O CONTROLE ESTATAL ATRAVÉS DAS PROPAGANDAS POLÍTICAS NO GOVERNO DE VARGAS E PERÓN (1937-1955)

July 1, 2017 | Autor: Melina Berkenbrock | Categoria: Publicidade E Propaganda, Getúlio Vargas, Ditadura, Juan Domingo Perón
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CENTRO UNIVERSITÁRIO CURITIBA FACULDADE DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS DE CURITIBA MELINA BERKENBROCK SANTOS

O CONTROLE ESTATAL ATRAVÉS DAS PROPAGANDAS POLÍTICAS NO GOVERNO DE VARGAS E PERÓN (1937-1955)

CURITIBA 2015

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MELINA BERKENBROCK SANTOS

O CONTROLE ESTATAL ATRAVÉS DAS PROPAGANDAS POLÍTICAS NO GOVERNO DE VARGAS E PERÓN (1937-1955) Monografia apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Relações Internacionais, do Centro Universitário Curitiba.

Orientadora: Jaqueline Ganzert Afonso

CURITIBA 2015

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MELINA BERKENBROCK SANTOS

O CONTROLE ESTATAL ATRAVÉS DAS PROPAGANDAS POLÍTICAS NO GOVERNO DE VARGAS E PERÓN (1937-1955)

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Relações Internacionais da Faculdade de Relações Internacionais de Curitiba, pela Banca Examinadora formada pelos professores:

Orientador: _______________________________ ______________________________ Prof. Membro da Banca

______________________________ Prof. Membro da Banca

______________________________ Prof. Membro da Banca

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RESUMO O presente trabalho objetiva comparar os governos de Getúlio Vargas no Brasil (1937-1945) e de Juan Domingo Perón na Argentina (1946-1955), ambos em seus primeiros governos, analisando o exercício do controle estatal nos meios de comunicação a favor de seus regimes, manipulando textos, imagens, símbolos, através das censuras, repressões, por meio de uma forte ditadura implantada durante os períodos de 1937 a 1955, época esta, em que os regimes vivem no contexto da Segunda Guerra Mundial, o que resultou nos caminhos propagandísticos percorridos de seus governos devido à forte influência da mesma. Pretende-se destacar quais foram os veículos de propaganda abordados pelos períodos varguista e peronista, quais efeitos impactantes na sociedade destes dois países e, inclusive, quais foram os seus legados deixados, analisando através do processo de transição dos governos posteriores e atuais em seus países. Palavras-chave: Getúlio Vargas, Juan Domingo Perón, meios de comunicação, controle estatal, propaganda política.

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LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – Campanha de Perón e Braden na Argentina. FIGURA 2 – Ilustração do livro escolar Brasil Novo: Getúlio Vargas e sua vida para criança brasileira. p.100. FIGURA 3 – Cartaz da propaganda de Perón e Evita. FIGURA 4 – Perón discursando no dia 17 de outubro de 1945. FIGURA 5 – Projeto de Monumento ao Descamisado. FIGURA 6 – Evita no filme “La Cabalgata del Circo”, ao lado de Libertad Lamarque.

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LISTA DE SIGLAS DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda GOU – Grupo de Oficais Unidos ANL – Aliança Nacional Libertadora PC – Partido Comunista LSN – Lei de Segurança Nacional AIB – Ação Integralista Brasileira CNP – Conselho Nacional do Petróleo CFCE – Conselho Federal de Comércio Exterior CSN – Consolidação das Leis de Trabalho UCR – União Cívica Radical PDN – Partido Democrata Nacional CGT – Confederação Geral do Trabalho IAPI – Instituto Argentino de Promoção Industrial PSD – Partido Social-Democrático PTB – Partido Trabalhista Brasileiro UDN – União Democrática Nacional PT – Partido Trabalhista PDT – Partido Democrático Trabalhista PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira PFL – Partido da Frente Liberal PJ – Partido Justicialista PAC – Programa de Aceleração do Crescimento

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SUMÁRIO RESUMO...................................................................................................... 04 LISTA DE FIGURAS .................................................................................... 05 LISTA DE SIGLAS ....................................................................................... 06 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 07 2 CONTEXTO HISTÓRICO DOS GOVERNOS DE VARGAS E PERÓN .... 10 2.1 A REVOLUÇÃO DE 30........................................................................... 10 2.2 A ARGENTINA NA DÉCADA DE 40 ...................................................... 15 2.3 INFLUÊNCIAS DAS PROPAGANDAS NAZI-FASCISTAS NOS GOVERNOS VARGUISTA E PERONISTA .................................................. 22 3 O CONTROLE DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO NA PROPAGANDA POLÍTICA..................................................................................................... 26 3.1 O CONTROLE ESTATAL NOS VEÍCULOS DE PROPAGANDA EM VARGAS ...................................................................................................... 26 3.2 O ESTADO NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO PERONISTA ................ 32 3.3 A IMPRENSA E O RÁDIO: PRINCIPAIS VEÍCULOS DE PROPAGANDA NO BRASIL E NA ARGENTINA ......................................... 39 4 O LEGADO HISTÓRICO: GETÚLIO VARGAS E JUAN PERÓN ............ 46 4.1 O “SALVADOR DA PÁTRIA”: GETÚLIO VARGAS ................................ 46 4.2 O MITO: PERÓN .................................................................................... 50 4.3 A HERANÇA POPULISTA? ................................................................... 55 5 CONCLUSÃO ........................................................................................... 60 REFERÊNCIAS ............................................................................................ 64

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1. INTRODUÇÃO

A propaganda política entendida como fenômeno da sociedade e da cultura de massas adquiriu enorme importância nas décadas de 1930-1940, quando ocorreu, em âmbito mundial, um avanço considerável dos meios de comunicação. Em função da época, a propaganda nazista teve enorme impacto não só na Europa, mas também na América do Sul. Os regimes populistas varguista e peronista procuraram seguir o modelo através da inspiração de seus idealizadores nazifascistas, tanto no que se refere à forma de organização da propaganda, como nas mensagens e nos apelos realizados. O intuito era de sensibilizar o receptor para práticas políticas de sustentação de poder, com o propósito de estabelecer empatia e criar uma aproximação entre o público e os governantes em uma constante busca de confiança em relação aos seus governos. Portanto, torna-se impossível estudar os dois casos latino-americanos sem levar em conta suas relações com as referidas experiências europeias. A administração desse sistema propagandístico deriva de um forte controle estatal de manipulação de imagem do líder exercido sobre a sociedade. É em função deste controle, que busca-se, no presente trabalho, analisar a maneira e os meios abordados que Vargas e Perón usufruíram para se manterem no cargo presidencial exercendo forte influência sob as sociedades. O contexto em que se encontram ambos os períodos é um dos objetivos para que possamos entender melhor o que os levaram a agir de tal maneira. No primeiro governo de Vargas, chamado de Estado Novo (1937-1945), temos a ameaça comunista que é fortemente presenciada como o inimigo número um do governo de Getúlio. O Estado Novo deriva de um golpe de Estado com a justificativa de que comunistas queriam chegar ao poder brasileiro. Este golpe é gerado devido ao plano Cohen, que Getúlio e os militares criaram com o objetivo de instalar Getúlio no poder. Com isso, Getúlio chega ao cargo presidencial e logo após fecha o Congresso Nacional, assim como as Assembléias Legislativas e as Câmaras Municipais e impõe uma nova Constituição, conhecida como a Constituição de 1937, a qual suspendia todos os direitos políticos, abolindo os partidos e as organizações civis. Em consequência disso, Getúlio mantém um controle mais intenso sobre a população brasileira, não dando espaço às oposições. Para fortalecer mais ainda

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este controle estatal, Vargas cria o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) com função de administrar qualquer tipo de veículo propagandístico em benefício do governo para uma afirmação positiva política de seu regime frente à sociedade brasileira. O DIP foi fundamental para o Estado Novo em Vargas, trabalhando em torno da forte censura e repressão sob todos os meios de comunicação. Temos o DIP como núcleo de estudo para este trabalho referente ao controle da propaganda do governo de Getúlio Vargas, pois foi através da forte propaganda política desta instituição que o presidente manteve-se no poder. Em contrapartida, na Argentina temos uma ascensão diferenciada de Juan Domingo Perón ao poder. Com o seu forte carisma e ampla visão política trabalhista, Perón é eleito pela aclamação das massas na famosa e icônica Praça de Maio. Anteriormente ao seu cargo de presidente, Perón foi militar e participava de um grupo de oficiais organizado chamado de Grupo de Oficiais Unidos (GOU). Através deste grupo ganhou forte destaque devido às suas ideologias de cunho trabalhista. Posteriormente assumindo o cargo na Direção Nacional do Trabalho, iniciou uma política trabalhista que, em pouco tempo, o tornou o líder dos trablhadores. Perón tinha uma intensa admiração por Mussolini da Itália, devido às suas viagens realizadas enquanto estava no Exército. Visitou a Itália entre o período de 1939 e 1940, e foi nessa época em que Perón conheceu de perto o governo de Mussolini e se espelhou nele – referente aos meios abordados nos meios de comunicação - durante seu primeiro governo (1946-1955) na Argentina. Assim como Vargas, Perón exercia um controle estatal muito intenso sobre os veículos de propaganda na Argentina durante seu governo. Perón, entretanto, tinha a extraordinária e fascinante Eva Perón, sua esposa, a seu lado governando e influenciando diretamente, assim como Perón, na manipulação dos meios de propaganda. Assim como analisamos o DIP em Vargas, busca-se analisar como Perón utilizou Evita, a mãe dos descamisados, para benefício próprio de seu governo em questão da sua propaganda política. Evita dominou o radio a favor do peronismo, conquistando a classe trabalhista de uma maneira tão radiante, que se torna a Santa Evita Perón, icônica e idolatrada no período peronista na Argentina. Apesar da defasagem de uma década, a comparação entre a propaganda política posta em prática no Estado Novo e no regime peronista, justifica-se pela possibilidade de indicar os problemas comuns que deram origem à política de

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massas nos dois países, além do perfil específico que cada qual apresentou tendo em vista o contexto particular. No primeiro capítulo teremos como objetivo de estudo neste trabalho contextualizar o período histórico em que ambos os governos vivem, procurando entender de que forma o contexto influenciou, se diretamente ou indiretamente, em seus regimes, ideologias e modo de governar. No segundo capítulo será relacionado de que maneira os meios de propaganda favoreceram os governantes, analisar acerca da linguagem dos veículos de propaganda empregados com suas específicas características e influências nas populações brasileiras e argentinas. Ainda, será estudado de que maneira era usufruído o meio de comunicação a favor de seus regimes e o poder do controle estatal sob os mesmos. Por fim, o terceiro capítulo versará sobre quais foram suas contribuições impactando os governos posteriores e atuais em ambos os governos, com uma particular indagação sobre o legado que os regimes brasileiro e argentino nos deixaram fazendo uma análise comparativa com os governos atuais em ambos os países.

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2. CONTEXTO HISTÓRICO DOS GOVERNOS DE VARGAS E PERÓN

No presente capítulo teremos como objetivo contextualizar os governos de Getúlio Vargas e Juan Perón. Quais foram suas influências, o contexto histórico de suas épocas e como foram estabelecidas suas políticas. Utilizaremos autores como Maria Celina D‟araujo, Maria Helena Capelato, Luis Alberto Romero, dentre outros, para fazer uma análise mais aprofundada do tema. Em relação a Vargas, o contexto em que se instala o Estado Novo (1937 – 1945) suas influências vindas da Europa, de que forma foi implantado o governo para objetivar seus princípios e propósitos, além do decorrer de seu governo delineando uma política social. Referente a Juan Perón, o contexto argentino quando instalado seu governo (1945 – 1955) com suas influências anteriores. De que forma foi instaurado o governo e suas políticas, e a Argentina durante o peronismo. Utilizando do método bibliográfico e análise comparativa dos dois governos, explorar também, a presença do nazifascismo no tocante ao controle social na sociedade desses dois governos.

2.1 A REVOLUÇÃO DE 30

Em meio às disputas de ideologias criadas por dois lados que futuramente dividiriam o mundo logo após a I Guerra Mundial, sendo elas o socialismo e o capitalismo mobilizando multidões, é que surge o Estado Novo no Brasil. Porém, o que tem de novo nesse governo? O “novo”, segundo D‟araujo,

“[...] representava o ideal político de encontrar uma “via” que se afastasse tanto do capitalismo liberal quanto do comunismo, duas doutrinas políticas que, desde meados do século XIX e mais intensamente a partir da revolução soviética, competiam entre si no sentido de oferecer uma nova 1 alternativa política e econômica para o mundo” .

Para as doutrinas de direita, a consciência proletária e o fim da propriedade privada não eram o alvo maior em relação ao socialismo. O que era inaceitável era a falta de “espiritualidade, de religiosidade, de defesa dos sentimentos nacionais e nacionalistas, bem como a imposição dos interesses de classe sobre as outras”2. O que era necessário era que sobrepusesse os interesses da nação aos das classes, 1 2

D‟ARAUJO, Maria Celina. O Estado Novo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 2000, p.8. D‟ARAUJO, Maria Celina. O Estado Novo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 2000, p.10.

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dos indivíduos e dos grupos econômicos através da ação direta do Estado. A maneira concreta com que esse “novo” apareceu foi o fascismo, na Itália; o nazismo, na Alemanha; e o corporativismo de Estado em outros países europeus, tendo um poder de influência sobre o Brasil também. Nessa linha de interpretação, com a ação direta do Estado assume, então, em:

[...] primeiro plano as questões relacionadas com o fortalecimento do poder de Estado, aperfeiçoamento dos instrumentos de controle e supervisão das diferentes esferas da vida social, bem como dos mecanismos de integração 3 e consolidação do poder nacional.

Ou seja, um Estado-Nação forte era o caminho vislumbrado como a saída para o século XX. Dentro dessa ótica, o governo regularia as atividades do cidadão, promoveria o desenvolvimento e fomentaria o espírito de nacionalidade. O nacionalismo construiria a Nação. O Estado Novo no Brasil foi a expressão clara desses pressupostos, através das várias comemorações cívicas que inventou e cultivou e também através do culto à personalidade do “herói”, Getúlio Vargas. Na ausência de um partido, Getúlio simbolizava o poder do Estado e a nacionalidade. Era o chefe de Estado e da Nação, ou seja, o presidente era o partido. Segundo D‟araujo, “os regimes baseados nesses pressupostos foram e são ditaduras, pois, ao apregoarem o fim do conflito político como caminho para a paz e o desenvolvimento, usam o poder do Estado para suprimir outras formas de poder”4. Advindo desta prerrogativa, estes governos acabam sendo autoritários ou totalitários. O nazifascismo é uma expressão evidente de totalitarismo. A obediência política cega é definida como civismo – daí a importância das comemorações cívicas nesses regimes – e a discordância é vista como traição à pátria. Segundo essas influências, com suas especificidades e singularidades, foi isso o que aconteceu no Estado Novo no Brasil, em grande parte espelhando um momento das doutrinas políticas em todo o mundo. O Estado Novo se instaura formalmente por um golpe de Estado, ocorrido no dia 10 de novembro de 1937. Um golpe anunciado, sem reação, calmo e silencioso. 3

GOMES, Ângela Maria de Castro. O Brasil Republicano 3. Sociedade e Política (1930-1964). Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira. 1996, p.79. 4 D‟ARAUJO, Maria Celina. O Estado Novo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 2000, p.13.

