O Crátilo de Platão (tradução)

July 24, 2017 | Autor: Celso Vieira | Categoria: Plato, Platão, Plato's Cratylus
Share Embed


Descrição do Produto

Crátilo ou Sobre a correção dos nomes1 Personagens: Hermógenes (H), Crátilo (C) e Sócrates (S). H. Você quer compartilhar a nossa fala com o Sócrates aqui? C. Se for esta a sua opinião... H. Sócrates, o Crátilo diz existir uma correção dos nomes inerente à natureza de cada um dos seres. Um nome não seria isto que alguns, pronunciando partes de seu idioma, convencionaram usar para chamar. Haveria sim uma correção inerente aos nomes, a mesma para todos, gregos ou estrangeiros2. Diante disso, eu lhe pergunto se 'Crátilo' é mesmo o seu nome verdadeiro. Ele confirma. “E qual seria o de Sócrates?”, eu digo. “Sócrates”, segundo ele. “Logo, para todos os outros seres humanos, o nome com o qual chamamos cada um é o nome de cada um deles?” Aí ele me vem com essa: “O nome 'Hermógenes' não é o seu, nem se todos os seres humanos te chamam com ele.” Mas quando eu, apetecido por alguma especificação, lhe pergunto pelo porquê da sua fala, ele nada me esclarece. E mais, ainda me ironiza, sugerindo ter no intelecto uma especificação através da qual, caso quisesse me declarar claramente, me faria confirmar e falar o mesmo que ele fala3. Por isso, se você tiver como completar a lição de Crátilo eu te ouviria com prazer. Ainda mais prazeroso seria pesquisar contigo a sua própria opinião acerca da correção dos nomes, se assim você quiser. S. Hermógenes, filho de Hipônico, você tem que aprender com o antigo provérbio: “o charmoso é custoso”. Acontece que um aprendizado sobre os nomes não é coisa pequena. Se eu já tivesse ouvido a apresentação de 50 Dracmas do Pródico com a qual, segundo ele, o ouvinte começa sua instrução, nada te distanciaria de uma especificação imediata da verdade acerca da correção dos nomes. Porém, como até agora

{ΕΡΜ.} Βούλει οὖν καὶ Σωκράτει τῷδε ἀνακοινωσώμεθα τὸν λόγον; {ΚΡ.} Εἴ σοι δοκεῖ. {ΕΡΜ.} Κρατύλος φησὶν ὅδε, ὦ Σώκρατες, ὀνόματος 383.a.5 ὀρθότητα εἶναι ἑκάστῳ τῶν ὄντων φύσει πεφυκυῖαν, καὶ οὐ τοῦτο εἶναι ὄνομα ὃ ἄν τινες συνθέμενοι καλεῖν καλῶσι, τῆς αὑτῶν φωνῆς μόριον ἐπιφθεγγόμενοι, ἀλλὰ ὀρθότητά τινα τῶν 383.b.1 ὀνομάτων πεφυκέναι καὶ Ἕλλησι καὶ βαρβάροις τὴν αὐτὴν ἅπασιν. ἐρωτῶ οὖν αὐτὸν ἐγὼ εἰ αὐτῷ Κρατύλος τῇ ἀληθείᾳ ὄνομα [ἐστὶν ἢ οὔ]· ὁ δὲ ὁμολογεῖ. “Τί δὲ Σωκράτει;” ἔφην. “Σωκράτης,” ἦ δ' ὅς. “Οὐκοῦν καὶ τοῖς ἄλλοις 383.b.5 ἀνθρώποις πᾶσιν, ὅπερ καλοῦμεν ὄνομα ἕκαστον, τοῦτό ἐστιν ἑκάστῳ ὄνομα;” ὁ δέ, “Οὔκουν σοί γε,” ἦ δ' ὅς, “ὄνομα Ἑρμογένης, οὐδὲ ἂν πάντες καλῶσιν ἄνθρωποι.” καὶ ἐμοῦ ἐρωτῶντος καὶ προθυμουμένου εἰδέναι ὅτι ποτὲ 384.a.1 λέγει, οὔτε ἀποσαφεῖ οὐδὲν εἰρωνεύεταί τε πρός με, προςποιούμενός τι αὐτὸς ἐν ἑαυτῷ διανοεῖσθαι ὡς εἰδὼς περὶ αὐτοῦ, ὃ εἰ βούλοιτο σαφῶς εἰπεῖν, ποιήσειεν ἂν καὶ ἐμὲ ὁμολογεῖν καὶ λέγειν ἅπερ αὐτὸς λέγει. εἰ οὖν πῃ ἔχεις 384.a.5 συμβαλεῖν τὴν Κρατύλου μαντείαν, ἡδέως ἂν ἀκούσαιμι· μᾶλλον δὲ αὐτῷ σοι ὅπῃ δοκεῖ [ἔχειν] περὶ ὀνομάτων ὀρθότητος ἔτι ἂν ἥδιον πυθοίμην, εἴ σοι βουλομένῳ [ἐστίν]. {ΣΩ.} Ὦ παῖ Ἱππονίκου Ἑρμόγενες, παλαιὰ παροιμία ὅτι 384.b. χαλεπὰ τὰ καλά ἐστιν ὅπῃ ἔχει μαθεῖν· καὶ δὴ καὶ τὸ περὶ τῶν ὀνομάτων οὐ σμικρὸν τυγχάνει ὂν μάθημα. εἰ μὲν οὖν ἐγὼ ἤδη ἠκηκόη παρὰ Προδίκου τὴν πεντηκοντάδραχμον ἐπίδειξιν, ἣν ἀκούσαντι ὑπάρχει περὶ τοῦτο πεπαιδεῦσθαι, ὥς 384.b.5 φησιν ἐκεῖνος, οὐδὲν ἂν ἐκώλυέν σε αὐτίκα μάλα εἰδέναι τὴν ἀλήθειαν περὶ ὀνομάτων

1A edição base utilizada foi a de Burnet, J. Plato. Platonis Opera, Oxford University Press. 1903. 2 Logo no início Hermógenes apresenta, de maneira geral, as duas posições em disputa no diálogo. Elas ficaram conhecidas como o convencionalismo exposto por Hermógenes, no qual a correção de um nome é apenas uma questão de convenção, e o naturalismo defendido por Crátilo, segundo o qual cada nome possui uma correção inerente. 3 Esta postura enigmática atribuída a Crátilo pode ter o intuito de caracterizá-lo como um seguidor de Heráclito cujo estilo discursivo peculiar na apresentação do seu pensamento já era notório na época. A teoria heraclítica de que tudo esta em perpétua mudança é discutida mais adiante.

