Polis e Psique, Vol.2, Número Temático, 2012
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O corpo como fio condutor para ampliação da clínica1 Body as a conducting wire for extension of clinic El cuerpo como hilo conductor para la ampliación de la clínica
Dagoberto de Oliveira Machado Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Michele de Freitas Faria de Vasconcelos Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Aldo Rezende de Melo Universidade Federal do Sergipe, Aracaju, SE, Brasil. Resumo O texto tem como objetivo ampliar a diretriz da clínica ampliada nos termos definidos pela Política Nacional de Humanização. Numa tentativa de arejamento e atualização de tal diretriz, toma o corpo como um operador da ampliação da clínica. Para tanto, partiu-se de itinerários foucaultianos e nietzscheanos, de experimentações desenvolvidas a partir de nossas inserções na rede de saúde mental do município de Aracaju-Sergipe, bem como dos dados produzidos por nossas pesquisas de mestrado e doutorado. Entendendo corpo como uma montagem, como uma feitura realizada num espaço de tensão entre formas de sujeição e forças de experimentação, se pensou a própria clínica como um corpo. Clínica-corpo que se traceja por entre desejos de formatação, mas também uma clínica que (re)existe, mais afeita à abertura dos corpos, inclusive o seu próprio. Palavras-chave:
Corpo,
Clínica,
Clínica
Ampliada,
Saúde
Mental,
Reforma
Psiquiátrica/CAPS.
Abstract This paper aims to widen the extended clinic guideline as defined by the National Humanization Policy. In an attempt to aerate and update such guideline, it takes the body as an operator for the extension of the clinic. Therefore, we start from Foucauldian and Nietzschean itineraries, of experimentation developed from our inserts in mental health system of the city of Aracaju, Sergipe, and the data produced by our masters and doctoral researches. Understanding body as an assembly, as a workmanship made in a space of tension
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between forms of subjection and experimentation forces, it was thought the clinic as a body; clinic body traced through formatting desires, but also a clinic that re-exists, preferring the opening of bodies, including its own. Keywords: Body, Clinic, Extended clinic, Mental Health, Psychiatric Reform.
Resumen El texto tiene como objetivo ampliar la directriz de la clínica ampliada en los términos definidos por la Política Nacional de Humanización. En un intento de aireamiento y actualización de tal directriz, toma el cuerpo como un operador de la ampliación clínica. Para tanto, se partió de itinerarios foucaultianos y nietzscheanos, de experimentaciones desarrolladas a partir de nuestras inserciones en la red de salud mental en el municipio de Aracaju - Sergipe, así como de los datos producidos por nuestras investigaciones de máster y doctorado. Entendiendo cuerpo como un montaje, como una fabricación realizada en un espacio de tensión entre formas de sujeción y fuerzas de experimentación, se pensó la propia clínica como un cuerpo. Clínica-cuerpo que se traza por entre deseos de formateo, pero también una clínica que re-existe, más habituada a la apertura de los cuerpos, incluso su propio. Palabras-clave: Cuerpo, Clínica, Clínica Ampliada, Salud Mental, Reforma Psiquiátrica/ CAPS.
Os fios que tecem essa escrita
traduz-se, assim, por pensar o corpo como
foram alinhavados por meio de nossas
um operador para ampliação da clínica.
itinerâncias na rede de saúde mental de
Entendendo corpo como uma montagem,
Aracaju-Sergipe
trabalhador/a,
como uma feitura realizada, como aponta
gestor/a, pesquisador/a. Desse percurso,
Paraíso (2011), num espaço de tensão entre
pinçamos aqui experimentações de modos
formas
de fazer clínica, na direção de empreender
experimentação, pode-se pensar a própria
discussões sobre o caso da clínica em
clínica como um corpo. Clínica-corpo que
saúde mental.
se traceja por entre desejos de formatação,
como
de
sujeição
e
forças
de
Seguindo uma pista nietzschiana
mas também uma clínica que (re)existe,
(1885/2008), optamos aqui por tomar o
mais afeita à abertura dos corpos, inclusive
corpo como fio condutor de análises sobre
o seu próprio.
a clínica. A proposta do presente texto
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A tentativa foi a de rastrear em
a
clínica
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por
necessidades
de
nossas andanças pela saúde mental esses
(trans)formação do corpo, inclusive do
momentos singulares de dispersão da
corpo da clínica, por necessidade de
clínica, seguir movimentos de uma clínica
desfazer o já dado sobre uma clínica
artesanal, ensaística, ainda que ampliada,
predominantemente verbal e colada a um
minimalista,
corpo entre o biológico e a linguagem, para
circunstancial,
não
generalizável. Está-se apostando, pois, na
nos
remeter
a
um
corpo-larvário,
clínica como espaço de experimentação.
inominável, ilocalizável, impossível, não
Para nós, a diretriz da Clínica
dado, ao poroso vazio do não saber sobre o
Ampliada proposta pela Política Nacional
que é um corpo e sobre suas infindáveis
da Humanização (Brasil, 2008) parece
formas
apresentar indicativos de necessidade de
almejamos segui-lo, rastreá-lo, pois o
atualização.
de
importante é tentar mesmo o impossível
ampliação, tal diretriz aponta para: 1) visar
(Amado, 1961/2008). Ressalte-se aqui uma
a saúde, e não a doença, como objeto de
passagem
Como
caminhinhos
“considerando
investimento,
a
de
de
feitura.
Mesmo
Foucault
sobre
assim,
corpo
(Foucault, 2001a, p. 20):
vulnerabilidade, o risco do sujeito em seu contexto” (p. 55); 2) produzir saúde,
[...] sobre o corpo se encontra o estigma dos
aumentando
acontecimentos passados do mesmo modo
autonomia dos sujeitos; 3)
fazer avaliação diagnóstica a partir do
que
dele
nascem
os
desejos,
os
desfalecimentos e os erros; nele também eles
saber técnico e epidemiológico, mas
se atam e de repente se exprimem, mas nele
também da história do sujeito e seus
também eles se desatam, entram em luta, se
saberes;
apagam uns aos outros e continuam seu
4)
considerando
definir a
a
terapêutica,
complexidade
das
demandas de saúde. Partindo percorrendo vislumbramos
dessas
propostas
novos como
crucial
e
caminhos, para
o
processo de ampliação da clínica o deslocamento de territórios existenciais por meio de encontros entre corpos que acontecem no terreno da clínica como campo de experimentação. Ora, ampliamos
insuperável conflito.