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Contudo, a falta de reação não quer dizer que não houve adversários a Vargas; havia, mas já estavam devidamente incapacitados de qualquer tipo de reação. Vindo de um instantâneo pretexto para o golpe, alega-se a existência de um suposto plano comunista atribuído a um judeu, Cohen – o Plano Cohen em 1937 –, que se expressava uma perigosa ameaça do judaico-comunismo internacional. Esse Plano, todavia, “examinado adiante, foi apenas o último passo, o gesto final, de um longo processo visando ao endurecimento do regime”5. Analisemos, então, como se deu esse processo que termina no golpe que leva Vargas a “rasgar” a Constituição de 1934. Tal atalho para o golpe foi racionalmente construído e cuidadosamente executado. O golpe não foi uma mudança abrupta, repentina, mas sim a consolidação de um processo de fechamento e repressão que vinham sendo lentamente construídos, com o apoio de intelectuais, políticos civis e militares. Para explicar melhor os fatos de 1937, em novembro 1935 tem-se o “Levante Comunista”. Ocorreu em quartéis do Exército em três cidades simultaneamente: Rio de Janeiro, Natal e Recife – liderado por comunistas reunidos, basicamente, em torno da Aliança Nacional Libertadora, a ANL. Criada em março de 1935, a ANL era uma frente de esquerda comandada pelo Partido Comunista Brasileiro. Tinha como presidente de honra Luís Carlos Prestes, ex-militar e pessoa da confiança do PC soviético no Brasil. A ANL e o comunismo exerciam uma forte influência sobre os jovens oficiais, tornando-se um risco significante para as cúpulas militares; o próprio Prestes reconhecia ser mais fácil organizar o Partido nos quartéis do que nas fábricas. O Levante – chamado pelas Forças Armadas de Intentona – e o Komitern – órgão central do Partido Comunista da União Soviética – tinham como objetivo implantar no país um “governo popular e revolucionário”. O comunismo já era uma das preocupações centrais dos chefes militares e do governo, se intensificou e passou a ser um dos principais alvos governamentais. Enquanto se providenciava a prisão dos opositores, foi decretada a severa Lei de Segurança Nacional (LSN), com o fim de levar a esquerda às prisões e ao banco dos réus. A partir de 1935, muitos parlamentares são exilados; políticos, jornalistas e intelectuais são presos e

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D‟ARAUJO, Maria Celina. O Estado Novo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 2000, p.15.

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perseguidos, e vários deixam o país para escapar da prisão. Portanto, o “perigo comunista” se torna o “inimigo número 1” da pátria. O Plano Cohen, porém, era uma farsa. Ele foi elaborado pelo:

“[...] serviço secreto da Ação Integralista Brasileira (AIB). Uma organização para-militar de direita criada em 1932. Embora falso o plano e assinado com um nome de um judeu comunista fictício, o importante é que, para os chefes militares, o Plano servia para sinalizar o golpe final nas instituições políticas 6 democráticas que ainda sobreviviam” .

Para se tornar verdadeiro, o general Góis Monteiro – chefe do Estado-Maior do exército brasileiro – o apresentou a Vargas, que autorizou sua divulgação à imprensa através do Departamento de Propaganda – órgão antecessor do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), instrumento essencial de propaganda oficial e censura do Estado Novo. Podemos notar como o Plano Cohen simbolizava o clima de radicalização ideológica da época e a falta de escrúpulos quando se busca o poder pela força. Nos dois anos pré-golpe o Brasil vive a maior parte do tempo sob Estado de Sítio ou de guerra: de dezembro de 1935 a junho de 1937, o que significa dizer que as liberdades constitucionais estavam suspensas. Dentro do serviço público, foram efetuadas demissões; entre os militares, a limpeza foi feita através da cassação de patentes. Até ex-aliados gaúchos que resistiam em aceitar os planos golpistas já estavam a caminho do exílio, a imprensa vivia sob rigorosa censura. Assim, devido a diversos outros fatos, quando o golpe ocorreu não havia mais forças disponíveis para reagir após dois anos de intensa repressão. O silêncio já estava imposto. Getúlio tinha um plano de governo:

“a ser posto em prática – desenvolvimento econômico, intervencionismo e industrialização –; tinha um plano político – a ditadura, entendida como trégua social para possibilitar a expansão do país –; e tinha um inimigo objetivo a quem atribuir a responsabilidade pelas medidas excepcionais que propunha – o comunismo. Tinha, além do mais, aliados ávidos por 7 experimentos ditatoriais” .

Nesses dois anos, Getúlio, em aliança com os setores militares dominantes, liderados pelos generais Góis Monteiro e Eurico Gaspar Dutra, preparou a 6

TRINDADE, Helgio. O Brasil Republicano 3. Sociedade e Política (1930-1964). Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira. 1996, p.327. 7 D‟ARAUJO, Maria Celina. O Estado Novo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 2000, p.23.

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prorrogação de seu mandato, previsto para terminar em meados de 1938. Três candidatos chegaram a fazer campanha para a sucessão presidencial: Plínio Salgado, integralista; José Américo e Armando Salles Oliveira, da oposição liberal. Mas Vargas jamais chegou a se pronunciar sobre o pleito e, enquanto as campanhas se desenrolavam pelo país, ele preparava uma nova Constituição. Há registro em seu Diário, segundo D‟araujo, “de que em abril de 1937 a Carta já estava pronta”8. Essa Constituição ficou popularmente conhecida como “Polaca”, dada sua nítida inspiração corporativa e fascista, apoiada no exemplo da Polônia com características anti-democráticas. Após o golpe, Vargas fecha o Congresso Nacional, assim como as Assembléias Legislativas e as Câmaras Municipais e impõe a nova Constituição de 1937, a qual suspendia todos os direitos políticos, abolindo os partidos e as organizações civis. Na Proclamação ao Povo Brasileiro, em que Getúlio Vargas anunciava o novo regime, ele disse:

“Entre a existência nacional e a situação de caos, de irresponsabilidade e desordem em que nos encontrávamos, não podia haver meio termo ou contemporização. Quando as competições políticas ameaçam degenerar em guerra civil, é sinal de que o regime constitucional perdeu o seu valor 9 prático, subsistindo, apenas, como abstração” .

No Estado Novo – considerado um dos períodos mais autoritários da história brasileira – nasce então, nessas circunstâncias, o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda). Responsável pelo controle da propaganda e afirmação política positiva do regime frente à sociedade. O DIP teve papel fundamental no período do Estado Novo de Vargas devido a sua forte censura e repressão nos meios de comunicação tais como a imprensa, o rádio e a televisão, atuando como um instrumento estratégico para a propagação de uma ideologia nacionalista forte e de incentivo ao trabalho. Através deste departamento mostra-se como o Estado assumiu o monopólio da mídia e procurou eliminar a contrapropaganda dos opositores. Segundo Capelato, o DIP:

“[...] atuou na difusão sistemática do projeto político-ideológico do Estado Novo, auxiliando na criação de uma base social que procurou legitimar as

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D‟ARAUJO, Maria Celina. O Estado Novo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 2000, p.23. VARGAS, Getúlio. A nova política do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio. V.5. 1938, p.146.

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propostas de unidade nacional, de harmonia social, de intervencionismo 10 econômico e de centralização política” .

Devido ao controle e vigilância do DIP, o governo de Getúlio conseguiu apoio massivo da população, visto que lograva da propagada a seu favor com a alegação de que o comunismo era um perigo nacional. Dessa forma, o sentimento de nacionalidade no Brasil só fazia crescer frente às mudanças em relação à industrialização, que era tida como progresso e aceleravam o desenvolvimento da economia do país fazendo-nos entrar no mercado internacional. Foram criados o Conselho Nacional do Petróleo (CNP) , o Conselho Federal de Comércio Exterior (CFCE) e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) – que exerceu papel essencial no fornecimento de matéria-prima para o setor industrial. Alguns dos pontos positivos e principais no governo de Vargas foi a “implementação de uma série de leis trabalhistas (Consolidação das Leis do Trabalho, CLT, em 1943), garantindo direitos importantes e cedendo a antigas reivindicações operárias”11. Além de um forte desenvolvimento econômico que deu sequência à política de desenvolvimento baseada no nacionalismo econômico e no intervencionismo estatal. Vargas procurou diversificar a economia buscando ao mesmo tempo uma modernização e integração do Brasil no capitalismo industrial e também protegendo a sua própria cafeicultura.

2.2 A ARGENTINA NA DÉCADA DE 40

Primeiramente, é importante ressaltar que diferente de Getúlio Vargas, Juan Domingo Perón foi um militar, onde construiu sua influência política – de caráter social trabalhista – durante vários governos ao longo das disputas políticas na Argentina. Perón não chegou à presidência através de influências oligárquicas, Exército e muito menos através de golpes, ao contrário de Vargas. Chegou ao poder através de seu forte carisma e influência sobre as massas – classes operárias trabalhistas, os “descamisados” e sindicais –, além de se destacar pela sua ampla

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CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e peronismo. 2. ed. São Paulo: UNESP. 2009, p.30-31. 11 GARCIA, Nelson Jahr. O Estado Novo: Ideologia e Propaganda Política: a legitimação do Estado autoritário perante as classes subalternas. São Paulo: Loyola. 1982, p. 86.

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visão política. Recorremos então, aos fatos históricos da Argentina antes do peronismo. Em setembro de 1930, ocorreu na Argentina um golpe desferido pelo general José Félix Uriburu, com o apoio de militares civis simpatizantes do fascismo, derrubando do poder o presidente Hipólito Yrigoyen, líder da União Cívica Radical (UCR). Tal partido foi responsável pela introdução do sufrágio universal na Argentina e “fora criado no final do século XIX como expressão de setores médios e parcela dos trabalhadores urbanos”12. Os golpistas de 30 permaneceram pouco tempo no poder. Tendo sido derrotados pelas forças conservadoras que instauraram um regime liberal excludente, caracterizado pela fraude e pelo estreitamento das relações econômicas com o capital estrangeiro, em específico o inglês, pois através do acordo “RocaRunciman” – estabelecido com os ingleses – firmado em maio de 1933, que a Argentina passou a ter suas relações com o capital estrangeiro. O pacto firmado favorecia o mercado inglês, importador da carne argentina. A expressão “década infame”, para caracterizar os anos 30, e a denominação “vende-pátria”, atribuída às oligarquias associadas ao imperialismo britânico, mostram bem o clima de descontentamento da época. Na “década infame”, Agustin Pedro Justo foi presidente entre 1932 e 1938. Foi eleito com o apoio da aliança chamada „Concordância‟ que era composta pelo Partido Democrata Nacional (PDN), a UCR antipersonalista e o Partido Socialista Independente. Porém, a aliança governou de 1932 a 1943. Justo deixou o governo com um crescimento econômico, e uma forte estabilidade econômica e financeira. Seu sucessor foi Roberto Marcelino Ortiz, que governou de 1938 a 1942. Era um radical “antipersonalista”, foi eleito por uma margem estreita de votos. Por motivos de saúde, Ortiz deu seu lugar a seu vice, Rámon Castillo, que ocupou a presidência até 1943. Os governos da Concordância ficaram famosos e reconhecidos por trazerem a industrialização à Argentina. Os investimentos industriais fizeram com que

aumentassem

os

números

de

trabalhadores

empregados

no

setor.

Consequentemente acaba-se criando a Confederação Geral do Trabalho (CGT), representado

pelo

movimento

operário

argentino,

decorrente

deste

vasto

investimento industrial. 12

CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e peronismo. 2. ed. São Paulo: UNESP. 2009, p.48.

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Nesse contexto, desenvolveram-se os grupos nacionalistas de direita e de esquerda, críticos da liberal-democracia e do imperialismo. Em 4 de junho de 1943, após outro golpe no país, o Exército depôs o presidente Castillo e foi substituído pelo general Pedro Pablo Ramírez, ministro do governo de Castillo. O gabinete foi formado quase exclusivamente por militares, e o centro das discussões e das decisões ficou no Ministério da Guerra, controlado por um grupo de oficiais organizado – Grupo de Oficiais Unidos (GOU) –, do qual fazia parte o coronel Juan Domingo Perón. Os militares no Governo concordavam com a necessidade de calar a agitação política e os protestos sociais. Começaram então a banir comunistas, perseguiram os sindicatos e intervieram na CGT – na época dividida. Interferiram nas universidades, deixando desempregado um grande grupo de professores que militavam na oposição, e finalmente estabeleceram a obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas públicas. Contaram com a colaboração de um:

“[...] grupo de nacionalistas e católicos integristas, alguns que haviam militado ao lado de Uriburu, e deram o tom ao regime militar: autoritário, antiliberal e messiânico, obcecada pela fundação de uma nova ordem social e por evitar o caos do comunismo que, segundo pensavam, seria a seqüela inevitável do pós-guerra. Não foi difícil para a oposição democrática 13 identificar o governo militar com o nazismo” .

Entretanto, havia no governo, ao lado de alguns simpatizantes dos alemães, outros que eram pró-Aliados e muitos partidários de manter a neutralidade praticada pelo governo de Castillo, benevolente com a Grã-Bretanha. Por outro lado, em 1943, a guerra estava evoluindo de tal modo que uma aliança com o Eixo era inimaginável. No início de 1944, assim que Ramírez decidiu romper relações com o Eixo, ele foi deposto por oficiais mais firmemente antiamericanos. Isolado interna e externamente, o governo se viu em um beco sem saída, que, finalmente, foi minimizado por um dos oficiais que na época tinha ascendido notavelmente dentro do governo. O tão admirável coronel Juan Domingo Perón. Perón era um dos membros mais influentes do Grupo de Oficiais Unidos (GOU), secretário de Farrel, o ministro da Guerra, e em seguida, ministro, quando Farrel substituiu Ramírez na Presidência, em fevereiro de 1944. Pouco depois, em 13

ROMERO, Luis Alberto. História Contemporânea da Argentina. Tradução por: Edmundo Barreiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2006, p.92.

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julho de 1944, e “após se livrar de vários possíveis concorrentes, Perón tornou-se vice-presidente e a verdadeira alma do governo”14. É neste período que Perón começa a se destacar e ganhar a confiança dos “descamisados” com suas ações sociais trabalhistas e conquistas no governo. Perón tinha a influência nazi-fascista devido ao tempo que passou na Europa. Foi mandado pelo exército argentino em 1939 para estudar e se especializar, e teve seu retorno em 1940. Durante seu tour pela Europa, o tenente-coronel passou por Espanha, Alemanha, Hungria, França, Iugoslávia, Albânia e Itália, onde demonstrou um grande afeto a Mussolini. Os anos anteriores à guerra fez com que admirasse as conquistas do regime fascista italiano, assim como presenciou os resultados terríveis da Guerra Civil Espanhola. Pode-se dizer que a sua perspicácia e preocupação foram o que o levou a se dedicar a um ator social que, até então, era pouco levado a sério, o movimento operário. Nesse governo, ocupou o cargo na Direção Nacional do Trabalho – que viria mais tarde a ser transformada por ele Secretaria –, no exercício do qual iniciou uma política trabalhista que, em pouco tempo, o tornou o líder dos trabalhadores. Ele se empenhou a:

“[...] criar vínculos com os dirigentes sindicais. Todos foram convocados, com a exceção dos dirigentes comunistas que, após uma aproximação inicial frustrada, passaram a ser perseguidos sistematicamente e eliminados de seus postos. Os outros foram impelidos a se organizar e a apresentar 15 suas reivindicações, que começaram a ser atendidas” .

