O contemporâneo no limiar da pós-modernidade (apresentação de dossiê)

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EDITORIAL O CONTEMPORÂNEO NO LIMIAR DA PÓS-‐MODERNIDADE Leandro Belinaso Guimarães*

“Hoje as guerras parecem mais pontuais, quando no fundo são permanentes”. (CARVALHO, 2006)

)RLXPGHVDÀRUHFHEHURJHQHURVRFRQYLWHGH0DUFRV5HLJRWDDLQGDHP para organizar um volume da “Revista de Estudos Universitários”. A dúvida pairava VREUHRWHPDGDHGLomRTXHÀFDULDVREDPLQKDUHVSRQVDELOLGDGH0LQKDVXJHVWmRIRL D´3yV0RGHUQLGDGHµDVVXQWRTXHRFRQVHOKRHGLWRULDODFROKHXVHPUHVVDOYDV6RX grato, antes de tudo, pelo convite e pelo aceite da temática. Aliás, a pós-‐modernidade seria, simplesmente, um tema ou, ainda, uma questão, RXXPDFRQGLomRRXXPWHPSRKLVWyULFRRXXPDH[SUHVVmRDUWtVWLFDRXXPHVWDGR GDFXOWXUDRXXPUHJLPHGLVFXUVLYRRXXPSURFHVVRVRFLDORXXPDPRGD"1RPtQLPR HGHVDtGDSRVVRGL]HUTXHTXDQGRVHpLQVWDGRDHVFUHYHUVREUHSyVPRGHUQLGDGH controversas emergem, desconfortos se instauram, indagações são produzidas. *   Dr.     em   Educação   pela   Universidade   Federal   do   Rio   Grande   do   Sul   (UFRGS).   Professor   do  Programa  de  Pós-­Graduação  em  Educação,  da  Universidade  Federal  de  Santa  Catarina   [www.ppge.ufsc.br].  Coord.  do  “Grupo  Tecendo  –  Educação  Ambiental  e  Estudos  Culturais”   [www.grupotecendo.com.br].  Universidade  Federal  de  Santa  Catarina,  Centro  de  Ciências   da  Educação,  Depto.  de  Metodologia  de  Ensino.  Campus  Universitário  –  Trindade  –  Caixa   Postal  476  –  CED/MEN  sala  21.  Cep:  88040-­900  Florianópolis,  SC. E-­mail:  [email protected]