Para Foucault (2001a), o corpo é inteiramente marcado e arruinado pela história, uma história entendida como “o próprio corpo do devir” (Foucault, 2001a, p. 20), composta mais por rupturas, descontinuidades, do que por uma pretensa linearidade. Nesse sentido, o mesmo corpo marcado pela história de um tempo,
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superfície desenhada por inscrições sócio-
de trabalho em saúde. Por meio das
culturais (de raça-cor-etnia, de gênero e
práticas de saúde, que feituras corporais
sexualidade, de classe social, de religião,
têm sido fabricadas?
de geração etc.), é também um corpo que
Nesses tempos em que os sujeitos e
tende a (re)existir: “superfície de inscrição
seus corpos, para participar da economia
dos acontecimentos (enquanto a linguagem
social de mercado, devem se construir
os marca e as idéias os dissolvem), lugar
como empreendedores de si, as práticas
de dissociação do Eu (que supõe a quimera
clínicas tendem a se traduzir em práticas
de uma unidade substancial) volume em
especialistas
perpétua pulverização” (Foucault, 2001a,
formatação corporal e subjetiva. Nesse
p. 22).
sentido, pode-se dizer que práticas clínicas
no
empreendimento
de
Nessa direção de pensar arranjos
tendem a funcionar no seio de um
corporais que resistem a formatações
exercício de poder que, tendo a vida como
inclusive clínicas, é que nos parece que
objeto, pretende iluminar excessivamente
buscar por essas feituras pode ser uma
as carnes (Foucault, 2006), produzindo
pista importante quando o que se intenta é
corpos organizados, organizando inclusive
ampliar a clínica, pois uma ampliação “que
corpos tidos como anormais, pois estes
não se limite à criação de um novo clichê –
também devem estar na norma (Veiga-
referendo de velhos especialismos – parece
Neto, 2001). Articulando-se à lógica da
mesmo requerer esforços teóricos, éticos e
necessária
políticos que extrapolam em muito meras
abjetos (Louro, 2004) - corpos que, ao
respostas às ampliações das demandas para
mesmo tempo, indicam o limite que os
o trabalho clínico que o contemporâneo
corpos saudáveis não devem ultrapassar e
também impõe” (Paulon, 2004, p. 264).
precisam ser corrigidos, normalizados – a
Nesses tempos de “subjetividade
intervenção
sobre
corpos
clínica, por sua vez, em muito ainda parece
exteriorizada” (Ortega, 2008), em que
funcionar
saúde tende a se traduzir em corrida pela
clareamento e cerceamento dos corpos e
perfeição corporal, em que a apresentação
seus movimentos.
ainda
nesse
sentido
de
corporal parece dizer o que são as pessoas,
Desse modo, pode-se questionar: se
quando se pensa a ampliação da clínica por
é no interior de uma rede de práticas que se
meio do operador corpo, é preciso, pois,
engendra um rosto específico para o objeto
questionar as encomendas institucionais
corpo saudável, as práticas clínicas podem
acerca da clínica e do corpo nos processos
escapar
da
encomenda
de
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produzir/sustentar tal rosto? Podem-se
nossas análises sobre a ampliação da
maquinar outros processos de trabalho,
clínica.
outros
corpos,
outras
saúdes,
outras
clínicas? Se sim, de que modo?
Nesse texto, entende-se corpo como construto político-cultural e o fazer em
A partir de nossas experimentações,
saúde como instância pedagógica por meio
inclusive conceituais, apostamos que o
da qual se tende a imprimir no mesmo
corpo pode ser um operador importante na
marcas sociais, identificando-o e fixando-
direção de construção de linhas de fuga
o. Nesse sentido, Meyer (2009, p. 128)
para o que está naturalizado no terreno do
afirma que o corpo é produzido em redes
cuidado em saúde. Desse modo, uma
de significação, na articulação entre nossas
pergunta aparece forçando um pensamento
“heranças
intempestivo
produzir
aprendemos quando nos tornamos sujeitos
estranhamento: como dar corpo a outras
de uma cultura”. Louro (2004, p. 89), por
práticas
Espreitando
sua vez, assinala que: “nomeados e
insistentemente o cotidiano de serviços de
classificados no interior de uma cultura, os
saúde
com
corpos se fazem históricos e situados. Os
movimentos de (re)existência da clínica:
corpos são ‘datados’, ganham um valor que
uma clínica das passagens corporais, tecida
é sempre transitório e circunstancial”.
bem ali onde territórios existenciais se
Inseridos num contexto histórico-político-
compõem dobrando as esquinas desse
cultural específico, os corpos são, então,
exercício de poder intitulado por Foucault
fabricados por variadas marcações: de
(2001b) de biopoder.
gênero, de sexualidade, de classe social, de
capaz
de
clínicas?
mental,
nos
deparamos
genéticas”
e
“aquilo
que
raça/cor, de religião, de faixa etária, de geração,
Corpo intercessor
de região etc. Corpos
são
montados e organizados por tais “marcas Conforme já registrado, o objetivo dessa montagem textual é operar com o conceito
de
corpo
como
intercessor
de poder”, a partir das quais, “podem valer mais ou menos” (Louro, 2004, p. 89). A
direção
é,
então,
a
de
(Deleuze, 1992), ou seja, por meio dele
problematização e desnaturalização da
interceptar, derivar, desviar, correlacionar,
concepção de corpo como dado, evidência,
intervir no modo de pensar e fazer clínica.
como objeto natural, como substância, à
Nesse sentido, ele, enquanto intercessor de
ideia de um corpo essencial, único e
nossas práticas clínicas, é fio condutor de
imutável, que pudesse condensar traços de
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tantos outros e, a partir dele, se pudesse
nos territórios geográficos em que os/as
almejar uma pretensa universalidade. Não
usuários/as residem. Desse modo, os
existe o objeto natural corpo, não existe
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS),
“o” corpo. “O
responsáveis por tecer a rede de cuidado
corpo é uma falsa
evidência” (Le Breton, 2007, p. 26). Todavia,
além
de
construto
político-cultural, corpos são construções
em saúde mental, passam a funcionar como ordenadores desta rede (Brasil, 2002). Inseridos nos CAPS, usuários/as
político-éticas. Mais do que afeitos à
egressos/as
submissão a determinadas pedagogias
internação
culturais e à toxicomania identitária que
apresentar cronificados/as. O modo de
lhes organizam, lhes marcam, lhes ensinam
andar, de sentar e deitar no chão, a
‘boas’ condutas e avaliam seu valor, os
repetição dos gestos, das falas, o ato de
corpos tendem à singularização. Situando-
tirar a roupa, de caminhar descalço, o
se em fendas do jogo do poder, abandonam
fumar compulsivo, o olhar fixo no
a adesão obediente às fôrmas subjetivas
horizonte parecem compor sinais corporais
prescritas por tais pedagogias, recusam o
aprendidos por meio de uma pedagogia
que são e ensaiam a invenção de outros
silenciosa, reiterada, desenvolvida em
modos de existir (Guattari & Rolnik,
longos processos de internação em clínicas
2000).
e hospitais psiquiátricos. Tais gestos costumam
de
longos
psiquiátrica
acompanhar
períodos
de
costumam
se
o
corpo
de
Corpos e práticas que brotam da
usuários/as advindos/as de longos períodos
repetição
de internação nesses espaços, conformando uma produção cronificada do processo de
Em substituição ao modelo asilar
adoecimento.
de tratamento, a Política Nacional de
A intervenção nesta configuração
Saúde Mental/SUS preconiza que as
corporal desenha-se como um dos grandes
pessoas com transtornos mentais graves
desafios do processo de trabalho dos
e/ou persistentes bem como pessoas com
serviços substitutivos de saúde mental. Os
sofrimentos decorrentes do uso prejudicial
usuários cronificados costumam apresentar
de álcool e outras drogas devem ser
dificuldade de adesão e permanência nas
cuidadas em serviços substitutivos de
ofertas de cuidado realizadas pelo serviço.
saúde mental. Tais serviços prestam uma
Os usuários moradores dos Serviços
assistência de base comunitária inseridos
Residenciais Terapêuticos (SRT)2, em sua
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maioria, correspondem a esse perfil.
