O Cordel e as Políticas Públicas de Fomento da Economia Criativa em Natal/RN: A Experiência Empreendedora da Casa do Cordel em Natal/RN.

June 3, 2017 | Autor: C. Rn | Categoria: Cultural Studies, Políticas Públicas, Economia Criativa
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE-UFRN CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES-CCHLA DEPARTAMENTO POLÍTICAS PÚBLICAS

HÉLIO GOMES SOARES

O CORDEL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE FOMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA EM NATAL/RN: A Experiência Empreendedora da Casa do Cordel em Natal/RN.

.

Natal RN 2015

HÉLIO GOMES SOARES

O CORDEL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE FOMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA EM NATAL/RN: A Experiência Empreendedora da Casa do Cordel em Natal/RN.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso Superior de Bacharelado em Gestão de Políticas Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em cumprimento às exigências legais como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Gestão de Políticas Públicas. Orientador: Prof. Dr. Fernando Manuel Rocha da Cruz

Natal RN 2015

HÉLIO GOMES SOARES

O CORDEL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE FOMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA EM NATAL/RN: A Experiência Empreendedora da Casa do Cordel em Natal/RN.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso Superior de Bacharelado em Gestão de Políticas Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em cumprimento às exigências legais como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Gestão de Políticas Públicas.

Natal, 08 de dezembro de 2015.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________ Professor Doutor Fernando Manuel Rocha da Cruz (Orientador – UFRN/CCSA/DPU)

____________________________________________ Doutora Sara Raquel Fernandes Queiroz de Medeiros (Examinadora Interna – UFRN)

____________________________________________ Professora Doutora Lisabete Coradini (Examinadora Interna – DAN/UFRN)

Aos poetas cordelistas Que trabalham honestamente Construindo a nossa luta Para um mundo diferente Sem exclusão, sem preconceitos Com política mais decente

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus primeiro E o apoio recebido Da família com quem lido Todo o dia o tempo inteiro Aos amigos companheiros Os poetas cordelistas Que fizeram as entrevistas Mando a minha gratidão E ao gestor da Fundação Também boto nesta lista

Um agradecimento especial ao meu professor orientador, Fernando Cruz, pela paciência, colaboração e valiosas orientações.

“Repare que a minha vida É diferente da sua A sua rima polida Nasceu no salão da rua Já eu sou bem diferente Meu verso é como semente Que nasce em riba do chão Não tenho estudo nem arte A minha rima faz parte Das obras da criação”

(PATATIVA DO ASSARÉ)

RESUMO

A economia criativa se estabelece oficialmente no Brasil a partir da criação da Secretaria da Economia Criativa – órgão do Ministério da Cultura – , no ano de 2012. O termo fora forjado com a publicação da obra The Creative Economy, do britânico John Howkins. Com a definição do escopo dos setores criativos, se enquadraram diversas atividades culturais, artísticas e funcionais. Nestas se encontra o cordel, que em Natal/RN se estabelece como empreendimento de fins lucrativos, através da Casa do Cordel, constituindo assim uma verdadeira cadeia produtiva. Nesse contexto, importa ao presente trabalho investigar as políticas públicas de fomento da economia criativa, a partir da experiência do referido mercado, com objetivos de compreender conceitos, identificar as atividades desenvolvidas na Casa, bem como seus benefícios para a cultura local e formular algumas criticas às leis de incentivo à cultura. A metodologia se constituiu como pesquisa qualitativa, pelo que se recorreu à observação e à aplicação de entrevistas. Finalmente, obteve-se como um dos principais resultados a distorção entre as políticas públicas de cultura adotada pelo Estado, quando se constata que o próprio Poder local também se apresenta como concorrente nesse mercado, ao invés de parceiro e fomentador do mercado cultural de Natal/RN.

Palavras-chave: Cordel. Cultura. Economia Criativa. Gestão de Políticas Públicas.

ABSTRACT

The creative economy was officially founded in Brazil since the creation of the Creative Economy Secretariat – Ministry of Culture agency – in 2012. This term was established with the publication of the book “The Creative Economy”, John Howkins. With the definition scope of the creative industries, various cultural, artistic and functional activities fall into, in which cordel is found. In Natal/RN cordel is established as an profit enterprise, through Casa do Cordel, thereby creating a true productive chain. In this context, it is important to investigate public policies that encourage the creative economy, from the market referred experience, with aims to understand concepts, identify the activities held in Casa do Cordel as well as its benefits for the local culture, and state some criticism to the laws to encourage culture. The methodology was consisted of qualitative research, which was resorted to observation and application of interviews. Finally, was obtained as one of the main results, the distortion between public political culture adopted by the state when it turns out that the very local authority is also presented as a competitor in this market, rather than partner and developer of the cutural market in Natal/RN.

Keywords: Cordel. Culture. Creative Economy. Management of Public Policy.

LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Setores Criativos ..................................................................................... 20 Figura 2 – Atividade com o cordel na Escola Mareci Gomes ....................................22 Figura 3 – Espaço da cadeia produtiva do cordel .....................................................23 Figura 4 – Vereadora Amanda Gurgel com os cordelistas na Funcarte ...................25 Figura 5 – Mapa da locaçlização da Casa do Cordel ...............................................26 Figura 6 – Vista Geraldo interior da Casa do Cordel ................................................27 Figura 7 – Fachada da Casa do Cordel ....................................................................29 Figura 8 – Vista da rua em que se localiza a Casa do Cordel ..................................29 Figura 9 – Posse da primeira diretoria da ANLIC .....................................................30 Figura 10 – Vista do interior da nova sede da Casa do Cordel .................................31 Figura11 – Cordéis ....................................................................................................32 Figura 12 – Instrumentos musicais ...........................................................................32 Figura 13 – Quadros, esculturas e adereços folclóricos ...........................................32 Figura 14 – Artesanatos ...........................................................................................32 Figura 15 – Atividades com alunos de uma escola pública ......................................33 Figuras 16 e 17 Exemplos de parcerias ....................................................................35 Figura 18 – Poeta Hegos, recebe comenda da Câmara Municipal de Natal.............36 Figura 19 – Abaeté do Cordel, homenageado pela Câmara Municipal de Natal ....37 Figura 20 – Feira de cordel .......................................................................................40 Figura 21 – Cordelistas e artistas em atividades numa escola pública ....................41 Figura 22 – Oficina de cordel para crianças ..............................................................42 Figura 23 – Título de Cidadão Natalense ..................................................................44 Figura 24 – Presença da Ver. Amanda Gurgel na Casa do Cordel ..........................45 Figura 25 – Apresentação de um grupo cultural na Casa do Cordel ........................47 Figura 26 – Cordel na Praça .....................................................................................48 Figura 27 – Participação conjunta das entidades .....................................................49

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................12

2. ECONOMIA CRIATIVA ...................................................................................16 2.1 Principais Conceitos .................................................................................16 2.2 O Setor Cultural do Cordel e suas potencialidades ..................................21 3. A CASA DO CORDEL ....................................................................................26 3.1 Contexto Histórico e Caracterização Sociodemográfica ..........................26 3.2 A Experiência Empreendedora da Casa do Cordel e as Políticas Públicas de Fomento a Cultura ...............................................................................38 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................50

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................................53 6. APÊNDICES ..................................................................................................55

1.

INTRODUÇÃO

A história da civilização tem mostrado diferentes formas de cultura na organização da vida social, nos processos de constituição e consolidação do poder, nos mecanismos de produção e apropriação dos bens – materiais ou de valor simbólico – através das diversas formas de pensar, sentir e agir do homem. Na contemporaneidade, com o desenvolvimento dos meios de comunicação de massa voltados para o ritmo de vida agitada e consumista, alguns hábitos culturais perderam seu vigor no cotidiano, tornando-se memória, mas nem por isso menos importantes. Daí porque certas expressões do saber popular ainda resistem às mudanças imposta pela nova era, constituindo um verdadeiro oásis de prazer e tradições, portanto, de valor simbólico capaz de, por exemplo, movimentar a economia de uma determinada localidade. O cordel e seu universo de expressões da cultura popular, constituem demandas em potencial de políticas públicas, uma vez que são atividades que ocupam e aglomeram pessoas, têm valor simbólico, expressam as tradições do povo, estão presentes nos hábitos e costumes sociais – especialmente no Nordeste brasileiro – e dessa forma, se apresentam como integrantes de redes empreendedoras e geradoras de renda. Tais pressupostos despertaram o interesse do autor do presente trabalho, em investigar esse campo empreendedor, a partir das experiências da Casa do Cordel em Natal/RN. Nesse contexto, e para constituir uma linha de pesquisa metodológica para o estudo de caso, tornou-se imperativo inicialmente elaborar a seguinte pergunta de partida: Como o cordel contribui para a formação de rede produtiva, promovendo a ocupação, geração de renda e o desenvolvimento cultural da Cidade do Natal/RN? Posto o desafio e apontada a preocupação metodológica, partiu-se para o desenvolvimento do trabalho. Como

justificativa,

foram

elencados

alguns

fatores

favoráveis

ao

empreendimento, envolvendo o cordel e suas potencialidades e relevâncias para o desenvolvimento de políticas públicas de cultura, e com isso fomentar a economia criativa da cidade do Natal/RN. Nesse sentido, os atrativos naturais e culturais da referida localidade potencializam investimentos nessa área, uma vez que, havendo 12

