O corpo como fio condutor para ampliação da clínica

June 7, 2017 | Autor: Michele Vasconcelos | Categoria: Saúde Coletiva, Saúde Mental, Corpo, Clínica Ampliada, Reforma Psiquiátrica
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Polis e Psique, Vol.2, Número Temático, 2012

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O corpo como fio condutor para ampliação da clínica1 Body as a conducting wire for extension of clinic El cuerpo como hilo conductor para la ampliación de la clínica

Dagoberto de Oliveira Machado Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Michele de Freitas Faria de Vasconcelos Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Aldo Rezende de Melo Universidade Federal do Sergipe, Aracaju, SE, Brasil. Resumo O texto tem como objetivo ampliar a diretriz da clínica ampliada nos termos definidos pela Política Nacional de Humanização. Numa tentativa de arejamento e atualização de tal diretriz, toma o corpo como um operador da ampliação da clínica. Para tanto, partiu-se de itinerários foucaultianos e nietzscheanos, de experimentações desenvolvidas a partir de nossas inserções na rede de saúde mental do município de Aracaju-Sergipe, bem como dos dados produzidos por nossas pesquisas de mestrado e doutorado. Entendendo corpo como uma montagem, como uma feitura realizada num espaço de tensão entre formas de sujeição e forças de experimentação, se pensou a própria clínica como um corpo. Clínica-corpo que se traceja por entre desejos de formatação, mas também uma clínica que (re)existe, mais afeita à abertura dos corpos, inclusive o seu próprio. Palavras-chave:

Corpo,

Clínica,

Clínica

Ampliada,

Saúde

Mental,

Reforma

Psiquiátrica/CAPS.

Abstract This paper aims to widen the extended clinic guideline as defined by the National Humanization Policy. In an attempt to aerate and update such guideline, it takes the body as an operator for the extension of the clinic. Therefore, we start from Foucauldian and Nietzschean itineraries, of experimentation developed from our inserts in mental health system of the city of Aracaju, Sergipe, and the data produced by our masters and doctoral researches. Understanding body as an assembly, as a workmanship made in a space of tension

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between forms of subjection and experimentation forces, it was thought the clinic as a body; clinic body traced through formatting desires, but also a clinic that re-exists, preferring the opening of bodies, including its own. Keywords: Body, Clinic, Extended clinic, Mental Health, Psychiatric Reform.

Resumen El texto tiene como objetivo ampliar la directriz de la clínica ampliada en los términos definidos por la Política Nacional de Humanización. En un intento de aireamiento y actualización de tal directriz, toma el cuerpo como un operador de la ampliación clínica. Para tanto, se partió de itinerarios foucaultianos y nietzscheanos, de experimentaciones desarrolladas a partir de nuestras inserciones en la red de salud mental en el municipio de Aracaju - Sergipe, así como de los datos producidos por nuestras investigaciones de máster y doctorado. Entendiendo cuerpo como un montaje, como una fabricación realizada en un espacio de tensión entre formas de sujeción y fuerzas de experimentación, se pensó la propia clínica como un cuerpo. Clínica-cuerpo que se traza por entre deseos de formateo, pero también una clínica que re-existe, más habituada a la apertura de los cuerpos, incluso su propio. Palabras-clave: Cuerpo, Clínica, Clínica Ampliada, Salud Mental, Reforma Psiquiátrica/ CAPS.

Os fios que tecem essa escrita

traduz-se, assim, por pensar o corpo como

foram alinhavados por meio de nossas

um operador para ampliação da clínica.

itinerâncias na rede de saúde mental de

Entendendo corpo como uma montagem,

Aracaju-Sergipe

trabalhador/a,

como uma feitura realizada, como aponta

gestor/a, pesquisador/a. Desse percurso,

Paraíso (2011), num espaço de tensão entre

pinçamos aqui experimentações de modos

formas

de fazer clínica, na direção de empreender

experimentação, pode-se pensar a própria

discussões sobre o caso da clínica em

clínica como um corpo. Clínica-corpo que

saúde mental.

se traceja por entre desejos de formatação,

como

de

sujeição

e

forças

de

Seguindo uma pista nietzschiana

mas também uma clínica que (re)existe,

(1885/2008), optamos aqui por tomar o

mais afeita à abertura dos corpos, inclusive

corpo como fio condutor de análises sobre

o seu próprio.

a clínica. A proposta do presente texto

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A tentativa foi a de rastrear em

a

clínica

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por

necessidades

de

nossas andanças pela saúde mental esses

(trans)formação do corpo, inclusive do

momentos singulares de dispersão da

corpo da clínica, por necessidade de

clínica, seguir movimentos de uma clínica

desfazer o já dado sobre uma clínica

artesanal, ensaística, ainda que ampliada,

predominantemente verbal e colada a um

minimalista,

corpo entre o biológico e a linguagem, para

circunstancial,

não

generalizável. Está-se apostando, pois, na

nos

remeter

a

um

corpo-larvário,

clínica como espaço de experimentação.

inominável, ilocalizável, impossível, não

Para nós, a diretriz da Clínica

dado, ao poroso vazio do não saber sobre o

Ampliada proposta pela Política Nacional

que é um corpo e sobre suas infindáveis

da Humanização (Brasil, 2008) parece

formas

apresentar indicativos de necessidade de

almejamos segui-lo, rastreá-lo, pois o

atualização.

de

importante é tentar mesmo o impossível

ampliação, tal diretriz aponta para: 1) visar

(Amado, 1961/2008). Ressalte-se aqui uma

a saúde, e não a doença, como objeto de

passagem

Como

caminhinhos

“considerando

investimento,

a

de

de

feitura.

Mesmo

Foucault

sobre

assim,

corpo

(Foucault, 2001a, p. 20):

vulnerabilidade, o risco do sujeito em seu contexto” (p. 55); 2) produzir saúde,

[...] sobre o corpo se encontra o estigma dos

aumentando

acontecimentos passados do mesmo modo

autonomia dos sujeitos; 3)

fazer avaliação diagnóstica a partir do

que

dele

nascem

os

desejos,

os

desfalecimentos e os erros; nele também eles

saber técnico e epidemiológico, mas

se atam e de repente se exprimem, mas nele

também da história do sujeito e seus

também eles se desatam, entram em luta, se

saberes;

apagam uns aos outros e continuam seu

4)

considerando

definir a

a

terapêutica,

complexidade

das

demandas de saúde. Partindo percorrendo vislumbramos

dessas

propostas

novos como

crucial

e

caminhos, para

o

processo de ampliação da clínica o deslocamento de territórios existenciais por meio de encontros entre corpos que acontecem no terreno da clínica como campo de experimentação. Ora, ampliamos

insuperável conflito.

