O contra-ataque da seleção espanhola de sub-17 femininos no Mundial de 2014
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O contra-‐ataque da seleção espanhola de sub-‐17 femininos no Mundial de 2014
Luís Filipe Simões Cristóvão Universidade Lusófona Faculdade de Educação Física e Desporto Treino das Capacidades Motoras e Técnico-‐Táticas 2014/15
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1-‐Introdução O basquetebol é um jogo que detém um dinamismo e intensidade ímpares, pelo facto de colocar os seus atletas num campo de dimensões reduzidas, onde todos os elementos são participantes ativos nos momentos defensivos e ofensivos. Assim sendo, a transição é um momento essencial deste jogo, com o contra-‐ ataque a ganhar grande ênfase em praticamente todos os modelos de jogo. Como bem refere Atkins (2004), “ quase todas as equipas operam algum tipo de contra-‐ ataque durante um jogo”. Seja pelos resultados apresentados ao longo dos últimos anos, seja pela proximidade geográfica e pela oportunidade de observar continuadamente equipas espanholas, a análise dos modelos de jogo e projetos da Federação Espanhola de Basquetebol surgem como preferenciais para os técnicos nacionais. Partindo de uma realidade social onde se podem estabelecer imensas comparações, o basquetebol sempre teve um papel de relevo dentro do panorama desportivo espanhol, enquadrando-‐se, também, como mais um dos lugares de disputa de primazia entre o Real Madrid e o Barcelona. O fenómeno desportivo espanhol beneficiou do enorme impacto da aposta feita para os Jogos Olímpicos em 1992, com o basquetebol a começar a demonstrar resultados de monta, com maior regularidade, a partir do final dessa década. A conquista do Mundial de Basquetebol de Sub-‐19 Masculinos, realizado em Lisboa, em 1999, marca o início de uma série de conquistas que se estendem até aos nossos dias. O modelo de jogo preconizado pelos escalões de formações espanhóis assenta na velocidade e agressividade, preconizando qualidades selecionadas do tipo morfológico da generalidade dos seus atletas. Esses elementos podem ser mais facilmente observáveis através das suas equipas femininas, onde a Espanha tem consolidado o seu domínio nos escalões de formação, com sete títulos europeus na categoria de sub-‐16, três títulos europeus na categoria de sub-‐18 e quatro títulos na categoria de sub-‐20. A equipa escolhida para esta análise é composta, na sua maioria, por jogadoras que conquistaram o Campeonato Europeu de Sub-‐16 Femininos, em 2013, e alcançaram a segunda posição no Mundial de Sub-‐17 em 2014. O seu técnico, Victor Lapeña, é um dos mais respeitados treinadores de basquetebol feminino em Espanha, com experiências em equipas profissionais e nas seleções de formação. No seu grupo de jogadoras estão algumas das principais promessas de futuro da modalidade, várias delas também com o seu percurso a nível sénior já iniciado na principal Liga Espanhola. A opção por analisar esta equipa partiu do facto de estarmos perante uma competição de seleções de elevado nível no seu escalão, tendo a equipa espanhola destacado por ser a equipa com melhor média de roubos de bola por jogo, fruto da intensidade colocada na sua forma de abordar o momento defensivo. Sendo o contra-‐ataque uma arma ofensiva, seguimos a definição apresentada por Lorenzo (2008), que refere o contra-‐ataque como “a primeira ação ofensiva a partir da defesa”.
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2-‐Porquê o contra-‐ataque? O contra-‐ataque, sendo um momento do jogo de basquetebol é, “uma atitude, uma filosofia e uma concepção” (Albright-‐Dieterle, 2004), que inspirou bastantes modelos de jogo. Assim sendo, é natural que possamos encontrar entre os seus princípios várias ideias que extrapolam o próprio jogo, assimilando-‐se este movimento tático a uma verdadeira escolha de promoção da modalidade. O contra-‐ataque é, acima de tudo, divertido. Albright-‐Dieterle (2004) realça essa característica neste momento do jogo, que se pode transformar em toda a ideia do mesmo, como é o caso defendido por Jabir (2004), que sublinha que “o nosso ataque de transição é o nosso ataque”. A ideia de divertimento está aliada ao conceito de emoção que está bem presente no contra-‐ataque, que proporciona mais oportunidades para marcar cestos. Lorenzo(2008) destaca a exigência e a responsabilidade associadas ao contra-‐ ataque. Para além de ser necessário o comprometimento de todos os jogadores neste estilo de jogo, o foco na tarefa de cada um dos atletas é essencial para o seu sucesso. O autor refere a necessidade de uma “grande atenção e disponibilidade dos jogadores, [que] devem ser agressivos e estar constantemente concentrados, de maneira a que se encontrem nas suas habilidades para superar o adversário em cada ocasião”. O contra-‐ataque também oferece a possibilidade dos jogadores utilizarem a sua criatividade para resolver as situações de vantagem criadas. Cada jogador poderá desenvolver, ao jogar em contra-‐ataque, soluções que lhe permitam evidenciar-‐se e criar uma melhor utilização do espaço oferecido por um ataque rápido. Da mesma forma, em situação competitiva, o contra-‐ataque é uma arma de imprevisibilidade, o que torna a preparação do adversário mais difícil. Como defendem Karl e Moe (2009), “é mais difícil estar preparado para o enfrentar e defender, já que não tem posições definidas de forma estrita nem jogadas organizadas”. Em suma, o contra-‐ataque é um movimento de fusão de ideias do jogo de basquetebol. Sublinha, de igual forma, a importância da defesa e do ataque, criando uma ideia inclusiva das diferentes ações numa só filosofia de jogo. Aquilo a que tradicionalmente chamamos contra-‐ataque pode ser resumido num modelo de jogo de transição, que, podemos arriscar, poderia funcionar como uma alternativa aos modelos de jogo tradicionais, que dividem a análise do mesmo em defesa, transição ofensiva, ataque e transição defensiva. Um modelo de jogo onde a equipa está sempre em transição é a ambição e uma natural consequência da nossa análise do contra-‐ataque. Até porque este resume as ideias associadas ao jogo de basquetebol: realizar, no menor intervalo de tempo, o total aproveitamento do espaço de jogo e das capacidades físicas dos atletas, com o objetivo de, após recuperada a posse de bola, entender as vantagens e concretizar pontos no cesto adversário.