eu só ouvi a de 1 Dracma, ainda não posso especificar aonde está esta verdade. Mesmo assim, eu me prontifico a partilhar de uma investigação com você e o Crátilo. Quando ele diz que 'Hermógenes', na verdade, não é o seu nome, eu suspeito que seja um deboche. Talvez ele ache que se você tivesse os genes de Hermes, o deus do comércio, jamais perderia posses na aquisição de bens. Já especificar aquilo que você falava antes é mais custoso. Para estabelecermos uma posição comum é preciso averiguar se é do jeito que você ou o Crátilo fala. H. Sócrates, para mim, após ter discutido várias vezes sobre isso com muitos outros, não consigo ser persuadido de que haja uma outra correção para um nome além de uma convenção confirmada. Na minha opinião, se alguém coloca um nome numa coisa, este está correto. Depois disso, se for mudado para um outro, e ninguém mais chamar pelo primeiro, o novo não vai ser menos correto do que o anterior. É o mesmo caso de quando mudamos o nome de algum serviçal, o posterior à mudança não é menos correto do que aquele que foi estabelecido primeiro. Nenhum nome é inerente à natureza de nada, ele apenas segue as normas e hábitos de quem o habilitou ao chamar. No entanto, se não for assim, eu me prontifico em aprender dando ouvidos ao Crátilo ou a qualquer outro. S. Talvez seja como você está falando, Hermógenes, mas vamos verificar. Você diz que o nome de cada um é aquele pelo qual alguém o chama? H. É a minha opinião. S. Tanto se quem chama for uma pessoa em particular quanto toda a cidade? H. Tenho dito. S. O quê? Se eu chamo um ser, por exemplo, o que agora chamamos de humano, se eu proclamo tratar-se de um cavalo, e ao cavalo proclamo humano, então, para o povo, seu nome vai ser 'humano' enquanto que para mim, em particular, vai ser 'cavalo'? E, ao contrário, o que para mim, em particular, tem o nome de 'humano' vai ser, para o povo, 'cavalo'? É isso que você está falando?4 H. É a minha opinião. S. Vem cá, me declare o seguinte. Existe algo

ὀρθότητος· νῦν δὲ οὐκ ἀκήκοα, 384.c.1 ἀλλὰ τὴν δραχμιαίαν. οὔκουν οἶδα πῇ ποτε τὸ ἀληθὲς ἔχει περὶ τῶν τοιούτων· συζητεῖν μέντοι ἕτοιμός εἰμι καὶ σοὶ καὶ Κρατύλῳ κοινῇ. ὅτι δὲ οὔ φησί σοι Ἑρμογένη ὄνομα εἶναι τῇ ἀληθείᾳ, ὥσπερ ὑποπτεύω αὐτὸν σκώπτειν· 384.c.5 οἴεται γὰρ ἴσως σε χρημάτων ἐφιέμενον κτήσεως ἀποτυγχάνειν ἑκάστοτε. ἀλλ', ὃ νυνδὴ ἔλεγον, εἰδέναι μὲν τὰ τοιαῦτα χαλεπόν, εἰς τὸ κοινὸν δὲ καταθέντας χρὴ σκοπεῖν εἴτε ὡς σὺ λέγεις ἔχει εἴτε ὡς Κρατύλος. {ΕΡΜ.} Καὶ μὴν ἔγωγε, ὦ Σώκρατες, πολλάκις δὴ καὶ 384.c.10 τούτῳ διαλεχθεὶς καὶ ἄλλοις πολλοῖς, οὐ δύναμαι πεισθῆναι 384.d.1 ὡς ἄλλη τις ὀρθότης ὀνόματος ἢ συνθήκη καὶ ὁμολογία. ἐμοὶ γὰρ δοκεῖ ὅτι ἄν τίς τῳ θῆται ὄνομα, τοῦτο εἶναι τὸ ὀρθόν· καὶ ἂν αὖθίς γε ἕτερον μεταθῆται, ἐκεῖνο δὲ μηκέτι καλῇ, οὐδὲν ἧττον τὸ ὕστερον ὀρθῶς ἔχειν τοῦ προτέρου, 384.d.5 ὥσπερ τοῖς οἰκέταις ἡμεῖς μετατιθέμεθα [οὐδὲν ἧττον τοῦτ' εἶναι ὀρθὸν τὸ μετατεθὲν τοῦ πρότερον κειμένου]· οὐ γὰρ φύσει ἑκάστῳ πεφυκέναι ὄνομα οὐδὲν οὐδενί, ἀλλὰ νόμῳ καὶ ἔθει τῶν ἐθισάντων τε καὶ καλούντων. εἰ δέ πῃ ἄλλῃ 384.e.1ἔχει, ἕτοιμος ἔγωγε καὶ μανθάνειν καὶ ἀκούειν οὐ μόνον παρὰ Κρατύλου, ἀλλὰ καὶ παρ' ἄλλου ὁτουοῦν. {ΣΩ.} Ἴσως μέντοι τὶ λέγεις, ὦ Ἑρμόγενες· σκεψώμεθα δέ. ὃ ἂν φῂς καλῇ τις ἕκαστον, τοῦθ' ἑκάστῳ ὄνομα; {ΕΡΜ.} Ἔμοιγε δοκεῖ. {ΣΩ.} Καὶ ἐὰν ἰδιώτης καλῇ καὶ ἐὰν πόλις; 385.a.5 ΕΡΜ.} Φημί. {ΣΩ.} Τί οὖν; ἐὰν ἐγὼ καλῶ ὁτιοῦν τῶν ὄντων, οἷον ὃ νῦν καλοῦμεν ἄνθρωπον, ἐὰν ἐγὼ τοῦτο ἵππον προςαγορεύω, ὃ δὲ νῦν ἵππον, ἄνθρωπον, ἔσται δημοσίᾳ μὲν ὄνομα ἄνθρωπος τῷ αὐτῷ, ἰδίᾳ δὲ ἵππος; καὶ ἰδίᾳ μὲν αὖ 385.a.10 ἄνθρωπος, δημοσίᾳ δὲ ἵππος; οὕτω λέγεις; {ΕΡΜ.} Ἔμοιγε δοκεῖ. {ΣΩ.} Φέρε δή μοι τόδε εἰπέ· καλεῖς τι ἀληθῆ

4 Como estratégia de refutação Sócrates leva a posição convencionalista a um extremo no qual qualquer um, a qualquer hora, pode usar qualquer nome para qualquer coisa. Hermógenes aceita este radicalismo que acaba lhe comprometendo com uma situação implausível na qual cada falante teria um idioleto próprio. Para uma leitura que extrai o máximo da posição de Hermógenes cf. Barney, R. On Conventionalism, Phronesis 42, 1997.

que se chama de falar a verdade ou falsidade? H. Sim. S. Portanto, haveriam algumas falas verdadeiras e outras falsas? H. Exato. S. Neste caso, verdadeiro seria falar o que existe assim como é, e falso, como não é? H. Isso. S. Logo, numa fala, é possível falar aquilo que existe tanto como é quanto como não é? H. Exatamente. S. Uma fala verdadeira é verdadeira no todo, mas suas partes não seriam verdadeiras? H: Não, também as partes o são. S: Apenas as partes grandes são verdadeiras e as pequenas não, ou todas elas o são? H: Acho que todas elas. S: Você pode me falar uma parte menor de uma fala do que o nome? H: Não, ele é a menor. S: Então, podemos falar que um nome faz parte de uma fala verdadeira? H: Isso. S: Uma parte verdadeira, como você disse? H: Isso. S: E a parte de uma fala falsa não seria falsa? H: Seria. S: Logo, assim como numa fala, também seria possível falar um nome falso ou verdadeiro?5 H. Como não? S. E o que cada um diz ser o nome de cada um seria o seu nome? H. Sim. S. Quais sejam os nomes que qualquer um disser para cada um, assim que forem ditos, eles o serão? H. Eu não defendo outra senão esta correção dos nomes, Sócrates. Para mim, um nome que eu coloquei me serve para chamar algo enquanto que, para você, te serve um outro nome colocado por você. Do mesmo modo que em cada cidade eu vejo um estabelecimento particular de nomes diferentes para as mesmas coisas, tanto entre gregos e outros gregos quanto entre gregos e estrangeiros. S. Vamos ver, Hermógenes. Os seres te parecem ter uma existência particular para cada um de