Para Foucault (2001a), o corpo é inteiramente marcado e arruinado pela história, uma história entendida como “o próprio corpo do devir” (Foucault, 2001a, p. 20), composta mais por rupturas, descontinuidades, do que por uma pretensa linearidade. Nesse sentido, o mesmo corpo marcado pela história de um tempo,

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superfície desenhada por inscrições sócio-

de trabalho em saúde. Por meio das

culturais (de raça-cor-etnia, de gênero e

práticas de saúde, que feituras corporais

sexualidade, de classe social, de religião,

têm sido fabricadas?

de geração etc.), é também um corpo que

Nesses tempos em que os sujeitos e

tende a (re)existir: “superfície de inscrição

seus corpos, para participar da economia

dos acontecimentos (enquanto a linguagem

social de mercado, devem se construir

os marca e as idéias os dissolvem), lugar

como empreendedores de si, as práticas

de dissociação do Eu (que supõe a quimera

clínicas tendem a se traduzir em práticas

de uma unidade substancial) volume em

especialistas

perpétua pulverização” (Foucault, 2001a,

formatação corporal e subjetiva. Nesse

p. 22).

sentido, pode-se dizer que práticas clínicas

no

empreendimento

de

Nessa direção de pensar arranjos

tendem a funcionar no seio de um

corporais que resistem a formatações

exercício de poder que, tendo a vida como

inclusive clínicas, é que nos parece que

objeto, pretende iluminar excessivamente

buscar por essas feituras pode ser uma

as carnes (Foucault, 2006), produzindo

pista importante quando o que se intenta é

corpos organizados, organizando inclusive

ampliar a clínica, pois uma ampliação “que

corpos tidos como anormais, pois estes

não se limite à criação de um novo clichê –

também devem estar na norma (Veiga-

referendo de velhos especialismos – parece

Neto, 2001). Articulando-se à lógica da

mesmo requerer esforços teóricos, éticos e

necessária

políticos que extrapolam em muito meras

abjetos (Louro, 2004) - corpos que, ao

respostas às ampliações das demandas para

mesmo tempo, indicam o limite que os

o trabalho clínico que o contemporâneo

corpos saudáveis não devem ultrapassar e

também impõe” (Paulon, 2004, p. 264).

precisam ser corrigidos, normalizados – a

Nesses tempos de “subjetividade

intervenção

sobre

corpos

clínica, por sua vez, em muito ainda parece

exteriorizada” (Ortega, 2008), em que

funcionar

saúde tende a se traduzir em corrida pela

clareamento e cerceamento dos corpos e

perfeição corporal, em que a apresentação

seus movimentos.

ainda

nesse

sentido

de

corporal parece dizer o que são as pessoas,

Desse modo, pode-se questionar: se

quando se pensa a ampliação da clínica por

é no interior de uma rede de práticas que se

meio do operador corpo, é preciso, pois,

engendra um rosto específico para o objeto

questionar as encomendas institucionais

corpo saudável, as práticas clínicas podem

acerca da clínica e do corpo nos processos

escapar

da

encomenda

de

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produzir/sustentar tal rosto? Podem-se

nossas análises sobre a ampliação da

maquinar outros processos de trabalho,

clínica.

outros

corpos,

outras

saúdes,

outras

clínicas? Se sim, de que modo?

Nesse texto, entende-se corpo como construto político-cultural e o fazer em

A partir de nossas experimentações,

saúde como instância pedagógica por meio

inclusive conceituais, apostamos que o

da qual se tende a imprimir no mesmo

corpo pode ser um operador importante na

marcas sociais, identificando-o e fixando-

direção de construção de linhas de fuga

o. Nesse sentido, Meyer (2009, p. 128)

para o que está naturalizado no terreno do

afirma que o corpo é produzido em redes

cuidado em saúde. Desse modo, uma

de significação, na articulação entre nossas

pergunta aparece forçando um pensamento

“heranças

intempestivo

produzir

aprendemos quando nos tornamos sujeitos

estranhamento: como dar corpo a outras

de uma cultura”. Louro (2004, p. 89), por

práticas

Espreitando

sua vez, assinala que: “nomeados e

insistentemente o cotidiano de serviços de

classificados no interior de uma cultura, os

saúde

com

corpos se fazem históricos e situados. Os

movimentos de (re)existência da clínica:

corpos são ‘datados’, ganham um valor que

uma clínica das passagens corporais, tecida

é sempre transitório e circunstancial”.

bem ali onde territórios existenciais se

Inseridos num contexto histórico-político-

compõem dobrando as esquinas desse

cultural específico, os corpos são, então,

exercício de poder intitulado por Foucault

fabricados por variadas marcações: de

(2001b) de biopoder.

gênero, de sexualidade, de classe social, de

capaz

de

clínicas?

mental,

nos

deparamos

genéticas”

e

“aquilo

que

raça/cor, de religião, de faixa etária, de geração,

Corpo intercessor

de região etc. Corpos

são

montados e organizados por tais “marcas Conforme já registrado, o objetivo dessa montagem textual é operar com o conceito

de

corpo

como

intercessor

de poder”, a partir das quais, “podem valer mais ou menos” (Louro, 2004, p. 89). A

direção

é,

então,

a

de

(Deleuze, 1992), ou seja, por meio dele

problematização e desnaturalização da

interceptar, derivar, desviar, correlacionar,

concepção de corpo como dado, evidência,

intervir no modo de pensar e fazer clínica.

como objeto natural, como substância, à

Nesse sentido, ele, enquanto intercessor de

ideia de um corpo essencial, único e

nossas práticas clínicas, é fio condutor de

imutável, que pudesse condensar traços de

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tantos outros e, a partir dele, se pudesse

nos territórios geográficos em que os/as

almejar uma pretensa universalidade. Não

usuários/as residem. Desse modo, os

existe o objeto natural corpo, não existe

Centros de Atenção Psicossocial (CAPS),

“o” corpo. “O

responsáveis por tecer a rede de cuidado

corpo é uma falsa

evidência” (Le Breton, 2007, p. 26). Todavia,

além

de

construto

político-cultural, corpos são construções

em saúde mental, passam a funcionar como ordenadores desta rede (Brasil, 2002). Inseridos nos CAPS, usuários/as

político-éticas. Mais do que afeitos à

egressos/as

submissão a determinadas pedagogias

internação

culturais e à toxicomania identitária que

apresentar cronificados/as. O modo de

lhes organizam, lhes marcam, lhes ensinam

andar, de sentar e deitar no chão, a

‘boas’ condutas e avaliam seu valor, os

repetição dos gestos, das falas, o ato de

corpos tendem à singularização. Situando-

tirar a roupa, de caminhar descalço, o

se em fendas do jogo do poder, abandonam

fumar compulsivo, o olhar fixo no

a adesão obediente às fôrmas subjetivas

horizonte parecem compor sinais corporais

prescritas por tais pedagogias, recusam o

aprendidos por meio de uma pedagogia

que são e ensaiam a invenção de outros

silenciosa, reiterada, desenvolvida em

modos de existir (Guattari & Rolnik,

longos processos de internação em clínicas

2000).

e hospitais psiquiátricos. Tais gestos costumam

de

longos

psiquiátrica

acompanhar

períodos

de

costumam

se

o

corpo

de

Corpos e práticas que brotam da

usuários/as advindos/as de longos períodos

repetição

de internação nesses espaços, conformando uma produção cronificada do processo de

Em substituição ao modelo asilar

adoecimento.

de tratamento, a Política Nacional de

A intervenção nesta configuração

Saúde Mental/SUS preconiza que as

corporal desenha-se como um dos grandes

pessoas com transtornos mentais graves

desafios do processo de trabalho dos

e/ou persistentes bem como pessoas com

serviços substitutivos de saúde mental. Os

sofrimentos decorrentes do uso prejudicial

usuários cronificados costumam apresentar

de álcool e outras drogas devem ser

dificuldade de adesão e permanência nas

cuidadas em serviços substitutivos de

ofertas de cuidado realizadas pelo serviço.

saúde mental. Tais serviços prestam uma

Os usuários moradores dos Serviços

assistência de base comunitária inseridos

Residenciais Terapêuticos (SRT)2, em sua

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maioria, correspondem a esse perfil.