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3-‐O contra-‐ataque da seleção espanhola de sub-‐17 femininos no Mundial de 2014 3.1-‐Método Foram analisados os sete jogos realizados pela seleção de Espanha no Mundial de Basquetebol de Sub-‐17 femininos, disputado no verão de 2014. Os jogos analisados dizem respeito à fase de grupos (três), oitavos-‐de-‐final, quartos-‐de-‐ final, meia-‐final e final (um cada), tendo sido realizados num espaço de nove dias, havendo um dia de intervalo entre o segundo e o terceiro encontro e um outro dia de intervalo entre o quarto e quinto encontro. O plantel da equipa espanhola era composto por doze atletas com uma média de 16,67 anos de idade e 181,75 centímetros de altura. Para esta análise, centramos a nossa atenção no momento de início do contra-‐ ataque, selecionando o tipo e a zona do campo em que o mesmo foi realizado. No desenvolvimento do movimento, destacamos a utilização predominante do drible ou do passe e os corredores utilizados. Definida a situação de jogo concretizada com a saída rápida, analisamos também a zona de finalização do contra-‐ataque e o resultado do mesmo. Foram analisadas 126 ocorrências no decorrer dos sete encontros.
Figura 1 -‐ Zonas de Finalização de Contra-‐ataque utilizadas no estudo de Monteiro, Tavares & Santos (2013), recolhidas do site www.82games.com
3.2-‐Resultados A forma de recuperação de bola predominante foi o roubo de bola, com 72 ocorrências, seguindo-‐se o ressalto defensivo como o segundo tipo com maior número de ocorrências, 37. Estes números confirmam os dados apresentados nos artigos de Refoyo, Romaris e Sampedro (2009) e de Monteiro, Tavares e Santos (2013), ainda que os primeiros analisem dados de equipas seniores que disputaram os Jogos Olímpicos de 2008 e os segundos analisem dados das Final
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Four da Associação de Basquetebol do Porto, na temporada 2009/10, na categoria de Sub-‐16 Masculinos e Femininos. Figura 2 -‐ Tipo de Início do Contra-‐Ataque
A zona de recuperação de bola é, predominantemente, a zona indicada como 1 na Figura 2. Essa é a zona entre a linha final defensiva e a linha de lançamento livre. A equipa espanhola recuperou a bola nessa zona em 82 ocasiões, tendo recuperado na zona 2 (entre a linha de lance livre e o meio-‐campo) em 35 outras ocasiões. Comparando com os resultados recolhidos por Refoyo, et al. (2009), notamos uma muito maior predominância da primeira zona referida. Figura 3 -‐ Zona de Início do Contra-‐Ataque
No estudo Refoyo, et al. (2009), as situações de contra-‐ataque são equilibradamente resolvidas a partir de drible ou passe, no que toca à análise feita às equipas femininas. Já na recolha feita por Monteiro, et al. (2013), o passe surge como elemento predominante nas equipas femininas. Na nossa recolha, por contrário, é o drible a ser dominante, como pode ser visto na Figura 3, para além da maioria das ações terem o corredor central como preferencial, descrito na Figura 4, outro dado que entra em contradição com a recolha realizada nos Jogos Olímpicos de 2008.
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Figura 4 -‐ Desenvolvimento do CA Figura 5 -‐ Corredor Utilizado
No que toca às situações de vantagem criadas através do movimento de contra-‐ ataque, a nossa análise da seleção espanhola de Sub-‐17 femininos aponta para as mesmo quatro vantagens predominantes assinaladas na análise de Monteiro, et al. (2013). Na fase de formação em que se encontram estas jogadoras, a opção por resolver individualmente é natural, até porque são os melhores quem chega mais vezes na condução da bola neste momento. No entanto, enquanto a análise realizada nos jogos da Associação de Basquetebol do Porto aponta o 1x1 como situação predominante, os nossos dados apontam a situação de 2x1 como a mais recorrente na equipa espanhola que jogou o Mundial Sub-‐17 femininos. Figura 6 -‐ Situações de Jogo criadas no CA
No que toca à finalização da situação de contra-‐ataque não existem dúvidas que a área interior é a preferida pelas jogadoras da Seleção espanhola, sendo que o lado direito da área tem uma ligeira vantagem na preferência sobre o lado esquerdo. Essa mesma tendência é assinalada no trabalho de Monteiro, et al. (2013).