λέγειν καὶ ψευδῆ; {ΕΡΜ.} Ἔγωγε. 385.b.5 {ΣΩ.} Οὐκοῦν εἴη ἂν λόγος ἀληθής, ὁ δὲ ψευδής; {ΕΡΜ.} Πάνυ γε. {ΣΩ.} Ἆρ' οὖν οὗτος ὃς ἂν τὰ ὄντα λέγῃ ὡς ἔστιν, ἀληθής· ὃς δ' ἂν ὡς οὐκ ἔστιν, ψευδής; {ΕΡΜ.} Ναί. 385.b.10 {ΣΩ.} Ἔστιν ἄρα τοῦτο, λόγῳ λέγειν τὰ ὄντα τε καὶ μή; {ΕΡΜ.} Πάνυ γε. 385.c.1 {ΣΩ.} Ὁ λόγος δ' ἐστὶν ὁ ἀληθὴς πότερον μὲν ὅλος ἀληθής, τὰ μόρια δ' αὐτοῦ οὐκ ἀληθῆ; {ΕΡΜ.} Οὔκ, ἀλλὰ καὶ τὰ μόρια. {ΣΩ.} Πότερον δὲ τὰ μὲν μεγάλα μόρια ἀληθῆ, τὰ δὲ 385.c.5σμικρὰ οὔ· ἢ πάντα; {ΕΡΜ.} Πάντα, οἶμαι ἔγωγε. {ΣΩ.} Ἔστιν οὖν ὅτι λέγεις λόγου σμικρότερον μόριον ἄλλο ἢ ὄνομα; {ΕΡΜ.} Οὔκ, ἀλλὰ τοῦτο σμικρότατον. {ΣΩ.} Καὶ τοῦτο [ὄνομα] ἄρα τὸ τοῦ ἀληθοῦς λόγου λέγεται; {ΕΡΜ.} Ναί. {ΣΩ.} Ἀληθές γε, ὡς φῄς. {ΕΡΜ.} Ναί. {ΣΩ.} Τὸ δὲ τοῦ ψεύδους μόριον οὐ ψεῦδος; {ΕΡΜ.} Φημί. {ΣΩ.} Ἔστιν ἄρα ὄνομα ψεῦδος καὶ ἀληθὲς λέγειν, εἴπερ καὶ λόγον; 385.d.1 {ΕΡΜ.} Πῶς γὰρ οὔ; {ΣΩ.} Ὃ ἂν ἄρα ἕκαστος φῇ τῳ ὄνομα εἶναι, τοῦτό ἐστιν ἑκάστῳ ὄνομα; {ΕΡΜ.} Ναί. 385.d.5 {ΣΩ.} Ἦ καὶ ὁπόσα ἂν φῇ τις ἑκάστῳ ὀνόματα εἶναι, τοσαῦτα ἔσται καὶ τότε ὁπόταν φῇ; {ΕΡΜ.} Οὐ γὰρ ἔχω ἔγωγε, ὦ Σώκρατες, ὀνόματος ἄλλην ὀρθότητα ἢ ταύτην, ἐμοὶ μὲν ἕτερον εἶναι καλεῖν ἑκάστῳ ὄνομα, ὃ ἐγὼ ἐθέμην, σοὶ δὲ ἕτερον, ὃ αὖ σύ. οὕτω δὲ καὶ 385.e.1 ταῖς πόλεσιν ὁρῶ ἰδίᾳ [ἑκάσταις] ἐνίοις ἐπὶ τοῖς αὐτοῖς κείμενα ὀνόματα, καὶ Ἕλλησι παρὰ τοὺς ἄλλους Ἕλληνας, καὶ Ἕλλησι παρὰ βαρβάρους. {ΣΩ.} Φέρε δὴ ἴδωμεν, ὦ Ἑρμόγενες, πότερον καὶ τὰ ὄντα 385.e.5 οὕτως ἔχειν σοι φαίνεται,

5 Esta passagem ficou conhecida como a Falácia da divisão porque, segundo Robinson, Platão cometeria a falha de aplicar à parte (o nome) a característica do todo (o discurso) de poder ser verdadeiro ou falso. Para os detalhes da crítica cf. Robinson, R. A Criticism of Plato's Cratylus. The philosophical review 65 n.3, 1965. Segundo Schofield esta passagem 385b2-d1 estaria deslocada. Seu lugar deveria ser após 387c5. Para uma convincente defesa desta mudança e suas implicações cf. Schofield, M. A displacement in the text of the Craylus, Classical Quarterly 22, 1972.

nós? Tal qual falou Protágoras quando falava que o ser humano seria “a medida de tudo que há”6? Nesse caso, as coisas são para mim assim como elas me parecem ser e são para você assim como elas te parecem. Ou, na sua opinião, elas possuem alguma estabilidade própria na existência? H. Sócrates, num outro momento, desorientado, eu me deixei levar pelo que Protágoras falava. No entanto, esta já não é a minha opinião. S. O quê? Em algum momento você tendeu para a opinião de que não existia algo como um ser humano imprestável? H. Por Zeus, nunca! Já sofri o bastante para poder opinar que alguns humanos não prestam, aliás, a maioria deles. S. O quê? Na sua opinião não existem seres humanos muito competentes? H. É claro, mas apenas alguns. S. Na sua opinião? H. Na minha. S. Nesse caso, poderíamos estabelecer que os muito competentes são muito sensatos e os muito imprestáveis são muito insensatos? H. Na minha opinião, seria assim. S. Por outro lado, se Protágoras falava a verdade, e a verdade dele é que as coisas existem segundo a opinião de cada um, alguns de nós seriam sensatos e outros insensatos? H. De jeito nenhum. S. Portanto, uma vez que existem os sensatos e os insensatos, eu acho que também na sua opinião, aquilo que Protágoras falava ser a verdade não serve de princípio. Nesse tipo de verdade ninguém seria mais sensato do que o outro, já que a opinião de cada um vai ser a verdadeira para si. H. Isso mesmo. S. Mas, também não acho que a sua opinião seja como a de Eutidemo, na qual tudo existe para todos do mesmo jeito, ao mesmo tempo e para sempre. Pois tampouco haveriam humanos competentes ou imprestáveis se virtude e maldade existissem sempre do mesmo jeito para todos. H. É verdade. S. Então, se os seres não estão sempre do