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Um movimento instável de escrita, repleto de incertezas, de criações, de SHQVDPHQWRV GH SHUJXQWDV SRGH VHU YLVWR QRV WH[WRV TXH HVWmR UHXQLGRV QHVWD FROHWkQHD$ VHQVDomR p TXH FDGD XP GHOHV HVWi OHQGR XP SHGDoR XP IUDJPHQWR do/a leitor/a, ou seja, escriturando algo que tem relação com momentos importantes GDYLGDTXHVHYLYHRXTXHVHGHL[DYLYHURXTXHVHSHUPLWHHVFDSDU,QWHUHVVDQWH movimento provocado por uma temática tão controversa: não parece mais ser o/a OHLWRUDTXHPOrRVWH[WRVDTXLRUJDQL]DGRVHWHFLGRVFDGDXPDSDUWLUGHP~OWLSORV HGLIHUHQWHVÀRV$VHQVDomRpTXHRVDUWLJRVOHHPRVDVOHLWRUHVDVQRVHVYD]LDQGR de nós mesmos, nos mostrando outros modos de estar, de ser, de criar, de produzir, de LQYHQWDU(VFUHYHUVREUHSyVPRGHUQLGDGHSDUHFHH[LJLUDVXVSHQVmRGRVXMHLWRQmR seu apagamento absoluto, mas sim seu descentramento, para o colocar, assim, em sintonia com o silêncio do mundo e suas sutilezas, suas alteridades, suas musicalidades, VXDVLPDJHQVVXDVFRUHVVXDVYLGDVVXDVLQÀQLWDVSRVVLELOLGDGHVGHKLEULGDo}HV 0LQKDIRUPDomRGHSHVTXLVDGRUHVWHYHSDXWDGDQDHVFXWD²GHVGHRVPRPHQWRV em que estava na condição de aluno de mestrado, no Programa de Pós-‐Graduação em Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), nos meados dos anos ²GHTXHHVWDULDHPSURFHVVRQDVHJXQGDPHWDGHGRVpFXOR;;QRSHQVDPHQWR na cultura, na arte, uma desestabilização dos pressupostos da Modernidade. Sendo assim, a própria educação, campo ao qual me enredei para aprender a estar sendo SHVTXLVDGRUHVWDULDDVVLVWLQGRDXPFHUWRHVJRWDPHQWRGHVXDVYHUWHQWHVFUtWLFDVTXH SRUPXLWRWHPSRKDVWHDUDPHVHJXHPKDVWHDQGR DVEDQGHLUDVGDWRWDOHPDQFLSDomR e da plena liberdade. Ouvia, desde aqueles tempos, sobre o esgotamento das grandes narrativas totalizadoras sobre o mundo (LYOTARD, 2009) e, ainda, sobre o apagamento GRVXMHLWRFHQWUDGRDXW{QRPRFRQVFLHQWHUDFLRQDOHSDVVtYHOGHWRPDUDVUpGHDVGR mundo em suas mãos e transformá-‐lo completamente. 2V VyOLGRV IXQGDPHQWRV QRV TXDLV SRGHUtDPRV EDOL]DU QRVVRV SHQVDPHQWRV H FRQGXWDVSDUHFLDPUXLURFKmRHVWDULDDWUHPHUGHVPRURQDQGRHVWUXWXUDVRVXMHLWR GHVDSDUHFLD DFDQKDGR$OpP GLVVR D VRFLHGDGH QmR HVWDULD QD SyVPRGHUQLGDGH VXSRUWDQGRFRQWLQXDUDVHURUJDQL]DGDGHFLPDSDUDEDL[RGRFHQWURSDUDDSHULIHULD de uma classe social para outra. O mundo gritaria por descentralização (e o mercado SDUHFHKRMHHVFXWDUPXLWREHPHVVDYRQWDGH SRUPXOWLSOLFLGDGHSHORDOHDWyULR FDUDFWHUtVWLFR TXHP VDEH GLVVR TXH VH HVWDULD VHQGR SDXODWLQDPHQWH QRPHDGR como pós-‐moderno, na “modernidade tardia” (JAMESON, 2005). Tais sensações e entendimentos não se dissiparam. Pelo contrário, vivemos no contemporâneo como VHHVWLYpVVHPRVPHUJXOKDGRVHPXPD´YLGDOtTXLGDµ%$80$1 FXMDrQIDVHp o descarte, a mobilidade, a transitoriedade. Nada mais moderno, quiçá, do que tentar apreender, nesse cenário, um conceito, uma noção, que talvez seja, somente, uma condição. E a Revista que você leitor/as