oportunidades geradas pelas políticas em debate, movimentariam as atividades turísticas e sua rede produtiva. A existência de pequenos empreendedores no mercado do cordel em Natal/RN é, de fato, o exemplo maior do potencial econômico, criativo e cultural desse gênero literário, sendo esse outro fator que justifica o incremento de políticas culturais mais efetivas para a cidade. E um desses empreendimentos é a Casa do Cordel, localizada no Centro de Natal/RN, cujas atividades são mantidas com recursos próprios. Como outra justificativa, o cordel vai além de ser um simples gênero literário. Como produto criativo, sua demanda decorre da utilidade nas atividades pedagógicas e escolares, na comunicação social, na divulgação de negócios e campanhas políticas, na informação de campanhas educativas e de saúde, nas dinâmicas de grupo, entres outros usos. Propicia o lúdico e é aceitável pelo público em geral, independentemente da classe social, gênero e faixa etária. E uma quarta justificativa, pode-se afirmar que no caso particular da Casa do Cordel, sendo um espaço de referência dessa cultura, tem sido ponto estratégico de eventos, encontros e debates, e assim proporcionado a aproximação dos poetas cordelistas, artistas do meio e produtores de eventos, com assessores, parlamentares e gestores públicos das três esferas de governo. Em outras palavras, essa proximidade pode constituir um meio facilitador para a formação de agenda de governo, ou seja, a constituição de uma política pública de cultura efetivamente inclusiva. Em se tratando do objetivo geral, o trabalho pretende analisar o ciclo econômico do cordel enquanto produto criativo, bem como sua importância para a cultura da cidade do Natal/RN, a partir das experiências empreendedoras da Casa do Cordel. Daí, o trabalho se desdobra para também alcançar os objetivos específicos, quais sejam, compreender conceitualmente as Políticas Públicas de fomento da Economia Criativa; levantar as atividades da Casa do Cordel, tendo em conta o ciclo econômico; conhecer a história da constituição da Casa do Cordel em Natal/RN, desde a sua fundação aos dias atuais; Identificar as dificuldades e as oportunidades geradas com as experiências empreendedoras da Casa do Cordel em Natal/RN; Identificar os benefícios promovidos pela Casa do Cordel, para a cultura da cidade, estabelecendo uma relação com as proposituras das políticas públicas 13

afins; e proceder uma análise crítica das Políticas Públicas de fomento da Economia Criativa na cidade do Natal/RN. A metodologia utilizada se constituiu basicamente de revisão/consulta bibliográfica, observação in locu e de pesquisa de campo, com a elaboração e aplicação de entrevistas. O roteiro das entrevistas seguiu uma sequência de perguntas abertas de modo padrão, sendo aplicada a quatro entrevistados qualificados, isto é, representantes institucionais e do movimento cultural em apreço. O delineamento da pesquisa em que resultou a escolha de quatro entrevistados se deu pelo fato do critério qualitativo, onde se espera que as informações sejam substanciais, em termos de clareza e precisão, cuja interpretação respalde a realidade mais provável possível. Dessa forma, foram previamente selecionados o proprietário da Casa do Cordel, por ser ele o principal responsável pelo empreendimento, objeto-alvo deste trabalho; outro integrante dessa rede de negócio e do movimento cordelista, é o presidente da Academia Norte-RioGrandense de Literatura de Cordel, também selecionado para entrevista; um ativista político-partidário vinculado a um mandato parlamentar

do legislativo municipal,

defensor da cultura cordelista, bem como integrante da Diretoria da Associação Cultural Casa do Cordel, além de manter o intercâmbio da Casa com a Editora Luzeiro, da Capital Paulista; e por último, o quarto entrevistado, sendo este um gestor público, qual seja, o atual presidente da Fundação José Augusto, órgão responsável pela política cultural do estado do Rio Grande do Norte. Quanto à observação in locu, considera-se oportuno para o engrandecimento das informações e a precisão da pesquisa, as experiências do autor do presente trabalho, enquanto escritor de cordel, produtor de eventos afins, um dos fundadores e atual vice-presidente da Associação Cultural Casa do Cordel, um dos fundadores da Academia Norte-Rio-Grandense de Literatura de Cordel, na qual também tomou posse como vice-presidente, enfim, integrante do movimento cordelista em Natal/RN. A pesquisa ainda cuida de um estudo de caso, e como tal, conforme as palavras de Yin, citado por Roesch (1999): “O estudo de caso, de acordo com Yin(1981), é uma estratégia de pesquisa que busca examinar um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto. Difere, pois, dos

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delineamentos experimentais no sentido de que estes deliberadamente divorciam o fenômeno em estudo de seu contexto. Igualmente, estudos de caso diferem do método histórico, por se referirem ao presente e não ao passado.”

O referido autor ainda acrescenta que tanto se pode trabalhar o estudo de caso com evidências quantitativas como qualitativas, portanto, não se trata de confundir o estudo como método qualitativo, visto que não requer necessariamente um modo único de coleta de dados. Em resumo, a estrutura do trabalho se desdobrou em uma introdução, dois capítulos e as considerações finais, além dos elementos pré e pós textuais. Na introdução, como se viu acima, fala-se primordialmente da pergunta de partida, da justificativa, dos objetivos geral e específicos e da metodologia, sendo nesta realizada uma pesquisa de campo com aplicação de entrevistas. No primeiro capítulo se discorreu sobre a revisão da bibliografia, com apresentação dos principais conceitos de políticas públicas e seu vínculo, neste caso, com a economia criativa

e

a

cultura.

No

segundo

capítulo

tratou-se

da

caracterização

sociodemográfica, análise da pesquisa e apresentação dos seus resultados. Finalmente, as considerações finais fecham-se com a síntese do estudo desenvolvido, deixando em aberto sua propositura crítica para a reflexão e o posterior debate, tendo em vista contribuir para o desenvolvimento das políticas públicas de cultura para a cidade do Natal/RN.

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2. ECONOMIA CRIATIVA

O capítulo em pauta discorre em dois subtítulos: O primeiro trata-se de conceituar a economia criativa, a partir de alguns autores que escreveram obras relacionadas com a criatividade e sua vinculação mercadológica. Dentre os autores, cita-se John Howkins, o inovador e pioneiro que apresentou para o mundo dos negócios a temática em questão, com seus conceitos e classificações. O subtítulo seguinte cuida da cultura e seus setores na economia criativa, com destaque do cordel, visto aqui como elemento da cultura brasileira que tem valor de mercado, constituindo, portanto, objeto de estudo do presente trabalho.

2.1 Principais Conceitos

Em termos genéricos, o tema do trabalho em foco tem uma abordagem plural, multidisciplinar, diversificada nos campos da economia, cultura e política. Fazendo um recorte mais específicos desses campos de conhecimento, o tema comporta a economia criativa, a cultura popular e políticas públicas. Outro recorte se evidencia no trato da cultura popular, pois o que interessa ao trabalho primordialmente é a literatura de cordel como produto criativo da sabedoria do povo. De modo que o referencial teórico aqui desenvolvido vai buscar conceitos e conteúdos que se entrelaçam, com estudos que apontam novos paradigmas da economia setorial (criativa), da cultura popular, agora vista como bens de consumo, através da produção do cordel, e o consequente desdobramento de uma política púbica que se volta para atender demandas culturais. Mas antes de adentrar no campo da economia criativa, é salutar conhecer o conceito de economia como ciência maior. Nesse sentido, Howkins (2013, p. 14) define: “Economia é convencionalmente definida como um sistema para produção, troca e consumo de bens e serviços. As ciências econômicas

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geralmente lidam com o problema de como os indivíduos e as sociedades satisfazem suas necessidade (que são infinitas) com os recursos (que são finitos).”

Portanto, tratar de economia corresponde ao trato do problema de alocação de recursos escassos. Dessa maneira, Howkins procura mostrar que as ideias fluem sem o estabelecimento de limites, assim como os bens tangíveis, uma vez que a natureza de sua economia é diversificada. O mundo dos negócios passa a conhecer uma nova maneira de lidar com a economia. A inovação de produtos com agregação de recursos intangíveis, inclusão de segmentos periféricos, encadeamentos de atividades multiculturais rentáveis, novos modelos de gestão com a lógica da sustentabilidade, constituem novos paradigmas, desafios e oportunidades do empreendedorismo mundial. A informação com o advento das novas tecnologias veio acelerar esse processo de transformações, superando barreiras monopolistas que privilegiavam os negócios das multinacionais e mantinham as forças imperiosas do capital explorador e excludente. Não que as grandes empresas perderam suas forças de mercado, mas que agora presenciam o impacto de uma economia de potencialidade universal. Por outro lado, essa nova perspectiva do empreendedorismo não se contrapõe ao modelo capitalista, mas surge para atender outras necessidades e dar novas possibilidades de estabelecimento de mercado promissor, com modelos inovadores que valorizam o setor criativo e favorecem a economia colaborativa. Tais argumentos englobam o campo da economia criativa, termo cunhado a partir da publicação do livro The Creative Economy: How People Make Money from Ideas (A economia criativa: como as pessoas podem ganhar dinheiro com ideias), do britânico John Howkins. Para ele, “As pessoas com ideias – pessoas que detêm ideias – se tornam mais poderosas do que aquelas que operam com máquinas e, em muitos casos, até mais do que aquelas que possuem máquinas.” (HOWKINS, 2013, p.13). Percebe-se, nessa afirmação, a importância que Howkins atribui às ideias das pessoas, fonte de toda criatividade. É aqui que reside o ponto que faz a diferença. A criatividade é parte inerente à espécie humana, que revela nosso jeito de ser, como vemos e apresentamos para o mundo. Howkins fala que são nesses lampejos de criatividade que revelamos a nossa personalidade, e algumas poucas pessoas utilizam as imaginações criativas para forjar seu meio de vida, 17

estabelecendo negócios lucrativos. Todavia, “a criatividade não é necessariamente uma atividade econômica, mas pode se tornar caso produza uma ideia com implicações econômicas ou um produto comerciável.” (op. cit.). De modo geral, alguns autores tratam da criatividade relacionada à capacidade de inovação. Howkins (2013, p. 14), a define da seguinte forma: “Criatividade é a capacidade de gerar algo novo. Significa a produção por parte de uma ou mais pessoas, de ideias e invenções que são pessoais, originais e significativas. Ela é um talento, uma aptidão. Ela ocorrerá toda vez que uma pessoa disser, realizar ou fazer algo novo, seja no sentido de ‘algo a partir do nada’ ou no sentido de dar um novo caráter a algo já existente.”

