O «corpo vivo» como um valor em Psicoterapia

June 14, 2017 | Autor: Miguel de Noronha | Categoria: Psychotherapy
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O CORPO VIVO como um valor em Psicoterapia Edward W. L. Smith, PhD

Viver uma vida exuberante exige que cada um não se retraia ou não expanda, mas antes que abrace o mundo com paixão e prazer. Viver exuberantemente é abraçar cada dia que nasce com paixão e prazer. Esta evolução é a Dança Cósmica. O mais importante é vivermos plenamente aqui e agora. Isto quer dizer, não perder o tempo a ruminar o passado nem a ensaiar o futuro na imaginação. O que foi feito, ficou feito, e aquilo que não se fez, foi aquilo que não se fez, e o que se está a passar agora, é o presente. A capacidade e a aptidão de cada um devem preocupar-se em dar as respostas ao presente. Dessa forma poderemos evoluir. “A vida é um desporto permanente”. É muito conveniente pensar nisto. Valorizo a vivacidade. Vejo que a vivacidade é boa e que a apatia é má. A vivacidade é caracterizada pelo desejo de expansão no mundo e por uma atitude de relaxamento para dentro do próprio EU. Este é o ritmo da vida. A indiferença engloba a contracção ansiosa contra a expansividade. A vivacidade evolui. Inicia-se com uma vibração orgânica quando a pessoa experimenta uma necessidade, uma vontade. O organismo que vibra pode pulsar, chegar a um estado de expansão para atingir o desejo, e a uma atitude de relaxamento após a experiência de satisfação. Surge então uma corrente graciosa que se lança no mundo, onde as correntes espontâneas e não retidas de energia vital dentro do sistema corporal se emparelham com as correntes do organismo num sistema mais lato, o organismo-no-mundo. O indivíduo passa a movimentar-se no ambiente com uma graça que identifica a liberdade perante o medo da vivacidade. Tal estado de evolução, é evidente numa pessoa cuja postura e gestos são fluidos e rítmicos, tal como se estivesse a dançar. Esta dança tende a ultrapassar obstáculos, de modo que a pessoa parece manipular as frustrações e contrariedades com à vontade. Infelizmente, muitas pessoas são fóbicas em relação à vida e, consequentemente, interpretam a ansiedade como um sinal para deixarem de fazer aquilo que estão a procurar realizar ou iriam realizar. A ansiedade é um sinal de excitação bloqueada, mas é frequentemente considerada como um indício de imobilização. A regra para o crescimento, que é a vivência plena, é seguir a excitação mais do que contê-la. Aceitar a excitação mais do que contrariá-la ansiosamente, é a essência do viver apaixonadamente. Na vida, a ansiedade é uma companheira de viagem muito perversa. O que se disse, implica uma relação entre ser e tornar-se, ao que é necessário prestar alguma atenção. Ser ou viver bem é acompanhado pela expressão espontânea das emoções. Tornar-se ou crescer emocionalmente é deixar expressar as emoções que anteriormente não tinham sido admitidas. Assim, o crescimento ou o “tornar-se” é uma ampliação ou aprofundamento do ser. Acrescenta-se deste modo mais vivacidade à vida. Utilizar a experiência é parte do facto de estar vivo. A experiência provém da expansão no mundo, partindo daquilo que nos é familiar e conhecido. Através da experiência, podemos tornar-nos mais. Ao discutir esta faceta da expansão, Claudio Naranjo afirma que cada um, intuitivamente, procura profundidade ou completamento da consciência. Quando isto não é vivenciado, poderá ser necessária cada vez maior estimulação do meio ambiente. Deste modo, um vício de obter cada vez mais toma o lugar de necessidade natural de profundidade. Conforme entendo, quando uma experiência profunda provoca ansiedade, uma pessoa pode refugiar-se na estimulação exagerada. Para evitar a profundidade, pode procurar muitas ocupações, distrair-se muito e estimular-se exageradamente. Por exemplo, se uma pessoa tem medo de conhecer os seus sentimentos e pensamentos profundos, pode evitar essa intimidade com uma actividade social muito intensa.