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Figura 7 -‐ Zona de Finalização do Contra-‐ataque
Na análise dos resultados alcançados durante as 126 ocasiões de contra-‐ataque assinaladas, consta que existiu uma predominância de sucesso das mesmas, com 57 delas a terminarem em cestos de dois pontos, uma das quais acumulando uma falta e respetiva ida para a linha de lance livre. Em duas ocasiões a jogada de contra-‐ataque terminou com lançamentos de três pontos concretizados. Nas restantes situações assinala-‐se uma predominância da falta da equipa adversária, uma solução recorrente utilizada, sobretudo no basquetebol europeu, para travar as situações de contra-‐ataque e que poderia merecer, também, um estudo no futuro. Figura 8 -‐ Resultado das ações de Contra-‐ataque
3.3-‐Descrição do contra-‐ataque Apesar de marcar sempre presença no meio-‐campo adversário no momento de perda de posse da bola, a seleção espanhola poucas vezes recorreu a uma defesa de pressão a campo inteiro, situação compreensível dado o esforço necessário para disputar sete jogos em apenas nove dias. Daí que a zona preferencial de recuperação de bola fosse o meio-‐campo defensivo, onde a equipa de Victor Lapeña utilizava quer uma defesa ao homem, quer uma zona 2-‐2-‐1 para tentar parar, o mais cedo possível, o ataque adversário. O ênfase da recuperação da bola está no meio-‐campo defensivo, ora obrigando a equipa adversária a uma má
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tomada de decisão, ora interceptando as linhas de passe. Caso o adversário alcançasse o lançamento, o trabalho no ressalto defensivo ganhava ênfase, com a Espanha a ser a terceira equipa do torneio com mais conquistas de bola neste momento do jogo. A equipa espanhola utilizou o drible e o corredor central como opção preferencial para desenvolver o seu contra-‐ataque. A equipa dispunha de várias boas soluções, no seu plantel, para conseguir fazer chegar rapidamente a bola ao ataque através do drible, sendo que essa opção teve a leitura correta no maior número de ocasiões assinaladas. A opção pelo corredor central também foi muitas vezes justificada pelo facto da equipa conseguir, nesse corredor, boa parte das recuperações de bola e por procurar, de forma muito rápida, esse mesmo espaço sempre que a bola foi conquistada no corredor lateral – aqui convém assinalar que, sobretudo nos encontros frente aos adversários mais acessíveis, nos primeiros jogos da competição, a Espanha utilizou, no momento defensivo, a procura de situações de 2x1, criando um trap ao jogador com bola sempre que ele entrava num dos corredores laterais do ataque. Ainda no que toca ao desenvolvimento do contra-‐ataque, é de notar que a noção de espaço entre as jogadoras nem sempre foi observada, com a solução individual a aparecer demasiadas vezes, ora por opção da jogadora que tinha a bola em sua posse, ora por incapacidade das suas colegas em ocuparem o espaço e oferecer, assim, melhores linhas de passe para a finalização. Na generalidade dos jogos disputados, uma vez recuperada a bola, procurou-‐se colocar o jogo a ser disputado por menos jogadoras. O 1x0 e o 1x1 foram predominantemente finalizados pelas jogadoras Laia Raventós e Angela Salvadores, as duas atletas de maiores atributos técnicos e maior velocidade, que também demonstraram ser as jogadoras que finalizaram, com sucesso, mais situações de contra-‐ataque. Em ambas as situações, a vantagem técnica individual era procurada como solução. Se na situação de 1x0 a generalidade das situações terminou com a obtenção de dois pontos para a Espanha, já na situação de 1x1, os dois pontos e a falta sofrida aparecem em equilíbrio. Nas situações de vantagem em 2x1 e 3x2, procurou-‐se através do espaçamento e ocupação de corredores obter formas de finalização bem sucedidas, o que acabou por acontecer, com as situações de 3x2 a terem a maioria das finalizações em dois ou três pontos para a equipa espanhola. Necessitando de corrigir o posicionamento das suas atletas nas situações de vantagem numérica, o selecionador espanhol pode, ainda assim, dar-‐se por satisfeito pelos resultados retirados das suas opções táticas para este Mundial. Finalmente, e apesar de apresentarmos a imprevisibilidade como um dos pontos positivos do contra-‐ataque, será de notar que sempre que a Espanha defrontou equipas europeias, a sua capacidade de realizar contra-‐ataques foi menor. Isto compreende-‐se pelo conhecimento que estes adversários terão do modelo de jogo espanhol, bem como das repetidas oportunidades, nas competições internacionais que, ano após ano, se realizam na Europa, para testar maneiras de contrariar o contra-‐ataque espanhol.
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4-‐Variantes Técnico-‐Táticas 4.1-‐Pressão Defensiva Na definição de contra-‐ataque apresentada por Karl e Moe (2009), este movimento começa com “o estabelecimento inquestionável de uma mentalidade que elimina a hesitação e as dúvidas, ao mesmo tempo que se desenvolve numa atitude de velocidade máxima e instintos desenvolvidos através de incontáveis repetições”. A pressão defensiva bebe destes princípios a sua própria constituição. Estes autores definem a pressão no perímetro como essencial para não permitir que a equipa adversária jogue com o relógio ou disponha de liberdade para impor as suas jogadas. Assim, seja a opção tomada a de defender a campo inteiro – aquela que preconizamos -‐, seja a de defender em meio-‐campo, os objetivos da defesa deverão passar por encurtar o campo de visão do jogador com bola, dificultando-‐lhe a tomada de decisão. Se ele se encontra em progressão com drible, devemos forçar a sua mudança de direção, “empurrando-‐o” para os corredores laterais assim que passe a linha de meio-‐campo. Sempre que o jogador com bola para a sua progressão, a pressão deverá crescer e tentar-‐se fazer o trap, caso ele esteja num canto. Outro dos elementos que deve ser intensamente trabalhado é a sobremarcação das linhas de passe. Ao fechar todas as linhas de passe disponíveis para o adversário, estamos a cumprir mais um dos passos dos nossos objetivos. Este é um trabalho coletivo que obriga a que nenhum dos nossos jogadores possa, em qualquer momento, abdicar de estar em intensidade máxima. Bom de notar que, com o número ilimitado de substituições disponível no basquetebol, existe a possibilidade de pedir aos nossos atletas esse esforço continuado. Os autores referidos fazem também menção à procura ativa do roubo de bola. Em termos genéricos, a defesa no basquetebol faz-‐se na procura de provocar o erro adversário, visto que procurar ativamente o roubo de bola pode originar situações de desvantagem na nossa defesa. Mas Karl e Moe (2009) fazem a seguinte ressalva, “queremos que os defesas procurem roubar a bola quando as percentagens estão do seu lado”. Ou seja, libertam os jogadores para que, no momento defensivo, tomem a decisão de procurar, ativamente, roubar a bola ao adversário sempre que se encontrem em situação onde sintam que têm essa vantagem. Finalmente, o forçar das más decisões vai originar oportunidades de intercepção de passes, de roubos de bola ou erros técnicos do adversário. Sempre que o adversário conseguir lançar, queremos que o faça em dificuldade e em zonas do campo onde sintamos que o adversário não tem vantagem. Um dos objetivos da equipa será sempre o de manter a pontuação do adversário o mais baixo possível. Queremos que a maior parte dos lançamentos dos adversários ocasionem oportunidades para conquistarmos a posse de bola sem sofrer pontos.