Arnaldo

Antunes

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(1993)

canta

esse

Com os CAPS, os muros físicos

“Agora”: “Já, já, Já, Já pá, já pá, pás, já

dos hospitais caíram. Porém, outros muros,

pás, pás, passou, já passou, já, passou, já

quiçá corporais, foram inscritos nas carnes

passou, já pá, Pá, pá, pá, sou, já, pá, sou,

destes/as usuários/as e nas de profissionais

sou, s, sou, sou, já, já passou, pá, já

de saúde, de tal forma que continuam a

passou”.

instalar dificuldades de encontro e afetação

diferenciação, esse corpo-usuário gagueja

entre corpos.

sua língua e seu corpo, já passou. Como

Num processo de repetição-

Sob o rótulo de embotamento

conservar forças se não por uma repetição

afetivo, muitos/as acreditam não haver

que, ao invés de reproduzir, parece

meio de composição com estes corpos

introduzir a diferença?

cronificados. Entretanto, experimentando

Quando se referem a esses/as

aquela modalidade de atenção cartográfica

usuários/as cronificados/as, profissionais

indicada por Kastrup (2007), ao seguir suas

costumam relatar: “ele não gosta de fazer

pegadas, tateando suas peles, a força de

nada”, “não tem vontade de nada”, “fica aí

expressão desses corpos, sua afetividade e

parado, ou fica aí andando pra lá e pra cá”,

seus gestos, parece ser outra: expressão por

“fica repetindo sempre a mesma coisa”. O

intensidades. Ao traçarem suas linhas,

que pode indicar esta vontade de nada?

fluxos que, aparentemente, são apenas

Esse ficar parado? Esse vai e vem no

repetição, “nunca passam pelo mesmo

caminhar de muitos/as usuários/as? Essa

lugar”, produzem diferença em cada gesto

vontade de nada que os/as trabalhadores/as

(Deleuze & Guattari, 1997).

sinalizam indicaria um entorpecimento do

“Pá, pá, pá, pá, pá, pá, Pá”.

corpo? Com que função? Um niilismo

Usuário, negro, homem, egresso de um

destrutivo

longo

sobrevivência como resistência do próprio

caminho

de

internações

psiquiátricas, morador de uma residência

ou

um

movimento

de

corpo?

terapêutica, segue caminhando sem parar

Para Nietzsche, uma vontade de

pelo CAPS. Repetindo sempre as mesmas

nada ainda é melhor do que um nada de

sílabas, risca as paredes fazendo signos

vontade, posto que ainda há a vontade

sem

que

(Giacoia Jr., 2001). O que esta força da

conservam a força de uma repetição, mas

repetição corporal conserva e introduz de

que,

produzem

novo na cena instituída do corpo-louco-

diferenciação. No álbum intitulado Nome,

cronificado? Como bifurcar bem ali onde

sentido.

a

cada

Gestos

e

movimento,

língua

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parece não se ter mais nada a fazer?

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entre linhas de fuga, um Corpo sem Órgãos

Ensaiando situar nossas análises-

(CsO). Seria o corpo cronificado um CsO,

intervenções para além de prescrições

do qual falam Deleuze & Guattari (1996)

corporais

da

em Mil Platôs? O qual nos expõe Artaud

desistência de investimento para encontrar

(1983) através do seu teatro contra a

com corpos que operam práticas de si, de

organização dos organismos3? Pois é

mundo,

abrem-se

contra o julgamento, a organização, os

possibilidades outras de entendimento da

estratos, contra o juízo que um Corpo sem

cronicidade de gestos de alguns/umas

Órgãos é criado. Criar para si um CsO

usuários/as. Nessa direção, os movimentos

parece ser, pois, uma questão de vida. O

repetitivos

usuários/as

CsO do corpo cronificado, por que ainda

cronificados/as, que parecem não dizer

seria uma questão de vida no território do

nada mais do que apenas o resultado de um

CAPS? Por que ainda seria necessária essa

processo de institucionalização, podem ser

montagem corporal? Nesses poucos anos

considerados como possuindo uma função,

de experimentação de um cuidado em

como ato técnico do corpo. Se “o corpo é o

saúde mental que tem o CAPS como

primeiro e mais natural objeto técnico e ao

ordenador, como se tem lidado com os

mesmo tempo o meio técnico é homem”

corpos

(Mauss, 1974, p. 217), se o “corpo é

cuidado tem deles se investido? De que

marcado e arruinado pela história”, mas

maneira?

como

de

também

coletivos,

dos/as

além

também é “superfície de inscrição dos

cronificados?

As

práticas

de

A partir de tais considerações,

acontecimentos” (Foucault, 2001a), pode-

temos

se entender os movimentos corporais

saberemos integralmente o que pode um

repetitivos

como

corpo, pois ele é absolutamente paradoxal”

compondo um processo de subjetivação,

(Giacoia Jr., 2002, p. 214). Se “cartografar

uma “dobra” que se apresenta no corpo na

é sempre compor com um território

forma de técnicas corporais. Parece que a

existencial, engajando-se nele” (Alvarez &

potência desses corpos está no ato de

Passos,

produzir uma dobra da dobra, fazendo,

importante pode ser a de compor novos

assim, acontecer nessa repetição outros

elementos na linha de cuidado desses

corpos, outras práticas, outros movimentos.

corpos, entendendo-os como possíveis de

Quando as forças do fora forçam a

intercessão e intervenção, no sentido que

desterritorialização, pode-se maquinar, por

Deleuze (1992) e Lourau (1995) dão a

dos/as

usuários/as

uma

2009,

única

p.

certeza:

131),

“jamais

uma

pista

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esses termos: produção de perturbação no

CAPS três 24h4 iniciou uma discussão que

que parece óbvio e composição de

mirava um processo de planejamento e

territórios de habitação comuns entre

implementação das atividades terapêuticas

corpos. Nesse sentido, a proposta é a de

ofertadas pelo serviço, o que passou por

experimentação

discutir

de

um

cuidado

singularizante, de uma intervenção que por intercessão, no encontro com eles, produza variações no próprio corpo da clínica.

seu

cardápio

de

oficinas

terapêuticas5. Num

primeiro

momento

da

discussão, que ocorrera ao longo de algumas

reuniões

de

equipe técnica,

A ambiência como passagem entre

profissionais responsáveis pela condução

espaço, corpo e clínica

das oficinas apresentaram cada oficina ofertada. Percebeu-se que usuários/as em

Nos serviços de saúde mental, onde os/as

usuários/as

crise, com determinadas limitações físicas

cronificados/as

e/ou cognitivas, cronificados, moradores

costumam ficar? Que espaços do CAPS

dos SRTs e usuários/as em acolhimento

eles habitam? De que modo? Em nossas

noturno costumavam não participar das

itinerâncias pela rede de saúde mental

oficinas. Isso sinalizava para a equipe uma

aracajuana,

esses

paisagem de cuidado que parecia não

usuários/as tendiam a habitar um “espaço

acolher os casos de maior necessidade de

morto” no interior dos serviços, ali

intervenção.