ἰδίᾳ αὐτῶν ἡ οὐσία εἶναι ἑκάστῳ, ὥσπερ Πρωταγόρας ἔλεγεν λέγων “πάντων χρημάτων 386.a.1 μέτρον” εἶναι ἄνθρωπον – ὡς ἄρα οἷα μὲν ἂν ἐμοὶ φαίνηται τὰ πράγματα [εἶναι], τοιαῦτα μὲν ἔστιν ἐμοί· οἷα δ' ἂν σοί, τοιαῦτα δὲ σοί – ἢ ἔχειν δοκεῖ σοι αὐτὰ αὑτῶν τινα βεβαιότητα τῆς οὐσίας; {ΕΡΜ.} Ἤδη ποτὲ ἔγωγε, ὦ Σώκρατες, ἀπορῶν καὶ ἐνταῦθα ἐξηνέχθην εἰς ἅπερ Πρωταγόρας λέγει· οὐ πάνυ τι μέντοι μοι δοκεῖ οὕτως ἔχειν. {ΣΩ.} Τί δέ; ἐς τόδε ἤδη ἐξηνέχθης, ὥστε μὴ πάνυ σοι 386.b.1δοκεῖν εἶναί τινα ἄνθρωπον πονηρόν; {ΕΡΜ.} Οὐ μὰ τὸν Δία, ἀλλὰ πολλάκις δὴ αὐτὸ πέπονθα, ὥστε μοι δοκεῖν πάνυ πονηροὺς εἶναί τινας ἀνθρώπους, καὶ μάλα συχνούς. {ΣΩ.} Τί δέ; πάνυ χρηστοὶ οὔπω σοι ἔδοξαν εἶναι [ἄνθρω-ποι]; {ΕΡΜ.} Καὶ μάλα ὀλίγοι. {ΣΩ.} Ἔδοξαν δ' οὖν; {ΕΡΜ.} Ἔμοιγε. 386.b.10 {ΣΩ.} Πῶς οὖν τοῦτο τίθεσαι; ἆρ' ὧδε· τοὺς μὲν πάνυ χρηστοὺς πάνυ φρονίμους, τοὺς δὲ πάνυ πονηροὺς πάνυ ἄφρονας; 386.c.1 {ΕΡΜ.} Ἔμοιγε δοκεῖ οὕτως. {ΣΩ.} Οἷόν τε οὖν [ἐστιν], εἰ Πρωταγόρας ἀληθῆ ἔλεγεν καὶ ἔστιν αὕτη ἡ ἀλήθεια, τὸ οἷα ἂν δοκῇ ἑκάστῳ τοιαῦτα καὶ εἶναι, τοὺς μὲν ἡμῶν φρονίμους εἶναι, τοὺς δὲ ἄφρονας; 386.c.5 {ΕΡΜ.} Οὐ δῆτα. {ΣΩ.} Καὶ ταῦτά γε, ὡς ἐγᾦμαι, σοὶ πάνυ δοκεῖ, φρονήσεως οὔσης καὶ ἀφροσύνης μὴ πάνυ δυνατὸν εἶναι Πρωταγόραν ἀληθῆ λέγειν· οὐδὲν γὰρ ἄν που τῇ ἀληθείᾳ ὁ ἕτερος τοῦ ἑτέρου φρονιμώτερος εἴη, εἴπερ ἃ ἂν ἑκάστῳ 386.d.1 δοκῇ ἑκάστῳ ἀληθῆ ἔσται. {ΕΡΜ.} Ἔστι ταῦτα. {ΣΩ.} Ἀλλὰ μὴν οὐδὲ κατ' Εὐθύδημόν γε οἶμαι σοὶ δοκεῖ πᾶσι πάντα ὁμοίως εἶναι ἅμα καὶ ἀεί· οὐδὲ γὰρ ἂν οὕτως 386.d.5 εἶεν οἱ μὲν χρηστοί, οἱ δὲ πονηροί, εἰ ὁμοίως ἅπασι καὶ ἀεὶ ἀρετή τε καὶ κακία εἴη. {ΕΡΜ.} Ἀληθῆ λέγεις. {ΣΩ.} Οὐκοῦν εἰ μήτε πᾶσι πάντα ἐστὶν ὁμοίως

6 Esta é uma das vezes em que Platão cita a chamada Teoria do Homem Medida de Protágoras. Ela é interpretada, principalmente, como uma teoria relativista na qual a opinião de cada um seria a verdadeira para cada um. Porém há quem defenda um leitura infalibilista segundo a qual a opinião de cada um seria verdadeira em absoluto. Para um exame mais aprofundado do problema cf. Fine, G. Protagorean Relativisms, Boston Area Colloquium in Anciente Philosophy 10, 1994.

mesmo jeito, ao mesmo tempo e para todos, nem cada um está para cada um, fica evidente que eles têm alguma existência estável, própria à si mesmos, que não é relativa a nós, nem vai, arrastada por nós, para cima e para baixo com a nossa imaginação. Eles mesmos possuem uma existência própria que lhes é inerente7. H. Sou desta opinião, Sócrates. S. Isto lhes seria inerente enquanto que com as ações não seria da mesma maneira? Ou as ações não têm, elas mesmas, uma espécie de existência? H. Têm mesmo. S. Portanto, também as ações atuam conforme sua própria natureza e não segundo a nossa opinião. Se nos propusermos a cortar algo que existe, por exemplo, convém cortarmos cada qual como quisermos e com aquilo que quisermos ou convém querermos cortar segundo a natureza inerente ao cortar e ao ser cortado? Deste modo, agindo corretamente, cortaremos algo de pleno para nós enquanto que, errando, contra a natureza, sequer agiremos. H. Esta é a minha opinião. S. Então, se nos propusermos a queimar algo, deve-se queimar, não segundo a opinião de todos, mas da maneira correta? E ainda, deve-se queimar como for inerente a cada um e ser queimado com o que lhe for inerente? H. Isso mesmo. S. Assim também nos outros casos? H. Exatamente. S. E o falar não é mais uma dentre as ações? H. É. S. Então, quem fala seguindo sua própria opinião de como convém falar, vai falar corretamente ou vai estar errado e sequer vai fazer algo? E quem fala conforme a natureza de como falar e com o que se fala vai fazer algo de pleno ao se expressar? H. Na minha opinião é como você fala. S. E o nomear não é uma parte do falar? Pois as falas são faladas através de nomes. H. Exatamente. S. Portanto, assim como o falar, também o nomear é uma ação, uma ação relativa

ἅμα καὶ ἀεί, μήτε ἑκάστῳ ἰδίᾳ ἕκαστον [τῶν ὄντων ἐστίν], δῆλον δὴ 386.e.1ὅτι αὐτὰ αὑτῶν οὐσίαν ἔχοντά τινα βέβαιόν ἐστι τὰ πράγματα, οὐ πρὸς ἡμᾶς οὐδὲ ὑφ' ἡμῶν ἑλκόμενα ἄνω καὶ κάτω τῷ ἡμετέρῳ φαντάσματι, ἀλλὰ καθ' αὑτὰ πρὸς τὴν αὑτῶν οὐσίαν ἔχοντα ᾗπερ πέφυκεν. 386.e.5 {ΕΡΜ.} Δοκεῖ μοι, ὦ Σώκρατες, οὕτω. {ΣΩ.} Πότερον οὖν αὐτὰ μὲν ἂν εἴη οὕτω πεφυκότα, αἱ δὲ πράξεις αὐτῶν οὐ κατὰ τὸν αὐτὸν τρόπον; ἢ οὐ καὶ αὗται ἕν τι εἶδος τῶν ὄντων εἰσίν, αἱ πράξεις; ΕΡΜ.} Πάνυ γε καὶ αὗται. 387.a.1 {ΣΩ.} Κατὰ τὴν αὑτῶν ἄρα φύσιν καὶ αἱ πράξεις πράττονται, οὐ κατὰ τὴν ἡμετέραν δόξαν. οἷον ἐάν τι ἐπιχειρήσωμεν ἡμεῖς τῶν ὄντων τέμνειν, πότερον ἡμῖν τμητέον [ἐστὶν] ἕκαστον ὡς ἂν ἡμεῖς βουλώμεθα καὶ ᾧ ἂν βουληθῶμεν, ἢ ἐὰν μὲν κατὰ τὴν φύσιν βουληθῶμεν ἕκαστον τέμνειν τοῦ τέμνειν τε καὶ τέμνεσθαι καὶ ᾧ πέφυκε, τεμοῦμέν τε καὶ πλέον τι ἡμῖν ἔσται καὶ ὀρθῶς πράξομεν τοῦτο, ἐὰν δὲ παρὰ φύσιν, ἐξαμαρτησόμεθά τε καὶ οὐδὲν πράξομεν; 387.b.1 {ΕΡΜ.} Ἔμοιγε δοκεῖ οὕτω. {ΣΩ.} Οὐκοῦν καὶ ἐὰν κάειν τι ἐπιχειρήσωμεν, οὐ κατὰ πᾶσαν δόξαν δεῖ κάειν, ἀλλὰ κατὰ τὴν ὀρθήν; αὕτη δ' ἐστὶν ᾗ ἐπεφύκει ἕκαστον κάεσθαί τε καὶ κάειν καὶ ᾧ ἐπεφύκει; 387.b.5 {ΕΡΜ.} Ἔστι ταῦτα. {ΣΩ.} Οὐκοῦν καὶ τἆλλα οὕτω; {ΕΡΜ.} Πάνυ γε. {ΣΩ.} Ἆρ' οὖν οὐ καὶ τὸ λέγειν μία τις τῶν πράξεών ἐστιν; 387.b.10 {ΕΡΜ.} Ναί. {ΣΩ.} Πότερον οὖν ᾗ ἄν τῳ δοκῇ λεκτέον εἶναι, ταύτῃ 387.c.1λέγων ὀρθῶς λέξει, ἢ ἐὰν μὲν ᾗ πέφυκε τὰ πράγματα λέγειν τε καὶ λέγεσθαι καὶ ᾧ, ταύτῃ καὶ τούτῳ λέγῃ, πλέον τέ τι ποιήσει καὶ ἐρεῖ· ἂν δὲ μή, ἐξαμαρτήσεταί τε καὶ οὐδὲν ποιήσει; {ΕΡΜ.} Οὕτω μοι δοκεῖ ὡς λέγεις. {ΣΩ.} Οὐκοῦν τοῦ λέγειν μόριον τὸ ὀνομάζειν; διονομάζοντες γάρ που λέγουσι τοὺς λόγους. {ΕΡΜ.} Πάνυ γε. {ΣΩ.} Οὐκοῦν καὶ τὸ ὀνομάζειν πρᾶξίς [τίς] ἐστιν, εἴπερ 387.c.10 καὶ τὸ λέγειν πρᾶξίς τις ἦν