Arnaldo
Antunes
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(1993)
canta
esse
Com os CAPS, os muros físicos
“Agora”: “Já, já, Já, Já pá, já pá, pás, já
dos hospitais caíram. Porém, outros muros,
pás, pás, passou, já passou, já, passou, já
quiçá corporais, foram inscritos nas carnes
passou, já pá, Pá, pá, pá, sou, já, pá, sou,
destes/as usuários/as e nas de profissionais
sou, s, sou, sou, já, já passou, pá, já
de saúde, de tal forma que continuam a
passou”.
instalar dificuldades de encontro e afetação
diferenciação, esse corpo-usuário gagueja
entre corpos.
sua língua e seu corpo, já passou. Como
Num processo de repetição-
Sob o rótulo de embotamento
conservar forças se não por uma repetição
afetivo, muitos/as acreditam não haver
que, ao invés de reproduzir, parece
meio de composição com estes corpos
introduzir a diferença?
cronificados. Entretanto, experimentando
Quando se referem a esses/as
aquela modalidade de atenção cartográfica
usuários/as cronificados/as, profissionais
indicada por Kastrup (2007), ao seguir suas
costumam relatar: “ele não gosta de fazer
pegadas, tateando suas peles, a força de
nada”, “não tem vontade de nada”, “fica aí
expressão desses corpos, sua afetividade e
parado, ou fica aí andando pra lá e pra cá”,
seus gestos, parece ser outra: expressão por
“fica repetindo sempre a mesma coisa”. O
intensidades. Ao traçarem suas linhas,
que pode indicar esta vontade de nada?
fluxos que, aparentemente, são apenas
Esse ficar parado? Esse vai e vem no
repetição, “nunca passam pelo mesmo
caminhar de muitos/as usuários/as? Essa
lugar”, produzem diferença em cada gesto
vontade de nada que os/as trabalhadores/as
(Deleuze & Guattari, 1997).
sinalizam indicaria um entorpecimento do
“Pá, pá, pá, pá, pá, pá, Pá”.
corpo? Com que função? Um niilismo
Usuário, negro, homem, egresso de um
destrutivo
longo
sobrevivência como resistência do próprio
caminho
de
internações
psiquiátricas, morador de uma residência
ou
um
movimento
de
corpo?
terapêutica, segue caminhando sem parar
Para Nietzsche, uma vontade de
pelo CAPS. Repetindo sempre as mesmas
nada ainda é melhor do que um nada de
sílabas, risca as paredes fazendo signos
vontade, posto que ainda há a vontade
sem
que
(Giacoia Jr., 2001). O que esta força da
conservam a força de uma repetição, mas
repetição corporal conserva e introduz de
que,
produzem
novo na cena instituída do corpo-louco-
diferenciação. No álbum intitulado Nome,
cronificado? Como bifurcar bem ali onde
sentido.
a
cada
Gestos
e
movimento,
língua
Polis e Psique, Vol.2, Número Temático, 2012
parece não se ter mais nada a fazer?
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entre linhas de fuga, um Corpo sem Órgãos
Ensaiando situar nossas análises-
(CsO). Seria o corpo cronificado um CsO,
intervenções para além de prescrições
do qual falam Deleuze & Guattari (1996)
corporais
da
em Mil Platôs? O qual nos expõe Artaud
desistência de investimento para encontrar
(1983) através do seu teatro contra a
com corpos que operam práticas de si, de
organização dos organismos3? Pois é
mundo,
abrem-se
contra o julgamento, a organização, os
possibilidades outras de entendimento da
estratos, contra o juízo que um Corpo sem
cronicidade de gestos de alguns/umas
Órgãos é criado. Criar para si um CsO
usuários/as. Nessa direção, os movimentos
parece ser, pois, uma questão de vida. O
repetitivos
usuários/as
CsO do corpo cronificado, por que ainda
cronificados/as, que parecem não dizer
seria uma questão de vida no território do
nada mais do que apenas o resultado de um
CAPS? Por que ainda seria necessária essa
processo de institucionalização, podem ser
montagem corporal? Nesses poucos anos
considerados como possuindo uma função,
de experimentação de um cuidado em
como ato técnico do corpo. Se “o corpo é o
saúde mental que tem o CAPS como
primeiro e mais natural objeto técnico e ao
ordenador, como se tem lidado com os
mesmo tempo o meio técnico é homem”
corpos
(Mauss, 1974, p. 217), se o “corpo é
cuidado tem deles se investido? De que
marcado e arruinado pela história”, mas
maneira?
como
de
também
coletivos,
dos/as
além
também é “superfície de inscrição dos
cronificados?
As
práticas
de
A partir de tais considerações,
acontecimentos” (Foucault, 2001a), pode-
temos
se entender os movimentos corporais
saberemos integralmente o que pode um
repetitivos
como
corpo, pois ele é absolutamente paradoxal”
compondo um processo de subjetivação,
(Giacoia Jr., 2002, p. 214). Se “cartografar
uma “dobra” que se apresenta no corpo na
é sempre compor com um território
forma de técnicas corporais. Parece que a
existencial, engajando-se nele” (Alvarez &
potência desses corpos está no ato de
Passos,
produzir uma dobra da dobra, fazendo,
importante pode ser a de compor novos
assim, acontecer nessa repetição outros
elementos na linha de cuidado desses
corpos, outras práticas, outros movimentos.
corpos, entendendo-os como possíveis de
Quando as forças do fora forçam a
intercessão e intervenção, no sentido que
desterritorialização, pode-se maquinar, por
Deleuze (1992) e Lourau (1995) dão a
dos/as
usuários/as
uma
2009,
única
p.
certeza:
131),
“jamais
uma
pista
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esses termos: produção de perturbação no
CAPS três 24h4 iniciou uma discussão que
que parece óbvio e composição de
mirava um processo de planejamento e
territórios de habitação comuns entre
implementação das atividades terapêuticas
corpos. Nesse sentido, a proposta é a de
ofertadas pelo serviço, o que passou por
experimentação
discutir
de
um
cuidado
singularizante, de uma intervenção que por intercessão, no encontro com eles, produza variações no próprio corpo da clínica.
seu
cardápio
de
oficinas
terapêuticas5. Num
primeiro
momento
da
discussão, que ocorrera ao longo de algumas
reuniões
de
equipe técnica,
A ambiência como passagem entre
profissionais responsáveis pela condução
espaço, corpo e clínica
das oficinas apresentaram cada oficina ofertada. Percebeu-se que usuários/as em
Nos serviços de saúde mental, onde os/as
usuários/as
crise, com determinadas limitações físicas
cronificados/as
e/ou cognitivas, cronificados, moradores
costumam ficar? Que espaços do CAPS
dos SRTs e usuários/as em acolhimento
eles habitam? De que modo? Em nossas
noturno costumavam não participar das
itinerâncias pela rede de saúde mental
oficinas. Isso sinalizava para a equipe uma
aracajuana,
esses
paisagem de cuidado que parecia não
usuários/as tendiam a habitar um “espaço
acolher os casos de maior necessidade de
morto” no interior dos serviços, ali
intervenção.