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WHPHPPmRVRXQDWHODGRFRPSXWDGRU QmRSUHWHQGHFKHJDUDXPDGHÀQLomRGD pós-‐modernidade, a um esclarecimento, a uma transparência, a uma compreensão segura. Muitos de nós nos sentimos ávidos/as em tentar costurar algumas pistas, seja SDUDHQWHQGHURSUHVHQWHVHMDSDUDFRQVWUXtORVHMDSDUDLQYHQWiORDSDUWLUGRTXH QRVDWUDYHVVDQRVFRQVWLWXLQRVVXEMHWLYD3DVVRXDVHULPSRVVtYHOSDUDDTXHOHV as autores/as que aceitam um convite para pensar sobre, ou a partir de, ou com a pós-‐modernidade, escrever sobre o mundo, situando-‐se do lado de fora dele, de um FRQIRUWiYHOH[WHULRU$TXLORTXHVHHVFUHYHDTXLQHVWDFROHWkQHDVHHVFUHYHSRUHQWUH RPXQGRHVXDVLPDJHQVÀVVXUDVSDODYUDV $ SROtWLFD GRVQRV WH[WRV UHVLGH QmR QR FRQWUROH GRV SHQVDPHQWRV GDV GLIHUHQoDVGDVOHLWXUDV$DJrQFLDSROtWLFDHVWiQDLQWHQVLÀFDomRGRVSHQVDPHQWRV QDSURGXomRGHGLIHUHQWHVHLQGHWHUPLQDGRVPXQGRVQDVSRVVLELOLGDGHVLQÀQLWDVGDV OHLWXUDVGHVHQFDGHDGDVSHODVWH[WXDOLGDGHVDWXDOL]DGDVQRFRQWHPSRUkQHRTXHQRV DWUDYHVVDP ( VHU FRQWHPSRUkQHR QmR p DGHULU SHUIHLWDPHQWH DR VHX WHPSR PDV manter com ele uma relação dissociada, anacrônica, que permita ver, sem manter os ROKRVÀ[RVDpSRFDHPTXHVHYLYH$*$0%(1 Este volume pretende passear por várias áreas, por vários temas, para que os/as OHLWRUHVDVSRVVDPVHUYLVWRVVXWLOPHQWHSRUWH[WXDOLGDGHVFRVWXUDGDVQRVOLPLDUHV GDSyVPRGHUQLGDGH3RUHOHVHFRPHOHVFRPRVPRGRVFRPRRVWH[WRVQRVOHHP vamos tecendo fragmentos de possibilidades de se pensar o pós-‐moderno. Estamos, desde já, em um espaço de fronteira e, em momento algum, podemos dizer com segurança que estamos entrando no território da pós-‐modernidade. Aliás, será sobre o tempo (não cronológico) que farei a segunda costura dos artigos que agora passo a apresentar. Inicio, na primeira costura, mostrando como DOJXQV WH[WRV DWUDYpV GD QRomR GH KLEULGDomR FXOWXUDO VH DOLQKDP DRV HPEDWHV pós-‐modernos contra, entre outras questões, as grandes narrativas a respeito do mundo. O foco destes artigos não está em usar um conceito generalista e universal tentando entender, a partir dele, diversos processos culturais, mas, pelo contrário, no modo singular, impreciso, inusitado de se articular eventos, situações, conceitos, VHQVDo}HVSDUDDSDUWLUGDDUWLFXODomRQmRQHFHVViULDRSHUDGDQRWH[WRSURYRFDU LQGDJDo}HV FRUWDQWHV H HQWHQGLPHQWRV LPSURYiYHLV 3RU ÀP QD WHUFHLUD FRVWXUD GHVVDDSUHVHQWDomRPRVWURDOJXQVDUWLJRVPHUJXOKDGRVHPLPDJHQVHPXVLFDOLGDGHV SDUDDWUDYpVGHODVRXFRPHODVFULDURXWURVPXQGRV6HUiHVVDXPDFDUDFWHUtVWLFD DWXDOGDSyVPRGHUQLGDGH"'HL[DUXPSRXFRGHODGRDLQWHUSUHWDomRDVLJQLÀFDomR D UHSUHVHQWDomR SDUD SURYRFDU D FULDomR GH PXQGRV DWp HQWmR LQH[LVWHQWHV improváveis, mas repletos de afetuosas convivências? Como instituir mundos repletos GH FDUtFLDV VHP DQLTXLODPHQWRV QHP FRQWUROHV VREUH D YLGD TXH VH GHVHMD VHU intensamente, vivida?