7 A citação das posições de Protágoras e Eutidemo parecem colocar a disputa entre convencionalismo e naturalismo nos termos do debate intelectual da época do diálogo. O relativismo de Protágoras seria equivalente ao convencionalismo no qual a opinião de cada um bastaria para fazer um nome correto enquanto que a fixidez da proposta atribuída a Eutidemo se alinharia ao naturalismo defendido por Crátilo no qual um determinado nome é, e sempre será, naturalmente correto.

às coisas. H. Isso. S. E as ações parecem existir, não para nós, mas tendo alguma natureza particular a elas mesmas? H. Isso mesmo. S. Logo, caso se almeje confirmar o que foi dito antes, convém nomear, não como quisermos, mas sim seguindo a natureza de como nomear e com o que devem ser nomeadas as coisas. Deste modo, e não de outro, faríamos algo de pleno ao nomearmos? H. Me parece que sim. S. Mas, vem cá, dizemos que quem deve cortar, deve cortar com algo? H. Isso. S. E quem deve cardar, deve cardar com algo? Tanto quanto quem deve furar, deve furar com algo? H. Exatamente. S. Então, também quem deve nomear, deve nomear com algo? H. Isso mesmo. S. Mas o que seria aquilo com o que se deve furar? H. Uma furadeira. S. E com o que cardar? H. Uma carda. S. E com o que nomear? H. Um nome. S. Bem falado! Portanto, o nome é também um instrumento. H. Exatamente. S. Mas se eu perguntasse: “Que instrumento é uma carda?”. Não seria aquele com o qual cardamos? H. Seria. S. E o que executamos enquanto cardamos? Não distinguimos a trama e as urdiduras emaranhadas? H. Isso. S. E você também não teria algo a declarar acerca da furadeira e dos outros instrumentos? H. Com certeza. S. Logo, você também teria algo a declarar acerca do nome? Sendo o nome um instrumento, quando nomeamos, o que fazemos? H. Isso eu não tenho como falar. S. Não informamos algo aos outros e distinguimos as coisas como são?8

περὶ τὰ πράγματα; {ΕΡΜ.} Ναί. 387.d.1 {ΣΩ.} Αἱ δὲ πράξεις ἐφάνησαν ἡμῖν οὐ πρὸς ἡμᾶς οὖσαι, ἀλλ' αὑτῶν τινα ἰδίαν φύσιν ἔχουσαι; {ΕΡΜ.} Ἔστι ταῦτα. {ΣΩ.} Οὐκοῦν καὶ ὀνομαστέον [ἐστὶν] ᾗ πέφυκε τὰ πρά387.d.5 γματα ὀνομάζειν τε καὶ ὀνομάζεσθαι καὶ ᾧ, ἀλλ' οὐχ ᾗ ἂν ἡμεῖς βουληθῶμεν, εἴπερ τι τοῖς ἔμπροσθεν μέλλει ὁμολογούμενον εἶναι; καὶ οὕτω μὲν ἂν πλέον τι ποιοῖμεν καὶ ὀνομάζοιμεν, ἄλλως δὲ οὔ; {ΕΡΜ.} Φαίνεταί μοι. 387.d.10 {ΣΩ.} Φέρε δή, ὃ ἔδει τέμνειν, ἔδει τῳ, φαμέν, τέμνειν; {ΕΡΜ.} Ναί. 387.e.1 {ΣΩ.} Καὶ ὃ ἔδει κερκίζειν, ἔδει τῳ κερκίζειν; καὶ ὃ ἔδει τρυπᾶν, ἔδει τῳ τρυπᾶν; {ΕΡΜ.} Πάνυ γε. {ΣΩ.} Καὶ ὃ ἔδει δὴ ὀνομάζειν, ἔδει τῳ ὀνομάζειν; {ΕΡΜ.} Ἔστι ταῦτα. {ΣΩ.} Τί δὲ ἦν ἐκεῖνο ᾧ ἔδει τρυπᾶν; {ΕΡΜ.} Τρύπανον. {ΣΩ.} Τί δὲ ᾧ κερκίζειν; 388.a.5 {ΕΡΜ.} Κερκίς. {ΣΩ.} Τί δὲ ᾧ ὀνομάζειν; {ΕΡΜ.} Ὄνομα. {ΣΩ.} Εὖ λέγεις. ὄργανον ἄρα τί ἐστι καὶ τὸ ὄνομα. {ΕΡΜ.} Πάνυ γε. 388.a.10 {ΣΩ.} Εἰ οὖν ἐγὼ ἐροίμην “Τί ἦν ὄργανον ἡ κερκίς;” οὐχ ᾧ κερκίζομεν; {ΕΡΜ.} Ναί. 388.b.1 {ΣΩ.} Κερκίζοντες δὲ τί δρῶμεν; οὐ τὴν κρόκην καὶ τοὺς στήμονας συγκεχυμένους διακρίνομεν; {ΕΡΜ.} Ναί. {ΣΩ.} Οὐκοῦν καὶ περὶ τρυπάνου ἕξεις οὕτως εἰπεῖν καὶ περὶ τῶν ἄλλων; {ΕΡΜ.} Πάνυ γε. {ΣΩ.} Ἔχεις δὴ καὶ περὶ ὀνόματος οὕτως εἰπεῖν; ὀργάνῳ ὄντι τῷ ὀνόματι ὀνομάζοντες τί ποιοῦμεν; {ΕΡΜ.} Οὐκ ἔχω λέγειν. 388.b.10 {Σ.} Ἆρ' οὐ διδάσκομέν τι ἀλλήλους καὶ τὰ πράγματα διακρίνομεν ᾗ ἔχει;

8 Esta importante passagem na qual é exposta a função do nome também foi objeto de várias interpretações. De maneira geral a questão é se seriam atribuídas aos nomes duas ou uma função. Ele poderia ser um instrumento que informa