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4.2-‐ Ressalto Defensivo O ressalto defensivo é um momento essencial de boa parte dos contra-‐ataques, estando presente entre as opções preferenciais quer na recolha feita neste nosso trabalho, bem como nos trabalhos citados de Refoyo, et al. (2009) e de Monteiro, et al. (2013). Segundo Reneses (2006), conceituado técnico espanhol, existem dois tipos de ressalto defensivo. Por ressalto defensivo curto devemos entender as bolas conquistadas nas zonas mais próximas do aro, que são, genericamente, conquistados pelos jogadores mais altos, beneficiando de tempo e espaço para recolher a bola segundo os princípios indicados. Por ressalto defensivo longo deveremos entender as bolas que são conquistadas nas zonas mais distantes do aro, genericamente conquistadas pelos jogadores mais baixos, que se posicionam em zonas fora da área, e que, como o mesmo autor refere, podem inclusive conquistar a bola depois de ela já ter tocado no solo. Para ambos os tipos de ressalto, no entanto, precisamos que a equipa, no seu todo, esteja envolvida no trabalho de recuperação da posse de bola após o lançamento do adversário. Os autores Karl e Moe (2009) impõem a regra de ter quatro jogadores no ressalto defensivo, excluindo apenas o base da equipa, de maneira a salientar a importância do mesmo no momento posterior. Segundo sublinhado por estes autores, os jogadores “não estão autorizados a correr para o ataque enquanto eles ou um colega não tenha recolhido o ressalto”. Dependendo das equipas, esta regra pode ser alterada, existindo, para além do base, um segundo jogador designado para correr o campo, abrindo, de imediato, uma linha de passe no meio-‐campo adversário. No artigo de Reneses(2006) surgem destacados os seguintes dados como fundamentais para a realização de um ressalto defensivo bem sucedido. O salto e os respetivos apoios devem ser trabalhados, bem como o timing do mesmo, na leitura exata do momento em que se deve saltar para recolher a bola, consoante a sua trajetória. É importante que o jogador tenha, também, noção de que, ao saltar para recolher a bola, deverá tentar, desde logo, cair numa posição que lhe permita dar continuidade à posse de bola. Assim, sempre que possível, o jogador deve efetuar uma rotação no ar, de maneira a pousar os apoios com uma total visibilidade do campo. Reneses (2006) salienta ainda que o jogador deve ter em consideração que se deve sempre utilizar as duas mãos para controlar a bola, segurando-‐a com força e trazendo-‐a para o peito, com os cotovelos em V, em caso de existir proximidade de um adversário. Neste movimento de proteção de bola, deve estar sempre presente a opção de efetuar o passe sem sequer baixar a bola, situação preferencial e que deve ser utilizada sempre que possível. Um dos aspetos mais importantes do ressalto defensivo é o bloqueio do jogador adversário, de forma a conquistar o espaço para recolhermos a bola. Sempre que se realiza um lançamento, devemos ter contacto visual com o atacante adversário, fechando a sua trajetória em direção ao cesto. Depois de fechada essa trajetória, deve-‐se procurar o contacto físico com o adversário, utilizando o corpo para conquistar o espaço onde se imagina que a bola ficará disponível. Reneses (2009) define ainda o posicionamento do corpo e dos braços na expectativa do ressalto. Num primeiro momento, devemos dobrar os joelhos e
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manter os braços em baixo, de forma a conquistar o tempo certo para impulsionar o corpo no salto. Caso o atacante adversário não procure o ressalto, deve ser realizado o mesmo gesto, mas, não havendo o contacto físico, um pouco mais tarde. 4.3-‐ Primeiro passe e ocupação de corredores Conquistada a bola, de preferência com uma visão aberta do campo de jogo, deve procurar-‐se o primeiro passe com total eficácia, visto que um passe falhado nesta situação poderá, num grande número de casos, permitir uma situação de 1x0 para o nosso adversário. O primeiro passe deve ter como regra o alcançar de duas situações: primeiro, queremos ganhar espaço logo no primeiro passe, segundo, queremos que a bola entre no jogador que tenha melhores condições para executar a transição de uma forma rápida e com controlo do drible – o base da nossa equipa. Reneses (2006) alerta para duas situações habitualmente observadas, como são o recuo do base para recuperar a bola à mão do jogador que conquista o ressalto e a tentação deste procurar um primeiro passe comprido, para um jogador que se posiciona no meio-‐campo adversário, mas que acaba por redundar num