Muitas foram as contribuições enquanto Perón era secretário do Trabalho e Previdência. Além de resolver conflitos específicos, ampliou-se o regime de aposentadorias, férias remuneradas, acidentes de trabalho; foram ajustadas as categorias profissionais e, em geral, estabeleceu uma harmonia nas relações entre patrões e operários, inclusive na própria atividade das fábricas. Vale ressaltar que a popularidade de Perón é alcançada por dois fatos que merecem atenção: o primeiro foi a criação do chamado “Aguinaldo” – o décimo terceiro salário – pela Secretaria de Trabalho e Previdência, comandada por Perón. E o segundo foi norteado pela onda nacionalista provocada pelo incidente “Braden”. Neste segundo fator:

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ROMERO, Luis Alberto. História Contemporânea da Argentina. Tradução por: Edmundo Barreiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2006, p.93. 15 ROMERO, Luis Alberto. História Contemporânea da Argentina. Tradução por: Edmundo Barreiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2006, p.93.

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“[...] o governo norte americano, por intermédio do Secretário para Assuntos Latino-Americanos dos EUA, liga o governo vigente às manobras do Eixo. Perón promove campanha com o slogan “Braden ou Perón!”. O apelo peronista acende a chama nacionalista, acusando a ingerência americana na política argentina, capitalizando votos para o Partido Laborista, e 16 contando com o apoio da Central Geral de Trabalhadores” .

Apontavam-se perigos contidos no pós-guerra, tais como a ameaça de desordens sociais e a necessidade de um Estado forte que interferissem na sociedade e na economia, e que garantisse a soberania econômica, era preciso que se tomassem as medidas necessárias para isso. Portanto, no Conselho Nacional do Pós-guerra que formulou, Perón “insistiu na importância de aprofundar as políticas de segurança social, assim como de assegurar o pleno emprego e a proteção do trabalho, diante da eventual crise que poderiam sofrer as indústrias que prosperaram durante a guerra”17. Ele apresentou aos empresários a ameaça representada pelas massas operárias desorganizadas e o perigo do comunismo, que todos viam avançar na Europa. Perón, diante de todos, apresentava-se como aquele que podia canalizar esse tumulto caso conseguisse o poder necessário e como o responsável pela solução de todos os problemas. Como podemos observar, a Argentina estaria no caminho amparada numa relação estabelecida entre trabalhadores e o Estado. Todavia, os empresários começaram a desconfiar cada vez mais de Perón. Aos poucos, as associações patronais foram se afastando dele e da política da Secretaria, enquanto Perón, paralelamente, reforçava sua identificação com os operários e valorizava sua pregação social. Ao mesmo tempo, “foram se reduzindo os receios dos dirigentes sindicais, que encontravam nos partidos democráticos um eco e um interesse muito menor do que o demonstrado pelo coronel Perón”18. Com o fim da guerra e a derrota do Eixo, o cenário mudou. Aumentaram as pressões internas e externas pelo fim da ditadura argentina e pela democratização do país. Devido ao enorme poder que Perón exercia, foi um dos principais alvos dos protestos organizados por trabalhadores comunistas e socialistas e por setores liberal-democráticos, como a classe média e os estudantes universitários. Em consequência disso, renunciou aos cargos em 9 de outubro de 1945. Porém a 16

BEIRED, Jose Luis Bandicho. Movimento Operário Argentino. São Paulo: Brasiliense. 1984, p.79. ROMERO, Luis Alberto. História Contemporânea da Argentina. Tradução por: Edmundo Barreiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2006, p.94. 18 DECHANCIE, John. Perón: Os Grandes Líderes. São Paulo: Nova Cultural. 1987, p.50-51. 17

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pressão era tanta que, quatro dias depois, o general foi preso. Tal medida teria sido ordenada pelo próprio presidente, o também general Edelmiro Farrel, com a intenção de “esfriar” os protestos. Em meio a essas agitações, um fato novo voltou a alterar o equilíbrio e ser definitivo para a história argentina. No dia 17 de outubro, uma multidão de simpatizantes de Perón saiu às ruas de Buenos Aires em direção a Plaza de Mayo, para exigir a libertação de seu líder e a sua restituição aos cargos que ocupava. Dentre a aglomeração de pessoas presentes, estava Eva Duarte, a futura esposa de Perón, que se tornaria não só a “mãe dos descamisados”, a “Dama da Esperança” e muitos outros nomes que a consolidaram, mas a grandiosa Evita Perón. Podemos considerar Evita como a peça fundamental durante o primeiro governo de Perón de 1946 até 1952 – falecendo de câncer uterino, diagnosticada em 1950. O apelo foi atendido, e “o governo ainda foi forçado a convocar eleições para presidente e governadores e a reabrir o Congresso”19. Os partidos políticos – que haviam sido dissolvidos – voltaram a se organizar. Neste mesmo dia, quando solto da prisão, Perón discursa para toda a multidão, sendo retransmitido pelas rádios de todo o país. Em seu discurso prometeu ao povo argentino a realização de eleições que estavam pendentes e construir uma nação forte e justa. A partir desse episódio, Perón começa a enfatizar sua candidatura à presidência. Fortalecido, Juan Perón durante sua campanha, apresentou-se como defensor dos interesses populares e nacionais – dois pilares do discurso peronista até hoje – e prometeu consolidar e ampliar benefícios sociais e trabalhistas. Junto dele, Spruille Braden – embaixador dos EUA na Argentina –, apoiou o candidato adversário a Perón, José Tamborini. Associando Tamborini ao imperialismo dos Estados Unidos com o lema “Braden ou Perón” – conforme podemos analisar na imagem abaixo da campanha –, conseguiu tirar o foco das críticas do seu passado por ter simpatia à ditadura e ao nazifascismo.

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PRADO, Maria Lígia. Vargas & Perón: aproximações e perspectivas. São Paulo: Memorial da América Latina. 2009, p.167.

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Figura 1: Campanha de Perón e Braden na Argentina.

Fonte: http://www.pco.org.br/esquerda/o-que-e-e-para-onde-vai-o-morenismoparte-2/aipe,z.html

Em fevereiro de 1946 Juan Domingo Perón é eleito Presidente da Argentina. O ex-general se certificou de consolidar uma imagem nacionalista e anti-imperialista, nacionalizando os recursos naturais do país, ferrovias e serviços, etc. Ao seu lado a consagrada Evita era, segundo Francisco Viana, “o barro que unia Perón aos descamisados”20. O carisma da primeira-dama foi fundamental para a popularização do governo. A Fundação de Assistência Social, que ela dirigia e levava seu nome, cumpriu um papel extremamente essencial no governo peronista, para a assistência dos seus queridos descamisados. Nem mesmo a morte – em 26 de julho de 1952 – interromperia a fama de Evita. Perón é reeleito em 1951. Porém, com a morte de Evita, seu governo começou a retroceder sob o poder das massas, pois Evita tinha uma forte influência sobre as massas trabalhadoras. Com isso a Igreja começa a se opor a Perón em razão dos variados fatores que levaram o governo a agir devido às pressões dos opositores. Entre eles, a permissão do divórcio, a suspensão do ensino religioso nas escolas, autoriza a reabertura de casas de prostituição, prisão de clérigos, denúncias e comentários – emanados pelo governo – sobre a moralidade dos integrantes da Igreja. A cúpula católica argentina revida promovendo imensas procissões, com cunho de aberta oposição ao regime. Os militares também não estavam contentes, incomodados com o intenso autoritarismo do executivo, e com a interferência de Evita em assuntos de Estado, pois Perón queria eleger Eva para o 20

VIANA, Francisco. Evita Perón: A Rainha por Trás do Trono. São Paulo: Editora Três Ltda.1999, p.76.

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cargo de vice-presidente. Porém, devido à negativa reação dos militares, Perón desiste de tal atitude. Em 16 de junho 1955 ocorreu um levante militar no qual a Aviação Naval bombardeou Buenos Aires matando centenas de civis e deixando milhares de feridos. Perón resistiu enquanto conseguiu. Porém, em agosto de 1955, acuado, Juan Perón “apresenta sua renúncia com um discurso retumbante na Plaza de Mayo, culpando a oposição pelo fracasso da sua proposta de reconciliação” 21. No mês seguinte, um levante militar organizado pelo General Eduardo Lonardi, apoiado pela Marinha, decreta o fim de uma era. Perón se exilou na Espanha – mesmo longe de seu país, continuou exercendo influência sob o povo argentino. Nos dois governos, Perón teve muita dificuldade para conquistar adeptos nos setores dominantes, pois tinham uma séria desconfiança do forte elo entre o presidente e as massas.

2.3 INFLUÊNCIAS DAS PROPAGANDAS NAZI-FASCISTAS NOS GOVERNOS VARGUISTA E PERONISTA

Conforme abordado o contexto dos dois governos acima, podemos abordar mais especifica e profundamente a origem de suas influências. Dada a época de seus governos, Vargas e Perón tiveram influências nazi-fascistas em relação aos meios de comunicação nos governos da Alemanha de Hitler e da Itália de Mussolini. Em relação às propagandas nazi-fascistas, Hitler e Mussolini se apoderaram dos meios de comunicação para a promoção de seus governos e criaram o sentimento de identidade nacional coletiva que, por sua vez, gerava uma nova forma de sensibilidade política. Em regimes totalitários como foram o nazismo e o fascismo, os meios de comunicação – e por consequência a propaganda política – adquiriram importância extrema tanto no cenário nacional como internacional. Grande parte do autoritarismo desses regimes totalitários provém da necessidade do Estado de controlar sindicatos, partidos, meios de comunicação e demais organizações. No caso dos meios de comunicação, o Estado totalitário precisava organizar um aparelho de repressão para apoderar-se dos mesmos na finalidade de conseguir uma extensa base popular.

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NEIBURG, Federico. Os Intelectuais e a Invenção do Peronismo. São Paulo: Edusp. 1997, p.50.

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Na Alemanha, a relação autoritária do Estado para com os meios de comunicação se deu de forma mais intensa. Em 1934 o então ministro da Informação e Propaganda, Joseph Goebbels, considerava a propaganda “como arma mais eficaz de conquista do poder, edificação e consolidação do Estado”22, que era utilizada para que o Estado mantivesse um constante contato com a população, pois “mais do que instrumento do poder ela era considerada o poder”23. Segundo Capelato é essa concepção de propaganda que deu sentido ao controle dos meios de comunicação realizada pelo regime peronista e varguista. Em ambos os governos – argentino e brasileiro –, apesar da influência do nazismo, eles não podem ser conceituados como um regime totalitário, como no caso da Alemanha nazista. Capelato também discute o uso do termo e se apóia na afirmação de Roberto Romano na qual argumenta que o uso da definição “não se aplica, em sua plenitude, a nenhum país americano”24. Ainda segundo o autor, sobre os governos da América do Sul, nem mesmo “os casos mais conspícuos de regimes autoritários dos anos 30-40, o argentino e o brasileiro, não se mostram adequados ao conceito”25. Durante o Estado Novo, as oposições democráticas e os adversários do varguismo na luta pelo poder continuaram atuando. A repressão foi intensa e as liberdades foram anuladas nesse período, porém não ocorreu o monopólio absoluto do Estado no plano físico, jurídico ou econômico. Segundo Capelato:

“O imaginário totalitário tinha receptividade numa parte significativa da sociedade, [...] mas a imagem da sociedade una, homogênea e harmônica, veiculada pela propaganda política, esteve longe de se traduzir numa prática de constituição da opinião única em torno do regime e de seu 26 líder” .

Em comparação a Argentina, a definição do peronismo como totalitarismo é ainda mais problemática porque essa experiência ocorreu após a derrota do nazi22

CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e peronismo. 2. ed. São Paulo: UNESP. 2009, p.74. 23 CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e peronismo. 2. ed. São Paulo: UNESP. 2009, p.75. 24 CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e peronismo. 2. ed. São Paulo: UNESP. 2009, p.34. 25 ROMANO apud CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.35. 26 CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e peronismo. 2. ed. São Paulo: UNESP. 2009, p.35.

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fascismo, o que tornava ainda mais difícil a realização de um regime de natureza similar. O que o diferenciou do Estado brasileiro durante o governo de Vargas, foi que o peronismo atuou nos limites do Estado de direito. Portanto não há conexão alguma dos dois governos ao regime totalitário nazi-fascista. No tocante à relação das propagandas políticas, “a organização da propaganda peronista inspirou-se na propaganda nazista com a utilização de mensagens de forma a sensibilizar as massas tanto para práticas políticas como para a sustentação do poder”27. Diferente de Vargas, a propaganda de Perón objetivava estimular paixões e sentimentos, entretanto esse apelo emocional estava sob a tutela do Estado. Conforme Capelato ressalta:

“[...] as paixões eram estimuladas porque as mensagens se dirigiam às massas populares que apoiavam o regime. Perón tornou-se líder político por meio das massas e delas dependeu, durante todo o seu governo, para fazer 28 frente às oposições e manter-se no poder” .

No caso de Vargas, a ênfase na afetividade era discreta e raramente se empregava o termo “paixão” nas mensagens de propaganda do regime. Cabe lembrar que no imaginário coletivo, a paixão se associa a loucura, e razão, a sensatez, a equilíbrio emocional. O poder usa a razão para controlar a paixão das massas. Apesar de não usar a paixão e os sentimentos como Perón fazia, o Estado Novo estimulou sentimentos de paz, felicidade, generosidade, concórdia e alegria, na busca de conformação da identidade nacional coletiva. Vargas também usou o termo amor, porém era empregado em oposição à paixão e aparecia com freqüência, nas mensagens de suas propagandas políticas. Como esclarece Pierre Ansart, “cada sistema político comporta um sistema passional específico”29. Na política de massas, a “generosidade” em relação aos dominados é uma norma absoluta. Ela se opõe a uma ideologia aristocrática para a qual uma atitude dessa natureza é interpretada como um sinal de evidente fraqueza. Partindo dessa premissa de Pierre Ansart, no próximo capítulo abriremos com uma análise mais aprofundada sobre os veículos de propaganda empregados em 27

GONÇALVES, Daniele Leonor e GONÇALVES, Kalina Fernandes. Propaganda do regime Peronista: O uso dos meios de comunicação para a divulgação do governo de Juan Domingo Perón (1946-1955). Revista Contemporâneos on-line. [on-line]. Edição 5. São Paulo. 2010, p.8. Disponível em: . Acesso em: 01 nov. 2014. 28 CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e peronismo. 2. ed. São Paulo: UNESP. 2009, p.278. 29 ANSART, Pierre. Ideologias, Conflitos e Poder. Rio de Janeiro: Zahar. 1986, p.78.

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cada governo, além de abordar o papel do Estado em relação ao controle dos meios de comunicação e aprofundar-se nos principais meios de propaganda utilizados em ambos os regimes.