Despontava-se,

passando

necessidade

de

observamos

os

dias,

que

participando

pontualmente das atividades ofertadas pelo

analisar,

assim,

a

interferir

e

modificar tal paisagem.

serviço Munido/a dessas observações e de

Dessa forma, iniciou-se o segundo

desejos de interferência nesse contexto,

momento da discussão, em que foi preciso

construiu-se um território de habitação

pensar e apresentar alterações na oferta de

coletiva bem no meio de um desses

cuidado, inserindo novos elementos nas

espaços “mortos”, aparentemente sem

oficinas

existentes

vida.

oficinas,

pautando-se,

Ao

longo

do

ano

de

criando para

novas

isso,

demandas

acompanhando a direção da gestão de

contexto,

saúde mental que apontava a necessidade

Movimentos uma oficina modular de

de qualificação do cuidado prestado pela

capoeira.

foi

usuários/as.

nas

2007,

rede psicossocial, a equipe técnica de um

dos/as

e

proposta

pelo

Nesse Projeto

Nesse CAPS, tem-se um corredor

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que parte da recepção, prolongando-se até

Pensar, pois, os espaços físicos dos

os fundos do estabelecimento. Ao final do

serviços a partir da diretriz de ambiência

corredor,

(Brasil,

abre-se

um

espaço

amplo,

2010)

requer

alguns

conformando o centro do serviço, local de

deslocamentos: não se trata apenas da

maior fluxo e permanência de usuários/as.

distribuição de corpos em um dado espaço

O mesmo é utilizado como refeitório,

físico, mas sim, de como se dá a relação

sendo preenchido por algumas mesas e

dos corpos com o espaço, as possibilidades

bancos, em que os/as usuários/as ficam

de circulação dos mesmos, a convivência

sentados, conversando, andando, fumando,

entre os corpos, o modo de habitação do

esperando pelas atividades. Por ali também

espaço e, nestes processos, a produção dos

circulam trabalhadores/as. Trata-se de um

próprios corpos. Nesse ponto se articula

espaço sempre ocupado por corpos em

espaço, corpo e clínica: se intentarmos a

passagem em suas produções cotidianas.

desinstitucionalização

As únicas pessoas que parecem ali se

saúde mental, parece ser importante que

grudar são os/as usuários/as cronificados

faça parte de nossas análises e intervenções

em seus delírios e alucinações, sentados,

se pensar sobre os usos e os modos de

deitados, gritando, falando coisas, em seus

habitação dos espaços de um CAPS

movimentos repetitivos.

espaços como produtores do processo de

do

cuidado

em

Este espaço aberto no meio do

cuidado. Isso porque há uma íntima relação

serviço funciona como uma espiral, em que

entre espaço, corpo e clínica que não

os corpos entram, rodam e são jogados

podemos desconsiderar.

para fora novamente. Um não-lugar6

Nessa direção, alterar a ambiência

dentro do serviço. Seu potencial de

seja por meio de reformas estruturais

produção de encontros e realização de

necessárias,

atividades

experimentação

terapêuticas

parece

ser

seja de

por novos

meio

de

modos

de

profissionais

habitação de um espaço tido como “morto”

“porque é muito quente”, “porque faz

como o refeitório de um CAPS, enfim, nos

muito barulho”, “porque tem muita gente

parece um item importante a ser levado em

passando”.

de

consideração quando o que se quer é

refeições, esse espaço reserva-se para a

produzir mudanças nos processos de

realização da assembléia com usuários e de

trabalho rumo à qualificação do cuidado.

desconsiderado

pelos/as

Além

da

realização

confraternizações, ocasiões em que um grande número de pessoas ocupa o serviço.

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A roda: dando passagens ao corpo, ao

experimentados no jogo. Depois que todos

CAPS, à clínica

haviam jogado, era realizado um momento de relaxamento, em que os usuários

Conforme já mencionado acima, a

deitavam em colchonetes e recebiam

oficina modular de capoeira proposta pelo

comandos de voz para que começassem a

Projeto Movimentos foi programada para

relaxar e coordenar a respiração. Por meio

se realizar justamente nesse espaço central

de toques nas articulações, iam relaxando o

utilizado como refeitório e como estada de

corpo. No momento final, era realizada

corpos cronificados. A proposta foi, então,

outra roda, agora de conversa sobre a aula.

apresentada aos/às usuários/as. O objetivo

Nela, cada usuário/a podia falar sobre

é que ela ocorresse durante dois meses,

como

porém, por solicitação de usuários/as, foi

dificuldades, superações, sensações.

estendida por mais um mês. As

atividades

experimentou

as

atividades,

Com inserções variadas, entradas e planejadas

saídas diversas, usuários/as foram aderindo

segundo as demandas apresentadas nos

à oficina. A roda, geradora de uma força

Projetos Terapêuticos Singulares e as

atrativa, parecia puxar para o centro do

necessidades observadas ao longo da

jogo

própria oficina. As práticas eram coletivas,

Atravessava-os

começando por um alongamento dirigido,

engendrando participações tão diversas,

depois

com

que não se resumiam ao jogo no centro da

principalmente

roda. No decorrer da oficina de capoeira,

movimentos de ginga e deslocamento. Em

observa-se que alguns/mas usuários/as que

toda aula, havia a repetição da série de

não faziam fisicamente a capoeira (não

movimentos aprendida na aula anterior,

exercitavam),

acompanhada pela introdução de algum

envolvidos/as

elemento novo. No segundo momento da

participando, gingando com o olhar.

aula, a turma era divida em duplas, para

Entravam em outro ponto do jogo:

que

aprendiam pelo olhar, olhando os/as

por

movimentos

os

um

eram

aquecimento

básicos,

movimentos

realizados

as

intensidades com

dos

linhas,

estavam com

acompanhando

corpos. que iam

presentes a

e

atividade,

individualmente nos exercícios anteriores

colegas,

fossem experimentados a partir de uma

atentos/as

seqüência desenvolvida agora pela dupla.

silêncio para os/as outros/as que passavam

No final da aula havia sempre uma roda

ou chegavam desavisados/as do que estava

para que os movimentos pudessem ser

ali se desenvolvendo.