Como se verifica nas palavras de Howkins, não necessariamente a criatividade gera o novo absoluto, a partir do nada, mas também está associada às inovações de algo preexistente. E conclui: “Estamos sendo criativos ao escrever algo, não importa se publicado ou não, ou quando inventamos algo, seja essa invenção usada ou não.” (HOWKINS,2013, p. 14). Martinez (2010, p.22) lida com a conceituação pragmática de criatividade, fazendo

referência

multidisciplinar,

envolvendo,

sobretudo,

os

campos

da

psicanálise, da psicologia e da educação. Diz que há uma criatividade individual e social, onde a primeira cuida de ajudar a superar desafios profissionais e pessoais, enquanto que a segunda “produz descoberta no campo das ideias ou das práticas que rompem padrões e melhoram a vida em sociedade.” Conclui ressaltando que a criatividade tem a ver com a originalidade de um trabalho produzido. Para Cruz (2015), o estudo da economia criativa no Brasil recebeu influência inicialmente da “Nação Criativa”, uma declaração internacional de iniciativa dos governos australiano e britânico, na década de 1990. Os primeiros conceitos de indústria criativa vinculavam-se à capacidade da criatividade gerar emprego e riquezas, através da propriedade intelectual. Vieram, portanto, outros conceitos em torno da economia criativa, compreendida por Cruz (op. cit., 2015), como “um conceito em construção [...] definida pelas atividades econômicas que têm como objeto a cultura e a arte, ou que englobam elementos culturais ou artíeticos de modo a alterar o valor do bem ou serviço prestado.” 18

Florida (2011, p.5) aborda a criatividade numa perspectiva de cultura de classe, sinalizando mudanças na economia mundial. Afirma que há uma classe criativa em ascensão, e compara o pensamento weberiano - que explica o espírito capitalista, a partir da ética protestante – à força da criatividade, quando esta gera também um “éthos criativo”: “Na economia de hoje, a criatividade é generalizada e contínua: estamos sempre revendo e aprimorando cada produto, cada processo e cada atividade imaginável, e integrando-os de novas maneiras. Além disso, a criatividade tecnológica e econômica é fomentada pela criatividade cultural e interage com ela. Esse diálogo é evidente no surgimento de novas áreas como a computação gráfica, a música digital e a animação. Max Weber há muito afirmou que a ética protestante forneceu o espírito de prosperidade, de trabalho duro e de eficiência que motivou a ascensão do capitalismo. De modo semelhante, o compromisso compartilhado para com as diversas manifestações da criatividade sustenta o novo éthos criativo que anima nossa época.” (FLORIDA,2011, p.5)

Em nossa época, com as novas tecnologias que impulsionam o consumismo, a criatividade se revela a cada momento nos produtos que são lançados ou inovados no mercado. Sejam bens tangíveis ou não, a criatividade faz diferença no processo inovador que envolve as atividades humanas. Nesse sentido, se estabelece a economia criativa, abordando um amplo campo da Inteligência humana. Sua definição “contempla as dinâmicas culturais, sociais e econômicas construídas a partir do ciclo de criação, produção, distribuição/circulação/difusão e consumo/fruição de bens e serviços...” (BRASIL, 2012). Os princípios norteadores na economia criativa brasileira passam pela diversidade cultural, inovação, inclusão social e sustentabilidade. Eis aí uma das razões de ser a economia criativa demanda de políticas públicas, e como tal, constituindo desafios, dentre os quais, a articulação e estímulo ao fomento de empreendimentos criativos. Aqui reside uma das preocupações deste trabalho, quando trata a Casa do Cordel como fomentadora de uma rede de produção de negócio e de cultura, cujo suporte financeiro não provém de planos nem programas governamentais. 19

Quanto aos setores criativos nucleares, a Secretaria da Economia Criativa 1 estabelece seis, quais sejam, patrimônio natural e cultural; espetáculos e celebrações; artes visuais e artesanatos; livros e periódicos; audiovisual e mídias interativas. Fig. 1 – Setores criativos

Fonte: UNESCO (2009)

Em todos esses setores permeia a cadeia produtiva da Casa do Cordel. O fato é notório quando se verifica a presença de elementos simbólicos utilizados na manifestação folclórica, portanto, patrimônio cultural, exposto como mercadoria. Outros elementos como bonecos de mamulengo, instrumentos musicais usados em danças tradicionais, produzidos por artesãos, pinturas a óleo e a giz de cera, artesanatos diversos, livros usados e novos, audiovisuais etc, tudo isso compõe o estoque de produtos da Casa. Além da comercialização desses produtos criativos e que fazem parte da cultura do povo, o referido empreendimento também promove espetáculos, realiza cursos e oficinas, e recepciona escolas e turistas, ou seja, a Casa do Cordel se 1

O Ministério da Cultura promove o Plano da Sec. da Economia Criativa em 2011 e cria esta no ano seguinte.

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constitui uma rede de negócios, e como tal, potencializa o mercado criativo da cidade, contribuindo, dessa forma, com o desenvolvimento da economia e da cultura de Natal/RN.

2.2 Setor Cultural do cordel e suas potencialidades

É sabido que a cultura se manifesta na sociedade de forma desigual. Observa-se, por exemplo, a cultura do homem simples do campo que se difere – em termos materiais, envolvendo aí estilos de vida e a presença das novas tecnologias, hoje em dia tão difundidas nas sociedades – da cultura urbana. Nesses termos, o estudo da cultura não se desenvolve de modo isolado e excludente, como afirma Santos: “[...] no estudo de uma sociedade particular não faria sentido considerar de maneira isolada cada uma das formas culturais diversas nela existentes. Elas certamente fazem parte de processos sociais mais globais.” (SANTOS, 2005, p.19). Santos compreende a cultura como uma construção histórica que diz respeito a todos os aspectos da vida social. Afirma também que os conflitos de interesses nas sociedades contemporâneas são provenientes da relação cultural. Nesse mote, enquadra-se a contenda entre o popular e erudito. Nas sociedades de classes, essa distinção decorre do sistema de dominação ideológica imposta pelos grupos dominantes, numa tentativa de classificar as expressões da população mais pobre, criando estereótipos que implicam desqualificação, inferioridade, atraso e preconceitos, enquanto que, por outro lado, reforçam a ideia de uma cultura oposta, culta, superior e legítima. A ampliação do domínio da cultura erudita, através das instituições de ensino, por exemplo, não deixa de ser uma forma de controle social, em benefício do segmento dominante. A despeito dessa constatação teórica, o trabalho em questão aposta na perspectiva da cultura para todos, em especial, a do cordel, face às potencialidades que o gênero apresenta. Inclusive, o trabalho não foge ao debate, mas se dispõe a promovê-lo, no sentido de construir um novo paradigma, no ato de fazer políticas públicas de fomento à cultura. Nesses termos, é oportuna a crítica contra alguns preconceitos dirigidos ao cordel, de que o gênero carece de qualificação, enquanto obra literária; de que seus autores não são portadores de títulos e expressam o

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senso comum, portanto, nada confiável; de que não há mercado rentável para esse produto, entre outras falações. Mas a resistência da cultura cordelista local tem sido atuante, não se rendendo às dificuldades impostas pelos diversos fatores da vida social, dentre os quais, a tradicional forma de se fazer políticas públicas de cultura, estabelecida ao longo dos anos no município de Natal. A cultura, e de modo especial o cordel, carecem de fomento para o desenvolvimento da economia criativa, mas os gestores públicos insistem na produção de eventos, que é um ato imediatista e que sofre descontinuidade. Mas enquanto a gestão pública não visualiza políticas para a cultura do povo nessa perspectiva, os empreendimentos do cordel seguem em frente com suas potencialidades. O cordel constitui a fala, o modo de pensar e agir do povo, portanto, é uma das expressões da identidade da nossa gente. Como veículo de comunicação social, o cordel transmite as tradições populares para esta e para as gerações futuras. Daí a importância da manutenção da identidade do povo, dos seus valores e costumes. Fig. 2 – Atividade com o cordel na Escola Municipal Mareci Gomes, na comunidade do Passo da Pátria – Natal/RN

Fonte: Autoria própria (2010).

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O cordel, além de ser ferramenta de comunicação social, é outro excelente recurso pedagógico, hoje muito utilizado nas instituições de ensino, sejam privadas ou públicas, do ensino fundamental à universidade. Carece, nesse contexto, de políticas públicas voltadas para o aproveitamento dessa potencialidade cultural, e junto à escola promover a educação popular, com o incremento dos saberes vivenciados pelo povo, democratizando assim o uso do espaço escolar, interagindo as atividades pedagógicas com o dia a dia da comunidade, num processo de ensino lúdico e prazeroso. No mercado informal – neste caso, tomando como exemplo a cidade do Natal/RN – é possível encontrar pontos de comercialização onde o cordel é exposto como mercadoria (feiras livres, sebos e algumas bancas de revista). Outros pontos já começam a se estabelecer de forma regular, e até constituindo rede produtiva, tendo o folheto de cordel como principal produto comercializado. A Casa do Cordel é o exemplo maior desse mercado incipiente. E como outra prova da potencialidade mercadológica do cordel, o comércio formal mais sofisticado também expõe esse produto nas suas vitrines e prateleiras, como são os casos de livrarias e shoppings centers. Fig. 3 – Espaço da cadeia produtiva do cordel – Casa do Cordel em Natal/RN

Fonte: Autoria própria (2015).

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É prova incontestável de que a matéria resguarda valor, enquanto produto criativo cultural, capaz de promover o entretenimento das pessoas, as quais estão dispostas a desembolsar dinheiro para atender suas necessidades culturais e de lazer. O mercado do cordel é promissor, na medida em que se verifica sua importância e utilidade nos processos de ensino, na comunicação social, na propaganda política, na divulgação de negócios, nas campanhas de saúde e educação, nas terapias alternativas, nas festividades populares e nos eventos artísticos e culturais, entre outros. Nesse leque de utilidades, se estabelece a relação de oferta e procura, movimentando outras atividades produtivas (gráficas, papelarias, livrarias, profissionais do meio, etc), constituindo dessa maneira uma cadeia produtiva, o que resulta em geração de renda. Nessa perspectiva mais otimista, há um entendimento de que os setores culturais estão, cada vez mais, sendo foco de atenção para o desenvolvimento das atividades comerciais. Estão se tornando mais competitivos, como afirma Howkins (2013, p.18-19). E finaliza: A economia de mercado são hábeis em atender as necessidades dos consumidores, especialmente no campo do entretenimento, onde as necessidades dos consumidores são tão apaixonadas e evanescentes. Os fornecedores se tornaram adeptos em cobrar pela satisfação proporcionada a seus clientes”. (Howkins, 2013, p.18/19).

