaxe. Significado dos verbos e construções em que são usados.  O mais comum é que construções sintáticas sejam usadas com uma classe de verbos.  Discuto aqui uma construção normalmente restrita a um único verbo: fazer.  Tem ensaiado seu uso com outros verbos da mesma classe  A construção, aqui denominada conqueísmo.

Conqueísmo e outros ismos  Dequeísmo e queísmo identificados inicialmente no Chile por Rabanales (1974).  No PB: dequeísmo e queísmo identificados por Mollica (1991, 1995).

 Usos idiossincráticos de uma preposição ou sua ausência ao lado de que.

Queísmo  Rabanales (2005: 25): “En el ‘queísmo’ se trata de la tendencia a omitir la preposición de delante del que preferentemente gramemático, índice de cláusula con verbo en forma personal ... cuando la norma académica hace esperar su presencia.”

 Ex.: O livro que eu falei tá esgotado.

Dequeísmo  Rabanales (2005: 26): “En el ‘dequeísmo’, en cambio, se trata de la tendencia a anteponer la prep. de al que preferentemente gramemático, cuando la norma académica no hace esperar su presencia. De este modo, en vez de ‘creía que tenía la razón’, se dice ‘creía de que tenía la razón’.”  Mollica (1995): “Eu poderia provar para o povo de que houve fraude nas eleições passadas.”

(De)queísmo, conqueísmo  Não uniformidade dos complementos.

 Queísmo = ‘falar de algo’, mas se referir a ‘algo que falou’.  Dequeísmo = ‘provar algo’ mas ‘provar de que’.  Conqueísmo = ‘fazer algo’ mas ‘fazer com que’.

Conqueísmo (exemplos)  Exemplos coletados na internet.

 “Nem mesmo a goleada que os alemães aplicaram na Seleção Brasileira na última terça-feira (8) ... evitou com que a torcida torcesse para a seleção alemã...”  “... a estrutura que o município oferece facilitou com que a instituição recebesse o reconhecimento nacional”.

Conqueísmo (exemplos)  “A primeira etapa iniciou com a Lusa mais afim de jogo, mas o baixo nível técnico impediu com que a equipe Rubro-Verde assustasse o Avaí.”  “... chegou 02 homens com os rostos cobertos com uma blusa e mandou com que ela fosse para dentro...”  “Cite e discorra sobre o principal fator que permitiu com que o Filo Arthropoda se tornasse o mais diversificado do planeta”.

A Preposição com:  Preposição com: companhia, instrumento, modo.

 Eu fui passear [SP com minha namorada SP]. (companhia)  Eu fotografei a paisagem [SP com filme preto-e-

branco SP]. (instrumento)  Eu escrevi o bilhete [SP com muita pressa SP].

Com sem esses significados:  Preposição com ocorre sem nenhum desses significados em algumas construções.  A banca detonou com a tese dele.

 O trânsito fez com que eu chegasse atrasado.

Quadro teórico  Linguística cognitiva: língua e cognição geral.  Langacker (1987, 2008): centralidade do significado;

arraigamento. GC  Talmy (1985): dinâmica de forças.  Goldberg (1995, 2006): construções. GCC.  Bybee (2001, 2007, 2010): gramática baseada no uso TBU.

A Gramática das Construções  Goldberg (2006 p.5): construção é um par de forma e

significado em que algum aspecto da forma ou do significado não pode ser estritamente previsto com base nas partes da construção ou de outras construções previamente estabelecidas (i.e., não pode ser derivado composicionalmente). No caso, o uso do com.  (p. 6) os lingüistas que trabalham nesse quadro teórico têm interesse em caracterizar a língua inteira, e não apenas partes dela, as quais são denominadas de “core grammar”. As construções são aprendidas.

Dinâmica de forças  Talmy (1988, 2000): “A semantic category that has

previously been neglected in linguistic study is that of force dynamics – how entities interact with respect to force. Included here is the exertion of force, resistance to such a force, the overcoming of such a resistance, blockage of the expression of force, removal of such blockage, and the like.”  Jackendoff (1990): vários subtipos.

Decomposição semântica  Verbo secar teria a seguinte decomposição:

[ [ x ACT] CAUSE [ BECOME [ y ] ] ]  A classe de verbos que ocorre na construção do conqueísmo não tem o evento central especificado:  [ [ x ACT] CAUSE [ BECOME [ y ] ] ]

Exemplos - Ajudou  Sequência Ajudou com que: 88.100 resultados.