Esta torrente de contactos sociais torna-se num substituto e visa evitar o contacto menos estruturado e mais extenso temporalmente, com uma ou duas pessoas, que proporcionaria o aprofundamento de relações. A diferença aqui reside na grande festa e na conversa frente a frente numa tarde calma. A escolha é, pois, entre um contacto superficial em quantidade e um contacto mais profundo, com menos pessoas, que possa proporcionar um desenvolvimento mais amplo da consciência. Tanto o ser (vida boa) como o tornar-se (crescimento) têm base na expressão emocional. A expressão da emoção exige a consubstanciação do EU. A vivacidade, portanto, exige o “corpocomo-o-sujeito”. James Dublin sugere que o “corpo desprestigiado” ou o “corpo-como-objecto” é um indício de patologia. Em contraste, o “corpo vivo” é o corpo experimentado e está ligado ao momento vivido. O “corpo-como-objecto” significa a alienação do corpo e uma vivência reduzida. Quem vive, tem o corpo organismicamente orientado, experimentando o EU na totalidade mais do que como uma entidade mental que “tem” um corpo. Tal pessoa, sente a gama total de emoções e expressa-as espontânea e totalmente, de um modo profundo, utiliza as sensações como uma estimulação para os processos cognitivos e perceptivos, tem um alto nível de consciência, sente o EU dentro do próprio corpo, tem um alto nível de prazer sensual e sexual, tomando cuidado com o corpo, utilizando-o totalmente, mas não o deteriorando pela má utilização nem deixando que se deteriore pela falta dela. A equivalência do corpo vivo e a vivência global organísmica do EU têm uma validação científica através de uma série de estudos realizados por Paul Aikin. Em resumo, Aikin afirma que “… a evidência empírica constata a conclusão de que a actividade motora está mais do que meramente relacionada com actividades psicológicas de forma paralela, mas as emoções, a percepção e o pensamento são literalmente actividades corporais e neuromusculares”. Quando olho à minha volta, vejo pessoas que tentam valorizar a mente mais do que o corpo ou o corpo mais do que a mente, em vez de os valorizar numa perspectiva por assim dizer, organísmica, que equacione o “corpo vivo”. Interessante é que, em ambos os casos, existe uma objectivação do corpo. As pessoas orientadas no sentido intelectual tendem a focalizar o seu crescimento e expansão na direcção intelectualista. Assim, preferem trabalhos que englobam o pensamento, sendo do seu agrado os processos racionais, planeamentos e compreensão cognitiva. Estas predilecções tendem a proporcionar-lhes gratificações tardias. Nas instituições escolares, preferem despender mais tempo nas aulas, no laboratório e na sala dos computadores. As pessoas orientadas através da mente, tendem a situar-se de forma abstracta e académica. As pessoas orientadas através do corpo, por sua vez, tendem a preocupar-se com o seu crescimento e despendem os seus esforços no bem-estar físico. Preferem trabalhos que englobem a actividade física e execução de tarefas. Na orientação das suas acções, tendem a ser impulsivos ou, pelo menos, preferem não atrasar a gratificação. Em vez de imaginar procuram executar. Nas instituições escolares, preferem utilizar o seu tempo na cantina, no ginásio, no recreio ou no campo de jogos. A pessoa corporalmente orientada tende a ser concreta e prática. Mas ambas se relacionam com o corpo como se fosse um objecto. A pessoa orientada pela mente “tem” um corpo que é subestimado e ao qual liga importância quando tem dores ou feridas. Nos piores casos, o corpo é ignorado ou mesmo frequentemente denegrido pelo desuso. E a pessoa corporalmente orientada “tem” também um corpo. Pode ser trabalhado e desenvolvido, mas não “vivido”. Nos piores casos, o corpo é danificado pelo mau uso. Existem aqui duas orientações que podem ser observadas e as descrições são simplificadas com a apresentação dos extremos. Para parodiar estes extremos, pode ser utilizada a imagem do professor na sua torre de marfim, tão abstracto ao ponto de se tornar incorpóreo, assim como se pode utilizar a imagem do atleta profissional, suficientemente concreto e denso, ao ponto de chegar a ser acéfalo. Estes são os extremos da fragmentação e desequilíbrio da pessoa.