Despontava-se,
passando
necessidade
de
observamos
os
dias,
que
participando
pontualmente das atividades ofertadas pelo
analisar,
assim,
a
interferir
e
modificar tal paisagem.
serviço Munido/a dessas observações e de
Dessa forma, iniciou-se o segundo
desejos de interferência nesse contexto,
momento da discussão, em que foi preciso
construiu-se um território de habitação
pensar e apresentar alterações na oferta de
coletiva bem no meio de um desses
cuidado, inserindo novos elementos nas
espaços “mortos”, aparentemente sem
oficinas
existentes
vida.
oficinas,
pautando-se,
Ao
longo
do
ano
de
criando para
novas
isso,
demandas
acompanhando a direção da gestão de
contexto,
saúde mental que apontava a necessidade
Movimentos uma oficina modular de
de qualificação do cuidado prestado pela
capoeira.
foi
usuários/as.
nas
2007,
rede psicossocial, a equipe técnica de um
dos/as
e
proposta
pelo
Nesse Projeto
Nesse CAPS, tem-se um corredor
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que parte da recepção, prolongando-se até
Pensar, pois, os espaços físicos dos
os fundos do estabelecimento. Ao final do
serviços a partir da diretriz de ambiência
corredor,
(Brasil,
abre-se
um
espaço
amplo,
2010)
requer
alguns
conformando o centro do serviço, local de
deslocamentos: não se trata apenas da
maior fluxo e permanência de usuários/as.
distribuição de corpos em um dado espaço
O mesmo é utilizado como refeitório,
físico, mas sim, de como se dá a relação
sendo preenchido por algumas mesas e
dos corpos com o espaço, as possibilidades
bancos, em que os/as usuários/as ficam
de circulação dos mesmos, a convivência
sentados, conversando, andando, fumando,
entre os corpos, o modo de habitação do
esperando pelas atividades. Por ali também
espaço e, nestes processos, a produção dos
circulam trabalhadores/as. Trata-se de um
próprios corpos. Nesse ponto se articula
espaço sempre ocupado por corpos em
espaço, corpo e clínica: se intentarmos a
passagem em suas produções cotidianas.
desinstitucionalização
As únicas pessoas que parecem ali se
saúde mental, parece ser importante que
grudar são os/as usuários/as cronificados
faça parte de nossas análises e intervenções
em seus delírios e alucinações, sentados,
se pensar sobre os usos e os modos de
deitados, gritando, falando coisas, em seus
habitação dos espaços de um CAPS
movimentos repetitivos.
espaços como produtores do processo de
do
cuidado
em
Este espaço aberto no meio do
cuidado. Isso porque há uma íntima relação
serviço funciona como uma espiral, em que
entre espaço, corpo e clínica que não
os corpos entram, rodam e são jogados
podemos desconsiderar.
para fora novamente. Um não-lugar6
Nessa direção, alterar a ambiência
dentro do serviço. Seu potencial de
seja por meio de reformas estruturais
produção de encontros e realização de
necessárias,
atividades
experimentação
terapêuticas
parece
ser
seja de
por novos
meio
de
modos
de
profissionais
habitação de um espaço tido como “morto”
“porque é muito quente”, “porque faz
como o refeitório de um CAPS, enfim, nos
muito barulho”, “porque tem muita gente
parece um item importante a ser levado em
passando”.
de
consideração quando o que se quer é
refeições, esse espaço reserva-se para a
produzir mudanças nos processos de
realização da assembléia com usuários e de
trabalho rumo à qualificação do cuidado.
desconsiderado
pelos/as
Além
da
realização
confraternizações, ocasiões em que um grande número de pessoas ocupa o serviço.
Polis e Psique, Vol.2, Número Temático, 2012
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A roda: dando passagens ao corpo, ao
experimentados no jogo. Depois que todos
CAPS, à clínica
haviam jogado, era realizado um momento de relaxamento, em que os usuários
Conforme já mencionado acima, a
deitavam em colchonetes e recebiam
oficina modular de capoeira proposta pelo
comandos de voz para que começassem a
Projeto Movimentos foi programada para
relaxar e coordenar a respiração. Por meio
se realizar justamente nesse espaço central
de toques nas articulações, iam relaxando o
utilizado como refeitório e como estada de
corpo. No momento final, era realizada
corpos cronificados. A proposta foi, então,
outra roda, agora de conversa sobre a aula.
apresentada aos/às usuários/as. O objetivo
Nela, cada usuário/a podia falar sobre
é que ela ocorresse durante dois meses,
como
porém, por solicitação de usuários/as, foi
dificuldades, superações, sensações.
estendida por mais um mês. As
atividades
experimentou
as
atividades,
Com inserções variadas, entradas e planejadas
saídas diversas, usuários/as foram aderindo
segundo as demandas apresentadas nos
à oficina. A roda, geradora de uma força
Projetos Terapêuticos Singulares e as
atrativa, parecia puxar para o centro do
necessidades observadas ao longo da
jogo
própria oficina. As práticas eram coletivas,
Atravessava-os
começando por um alongamento dirigido,
engendrando participações tão diversas,
depois
com
que não se resumiam ao jogo no centro da
principalmente
roda. No decorrer da oficina de capoeira,
movimentos de ginga e deslocamento. Em
observa-se que alguns/mas usuários/as que
toda aula, havia a repetição da série de
não faziam fisicamente a capoeira (não
movimentos aprendida na aula anterior,
exercitavam),
acompanhada pela introdução de algum
envolvidos/as
elemento novo. No segundo momento da
participando, gingando com o olhar.
aula, a turma era divida em duplas, para
Entravam em outro ponto do jogo:
que
aprendiam pelo olhar, olhando os/as
por
movimentos
os
um
eram
aquecimento
básicos,
movimentos
realizados
as
intensidades com
dos
linhas,
estavam com
acompanhando
corpos. que iam
presentes a
e
atividade,
individualmente nos exercícios anteriores
colegas,
fossem experimentados a partir de uma
atentos/as
seqüência desenvolvida agora pela dupla.
silêncio para os/as outros/as que passavam
No final da aula havia sempre uma roda
ou chegavam desavisados/as do que estava
para que os movimentos pudessem ser
ali se desenvolvendo.