aos

com

palmas,

movimentos,

pedindo

Polis e Psique, Vol.2, Número Temático, 2012

Uma das usuárias observava todas

oficina,

a

P á g i n a | 158

presença

usuários/as

as aulas. Às vezes, esboçava um sorriso ou

cronificados/as

acompanhava com uma palma. Mantinha

refeitório parecia ser reconfigurada. Ao se

os olhos atentos ao movimento que os

ver

corpos desenhavam em cada jogo, em cada

diferentemente do se que estava descrito e

roda que se formava. Seu corpo jogava

prescrito em seus prontuários ou do que

com o corpo do outro, no movimento do

indicava

outro. Algumas vezes foi convidada para

patologias

entrar na roda ou participar de alguma

cotidianas, produziu-se estranhamento de

atividade, tendo-se sempre uma negativa

outros/as usuários/as e trabalhadores/as.

como resposta. No entanto, permanecia ali, jogando com os olhos.

no

de

corpos

a

espaço

se

morto

movimentarem

caracterização e

suas

do

de

próprias

suas

condutas

A oficina de capoeira funcionou, assim, como analisadora da suposta não

Durante as atividades, observaram-

adesão de usuários/as cronificados/as às

se algumas rodas concêntricas se formarem

atividades propostas e da também suposta

em torno do jogo: havia os dois jogadores

inadequação deste espaço central para a

no

em

realização de atividades terapêuticas. O

movimentos cadenciados pelo ritmo das

corpo desses/as usuários/as e o não-lugar

palmas, do berimbau e das músicas. Havia

do refeitório ganharam novos contornos

a roda formada pelos

que

com as atividades da capoeira. A oficina de

participavam oficialmente das atividades.

capoeira pareceu, assim, constituir um

Outra, aberta e dispersa, se formava de

território existencial coletivo desfazendo o

maneira

aparentemente

centro

da

roda,

aleatória

por

gingando

usuários

usuários

que

óbvio

da

mortificação

assistiam ao jogo, acompanhando com

daquele espaço e dos corpos que ali faziam

palmas. Havia ainda, os trabalhadores que,

morada. Nesse sentido, pode-se dizer que a

em alguns momentos, ao passarem pelo

oficina

refeitório, eram capturados pela roda,

ambiência do lugar, funcionando como um

interrompendo

sendo

outro modo de articulação entre espaço,

impelidos a observar o jogo. Por meio da

cuidado e corpo, como uma via de

composição dessas rodas, a prática da

passagem para forças que habitavam a

capoeira funcionou como agenciadora de

virtualidade desse território existencial

encontros com corpos e entre corpos, de

composto pelo cruzamento entre espaço e

encontros com o outro dos corpos.

esses corpos cronificados bem como entre

sua

trajetória,

Por meio de sua participação na

introduziu

uma

mudança

na

espaço e a cronificação das próprias

Polis e Psique, Vol.2, Número Temático, 2012

P á g i n a | 159

atividades ofertadas, no sentido de que as

(Escóssia, 2009): conexão com o olhar,

mesmas tendem a não fazer sentido para

com seu próprio corpo, com o corpo do

esses corpos.

outro, conexão com o jogo, conexão com a

Entra na roda um corpo adolescente

roda. O que se sabia sobre ele mudou,

com cerca de 20 anos, esquizofrênico. Um

passou, outro corpo emergiu. Outras

corpo de difícil comunicação com outros,

conexões se faziam necessárias.

um corpo que não olhava nos olhos, um

Corpos não se reduzem a estratos,

corpo que parecia se conformar com

mas podem partir deles para produzirem

aquele tradicional sinal de embotamento

um novo território, uma casa, uma dobra

afetivo. Mas, na roda de capoeira, para não

sobre si. Por meio de seus movimentos,

levar rasteira, é preciso olhar no olho do

corpos que participavam da roda, mesmo

outro e da roda, é preciso gingar, se afetar,

que não diretamente jogando, pareciam

e esse corpo olhou, gingou, sorriu, se

(re)existir em outro território que não

afetou. Durante os jogos de capoeira,

apenas o do corpo cronificado. A capoeira

aqueles

praticada

olhos

que

nunca

olhavam

por

corpos

desacreditados

diretamente nos olhos do outro, agora não

naquele lugar desacreditado (refeitório)

desviavam o olhar, pois era preciso jogar.

produziu uma ruptura dos estratos e uma

Encontro intensivo entre corpos, afeto,

abertura nos corpos cronificados bem

composição, em que a “relação sujeito-

como no corpo de um cuidado também

objeto

os

cronificado, colado a pedagogias corporais

movimentos, introduzindo o novo, a

que perpetuavam as condutas costumeiras

novidade, o larvário (Orlandi, 2009).

de tais corpos cronificados, naquele espaço

treme”,

algo

passa

entre

Desse modo, parece ter acontecido

que era considerado um espaço morto que

um deslocamento do que se concebia capaz

alojava corpos-vivos. No campo do visível

àquele

olhar-

e do enunciável sobre corpos cronificados,

distante. Não cabia mais classificar a (falta

emergiu um corpo inédito, mudando o

de) comunicação do seu olhar. Ele parecia

plano de visibilidade e dizibilidade sobre

não caber mais no corpo que tinha antes,

tais corpos. Houve uma disjunção, uma

ganhando volume, outras formas, outros

ruptura entre o que era dito sobre eles, nos

movimentos. Novos modos de conexão

prontuários, descrições psicopatológicas,

foram experimentados com seu corpo,

naquilo que cotidianamente se esperava de

novos agenciamentos, quando agenciar é

suas condutas e aquilo que agora se torna

experimentar um máximo de conexões

visível no “quadro-visibilidade” (Deleuze,

corpo-esquizofrênico,

Polis e Psique, Vol.2, Número Temático, 2012

2005).

P á g i n a | 160

condutas, em uma pedagogia corporal. O entendimento do governo das condutas

Os CAPS como territórios de ensino e

como pedagogia parece oferecer uma pista

(des)aprendizagens corporais7

importante para analisar o funcionamento dos serviços substitutivos de saúde mental,

No início dos anos oitenta, em um

em particular: o serviço, seu espaço, as

dado momento do desenvolvimento de

prescrições clínico-institucionais que o

suas pesquisas, na busca por caminhos para

regem,

extrapolar a crítica de que o sujeito por ele

realizadas, as relações entre as pessoas que

pensado seria efeito apenas de relações de

vivem, convivem e ali circulam, o modo

dominação,

um

como elas se comportam ali dentro, os

deslocamento na chave de compreensão

saberes e fazeres que ali se desenvolvem, o

das relações de poder, entendendo-as, a

cuidado

partir de então como relações de governo:

terapêuticos ali construídos parecem operar

Foucault

(2011)

faz

como

as

diferentes

ali

atividades

oferecido,

pedagogias,

os

como

ali

projetos

elementos

[...] tentei esboçar um pouco essa noção de

formadores

governo que me pareceu ser muito mais

inscritos nos corpos, processos de ensino-

operatória que a noção de poder; governo entendido seguramente não no sentido

de

condutas:

gestos

são

aprendizagem ali se tecem, organizando

restrito e atual de instância suprema de

corpos, constituindo sujeitos9, ou seja,

decisões executivas e administrativas em um

formando

sistema estatal, mas no sentido largo e antigo

personagens que ali se encontram, “cada

de mecanismos e procedimentos destinados

um com uma função, um lugar, um rosto

a conduzir os homens, a dirigir a conduta dos homens, a conduzir a conduta dos

profissionais

e

usuários/as,

bem-definido” (Foucault, 2010, pp. 285286).

homens (Foucault, 2011, p. 53).