H. Isso. S. Portanto, o nome é um tipo de instrumento informativo e distintivo da existência assim como a carda do tecido. H. Sim. S. E a carda é do tecelão? H. Como não? S. Para um tecelão usar com charme uma carda, 'com charme' seria à moda da tecelagem. E no caso de quem informa com um nome, 'com charme' seria de maneira informativa9. H. Isso. S. Mas, ao usar a carda, um tecelão há de usar com charme o produto de quem? H. Do carpinteiro. S. De todo carpinteiro ou daquele que tem a técnica? H. Daquele que tem a técnica. S. E, ao usar a furadeira, o furador há de usar com charme o produto de quem? H. Do ferreiro. S. De todo ferreiro ou daquele que tem a técnica? H. Daquele que tem a técnica. S. Certo. Mas e quem informa, quando usa o nome há de usar o produto de quem? H. Para este caso não tenho ninguém. S. Não tem nada a declarar sobre aqueles que nos fornecem os nomes que usamos? H. Não mesmo. S. Você não é da opinião de que a normatização nos fornece isto? H. Aparentemente. S. Então, quem informa, há de usar o produto do normatizador quando usa um nome? H. Na minha opinião, sim. S. Na sua opinião todo homem é um normatizador ou apenas quem tem a técnica? H. Apenas quem tem a técnica. S. Então, Hermógenes, um nome não pode ser colocado por um humano qualquer, mas apenas pelo nomeador dentre eles. E, aparentemente, este seria o normatizador, o produtor mais difícil

{ΕΡΜ.} Πάνυ γε. {ΣΩ.} Ὄνομα ἄρα διδασκαλικόν τί ἐστιν ὄργανον καὶ 388.c.1διακριτικὸν τῆς οὐσίας ὥσπερ κερκὶς ὑφάσματος. {ΕΡΜ.} Ναί. {ΣΩ.} Ὑφαντικὸν δέ γε ἡ κερκίς; {ΕΡΜ.} Πῶς δ' οὔ; 388.c.5 {ΣΩ.} Ὑφαντικὸς μὲν ἄρα κερκίδι καλῶς χρήσεται, καλῶς δ' ἐστὶν ὑφαντικῶς· διδασκαλικὸς δὲ ὀνόματι, καλῶς δ' ἐστὶ διδασκαλικῶς. {ΕΡΜ.} Ναί. {ΣΩ.} Τῷ τίνος οὖν ἔργῳ ὁ ὑφάντης καλῶς χρήσεται ὅταν τῇ κερκίδι χρῆται; {ΕΡΜ.} Τῷ τοῦ τέκτονος. {ΣΩ.} Πᾶς δὲ τέκτων ἢ ὁ τὴν τέχνην ἔχων; {ΕΡΜ.} Ὁ τὴν τέχνην. 388.d.1 {ΣΩ.} Τῷ τίνος δὲ ἔργῳ ὁ τρυπητὴς καλῶς χρήσεται ὅταν τῷ τρυπάνῳ χρῆται; {ΕΡΜ.} Τῷ τοῦ χαλκέως. {ΣΩ.} Ἆρ' οὖν πᾶς χαλκεὺς ἢ ὁ τὴν τέχνην ἔχων; {ΕΡΜ.} Ὁ τὴν τέχνην. {ΣΩ.} Εἶεν. τῷ δὲ τίνος ἔργῳ ὁ διδασκαλικὸς χρήσεται ὅταν τῷ ὀνόματι χρῆται; {ΕΡΜ.} Οὐδὲ τοῦτ' ἔχω. {ΣΩ.} Οὐδὲ τοῦτό γ' ἔχεις εἰπεῖν, τίς παραδίδωσιν ἡμῖν τὰ ὀνόματα οἷς χρώμεθα; {ΕΡΜ.} Οὐ δῆτα. {ΣΩ.} Ἆρ' οὐχὶ ὁ νόμος δοκεῖ σοι [εἶναι] ὁ παραδιδοὺς αὐτά; {ΕΡΜ.} Ἔοικεν. 388.e.1 {ΣΩ.} Νομοθέτου ἄρα ἔργῳ χρήσεται ὁ διδασκαλικὸς ὅταν ὀνόματι χρῆται; {ΕΡΜ.} Δοκεῖ μοι. {ΣΩ.} Νομοθέτης δέ σοι δοκεῖ πᾶς εἶναι ἀνὴρ ἢ ὁ τὴν τέχνην ἔχων; {ΕΡΜ.} Ὁ τὴν τέχνην. {ΣΩ.} Οὐκ ἄρα παντὸς ἀνδρός, ὦ Ἑρμόγενες, ὄνομα θέσθαι 389.a.1 [ἐστὶν] ἀλλά τινος ὀνοματουργοῦ· οὗτος δ' ἐστίν, ὡς ἔοικεν, ὁ νομοθέτης, ὃς δὴ τῶν δημιουργῶν

distinguindo ou que informa e distingue. Uma opção prolífica de leitura é identificar as duas funções às duas capacidades atribuídas aos nomes ao longo do diálogo. Primeiro, na seção etimológica que começa mais adiante, o nome tem sua capacidade descritiva examinada. Esta seria a função informativa na qual, através de raízes etimológicas, o nome dá informações sobre a coisa nomeada. Em segundo, quando Crátilo entra na discussão, a capacidade referencial do nome é analisada. Esta seria sua função distintiva na qual ao usar um nome o falante distingue aquilo que é o objeto do seu discurso. 9 A escolha da raiz 'charm-' para traduzir ao português a raiz grega kal-, normalmente traduzida por 'belo', é controversa. Como nesta passagem introdutória de 388c o que é dizer 'com charme' é explicado esta nova proposta não compromete a compreensão interna ao diálogo. A justificativa para esta escolha é o jogo de palavras entre chamar e charme (kaleô e kalos) em 428d (cf. Nota no local).

de se gerar entre os humanos. H. Aparentemente. S. Em frente! Vamos verificar para que olha o normatizador quando coloca os nomes. Convém rever os exemplos anteriores. Um carpinteiro cria uma carda olhando para quê? Ora, não seria para aquilo que é, por natureza, para cardar? H. Exatamente. S. Mas como? Se, ao fazer uma carda, ela se quebrar, de que jeito ele vai fazer uma outra? Olhando para a carda quebrada ou para aquela especificação para a qual ele também olhava enquanto fazia a que se quebrou? H. Para esta última, na minha opinião. S. Portanto, seria mais justo que chamássemos a esta mesma de 'carda'?10 H. Na minha opinião, sim. S. Então, caso se devesse fazer uma carda para um tecido suave ou grosso, de linho ou lã, ou qualquer outro, todas elas deveriam ter a especificação da carda? Elas seguem melhor sua natureza quando é aplicada uma mesma natureza a cada produto? H. Sim. S. E seria da mesma maneira com os outros instrumentos. Descoberta a natureza de cada instrumento, deve-se aplicá-la naturalmente naquilo do que ele é feito. Não como cada um queira, mas como for natural. Aparentemente, deve-se ter a consciência de colocar uma natureza, por exemplo, de um furador, em cada ferro, segundo a natureza. H. Exato. S. E também, para cada carda por natureza, uma natureza na madeira. H. Isso mesmo. S. Portanto, aparentemente, há uma especificação da natureza do tecido em cada carda, bem como nos outros casos. H. Isso. S. Então, meu caro, o normatizador deve também ter a consciência de colocar uma natureza inerente a cada nome através dos sons e silabas. E, caso almeje ser um perito na colocação de nomes, ele deve fazer e colocar todos os nomes olhando para aquilo mesmo do