aos
com
palmas,
movimentos,
pedindo
Polis e Psique, Vol.2, Número Temático, 2012
Uma das usuárias observava todas
oficina,
a
P á g i n a | 158
presença
usuários/as
as aulas. Às vezes, esboçava um sorriso ou
cronificados/as
acompanhava com uma palma. Mantinha
refeitório parecia ser reconfigurada. Ao se
os olhos atentos ao movimento que os
ver
corpos desenhavam em cada jogo, em cada
diferentemente do se que estava descrito e
roda que se formava. Seu corpo jogava
prescrito em seus prontuários ou do que
com o corpo do outro, no movimento do
indicava
outro. Algumas vezes foi convidada para
patologias
entrar na roda ou participar de alguma
cotidianas, produziu-se estranhamento de
atividade, tendo-se sempre uma negativa
outros/as usuários/as e trabalhadores/as.
como resposta. No entanto, permanecia ali, jogando com os olhos.
no
de
corpos
a
espaço
se
morto
movimentarem
caracterização e
suas
do
de
próprias
suas
condutas
A oficina de capoeira funcionou, assim, como analisadora da suposta não
Durante as atividades, observaram-
adesão de usuários/as cronificados/as às
se algumas rodas concêntricas se formarem
atividades propostas e da também suposta
em torno do jogo: havia os dois jogadores
inadequação deste espaço central para a
no
em
realização de atividades terapêuticas. O
movimentos cadenciados pelo ritmo das
corpo desses/as usuários/as e o não-lugar
palmas, do berimbau e das músicas. Havia
do refeitório ganharam novos contornos
a roda formada pelos
que
com as atividades da capoeira. A oficina de
participavam oficialmente das atividades.
capoeira pareceu, assim, constituir um
Outra, aberta e dispersa, se formava de
território existencial coletivo desfazendo o
maneira
aparentemente
centro
da
roda,
aleatória
por
gingando
usuários
usuários
que
óbvio
da
mortificação
assistiam ao jogo, acompanhando com
daquele espaço e dos corpos que ali faziam
palmas. Havia ainda, os trabalhadores que,
morada. Nesse sentido, pode-se dizer que a
em alguns momentos, ao passarem pelo
oficina
refeitório, eram capturados pela roda,
ambiência do lugar, funcionando como um
interrompendo
sendo
outro modo de articulação entre espaço,
impelidos a observar o jogo. Por meio da
cuidado e corpo, como uma via de
composição dessas rodas, a prática da
passagem para forças que habitavam a
capoeira funcionou como agenciadora de
virtualidade desse território existencial
encontros com corpos e entre corpos, de
composto pelo cruzamento entre espaço e
encontros com o outro dos corpos.
esses corpos cronificados bem como entre
sua
trajetória,
Por meio de sua participação na
introduziu
uma
mudança
na
espaço e a cronificação das próprias
Polis e Psique, Vol.2, Número Temático, 2012
P á g i n a | 159
atividades ofertadas, no sentido de que as
(Escóssia, 2009): conexão com o olhar,
mesmas tendem a não fazer sentido para
com seu próprio corpo, com o corpo do
esses corpos.
outro, conexão com o jogo, conexão com a
Entra na roda um corpo adolescente
roda. O que se sabia sobre ele mudou,
com cerca de 20 anos, esquizofrênico. Um
passou, outro corpo emergiu. Outras
corpo de difícil comunicação com outros,
conexões se faziam necessárias.
um corpo que não olhava nos olhos, um
Corpos não se reduzem a estratos,
corpo que parecia se conformar com
mas podem partir deles para produzirem
aquele tradicional sinal de embotamento
um novo território, uma casa, uma dobra
afetivo. Mas, na roda de capoeira, para não
sobre si. Por meio de seus movimentos,
levar rasteira, é preciso olhar no olho do
corpos que participavam da roda, mesmo
outro e da roda, é preciso gingar, se afetar,
que não diretamente jogando, pareciam
e esse corpo olhou, gingou, sorriu, se
(re)existir em outro território que não
afetou. Durante os jogos de capoeira,
apenas o do corpo cronificado. A capoeira
aqueles
praticada
olhos
que
nunca
olhavam
por
corpos
desacreditados
diretamente nos olhos do outro, agora não
naquele lugar desacreditado (refeitório)
desviavam o olhar, pois era preciso jogar.
produziu uma ruptura dos estratos e uma
Encontro intensivo entre corpos, afeto,
abertura nos corpos cronificados bem
composição, em que a “relação sujeito-
como no corpo de um cuidado também
objeto
os
cronificado, colado a pedagogias corporais
movimentos, introduzindo o novo, a
que perpetuavam as condutas costumeiras
novidade, o larvário (Orlandi, 2009).
de tais corpos cronificados, naquele espaço
treme”,
algo
passa
entre
Desse modo, parece ter acontecido
que era considerado um espaço morto que
um deslocamento do que se concebia capaz
alojava corpos-vivos. No campo do visível
àquele
olhar-
e do enunciável sobre corpos cronificados,
distante. Não cabia mais classificar a (falta
emergiu um corpo inédito, mudando o
de) comunicação do seu olhar. Ele parecia
plano de visibilidade e dizibilidade sobre
não caber mais no corpo que tinha antes,
tais corpos. Houve uma disjunção, uma
ganhando volume, outras formas, outros
ruptura entre o que era dito sobre eles, nos
movimentos. Novos modos de conexão
prontuários, descrições psicopatológicas,
foram experimentados com seu corpo,
naquilo que cotidianamente se esperava de
novos agenciamentos, quando agenciar é
suas condutas e aquilo que agora se torna
experimentar um máximo de conexões
visível no “quadro-visibilidade” (Deleuze,
corpo-esquizofrênico,
Polis e Psique, Vol.2, Número Temático, 2012
2005).
P á g i n a | 160
condutas, em uma pedagogia corporal. O entendimento do governo das condutas
Os CAPS como territórios de ensino e
como pedagogia parece oferecer uma pista
(des)aprendizagens corporais7
importante para analisar o funcionamento dos serviços substitutivos de saúde mental,
No início dos anos oitenta, em um
em particular: o serviço, seu espaço, as
dado momento do desenvolvimento de
prescrições clínico-institucionais que o
suas pesquisas, na busca por caminhos para
regem,
extrapolar a crítica de que o sujeito por ele
realizadas, as relações entre as pessoas que
pensado seria efeito apenas de relações de
vivem, convivem e ali circulam, o modo
dominação,
um
como elas se comportam ali dentro, os
deslocamento na chave de compreensão
saberes e fazeres que ali se desenvolvem, o
das relações de poder, entendendo-as, a
cuidado
partir de então como relações de governo:
terapêuticos ali construídos parecem operar
Foucault
(2011)
faz
como
as
diferentes
ali
atividades
oferecido,
pedagogias,
os
como
ali
projetos
elementos
[...] tentei esboçar um pouco essa noção de
formadores
governo que me pareceu ser muito mais
inscritos nos corpos, processos de ensino-
operatória que a noção de poder; governo entendido seguramente não no sentido
de
condutas:
gestos
são
aprendizagem ali se tecem, organizando
restrito e atual de instância suprema de
corpos, constituindo sujeitos9, ou seja,
decisões executivas e administrativas em um
formando
sistema estatal, mas no sentido largo e antigo
personagens que ali se encontram, “cada
de mecanismos e procedimentos destinados
um com uma função, um lugar, um rosto
a conduzir os homens, a dirigir a conduta dos homens, a conduzir a conduta dos
profissionais
e
usuários/as,
bem-definido” (Foucault, 2010, pp. 285286).
homens (Foucault, 2011, p. 53).