contra-‐ataque desperdiçado. O primeiro passe obriga a uma reação de todos os quatro jogadores que não têm bola, como nota Ribeiro (2012), na abertura de linhas de passe. Como alertado por Reneses(2006), o primeiro passe deve ser efetuado em total segurança e a existência de um campo visual livre entre jogador com bola e receptor do passe é essencial. A recepção da bola deve ser ativa, de forma a potenciar a imediata evolução da situação de jogo. O trabalho do receptor poderá e deverá incluir situações de cortes para fugir à sobremarcação adversária, desviando-‐se, desta forma, do defensor. Caso a primeira opção de passe não esteja disponível, o jogador com bola deve procurar a segunda opção, obedecendo aos mesmos princípios de segurança na execução do passe. A definição de regras claras e simples para a execução da saída do contra-‐ataque e o trabalho de leituras com os nossos jogadores, com todos os atletas a passarem, em situação de treino, por todas as posições, servirão para lhes fornecer as ferramentas necessárias para cumprir eficazmente este passo do contra-‐ataque. Logo após o ressalto defensivo, deve ser potenciada a ocupação dos corredores para a execução do contra-‐ataque. Os jogadores em posição mais adiantada no terreno deverão ocupar os corredores laterais dos quais estejam mais próximos, optando, sempre, pela melhor distribuição possível dos jogadores em campo, tendo em conta o seu posicionamento e o do jogador com bola. Consoante a vantagem alcançada na saída do primeiro e/ou segundo passe, os jogadores deverão dispersar-‐se no campo obedecendo ao objetivo de criação de soluções para finalizar, rapidamente, o movimento.
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4.4-‐Leituras e Vantagens Neste subcapítulo isolamos as três situações com maior número de ocorrências e que obrigam os atletas a fazer leituras e a interpretar vantagens para a sua resolução com êxito. 4.4.1-‐ Um contra Um (1x1) Como bem nota Ribeiro(2012), “a relação de um contra um (1x1) na perspetiva do atacante com bola surge no jogo desde o início da sua aprendizagem”. Assim, é uma situação que está presente no percurso de tomada de contacto inicial com a modalidade, mantendo-‐se presente ao longo da vida do praticante. Para a situação de contra-‐ataque, interessa focar a atenção no 1x1 em progressão, já que o tempo disponível para finalizar o movimento costuma ser diminuto até que a recuperação defensiva adversária possa repor o equilíbrio e obrigar a parar o contra-‐ataque. Ribeiro(2012) aponta as “variáveis que constituem referencias para as decisões a tomar”, salientando o enquadramento ofensivo do jogador, a distância entre o portador da bola e o cesto adversário, o posicionamento do defesa e a distância até ele, o posicionamento do atacante no campo, a noção de corredores para o cesto e a finalização do movimento. Numa situação de vantagem do atacante, este deve procurar a penetração para o cesto através da linha mais curta entre ele e o objetivo. O drible de progressão deve ser forte, à frente do corpo e com a mão mais afastada do defensor. A finalização do movimento deve ser feita o mais próximo possível do cesto, de preferência com um lançamento na passada. Ribeiro (2012) salienta ainda a visão periférica como forma de controlar o posicionamento do defesa. Numa situação em que o atacante perde a vantagem, deverá proceder de imediato à proteção do drible, lendo a possibilidade de uma mudança de direção com respetiva mudança de ritmo para o lado contrário do impulso do defesa, como forma de ganhar, de novo, a vantagem e atacar o cesto. A leitura do posicionamento do jogador com bola, do seu defesa e, de novo, da distância entre este e o cesto, oferecerão as possíveis respostas para o lançamento a realizar, procurando-‐se sempre a segurança de um lançamento mais próximo do aro. No caso da vantagem inicial ser do defensor, o jogador com bola deve procurar atacar o cesto. Perante a aproximação do defesa, o jogador com bola reduz a velocidade de corrida, baixa o drible e o a posição corporal, protegendo a bola com um dos ombros avançados em relação ao defesa. Ribeiro (2012) define assim a situação de expectativa e leitura que o jogador com bola deve ter em conta para tomar a decisão de atacar. As soluções apontadas na situação anterior, como a mudança de direção e de ritmo, bem como a percepção do seu posicionamento no campo, servem para este mesmo caso. De notar, aqui, a importância de recorrer ao drible de proteção, com a bola a posicionar-‐se ao lado do corpo e o braço contrário a fechar a possibilidade do defesa roubar a bola.