Tal realidade confere à cultura cordelista créditos para investimentos mais ousados. E sendo notório seu potencial econômico-criativo, tem capacidade de gerar recursos, movimentar empreendedores e produtores de cultura, educadores e estudantes, pesquisadores, artistas e pessoas em geral, a partir de outras iniciativas que garantam a sustentabilidade da sua cadeia produtiva. Daí a importância da instituição de uma política pública de fomento que contemplasse, não só o cordel, mas a cultura de madeira geral, para o desenvolvimento econômico e cultural da cidade do Natal O que falta é chegar as ações políticas mais direta para impulsionar essa cadeia produtiva. E o que se sabe, como consta no Plano da Secretaria da Economia

Criativa

(20011),

é

que

existem

desafios

que

impactam

no 24

desenvolvimento desse campo econômico, quais sejam, proceder o levantamento de informações e dados da economia criativa para melhor compreensão das suas características e potencialidades nos diversos locais; articular e fomentar os empreendimentos criativos, tendo em vista o acesso aos recursos financeiros para a sustentabilidade econômica destes; promover a educação para competência criativas, através de capacitações dos empreendedores; oportunizar infraestrutura de criação, produção, distribuição/circulação e consumo/fruição de bens e serviços criativos; criação e adequação de Marcos Legais para os setores criativos, incluindo os tributários, previdenciários, trabalhistas e de propriedades intelectuais, para assim atender os direitos dos que trabalham e investem nesse mercado. Fig. 4 - Vereadora Amanda Gurgel (PSTU/Natal-RN) com grupo de cordelistas discutindo os editais públicos na Funcarte

Fonte: Autoria própria (2014).

Enfim, encarar esses desafios como agenda de políticas públicas constitui expectativa para o segmento empreendedor, no sentido de que a cultura do cordel, enquanto setor da economia criativa, venha, de fato, ter o suporte providencial do Poder público, e assim fortalecer sua cadeia produtiva e o mercado criativo em que se encontra inserido. Nesses termos, o mercado cultural do cordel, apesar de 25

incipiente na cidade, apresenta condições favoráveis para o seu desenvolvimento, que certamente se expandirá – com sua cadeia produtiva – mediante as ações políticas que visem superar os desafios que circundam, não só o empreendedorismo cordelista, mas todos os setores nucleares que constituem a economia criativa.

3. A CASA DO CORDEL

3.1 Contexto Histórico e Caracterização Sociodemográfica

A Casa do Cordel foi criada em setembro de 2007, pelo poeta Erivaldo Leite de Lima, popularmente conhecido por Abaeté, com apoio da sua família que ainda hoje vem ajudando a manter o estabelecimento. Inicialmente o empreendimento se estabeleceu na rua Vigário Bartolomeu, nº 578, no bairro da Cidade Alta (Centro da cidade do Natal/RN). Atualmente continua na mesma rua, mas no prédio nº 605. Fig. 5 – Mapa da localização da Casa do Cordel

N

Rio Potengi

MAPA – RECORTE DO CENTRO DE NATAL E A LOCALIZAÇÃO DA CASA DO CORDEL (FONTE: GOOGLE)

Fonte: Google Maps (2015)

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O primeiro local era uma casa antiga, como outras casas existentes no referido logradouro. Ali, naquela rua histórica (antiga rua da Palha), fora palco das primeiras casas de espetáculo fundadas em Natal, como relata o mestre historiador potiguar Luís da Câmara Cascudo: “Os ensaios se passavam nas casas dos sócios, pela rua da Palha, beco Novo, rua Nova, praça d’Alegria. Depois, com uma coleta, construíram uma imensa casa de palha bem traçada, capaz de aboletar trezentas pessoas. O teatro de palha se erguia onde está o Dispensário Sinfrônio Barreto, na praça do Rosário (Gonçalves Lêdo). (CASCUDO, 1980. p. 205). “A rua da Palha (Vigário Bartolomeu) é oitocentista. Primeiras mensões depois de 1800. O nome confidencia o material empregado na construção. (CASCUDO, 1980, p. 128).

Fig. 6 – Vista geral do interior da antiga sede da Casa do Cordel

Fonte: Autoria própria (2013)

Coincidência ou não, o trecho onde se instalou a Casa do Cordel traz um legado histórico da cidade, importando para a preservação da memória do povo 27

potiguar, assim como do próprio cordel, a considerar suas características culturais. As condições do imóvel, em termos de conservação, deixavam a desejar, sobretudo, na parte da cobertura. Telhas de barro tipo colonial, fragilizadas pelo desgaste do tempo, eram problemas nos períodos de chuva, uma vez que o proprietário recorria dos seus improvisos para proteger as mercadorias contra a infiltração e goteiras. Outro aspecto negativo do estabelecimento era o acesso. Havia um estreito corredor entre a calçada pública e a loja propriamente dita, pois na frente desta também tinha outro estabelecimento comercial. Era um sebo (livraria onde se vende livros usados) que coexistia no mesmo lote, dividindo o espaço comercial com a referida Casa. Tal situação desfavorecia o comércio que precisa dar visibilidade às mercadorias. Mas o ambiente reservado, recuado e escondido não colaborava para a sobrevivência do empreendimento. Posteriormente o sebo foi desfeito, sendo o ponto reintegrado ao imóvel, e com isso o espaço da Casa ampliou significativamente (cerca de 30m²). Também aumentou o custo para manter o estabelecimento em atividade, uma vez que o novo contrato de locação implicou no ajuste do aluguel, e nos gastos com energia e IPTU. Todavia, os artigos da Casa passaram a ter maior visibilidade e, consequentemente, o fluxo de clientes mais intenso, favorecendo o faturamento. O novo ambiente da Casa do Cordel, agora com a fachada exposta diretamente para a rua, deu um salto de qualidade, proporcionando novas oportunidades de negócio para o seu proprietário. A variação dos produtos tornou-se mais diversificada e com o ambiente interno agora arejado e mais iluminado, quebrou o aspecto sombrio que antes a Casa transmitia aos clientes e visitantes. O empreendimento continuou a receber estudantes e professores que vinham cumprir atividades extraclasse, bem como promover eventos festivos e culturais, como o Café com Cordel, lançamentos de livros e cordéis, oficinas de cordel e xilogravura e festas comemorativas (Dia do Cordelista, Dia da Poesia etc). Apesar disso, o lucro com o negócio ainda permanecia sendo o maior problema do empreendedor em questão. As despesas do empreendimento na antiga casa abrangiam basicamente o aluguel do imóvel, internet, telefone, água, luz, IPTU. E quando o faturamento do mês era insuficiente para cobrir tais despesas, se cortavam a internet e telefone. A fonte de recursos para manutenção do estabelecimento advinha das vendas dos 28

artigos, dos cachês recebidos dos eventos realizados pelo proprietário e seus convidados (poetas e artistas), quando contratados por escolas, empresas ou pessoas físicas. Todavia, eram recursos inconstantes, imprevisíveis, o que certamente deixavam vulnerável o faturamento da Casa. Dessa forma, para cobrir as obrigações financeiras contraídas pelo negócio, nem sempre essa fonte de recursos era suficiente, o que repassava a responsabilidade para a família. O empreendimento permaneceu nesse local até meados de 2014, quando a família decidiu mudar de sede. Nessa mesma ocasião se discutia a constituição da Associação Cultural Casa do Cordel, sendo fundada nesse período. Agora com a Associação e uma sede mais estruturada, com melhor qualidade em seus espaços e condições construtivas, esperava-se capitalizar o caixa do empreendimento para o sucesso do negócio. Todavia, da mesma forma que se sucedeu na primeira mudança, ou seja, quando a Casa incorporou o espaço que antes pertencia a um sebo, e que passou a desembolsar mais para manter o novo contrato de aluguel, também se repete agora com a mudança de endereço. Com a mudança de sede, mudou-se também o contrato de locação e, consequentemente, aumentou o valor das despesas. E as novas fontes de recursos não corresponderam às expectativas do empreendedor.

Fig. 7 – Fachada da Casa do Cordel

Fig. 8 – Vista da rua em que se localiza a Casa do Cordel

Fonte: Autoria Própria (2015) Fonte: Autoria própria (2015).

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O valor do novo contrato de locação pulou de R$ 1.000,00 (hum mil reais) para o dobro. E o montante de dinheiro proveniente das mensalidades dos sócios da Associação recém fundada não chega a 5% (cinco por cento) do valor do novo aluguel. Atualmente a Associação tem filiado cerca de 80 (oitenta) sócios que deveriam ser contribuintes efetivos, como reza o estatuto da entidade, mas apenas 20 (vinte) associados cumprem suas obrigações financeiras para com a Casa. Isso gera um montante de apenas R$ 200,00 (duzentos reais) mensais. Em conversa informal com o proprietário e agora presidente da Associação Cultural Casa do Cordel, poeta Abaeté, verifica-se seu descontentamento para com a categoria dos poetas cordelistas, artistas afins, fazedores de cultura e apoiadores da Casa, que deveriam contribuir para a manutenção do empreendimento, uma vez que a iniciativa presta um valioso serviço à cultura da cidade e do estado, beneficiando a população, o que é de responsabilidade do poder público. Queixa-se também o poeta empreendedor da Academia Norte-Rio-Grandense de Literatura de Cordel – ANLIC, alegando que, depois da sua criação, a frequência dos poetas e artistas envolvidos com a cultura popular caiu significativamente na Casa do Cordel. “Com esse afastamento fica mais difícil o empreendimento sobreviver”, conclui o presidente da Associação. Fig. 9 – Posse da 1ª Diretoria da ANLIC

Fonte: Autoria própria (2011).