σπανιώτατος ἐν ἀνθρώποις γίγνεται. {ΕΡΜ.} Ἔοικεν. 389.a.5 {ΣΩ.} Ἴθι δή, ἐπίσκεψαι ποῖ βλέπων ὁ νομοθέτης τὰ ὀνόματα τίθεται· ἐκ τῶν ἔμπροσθεν δὲ ἀνάσκεψαι. ποῖ βλέπων ὁ τέκτων τὴν κερκίδα ποιεῖ; ἆρ' οὐ πρὸς τοιοῦτόν τι ὃ ἐπεφύκει κερκίζειν; {ΕΡΜ.} Πάνυ γε. 389.b.1 {ΣΩ.} Τί δέ; ἂν καταγῇ αὐτῷ ἡ κερκὶς ποιοῦντι, πότερον πάλιν ποιήσει ἄλλην πρὸς τὴν κατεαγυῖαν βλέπων, ἢ πρὸς ἐκεῖνο τὸ εἶδος πρὸς ὅπερ καὶ ἣν κατέαξεν ἐποίει; {ΕΡΜ.} Πρὸς ἐκεῖνο, ἔμοιγε δοκεῖ. 389.b.5 {ΣΩ.} Οὐκοῦν ἐκεῖνο δικαιότατ' ἂν αὐτὸ ὃ ἔστιν κερκὶς καλέσαιμεν; {ΕΡΜ.} Ἔμοιγε δοκεῖ. {ΣΩ.} Οὐκοῦν ἐπειδὰν δέῃ λεπτῷ ἱματίῳ ἢ παχεῖ ἢ λινῷ ἢ ἐρεῷ ἢ ὁποιῳοῦν τινι κερκίδα ποιεῖν, πάσας μὲν δεῖ τὸ 389.b.10 τῆς κερκίδος ἔχειν εἶδος, οἵα δ' ἑκάστῳ καλλίστη ἐπεφύκει, 389.c.1 ταύτην ἀποδιδόναι τὴν φύσιν εἰς τὸ ἔργον ἕκαστον; {ΕΡΜ.} Ναί. {ΣΩ.} Καὶ περὶ τῶν ἄλλων δὴ ὀργάνων ὁ αὐτὸς τρόπος· τὸ φύσει ἑκάστῳ πεφυκὸς ὄργανον ἐξευρόντα δεῖ ἀποδοῦναι 389.c.5 εἰς ἐκεῖνο ἐξ οὗ ἂν ποιῇ [τὸ ἔργον], οὐχ οἷον ἂν αὐτὸς βουληθῇ, ἀλλ' οἷον ἐπεφύκει. τὸ φύσει γὰρ ἑκάστῳ, ὡς ἔοικε, τρύπανον πεφυκὸς εἰς τὸν σίδηρον δεῖ ἐπίστασθαι τιθέναι. {ΕΡΜ.} Πάνυ γε. {ΣΩ.} Καὶ τὴν φύσει κερκίδα ἑκάστῳ πεφυκυῖαν εἰς ξύλον. 389.c.10 {ΕΡΜ.} Ἔστι ταῦτα. 389.d.1 {ΣΩ.} Φύσει γὰρ ἦν ἑκάστῳ εἴδει ὑφάσματος, ὡς ἔοικεν, ἑκάστη κερκίς, καὶ τἆλλα οὕτως. {ΕΡΜ.} Ναί. {ΣΩ.} Ἆρ' οὖν, ὦ βέλτιστε, καὶ τὸ ἑκάστῳ φύσει πεφυκὸς 389.d.5ὄνομα τὸν νομοθέτην ἐκεῖνον εἰς τοὺς φθόγγους καὶ τὰς συλλαβὰς δεῖ ἐπίστασθαι τιθέναι, καὶ βλέποντα πρὸς αὐτὸ ἐκεῖνο ὃ ἔστιν ὄνομα, πάντα τὰ ὀνόματα ποιεῖν τε καὶ τίθεσθαι, εἰ μέλλει κύριος εἶναι ὀνομάτων

10 Esta passagem traz uma analogia importante para se compreender o funcionamento dos nomes que erige da discussão no Crátilo. Sócrates afirma que o que deveria se chamar 'card' deveria ser a especificação da carda (em oposição a esta ou aquela carda que um costureiro usa). Desse ponto de vista o nome se referiria a especificação, Forma ou Ideia das coisas e nãos às coisas que percebemos no mundo sensível. Se usamos estes nomes para nos referir as coisas sensíveis seria apenas por eponimia, uma espécie de apelidação. Este procedimento é justificável pois a coisa no mundo sensível é a realização da sua especificação, e, portanto, pode ser tratada pelo mesmo nome. Para um tratamento da eponimia no Crátilo cf. Levin, S. Greek conception of Naming, Classical Philology, 92 n.1 1997.

que este é um nome. Além disso, não devemos sequer questionar por que cada normatizador não usa as mesmas sílabas já que tampouco todo ferreiro usa o mesmo ferro só porque está fazendo um mesmo instrumento. Ainda que seja num outro ferro tudo vai ficar igual se ele aplicar uma mesma especificação. Portanto, vai ser feito um instrumento igualmente correto seja no nosso idioma ou em um estrangeiro11. H. Exatamente. S. Logo, você vai valorizar um normatizador, daqui ou estrangeiro, caso ele aplique a especificação correspondente a cada nome usando qualquer tipo de sílaba? Um normatizador não é inferior por ser daqui ou de qualquer outro lugar. H. Exato. S. Mas quem vai reconhecer se a especificação correspondente de uma carda foi estabelecida em uma madeira qualquer? O carpinteiro que faz ou o costureiro que há de usá-la? H: É mais aceitável que seja quem há de usar, Sócrates. S. E quem há de usar o produto do fazedor de liras não seria também o melhor para nos conscientizar acerca da sua produção e, uma vez produzido, ter a consciência de que ela foi boa, ou não? H. Exato. S. Mas quem? H. O citarista. S. E quem, no caso do fabricante de navios? H. O piloto. S. Então quem, de nós e dos estrangeiros, seria melhor para nos conscientizar acerca da produção do normatizador e, uma vez produzido, de ponderar sobre ele? Não seria quem há de usá-lo? H. Seria. S. Ora, e este não seria quem toma consciência perguntando? H: Exatamente. S. E respondendo também? H. Isso. S. E quem toma consciência perguntando e respondendo você chama por outro nome que