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3. O CONTROLE DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO NA PROPAGANDA POLÍTICA Quando pensamos em propaganda, vinculamos a promoção, a manipulação, a persuasão, etc. Temos diversas definições para propaganda, mas é importante buscar conhecer – para melhor entender o assunto abordado neste trabalho – o que é a propaganda e qual sua definição específica que exploraremos para os governos de Vargas e Perón. A propaganda é definida como a propagação de princípios e teorias, derivada do latim “propagare”, que significa enterrar, mergulhar, plantar. A propaganda veio a ser aplicada na atividade de propagação de fé ou doutrinas políticas que, segundo Randal Marlin, “Lênin e Goebbels não se importaram em aplicar o termo “propaganda” para descrever suas tentativas de moldar a opinião”30 na Segunda Guerra Mundial, onde seus inimigos caracterizaram como atividade de formação de opinião, tratando a propaganda na maioria das vezes num meio composto de mentiras, enquanto a sua própria divulgação foi tratada como verdade. Porém, o que podemos afirmar, com certeza, é que a propaganda é uma tentativa organizada e deliberada de influenciar muitas pessoas, direta ou indiretamente.

3.1 O CONTROLE ESTATAL NOS VEÍCULOS DE PROPAGANDA EM VARGAS

No que concerne a elaboração da ideologia em Vargas, o objetivo imediato da propaganda realizada era de condicionar as classes inferiores de que o conceito dominante, – tal como objetivada na organização e estruturação do Estado e nas diretrizes propostas e implementadas – correspondiam aos seus interesses e aos interesses gerais da “nação”. Segundo os preceitos de Hitler expressos em Mein Kampf: “a arte da propaganda consiste em ser capaz de despertar a imaginação pública fazendo apelo aos sentimentos, encontrando formular psicologicamente apropriadas que chamam a atenção das massas e tocam os corações”31. Goebbels – Ministro da Informação e Propaganda de Hitler – também expôs o que se deveria esperar da propaganda:

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MARLIN, Randal. Propaganda and the ethics of persuasion. Canadá: Broadview Press, 2002. p.16. 31 GUYOT; RESTELLINI apud CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.74.

27

“[...] é boa a propaganda que leva ao sucesso [...]. Esta não deve ser correta, doce, prudente ou honorável [...] porque o que importa não é que uma propaganda impressione bem, mas que ela dê os resultados 32 esperados” .

Tomando como ponto de partida os preceitos acima citados da importância que a propaganda exerce nas atividades políticas, Pierre Ansart afirma que:

“[...] a imposição sistemática de ideologias nos permite compreender melhor como a sensibilidade política não é um estado de fato, mas o resultado de múltiplas mensagens, apelos, interpelações, dramatizações que mantêm ou 33 modificam diariamente os sentimentos coletivos” .

As intensas emoções ocorrem por meio dos meios de comunicação, responsáveis pelo aquecimento das sensibilidades. Mas os sinais emotivos são captados e intensificados também mediante outros instrumentos – literatura, teatro, pintura, arquitetura, ritos, festas, comemorações, manifestações cívicas e esportivas. Todos esses elementos podem entrar em múltiplas combinações e provocar resultados diversos. Segundo Capelato, “Em qualquer regime, a propaganda política é estratégia para o exercício do poder [...]”34, mas podemos notar que nos de tendência totalitária ela adquire uma força muito maior porque o Estado, graças ao monopólio dos meios de comunicação, exerce censura rigorosa sobre o conjunto das informações e as manipula. Embora o regime de Vargas não tivesse seguido à risca o modelo de persuasão das massas, os encarregados da propaganda procuraram aperfeiçoar-se na arte de empolgação e envolvimento das multidões por meio das mensagens políticas. Nestas técnicas de linguagem, o significado das palavras não importa tanto, pois como declarou Goebbels, “não falamos para dizer alguma coisa, mas para obter um determinado efeito”35. O efeito visado no Estado Novo era a conquista do apoio necessário à legitimação do novo poder, procedente de um golpe. O jornal getulista “A Noite”, 32

GUYOT; RESTELLINI apud CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.74. 33 ANSART, Pierre. La gestion dês passions politiques. Lausanne: L‟Âge d‟Homme, 1983, p.69. 34 CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.76. 35 GUYOT; RESTELLINI apud CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.78.

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comentou que Vargas não se perdia no jogo de palavras. O discurso do chefe era elaborado com base em técnicas de linguagem – usava slogans, palavras-chaves, frases de efeito e repetições ao se dirigir às massas – como de exemplo frases do tipo:

“a generosa e humanitária política social do presidente Vargas”, “reiteradas e expressivas provas de carinho ao presidente Vargas”, “a popularidade do presidente Vargas”, “homenagem de respeito e testemunho de gratidão ao 36 presidente Vargas” .

Este tipo de linguagem presta-se à eliminação das oposições porque, ao se apresentar como a fala do todo, não admite contestação e seu poder de convencimento é muito eficaz. A imprensa, por meio de uma legislação especial, foi investida da função de caráter público, tornando-se instrumento do Estado e veículo oficial da ideologia estadonovista. Conforme podemos analisar na Constituição de 1937, o artigo 1.222: “acabava com a liberdade de imprensa e admitia a censura a todos os veículos de comunicação”37. A peça fundamental deste controle era o Departamento de Imprensa e Propaganda, que tinha amplos poderes sobre os meios de comunicação e se encarregava da organização da propaganda. Através do Ministério de Educação e Saúde Pública, o Estado Novo ampliou sua capacidade de intervenção na esfera cultural com a direção de Gustavo Capanema – que em 1938 reivindicou devido a conflitos internos com o ministro da Justiça Francisco Campos. Capanema propôs a divisão do Departamento de Propaganda em duas partes: a primeira, de Publicidade e Propaganda, que ficaria no Ministério da Justiça, e a outra, Difusão Cultural, que voltaria ao Ministério de Educação e Saúde. A decisão tinha como objetivo incorporar o órgão a serviço direto do Poder Executivo, iniciativa esta, que tinha inspiração direta no recémcriado Ministério da Propaganda alemão, que foi o embrião do DIP. Em 1939, as atribuições do extinto Departamento de Propaganda e Difusão Cultural passaram para o Departamento de Imprensa e Propaganda, criado nesse ano. Segundo Capelato: 36

ROBIN apud CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.78. 37 CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.81.

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“O DIP foi fruto da ampliação da capacidade de intervenção do Estado no âmbito dos meios de comunicação e da cultura. Tinha como função elucidar a opinião pública sobre as diretrizes doutrinárias do regime, atuar em defesa 38 da cultura, da unidade espiritual e da civilização brasileira” .

Os cargos eram atribuídos às pessoas de confiança diretamente por Getúlio Vargas, sendo estruturado da seguinte forma: Divisão de Divulgação; Divisão de Radiodifusão; Divisão de Cinema e Teatro; Divisão de Turismo; Divisão de Imprensa e Serviços Auxiliares. Associado diretamente à Presidência da República, o DIP produzia e divulgava o discurso destinado a construir uma imagem do regime, das instituições e do chefe do governo, identificando-os com o país e o povo. Nesse sentido, conforme Silvana Goulart ressalta:

“[...] foram produzidos livros, revistas, folhetos, cartazes, programas de rádio com noticiários e números musicais, além de radionovelas, fotografias, cinejornais, documentários cinematográficos. Nesse conjunto, destacam-se a imprensa e o rádio como os meios mais utilizados para a divulgação da 39 propaganda política” .

A partir de 1940, Capelato destaca que, “420 jornais e 346 revistas não conseguiram registro no DIP. Aqueles que insistiram em manter sua independência ou se atreveram a fazer críticas ao governo tiveram sua licença cassada” 40. Desta maneira, a propaganda oficial alcançou um grau de produção e organização sem precedentes no país e “passou a se responsabilizar pela defesa da unidade nacional e pela manutenção da ordem”41. Os símbolos expressavam-se, também, por meio de objetos usados por Vargas em suas propagandas, em que, ele busca através destes materiais uma aproximação maior com o povo tentando causar um efeito direto visual. Capelato alega que no “Acervo Vargas” contém muitos objetos, como no Museu da República, que abriga na sua maioria com referências a Vargas: “alfinetes, botões, chaveiros, fosforeiras e colher de cafés confeccionados com moedas da época, medalhas 38

CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.81. 39 GOULART, Silvana. Sob a verdade oficial. CNPQ, Marco Zero, 1990, p.54. 40 CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.81-82. 41 GOULART, Silvana. Sob a verdade oficial. CNPQ, Marco Zero, 1990, p.58.

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comemorativas, maço de cigarros com efígie de Vargas, flâmulas, estandartes e bandeiras”42. As festividades populares estadonovistas eram, também, consideradas como propagandas políticas de Vargas, pois enfatizavam a busca de harmonia social e a eliminação dos conflitos. O varguismo seguiu o figurino das comemorações e festas cívico-esportivas realizadas na Itália e na Alemanha, mas sem o mesmo brilho. As mensagens indicavam a construção de uma sociedade fraterna, via Estado, e com base nessa ilusão se criou a imagem da “sociedade em festa”, ligada e unida em torno do líder. A teatralização da intensa influência do governo foi transmitida através das festas cívicas e esportivas – solenidades oficiais, desfiles cívicos, jogos, demonstrações de atletismo etc. – tinha como objetivo central “criar a imagem da sociedade unida, hamônica, alegre e feliz, ocultando as práticas repressivas exercidas para manter o controle social”43. Como nas experiências europeias, todas as datas nacionais eram comemoradas em grande estilo; as festas eram realizadas com a ampla participação popular, como nos estádios desportivos “Vasco da Gama, no Rio de Janeiro, Palestra Itália e Pacaembu, em São Paulo” 44. Eram feitas também nas praças – Praça da Sé, em São Paulo, por exemplo – e avenidas, nas quais aconteciam os desfiles sendo o DIP e o Ministério da Educação, responsáveis pela organização destes festejos. Os jornais varguistas, segundo Capelato, nas ocasiões festivas:

“expressavam essas imagens de formas variadas: “a feição animada do centro da cidade”, “o grande entusiasmo e alegria”, “vibrantes manifestações operárias”, “o aspecto festivo da cidade”, “entusiasmo 45 popular”, “carinhosas manifestações”, “multidão vibrante” .

As mensagens de propaganda ostentavam que a „sociedade feliz‟ concretizara-se no Estado Novo; a „felicidade brasileira oficial‟ era comemorada em 42

CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.53. 43 SCHEMES, Cláudia. As festas cívicas e esportivas no populismo: um estudo comparado dos governos Vargas (1937-1945) e Perón (1946-1955). São Paulo, 1995, p.46. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo (USP). 44 SCHEMES, Cláudia. As festas cívicas e esportivas no populismo: um estudo comparado dos governos Vargas (1937-1945) e Perón (1946-1955). São Paulo, 1995, p.50. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo (USP). 45 CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.70.

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todas as datas cívicas por meio de festas promovidas pelo Estado para celebrar as realizações do governo. Por esse caminho, conclui-se que mesmo a festa oficial pode conter um elemento de libertação não só da monotonia do dia a dia, mas também em relação às suas expectativas de mudança social e atendimento de suas reivindicações. No tocante às imagens representativas varguistas, a bandeira brasileira e a figura de Vargas foram os símbolos mais explorados nas representações visuais do Estado Novo. Muitas dessas representações visuais apareciam em livros didáticos para as crianças, como é o exemplo da ilustração abaixo do livro escolar „Brasil Novo: Getúlio Vargas e sua vida para a criança brasileira‟ em que está o mapa do Brasil, colorido de verde, e, no centro, a bandeira brasileira com a imagem de Vargas desenhada na esfera azul; ao lado, estão os dizeres: “Fortes e unidos, os brasileiros do Estado Novo são guiados pela grande Trindade Nacional: Nossa Pátria, Nossa Bandeira, Nosso Chefe”46. Figura 2: Ilustração do livro escolar Brasil Novo: Getúlio Vargas e sua vida para criança brasileira. p.100.

Fonte: NOSSO SECULO (1930-1945). São Paulo: Abril Cultural, v. 3, 1980. p.176.

É importante destacar que o trabalho político das representações consiste em fazer crer, fazer ver e, estabelecer a legitimidade do poder instituído. Embora se 46

NOSSO SECULO (1930-1945). São Paulo: Abril Cultural, v. 3, 1980, p.176.

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reconheça a natureza criativa da leitura, definida pelas múltiplas possibilidades de apropriação de um discurso, cabe ressaltar a relevância da mobilização dos bens simbólicos de uma coletividade pela propaganda política no sentido de garantir o exercício do poder político.

3.2 O ESTADO NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO PERONISTA

A campanha eleitoral de 1945 que conduziu Perón à Presidência da República deixou clara a importância da propaganda política, cujos mecanismos foram sendo aperfeiçoados ao longo do período, tornando-se um processo totalmente distinto do brasileiro. Para Capelato, “A forte oposição à nova política implicava a necessidade de ampliação do apoio ao regime, conseguido, sobretudo entre os setores populares”47, esse fato explica o uso mais intenso da propaganda no peronismo do que no varguismo do Estado Novo, no qual o contato com as massas pelos meios de comunicação era realizado por órgãos controlados pelo Estado e legitimados pela Constituição autoritária de 1937. Na Argentina, a importância atribuída a esse mecanismo de poder já tinha sido explicitada, anteriormente, pelos articuladores do golpe de 1943. Segundo Juan José Sebreli, membros do GOU haviam decidido que,

“[...] a exemplo da Alemanha, pelo rádio, pela imprensa controlada, pelo livro, pela Igreja, pela educação, deveria se inculcar no povo o espírito 48 favorável à compreensão do caminho heróico a ser percorrido” .

Não muito divergente da propaganda política brasileira, a argentina também foi inspirada nas experiências nazi-fascistas. Conforme já explicado, Perón antes de se tornar líder político, permaneceu algum tempo na Itália e visitou a Alemanha, onde tomou contato com a experiência de propaganda. Após o golpe de 1943, sugeriu que o novo governo apelasse para a publicidade. Nesse sentido, afirmou:

“A propaganda é uma arma poderosa, sobretudo quando se dispõe de todos os meios [...] o GOU é uma instituição eminentemente castrense que não 47

CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.79. 48 SEBRELI, Juan José. Los deseos imaginarios del peronismo. Buenos Aires: Legasa, 1985, p.62.

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vai entrar nunca na mente dos civis por mais propaganda que gastemos com ele. Temos que eleger um homem dos nossos e focalizar sobre ele os refletores. O trabalho seguinte consiste em torná-lo simpático. Isso é muito fácil, basta que apareça respaldando todas as disposições que repercutem 49 favoravelmente na população” .