Muita gente pensa e sente que tem uma mente e um corpo e, neste dualismo, chega a um equilíbrio e valoriza de modo igual ambas as partes. Ora, a posição que estou a valorizar é aquela que se situa um passo para além do dualismo, a posição organísmica. É a posição do “corpo vivo”. Ao conceptualizar a descrição do corpo (i.e., a orientação para o drama da vida de cada um, baseado nas mensagens introjectadas a partir da infância) distingo o seu uso, desuso e abuso. O corpo vivo é o corpo usado. Enquanto não lhe falte o uso ou seja mal utilizado, o corpo vive diariamente com entusiasmo, excitação e paixão. Crescer para se transformar num ser mais profundo significa expandir-se e assimilar, ocorrendo a assimilação durante o momento de relaxação para construção do EU. E, gradualmente, os limites do EU aumentam, na medida em que se dá o crescimento. Lembro-me que Erv e Miriam Polster falaram num seminário acerca do crescimento como sendo a expansão dos limites do EU, a inclusão do que é experimentado cada vez mais. Por outras palavras, cada um cresce, à medida que o mundo é cada vez mais assimilado e compreendido pelo seu EGO. A extensão destes limites do conhecimento é necessária para o crescimento. Existem três atitudes que cada um pode utilizar, tomando em conta essa orla do crescimento. Em primeiro lugar, surge a atitude fóbica. Os que adoptam esta atitude, afastam-se dessa orla do crescimento com ansiedade, com medo de dor, embaraço ou catástrofe da “muita coisa” ameaçada pelas suas introjecções tóxicas. A atitude fóbica define os tímidos e os envergonhados, os espectadores da vida. Em segundo lugar, existe a atitude impulsiva do louco. O louco, ignorando aparentemente os perigos reais e os limites actuais, lança-se para além da orla do crescimento. Tal empurrão e esforço na orla do crescimento, resulta invariavelmente em lesão, até mesmo em certo grau de auto-destruição. O louco vive um papel tóxico tão mau como o do tímido e do envergonhado. A terceira atitude para com a orla do crescimento é a de respeito e excitação. Respeito pelos limites e pelos perigos do esforço exagerado e excitação acerca das possibilidades de expansão transformam esta atitude numa das que proporciona o melhor crescimento. A pessoa com esta atitude tem tendência para ficar relativamente livre do papel tóxico, quer pelo benefício de não o ter recebido quer por se ter conseguido ver livre dele através de uma experiência profunda de crescimento. Esta terceira atitude é a verdadeira “vida” do corpo. Assim, este participante criativo da vida, “vive” o corpo ou utiliza-o, enquanto o louco sofre as consequências do abuso crónico desse uso e o tímido e o envergonhado se retraem devido à falta de uso do mesmo, com as sequelas patológicas advenientes. A escolha é participar na vida criativamente (“viver” o corpo) ou queimar/quebrar (usar mal o corpo). Estar vivo é assumir riscos razoáveis. Assumindo-os, haverá ocasionalmente expansão suficiente para exceder o limiar do crescimento, daí resultando danos para o próprio corpo. Certamente, o corpo sem medo reflecte uma vida não totalmente vivida. Mas haverá alguém que tenha aprendido a andar de bicicleta ou de patins sem cair ou tropeçar? Acredito que podem ocorrer erros honestos de julgamento quando cada um tenta ir para além dos seus limites anteriores. Uma das diferenças entre a pessoa viva que procura crescimento e o louco situa-se na preparação para a expansão. A pessoa orientada para o crescimento é disciplinada. Isto significa que avalia a rapidez para a expansão e, se o melhor juízo é o de que não está preparado, então é melhor aguardar. A disciplina manifesta-se como demora, planeamento, treino, escolha das melhores condições, qualquer que seja a preparação julgada necessária. Desse modo, o louco pode tentar uma expansão perigosa através da impulsividade, mas a pessoa orientada para o crescimento aguarda o seu tempo de preparação a o momento adequado. Assim, ao tentar forçar os limites do seu crescimento, o esquiador pode sofrer uma queda e ficar com escoriações ou um tornozelo torcido. Mas apenas o esquiador louco irá exceder as horas de condicionamento do corpo, realizando a descida da montanha muito para além das suas capacidades ou sem qualquer auto-disciplina que inclua os limites baseados nas informações ou reaferições conseguidas pelo próprio corpo, tentando esquiar em estado de completa exaustão.