Na medida em que são necessários
Mas se os CAPS figuram como
investimentos educacionais8 para formar
territórios de ensino, na medida em que o
sujeitos governáveis, que, nos dias atuais,
ensinar se refere a processos por meio dos
se traduzem em empresários de si ou,
quais se almeja governar condutas, e a
ainda,
ingovernáveis
clínica em saúde mental tende a figurar
extraviados, na tentativa de inscrever suas
como uma pedagogia de formatação
condutas
de
corporal, observando os relevos desses
existência, o governo das condutas parece
serviços, bem ali saltam acontecimentos
traduzir-se
clínicos. Ali, pululam fagulhas saltitantes
para
(re)formar
no
em
modelo
uma
econômico
pedagogia
das
Polis e Psique, Vol.2, Número Temático, 2012
P á g i n a | 161
espaço
outro”, com “outros”, com uma coisa
(trans)formando-o em território afeito a
qualquer que desperte o desejo. Por isso,
que
reconfiguram
o
(des)aprendizagens. Em outros termos,
para
aprender
é
necessário
“primeiro
aprender a desaprender” (Caieiro, 1986).
espreitando-se um pouco mais o cotidiano
Aprender
das práticas que povoam os CAPS,
constituídos, os significados produzidos e os
parecem
ali
pensamentos construídos para abrir em si
acontecimentos, produzindo o descaminho,
próprio as diferenças. Aprender é, em
explodir
aqui
e
ou pelo menos um caminho ainda por se
Em outros termos, bem ali junto a processos que fazem destes serviços um território de ensino, de organização de corpos de profissionais e usuários/as, prescrevendo-lhes fôrmas-de-ação (Barros, 2005), bem ali aprendizagens escapam ao governo
das
condutas,
criando
possibilidades de singularização, de recusa a
determinados
modos
de
condução
obstinados pela fabricação de rostos e fixação
de
funções
e
identidades
institucionais. Bem ali, bifurcando essa busca pelo homogêneo que pauta o ensinar, corpos
experimentam
aprendizagem
que
processos possibilitam
de sua
desaprender
os
sentidos
síntese, deixar-se “afetar” (Spinoza, 2007).
construir para os corpos, para a vida, para a educação e para o cuidado ali produzido.
a
A partir de tais considerações, pode-se pensar os CAPS como territórios de ensino e organização de corpos, mas também como territórios onde se pode aprender a desaprender, a desnaturalizar todo um longo histórico de enlatadas aprendizagens sobre processos de cuidado. Dessa
forma,
pode-se
experimentar
processos de aprendizagem menos afeitos ao governo das condutas, à fixação identitária e à formatação subjetiva, mais interessados em abrir os corpos para a mestiçagem de encontros. Abrir-se a aprendizagens situadas bem ali no encontro sem bússolas com outros corpos e com o ‘outro’ do corpo. Esse ‘ensaio’ parece, assim, se configurar como:
abertura, corpos aprendem a desaprender. Nessa direção, Paraíso (2011, p. 47),
[...]
assinala que:
qualquer tipo de intervenção que não se
tarefa
ético-política
irredutível
de
pretenda fascista: a prontidão à experiência [...] Aprender é abrir-se e refazer os corpos,
de um encontro com a alteridade movente e,
agenciar atos criadores, refazer a vida,
portanto,
encontrar a diferença de cada um e seguir
constante; encontro compreendido não como
um caminho que ainda não foi percorrido.
militância de uma causa transcendente
Aprender é abrir-se à experiência com “um
qualquer, mas como prática intensificadora
em
estado
de
recomposição
Polis e Psique, Vol.2, Número Temático, 2012
de uma arte geral de convívio marcado por
perturbação
nenhuma volúpia governamentalizadora e
culturais-corporais
alguma porosidade à diferença e à variância que esse tipo de acontecimento pode nos
das
P á g i n a | 162
coordenadas
sócio-
vigentes,
pois
o
importante é tentar, mesmo o impossível
provocar,ou ao que quer que a alteridade nos
(Amado, 2008). A esse respeito, aponta
afete e nos faça descolar. Descaminhos da
Paulon (2004, p. 265):
experiência de si, portanto (Aquino, 2011, p. 205).
Se ficarmos, então, discutindo a ampliação no âmbito da intervenção de uma Clínica meramente
Corpo: a grande razão da clínica
disseminadora
dos
mesmos
modos de subjetivação existentes, estaremos, no máximo, ampliando os pontos de
Ao nos referirmos à ampliação da clínica,
atentamos
para
as
tensionamento entre um campo de saber que
questões
apresentadas
por
Paulon
(2004),
ao
problematizar
a
que(m)
destina
a
resiste
a
reconhecer
esgotamento
e
contemporâneo
seus
as que
sinais
demandas poderiam
de do
indicar
exatamente onde eles estão.
adjetivação da clínica como ampliada: “afinal trata-se de ampliar o que? Por quê?
A clínica que desejamos insistir
Em que sentido e com quais meios?” (2004, p. 259). Dito de outra maneira, quando se trata de fazer clínica em saúde mental, e do objetivo de articular esse fazer com a produção de corpos, parece ser preciso atentar para a discussão da encomenda institucional comumente feita aos/às trabalhadores/as de saúde mental, acerca do cuidado e do corpo. Que encomenda é essa? Atende a quem? A que objetivos no jogo das relações de poder? Atende ao escopo de condução das condutas rumo à reabilitação e participação na economia social de mercado? Pode atender a um movimento coletivo de insistência da desinstitucionalização como transvaloração
(Paulon,
2006),
como
experimentando, uma clínica que vez em quando se insurge borrando a ortopedia de certas paisagens terapêuticas, desfazendo o aparentemente óbvio
de uma clínica
inclinada à formatação dos corpos, é uma clínica afeita a (des)aprendizagens, a novas feituras do seu próprio corpo. Uma clínica das
passagens
corporais,
clínica
da
experimentação, feita por entre encontros de
corpos.
Na
medida
em
que
experimentamos formas potentes de fazer clínica justamente ali no encontro entre corpos e com o outro do corpo, inclusive o outro do corpo da clínica em saúde mental, é que apontamos nesse texto à ampliação da clínica por meio do operador corpo.