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4.4.2 – Dois contra Um (2x1) Alcançada uma situação de 2x1, a superioridade numérica exige que o jogador com bola e o seu companheiro no ataque estejam sintonizados para a execução clara e simples dos movimentos que levem a uma finalização de sucesso. O posicionamento destes dois jogadores é essencial para definir o primeiro passo a dar nesse desiderato. A primeira leitura a fazer pelo jogador com bola é a percepção de quem está mais perto do cesto, se o defensor, se o seu companheiro de ataque. Caso seja o atacante, o jogador com bola deverá optar por fazer um passe e provocar o 1x0, para uma finalização com êxito, perto do cesto. No caso de ser o defesa o elemento mais próximo do cesto, os dois atacantes deverão manter-‐se à distância, ocupando dois dos corredores disponíveis, sejam os dois laterais, um central e um lateral, ou os dois corredores centrais, de forma a obrigar o defesa à dispersão, não lhe facilitando o fecho do cesto. Ao mesmo tempo, devem manter-‐ se em contacto visual, de forma a levarem até à conclusão da vantagem. Neste trabalho de leituras, duas linhas imaginárias ganham especial importância. Como bem refere Ribeiro (2012), estamos perante uma “decisão entre a progressão em drible e o passe”. A linha de penetração é aquela que está delineada entre o jogador com bola e o cesto, enquanto a linha de passe está delineada entre o jogador com bola e o seu companheiro de ataque. O jogador com bola deverá observar o posicionamento do defesa perante estas duas linhas. A distância entre os jogadores atacantes deverá dificultar a capacidade do defesa de ameaçar ambas as linhas em simultâneo. Assim, se o defesa estiver posicionado mais próximo da linha de passe, o jogador com bola deverá optar pela linha de penetração. Caso isto aconteça, o seu companheiro de ataque deverá ajustar o seu posicionamento para manter sempre aberto a linha de passe, até porque o defesa terá o ímpeto de se desposicionar para defender o cesto. Caso o defesa esteja, inicialmente, na linha de penetração, então o jogador com bola deverá optar pelo passe, fazendo ele o ajuste de forma a manter sempre aberta uma linha de passe que possa levar a uma opção de finalização. 4.4.3 – Três contra Dois (3x2) Ribeiro(2012) sublinha que nesta situação de vantagem numérica, a ocupação dos corredores é essencial para o seu sucesso. Assim, o jogador com bola deverá ocupar um dos corredores centrais, enquanto os outros dois atacantes deverão ocupar os respetivos corredores laterais. O jogador com bola deverá, numa primeira instância, ler se a linha de penetração está aberta. Caso isso aconteça, deverá optar por finalizar o contra-‐ataque com um lançamento perto do cesto. Perante o posicionamento dos defesas a fechar a linha de penetração, os dois jogadores nos corredores laterais deverão atacar o cesto através de um corte. Caso cheguem ambos em simultâneo ao cesto, poderão optar por se cruzarem e
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trocarem de corredor. Caso um deles chegue primeiro ao cesto, deverá ter em conta o equilíbrio ofensivo, como nota Ribeiro (2012). Assim que um defesa saia para a bola, o jogador com bola deverá ler as linhas de passe que tem disponíveis e optar pelo jogador que esteja mais distante do defesa, criando assim uma situação de 2x1 que obedecerá às regras anteriormente descritas. Feito esse passe, o jogador posicionado no meio deve abrir uma linha de passe de apoio, para manter o equilíbrio ofensivo. O jogador do lado contrário, aproveitando o desposicionamento defensivo, corta para o cesto, abrindo uma opção de finalização. O jogador que recebeu a bola, em progressão de um dos corredores laterais para o cesto, deverá interpretar as linhas de passe e penetração disponíveis, de forma a finalizar o contra-‐ataque com êxito. Como bem nota Ribeiro (2012), a situação de contra-‐ataque tem um curto intervalo temporal para ser executada, de modo a que cada jogador deverá ler e interpretar as vantagens o mais rápido possível. Situações onde os jogadores recorrem ao drible em excesso ou em que procuram a linha de passe de apoio para retornar a bola ao jogador do meio poderão redundar no insucesso da situação, repondo-‐se o equilíbrio numérico.
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5-‐Capacidades Motoras Segundo Lorenzo (2008), “não se pode ter êxito no contra-‐ataque se não se tiver numa boa condição física, visto que este ritmo de jogo requer uma exigência altíssima, para a qual se deve estar preparado conscienciosamente”. Neste capítulo do nosso trabalho assinalamos as capacidades condicionais e coordenativas específicas do contra-‐ataque, salientando a importância de cada uma delas para uma eficaz realização do mesmo. Este conhecimento será fundamental para que, tratando-‐se de jovens em período de formação, o trabalho técnico e motor se mantenha aliado e proporcione o equilíbrio desejado para o futuro atleta. 5.1-‐ Capacidades Condicionais 5.1.1-‐ Força Para a execução de um contra-‐ataque, o atleta precisa de ter aprimorado, durante o processo de aquisição técnica, a capacidade de força explosiva, de modo a poder “realizar um movimento rápido, vencendo uma resistência/peso ligeiro” (Barata, 2012). Esta capacidade será importante para dois momentos do contra-‐ataque. No momento defensivo, o atleta deve ser capaz de manter uma atitude agressiva e intensa na pressão sobre o adversário. Para isso, precisa de trabalhar a sua capacidade explosiva com pequenos saltos, fintas de corpo e movimentos rápidos do trem superior e inferior, de forma a ameaçar a posse de bola adversária. Ao mesmo tempo, para manter uma correta postura defensiva, existe uma necessidade de força abdominal e lombar, de forma a ter o máximo aproveitamento do seu corpo no acompanhamento da progressão do adversário. No momento do ressalto, a capacidade de salto vertical é também central para a boa recuperação da posse de bola, bem como para a boa execução do passe e do lançamento. O trabalho de força explosiva adaptado ao basquetebol deverá estar presente em todas as ações que visem o aprimorar da técnica e o seu desenvolvimento permitirá a cada atleta a exploração de melhores soluções para resolver e ultrapassar as barreiras criadas em situação de jogo. 5.1.2 – Resistência Para jogar num sistema onde o contra-‐ataque detém um papel fundamental, necessitamos de um conjunto de atletas com elevada capacidade de resistência a um esforço contínuo. No basquetebol, o tempo de ataque está condicionado a um máximo de 24 segundos, mas no modelo de jogo que defendemos, o objetivo está sempre em reduzir ao máximo possível os tempos de ataque, quer o nosso, quer o do nosso adversário. Torna-‐se assim fundamental a “melhoria da resistência anaeróbica láctica, para se ser capaz de realizar [o movimento] com a maior frequência possível” (Lorenzo, 2008).