Em virtude disso, e não estando preparado para a expansão que pretende, é quase certo que o esquiador louco, mais cedo ou mais tarde, ficará seriamente lesionado. No Ultimate Athlete, George Leonard apresenta um caso convincente para as possibilidades de crescimento orgânico através dos desportos, escrevendo sobre o seu aspecto transformador, em termos de ultrapassagem das barreiras humanas, melhoria das percepções e transposição dos limites antecedentes. Ao mesmo tempo, avisa que os desportos partilham o elemento comum de risco de lesão ou até a morte. Os desportos são uma forma de explorar os limites. Englobam o corpo na exploração do movimento e a relação entre movimento e tempo. Thomas Hanna chamou a atenção para o facto de que o corpo vivo é um corpo em movimento. Ou, mais precisamente, escreve que a vida existe “… como o movimento organizado do corpo individual”. Refere-se ao “apressado” e ao “morto”, vendo o movimento autónomo como o traço principal através do qual distingue os dois e realça que uma capacidade reduzida para o movimento corresponde a uma vivacidade diminuída. Nos seus ensinamentos, Hanna constatou que a maioria dos adultos tem pouca capacidade para sentir os movimentos dos seus corpos. A situação habitual para a pessoa é atingir a idade adulta com um desenvolvimento mínimo dos sistemas sensoriomotores e perder rapidamente as capacidades da sensibilidade do corpo e do movimento eficiente do mesmo à medida que vai envelhecendo. Este desenvolvimento deficiente das faculdades sensoriomotoras e proprioceptivas-somestésicas é visto por Hanna como o maior problema de saúde da sociedade contemporânea. Em termos de funcionamento total, este desenvolvimento deficiente representa uma perda do potencial humano, um desvio do estado de “bem-estar”. O que se verifica vulgarmente é um estado deficiente de movimento, mais do que um movimento eficiente, gracioso, não deficitário, com consciência proprioceptiva. Este movimento deficiente pode ser reconhecido por movimentos corporais rígidos, não rítmicos e inúteis. Pode existir uma inaptidão ou desajeitar óbvio, ou ainda uma restrição da gama total na mobilidade do corpo. Assim, o “corpo vivo” é um corpo em movimento. Os desportos oferecem a possibilidade de explorar, com consciência, os parâmetros do movimento: força, flexibilidade, coordenação, resistência e precisão. Para quê aumentar a flexibilidade (muito para além da média) através do recurso ao Hatha Yoga? Ou multiplicar tanto a força (para além da média) mediante o treino regular com pesos e halteres? Porque assim se expande a gama de possibilidades, oferecendo mais opções ao comportamento e uma grande possibilidade de profundidade e vivência. A vivacidade é muitas vezes experimentada profunda e espiritualmente. A significação espiritual pode emergir da glória e esplendor da consciência de um “corpo vivo”. Alan Watts escreveu que por mais filosofias que uma pessoa estude, por mais exercícios espirituais que pratique, por mais escrituras e textos sagrados que procure e por mais mestres espirituais que consulte, no final, ela regressa ao facto surpreendente de ter comer, dormir, sentir, respirar e movimentar-se bem como ainda ao facto surpreendente de estar viva. Adianta também que o facto surpreendente de estar vivo é a “experiência suprema da religião”. Deste modo, muitos escritores viram a morte na origem de todos os pecados mortais. A maravilha e o mistério, é estar vivo. O valor mais apreciado é a vida vivida exuberantemente. Isto significa aqui, agora e com consciência. Viver uma vida exuberante exige que cada um se contraia ou se expanda e que abrace o mundo com paixão e prazer. Vivendo desse modo, abraçando cada novo dia com paixão e deleite, a pessoa evolui. Esta evolução é a Dança Cósmica. O mais importante, é viver plenamente onde se está num dado momento. Isso significa não perder o tempo a ruminar o passado ou a imaginar obsessivamente um futuro calculado. O que está feito, está feito, o que não está feito, não está feito, e aquilo que se faz agora, é aquilo que é. A capacidade e aptidão de cada um para responder devem dizer respeito àquilo que é. Então, poderemos evoluir. Esta lição acerca da importância de experimentar plenamente cada estádio e cada circunstância da vida está bem delineada por Hermann Hesse no seu romance Siddhartha.