Polis e Psique, Vol.2, Número Temático, 2012
P á g i n a | 163
Para tanto, cabe a advertência de
que qualificada, mas sensível ao “corpo
não encerrar o corpo em qualquer uma
vibrátil”, uma escuta dos movimentos
destas concepções: nem biológico, nem
intempestivos dos corpos e não restrita à
psico, nem social, nem biopsicossocial,
mera
pois, como aqui discutimos, estamos
comportamentos, tentando-se encaixar as
falando de um corpo que se ergue por entre
necessidades do/a usuário/a aos ditames do
os desígnios do biológico e da linguagem,
mercado e do Estado: voltar a trabalhar,
os quais não acompanham a velocidade e
voltar a ter um corpo ‘são’ apto para um
as intensidades que participam de sua
trabalho esvaziado de sentido, apto para o
feitura. Um corpo que nasce dos estratos,
consumo, apto para se fazer um corpo-
mas que é mais que essa paisagem
capital,
instituída, um corpo capaz de transmutá-la.
pensando
Enquanto se tenta, inclusive por meio de
promulgada capacidade de escutar e tão
práticas clínicas, paralisar o corpo em
procurada possibilidade de se deixar afetar
estratos, ele foge, bifurca, cria uma saída,
pelo outro”, por seu corpo, por seus
ou uma nova entrada, devém estrela e
territórios, por sua forma de vida, mais que
dança (Nietzsche, 1885/2008), situando-se
isso, pelo outro do corpo, dos territórios e
a passos largos de quaisquer tentativas de
da vida (Paulon, 2004, p. 265).
aferição
de
normalidade
empreendedor por
onde
de anda
dos
“Fico
si. nossa
tão
interpretá-lo, representá-lo. Quando se
Uma clínica das passagens aponta
pretende pensar corpo estagnando-o em
para a necessidade de se experimentar uma
uma destas concepções ou organizando-o
escuta que busque pelo encontro, e não
mediante os marcadores sócio-culturais
pela palavra, menos ainda por uma palavra
vigentes, seu movimento tende a cessar.
justa (Deleuze, 1992), colada aos grandes
Luz demais sobre um corpo que dança na
clichês da saúde mental. Ressalte-se o caso
escuridão tende a cegar. Eis o principal
da
adoecimento: o do olhar de certas práticas
comumente o que se produz no terreno do
clínicas que tomam o corpo como objeto a
capitalismo, é uma “cidadania da sujeição”
ser iluminado por tecnologias de poder.
(Carvalho, 2009), em que é preciso aderir
produção
de
cidadania,
quando
Nesse contexto, uma clínica que se
ao quadro das boas condutas para se tornar
quer (re)existência precisa seguir o corpo
cidadão/ã. Talvez, uma escuta atenda aos
em suas intensidades movediças, o que
ilimitados modos de feitura de um corpo,
requer uma clínica igualmente movediça.
interessada por sua abertura, pode abrir a
Nesse sentido, a escuta precisa ser mais do
clínica para outras experimentações de
Polis e Psique, Vol.2, Número Temático, 2012
P á g i n a | 164
cidadania: ao invés de uma “cidadania da
corpo, como se a partir desta pudéssemos
sujeição”, a qual requer (auto)policiamento
dizer o que por ele passa, pois “poderíamos
das condutas, que organiza os corpos
passar sem a consciência [uma vez que]
colando-os a um rosto homogêneo e
[...]
transcendental de homem e humanidade,
fisiológicos
junto ao corpo e às suas vibrações, ensaia-
vegetativa, e mesmo sensitiva, está ausente
se uma cidadania que brota não mais de
a qualidade psíquica da consciência”
identidades soberanas, mas imanente a
(Giacoia Jr., 2001, p. 31). A consciência
processos singulares, num movimento
mais
associado às práticas cotidianas.
compreensão do corpo como potência,
Conhecemos
muito
quase
todos
os
fundamentais
atrapalha
do
que
processos da
vida
ajuda
na
do
principalmente, se ela não for utilizada
corpo. Tentamos, a todo momento, fixá-lo,
como uma ferramenta, uma “ferramenta da
formatá-lo,
representá-lo,
mesma maneira como o estômago é uma
como se uma forma, uma substância, uma
ferramenta para digestão” (Giacoia Jr.,
palavra, um discurso, um saber pudesse
2002, p. 200).
bastar, acalmando nossas angústias de não
Nesse
classificá-lo,
pouco
em
sentido,
Nietzsche
saber de antemão o que é, o que pede e o
(1885/2008) considera o corpo como “a
que pode um corpo. Tendemos, inclusive, a
grande razão” e a consciência apenas como
desprezá-lo, corroborando com toda uma
um de seus órgãos. Por isso, o combate à
tradição filosófico-política que o rechaçou,
organização do organismo. Por isso,
posto que apegada a valores ‘superiores’
construir um Corpo sem Orgãos para si, ao
em detrimento da terra e do corpo. Daí as
invés de tomar consciência de si. Por isso,
práticas clínicas tenderem a ser tão
a incitação ao descaminho, inclusive do
apegadas
de
corpo da clínica, por isso, mais do que
consciência, ao alcance de uma suposta
saber o que se é, parece ser preciso recusar
identidade interiorizada. O desprezo pelo
o que somos. “Em uma ironia socrática,
corpo
de
conhecer-se a si mesmo, na medida em que
formatações. Nesse sentido, ao invés da
significa tomar-consciência-de-si, implica
alma, não seria o corpo que seria preciso
em perder-se de si mesmo” (Giacoia Jr.,
libertar?
2001, p. 40).
fez
ao
verbo,
dele
um
à
tomada
prisioneiro
Porém nesse processo de libertação
Desse modo é que se pensou na
do corpo, cabe outra advertência: não se
possibilidade do corpo como operador da
trata de uma tomada de consciência do
ampliação
da
clínica,
entendendo
o
Polis e Psique, Vol.2, Número Temático, 2012
P á g i n a | 165
trabalho clínico como articulado aos
se conectam produzindo uma figura, ora se
movimentos
desconectam
de
abertura
e
desestabilizando
figuras
(des)aprendizagens corporais. A aposta é
constituídas” (Araújo, 2006, p. 21). O que
numa
e
se pensa com a clínica aqui esboçada é na
singular, pouco afeita a especialismos,
constituição de habitações corporais que
prescrições e generalizações, uma clínica
sejam
que
singularizantes
montagem
dê
clínica
passagem
aos
artesanal
movimentos
menos
restritivas, e
que,
mais
ao
ousar
corporais. Clínica que se tece bem ali em
desterritorializações,
paisagens corporais noturnas, habitantes de
materialidade de expressão, compondo
fronteiras,
novas formas.
borrando
os
caminhos
instituídos para o corpo humano e suas condutas,
dando
possibilidade
consigam
Para tanto, aqui se pensou numa
de
ética da clínica, no sentido de dar-lhe
emergência e territorialização de outras
formas encarnadas por meio do que lhe
formas de feitura corporal. Clínica-corpo
indica relevos do contexto em que ela se
que somente será sabida e experimentada
desenrola, uma clínica tecida por meio do
na medida em que se engendrar bem ali na
encontro entre corpos e com o outro do
imanência de práticas cotidianas.