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De certa forma, com a criação da Academia, que fora dada posteriormente à fundação da Casa do Cordel, parcela dos poetas do povo passaram a frequentar e contribuir em dinheiro com aquela entidade. Além disso, muitos desses poetas são também filiados à Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do RN – SPVA/RN, instituição que também abraça a cultura poética, mas que segue outra vertente literária. Sem contar que na cidade ainda existem outras organizações congêneres, como a Academia de Trovas, Associação dos Poetas Populares do RN, União Brasileira de Escritores do RN e outras, onde alguns poetas cordelistas se enquadram como sócios. A nova sede da Casa do Cordel, diferente da outra que apenas tinha um espaço para vendas dos seus produtos, seguido de outro espaço que funcionava como escritório, e mais uma que era o salão de eventos, além de dois banheiros e uma cozinha, agora comporta uma loja mais comprida, dois banheiros e uma cozinha, tudo isso no pavimento térreo. No segundo piso mais duas salas e um banheiro. E no terceiro pavimento com acesso independente, contém um comprido salão que funciona como auditório ou para eventos tipos shows musicais, exposições, oficinas e saraus poéticos. Neste pavimento também se encontram instalados dois banheiros e um espaço com pia de cozinha. Fig. 10 – Vista do interior da nova sede da Casa do Cordel

Fonte: Autoria própria (2015).

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Com a mudança a Casa ficou mais surtida em mercadorias, sendo agora expostos para a venda instrumentos musicais, quadros, artesanatos, objetos de antiguidades (rádios, vitrolas, móveis, utensílios domésticos etc), ornamentos folclóricos, brinquedos artesanais, cd’s, discos de vinil, livros novos e usados e, é claro, folhetos de cordel. Parte dessas mercadorias são adquiridas à vista, pago com o dinheiro do proprietário, para venda posterior, como é o caso dos folhetos de cordel. Outra parte é negociada diretamente com o fornecedor de forma consignada. Também se registra que boa parte dos produtos que a Casa disponibiliza para a venda vem de fora, particularmente da cidade Caruaru, cidade pernambucana onde temporariamente o empreendedor vai a negócio. De lá são trazidos artesanatos de barros e outras miudezas, além de antigos cordéis comprados a preços muitos acessíveis para revenda. Fig. 11 – Cordéis

Fonte: Autoria própria (2015)

Fig. 12 – Instrumentos musicais

Fonte: Autoria própria (2015)

FIG. 13 – Quadros, esculturas e adereços folclóricos

Fonte: Autoria própria (2015)

Fig. 14 - Artesanatos

Fonte: Autoria própria (2015)

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Um detalhe a ser considerado é de que a Casa do Cordel fora inicialmente aberta junto aos órgãos competentes como gráfica. Costumava ter na Casa sempre uma máquina de reprografia alocada, mas hoje o equipamento constitui acervo patrimonial da entidade. Não se tem notícias de que o proprietário – hoje presidente da Associação – se utiliza da má fé para reproduzir, em larga escala, obras de cordel de outros autores, e com isso lucrar nas posteriores transações de venda. Seria um lucro fácil, rentável por sinal, mas, pelo que foi observado durante sete anos de convivência, nesse aspecto a conduta ética prevalece no empreendedor.

Fig. 15

– Atividade com alunos de uma escola pública de Natal (antiga sede da

Casa da Cordel). Apesar da faixa de propaganda, nunca foi estabelecido acordo de patrocínio entre essas entidades e a Casa.

Fonte: Autoria própria (2010)

As portas da Associação estão abertas para negócios. O seu presidente tem postura receptiva, é atencioso e demasiadamente popular. Esses atributos favorecem a aproximação de pessoas com interesses comerciais e fechamento de negócios. Assim, pode-se observar a constituição de cadeias produtivas que envolvem a rotina do empreendimento. Na Casa frequentam o vendedor de picolé que não tem problemas de acesso, independentemente do dia, da hora ou da ocasião. Basta a porta estar aberta e ele perceber que há pessoas no interior da loja, é o suficiente para, seguramente lucrar com a venda de alguns picolés. Pela 33

Casa passam e frequentam quase diariamente artistas plásticos que deixam suas obras para venda, assim como cantores, músicos, escritores, artesãos, poetas cordelistas, mamulengueiros (brincantes), contadoras de história, profissionais gráficos, fotógrafos, produtores culturais e aqueles com interesses políticos partidários. Na última eleição para vereador e prefeito em Natal, ano 2012, um grupo de cordelistas se comprometeram com a campanha da então candidata Amanda Gurgel do PSTU, hoje vereadora da Câmara Municipal de Natal. Muitas das reuniões foram realizadas na velha sede da Casa do Cordel, de modo que, com a eleição da referida candidata, alguns dos poetas desse grupo, dentre os quais estavam o autor do presente trabalho, que também é o vice-presidente da Associação em apreço, o filho do presidente dessa Associação e outro integrante da sua diretoria, permaneceram a se reunir, na tentativa de se construir o Núcleo de Cultura do citado partido em Natal. Dessas reuniões surgiu a necessidade do mandato implementar uma emenda aditiva ao Projeto de Lei nº 87/2013, que dispõe sobre o Plano Plurianual para o quadriênio 2014/2017, do programa “valorizando a cultura”, com uma ação voltada especificamente para o cordel, cuja meta financeira atingia a cifra de mais de R$ 445.000,00 (quatrocentos e quarenta e cinco mil reais). A iniciativa fora aprovada, sendo destinado para o ano de 2014 cerca de R$ 126.000,00 (cento e vinte e seis mil reais), através de editais publicados pela FUNCARTE – Órgão responsável pela política cultural do município. Com a publicação do Editais do Cordel, 3 (três) projetos que beneficiariam a Associação Cultural Casa do Cordel foram contemplados, sendo realizado o “Cordel na Praça”, o “1º Concurso de Cordel da Associação Cultural Casa do Cordel” (ora em andamento) e a “Xilogravura na Escola” (em processo de realização). Parte dos recursos desses projetos foi depositado na conta da Associação, executora de dois eventos, tendo em vista cobrir os custos para a realização dos mesmos. Dessa forma, são os editais outra fonte de recursos para a manutenção de empreendimentos dessa natureza, todavia, nem sempre as políticas públicas de cultura em Natal têm propiciado essas oportunidades. A rede de cultura empreendedora estabelecida com a instalação da Casa do Cordel ocorre não só no interior do estabelecimento, mas se reflete nos lugares onde a Casa se encontra representada, durante a realização de eventos. Como fato 34

constatado, citam-se as feiras de cordel realizadas pela Casa, em parceria com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – IFRN, Campus Cidade Alta/Natal-RN. Na ocasião, tantos os poetas vinculados à Associação como outros pequenos empreendedores puderam comercializar seus produtos a partir da realização dessas feiras. Da mesma forma, nos dois momentos do “Cordel na Praça”, foram instaladas bancas para venda dos produtos da Casa e de folhetos trazidos pelos cordelistas, além de atrair cantores para comercializar seus cd’s; artesãos com suas obras; escritores com seus livros; e outros empreendedores diversos, como o pipoqueiro, churrasqueiro, vendedor de picolé, água etc. Além dessa cadeia produtiva, a Casa do Cordel também atende o chamado da educação, indo nas escolas com sua equipe para proferir palestras ou realizar shows com cordel e música. Quando não vai, recebe os alunos com seus professores para falar e demonstrar o que é o cordel, sua estrutura poética, importância histórica e sua utilidade na sociedade contemporânea. Cria parceria com outras entidades congêneres, para participação de eventos em pontos de mercado mais sofisticado, como nos shopping centers. O “Cordel no Shopping” que ocorre há mais de cinco anos na Livraria Saraiva, Midway Mall, ultimamente vem se realizando com a parceria da Casa, Academia Norte-Rio-Grandense de Literatura de Cordel (ANLIC) e a Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do RN (SPVA/RN). A rede assim se prolonga e adentra no interior dos shoppings e livrarias.

Fig. 16 e 17 respectivamente – Exemplos de parcerias: Dupla de repentistas realizando cantoria no “Cordel no Shopping” (Livraria Saraira/Shopping Midway Mall. Coco de Roda do Mestre Severino, no Potyversando (Praia Shopping)

Fonte: Autoria própria (2011)

Fonte: Autoria própria (2011)

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Em termos de divulgação, a cadeia empreendedora tem ocupado, de forma incipiente e amadora, a mídia (tv e jornal) e as redes sociais. A Casa mantém um blog2 e uma página no facebook3, sem acompanhamento técnico especializado. Está produzindo atualmente um programa de televisão denominado “A Casa do Cordel na TV”, na emissora União – sinal restrito, aberto apenas para assinantes. Para tanto, o empreendedor, valendo-se de sua criatividade tem adaptado alguns recantos da Casa para servir de cenário e estúdio, e com isso viabilizar as gravações dos programas que entrarão no ar, através da referida TV.

Fig. 35

– Poeta Hegos, vice-presidente da Associação Cultural Casa do Cordel,

representando a entidade, recebeu das mão da vereadora Eleika Bezerra, a comenda do Mérito Folclorista Professor Deífilo Gurgel, cerimônia ocorrida no Plenário da Câmara Municipal de Natal, em 21 de agosto de 2015.

Fonte: Autoria própria (2015)

A Casa tem recebido visitas de turistas nacionais e internacionais, que chegam quase sempre em pequenos grupos, muito embora haja casos em que o

2 3

Casadocordel.blogspot.com/ https://pt-br.facebook.com/casa.docordel

36

indivíduo comparece desacompanhado. Conforme a opinião do poeta fundador do empreendimento, “...havendo um maior interesse do poder público em divulgar a Casa do Corel como um dos pontos de cultura da cidade, e assim fomentando a visitação e o turismo no Centro de Natal, a movimentação de dinheiro trazidos pelos turistas seria muito mais acentuada”.