As necessidades, os movimentos de desejo do que há em nós de mais profundo, são a vida a nascer. Responder é dizer sim à vida, mas contrair os músculos para suprimir a necessidade é dizer-lhe não e engrossar o esquadrão dos mortos. Não estou a falar dos actos impulsivos realizados pelo corpo em benefício da mente, mas da acção respeitável realizada por um organismo integrado em resposta às profundas aspirações do seu ser. Qualquer necessidade que uma pessoa sinta é válida a esse nível. A necessidade é avaliada mais convenientemente pela resposta cognitiva e afectiva e depois realizada, mas se for imaginada como perigosa ou inapropriada não é realizada. Algumas linhas deixadas por William Blake, no The Marriage of Heaven and Hell, podem instruir, senão mesmo inspirar-nos: “Aquele que deseja mas não actua, respira pestilência. É preferível matar uma criança no seu berço, do que alimentar desejos não realizados.” Penso em termos de dois níveis de consciência, a consciência de vontade e desejos que naturalmente levam à acção corporal e interacção com o mundo e a consciência que vem de tais acções e interacções. Chamo-lhes, respectivamente, níveis I e II. A consciência do nível II vem da experiência de satisfação ou não satisfação no seguimento duma sequência de acção ou interacção. A sabedoria desenvolve-se a partir deste segundo nível de consciência. Mas os tímidos e os envergonhados são deficientes nesta sabedoria, por causa da sua tendência para a não-acção e não-interacção. Receosos de “muita” vivacidade ou com medo de praticar erros, os tímidos e os medrosos ficam retraídos. Vivacidade significa “muito” quando se aproxima dos limites estebelecidos pelas introjecções tóxicas da infância, as quais são mensagens recebidas pela criança que restringem um comportamento natural e saudável. Assim, os tímidos e os envergonhados retraem-se das actividades e experiências que conduziriam à sabedoria da vida. De novo, William Blake no seu The Marriage of Heaven and Hell pode trazer-nos algum encorajamento: “Nenhuma ave voa alto demais se voar com as suas próprias asas. Se o louco persistir na sua loucura tornar-se-á sábio. O caminho para o excesso conduz ao palácio da sabedoria.” De acordo com a perspectiva do “corpo vivo” a sexualidade é mais do que uma comichão genital a ser coçada quando necessário. “Sexualidade” é mais uma palavra a ser descrita e expandida no “corpo vivo”. “Sexualidade” é uma forma de ser e uma forma de responder ao mundo. Significa contatactar o mundo com paixão. Sexualidade significa beijar o solo e abraçar as árvores, rolar pela erva e cheirar profundamente as flores. Significa sentir excitação ao olhar para o pico duma montanha ou ficar extasiado quando a brisa acaricia a pele e nos revolve os cabelos. Isto é, agradecer a Deus com paixão. Sexualidade, numa forma menos ampla, significa relacionar-se com com as outras pessoas com a mesma paixão. Na sua significação restrita, sexualidade significa relacionar-se com alguém genitalmente. Mas para ser plenamente sexual, a pessoa deve possuir estes três níveis de sexualidade. Voltando ao sentido genital da sexualidade, noto que Wilhelm Reich, Alexander Lowen e Laura Perls, assim como muitos dos que estudaram com eles, equacionam estar vivo com ser sexual ou a sexualidade. Tal como Lowen assinala, “ser sexual é estar vivo e estar vivo é ser sexual”. A redução dos sentimentos sexuais conduz à castração psicológica, segundo Lowen. Não ser sexual, não é somente uma gestalt comportamental incompleta mas também uma gestalt corporal incompleta. É como se vivessemos sem órgãos genitais. Ser celibatário é prescindir da rica arena da vida genital. Para alguns esse sacrifício é importante. Mas poderá alguém negar que é um sacrifício?

Se uma pessoa não é sexual no sentido do “corpo vivo” e permite que a sexualidade se reduza aos órgãos genitais, então também não se sentirá plenamente satisfeita. Poderão existir actos sexuais, mas não amor. Esta insuficiência pode conduzir à procura de mais e mais variedade e a uma estimulação cada vez maior. O resultado será assim promiscuidade e perversão, a não ser que a culpa possa refrear este tipo de pessoas. Este pretendia ser o ponto atingido por Reich quando falava nas necessidades secundárias que se desenvolvem quando as primárias se encontram bloqueadas. As necessidades secundárias são difíceis, árduas e uma perversão das necessidades primárias. O “corpo vivo” responde em relação às necessidades primárias. Quando uma pessoa vive no seu corpo existe um carinho positivo pelo corpo. O corpo é identificado e incluído no pronome pessoal “EU”. Esta identificação corporal implica um certo estilo de vida. Quando as pessoas vivem o seu corpo conduzem as suas vidas de tal maneira que os seus corpos são bem utilizados, sendo mínimo o desuso ou o abuso. O estilo de vida envolve o respeito e a propensão para a satisfação das necessidades de cada um. Cada um programará a sua vida valorizando a “vivacidade”. Não estou a propor o “corpo vivo” como um guia total para a vida ou como o valor subjacente à prática da psicoterapia. O que estou a apresentar é uma exploração do “corpo vivo” como um valor altamente importante em psicoterapia e como um dos que tem sido frequentemente desconhecido ou ignorado.

[Tradução e adaptação de artigo. Revista CONHECER Ética), Abril/Junho 1985. Bibliografia suprimida.]

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