corpo, uma clínica da (des)aprendizagem,
A partir de tal entendimento, ao
da abertura dos corpos para outras rotas,
invés de se seguir dizendo do que
uma
necessitam corpos de usuários/as, a partir
passagem, “uma experiência do limite”
de tal ou qual diagnóstico, prescrevendo tal
(Passos & Benevides, 2006, p. 13),
ou qual atividade, tal ou qual conduta,
inclusive da própria clínica. Um cuidado
talvez se possa suspender certezas sobre
que habite a tensão entre formatações e
seus corpos e sobre o corpo da clínica e
experimentações corporais e que, ao se
experimentar uma prática clínica que
desligar, pelo menos por alguns instantes,
trabalhe justo a potência dos corpos ao
do mandato de sujeição de corpos, pode
invés de vampirizá-los em favor do
agenciar
biopoder. Uma clínica que se lança em
singularizantes,
abertura para o descaminho de pensar e
colocar sua própria vida à prova, pode
experimentar o corpo antes de ter forma,
agenciar outras formas de vida para os
possibilitando novas montagens, inclusive
corpos.
terapêutica: “a clínica se revela, então, como a bricolagem de fragmentos que ora
Notas
clínica
experimentada
paisagens um
cuidado,
como
corporais que
ao
Polis e Psique, Vol.2, Número Temático, 2012
P á g i n a | 166
produzir, na rede de saúde mental e suas 1
Texto inédito, baseado em nossas
interfaces, espaços coletivos de ação e de
pesquisas de mestrado e doutorado junto
discussão acerca da temática do corpo
ao
(Mais
Programa
de
Pós-Graduação
em
detalhes
a esse respeito, ver
Educação/UFRGS, financiadas pelo CNPq
Machado, 2011).
e pela CAPES.
5
2
espaços
Os residenciais terapêuticos são serviços
Tais oficinas se caracterizam como que
se
querem
em,
pelo
terapêuticos
previstos pela Política Nacional de Saúde
centrando-se
Mental/SUS, destinados para moradia de
princípios:
usuários egressos de longos anos de
desenvolvendo atividades que costumam
internação em hospitais psiquiátricos. O
compor o cotidiano das pessoas (atividades
objetivo é o de reintroduzi-los no convívio
da vida diária), tais como cozinhar, ter
social, tecendo um processo de cuidado
hábitos básicos de higiene, se embelezar
articulado às equipes de atenção básica e à
etc. 2) Produzir coletivos, garantindo
equipe do CAPS de referência para
espaços de socialização, de troca de
localidade de suas casas (Brasil, 2004).
experiências, a partir de um envolvimento
3
grupal
“O organismo não é o corpo, o CsO, mas
1)
com
menos,
Produzir
objetivos
três
cotidianidade,
compartilhados:
um estrato sobre o CsO, quer dizer um
aprender ou implementar uma atividade. 3)
fenômeno de acumulação, de coagulação,
Compor
de sedimentação que lhe impõe formas,
complexificando-os
funções,
organizações
introdução de novas atividades, as quais
hierarquizadas,
tendem a funcionar como produtoras de
transcendências organizadas para extrair
novas paisagens subjetivas. Para isso,
um trabalho útil” (Deleuze e Guattari,
atividades artísticas e práticas corporais
1996, p. 21).
parecem ser imprescindíveis, janelas para
4
si e para o mundo.
ligações,
dominantes
e
Nesse CAPS, nos inserimos como:
territórios
apoiadora institucional do serviço (mais
6
informações
‘estabelecer-se’
a
esse
respeito,
ver
existenciais,
por
meio
da
Não-lugares “desencorajam a ideia de [...]
aceitam
a
Vasconcelos & Morschel, 2009) e como
inevitabilidade de uma adiada passagem,
coordenador do Projeto Movimentos. Tal
às vezes muito longa, de estranhos, e
projeto foi transversal e transdisciplinar,
fazem o que podem para que sua presença
desenvolvido no período de abril de 2007 a
seja ‘meramente física’ e socialmente
fevereiro de 2009. Teve como finalidade
pouco
diferente,
e
preferencialmente
Polis e Psique, Vol.2, Número Temático, 2012
indistinguível da ausência, para cancelar, nivelar,
ou
subjetividades
zerar de
as seus
habitar um território existencial. In E.
‘passantes’”
Passos, V. Kastrup, & L. Escóssia (Org.). Pistas do método da cartografia: pesquisa-intervenção e produção de
Mais detalhes sobre essa discussão, ver
subjetividade
Vasconcelos (2013). 8
Alvarez, J. & Passos, E. (2009). Cartografar é
idiossincráticas
(Bauman, 2001, p. 119). 7
P á g i n a | 167
(pp.
131-149).
Porto
Alegre: Sulina.
Vale dizer que, nesse texto, entende-se
que tais investimentos educacionais são compostos por todo um conjunto de
Amado, J. (1961/2008). A morte e a morte de quincas
berro
dágua.
São
Paulo:
Companhia das Letras.
processos por meio dos quais indivíduos
Antunes, A. (1993). Agora. Em nome. Bmg.
são transformados em sujeitos de uma
Aquino, J. G. (2011). A governamentalidade
de
como plataforma analítica para os
capitalismo financeiro, em sujeitos de uma
estudos educacionais: a centralidade da
dada cultura somático-empresarial. Tornar-
porblematização da liberdade. In G. C.
se sujeito dessa cultura envolve um
Branco, & A. Veiga-Neto. (Org.).
determinada
cultura,
em
terrenos
complexo de processos de ensino e de aprendizagem
que
permeiam
muitas
instâncias e dimensões da vida em sociedade. Em outras palavras, não se separa aqui educação de socialização. 9
Foucault: filosofia & política (pp. 195211). Belo Horizonte: Autêntica. Araújo, F. (2006). Um passeio esquizo pelo acompanhamento
terapêutico:
dos
especialismos à clínica da amizade. Niterói, RJ: Editoração Eletrônica.
“Você será organizado, você será um
Artaud, A. (1983). Para acabar com o
organismo, articulará seu corpo – senão
julgamento de deus. In A. Artaud. Os
será um depravado. Você será significante
escritos de antonin artaud (C. Willer,
e significado, intérprete e interpretado –
Trad., pp. 145-162). Porto Alegre: LPM.
senão será desviante. Você será sujeito e,
Barros, M. E. (2005). Desafios ético-políticos
como tal, fixado, sujeito de enunciação
para a formação dos profissionais de
rebatido sobre um sujeito de enunciado –
saúde:
senão você será apenas um vagabundo” (Deleuze & Guattari, 1996, p. 22).
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Dagoberto Oliveira Graduação
em
Educação
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(FACED/UFRGS), mestrado em Educação (PPGEDU/UFRGS), consultor da Política Nacional de Humanização/Ministério da Saúde. E-mail:
[email protected]
Michele Vasconcelos Graduação em Psicologia (UFS), mestrado em Saúde Coletiva (Instituto de Saúde Coletiva/UFBA), doutorado em Educação (PPGEDU/UFRGS), consultora da Política Nacional de Humanização/Ministério da Saúde. E-mail:
[email protected]
Aldo Rezende de Melo Graduação
em
Psicologia
(UFS),
mestrando em Psicologia Social (UFS), apoiador
institucional
da
Diretoria
Operacional da Fundação Hospitalar de Saúde de Sergipe (FHS) e coordenador do Comitê de Humanização da FHS. E-mail:
[email protected]
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