Como observado pela experiência do

empreendedor, falta, portanto, um maior comprometimento do poder público para com o turismo cultural da cidade. Mas a Casa do Cordel também tem recebido autoridades dos três poderes, inclusive da pasta cultural. O próprio ex-Diretor da Fundação José Augusto, órgão responsável pela política de cultura do estado do RN, e que atualmente volta a administrar a instituição, é poeta cordelista e membro da Academia Norte-RioGrandense de Literatura de Cordel – ANLIC. Tem visitado várias vezes a Casa, mas não parece sintonizar com as mesmas preocupações do poeta Abaeté citadas acima. Já duas comendas (anos 2014 e 2015) foram dedicadas ao empreendimento, pela Câmara Municipal do Natal, reconhecendo os esforços empreendidos pela Casa para o desenvolvimento da cultura da cidade. Outro título expedido por aquele Poder legislativo fora o de “Cidadão Natalense” ao pernambucano de Sertânia, presidente/proprietário da Casa do Cordel, no final de 2014. Fig. 19 – Abaeté do Cordel, empreendedor da Casa do Cordel, homenageado na Câmara Municipal de Natal.

Fonte: Autoria própria (2015).

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Portanto, notadamente se verifica o reconhecimento desse empreendimento, seu valor e importância para a cultura da cidade do Natal, e por que não, do estado do Rio Grande do Norte. Reconhecimento advindo do próprio Poder público que se omite, de certa forma, da responsabilidade de promover e fomentar o desenvolvimento do turismo cultural e da cultura como um todo, nas suas diversas expressões. A experiência da Casa do Cordel testemunha o descaso dos gestores culturais que têm deixado de ouvir aqueles que fazem a cultura de raiz, e assim negligenciando o processo participativo que desencadearia na adoção de políticas públicas culturais inclusivas e satisfatórias. 3.2 A Experiência Empreendedora da Casa do Cordel e as Políticas Públicas de Fomento a Cultura

A metodologia aplicada para o desenvolvimento deste trabalho se valeu da pesquisa bibliográfica, da observação participante e direta, bem como de entrevistas formais e informais. Neste contexto, foram realizadas quatro entrevistas com roteiro semiestruturado, variando de quatro a seis perguntas abertas, sendo aplicadas ao presidente da Associação Cultural Casa do Cordel, Erivaldo Leite de Lima, conhecido popularmente por Abaeté do Cordel. É também proprietário da Casa do Cordel, empreendimento de fins

lucrativos,

diferentemente dos propósitos

estatutários da Associação. A entrevista também se dirigiu a um gestor público, Rodrigo Bico, diretor geral da Fundação José Augusto. Fernando Soares (Nando Poeta), também foi outro entrevistado, articulador político, membro da assessoria do mandato da vereadora Amanda Gurgel, da Câmara Municipal de Natal. É integrante do movimento cordelista, e atua também no intercâmbio entre o movimento local e nacional, especialmente de São Paulo, onde mantém relações com a Editora Luzeiro. E finalmente, ouviu-se o presidente da Academia Norte-rio-grandense de Literatura de Cordel – ANLIC, o poeta, professor e músico.José Acaci. O critério usado para a seleção dos quatro entrevistados foi o de selecionar responsáveis pelo movimento cordelista em Natal, confrontando suas opiniões com a de um representante do poder público. Assim, nada mais expressivo do que o próprio criador do empreendimento para falar sobre sua experiência no negócio, ponto alvo da pesquisa. Entende-se também que a autoridade maior para tratar de 38

políticas públicas de cultura – tema chave da pesquisa – é aquele que recebeu essa incumbência do Governador, chefe do Poder Executivo estadual, que neste caso está representado pelo diretor geral do Órgão citado anteriormente. Da mesma forma, ninguém mais representativo para informar sobre o movimento cordelista local – informações básicas e necessárias para avaliar o contrapeso das forças políticas atuantes – do que quem está (ou estão) na vanguarda desse movimento. Outrossim, a análise procedida neste trabalho tomou como base para argumentação, as respostas dadas pelos entrevistados, comparando-as entre si e sempre que necessário, fazendo referência às políticas públicas de cultura adotadas em Natal/RN, tendo também como parâmetros os marcos regulatórios que cuidam do incentivo à cultura e com a realidade observada e relatada – mesmo de forma empírica – no tópico anterior. Ressalva-se que os marcos regulatórios específicos que tratam do incentivo à cultura no Brasil, têm jurisprudência, conforme a esfera federativa em que foram instituídos, ou seja, há um marco de abrangência municipal, outro estadual e outro de abrangência federal. No caso, a Lei nº 4.838/97, alterada pela Lei nº 5.3323/2011, que posteriormente fora regulamentada pelo Decreto 6.906/2002, e este alterado pelo Decreto 8.749/2009, tratam da Lei Djalma Maranhão, que dispõe sobre a concessão de incentivo fiscal para financiamento para projetos culturais no âmbito do município de Natal/RN; a Lei nº 7.799/99 (Câmara Cascudo) tem jurisprudência no estado do RN; e a Lei 8.313/91 (Rouanet) que instituiu o Programa Nacional de Apoio à Cultura – PRONAC, trata das políticas públicas para a cultura nacional. Feitas essas considerações preliminares, a análise prossegue revelando inicialmente a fala do proprietário do empreendimento Casa do Cordel. Perguntado sobre as potencialidades de negócio com o cordel, respondeu o poeta Abaeté que o gênero literário tem mercado, porque não se trata apenas do folheto, mas que envolve a xilogravura que ilustra a capa, a palestra que é dada nas escolas, a venda dos folhetos nos pontos de distribuição ou por encomendas, ou seja, há uma cadeia produtiva que gira em torno do cordel. Mas frisou o poeta que é preciso o investidor correr atrás para que essas potencialidades se tornem reais. Aqui já se anuncia que o negócio não é tão fácil, mas que requer esforços para o empreendimento nesse ramo.

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Argumento semelhante foi dado pelo presidente da Academia Norte-riograndense de Literatura de Cordel – ANLIC, poeta e cancioneiro José Acaci. Disse que “quem tem maior capacidade de apresentar suas obras, consequentemente tem maior capacidade de vendê-las”. Percebe-se claramente o senso mercantilista de ambos entrevistados. E acrescenta o presidente, falando de nichos de mercado do cordel, citando exemplo de feiras culturais e eventos escolares. Fig. 20 – Feira de cordel – Calçada do IFRN/Campus Cidade Alta – Natal/RN

Fonte: Autoria própria (2012)

Assim como o empreendedor da Casa do Cordel, o presidente da Academia também considera a existência de uma rede produtiva em torno da comercialização com o cordel, porém, destaca a necessidade da variedade e qualidade dos produtos como fatores que podem fazer diferença nos resultados do negócio. Mas a opinião do assessor e ativista político, membro também da direção da Associação Cultural Casa do Cordel, Nando Poeta, não vai nesse sentido individualista. Ele faz referência à falta de um público consumidor de cordel, e culpa os órgãos públicos, especialmente as instituições de ensino por não darem a devida importância ao gênero literário. Em outras palavras, é preciso a preparação de um público consumidor para o mercado do cordel, e isso seria possível se as escolas e as políticas públicas fomentassem essa iniciativa. 40

Essa preocupação do poeta Nando faz sentido, quando se verifica que as primeiras experiências dos entrevistados com a literatura de cordel, foram dadas exatamente na escola, como eles mesmos afirmaram. O presidente da Academia, inclusive,

tem

vínculo

empregatício

com

a

Secretaria

de

Educação

de

Parnamirim/RN, município da Região Metropolitana de Natal, onde implementou o projeto “O Uso do Cordel na Sala de Aula”, desde 2006, sendo até hoje administrado nas escolas do referido município. Fig. 21 – Cordelistas e artistas em atividades numa escola pública

Fonte: Autoria própria (2014).

Quanto à opinião do então diretor geral da Fundação José Augusto, Rodrigo Bico, ele reforça as potencialidades do cordel como instrumento canalizador das tradições do povo nordestino. Refere-se ao poeta cordelista como porta voz da cultura popular nordestina, sem fazer alusão à necessidade de políticas fomentadoras que poderiam favorecer as potencialidades do mercado cordelista, e assim propiciar oportunidades e sobrevivência desse poeta do povo. Todavia, de maneira superficial, tratou a questão sobre as potencialidades mercadológicas do cordel, focada para atenção ao turista:

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“...quem chega no Nordeste pensa logo na literatura nordestina...Então você chega num lugar e identifica aquelas características do lugar. Nada como você procurar uma banca de cordel, procurar um cordelista pra você saber um pouco daquele lugar. E de maneira irreverente, com rima, de maneira poética, uma maneira de você poder conhecer cada etapa, cada lugar, cada situação de forma mais poética, sem ser essa coisa muito tradicional que a imprensa comum traz.” (Bico, 2015) Fig. 22 – Oficina de cordel dada para crianças de uma escola pública na XIX Cientec/UFRN, ano 2013. Detalhe do espaço reservado (ao ar livre, debaixo de uma árvore). O poeta Hegos (foto) criticou o tratamento dispensado pela organização do evento.

Fonte: Autoria própria (2013).

“A discriminação com os nordestinos” é a principal dificuldade encontrada nas atividades com o cordel, afirma o poeta empreendedor, Abaeté. Atribui também essa discriminação vinda de alguns setores da imprensa, escritores eruditos e editoras. Para o poeta, esses setores e pessoas que discriminam o cordel prejudicam o empreendimento, e citou como exemplo desse fato o Festival Literário de Natal – FLIN, organizado pela Prefeitura. Argumentou o presidente da Associação Cultural Casa do Cordel que os organizadores desses grandes eventos preferem convidar gente de fora para dar palestras e fazer shows, sendo pago valores que poderiam ser aplicados de outra forma, que pudessem beneficiar os artistas e escritores da 42

terra. Queixou-se ainda que o empreendimento cordelista não é convidado pelos organizadores dos eventos como o FLIN Para Nando Poeta, ativista político e ligado à Editora Luzeiro de São Paulo/SP, as dificuldades para se trabalhar o cordel consistem na falta de incentivo para a sua produção, bem como a ausência desse gênero na grade curricular das escolas. Mas uma vez a visão desse poeta se volta para o cordel na escola, o que não é a mesma do presidente da ANLIC, José Acaci. Este atribui as dificuldades aos organizadores responsáveis pelos eventos culturais, que não pagam o devido cachê aos poetas ou artistas do meio. E denuncia: “muitas vezes os cordelistas são convidados a participar de certas ações com o puro objetivo de enriquecer culturalmente o evento. Sai de casa, paga passagem ou combustível, passa uma manhã inteira ou uma tarde inteira numa escola ou numa entidade e, se não tiver cuidado estará pagando para trabalhar.” (Acaci, 2015).