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PRIMEIRA COSTURA: TEMPOS DE HIBRIDAÇÃO Bruno Latour (1994), em um instigante livro nos diz que nunca fomos modernos. $VVLPFRPRSRGHUtDPRVVHJXLUIDODQGRHQWmRHPSyVPRGHUQLGDGH"$0RGHUQLGDGH HVWHYHSDXWDGDHPHVWUDWpJLDVGHSXUH]DVHSDUDQGRPHVPRGLDOHWLFDPHQWHHPVXD YHUVmRFUtWLFDOLPSRVHVXMRVVXMHLWRVHREMHWRVQDWXUH]DVHFXOWXUDVVRFLHGDGHV e discursos. Entretanto, argumenta o autor, em razão mesmo dos processos de SXULÀFDomR PXOWLSOLFDUDPVH VLOHQFLRVDPHQWH RV KtEULGRV DV PRQVWUXRVLGDGHV FULDo}HVGRVSURFHVVRVGHWUDGXomRPLVWXUDVKtEULGDVGHQDWXUH]DVHFXOWXUDV$VVLP diz o autor, nunca fomos, completamente, modernos. Nesta coletânea, Maria Lúcia Castagna Wortmann, no artigo: “Encontros LQWHUFXOWXUDLV KLEULGDo}HV H SyVPRGHUQLGDGHµ PRVWUD DOJXPDV LQWHUHVVDQWHV QXDQFHV GR FRQWUDGLWyULR H FRQÁLWDQWH FRQFHLWR GH KLEULGDomR FXOWXUDO $ SDUWLU GRVHVWXGRVFXOWXUDLVSUDWLFDGRVGHVGHDFKDPDGD$PpULFD/DWLQDDDXWRUDPRVWUD TXH HVWi HP FXUVR XP HVPDHFLPHQWR GH IURQWHLUDV DWp HQWmR EHP DVVHQWDGDV QD Modernidade, ou seja, entre o que se considerava ser cultura erudita, popular ou PLGLiWLFDGLYLV}HVFRQVWUXtGDVDWUDYpVGDVHVWUDWpJLDVGHSXULÀFDomRTXHFRPHQWD Bruno Latour). A partir de um espetáculo do grupo argentino “Bajofondo” (realizado em 2009 no prestigioso teatro São Pedro de Porto Alegre/RS), que mistura diferentes ritmos, inusitadas tecnologias sonoras, diversos estilos musicais, a pesquisadora tece saborosamente seus argumentos promovendo a desconstrução das oposições, que tanto marcaram os modos de ver o mundo na Modernidade. 1R WH[WR ´1RWDV LQFHUWDV  VREUH WHDWUR H SyVPRGHUQLGDGH RX *LDQHFFKLQL 0DULJKHOOD H *HQHW WRPDQGR FDIp HP 3HORWDVµ7DtV )HUUHLUD QRV FRQYRFD D SHQVDU a pós-‐modernidade como algo que se vivencia. A autora apresenta, ao mesmo tempo com leveza e densidade, diferentes cenas teatrais ocorridas em 2009 na FLGDGH VXOLVWD GH 3HORWDV56 EXVFDQGR VHP MXOJiODV FRPR PHOKRUHV RX SLRUHV HQWHQGrODV FRPR FRPSRVWDV SRU OLQKDV GtVSDUHV SRU YH]HV FRPSOHPHQWDUHV SURGX]LGDVDSDUWLUGHSURFHVVRVGHKLEULGDomRFXOWXUDO(PVXDDUJXPHQWDomRYmRVH PHVFODQGRFRQÁLWXRVDPHQWHFHQDVXUEDQDVtFRQHVWHOHYLVLYRVPRYLPHQWRVVRFLDLV FRQWHVWDWyULRVWH[WRVOLWHUiULRVHVSDoRVWHDWUDLV 3DXOD&RUUrD+HQQLQJQRHQVDLRLQWLWXODGR´$0RGHUQLGDGHOtTXLGDHRERUUDPHQWR GHIURQWHLUDVQRFDPSRGDVFLrQFLDVµWDPEpPHVWiLQWHUHVVDGDQHVVHPRYLPHQWRGH DQiOLVHHPTXHDVJUDQGHVQDUUDWLYDVHDVSRODULGDGHVYmRVHQGRFRORFDGDVHP[HTXH 1RFDVRGRDUWLJRGDSHVTXLVDGRUDpDDUHQDFLHQWtÀFDTXHSDVVDDVHUHQIRFDGD Se a Modernidade sólida esteve envolvida na construção de fronteiras muito bem GHPDUFDGDV HQWUH PRGRV GLVWLQWRV GH SURGX]LU FRQKHFLPHQWRV HVWDQGR D FLrQFLD sempre e limpidamente, do lado da verdade, trata-‐se agora de buscar um outro