Na medida em que são necessários

Mas se os CAPS figuram como

investimentos educacionais8 para formar

territórios de ensino, na medida em que o

sujeitos governáveis, que, nos dias atuais,

ensinar se refere a processos por meio dos

se traduzem em empresários de si ou,

quais se almeja governar condutas, e a

ainda,

ingovernáveis

clínica em saúde mental tende a figurar

extraviados, na tentativa de inscrever suas

como uma pedagogia de formatação

condutas

de

corporal, observando os relevos desses

existência, o governo das condutas parece

serviços, bem ali saltam acontecimentos

traduzir-se

clínicos. Ali, pululam fagulhas saltitantes

para

(re)formar

no

em

modelo

uma

econômico

pedagogia

das

Polis e Psique, Vol.2, Número Temático, 2012

P á g i n a | 161

espaço

outro”, com “outros”, com uma coisa

(trans)formando-o em território afeito a

qualquer que desperte o desejo. Por isso,

que

reconfiguram

o

(des)aprendizagens. Em outros termos,

para

aprender

é

necessário

“primeiro

aprender a desaprender” (Caieiro, 1986).

espreitando-se um pouco mais o cotidiano

Aprender

das práticas que povoam os CAPS,

constituídos, os significados produzidos e os

parecem

ali

pensamentos construídos para abrir em si

acontecimentos, produzindo o descaminho,

próprio as diferenças. Aprender é, em

explodir

aqui

e

ou pelo menos um caminho ainda por se

Em outros termos, bem ali junto a processos que fazem destes serviços um território de ensino, de organização de corpos de profissionais e usuários/as, prescrevendo-lhes fôrmas-de-ação (Barros, 2005), bem ali aprendizagens escapam ao governo

das

condutas,

criando

possibilidades de singularização, de recusa a

determinados

modos

de

condução

obstinados pela fabricação de rostos e fixação

de

funções

e

identidades

institucionais. Bem ali, bifurcando essa busca pelo homogêneo que pauta o ensinar, corpos

experimentam

aprendizagem

que

processos possibilitam

de sua

desaprender

os

sentidos

síntese, deixar-se “afetar” (Spinoza, 2007).

construir para os corpos, para a vida, para a educação e para o cuidado ali produzido.

a

A partir de tais considerações, pode-se pensar os CAPS como territórios de ensino e organização de corpos, mas também como territórios onde se pode aprender a desaprender, a desnaturalizar todo um longo histórico de enlatadas aprendizagens sobre processos de cuidado. Dessa

forma,

pode-se

experimentar

processos de aprendizagem menos afeitos ao governo das condutas, à fixação identitária e à formatação subjetiva, mais interessados em abrir os corpos para a mestiçagem de encontros. Abrir-se a aprendizagens situadas bem ali no encontro sem bússolas com outros corpos e com o ‘outro’ do corpo. Esse ‘ensaio’ parece, assim, se configurar como:

abertura, corpos aprendem a desaprender. Nessa direção, Paraíso (2011, p. 47),

[...]

assinala que:

qualquer tipo de intervenção que não se

tarefa

ético-política

irredutível

de

pretenda fascista: a prontidão à experiência [...] Aprender é abrir-se e refazer os corpos,

de um encontro com a alteridade movente e,

agenciar atos criadores, refazer a vida,

portanto,

encontrar a diferença de cada um e seguir

constante; encontro compreendido não como

um caminho que ainda não foi percorrido.

militância de uma causa transcendente

Aprender é abrir-se à experiência com “um

qualquer, mas como prática intensificadora

em

estado

de

recomposição

Polis e Psique, Vol.2, Número Temático, 2012

de uma arte geral de convívio marcado por

perturbação

nenhuma volúpia governamentalizadora e

culturais-corporais

alguma porosidade à diferença e à variância que esse tipo de acontecimento pode nos

das

P á g i n a | 162

coordenadas

sócio-

vigentes,

pois

o

importante é tentar, mesmo o impossível

provocar,ou ao que quer que a alteridade nos

(Amado, 2008). A esse respeito, aponta

afete e nos faça descolar. Descaminhos da

Paulon (2004, p. 265):

experiência de si, portanto (Aquino, 2011, p. 205).

Se ficarmos, então, discutindo a ampliação no âmbito da intervenção de uma Clínica meramente

Corpo: a grande razão da clínica

disseminadora

dos

mesmos

modos de subjetivação existentes, estaremos, no máximo, ampliando os pontos de

Ao nos referirmos à ampliação da clínica,

atentamos

para

as

tensionamento entre um campo de saber que

questões

apresentadas

por

Paulon

(2004),

ao

problematizar

a

que(m)

destina

a

resiste

a

reconhecer

esgotamento

e

contemporâneo

seus

as que

sinais

demandas poderiam

de do

indicar

exatamente onde eles estão.

adjetivação da clínica como ampliada: “afinal trata-se de ampliar o que? Por quê?

A clínica que desejamos insistir

Em que sentido e com quais meios?” (2004, p. 259). Dito de outra maneira, quando se trata de fazer clínica em saúde mental, e do objetivo de articular esse fazer com a produção de corpos, parece ser preciso atentar para a discussão da encomenda institucional comumente feita aos/às trabalhadores/as de saúde mental, acerca do cuidado e do corpo. Que encomenda é essa? Atende a quem? A que objetivos no jogo das relações de poder? Atende ao escopo de condução das condutas rumo à reabilitação e participação na economia social de mercado? Pode atender a um movimento coletivo de insistência da desinstitucionalização como transvaloração

(Paulon,

2006),

como

experimentando, uma clínica que vez em quando se insurge borrando a ortopedia de certas paisagens terapêuticas, desfazendo o aparentemente óbvio

de uma clínica

inclinada à formatação dos corpos, é uma clínica afeita a (des)aprendizagens, a novas feituras do seu próprio corpo. Uma clínica das

passagens

corporais,

clínica

da

experimentação, feita por entre encontros de

corpos.

Na

medida

em

que

experimentamos formas potentes de fazer clínica justamente ali no encontro entre corpos e com o outro do corpo, inclusive o outro do corpo da clínica em saúde mental, é que apontamos nesse texto à ampliação da clínica por meio do operador corpo.