Repete-se a preocupação do representante da Academia, voltada para a capitalização dos atores que trabalham com o gênero literário em discussão. De fato, essa constatação ocorre sempre nas atividades empreendedoras do cordel em Natal. Recentemente, um integrante da Casa Cor/RN-2015, anunciado como “maior evento de decoração da América Latina”, solicitou à Casa do Cordel a presença de cordelistas em um dos mostruários exposto à visitação pública, mas que não poderia desembolsar nenhum cachê como contrapartida. O empreendedor da Casa do Cordel avaliando o convite como outra oportunidade de divulgação e expansão da cadeia produtiva, aceitou o acordo, levando mais três poetas, que também se sentiram solidários à causa. Na oportunidade foram expostos para a venda, alguns produtos do empreendimento, como folhetos de cordel, livros e cd’s. A história do preconceito contra o cordel também é de aceitação do diretor da Fundação José Augusto. “É uma cultura marginal que a gente tem que quebrar”, afirma Rodrigo Bico. E também preconiza que a maneira de quebrar um pouco esse preconceito é buscar o comprometimento da escola, no sentido de trabalhar os valores do gênero. Disse que essa literatura é de fácil acesso devido à sua simplicidade e facilidade do processo produtivo, mas que precisa chegar à população. Aqui o diretor concorda que a escola deva se comprometer com a 43

pedagogia cordelista, visando a formação de leitores do gênero, o que combina com a mesma propositura do ativista político Nando Poeta, quando se referia à necessidade das políticas públicas de cultura e das escolas, instituírem programas que fomentem a formação de consumidores de cordel. Fig. 23 – Título de “Cidadão Natalense” concedido pela Câmara Municipal do Natal, ao poeta Abaeté

Fonte: Autoria própria (2014).

Quanto ao reconhecimento da Casa do Cordel, o gestor Rodrigo Bico fala da tradicionalidade do empreendimento, cujo trabalho de Abaeté vem se dando com certa resistência. Reconhece o esforço do poeta para manter o empreendimento em atividade, e sempre quando que vai ao Centro da cidade não perde a oportunidade de passar pela Casa, por considerar um local de cultura regional . Acha que ali tem um pouco de brechó, como também de museu. No depoimento do presidente da Academia, que também é sócio da Casa, diz que acompanha a luta do poeta empreendedor, desde o início. Revela Nando Poeta na entrevista, que conheceu o estabelecimento através do filho do empreendedor, xilógrafo e correligionário da mesma bandeira partidária (PSTU). Esse vínculo do filho do poeta Abaeté com o partido, aproximou as relações da Casa com as principais lideranças políticas do PSTU, em especial, com o mandato da vereadora 44

Amanda Gurgel, a mais votada parlamentar da Câmara municipal de Natal, que teve a participação efetiva da Casa do Cordel e de alguns poetas na campanha eleitoral ocorrida no ano de 2012. No entanto, mesmo com toda aproximação com o PSTU, adeptos e simpatizantes e até mesmos candidatos de outras legendas, inclusive opostas ao programa do referido partido, continuam a frequentar aquele estabelecimento. Esse fato sinaliza que o proprietário separa os dois interesses: o da política partidária e o da cultura popular. Fig. 24 – Presença da vereadora Amanda Gurgel (PSTU), nas atividades da Casa do Cordel

Fonte: Autoria própria( 2015).

O cordel por estar hoje na mídia de Natal, nas escolas e que virou até tema de samba enredo, foi pelos esforços da Casa do Cordel, que ao longo dos seus 8 anos propagou esse gênero no mercado consumidor local. Assim assegura o poeta Abaeté na entrevista. E continua: “Se você pegar um cordel há oito anos atrás, era da Paraíba ou Ceará. Nem em Mossoró onde mora o melhor cordelista do estado, Antônio Francisco, o cordel lá existia”. Mas na opinião de Nando Poeta, a existência da Casa “foi fundamental para resgatar o cordel em Natal, que havia sumido do cenário da nossa cidade. A Casa do Cordel conseguiu ser o polo de atração de um público interessado, concentrando pessoas que passaram a produzir cordéis.” Aqui 45

o poeta apresenta o início e a importância do empreendimento na constituição da cadeia produtiva. Como se observa nas duas opiniões, uma contraria a outra, ou seja, enquanto a primeira atribui à Casa o mérito pioneiro de implementar o gênero no cenário local e regional, a segunda fala de resgate do cordel no cenário local. Fig. 25 – Apresentação de um grupo cultural em um dos eventos promovidos pela Casa

Fonte: Autoria própria (2013)

As falas dos entrevistados congregam para uma só conclusão: A Casa do Cordel propiciou a aglutinação dos poetas, artistas e pessoas interessados por cultura, e daí elas foram construindo o movimento cordelista. Essa concepção agregadora atribuída à Casa é pronunciada pelo diretor da Fundação, na entrevista realizada. Diz Rodrigo Bico que o empreendimento tornou-se ponto de referência para o debate sobre o cordel e seu universo. E enfatiza que o local, sendo essa referência cultural, passa a ter seguramente importância também no campo da política. De fato, como revela o presidente da Academia, José Acaci: “No ano de 2014 a Casa do Cordel passou a ser Associação Cultural Casa do Cordel e se apresentou como pessoa jurídica, assim passou a executar projetos culturais em escolas, praças, auditórios e feiras. Por sua relevância cultural já recebeu prêmios e comendas e o seu criador

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recebeu o título de cidadão natalense pelos serviços prestados a Natal.” (ACACI, 2015)

Acaci é também da opinião de que o Poder público poderia fomentar a economia criativa em Natal, a partir desse universo cordelista, com publicações de editais. E citou alguns exemplos que os órgãos responsáveis pela pasta cultural, seja no âmbito municipal ou estadual, poderiam realizar: Prêmio de Incentivo à Produção Cordelista; Edital de apoio financeiro à produção de livros e cd’s de cordel; Editais de apoio a iniciativas de incentivo à leitura, através do cordel em sala de aula. Fig. 26 – Evento “Cordel na Praça”, projeto realizado em 2015 pela Casa do Cordel, cujo edital fora publicado pela Fundação Capitania das Arte – Funcarte. (Recurso proveniente da Emenda aditiva da vereadora Amanda Gurgel, ao projeto de Lei 87/2013, que dispõe sobre o Plano Plurianual para o quadriênio 2014/2017

Fonte: Autoria própria (2015).

Da mesma forma, Nando Poeta, um dos articuladores do mandato da vereadora Amanda Gurgel e integrante do movimento cordelista, inclusive fazendo intercâmbio da Casa do Cordel com a Editora Luzeiro de São Paulo/SP, considera

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que o Poder público deveria fomentar programas nas escolas públicas que contemplassem o cordel, garantindo recursos para a produção do referido gênero. Para o poeta Abaeté, empreendedor do ramo cordelista, o Poder público não precisava investir muitos recursos na implementação das políticas públicas de cultura que contemplem também o cordel. Segundo ele, era o suficiente fomentar a compra dos folhetos de cordel para distribuição nas escolas. Além disso, era importante a presença do turista nos locais onde o cordel está exposto, e isso também seria da responsabilidade do Governo. Em resposta ao tema do parágrafo anterior, o diretor da Fundação José Augusto reconhece que o Poder público, ao longo dos anos, priorizou as artes de elite. “Acho que o Poder público deve se aproximar dos cordelistas, mas também ampliando as oportunidades para as diferentes linguagens.” Fala que o Poder público deve olhar o artista, não só como animador que preenche o espaço em algum evento, mas como ferramenta importante de mudança social, capaz de provocar a reflexão daqueles que apreciam e consumem cultura. Fig. 27 – Participação conjunta das entidades representativas do movimento poético-literário do RN (Casa do Cordel, Academia Norte-rio-grandense de Literatura de Cordel e Sociedade dos Poetas Vivos e Afins na programação do Natal em Natal, promovida pela Prefeitura do Natal – ano 2015.

Fonte: Autoria própria (2015).

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Um fato a ser destacado nessa análise é de que as leis de incentivo à cultura, pelos relatos dos entrevistados, ficaram omissas. Nenhum dos abordados lembrou da existência da legislação pertinente ao tema em questão. Isso pode sinalizar um certo desinteresse na utilização ou dificuldades dos empreendedores aqui tratados, em atender às exigências estabelecidas por esses instrumentos normativos. A despeito disso, em entrevista ao Jornal Tribuna do Norte, publicado na data de 17/10/2015, o Prefeito da cidade, Carlos Eduardo, fala que “a Prefeitura foi buscar amparo nas leis de incentivo e apoio da iniciativa privada para viabilizar o Natal em Natal.” Questiona-se: Será que essas leis de incentivo à cultura, que foram elaboradas e promulgadas pelo Poder público, foram assim instituídas para atender o próprio Poder, quem passa também a ser produtor de cultura? Nesses termos, qual a chance mais provável de um patrocinador apoiar um projeto, o que seja apresentado por um simples empreendedor (como a Casa do Cordel) ou o que seja pela Prefeitura do Natal? Tais

questionamentos

talvez

respondam

ao

desinteresse

dos

empreendedores da cultura cordelista, na busca por patrocinadores, como recomendam as leis de incentivo à cultura, em vigor nas três esferas de governo. O fato serve para reflexão sobre a necessidade de repensar as atuais formas de se fazer políticas públicas de cultura na cidade de Natal. Contudo, apesar disso, a pesquisa aponta que o mercado de cordel é promissor, com perspectiva de ampliar significativamente