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PRYLPHQWRTXHWDOYH]SRVVDPRVDWpFKDPDUGHXPDFRQGLomRSyVPRGHUQDGDYLGD OtTXLGD DWXDO R GH ERUUDU DV IURQWHLUDV (VWDV TXH HVWLYHUDP IRUWHPHQWH HP FHQD quando se tratou de pensar sobre as constituições da ciência na Modernidade. Os três artigos acima mostram uma argumentação que vai sendo composta a partir da articulação de diferentes elementos que estão em jogo nas cenas e TXHVW}HV DSUHVHQWDGDV H TXH VmR SRVWDV HP HYLGrQFLD SHORV ROKDUHV DJXoDGRV GDV SHVTXLVDGRUDV1HVVDPHVPDGLUHomRRDUWLJRGH0DULkQJHOD0RPRLQWLWXODGR´0tGLD e consumo na produção da infância pós-‐moderna” nos ajuda a vislumbrar como o consumo, organizado em torno do desejo e não, apenas, da necessidade e, ainda, HVWLPXODGRSRUPXLWRVDUWHIDWRVSURYHQLHQWHVGDPtGLDSDUWLFLSDGRVSURFHVVRVGH VXEMHWLYDomRDWXDLVSURGX]LQGRSRUH[HPSORRTXHDDXWRUDFKDPDGHXPDLQIkQFLD SyVPRGHUQD$OpPGLVVRRDUWLJRQRVPRVWUDXPEUHYHHLQWHUHVVDQWHSDQRUDPDGRV debates que vêm sendo efetuados, pelas margens dos estudos culturais, com relação ao termo pós-‐moderno. 2DUWLJRTXHIHFKDHVVDSULPHLUDFRVWXUDGD5HYLVWDFKDPDVH´&ULDQoDVQDHUD GLJLWDOGHVDÀRVGDFRPXQLFDomRHGDHGXFDomRµGH3tHU&HVDUH5LYROWHOODH0RQLFD )DQWLQ2WH[WRDQDOLVDDVRFLHGDGHPXOWLWHODHPTXHYLYHPRVQDTXDORHVSHFWDGRU GHDUWHIDWRVFXOWXUDLVFRPRDWHOHYLVmRSDVVDDVHULQVWLWXtGRQmRPDLVDSHQDVFRPR um consumidor de mensagens, mas um usuário particularizado de serviços. Nessa sociedade, o zapping televisivo, analisado em importante livro assinado por Beatriz 6DUOR SDVVDDVHUPXOWLPLGLiWLFRMiTXHHVWDPRVHPIUHQWHQmRPDLVVRPHQWH da tela da televisão, mas das telas dos celulares, dos computadores, dos tocadores musicais, entre outros aparatos pós-‐modernos. Nessa conformação, os autores DUJXPHQWDP TXH DV PtGLDV GLJLWDLV GHL[DP GH VHU GH PDVVD SDUD VHUHP DJRUD SHVVRDLV2XWURLQWHUHVVDQWHDVSHFWRFRORFDGRHPTXHVWmRQRDUWLJRpTXHDVPtGLDV digitais exigem XP RXWUR VXMHLWR TXH GHL[D GH VHU HVSHFWDGRU SDUD VHU WDPEpP produtor de mensagens. O artigo percorre, ainda, diferentes cenas escolares, nas TXDLVFULDQoDVVHPRVWUDPHPLQWHUDWLYLGDGHWHFHQGRKLEULGDo}HVFRPDVGLYHUVDV PtGLDVTXHPDUFDPDVRFLHGDGHPXOWLWHOD

SEGUNDA COSTURA: TEMPOS DE CONTROLE Gianni Vattimo (1996) argumenta que pensar o pós-‐moderno necessita uma escuta dos discursos provenientes das artes. Essa ressalva foi tomada por mim como LPSRUWDQWHQDFRPSRVLomRGRVWH[WRVGHVWDFROHWkQHD,QFOXVLYHMiSDVVHDPRVQD SULPHLUDFRVWXUDGRVWH[WRVSRUXPFRQFHUWRPXVLFDOHSRUFHQDVWHDWUDLV$EULUHPRV essa segunda costura falando um pouco de literatura.