Polis e Psique, Vol.2, Número Temático, 2012

P á g i n a | 163

Para tanto, cabe a advertência de

que qualificada, mas sensível ao “corpo

não encerrar o corpo em qualquer uma

vibrátil”, uma escuta dos movimentos

destas concepções: nem biológico, nem

intempestivos dos corpos e não restrita à

psico, nem social, nem biopsicossocial,

mera

pois, como aqui discutimos, estamos

comportamentos, tentando-se encaixar as

falando de um corpo que se ergue por entre

necessidades do/a usuário/a aos ditames do

os desígnios do biológico e da linguagem,

mercado e do Estado: voltar a trabalhar,

os quais não acompanham a velocidade e

voltar a ter um corpo ‘são’ apto para um

as intensidades que participam de sua

trabalho esvaziado de sentido, apto para o

feitura. Um corpo que nasce dos estratos,

consumo, apto para se fazer um corpo-

mas que é mais que essa paisagem

capital,

instituída, um corpo capaz de transmutá-la.

pensando

Enquanto se tenta, inclusive por meio de

promulgada capacidade de escutar e tão

práticas clínicas, paralisar o corpo em

procurada possibilidade de se deixar afetar

estratos, ele foge, bifurca, cria uma saída,

pelo outro”, por seu corpo, por seus

ou uma nova entrada, devém estrela e

territórios, por sua forma de vida, mais que

dança (Nietzsche, 1885/2008), situando-se

isso, pelo outro do corpo, dos territórios e

a passos largos de quaisquer tentativas de

da vida (Paulon, 2004, p. 265).

aferição

de

normalidade

empreendedor por

onde

de anda

dos

“Fico

si. nossa

tão

interpretá-lo, representá-lo. Quando se

Uma clínica das passagens aponta

pretende pensar corpo estagnando-o em

para a necessidade de se experimentar uma

uma destas concepções ou organizando-o

escuta que busque pelo encontro, e não

mediante os marcadores sócio-culturais

pela palavra, menos ainda por uma palavra

vigentes, seu movimento tende a cessar.

justa (Deleuze, 1992), colada aos grandes

Luz demais sobre um corpo que dança na

clichês da saúde mental. Ressalte-se o caso

escuridão tende a cegar. Eis o principal

da

adoecimento: o do olhar de certas práticas

comumente o que se produz no terreno do

clínicas que tomam o corpo como objeto a

capitalismo, é uma “cidadania da sujeição”

ser iluminado por tecnologias de poder.

(Carvalho, 2009), em que é preciso aderir

produção

de

cidadania,

quando

Nesse contexto, uma clínica que se

ao quadro das boas condutas para se tornar

quer (re)existência precisa seguir o corpo

cidadão/ã. Talvez, uma escuta atenda aos

em suas intensidades movediças, o que

ilimitados modos de feitura de um corpo,

requer uma clínica igualmente movediça.

interessada por sua abertura, pode abrir a

Nesse sentido, a escuta precisa ser mais do

clínica para outras experimentações de

Polis e Psique, Vol.2, Número Temático, 2012

P á g i n a | 164

cidadania: ao invés de uma “cidadania da

corpo, como se a partir desta pudéssemos

sujeição”, a qual requer (auto)policiamento

dizer o que por ele passa, pois “poderíamos

das condutas, que organiza os corpos

passar sem a consciência [uma vez que]

colando-os a um rosto homogêneo e

[...]

transcendental de homem e humanidade,

fisiológicos

junto ao corpo e às suas vibrações, ensaia-

vegetativa, e mesmo sensitiva, está ausente

se uma cidadania que brota não mais de

a qualidade psíquica da consciência”

identidades soberanas, mas imanente a

(Giacoia Jr., 2001, p. 31). A consciência

processos singulares, num movimento

mais

associado às práticas cotidianas.

compreensão do corpo como potência,

Conhecemos

muito

quase

todos

os

fundamentais

atrapalha

do

que

processos da

vida

ajuda

na

do

principalmente, se ela não for utilizada

corpo. Tentamos, a todo momento, fixá-lo,

como uma ferramenta, uma “ferramenta da

formatá-lo,

representá-lo,

mesma maneira como o estômago é uma

como se uma forma, uma substância, uma

ferramenta para digestão” (Giacoia Jr.,

palavra, um discurso, um saber pudesse

2002, p. 200).

bastar, acalmando nossas angústias de não

Nesse

classificá-lo,

pouco

em

sentido,

Nietzsche

saber de antemão o que é, o que pede e o

(1885/2008) considera o corpo como “a

que pode um corpo. Tendemos, inclusive, a

grande razão” e a consciência apenas como

desprezá-lo, corroborando com toda uma

um de seus órgãos. Por isso, o combate à

tradição filosófico-política que o rechaçou,

organização do organismo. Por isso,

posto que apegada a valores ‘superiores’

construir um Corpo sem Orgãos para si, ao

em detrimento da terra e do corpo. Daí as

invés de tomar consciência de si. Por isso,

práticas clínicas tenderem a ser tão

a incitação ao descaminho, inclusive do

apegadas

de

corpo da clínica, por isso, mais do que

consciência, ao alcance de uma suposta

saber o que se é, parece ser preciso recusar

identidade interiorizada. O desprezo pelo

o que somos. “Em uma ironia socrática,

corpo

de

conhecer-se a si mesmo, na medida em que

formatações. Nesse sentido, ao invés da

significa tomar-consciência-de-si, implica

alma, não seria o corpo que seria preciso

em perder-se de si mesmo” (Giacoia Jr.,

libertar?

2001, p. 40).

fez

ao

verbo,

dele

um

à

tomada

prisioneiro

Porém nesse processo de libertação

Desse modo é que se pensou na

do corpo, cabe outra advertência: não se

possibilidade do corpo como operador da

trata de uma tomada de consciência do

ampliação

da

clínica,

entendendo

o

Polis e Psique, Vol.2, Número Temático, 2012

P á g i n a | 165

trabalho clínico como articulado aos

se conectam produzindo uma figura, ora se

movimentos

desconectam

de

abertura

e

desestabilizando

figuras

(des)aprendizagens corporais. A aposta é

constituídas” (Araújo, 2006, p. 21). O que

numa

e

se pensa com a clínica aqui esboçada é na

singular, pouco afeita a especialismos,

constituição de habitações corporais que

prescrições e generalizações, uma clínica

sejam

que

singularizantes

montagem



clínica

passagem

aos

artesanal

movimentos

menos

restritivas, e

que,

mais

ao

ousar

corporais. Clínica que se tece bem ali em

desterritorializações,

paisagens corporais noturnas, habitantes de

materialidade de expressão, compondo

fronteiras,

novas formas.

borrando

os

caminhos

instituídos para o corpo humano e suas condutas,

dando

possibilidade

consigam

Para tanto, aqui se pensou numa

de

ética da clínica, no sentido de dar-lhe

emergência e territorialização de outras

formas encarnadas por meio do que lhe

formas de feitura corporal. Clínica-corpo

indica relevos do contexto em que ela se

que somente será sabida e experimentada

desenrola, uma clínica tecida por meio do

na medida em que se engendrar bem ali na

encontro entre corpos e com o outro do

imanência de práticas cotidianas.