Segundo Sebreli, todos os presentes concordaram com o plano e escolheram Perón para representar esse papel. É importante ressaltar e dar específica ênfase na maneira como Perón ascendeu ao poder, a organização da propaganda política peronista apresentou uma peculiaridade com relação ao governo de Vargas e aos demais países: Perón chegou ao poder em 1946, após a derrota do nazi-fascismo na Segunda Guerra; foi eleito na vigência do Estado liberal e manteve a Constituição que garantia liberdade de expressão. No tocante aos meios de comunicação, “o líder preferiu mover-se em outro plano, construindo uma máquina paraestatal de produção e controle da propaganda”50. A censura à imprensa teve início imediatamente após o golpe de 1943. Segundo Capelato, “[...] foram proibidas de circular 190 publicações nacionais e 79 estrangeiras [...]”51. Porém, com a distensão política, em 1945, a liberdade de imprensa foi recuperada, permitindo aos meios de comunicação manifestar-se contra a candidatura de Perón à Presidência da República em 1946. A grande imprensa foi porta-voz de seus adversários. Uma vez eleito, o governante não mediu esforços para liquidar a imprensa opositora, sem alterar o quadro legal. A Constituição argentina continuava garantindo a liberdade de imprensa, mas, para a realização do controle institucional dos meios de comunicação, “foram criadas a “Subsecretaría de Informaciones” e a “Secretaría de Prensa y Difusión”, inspiradas na organização nazi-fascista para controle dos meios de comunicação”52. Integravam a “Subsecretaría” as seguintes repartições: Imprensa, Difusão, Publicidade,

Espetáculos

Públicos,

Arquivo

Gráfico,

Registro

Nacional

e

Administração. A Direção Geral de Difusão reorganizou a propaganda estatal e tornou-se uma das áreas mais sobrecarregadas, dela dependia:

49

SEBRELI, Juan José. Los deseos imaginarios del peronismo. Buenos Aires: Legasa, 1985, p.63. SIRVÉN, Pablo. Perón y los médios de comunicación (1943-1955). Buenos Aires: Ceal, 1984, p.14. 51 CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.82. 52 SIRVÉN, Pablo. Perón y los medios de comunicación (1943-1955). Buenos Aires: Ceal, 1984, p.15. 50

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“[...] a edição de milhares de folhetos destinados a dar publicidade, em diferentes idiomas, à obra do governo e de sua esposa, a ressaltar a figura de ambos, a tomar pública a ação da Fundação Eva Perón. Encarregavase, também, da fabricação de miniaturas com o escudo justicilista, caixas de fósforos com a imagem do matrimônio de Perón, lapiseiras com inscrições partidárias, cinzeiros, lenços, prendedores, agendas e carteiras com a efígie 53 do presidente ou de sua esposa” .

Da mesma forma que Vargas organizou o setor de propaganda política em seu governo, Perón fez igual. O homem-chave de tamanha propaganda na Argentina era o jornalista e político Raul Apold – cujo esforço de trabalho e dedicação, foram engrandecidos com a medalha de lealdade que Perón colocou sobre seu peito em 30 de maio de 1950 –, ocupando o cargo máximo na “Subsecretaría”, buscava, continuamente, novidades em sua tarefa de elaborar a propaganda do governo peronista. Como por exemplo: “criou o concurso da Rainha Nacional do Trabalho; foi autor da famosa frase “Perón cumple, Evita dignifica”, estampada em enormes cartazes colocados na frente das principais obras do governo; organizou jogos infantis; mandou fabricar relógio cujos números foram substituídos pelos nomes de Perón e Eva, editou ilhares de almanaques ilustrados com a figura do líder e de sua esposa”54, dentre outros. Abaixo podemos analisar a frase supracitada de “Perón cumple, Evita dignifica”: Figura 3: Cartaz da propaganda de Perón e Evita.

Fonte:http://www.taringa.net/posts/apuntes-y-monografias/16096450/Peron-y-el-peronismo-lo-que-note-cuentan-en-la-escuela.html

53

CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.83. 54 SIRVÉN, Pablo. Perón y los medios de comunicación (1943-1955). Buenos Aires: Ceal, 1984, p.122.

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Foram criados organismos a fim de ter um melhor controle sob a opinião massiva popular, pois Perón considerava a “opinião pública uma realidade que não podia ser manejada arbitrariamente nem desprezada como ficção” 55. Para que não ficasse exposta à imaginação dos políticos, colocou nas mãos das referidas secretarias que inundaram o país de propaganda peronista. Os símbolos e imagens no governo de Perón tinham uma presença muito intensa em sua propaganda política para sensibilizar e construir um imaginário social. O peronismo “utilizou referências do cristianismo e hispanismo e ideias como o justicialismo na construção desses símbolos”56. Segundo Capelato:

“A propaganda política vale-se de idéias e conceitos, mas os transforma em imagens e símbolos; os marcos da cultura são também incorporados ao 57 imaginário que é transmitido pelos meios de comunicação” .

No peronismo o mito de unidade nacional é ligado diretamente à imagem do líder. As propagandas vinculavam a mensagem de que o dever do líder era o de proteger as massas e cabe a elas venerá-lo e apoiá-lo. Entre os símbolos utilizados pelo governo, encontra-se o distintivo “escudito” que servia para identificar a lealdade ao peronismo – o qual Raul Apold, conforme acima citado, ganhou por sua lealdade à Perón – além também, de que foi criado em uma versão para crianças do mesmo. Inspirava-se no desenho do escudo nacional: “as referências à lança, ao gorro frígio, aos louros, ao sol e até ao azul e branco da bandeira pátria foram apropriadas com mínimas alterações com relação ao original”58. Outro símbolo intensamente adotado foi a imagem da justiça que referenciava as ideias divulgadas pelo governo de justiça social, a doutrina justicialista. O símbolo da justiça foi impressa em revistas, livros escolares e álbuns. Além da divulgação de símbolos católicos, heróis e grandes acontecimentos nacionais, a utilização excessiva de imagens de Perón e Evita e, também, uma intenção de divulgação 55

CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.84. 56 GONÇALVES, Daniele Leonor e GONÇALVES, Kalina Fernandes. Propaganda do regime Peronista: O uso dos meios de comunicação para a divulgação do governo de Juan Domingo Perón (1946-1955). Revista Contemporâneos on-line. [on-line]. Edição 5. São Paulo. 2010, p.9. Disponível em: . Acesso em: 29 março. 2015. 57 CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.36. 58 CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.53.

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desses símbolos entre as crianças, difundidos nas escolas cujo objetivo era de formação do pequeno cidadão. A observação do universo simbólico expresso nos dois regimes – Perón e Vargas – permite constatar que a simbologia varguista foi bem mais modesta quando comparada à simbologia peronista; além disso, as imagens produzidas no peronismo tinham força política maior. Segundo Maria Helena Capelato:

“O recurso à fotografia caracterizou a propaganda estadonovista; a propaganda da argentina, ao contrário, valeu-se de ilustrações muito variadas, entre elas as fotos. O uso privilegiado das imagens fotográficas no Brasil revela uma preferência pela representação mais objetiva da realidade, que talvez possa ser explicada como um traço da cultura política brasileira, fortemente marcada pelo positivismo. [...] Na Argentina, a política 59 social foi prioritária” .

Podemos notar que os dois regimes tinham objetivos comuns em relação à propaganda política, ou seja, conquistar o apoio da sociedade. Todavia, a prioridade dessa proposta não era igual, tendo sido muito mais forte na Argentina. Contudo, representando como um dos símbolos mais fortes de Perón – que é impossível de se esquecer –, o movimento de 17 de outubro de 1945, o qual é denominado de “acontecimento-mito”, por Alberto Ciria (1983). Foi caracterizada desta maneira pela mobilização em parte espontânea das massas populares que se juntaram a Praça de Maio – a qual se localiza a sede do executivo –, onde ouviram o tão inspirador e comovente discurso de Perón, conforme podemos observar a multidão de pessoas na imagem abaixo. A Praça de Maio acabou sendo relacionada ao movimento de continuidade da independência da nação e da vitória peronista.

59

CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.55.

37

Figura 4: Perón discursando no dia 17 de outubro de 1945.

Fonte: http://www.laopinionpopular.com.ar/noticia/20727-peron-el-proletariado-nacional-comoprotagonista-y-el-fin-del-pais-semicolonial-y-dependiente.html

Os “descamisados” constituem outro símbolo de grande importância no imaginário peronista, o termo perdeu o sentido pejorativo original, sendo dignificado à condição de “amigo do líder”. Descamisado significava, segundo Capelato: “povo, massa, mas com o peronismo adquiriu sentido diverso”60. A imagem dos descamisados, conforme imagem abaixo foi construída, segundo Luís Alberto Romero: “pelos próprios setores trabalhistas que lhe conferiram sentido positivo: eles se identificavam com a figura do trabalhador, de dorso nu”61. Entretanto, só a partir do discurso peronista que a imagem se tornou um símbolo.

60

CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.61. 61 ROMERO, Luis Alberto. História Contemporânea da Argentina. Tradução por: Edmundo Barreiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2006, p.74.

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Figura 5: Projeto de Monumento ao Descamisado.

Fonte: CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.62.

Assim como em Vargas, Perón também usufruiu das comemorações e festas cívico-esportivas. Segundo Mosse, “a festa instala a alegria: a alegria espalha-se em profusão; a festa legitima o regime”62. Na Argentina, as comemorações ocorriam na Praça de Maio e nos estádios desportivos, as quais eram organizadas pela CGT. A propaganda política surtia efeito quando procurava transmitir a sensação de proteção que o governo oferecia. As mensagens propagandísticas martelavam a ideia, segundo Capelato, de que “Perón salvara o país de muitos perigos: comunismo, imperialismo, oligarquias, velhos políticos”63. As satisfações com o presente e o otimismo em relação ao futuro derivavam de um sentimento de segurança em relação ao poder político que, pela primeira vez, se dirigia a esses setores da sociedade, dignificando o trabalho e valorizando sua função social.

62

MOSSE apud CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.68. 63 CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.71.

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3.3 A IMPRENSA E O RÁDIO: PRINCIPAIS VEÍCULOS DE PROPAGANDA NO BRASIL E NA ARGENTINA Em ambos os períodos – varguismo e peronismo –, os esforços de eliminação de vozes divergentes e de introdução ideológico em todos os setores realizaram-se, antes de tudo, no campo da imprensa periódica, seguida pelo rádio. Após 1937, o governo estabeleceu que a imprensa desempenhasse sua função atrelada ao Estado. As empresas jornalísticas brasileiras, segundo Capelato, “só podiam se estabelecer se obtivessem registros concedidos pelos órgãos do DIP e as atividades dos profissionais também ficaram sob esse controle” 64. Os jornais foram obrigados a reproduzir os discursos oficiais, a dar ampla divulgação às inaugurações, a enfatizar as notícias dos atos do governo, a publicar fotos de Vargas. Segundo Capelato, “60% das matérias publicadas eram fornecidas pela Agência Nacional”65. A imprensa desempenhou as tarefas que lhe foram atribuídas sem nenhuma independência. Em São Paulo, os jornais liberais, que tiveram importante atuação política – sobretudo a partir dos anos 20 –, foram praticamente silenciados e tiveram de aceitar em suas redações elementos nomeados pelo governo para vigiá-los. Os proprietários de “O Estado de S. Paulo” tentaram reagir e o resultado foi a expropriação do jornal, em 1940, por representantes do Estado Novo. “O “Estado de S. Paulo”, “A Noite”, de São Paulo e o “O Dia”, do Rio de Janeiro, tornaram-se os principais órgãos de propaganda do regime”66. O controle da imprensa não ocorreu apenas pela censura, mas também por pressões de ordem política e financeira. Como na Itália fascista, havia uma série de assuntos e notícias proibidos pelos DIP, por exemplo:

“[...] as notícias que mostrassem ou sugerissem descontentamentos ou oposições com relação ao regime; temas ou notícias relativos a problemas econômicos (transporte, abastecimento, escassez e alta de preços dos produtos); divulgação de acidentes, desastres, catástrofes, naufrágios,

64

CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.86. 65 CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.86. 66 CAPELATO, Maria Helena Rolim. Populismo na Imprensa. São Paulo: Cortez, 1981, p.119.

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queda de avião; incidentes como brigas, agressões, crimes, corrupção, 67 suborno, processos, inquéritos, sindicâncias etc” .

Por um lado, o autoritarismo do Estado Novo explica a adesão e o silêncio de jornalistas. Por outro lado, não se pode deixar de considerar que a política conciliatória de Getúlio Vargas aliada a “troca de favores” também surtiu efeito entre os “homens de imprensa”, pois muitos opositores do governo Vargas acabaram por enaltecê-lo durante o Estado Novo. Assim como no fascismo italiano, o varguismo preocupou-se mais com o controle da imprensa do que com o rádio – apesar de considerá-lo de grande importância para a propaganda política brasileira. O rádio brasileiro nasceu sob o controle estatal, mas havia em torno dele projetos distintos. Houve forte polêmica, nos anos 30, entre a perspectiva político-cultural e a perspectiva empresarial voltada para o consumo. Segundo José Inácio Melo Souza:

“Os ideólogos nacionalistas, artífices do Estado Novo, defendiam o projeto de radiodifusão educativa com vistas à formação da consciência nacional considerada indispensável à integração da nacionalidade; no Estado Novo, o veículo foi valorizado como instrumento de propaganda política do 68 regime”.

Além de programas humorísticos, musicais, transmissões esportivas, radiojornalismo e as primeiras radionovelas, tivemos o uso político do rádio e podemos considerar como o que mais se destaca quando se referimos ao rádio no Estado Novo. O uso político esteve voltado para a reprodução de discursos, mensagens e notícias oficiais. Em 1931 foi criado o programa “Hora do Brasil”, reestruturado e, 1939, após a criação do DIP. Segundo Jahar Garcia:

“O programa tinha três finalidades: informativa, cultural e cívica. Divulgava os discursos oficiais, os atos do governo, procurava estimular o gosto pelas artes populares e exaltava o patriotismo, rememorando os feitos gloriosos do passado. Ele era reproduzido, também, por alto-falantes instalados nas 69 praças das cidades do interior” .

67

GARCIA, Nelson Jahar. Estado Novo: ideologia e propaganda política. São Paulo: Loyola, 1982, p.112. 68 SOUZA, José Inácio Melo. A ação e o imaginário de uma ditadura: controle, coerção e propaganda política nos meios de comunicação durante o Estado Novo. São Paulo, 1990, p.46. Dissertação (Mestrado), Universidade de São Paulo (USP). 69 GARCIA, Nelson Jahar. Estado Novo: ideologia e propaganda política. São Paulo: Loyola, 1982, p.103-104.