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$QWHVJRVWDULDGHH[SOLFLWDUXPDSHUJXQWDTXHFRPSRQKRDSDUWLUGDOHLWXUDGHXP LQVWLJDQWHOLYURGH9DWWLPR &RPRDSyVPRGHUQLGDGHSRGHULDGHL[DUHVFDSDU VXD FDUDFWHUL]DomR PDLV FRPXP D GH VHU YLVWD FRPR XP PRPHQWR KLVWyULFR" 3DUD R ÀOyVRIR LWDOLDQR R SyVPRGHUQR FRORFD HP TXHVWmR SDUDGR[DOPHQWH WDOYH] XP frescor de novidade que se colaria, quase sem querer, a ele mesmo. De longe, quando se ouve falar de pós-‐modernidade alguns de nós sentem um ar mais leve, mais fresco, mais perfumado, mais atual, mais envolvente. Entretanto, o pós-‐moderno coloca em TXHVWmRQmRGHXPPRGRFRPSOHWDPHQWHQRYRRXRULJLQDO²FDPLQKDQGRFRPRVH HVWLYHVVHHPSOHQRHFODURDUPDVVHPDVHQVDomRGHYHUWLJHP($*/(721 ² alguns alicerces da Modernidade, tais como: os ideais de novidade, de superação, de progresso, de fundamentação, de origem. No artigo “Literatura e pós-‐modernidade”, Susana Scramim esgrima, perfurando, HPVLQWRQLDFRPDDUWHDQRomRGHWHPSRKLVWyULFROLQHDUHSURJUHVVLYRTXHIXQGRX D 0RGHUQLGDGH 5HVLGH QHVVH DUJXPHQWR VHX GHVFRQIRUWR FRP R SUHÀ[R ´SyVµ GD SyVPRGHUQLGDGH 2 SyVPRGHUQR QmR p YLVWR GHVVD IRUPD FRPR XPD VXSHUDomR GDV HVWUDWpJLDV GH SRGHU TXH HVWLYHUDP HP RSHUDomR QD OLWHUDWXUD PRGHUQD PDV como uma radicalização das mesmas, aprimorando os dispositivos de visibilidade e de controle. Nessa direção, a autora pergunta sobre como lidar com uma sociedade governada pela imagem. A pesquisadora sugere que derivações dessa indagação poderiam ser encontradas na arte, em uma, eu diria, postura pós-‐moderna, em que qualquer um de nós poderia se perceber artista, elegendo e reunindo uma coleção qualquer que produza efeitos sobre o mundo, sobre o pensamento e, sobretudo, sobre nós mesmos. 6HUJLR$XJXVWR9L]]DFFDUR$PDUDOQRDUWLJR´([LVWrQFLDYLGDHPRUWHGRYLYHUDR VREUHYLYHUµWDPEpPHVWiSUHRFXSDGRWDOFRPRRWH[WRDQWHULRUFRPDVHVWUDWpJLDV de poder na sociedade de controle. De forma muito interessante, o autor tece uma argumentação mostrando como o adoecimento (este estado que nos convoca ao limiar HQWUHDYLGDHDPRUWH IRLSURGX]LGRSHODVHVWUDWpJLDVGHJRYHUQRGDVVRFLHGDGHV disciplinares, se contrapondo com a difusão, a diluição e a sutileza das maneiras de controlar o corpo (são outras as maneiras de disciplinar) e de se investir sobre a vida nos diagramas postos em operação na sociedade de controle. Nesses tempos DWXDOL]DGRVQmRVHULDPDLVVRPHQWHDYLGDRIRFRGRVLQYHVWLPHQWRVELRSROtWLFRVGR QRVVRWHPSRPDVDJRUDWDPEpPDVREUHYLGDYLUWXDOPHQWHLQÀQLWDH[SHULPHQWDGD SRUFRUSRVTXHWHLPDPPHVPRVHPTXHUHUHPÀFDUOLJDGRVVREUHYLYHQGR DLQ~PHURV DSDUDWRV WpFQLFRV R PDLV WHPSR SRVVtYHO 9LYHU GL] R DXWRU QmR QHFHVVDULDPHQWH HVWi UHODFLRQDGR FRP R WHPSR FURQROyJLFR TXH VH FRQVHJXH H[LVWLU PHGLGR HP rugas que se amenizam e em cabelos brancos que se tingem), mas com as criações, com as imprevisibilidades, os enfrentamentos do acaso, as mudanças inusitadas, as