corpo, uma clínica da (des)aprendizagem,

A partir de tal entendimento, ao

da abertura dos corpos para outras rotas,

invés de se seguir dizendo do que

uma

necessitam corpos de usuários/as, a partir

passagem, “uma experiência do limite”

de tal ou qual diagnóstico, prescrevendo tal

(Passos & Benevides, 2006, p. 13),

ou qual atividade, tal ou qual conduta,

inclusive da própria clínica. Um cuidado

talvez se possa suspender certezas sobre

que habite a tensão entre formatações e

seus corpos e sobre o corpo da clínica e

experimentações corporais e que, ao se

experimentar uma prática clínica que

desligar, pelo menos por alguns instantes,

trabalhe justo a potência dos corpos ao

do mandato de sujeição de corpos, pode

invés de vampirizá-los em favor do

agenciar

biopoder. Uma clínica que se lança em

singularizantes,

abertura para o descaminho de pensar e

colocar sua própria vida à prova, pode

experimentar o corpo antes de ter forma,

agenciar outras formas de vida para os

possibilitando novas montagens, inclusive

corpos.

terapêutica: “a clínica se revela, então, como a bricolagem de fragmentos que ora

Notas

clínica

experimentada

paisagens um

cuidado,

como

corporais que

ao

Polis e Psique, Vol.2, Número Temático, 2012

P á g i n a | 166

produzir, na rede de saúde mental e suas 1

Texto inédito, baseado em nossas

interfaces, espaços coletivos de ação e de

pesquisas de mestrado e doutorado junto

discussão acerca da temática do corpo

ao

(Mais

Programa

de

Pós-Graduação

em

detalhes

a esse respeito, ver

Educação/UFRGS, financiadas pelo CNPq

Machado, 2011).

e pela CAPES.

5

2

espaços

Os residenciais terapêuticos são serviços

Tais oficinas se caracterizam como que

se

querem

em,

pelo

terapêuticos

previstos pela Política Nacional de Saúde

centrando-se

Mental/SUS, destinados para moradia de

princípios:

usuários egressos de longos anos de

desenvolvendo atividades que costumam

internação em hospitais psiquiátricos. O

compor o cotidiano das pessoas (atividades

objetivo é o de reintroduzi-los no convívio

da vida diária), tais como cozinhar, ter

social, tecendo um processo de cuidado

hábitos básicos de higiene, se embelezar

articulado às equipes de atenção básica e à

etc. 2) Produzir coletivos, garantindo

equipe do CAPS de referência para

espaços de socialização, de troca de

localidade de suas casas (Brasil, 2004).

experiências, a partir de um envolvimento

3

grupal

“O organismo não é o corpo, o CsO, mas

1)

com

menos,

Produzir

objetivos

três

cotidianidade,

compartilhados:

um estrato sobre o CsO, quer dizer um

aprender ou implementar uma atividade. 3)

fenômeno de acumulação, de coagulação,

Compor

de sedimentação que lhe impõe formas,

complexificando-os

funções,

organizações

introdução de novas atividades, as quais

hierarquizadas,

tendem a funcionar como produtoras de

transcendências organizadas para extrair

novas paisagens subjetivas. Para isso,

um trabalho útil” (Deleuze e Guattari,

atividades artísticas e práticas corporais

1996, p. 21).

parecem ser imprescindíveis, janelas para

4

si e para o mundo.

ligações,

dominantes

e

Nesse CAPS, nos inserimos como:

territórios

apoiadora institucional do serviço (mais

6

informações

‘estabelecer-se’

a

esse

respeito,

ver

existenciais,

por

meio

da

Não-lugares “desencorajam a ideia de [...]

aceitam

a

Vasconcelos & Morschel, 2009) e como

inevitabilidade de uma adiada passagem,

coordenador do Projeto Movimentos. Tal

às vezes muito longa, de estranhos, e

projeto foi transversal e transdisciplinar,

fazem o que podem para que sua presença

desenvolvido no período de abril de 2007 a

seja ‘meramente física’ e socialmente

fevereiro de 2009. Teve como finalidade

pouco

diferente,

e

preferencialmente

Polis e Psique, Vol.2, Número Temático, 2012

indistinguível da ausência, para cancelar, nivelar,

ou

subjetividades

zerar de

as seus

habitar um território existencial. In E.

‘passantes’”

Passos, V. Kastrup, & L. Escóssia (Org.). Pistas do método da cartografia: pesquisa-intervenção e produção de

Mais detalhes sobre essa discussão, ver

subjetividade

Vasconcelos (2013). 8

Alvarez, J. & Passos, E. (2009). Cartografar é

idiossincráticas

(Bauman, 2001, p. 119). 7

P á g i n a | 167

(pp.

131-149).

Porto

Alegre: Sulina.

Vale dizer que, nesse texto, entende-se

que tais investimentos educacionais são compostos por todo um conjunto de

Amado, J. (1961/2008). A morte e a morte de quincas

berro

dágua.

São

Paulo:

Companhia das Letras.

processos por meio dos quais indivíduos

Antunes, A. (1993). Agora. Em nome. Bmg.

são transformados em sujeitos de uma

Aquino, J. G. (2011). A governamentalidade

de

como plataforma analítica para os

capitalismo financeiro, em sujeitos de uma

estudos educacionais: a centralidade da

dada cultura somático-empresarial. Tornar-

porblematização da liberdade. In G. C.

se sujeito dessa cultura envolve um

Branco, & A. Veiga-Neto. (Org.).

determinada

cultura,

em

terrenos

complexo de processos de ensino e de aprendizagem

que

permeiam

muitas

instâncias e dimensões da vida em sociedade. Em outras palavras, não se separa aqui educação de socialização. 9

Foucault: filosofia & política (pp. 195211). Belo Horizonte: Autêntica. Araújo, F. (2006). Um passeio esquizo pelo acompanhamento

terapêutico:

dos

especialismos à clínica da amizade. Niterói, RJ: Editoração Eletrônica.

“Você será organizado, você será um

Artaud, A. (1983). Para acabar com o

organismo, articulará seu corpo – senão

julgamento de deus. In A. Artaud. Os

será um depravado. Você será significante

escritos de antonin artaud (C. Willer,

e significado, intérprete e interpretado –

Trad., pp. 145-162). Porto Alegre: LPM.

senão será desviante. Você será sujeito e,

Barros, M. E. (2005). Desafios ético-políticos

como tal, fixado, sujeito de enunciação

para a formação dos profissionais de

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Dagoberto Oliveira Graduação

em

Educação

Física

(FACED/UFRGS), mestrado em Educação (PPGEDU/UFRGS), consultor da Política Nacional de Humanização/Ministério da Saúde. E-mail: [email protected]

Michele Vasconcelos Graduação em Psicologia (UFS), mestrado em Saúde Coletiva (Instituto de Saúde Coletiva/UFBA), doutorado em Educação (PPGEDU/UFRGS), consultora da Política Nacional de Humanização/Ministério da Saúde. E-mail: [email protected]

Aldo Rezende de Melo Graduação

em

Psicologia

(UFS),

mestrando em Psicologia Social (UFS), apoiador

institucional

da

Diretoria

Operacional da Fundação Hospitalar de Saúde de Sergipe (FHS) e coordenador do Comitê de Humanização da FHS. E-mail: [email protected]

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