 Essa galera tambem ajudou com que esse projeto se tornasse tao lindo.  Provavelmente, o diamante da aliança ajudou com que ela ficasse presa no estômago do cachorro comilão.

Exemplos - Atrapalhou  Atrapalhou com que: 3.580 resultados.

 Previsto para começar às 19 horas, uma chuva torrencial atrapalhou com que o som e a iluminação fossem levados mais cedo, chegando apenas nesse horário.  Bom,quando estava aprendendo "música" era para tocar Violino...Isso era em uma outra cidade,me mudei e isso atrapalhou com que eu continuasse.

Exemplos - Deixou  Deixou com que: 329.000 resultados.

 Quando ele morreu, deixou com que os meus dias se tornassem vazios.  Você deixou com que eu partisse e não fez questão de segurar minhas mãos...

Exemplos – Resultou  Sequência Resultou com que: 4.630 resultados.

 “Isso resultou com que o povo Surui realizasse várias reuniões...”  “... devido a uma série de exigências e erros no sistema da Amil resultou com que eu tivesse que pagar algumas consultas...”

Exemplos - Ordenou  Sequência Ordenou com que: 3.140 resultados.

 “... o suspeito ... ordenou com que deixasse os dois pés, lado a lado, para ele efetuar disparos de arma de fogo, como forma de punição pelo atraso no pagamento.”  “Vendo o ocorrido, Cláudia parou o show e ordenou com que os seguranças tirassem a pessoa de lá...”

Frequência de uso  Fez com que: 62.400.000 resultados.  Fez com que ele: 20.700.000 resultados.

 Fez que ele: 191.000 resultados. [1% do acima]  Permitiu com que ele: 95.700 resultados. [15% do

abaixo]  Permitiu que ele: 646.000 resultados.

Fronteiras talvez fluidas  Quis com que: 17.900 resultados.

 Há quatro meses no comando do clube, o espanhol veio e, desde o primeiro dia, quis com que o elenco se adaptasse a uma forma europeia de jogar.  E neste dia de natal, no dia que Jesus Cristo nasceu, Deus quis com que o Val, o nosso Val, fosse até o seu encontro.

Fronteiras talvez fluidas  Queria com que: 73.000 resultados.

 O gesto a surpreendeu, certamente, “alguém” queria com que ela se sentisse (ou o mais próximo disso) em casa.  Comprei um Produto na PontoFrio.com e ... queria com que fosse entregue ate esta proxima quarta porque irei viajar e não vou conseguir pegar o produto...

Fronteiras não tão fluidas  Duvidou com que: 1 resultado.

 Você duvidou com que Milton Nascimento convidasse o rapper para uma série de shows.  Apesar de os falares experimentarem um pouco a língua no uso, duvidar não contém um evento causado.

Harris & Campbell (1995)  Três mecanismos de mudança sintática: reanálise, extensão e empréstimo.  (p. 97): “Extension is a mechanism that operates to change the syntax of a language by generalizing a rule...”

Désagulier (2005)  (p. 22) “In fine je souhaite proposer une explication au

postulat selon lequel il n’est pas d’innovation constructionnelle ex abrupto ou ex nihilo. À la jonction entre inertie et dynamique innovatrice, cette zone permet de comprendre que c’est précisément l’état de tension perpétuel caractéristique des constructions qui permet à la grammaire de s’adapter à la flexibilité linguistique.”  (p. 152) “Le flou aura donc une place prépondérante dans notre modèle diachronique. Contrairement aux idées reçues, nous pensons que le changement n’implique pas forcément un processus abrupt de création ou de perte de forme linguistique.”

Bibliografia selecionada  Goldberg, Adele (2006). Constructions at Work. Oxford UP.  Harris, Alice & Campbell, Lyle (1995). Historical Syntax in Cross-

Linguistic Perspective. Cambridge UP.  Désagulier, Guillaume (2005). Modélisation cognitive de la variation et du changement linguistiques. Université Michel de Montaigne – Bordeaux 3: Tese de Doutorado.  Rabanales, Ambrosio (1974). Queísmo y dequeísmo en el español de Chile. In: Homenaje a Ángel Rosenblat en sus 70 años. Estudios filológicos y lingüísticos.. Caracas: Instituto Pedagógico, pp. 413-444.  Rabanales, Ambrosio (2005). Queísmo y dequeísmo en el español de Chile. In Onomázein 12 (2): 23-53.

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