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LQWHQVLGDGHVTXHQmRGHVHMDPSUHVHUYDUXPVHPSUHPHVPRHVWDGRGHUHEDQKRGH sobrevida. 2DUWLJRGH:ODGLPLU*DUFLDFKDPDGR´3yV0RGHUQLGDGHH'LIHUHQoDµWDPEpP PDUFD TXH R ´SyVµ UHIHUHVH D XPD QmR VHTXrQFLD PDV D XPD FRH[LVWrQFLD TXH LQGLFDXPDUHODomRGHLQFRPSOHWXGHHGHIpUWLOWUDQVLWLYLGDGH&RPRSRGHUtDPRVQRV DORFDU QDV ÀVVXUDV QDV UDFKDGXUDV GR PRGHUQR H VXD OyJLFD WULXQIDQWH HYROXWLYD" Essa questão talvez nos mobilize, como provoca o pesquisador, por um estado não tagarela da cultura do “eu”’, que oprime o “outro” por sua ânsia de controle e de KHJHPRQLD$TXHVWmRGDGLIHUHQoDQRVGL]RSHVTXLVDGRUQRVDIDVWDGRUHIHUHQWH GRPRGHORDVHUUHSUHVHQWDGRGRLGrQWLFRHQRVPRELOL]DSHORLQÀQLWRSHORRUJtDFR pela diferença que sempre escapa e produz diferenças. (VVHQmRUHFRQKHFLPHQWRGDVYR]HVTXHQmRVHMDPDVSUySULDVDVYR]HVGHXP´HXµ LQFDSD]GDHVFXWDGRVGHPDLVGDVPDUFDVTXHGHL[DPDVRXWUDVSDODYUDVRVRXWURV VRQVRVRXWURVJHVWRVRVRXWURVDQ{QLPRVURVWRVpXPGRVSRQWRVTXHPRELOL]DPD HVFULWDGH&DUORV6NOLDUQRDUWLJR´'HOHVWDUMXQWRVHQHGXFDFLyQ\GHORVDUWLÀFLRV GHODFRQYLYHQFLDµ2VGLVFXUVRVFRQWHPSRUkQHRVSHODLQFOXVmROLQKDVGHFRQWUROH atuantes no nosso tempo atual) solicitam, muitas vezes, uma convivência que possa PDQWHU XPD SUXGHQWH GLVWkQFLD H XPD WROHUDQWH DFHLWDomR 3RUpP DUJXPHQWD R DXWRU D FRQYLYrQFLD FRP RV GHPDLV p MRJDGD HQWUH XP OLPLWH H XP FRQWDWR 1mR VHULDDFRQYLYrQFLDTXHPTXHVWLRQDULDQRVVDSUHVHQoDHQRVVDH[LVWrQFLDQRPXQGR" As questões sobre a convivência são pensadas pelo autor no decorrer do instigante artigo com relação à educação. Nessa direção, o pesquisador indaga: como educar VHPGHVHMDUPXGDURRXWURVHPSUHWHQGHUGHL[iORDOKHLRDVXDDOWHULGDGH"

TERCEIRA COSTURA: TEMPOS DE INVENÇÃO 2VWH[WRVTXHIHFKDPRGRVVLrGHVOL]DPHQWUHRGHVHMRGHIXJDGDUHSUHVHQWDomR GR HVSHOKDPHQWR GD UHDOLGDGH GD FHQWUDOLGDGH SRVWD PXLWDV YH]HV QR ROKDU GR VXMHLWRSDUDRPXQGR$WHQWDWLYDpXPDDEHUWXUDDRDFRQWHFLPHQWRjLQYHQomRGH PXQGRVLPSURYiYHLVPXQGRVRXWURVSURGX]LGRVDWUDYpVGRVMRJRVGDGLIHUHQoDHQmR QDDSUHHQVmRGRVLJQLÀFDGRGDLGHQWLGDGH3RUHQWUHLPDJHQVHPXVLFDOLGDGHVRV DXWRUHVHQFRQWUDPVHFRPDDUWHIRWRJUiÀFDFLQHPDWRJUiÀFDHPXVLFDO 1RWH[WR´'HVOL]HVSHODVVXSHUItFLHVGRDFRQWHFLPHQWRIRWRJUiÀFRµ$OLN:XQGHU e Susana Dias, pensam a imagem de alguns artistas brasileiros (Rosângela Rennó, $OH[DQGUH ÐULRQ H 3DXOD 7URSH  QR LQWHULRU GD SUySULD LPDJHP$ IRWRJUDÀD QmR p WRPDGD QHP FRPR HVSHOKR GR UHDO QHP FRPR UHSUHVHQWDomR GH XP VXMHLWR PDV VLP FRPR LPDJHP TXH DFRQWHFH QD VXD SUySULD VXSHUItFLH +i XPD DSRVWD QD DUJXPHQWDomR GDV DXWRUDV GH TXH D PDWpULD IRWRJUiÀFD SRVVD GHVYLQFXODUVH