a

cadeia

produtiva

que

se

encontra

instalada

com

o

empreendimento da Casa do Cordel. Para tanto, como debatido, urge a necessidade de políticas públicas que fomentem essa economia criativa em Natal, e o Poder público não deve se omitir dessa responsabilidade.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O discurso do modelo gerencialista da administração pública que se deu a partir da década de 1990, anuncia que a crise do Estado levou à necessidade de reconstrução do mesmo. Somada a essa constatação, a globalização, que impõe a integração mundial dos mercados e dos sistemas produtivos, reforça o imperativo da redefinição das funções estatais. Nesse contexto nasce a reforma do Estado brasileiro, instituindo um novo paradigma das políticas públicas, baseado na descentralização de atividades, estabelecimento de parcerias com a sociedade civil organizada, avaliação de desempenhos, flexibilização das regras burocráticas, planejamento estratégico, tudo isso com ênfase no desenvolvimento de métodos de gestão inovadores. Portanto, apesar da crise econômica porque passa o Estado na atualidade, ele não perdeu sua importância como um dos atores que afetam os processos políticos e sociais. Como afirma Guilhom, (apud FERREIRA; ARAÚJO, 2005, p. 158): “É o político que, atuando nos marcos dos constrangimentos postos pelo econômico, imprime o perfil determinado de intervenção estatal, ampliando ou diminuído, inclusive, as fronteiras entre o público e o privado.” Dessa forma, a economia criativa se apresenta como instrumento da ação estatal, tanto em termos potenciais como em processos efetivos, no sentido de atender as demandas da sociedade contemporânea. Como foi debatido, as atividades humanas que se enquadram no conceito da economia

criativa,

também

se

enquadram

no

campo

de

interesse

do

empreendedorismo. Sendo autônomos, muitos dos empreendedores entraram no negócio por uma questão de sobrevivência. Para se estabelecerem no mercado competitivo, recorrem à criatividade, construindo formas alternativas de gestão inovadora, atraindo parcerias para o fortalecimento do negócio, e daí criando redes produtivas que impulsionam a expansão do empreendimento. Nessa lógica da economia criativa, se estabelece a Casa do Cordel, empreendendo no mercado cultural de Natal/RN. Sua existência por mais de oito anos, sem o devido apoio que deveria advir das políticas públicas de fomento à economia cultural, dá sinal de que o negócio pode sobreviver de maneira 50

independente, com iniciativas que buscam resolver os problemas, contando com os recursos que se tem em mão. Como se viu, as leis de incentivo à cultura, sejam no plano federal, estadual ou municipal, não chegam ao empreendimento e nem este vai a elas. Há uma lacuna a ser preenchida nessa relação, e isso constitui outro desafio das políticas públicas de fomento à cultura, sob o ponto de vista da economia criativa em Natal/RN. Para tanto, é necessário mudanças do olhar de quem se coloca como protagonista dos acontecimentos que importam ao mercado cultural. E nesse enunciado, como constatado na pesquisa em debate, tanto os gestores públicos quanto os empreendedores e produtores de cultura não devem ficar omissos da responsabilidade de atores políticos, sob pena de entravar o desenvolvimento cultural da cidade. É importante que se estabeleça o diálogo, mas antes, que cada envolvido assuma o seu papel: nesse caso, o Poder público que se apresente como fomentador de políticas públicas voltadas para os interesses do setor cultural, e os empreendedores culturais no contrapeso, participando efetivamente do debate, reivindicando a presença do Estado nos problemas e soluções que afetam diretamente os interesses desse mercado criativo. Ferreira e Araújo ressalvam que uma forma que gera resultado pragmático de políticas públicas, é a efetiva participação do cidadão no processo decisório. E acrescentam: “...a luta pelo reconhecimento da pluralidade de condições dos diversos atores e grupos sociais na implementação de políticas públicas não se dá apenas em espaço de discussão formalmente constituídos. Ela se dá muitas vezes no cotidiano das relações entre Estado e cidadãos...” (FERREIRA; ARAÚJO, 2005, p. 157).

Notadamente, o resultado da pesquisa em comento aponta uma participação, um tanto quanto de pouco efeito pragmático, das forças produtivas que circundam o empreendimento cordelista, no processo das decisões políticas de interesse da categoria, salvo alguns momentos em que integrantes da Associação Cultural Casa do Cordel se articularam, de forma organizada, junto ao mandato da vereadora Amanda Gurgel, do PSTU, tendo em vista a luta para valorização do cordel. Nessa circunstância, se defendeu uma emenda aditiva a um Projeto de Lei que dispunha sobre o Plano Plurianual para o quadriênio 2014/2017, como já comentado, 51

resultando na conquista da meta financeira com cifra de R$ 445.000,00 (quatrocentos e quarenta e cinco mil reais). Em decorrência desse feito, vieram os editais publicados pela Fundação Cultural Capitania das Artes – FUNCARTE, sendo contemplado alguns projetos que vieram capitalizar a Casa do Cordel, pelo seu trabalho de executora. Com os recursos, foi possível articular a cadeia produtiva em torno da execução dos projetos aprovados. Então, eis um fato concreto gerado, a partir da mobilização política dos cordelistas vinculados ao empreendimento Casa do Cordel. Fora isso, não se tem notícia de outras mobilizações envolvendo a referida Casa, que resultassem em ganhos políticos e econômicos para o cordel, enquanto mercado cultural. Diante do exposto, ficam notáveis as potencialidades desse mercado, cuja atividade passa, forçosamente, pelo talento e criatividade, num entrelaçamento de serviços e bens de consumo cultural, de modo a constituir cadeias de produção inovadoras,

implicando,

não

em

mero

crescimento

econômico,

mas

em

desenvolvimento sustentável e humano. Nesse sentido, a economia criativa tem como eixo central a inclusão de novos, pequenos e médios, empreendedores, com articulação entre o setores públicos e privados e sociedade civil, estabelecendo um novo paradigma de gestão cultural. No

entanto,

é

imprescindível

a

participação

efetiva

e

crítica

dos

empreendedores em questão, no processo da gestão pública e na formulação das políticas de interesse do setor. Não esperar que o Poder público seja generoso, mas que responda satisfatoriamente às demandas culturais, a partir da mobilização dos diversos atores e grupos que estejam comprometidos com o desenvolvimento cultural da cidade do Natal/RN, de forma sustentável.

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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSIS, J. Carlos de: A quarta via: a promoção do pleno emprego como imperativo da cidadania ampliada. São Paulo: Textonovo, 2000.

BRASIL. Lei 8.313, de 23 de dezembro de 1991. Restabelece princípios da Lei 7.505, de 2 de julho de 1986, institui o Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac)

e



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providências.

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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8313cons.htm

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CRUZ, Fernando Manuel Rocha da. Criatividade, cultura e economia criativa no Rio Grande do Norte. In: XVII Congresso Brasileiro de Sociologia. Porto Alegre: SBS,

2015.

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em:

https://www.academia.edu/15655600/Criatividade_Cultura_e_Economia_Criativa_no _estado_do_Rio_Grande_do _Norte_(Brasil)

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53

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MARTINEZ, Monica. Tive uma ideia: o que é criatividade e como desenvolvê-la. São Paulo: Paulinas, 2010.

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providências.

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em:

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RIO GRANDE DO NORTE. Lei 7.799, de 30 de dezembro de 1999. Dispõe sobre a concessão de incentivo fiscal para financiamento de projetos culturais no âmbito do Estado do Rio Grande do Norte, e dá outras providências. Disponível em: http://www.set.rn.gov.br/contentProducao/aplicacao/set_v2/legislacao/enviados/listag em_filtro.asp?assunto=11&assuntoEsp=15

ROESCH, Sylvia Maria Azevedo. Projetos de estágio e de pesquisa em administração: guia para estágios, trabalho de conclusão, dissertações e estudo de caso. São Paulo: Atlas, 1999.

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TINOCO, Dinah dos Santos e outros(Orgs.). Políticas e gestão públicas: Recortes da realidade do RN. Natal: Editora da UFRN, 2005. 54

6. APÊNDICES

ENTREVISTA COM ABAETÉ DO CORDEL (Empreendedor da Casa do Cordel)

Prezado Poeta, A presente entrevista constitui parte do Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, que se encontra em elaboração por mim, acadêmico de Gestão de Políticas Públicas da UFRN. O propósito é analisar o ciclo econômico do cordel, enquanto produto cultural, estabelecendo sua relação com as politicas públicas de fomento da economia criativa, bem como sua importância para a cultura da cidade do Natal, a partir das experiências empreendedoras da Casa do Cordel. Desde já, agradeço pela colaboração, respondendo as questões abaixo.

Atenciosamente,

Hélio Gomes Soares

1. Em poucas palavras, como você avalia as potencialidades de negócio, envolvendo o cordel, na cidade do Natal?

2. Quais as principais dificuldades encontradas nas atividades com o cordel em Natal?

3. Na sua opinião, como a Casa do Cordel tem contribuído para a promoção do cordel e da cultura da cidade do Natal?

4. Como o poder público poderia atuar para o fomento da economia criativa em Natal, a partir do investimento no cordel?

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ENTREVISTA COM RODRIGO BICO, JOSÉ ACACI E NANDO POETA (Diretor geral da Fundação José Augusto, presidente da ANLIC e articulador político respectivamente )

Prezado Senhor, A presente entrevista constitui parte do Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, que se encontra em elaboração por mim, acadêmico de Gestão de Políticas Públicas da UFRN. O propósito é analisar o ciclo econômico do cordel, enquanto produto cultural, estabelecendo sua relação com as politicas públicas de fomento da economia criativa, bem como sua importância para a cultura da cidade do Natal, a partir das experiências empreendedoras da Casa do Cordel. Desde já, agradeço pela colaboração, respondendo as questões abaixo.

Atenciosamente,

Hélio Gomes Soares

1. Cite algumas experiências vivenciadas por você com o cordel.

2. Em poucas palavras, como você avalia as potencialidades de negócio, envolvendo o cordel, na cidade do Natal?

3. Quais as principais dificuldades encontradas nas atividades com o cordel em Natal? 4. Como você tomou conhecimento sobre a Casa do Cordel?

5. Na sua opinião, como a Casa do Cordel tem contribuído para a promoção do cordel e da cultura da cidade do Natal?

6. Como o poder público poderia atuar para o fomento da economia criativa em Natal, a partir do investimento no cordel? 56

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