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A “Divisão do Rádio” do DIP controlava toda a programação radiofônica. Em 1941, por exemplo, segundo Silvana Goulart, “foram examinados 3.971 programas, 487 peças radiofônicas e 1.448 esquetes e foram proibidos 44 programas (em 1940 o número de proibições foi bem maior – 108)”70. O controle do rádio durante o Estado Novo foi fragmentado em: Lourival Fontes – diretor do DIP – controlava a “Hora do Brasil”; o ministro do Trabalho Alexandre Marcondes Filho, a partir de 1942, tinha sua faixa própria de atuação dentro do horário governamental; Capanema controlava o sistema de radiodifusão educativa e Cassiano Ricardo – eleito em 1937 para a Academia Brasileira de Letras – encarregou-se em dirigir o Departamento de Divulgação Político-Cultural da Rádio Nacional. É importante notar que, em plena vigência do Estado Novo, as emissoras de rádio exibiam novelas cubanas e argentinas completamente apolíticas e alienantes do ponto de vista participativo. Todavia, o radioteatro recebia orientação do DIP no sentido de explorar os fatos históricos com uma narrativa romanceada. As políticas sobre o rádio no Estado Novo, segundo Capelato, “permitem mostrar que, embora os modelos alemão e italiano tenham servido de inspiração para o uso do veículo, o resultado foi diferente”71. Apesar dos mecanismos de controle do meio, o governo descartou as propostas de amplo uso do veículo para propaganda política. Entretanto, na Argentina, para a realização do monopólio nos meios de comunicação, no sentido de conter a oposição e penetrar suas ideologias, o governo peronista utilizou o uso da imprensa periódica e em seguida a utilização do rádio. Ambos foram controlados e utilizados para a propaganda política na Argentina de forma mais intensa do que pelo governo de Vargas no Brasil. O avanço da radiodifusão argentina é explicado, segundo Capelato, no sentido de que “era mais desenvolvido do ponto de vista econômica e cultural”72, embora possuísse um número menor de habitantes que o Brasil. O governo conseguia amplo controle através de práticas de sabotagem, corrupção, suspensão de direitos, corte de subsídios, restrições de papel – no caso da imprensa –, entre outros. A restrição ao papel foi muito empregada para censurar 70

GOULART, Silvana. Sob a verdade oficial. CNPq, Marco Zero, 1990, p.69-70. CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.90. 72 CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.92. 71

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a imprensa, Capelato cita o exemplo de dois jornais: “as páginas de La Prensa e La Nación, foram se reduzindo de 30 para 16, de 16 para 12, até chegar a 6” 73, enquanto jornais que pertenciam ao governo aumentavam não somente as páginas, mas também a circulação dos mesmos. Gradativamente o governo conseguiu ter o controle de vários jornais, entre eles o supracitado “La Prensa” em 1951, passando para o controle da Central Geral dos Trabalhadores, CGT. Durante a campanha eleitoral de Perón foi divulgada uma revista humorística chamada “Descamisado” para fazer frente à “Cascavel”, opositora de Perón. A propaganda do regime agregou também um novo título próprio em uma coleção de revistas, intitulada “Mundo Peronista”, esta se tornou um dos principais vinculadores da propaganda de Perón. É importante ressaltarmos que o uso do rádio pelo regime peronista foi ainda mais eficaz do que a imprensa. Podemos analisar que em parte pelo rádio ser um veículo totalmente novo – que se configurava dentro de um projeto modernizador – a utilização dessas novas tecnologias se apresentava como alternativas essenciais para uma propaganda de projetos industriais. Enquanto no Brasil, segundo Capelato, “havia 19 emissoras de rádio na década de 1920, na Argentina, 36 emissoras já estavam instaladas, apresentando variedade na programação, tecnologia avançada e presença marcante da publicidade”74. Tal projeto modernizador definido pelo regime peronista está ligado a um projeto nacionalista, para tanto não era possível transformar o país em uma nação sem construir uma cultura nacional. Para Haussen, “o rádio vai ser fundamental para a gestação do sentimento nacional, na tradução da ideia de nação em sentimento e cotidianidade”75. O controle político sobre o rádio teve início logo após o Golpe de 1943. Em seguida a tomada de poder, Perón colocou as emissoras de rádio ao seu controle, a censura foi imposta através de uma circular que regulava a publicidade e as expressões utilizadas durante as transmissões. Antes de sua posse, “o presidente eleito mandou elaborar o Manual de instruções para as estações de radiodifusão,

73

CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.91. 74 CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.92. 75 HAUSSEN, Dóris Fagundes. Rádio, populismo e cultura: Brasil e Argentina (1930-1955). Revista Famecos. Porto Alegre, RS. n. 5, novembro, 1996, p.52.

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transformado em decreto logo no início do governo”76. Nele estavam previstas todas as atividades radiofônicas, desde como preparar os scripts até as expressões que deveriam ser usadas para abrir e encerrar os programas. Eva Perón teve um papel essencial no controle do rádio. Sua vida profissional começou nesse veículo e, quando conheceu Perón, sua carreira de atriz de radioteatro estava consolidada. Em 1944, foi criado um programa intitulado “Para um futuro melhor”, que fazia propaganda a “Revolução de 1943”. Evita – por já ser uma atriz – interpretava o papel de uma mulher do povo que conclamava os argentinos a apoiar a revolução e que acabou sendo homenageada e recebeu um prêmio de reconhecimento por sua atuação. Perón de muito utilizou Evita como uma ferramenta de propaganda para conquistar as massas trabalhadoras, sendo o principal veículo abordado para sua estratégia política foi Evita no rádio. Abaixo temos uma imagem de Eva em sua carreira de atriz antes de se tornar a mãe dos descamisados, no filme chamado “La Cabalgata del Circo”. Figura 6: Evita no filme “La Cabalgata del Circo”, ao lado de Libertad Lamarque.

Fonte: http://gayegos.com/2013/06/eva-peron-e-a-moda/

Desde 1943, Perón utilizava o rádio para a transmissão de seus discursos atingindo todo o país. Para Haussen, apesar de já utilizado antes por outros políticos, foi Perón quem descobriu a utilidade política do veículo. Ele mesmo afirma a importância do rádio em um de seus discursos proferidos em 1951:

“Os políticos nunca haviam utilizado o rádio para a sua ação. Utilizavam mais os comícios onde as pessoas os viam [...]. A ação da presença e a 76

HAUSSEN, Dóris Fagundes. Rádio e Política: tempos de Vargas e Perón. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1997. p.70.

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influência direta do condutor é importante, mas a maior parte das massas já me havia visto e eu, então, lhes falei pelo rádio, que era como se me seguissem vendo. De maneira que eu falava a todos. Quando atuamos num ato único, nos basta falar a todo o país pelo rádio e não fica nenhum argentino sem conhecer o que terminamos de dizer. Isto antes era impossível, hoje o fazemos em um minuto [...] assim foi como nós derrotamos a nossos adversários aferrados às velhas normas dos comitês e de transmissões por intermediários [...]. Às vésperas da eleição de 24 de fevereiro nós demos, pelo rádio, a ordem a todos os peronistas e no dia 77 seguinte todos a conheciam e a executavam” .

No segundo governo, Perón enfrentou dificuldades econômicas sérias. O “Plano Econômico”, lançado no período, continha medidas restritivas, como: racionamento de carne, farinha de trigo, etc. O rádio, por sua vez, foi amplamente utilizado na tentativa de conquistar o apoio do povo ao plano. Não só por isso, o governo exigia a utilização do rádio para, no mínimo, 50% de música argentina na programação musical, representando um forte nacionalismo que não tão somente existiu no governo de Perón, como definitivamente em Vargas. Os discursos de Perón e Evita eram transmitidos nos boletins diários de meia em meia hora, durante a programação, irradiavam-se frases peronistas. O controle radiofônico foi muito eficaz na Argentina, Eva e Perón conseguiram o total domínio das ondas. A rádio “Belgrano”, opositora do governo, foi a primeira a passar para as mãos do Estado graças às pressões comandadas por Evita. Após esse sucesso, a primeira-dama passou a pressionar os demais proprietários de rádio, que acabaram cedendo às investidas do poder. Segundo Capelato, “o controle das três cadeias de rádio, Belgrano, Splendid e El Mundo, representou a incorporação de 45 emissoras em todo o país”78. Já as rádios que se recusavam a serem estatais, eram retiradas do ar. As transações das rádios foram feitas com a ajuda financeira do Instituto Argentino de Promoção Industrial (IAPI) e do Banco Industrial da República Argentina. Anos mais tarde, Perón reconheceu que os meios não são tão poderosos e comentou: “em 1955, tendo a totalidade dos meios à disposição, fui derrotado; em

77

PERÓN apud HAUSSEN, Bóris Fagundes. Rádio e Política: tempos de Vargas e Perón. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1997. p.71. 78 CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.95.

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1945 e 1973, antes das eleições, a imprensa toda se opôs a mim, não impedindo minha chegada à Casa do Governo”79. Entendemos que a propaganda política só reforça tendências que já existem na sociedade. A afirmação de Perón permite contestar da onipotência dos meios de comunicação no que se refere ao controle das consciências. Cabe lembrar que mesmo nos regimes em que esse controle foi levado ao extremo não se conseguiu atingir o objetivo de formar a “opinião única”. Tal constatação não implica menosprezo da importância da propaganda política que, mesmo sem obter adesão unânime, representou um dos pilares de sustentação do poder.

79

PERÓN apud SIRVÉN, Pablo. Perón y los médios de comunicación (1943-1955). Buenos Aires: Ceal, 1984, p.141.

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4. O LEGADO HISTÓRICO: GETÚLIO VARGAS E JUAN PERÓN

Através de toda a influência que conseguimos explorar em ambos os períodos, podemos considerar não tão somente o impacto de todo esse controle dos meios de comunicação, mas, também, a influência em que sofreram as épocas seguintes com tamanho poder de domínio social obtido através da soberania dos dois governos na política populista. É importante notarmos a magnitude de tamanho reconhecimento que ambos os governos tiveram após deixarem seus cargos presidenciais. Não somente para o governo subsequente, mas também décadas depois, onde suas estratégias de promoção política e propagandísticas foram responsáveis por este legado que ainda, atualmente, presenciamos em alguns governos. 4.1 O “SALVADOR DA PÁTRIA”: GETÚLIO VARGAS

O grande impacto das realizações de Vargas e Perón está no fato de que ambos combinaram a carência popular por um “salvador” com planos inclusivos e progressistas sendo sociais e econômicos, cujos fatores podemos considerar como características específicas do desenvolvimentismo. Podemos analisar como é nítida a força que Vargas ganha após o episódio de seu suicídio se tornando o herói do país e consequentemente consagrando-se para a história política brasileira. Segundo Elizabeth Cancelli, “a magia em torno do ato de suicídio de Getúlio Vargas contribuiu para a mítica construída do herói impedisse o vislumbramento do complexo projeto político e da violência por ele encetada” 80. Analisando nesta ótica, a trágica morte de Getúlio em seu segundo governo teria, de certa maneira, contribuído para apagar da memória dos brasileiros as lembranças da ditadura de seu governo de 1937. A dramaticidade do ato e da carta-testamento permite reforçar os vínculos de Vargas com as massas como nunca ocorreu antes. Multidões saíram às ruas em várias capitais e cidades do país. Segundo Maria Helena Capelato, “O comércio, os

80

CANCELLI, Elizabeth. O mundo da violência: a polícia na Era Vargas. 2ª Ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1994, p.101.

47

bancos, as repartições públicas fecharam suas portas por luto ou por medo. Houve enfrentamento da população com a polícia e com o Exército”81. A carta-testamento permite fazer crer que Vargas, o “salvador” do povo brasileiro, sacrificou-se pelo Brasil. O suicídio heroico assegurou a imortalidade do líder, como era de seu desejo expresso no documento em que afirma sair da vida para entrar na história. Importante ressaltar o significado simbólico da morte e das reações a esse ato que deixaram marcas mais fortes no imaginário político brasileiro do que as imagens e os símbolos produzidos intensamente pela propaganda do Estado Novo, inclusive a da figura do chefe/salvador. A tragédia constrói a ideia de sacrifício que, no sentido simbólico, traz purificação à sociedade. Durante seu segundo governo com a criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico no Brasil, fica fortemente simbolizado o papel que o Estado nacional desenvolvimentista exerce através dos grandes investimentos estratégicos, estruturando as bases para a industrialização do país. Porém, não podemos versar apropriadamente o nacional-desenvolvimentismo sem salientar as duas linhas ideológicas que então polarizavam a intelectualidade brasileira: a corrente liberal, que se baseava na vocação agrária do país, e a corrente desenvolvimentista, que pregava a intervenção estatal para implementar a industrialização. O pensamento desenvolvimentista já estava presente no discurso de Vargas em 1944, quando afirmou: “Só as mentalidades impermeáveis aos ensinamentos dos fatos podem acreditar ainda na validade do „laissez-faire’ econômico e nos seus corolários políticos”82. O que podemos analisar partindo desta ótica é o fato de que a ideologia desenvolvimentista populista institucionalizava o poder político das forças populares, incorporando a emergência das massas no jogo político nacional. Devido à proximidade bem forte entre Vargas e Jango, após o trágico acontecimento do suicídio do presidente, um ato simbólico marcaria o destino de Goulart. Ele recebeu de seu amigo e ex-chefe de gabinete no Ministério do Trabalho, Hugo de Faria, um envelope contendo a carta-testamento de Vargas. Dias depois, Jango e Tancredo Neves – do Partido Social-Democrático (PSD), aliado histórico do 81

CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p.308. 82 VARGAS, Getúlio apud LIMA, Marcos Costa. Getúlio Vargas e o Estado Nacional Desenvolvimentista. 30 de Agosto de 2012. Disponível em: . Acesso em: 03 maio 2015.

48

Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) – que também foi ministro de Vargas, dividiram as honras de discursar ao lado do túmulo do ex-presidente. Todavia, apesar do importante papel desempenhado por Tancredo Neves, ninguém ousava contestar Jango como o principal herdeiro do legado político de Vargas, por sua relação pessoal e partidária com o ex-presidente, mas não somente por isso, também pelo fato de que Jango o auxiliou decisivamente na construção e consolidação do trabalhismo. Portanto, o nacional-desenvolvimentismo sobreviveria à morte de Vargas e ao governo Gaspar Dutra, que, segundo Túlio Velho Barreto, “desencadeou um processo de abertura de nossa economia no qual a importação de bens duráveis, sobretudo norte-americano, foi o carro-chefe”83. Posteriormente, ganharia novos contornos nos governos Juscelino Kubitschek/João Goulart – PSD/PTB – e Jânio Quadros – União Democrática Nacional (UDN) –, quando Jango seria vice embora tivesse concorrido em outro partido, o que era então possível porque as eleições para presidente e vice eram dissociadas. Finalmente, então, Jânio renuncia em sete meses de governo após assumir o cargo e Jango e o PTB, formalmente, chegariam ao poder. O nacionaldesenvolvimentismo e o trabalhismo, segundo o modelo preconizado por Vargas, mostravam-se mais vivos do que nunca. Contudo, Jango só assumiu em setembro de 1961, após intensa luta travada pelo então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, seu cunhado. Brizola, segundo Barreto:

“montou e dirigiu a “Cadeia da Legalidade”, uma rede de rádios espalhadas pelo país para mobilizar as forças políticas e a sociedade em defesa da posse de Jango, então contestada pelos chefes militares. [...] Apesar da relação pessoal e política que mantinha com o presidente, Brizola passava então a fazer sombra à liderança de Jango e sua posição como principal herdeiro do espólio político de Vargas. O recuo de Jango ao aceitar o parlamentarismo, com Tancredo Neves como primeiro-ministro, e sua decisão de não resistir aos golpistas de 1964, quando Brizola propunha uma resistência semelhante à de 1961, deram, então, contornos mais nítidos à 84 disputa” .

83

BARRETO, Túlio Velho. A era Vargas e seu legado. 30 de Agosto de 2012. Disponível em: . Acesso em: 03 maio 2015. 84 BARRETO, Túlio Velho. A era Vargas e seu legado. 30 de Agosto de 2012. Disponível em: . Acesso em: 09 maio 2015.