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Leandro Belinaso Guimarães

da função de representar e movimentar-‐se, assim, pela atualização das potências criativas, pela instauração de devires, pela proliferação de outros mundos. Nessa GLUHomRRWH[WRIRJHGDLQWHQFLRQDOLGDGHGHUHWLGmRHDSULVLRQDPHQWRGRVVHQWLGRV atualizando o fotógrafo como um manipulador, não de imagens do mundo, mas de imagens-‐mundo. Alda Romaguera, Pamela Oda e Antonio Carlos Amorim, no artigo “Em imagens, tempo e personagem do cinema pós-‐moderno”, seguem rastros presentes no artigo anterior. Os autores nos mostram que uma ênfase da pós-‐modernidade seria perder de YLVWDRUHDO(VVDSHUGDVHULDLQFOXVLYHLPSUHVFLQGtYHOHPXPDFRQGLomRGHGLVVROXomR GRPXQGRPRGHUQR1HVVHHVJRWDPHQWRPHODQFyOLFRDUHDOLGDGHpLQFRPSUHHQVtYHO 2DUWLJRSURPRYHXPDLQWHUHVVDQWHOHLWXUDGRÀOPH´$FDVDYD]LDµGH.LP.L'XN colocando-‐o em jogo com o videoclipe “O salto”, da banda pop carioca “O Rappa”. )HFKDQGRHVWDDSUHVHQWDomRHWDPEpPRGRVVLrGD5HYLVWDHVWiRDUWLJRGH$QGUp 3LHWVFK/LPDFKDPDGR´2OLYLHU0HVVLDHQULWPLFLVWDµ1HOHRDXWRUDSDUWLUGDREUD GRP~VLFRTXHFRQIHUHWtWXORDRDUWLJRPRVWUDXPDIRUPDGHSHQVDURULWPRFRPR YDULDomRSHUSpWXD,QWHUHVVDQWHSDUDGR[RDP~VLFDFRQVLGHUDGDUtWPLFDSHORDUWLVWD era justamente aquela em que, para ele, faltava o ritmo. Essa forma de escuta VHGHEHODFRPRVYDORUHVGHPDVLDGDPHQWHFRQKHFLGRVHUHJXODUHV$LUUHJXODULGDGH UtWPLFD WHULD XPD LQVSLUDomR QRV ULWPRV VRQRURV GD QDWXUH]D 2 ULWPR DTXL HP VLQWRQLDFRPRVWH[WRVDQWHULRUHVGHVVDWHUFHLUDFRVWXUDFRPRXPPXQGRGHFULDo}HV GHÁX[}HVGHLQYHQWLYLGDGHV

COSTURAS E TEMPOS DE OUTRAS LEITURAS (VSHUR TXH HVWH GRVVLr FKHJXH HP VXDV PmRV FDURD  OHLWRUD  H RD SHUPLWD DJRUD WHFHU XPD FRVWXUD VLQJXODU GRV WH[WRV HOHLWRV SRU HQWUH XP VLOHQFLRVR H LQWURVSHFWLYRPDVQmRGHVDFRPSDQKDGR PRPHQWRGHOHLWXUD4XHRVSHQVDPHQWRV JHUDGRVSRVVDPOKHPRYLPHQWDUGHVHMRVGHRXWUDVHVFULWDVPDLVVREUHRXFRPRXSRU HQWUHHVWHVWHPSRVSyVPRGHUQRVGHRXWUDVKLEULGDo}HVVXWLVFRQWUROHVFULDWLYDV invenções, múltiplas leituras, potentes escritas, generosas convivências. 8PDH[FHOHQWHOHLWXUD

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O CONTEMPORÂNEO NO LIMIAR DA PÓS-‐MODERNIDADE

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