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Falamos de períodos de intensidade quase sempre abaixo dos dez segundos, quer no momento defensivo, para a recuperação da posse da bola, quer no momento ofensivo, onde um contra-‐ataque deverá ser executado no menor período de tempo possível. Estes esforços são realizados com pequenos intervalos, sempre que a bola sai do campo ou é assinalada uma falta, sendo que nos momentos em que é somado um cesto, e não havendo a obrigatoriedade do árbitro tocar a bola, podemos manter esse esforço por um período mais alargado, mas raramente acima de um minuto. A possibilidade de realização de substituições constantes permitirá, a cada atleta, em contexto de jogo, a manutenção deste elevado esforço. 5.1.3-‐ Velocidade Ao longo deste trabalho focamos, por diversas ocasiões, a importância da velocidade e da rapidez para a boa execução do contra-‐ataque. A verdade é que no modelo de jogo que preconizamos se exige aos atletas a capacidade de ser veloz em quase todas as situações do jogo. Sem bola, o jogador deve executar sprints para fazer a recuperação defensiva. No caso dos bases, esse sprint é mais curto, de modo a cobrir a reposição de bola em jogo, perante situações em que o adversário estará à distância da linha de lance livre, aproximadamente. Os jogadores interiores, por sua vez, são obrigados a uma deslocação mais longa, até perto da sua área, para defender o cesto. Em qualquer momento de perda de posição perante o atacante, o defesa deverá, de novo, sprintar para se reposicionar na frente da bola. Queremos ainda trabalhar a velocidade específica para as movimentações na ajuda ou para a execução do trap ao jogador com bola. Deslocações rápidas que fechem linhas de passe e que obriguem o jogador com bola a encurtar o seu campo de visão. Após a recuperação da bola, os jogadores designados para ocupar os corredores, habitualmente os extremos, devem possuir a capacidade de uma reação rápida, e em velocidade, para ocupar os seus espaços, de forma a desenhar, de imediato, linhas de passe longas para a execução de um primeiro passe que conquiste espaço no campo. A técnica de corrida é fundamental para um bom aproveitamento da vantagem criada no momento de recuperação de bola, perante uma defesa adversária ainda não organizada. No decorrer do contra-‐ ataque, queremos também, por sua vez, trabalhar a velocidade específica para que os atletas consigam manter ou reabrir linhas de passe, sejam elas de apoio, sejam nos cortes realizados para o cesto. Sendo que a velocidade se exprime “sobretudo, através de mecanismos neuromusculares” (Barata, 2012), o trabalho de repetição e de estímulos constantes em treino, através de exercícios e de feedback do treinador, é fundamental para o bom desenvolvimento desta capacidade no atleta. 5.2-‐ Capacidades Coordenativas Ao falarmos de capacidades coordenativas específicas do contra-‐ataque, corremos o risco de repassar todas as capacidades do basquetebol, visto que,
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como insistimos neste trabalho, o contra-‐ataque é uma fusão das ideias de jogo, um resumo da intensidade desta modalidade realizado no menor intervalo temporal possível. No entanto, listamos essas capacidades como forma de manter presente, a cada momento, a importância de cada uma delas para a boa execução do contra-‐ataque. O equilíbrio é uma noção central do basquetebol. No contra-‐ataque, os arranques, paragens e deslizamentos são constantes, quer no momento defensivo, como no momento ofensivo. Recuperar posição e mantê-‐la, reagir com a postura correta aos estímulos do jogo, criar campos visuais limpos para fazer e receber o passe são exigências feitas passo a passo. A coordenação óculo-‐manual é fundamental em todo o jogo e, no contra-‐ataque, revela-‐se especialmente importante para a execução dos passes e dos lançamentos. A noção de espaço, denominada como capacidade de orientação, está intimamente ligada a esta outra capacidade, porque queremos que os nossos atletas tenham sempre uma perfeita consciência do seu lugar no campo e das distâncias para os defesas, para os seus companheiros e para o cesto. Em conjunto, manter a noção dos espaços e das distâncias e ser capaz de agir coordenadamente melhorará a execução contra-‐ataque, tornando-‐se mais rápido e preciso, aumentando também as probabilidades de sucesso na sua finalização. Finalmente, Albright-‐Dieterle (2004) fala de “ritmo vivo”. Consideramos assim o ritmo e a reação como capacidades coordenativas fundamentais para executar o contra-‐ataque. Ritmo porque, quer defendendo, quer atacando, todos os jogadores da equipa têm que estar conscientes de estar na mesma nota, utilizando um ritmo constante de pressão, um desejo notório de recuperar a bola, reagindo a todos os estímulos provocados pelos jogadores adversários. Uma vez recuperada a bola, cada atleta deve reagir instantaneamente, ora ocupando espaços que abram linhas para um primeiro passe, ora ocupando os corredores disponíveis para desenhar a execução do movimento tático. Uma vez criada a situação de vantagem numérica, queremos que os jogadores envolvidos mantenham esse ritmo elevado, materializado na pergunta de Albright-‐Dieterle (2004) “vais suficientemente rápido?”, reagindo constantemente às mutações criadas pelos movimentos do jogador com bola e dos defesas.