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Quando Jango morre em 1976, Brizola passa a ser o depositário natural e direto do legado político de Vargas, sobretudo do trabalhismo que, como ideário político, não resistiu ao golpe militar. Brizola tenta mais uma vez empunhar a bandeira do trabalhismo através do PTB, porém, os militares, que o detestavam e o temiam, decidiram colocar nas mãos de Ivete Vargas a bandeira do trabalhismo – sobrinha-neta do ex-presidente, além de ser muito simpática a eles. Surgiria então, o Partido dos Trabalhadores (PT), resultado das intensas lutas operárias e sindicais ocorridas a partir do final dos anos 1970, em especial a região do ABC paulista. Entretanto, o PT tinha uma peculiaridade, que o afastou do trabalhismo e de Brizola: o “novo sindicalismo” – o qual deu origem ao partido – que combatia a estrutura sindical corporativa e a legislação trabalhista intervencionista criada por Vargas. Dessa forma, Brizola tornou-se o líder do trabalhismo sem a legenda do PTB, por um lado, – pois após os militares passarem para as mãos de Ivete Vargas, Brizola cria o Partido Democrático Trabalhista (PDT) para manter o trabalhismo vivo em suas mãos – e combatido pelo mais organizado e ativo movimento sindical do país, por outro. Ademais, viu surgir um concorrente direto: Luiz Inácio (Lula) da Silva. Em 1989, com o fim da Guerra Fria, o Brasil realizou as primeiras eleições presidenciais livres após o fim do Regime Militar. Brizola era o favorito no início da campanha e teve que disputar, no campo da esquerda, com Lula uma vaga no segundo turno. Lula e o PT vencem Brizola e o PDT por uma pequena margem, porém foram derrotados por Fernando Collor de Mello no segundo turno. Ademais, segundo Barreto:

“A vitória de Collor de Mello significou também a derrota do modelo nacional-desenvolvimentista. Com efeito, o Governo Collor de Mello inaugurou um novo ciclo econômico, em que o Estado foi gradativamente perdendo relevância como ator indutor do desenvolvimento. [...] passou a ser preconizado pelos Estados Unidos, Inglaterra e importantes organismos políticos e financeiros internacionais, adotou-se o modelo, logo chamado de neoliberal, que abriu e expôs a economia brasileira ao capital e às 85 empresas estrangeiras e privatizou diversas estatais” .

85

BARRETO, Túlio Velho. A era Vargas e seu legado. 30 de Agosto de 2012. Disponível em: . Acesso em: 10 maio 2015.

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Todavia, coube a Fernando Henrique Cardoso – eleito duas vezes pela aliança PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira)-PFL (Partido da Frente Liberal) – a consolidar o modelo neoliberal, parecendo com que fizesse questão de registrar, que, de uma vez por todas, a “era Vargas” chegou ao fim. Seguido dos fatos em que, por um lado, o trabalhismo – tendo à frente Brizola – falhou: perdeu sucessivas eleições e, assim, qualquer possibilidade de tornar-se novamente hegemônico no campo da esquerda. E, com efeito, em termos eleitorais, Brizola nunca se impôs a Lula, nem o PDT, politicamente, ao PT. E, por outro lado, pela primeira vez o modelo nacional-desenvolvimentista de Vargas foi seriamente atingido por medidas que visavam superá-lo. É importante ressaltarmos que Getúlio foi um republicano nos marcos da tradição republicana do Rio Grande do Sul, ou seja, um republicanismo mesclado com elementos do positivismo e do liberal-conservadorismo. A dimensão social de seu governo, segundo Carlos Eduardo Vidigal, “se vinculava ao controle dos trabalhadores e, em um segundo momento, às reformas propostas pelo Partido Trabalhista Brasileiro”86. Com todos os seus limites, provavelmente era um caminho melhor do que os projetos políticos do Partido Social Democrático (PSD) e da União Democrática Nacional (UDN).

4.2 O MITO: PERÓN

Após renunciar o seu segundo mandato em 1955, Perón é exilado e perseguido pelo governo argentino por 18 anos e frequenta países como Paraguai, Venezuela, República Dominicana, Panamá e Espanha, de onde voltou à Argentina e assumiu sua terceira presidência em outubro de 1973, meses antes de seu falecimento, aos 78 anos. No dia 1 de julho de 1974, a Argentina de Perón amanhece com a triste notícia de seu falecimento em todos os meios de comunicação argentinos. A população argentina comove-se profundamente com seu falecimento repentino fazendo com que Perón entrasse para a história política argentina tornando seu modo de governar uma doutrina justicialista que nunca seria esquecida pelo povo argentino no decorrer dos anos e em governos posteriores. 86

VIDIGAL, Carlos Eduardo. Getúlio Vargas: sessenta anos de um legado. 22 de Agosto de 2014. Disponível em: . Acesso em: 10 maio 2015.

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A influência de Perón foi tanta, que ainda se mantém no poder o seu Partido Justicialista (PJ) – criado enquanto Perón estava no poder em 1947 – através de Cristina Kirchner eleita em 2007 até 2011 e reeleita em 2011 até 2016, portanto é a atual presidente da Argentina, tornando-se impossível falar sobre a política argentina contemporânea sem mencionar o peronismo. Após o falecimento de Perón a sociedade fica bem abalada, a vice-presidente Isabela Perón, – terceira esposa de Perón, seguinte de Evita, que conheceu durante seu exílio – conhecida como Isabelita, assume o cargo de seu falecido marido conseguindo manter sua presidência até 1976, quando foi substituída por uma junta militar fazendo com que se instalasse novamente a ditadura na Argentina. Isabelita é forçada a deixar a presidência e é assumido pelo general Jorge Videla, que permanece no cargo entre 1976 a 1981, instaurando uma cruel ditadura marcada por violações dos direitos humanos, violência política e forte perseguição aos opositores. Por um período de 13 anos, entre 1976 e 1983, a população argentina sofreu muita repressão, principalmente os simpatizantes do peronismo conhecidos como pelo Movimento Nacional Justicialista – criado a partir dos ideais de Juan Perón –, o qual era de oposição aos militares, fazendo assim com que este período fosse marcado por uma contínua disputa entre estes dois setores da sociedade argentina. Com isso, podemos analisar que com os militares no poder eles fizeram questão de encerrar qualquer ligação possível com o período peronista, e não somente politicamente falando, mas socialmente falando, utilizando o terror como meio de repressão, matando, torturando e censurando os simpatizantes de Perón. Eduardo Luis Duhalde – presidente da Argentina no período entre 2002 a 2003 – ressalta muito bem o que foi a ditadura na Argentina:

“O período ditatorial na Argentina foi cruel e sangrento, estima-se que 30 mil desaparecidos foram seqüestrados pelos militares. Muitos opositores fugiram do país para se salvar. Poucas famílias não tiveram alguém atingido de alguma forma pela repressão que se abateu sobre a nação. O país [...] foi ocupado por suas próprias forças armadas. Generais tornaram-se reitores de universidades, majores e capitães, diretores de colégios. O caos 87 tomava conta da Argentina nesse momento” .

87

DUHALDE, Roberto Luis. El Estado Terrorista Argentino. Buenos Aires: El Caballito, 1983, p.52 (tradução nossa).

52

É interessante ressaltarmos que os sequestros, torturas e assassinatos foram também cometidos contra suspeitos políticos de todas as classes e profissões. Algumas manobras foram feitas na tentativa de que a ditadura – que durou entre o período de 1976 a 1983 derivando de um golpe militar – ganhasse apoio popular; a mais polêmica delas foi a realização da Copa do Mundo em 1978, que, segundo Martin Kohan:

“[…] enquanto os olhos do mundo estavam voltados para Argentina e a conquista do título pela seleção portenha, o regime militar exterminava, torturava e matava quem se opunha ao governo do país, porém, com a “camuflagem” da Copa o regime conseguiu que boa parte do país 88 esquecesse o que estava passando para celebrar a vitória argentina” .

Posterior a Videla, em 1982, o general Leopoldo Galtieri assume a presidência e durante seu governo decide-se a questão das Ilhas Malvinas, cujo território estava sobre ocupação britânica e o resultado desta disputa terminou com a derrota da Argentina, acabando também, com a terrível ditadura militar. É neste momento, em 1983, que temos a redemocratização no plano político argentino, advindo da intensa e forte exigência popular. Elege-se, então, Raúl Alfonsin – advogado e político –, cujo governo se caracterizou não somente pelo retorno da democracia como também ao rápido julgamento dos militares envolvidos nos crimes durante a ditadura. Além dos empréstimos internacionais, porém não controlou a inflação – que cresceu muito em 1989. Alfonsin deixa o cargo cinco meses antes de seu mandato terminar, o qual nos traz Carlos Menem assumindo em seu lugar. Entretanto, para a surpresa de todos, quando Menem é eleito presidente sua bandeira peronista é deixada de lado em troca da economia. O período de Menem baseia-se num grande paradoxo: “uma economia dinâmica e ao mesmo tempo vulnerável às "intempéries" do capitalismo mundial por um lado, e o empobrecimento massivo da população, por outro”89. Caracteriza-se seu período como neoliberal, pois Carlos Menem realizou um amplo programa de privatizações que foi colocado em prática no seu primeiro mandato. Importante destacar que, diversos setores foram repassados ao setor privado, sendo nacionais ou internacionais.

88

KOHAN, Martin. Duas Vezes Junho. São Paulo: Editora Amauta, 2005, p.237. PENNAFORTE, Charles. Era Menem: O legado neoliberal. 17 de Fevereiro de 2006 Disponível em: . Acesso em: 16 maio 2015. 89

53

A base fundamental do plano econômico foi a paridade entre o peso e o dólar, a chamada dolarização ou âncora cambial. Com a dolarização, o peso ganhava credibilidade e ao mesmo tempo tinha início um amplo programa de cortes nos gastos estatais. Na prática, o plano fez cair à taxa de inflação, contudo, consequentemente trouxe vários efeitos colaterais, dentre eles, o desemprego. Com a economia sob controle e o medo dos argentinos com a volta da inflação, apesar da deterioração social, o apoio ao governo era consideravelmente grande. Tal apoio foi confirmado pelas eleições parlamentares de 1993, seu partido foi o grande vitorioso. Porém, pela Constituição era impossível sua reeleição, mas através de acordos políticos, Menem conseguiu alterá-la e concorreu à reeleição. O que nos leva ao ano de 1995, quando é reeleito para permanecer até o fim de 1990. A sua política se mantém ilibada apesar do quadro social piorar assustadoramente. No campo econômico, a Argentina perde a sua competitividade, pois com a abertura dos mercados para o estrangeiro, as empresas argentinas não conseguem produzir com preços competitivos, e assim, foram fechando suas portas e aumentando a taxa de desemprego. Podemos analisar que, pela nova ótica econômica, o Estado não deveria socorrer nenhuma indústria e muito menos proteger empregos. No campo social, a classe média sofre muito por perder seu poder de compra, além de arcar com o aumento substancial das tarifas públicas – luz, telefone, água, etc. –, agora privatizadas. Ademais, da concentração de renda que sofreu um considerável aumento durante seu governo. Ao deixar o poder, Menem foi questionado sobre sua herança política e econômica para o país e, segundo ele, deixava o país mais “moderno e dinâmico”, devido ao fato de que aumentou o PIB argentino, aumentou das reservas internacionais e aumentou a renda das elites. Em 2002, Eduardo Duhalde – advogado e membro do Partido Justicialista assume o cargo presidencial argentino num momento de caos econômico e social no país. Acaba com a paridade entre o peso e o dólar criada por Menem – a qual alimentava a inflação e, por conseguinte, a insatisfação geral –, a economia começou a dar resultados positivos devido a esta ação e, consequentemente, a inflação começa a cair. E ainda, desenvolveu diversos projetos de cunho social para amenizar o enorme índice de desemprego. Segundo Roberto Bacman, quem “representa mais fielmente o componente feudal do justicialismo é Eduardo

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Duhalde”90. Em seu breve período no cargo, Duhalde conseguiu estabilizar os distúrbios e, sob forte pressão política, convocou eleições especiais, nas quais foi eleito o tão famoso Néstor Kirchner. Kirchner assumiu em 25 de março de 2003 o cargo de presidente da Argentina. Iniciou a campanha numa posição desfavorável, pois as pesquisas de intenção de voto indicavam que ele estava atrás dos outros peronistas. Entretanto, a popularidade de Néstor Kirchner começou a crescer devido a um programa de perfil Social-Democrata, prometendo prioridade para a produção, a justiça, a educação, o trabalho, a igualdade, e a saúde. O período de 2003 a 2007 foi uma fase de grande progresso na economia da Argentina. O desempenho produtivo foi impulsionado pela melhoria contínua que apresentou gastos domésticos privados – consumo e investimento – e das exportações. A geração de trabalho foi outra característica do governo, a taxa de desemprego estava caindo ininterruptamente. O poder de compra aumentou em um grande número de produtos e serviços, e etc. Além, também, de reunificar o Partido Justicialista, que enfrentava uma crise interna. Seus adversários o acusavam de autoritarismo, e o mercado financeiro via com desconfiança as políticas econômicas de Kirchner, que também eram seguidas pela administração de sua mulher, Cristina Kirchner. Néstor vem a falecer em 27 de outubro de 2010 vítima de uma parada cardíaca, tornando sua esposa, Cristina Kirchner, sua sucessora para o cargo presidencial na Argentina. Néstor Kirchner permaneceu fiel ao Partido Justicialista, instaurando ações de cunho peronistas e mantendo a bandeira da justiça social bem erguida. Porém, segundo Norberto Ferreras, “com a morte de Perón ficou mais evidente a existência de correntes conflitantes no interior do peronismo, mas alguns de seus valores continuam vigentes”91. O que podemos entender disto é, assim como, Perón juntou pessoas com ideologias muito divergentes, hoje o justicialismo

90

BACMAN, Roberto apud DI BELLO, Hernán. Peronismo em crise após 30 anos da morte de seu líder. 30 de Junho de 2004. Disponível em: . Acesso em: 17 maio 2015. 91 FERRERAS, Norberto apud SANCHEZ, Giovana. Líder habilidoso, Perón deixou 'legado eterno' na política argentina. 27 de Junho de 2009. Disponível em: .

Acesso em: 17 maio 2015.

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não conta com a forte liderança a que está acostumado e se divide entre vários modelos diferentes sem um rumo claro.

4.3 A HERANÇA POPULISTA?

Após ambos os países, Brasil e Argentina, passarem por períodos conturbados das ditaduras militares, e logo em seguida instala-se o conceito neoliberal em ambos os governos, indaga-se sobre os papéis políticos posteriores aos governos de FHC e Néstor Kirchner com Lula do PT, e Cristina do PJ. O importante desta indagação é o fato de analisarmos qual é o conceito nacionalista que Lula e Cristina utilizam em seus governos. É evidente que temos o retorno do populismo através destes dois governos, porém, o que nos cabe analisar é o fato se essa herança populista, o qual seria varguista e peronista, corresponde aos governos de Lula e Kirchner. Há quem diga que enfrentamos atualmente uma situação política nacionalista apartidária, que não se detém de corrente filosófica política alguma. Pensamento este, originado por Hélio Jaguaribe em sua seguinte afirmação:

“São nacionalistas, no Brasil, correntes de extrema direita, ligadas, no passado, aos movimentos de propensão fascista, e correntes de extrema esquerda, como o Partido Comunista. São nacionalistas os defensores da 92 socialização dos meios de produção e os partidários da iniciativa privada" .

Ambos os períodos de Vargas e Lula foram de intensa inclusão social – apesar de serem de ideologias políticas distintas. No período Vargas teve-se a inclusão das novas classes trabalhadoras, em polos industriais localizados e, em parte, na zona rural nordestina, em torno de sindicatos e organizações de camponeses; no período Lula, foi de forma disseminada pelo país. Vargas e Lula consolidaram projetos nacional-populares, a oposição ficou ancorada em dois discursos: a anticorrupção e um inacreditável anticomunismo, mesmo após o fim do comunismo. Havia uma lógica econômica e outra política por trás das ações de Getúlio e Lula. A econômica, de modernização do capitalismo brasileiro, através do fortalecimento do mercado de consumo interno e da parceria com grandes grupos 92

JAGUARIBE, Hélio. O Nacionalismo na atualidade brasileira. Brasília: FUNAG, 2013, p.18.

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nacionais. Do lado político, a consolidação eleitoral massacrante, com as novas classes aderindo em massa ao líder que lhes abriu espaço. Historicamente, segundo Luis Nassif, “a política econômica brasileira movimentou-se pendularmente entre períodos de liberalização financeira (Campos Salles, Dutra, Castelo Branco, FHC) e períodos em que se buscavam projetos nacionais (Vargas, JK, Geisel, e, agora, Dilma)”93. Vargas e Lula tinham projetos nacionalistas que pretenderam incorporar o capital nacional, sem rompimentos drásticos e trataram o capital externo sem xenofobia. Podemos analisar que quando o PT chega ao poder em 2003, tinha um projeto político de governo focado em combater a fome e a distribuição de renda, entretanto, sem um projeto claro de país. Contudo, quando a atual presidente Dilma Rousseff, ingressou na Casa Civil e passou a influenciar os rumos do país, o projeto trabalhista de Vargas e Goulart é resgatado – claro, que num contexto historicamente diferente. Portanto, cabe lembrar a tentativa de criar uma estatal do Pré-Sal, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o programa “Luz para Todos” e “Minha Casa Minha Vida”, entre outros. Por sua vez, segundo Claudio Gonçalves Couto, salienta que:

“o governo de Lula representou um ponto de inflexão nas relações entre as classes sociais no Brasil, tanto no que diz respeito às consequências da luta política mais ampla para a ocupação de posições de poder, como no que concerne a uma mudança no regime de políticas públicas atinentes aos setores mais pobres da população. Em ambos os casos houve uma nada desprezível mudança de padrões, incorporando novas elites às altas posições da burocracia de Estado, num caso, e implementando políticas que lograram um expressivo declínio das taxas de desigualdade e pobreza, 94 no outro” .

Portanto, o que podemos analisar é que as mudanças foram muito significativas, ainda que se diferencie o governo Lula do governo Vargas, é notável como Lula “recria”, abre espaços para sua afirmação política e ideológica, de forma muito semelhante a Vargas. Embora em Lula, segundo Carlos Luis Bresser-Pereira, “haja um distributivismo menor do que em Vargas e seu nacionalismo seja menos 93

NASSIF, Luis. Os paralelos entre Vargas e Lula. 1 de Julho de 2013. Disponível em: . Acesso em: 17 maio 2015. 94 COUTO, Claudio Gonçalves apud BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Nacionalismo e novo desenvolvimentismo. 27 de Agosto de 2013. Disponível em: . Acesso em: 17 maio 2015.

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acentuado, nos dois a nação, o desenvolvimento, e a aliança de empresários industriais com a burocracia pública e os trabalhadores tem papel igualmente importante”95. Na Argentina, temos situações diferentes, aonde Cristina Kirchner chega ao poder executivo, devido ao falecimento de seu marido, Néstor Kirchner. Segundo Andre Araujo:

“Se o marido estivesse vivo seria ele o candidato a Presidente e não ela. Mais ainda, Cristina Kirchner era travada pelo marido que controlava todos os acordos políticos. Sem o marido, o poder de Cristina fica imensamente maior e mais firme, o seu poder incontestado e não dividido, agora todos 96 tem certeza de quem manda, com Néstor vivo isso não acontecia” .

Cristina tinha um reconhecimento a nível nacional muito maior de que seu marido. Porém, Cristina é muito criticada em relação às suas atitudes como presidente, pois seu marido, apesar de que teve um discurso sempre agressivo, era mais equilibrado que a esposa e temperava sua personalidade complicada. Néstor era mais propenso a acordos do que Cristina, que conforme suas atitudes parece que vive para o confronto. É interessante notar que Cristina mantém um luto referente ao marido em eventos oficiais. Luis Alberto Romero alega que:

“O luto funcionou bem nos primeiros dias entre a morte de Néstor e a eleição dela. O mesmo vale para as alusões que Cristina faz ao marido nos discursos, como “ele me guia”, “ele me ajuda”. Tudo isso certamente a ajudou a construir um “discurso”, uma tentativa de se criar um mito. Mas tenho a impressão de que já deixou de impressionar, porque ela agora faz coisas e toma decisões completamente distintas da administração de 97 Néstor. Ela está muito distante da própria herança” .

Em 2008 durante o conflito com os produtores agrícolas, a presidente Cristina adotou o discurso de que o povo – se incluindo dentro da classe trabalhadora; do 95

BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Nacionalismo e novo desenvolvimentismo. 27 de Agosto de 2013. Disponível em: . Acesso em: 17 maio 2015. 96

ARAUJO, Andre. A Argentina de Cristina e o Peronismo. 25 de Outubro de 2011. Disponível em: . Acesso em: 17 maio 2015. 97 ROMERO, Luis Alberto apud CRUZ, Christian Carvalho. Nacionalismo no DNA. 21 de Abril de 2012. Disponível em: . Acesso em: 17 maio 2015.

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povo trabalhador – estava de um lado e do outro estava à oligarquia, a qual encheria os bolsos e levaria o dinheiro para fora do país. É interessante notar esse sentimento nacionalista de que Cristina tenta recuperar da população argentina, o qual Perón tinha o domínio em ambos de seus governos. A presidente vem mostrando ultimamente uma grande necessidade de reaver o sentimento nacionalista dos argentinos, como por exemplo, a intenção de nacionalizar a YPF, da empresa petrolífera espanhola Repsol. Com esta atitude, o que parece estar sendo deixado para trás, segundo Joana Kary, é o fato de que “mesmo tendo este sentimento nacionalista reconquistado, essas ações e medidas podem acabar danificando a economia e a estabilidade do país”98. Ao longo dos anos posteriores a Perón, o Partido Justicialista sofreu muitas mudanças devido às sucessões presidenciais. Atualmente, com Cristina no poder, não é possível igualar sua política de governo com a de Perón, pois a Argentina é famosa por ser considerada como uma política de altos e baixos, um país instável politicamente falando, devido a governantes como Menem, que abaixou a bandeira justicialista do partido decepcionando os ideais iniciais idealizados por Perón. Porém, o que podemos afirmar do governo peronista de Cristina é que, segundo Romero, “[...] as categorias “direita” e “esquerda” não são muito úteis hoje, pois estão carregadas de sentidos diferentes de sua origem. Porém, e isso é clássico na América Latina, o populismo trata de se colocar acima dessas dicotomias”99. Romero ainda acrescenta que, Cristina ser populista é pouco:

“Ela é peronista, da variante do segundo peronismo, que se caracteriza, entre outras coisas, por utilizar o poder do povo para conseguir novos ricos – de maneira legítima e não sub-reptícia. [...] esse peronismo, nas suas práticas e palavras, passou a ocupar os dois polos do discurso populista. São igualmente valiosos um povo alimentado por clientelismo e uma oligarquia formada por “amigos do poder”, generosa com os recursos do Estado. O mais assustador é que, apesar dessa ambigüidade, seus enunciadores atuais conseguem conservar a tensão entre os dois polos e 100 manter aceso o conflito irredutível que é a chave do seu êxito” .

98

KARY, Joana. O Nacionalismo Argentino e a Estatização da YPF. 18 de Setembro de 2014. Disponível em: . Acesso em 17 maio 2015. 99 ROMERO, Luis Alberto apud CRUZ, Christian Carvalho. Nacionalismo no DNA. 21 de Abril de 2012. Disponível em: . Acesso em: 17 maio 2015. 100 ROMERO, Luis Alberto apud CRUZ, Christian Carvalho. Nacionalismo no DNA. 21 de Abril de 2012. Disponível em: . Acesso em: 17 maio 2015.

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Entretanto, com a chegada do fim de seu mandato no próximo ano de 2016, Cristina encerra seu período como presidente da Argentina com uma margem considerada boa – em comparação aos governos anteriores com a instalação da democracia que sofreram forte rejeição do povo argentino – de aceitação de seu governo. Houve melhorias significativas em relação aos termos de emprego, salário e nível de produção, criou uma certa discrepância entre a visão da economia argentina, cuja previsão é de um período difícil e de crescente inconsistência da política econômica pela frente.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O controle social exercido nos governos de Getúlio Vargas e Juan Perón ocorreu graças ao domínio dos meios de comunicação utilizados na época. Claro, que não foram somente os meios de comunicação, mas definiríamos como o principal caminho em que ambos os governantes utilizaram para que conseguissem o apoio da massa popular em seus regimes. Por serem governos populistas, Vargas e Perón utilizaram o sentimento, a persuasão, a manipulação para atingirem o nível exato da conquista popular. Aproximaram-se do povo através de mudanças nas leis trabalhistas – onde se encontra o ponto crucial de ambos os governos –, desenvolveram seus países economicamente e socialmente, trazendo o discurso da industrialização aos seus países; além também do nacionalismo exacerbado reforçado sempre por ambos os governantes. O governo de Vargas trabalhou sua propaganda baseada no sentimentalismo e o simbolismo expressado através de sua figura patriarcal sob a população brasileira. Vargas agradou ambos os pobres e os ricos, levando a sua famosa definição de “pai dos pobres e mãe dos ricos”, devido ao fato de ter criado a CLT, em favor dos pobres, criou os sindicatos para que conseguisse manter um controle sobre a classe trabalhista, a fim de intervir, quando fosse necessário, a favor das classes empregadoras a seu favor, o definindo em consequência disto, como a mãe dos ricos. Todo esse controle que Vargas exerceu na sociedade brasileira, foi fundamental para a manutenção de seu governo. Getúlio procurou, desde o início, controlar os meios de comunicação e a propaganda oficial criando o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), o qual coordenava a propaganda oficial e exercia controle sobre todos os meios de comunicação. É impossível falar de Vargas e não citarmos o DIP, que teve papel excepcional no governo de Vargas, e acreditamos que o presidente enfrentaria um governo completamente diferente sem o DIP. Foi através das estratégias desenvolvidas pelo DIP que Getúlio Vargas aproximou-se, mesmo que simbolicamente, de toda a população brasileira. A instituição divulgava as propagandas nacionalistas e ufanistas, além de censurar a imprensa oposicionista. Com o desenvolvimento dos meios de comunicação, além de não ter sido fundamental como foi para Péron, o rádio em Vargas, se tornou o

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meio mais acessível de se chegar à população, graças ao seu alcance geográfico, o radio levava os ideais governistas a todo o país, gerando a ideia de proximidade entre o Presidente e toda a população. Assim como um bom populismo latino-americano e de regimes totalitários, a propaganda visava atingir o emocional da população, estratégia, esta, dirigida às massas com pouco senso crítico, despertando, assim, sentimentos como amor, ódio e medo. Através dela, a massa passa a comportar-se também de forma irracional e passiva em relação ao governo. Assim, Getúlio Vargas, não era avaliado através de um senso crítico, mas sim, através dos sentimentos, excluindo qualquer tipo de contestação e transformando-o em um “salvador da pátria”. Com seu suicídio, Vargas se torna o herói que tanto esperava ser para a sociedade. Faz questão de mostrar – segundo sua carta-testamento – que o ato tomado foi executado através de uma causa maior: pelo povo. Essa magia que se encontra em torno de seu suicídio nos mostra como Vargas se coloca diante do povo, e expressando sua decepção e humilhação referente aos que eram contra seu governo. Simbolicamente falando, naquela época morrer por uma causa era considerado como um dos atos mais simbólicos de fidelidade à ideologia e ao comprometimento com o povo, no caso de Getúlio. Com isso, Vargas se consolida e conforme suas palavras na carta-testamento, sai da vida para entrar na história. Diferentemente na Argentina, Perón tinha Evita Perón, sua amada esposa que participou como ninguém da propaganda política peronista. Perón, além de usufruir dos meios de comunicação, assim como Vargas, utilizou muito a influência que Evita tinha sobre a massa operária. É isso que torna em Perón o diferencial da propaganda varguista. Vargas era sozinho, apenas ele era o salvador da pátria, ele era o pai e ao mesmo tempo a mãe. Perón era o pai e Evita a mãe, a Argentina possuía dois governantes. Tanto que após a morte de Evita, a popularidade de Perón cai significamente a ponto de ser retirado do poder. Para alguns Evita nasceu de Perón, mas na verdade acreditamos que, o peronismo nasceu de Evita. Todavia, o povo argentino também amava Perón. Perón utilizou – e muito – da força do radio. Muito mais que Vargas, até porque na época do governo de Vargas o radio estava começando a se tornar um dos maiores veículos de propaganda, e no governo de Perón, sendo em 1945, é onde o radio atinge seu auge dentre os meios de comunicação.

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Perón utiliza igualmente, do sentimento, da persuasão e manipulação que Vargas usava. Porém Perón foi muito mais “caloroso” com a população argentina quando se refere a sua propaganda política. Vargas era discreto em relação aos sentimentos, Perón era mais intenso, até porque tinha sua amada Evita ao seu lado para dignificar suas palavras e ações. Em ambos os governos podemos analisar a similaridade da luta pela classe trabalhista, a tentativa de trazer a industrialização e modernidade ao povo, a luta pelo nacionalismo.O carisma dos dois governantes para com a sociedade e o efeito que causaram sob a mesma, a influência que mantém até os dias de hoje influenciando governantes em seus cargos presidenciais. No Brasil tivemos Lula, do PT e na Argentina temos Cristina Kirchner, do PJ. Ambos com características populistas – não totais, porém algumas significativas – dos períodos varguista e peronista. É importante notarmos como Lula, durante seu governo, favoreceu a classe baixa, trabalhando em projetos nacionais e sociais, melhorando a situação de pobreza em que se encontravam – e ainda se encontram, porém numa parcela menor – a classe baixa brasileira. As políticas tanto internacionais, como sociais e econômicas, foram os pontos fortes no governo Lula, políticas estas, advindas do populismo de Vargas. Igualmente podemos falar de Cristina na Argentina. É notável que em seu período de governo, Cristina quis trazer o sentimento nacional do povo argentino, igualmente foi feito na era Perón. Porém, os tempos são outros, vivemos em um contexto diferente do pós-Segunda Guerra Mundial. Cristina se encontra em um difícil objetivo em querer retomar o sentimento nacionalista argentino, fortalecer a economia e o mercado argentino e unir a população como foi feito em Perón. É ainda curioso notar, como Cristina utiliza a imagem de Evita em seus discursos, talvez querendo se comparar à santa Evita de Perón, ou apenas, em querer mostrar que está ao lado da classe trabalhista assim como Evita estava. Esta indagação pode ser estudada, talvez, futuramente por um trabalho mais aprofundado em torno desse significado simbólico de que Cristina usufrui do peronismo em seu governo. Ademais, o que podemos concluir para este trabalho, além de tudo já abordado, é a indagação que deixamos de que, apesar de ambos os governos terem

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algumas características populistas de seus antecessores, será que podemos classificá-los como uma herança populista?

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