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6-‐ Conclusões Ao escolhermos uma equipa dos escalões de formação da Federação Espanhola de Basquetebol tínhamos perfeita consciência do que procurávamos. Pretendíamos desenhar uma análise que incluísse uma defesa de pressão, com reação rápida e finalizações em transição. Essas características serão centrais para o modelo de jogo que procuramos. Encontrá-‐las numa situação de um Mundial cumpre ainda com um outro desejo presente na realização deste trabalho, que passava por compreender como se ajusta um modelo de jogo a uma situação de desgaste onde uma equipa disputa sete partidas em apenas nove dias. Pela observação feita e pelos resultados recolhidos, estamos conscientes que o modelo de jogo não deve ser alterado, mantendo-‐se a filosofia presente nas diversas ações pedidas aos atletas, apenas delimitando, mais pela qualidade dos adversários do que pela acumulação de jogos, as zonas onde se inicia a pressão defensiva. Este trabalho vem também confirmar a importância da defesa para a realização do contra-‐ataque. Sendo um movimento considerado como ofensivo, parte de um desenho defensivo concreto e acreditamos que este processo de fusão entre defesa e ataque é o que melhor serve a visão do basquetebol que preconizamos. Reforçamos a necessidade de trabalhar, individual e coletivamente, o ressalto defensivo, obrigando a nossa equipa a dominar esse momento em cada jogo. Finalmente, compreendemos e reforçamos a ideia de que uma boa condição física permite-‐nos explorar ao máximo as capacidades dos nossos atletas e da nossa equipa. Rever e organizar as capacidades motoras e coordenativas que queremos ver, especificamente, trabalhadas no contra-‐ataque servirá para melhor compreender como iremos desenvolver um modelo de jogo integrado. Na base desse modelo estará a criação de superioridades numéricas, seja no ataque, seja na defesa. Queremos reduzir ao máximo a ocorrência de jogo em 5x5, tentando assim impedir que o nosso adversário possa apresentar todo o seu arsenal de forças. Pretendemos construir situações de vantagem numérica quando estamos a defender, obstruindo o campo de visão do jogador com bola, dificultando a sua tomada de decisão, obrigando-‐o a fazer maus passes ou a lançar a bola ao nosso cesto com pouco critério. Uma vez recuperada a bola, queremos que a nossa equipa encontre rapidamente situações de vantagem e que explore as superioridades numéricas para chegar ao cesto em condições de somar cestos e pontos. Este trabalho serve, ainda, para marcar o início de uma exploração de ideia de jogo onde estamos, constantemente, em transição. Trabalhamos o contra-‐ataque com a intenção de o desconstruir e voltar a montar para ser, não apenas um momento do jogo ou uma opção no nosso modelo, mas sim o modelo em si. O primeiro passo para essa compreensão está dado. Em trabalhos futuros, dever-‐ se-‐á explorar melhor as defesas em pressão, zonais e individuais, com vista à recuperação da posse de bola no menor espaço de tempo, bem como estudar com maior especificidade o momento dessa recuperação: como e onde a queremos recuperar, que papéis queremos dar a cada um dos atletas em campo, que reações devemos estimular em cada um deles para a criação da vantagem
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numérica. Finalmente, dever-‐se-‐á estudar mais detalhadamente todas as soluções para a resolução das vantagens numéricas, sugerindo-‐se o repensar do papel do jogador do meio na situação do 3x2 e da sua reação após o passe na abertura de uma linha de passe de apoio, como está profusamente considerado na literatura, ou se, ao invés, se deveria pesar a possibilidade de um corte para o cesto, com consequentes alterações nos ajustes. Torres Vedras, 4 de janeiro de 2015
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Bibliografia Albright-‐Dieterle, J. (2004). Contraataque Estilo Huskies. In Murrey, Bob (coord.), Entrenar el Contraataque (pp.7-‐17). Barcelona: Paidotribo. Atkins, K. (2004). Fast Break. In Basketball Offenses & Play (pp.137-‐148). Champaign, IL: Human Kinetics. Barata, T. (2012). Desenvolvimento das capacidades motoras específicas do Basquetebol. (Manuais de Formação Específica disponibilizados em cópia digital pela Escola Nacional de Basquetebol). Jabir, J. (2004). El Ataque de Transición. In Murrey, Bob (coord.), Entrenar el Contraataque (pp.39-‐48). Barcelona: Paidotribo. Karl, G. & Moe, D. (2009). Fast-‐Break Principles. In Gandolfi, Giorgio (ed.), NBA Coaches Playbook – Techniques, Tactics and Teaching Points, (pp. 149-‐161). Champaign, IL: Human Kinetics. Lorenzo, P. B. (2008). El Contraataque. Proyecto Final XXXII Curso Entrenador Superior de Baloncesto. Disponível no website: clubdelentrenador.feb.es/articulos/145.pdf a 4 de janeiro de 2015. Monteiro, I., Tavares, F. & Santos, A. (2013). Comparative study of the tactical indicators that characterize the fast break in male and female under-‐16 Basketball teams. Revista de Psicología del Deporte, Vol.22, Núm.1, pp. 239-‐244. Refoyo, I, Romarís, I. U. & Sampedro, J. (2009). Análisis de las características de los contraataques en baloncesto masculino y feminino. Cuadernos de Psicología del Deporte, vol.9, s/p. Reneses, Aíto G. (2006). Mejora del rebote defensivo y del primer pase de contraataque. Clinic – Revista Tecnica de Baloncesto, 71, pp. 14-‐6. Ribeiro, J. (2012). Tática Individual Ofensiva. (Manuais de Formação Específica disponibilizados em cópia digital pela Escola Nacional de Basquetebol). Ribeiro, J.(2012). Técnica Individual Ofensiva. (Manuais de Formação Específica disponibilizados em cópia digital pela Escola Nacional de Basquetebol).
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