θέτης; εἰ δὲ μὴ εἰς τὰς αὐτὰς συλλαβὰς ἕκαστος ὁ νομοθέτης τίθησιν, οὐδὲν 389.e.1δεῖ τοῦτο ἀγνοεῖν· οὐδὲ γὰρ εἰς τὸν αὐτὸν σίδηρον ἅπας χαλκεὺς τίθησιν, τοῦ αὐτοῦ ἕνεκα ποιῶν τὸ αὐτὸ ὄργανον· ἀλλ' ὅμως, ἕως ἂν τὴν αὐτὴν ἰδέαν ἀποδιδῷ, ἐάντε 390.a.1 ἐν ἄλλῳ σιδήρῳ, ὅμως ὀρθῶς ἔχει τὸ ὄργανον, ἐάντε ἐνθάδε ἐάντε ἐν βαρβάροις τις ποιῇ. ἦ γάρ; {ΕΡΜ.} Πάνυ γε. {ΣΩ.} Οὐκοῦν οὕτως ἀξιώσεις καὶ τὸν νομοθέτην τόν τεἐνθάδε καὶ τὸν ἐν τοῖς βαρβάροις, ἕως ἂν τὸ τοῦ ὀνόματος εἶδος ἀποδιδῷ τὸ προσῆκον ἑκάστῳ ἐν ὁποιαισοῦν συλλαβαῖς, οὐδὲν χείρω νομοθέτην εἶναι τὸν ἐνθάδε ἢ τὸν ὁπουοῦν ἄλλοθι; {ΕΡΜ.} Πάνυ γε. 390.b.1 {ΣΩ.} Τίς οὖν ὁ γνωσόμενος εἰ τὸ προσῆκον εἶδος κερκίδος ἐν ὁποιῳοῦν ξύλῳ κεῖται; ὁ ποιήσας, ὁ τέκτων, ἢ ὁ χρησόμενος [ὁ] ὑφάντης; {ΕΡΜ.} Εἰκὸς μὲν μᾶλλον, ὦ Σώκρατες, τὸν χρησόμενον. 390.b.5 {ΣΩ.} Τίς οὖν ὁ τῷ τοῦ λυροποιοῦ ἔργῳ χρησόμενος; ἆρ' οὐχ οὗτος ὃς ἐπίσταιτο ἂν ἐργαζομένῳ κάλλιστα ἐπιστατεῖν καὶ εἰργασμένον γνοίη εἴτ' εὖ εἴργασται εἴτε μή; {ΕΡΜ.} Πάνυ γε. {ΣΩ.} Τίς; 390.b.10 {ΕΡΜ.} Ὁ κιθαριστής. {ΣΩ.} Τίς δὲ ὁ τῷ τοῦ ναυπηγοῦ; 390.c.1 {ΕΡΜ.} Κυβερνήτης. {ΣΩ.} Τίς δὲ τῷ τοῦ νομοθέτου ἔργῳ ἐπιστατήσειέ τ' ἂν κάλλιστα καὶ εἰργασμένον κρίνειε καὶ ἐνθάδε καὶ ἐν τοῖς βαρβάροις; ἆρ' οὐχ ὅσπερ χρήσεται; 390.c.5 {ΕΡΜ.} Ναί. {ΣΩ.} Ἆρ' οὖν οὐχ ὁ ἐρωτᾶν ἐπιστάμενος οὗτός ἐστιν; {ΕΡΜ.} Πάνυ γε. {ΣΩ.} Ὁ δὲ αὐτὸς καὶ ἀποκρίνεσθαι; {ΕΡΜ.} Ναί. 390.c.10 {ΣΩ.} Τὸν δὲ ἐρωτᾶν καὶ ἀποκρίνεσθαι ἐπιστάμενον ἄλλο

11 Neste trecho aparece a controversa Idea do nome. Normalmente o termo é traduzido por Forma, em alusão a chamada Teoria das Formas presente em alguns diálogos de Platão. A questão se algum tipo de Teoria das Formas embasa o Crátilo é mais uma controvérsia que envolve o diálogo. No intuito de manter a indefinição e ser fiel ao máximo à repetição de raízes presente no original eu optei por traduzir idea (Forma) por especificação, eidos (classe) por espécie e eidenai (saber) pro especificar. Um exame da questão das Formas no Crátilo pode ser encontrado em Luce, J.V., The Theory of Ideas in the Cratylus, Phronesis 10, n.2, 1965.

não 'dialético'? H. Não, este mesmo. S. Então, é trabalho do carpinteiro fazer um timão, conscientizado pelo piloto, caso almeje que este seja um bom timão. H. Parece que sim. S. Logo, parece que no caso do normatizador seria um nome, e sob a conscientização do dialético, se ele almeja que os nomes sejam colocados com charme. H. É assim12. S. Hermógenes, então periga que a colocação de nomes não seja, como você acha, algo vulgar, nem feita por homens vulgares sorteados ao acaso. Já o Crátilo fala a verdade ao falar que os nomes existem por natureza para as coisas e que nem todos são produtores de nomes, mas apenas aqueles que, olhando para o nome por natureza de cada ser, segue o princípio de colocar sua especificação em letras e sílabas. H. Sócrates, não preciso me contrapor ao que você fala. Ainda assim não é fácil ser persuadido deste modo repentino. Na minha opinião vai ser mais persuasivo se você me apresentar o que diz ser a correção por natureza de um nome. S. Prezado Hermógenes, não falo nada por mim. Você se esqueceu! Há pouco eu falei que não podia especificar mas que verificaria contigo. Mas agora, enquanto eu e você averiguávamos, pareceu, contrariando o início, que há de existir alguma correção por natureza para um nome e que nem todo homem tem consciência da sua colocação em uma coisa, ou não? H. Exato. S. E é assim que é preciso investigar, caso te apeteça especificar qual, e como, é a sua correção. H. Especificar me apetece. S. Então, averigue. H. Como é preciso averiguar? S. Meu companheiro, a verificação mais correta é junto dos conscientizadores, lhes financiando bens e oferecendo agradecimentos. Estes são os sofistas, a quem o seu irmão Callias financiou muitos bens antes de ser da opinião de que ele mesmo era um sábio. Porém, uma vez que a

τι σὺ καλεῖς ἢ διαλεκτικόν; {ΕΡΜ.} Οὔκ, ἀλλὰ τοῦτο. 390.d.1 {ΣΩ.} Τέκτονος μὲν ἄρα ἔργον ἐστὶν ποιῆσαι πηδάλιον ἐπιστατοῦντος κυβερνήτου, εἰ μέλλει καλὸν εἶναι τὸ πηδάλιον. {ΕΡΜ.} Φαίνεται. {ΣΩ.} Νομοθέτου δέ γε, ὡς ἔοικεν, ὄνομα, ἐπιστάτην ἔχοντος διαλεκτικὸν ἄνδρα, εἰ μέλλει καλῶς ὀνόματα θήσεσθαι. {ΕΡΜ.} Ἔστι ταῦτα. {ΣΩ.} Κινδυνεύει ἄρα, ὦ Ἑρμόγενες, εἶναι οὐ φαῦλον, ὡς σὺ οἴει, ἡ τοῦ ὀνόματος θέσις, οὐδὲ φαύλων ἀνδρῶν οὐδὲ τῶν ἐπιτυχόντων. καὶ Κρατύλος ἀληθῆ λέγει λέγων φύσει τὰ ὀνόματα εἶναι τοῖς πράγμασι, καὶ οὐ πάντα δημιουργὸν ὀνομάτων εἶναι, ἀλλὰ μόνον ἐκεῖνον τὸν ἀποβλέποντα εἰς τὸ τῇ φύσει ὄνομα ὂν ἑκάστῳ καὶ δυνάμενον αὐτοῦ τὸ εἶδος τιθέναι εἴς τε τὰ γράμματα καὶ τὰς συλλαβάς. {ΕΡΜ.} Οὐκ ἔχω, ὦ Σώκρατες, ὅπως χρὴ πρὸς ἃ λέγεις ἐναντιοῦσθαι. ἴσως μέντοι οὐ ῥᾴδιόν ἐστιν οὕτως ἐξαίφνης πεισθῆναι, ἀλλὰ δοκῶ μοι ὧδε ἂν μᾶλλον πιθέσθαι σοι, εἴ μοι δείξειας ἥντινα φῂς εἶναι τὴν φύσει ὀρθότητα ὀνόματος. {ΣΩ.} Ἐγὼ μέν, ὦ μακάριε Ἑρμόγενες, οὐδεμίαν λέγω, ἀλλ' ἐπελάθου γε ὧν ὀλίγον πρότερον ἔλεγον, ὅτι οὐκ εἰδείην ἀλλὰ σκεψοίμην μετὰ σοῦ. νῦν δὲ σκοπουμένοις ἡμῖν, ἐμοί τε καὶ σοί, τοσοῦτον μὲν ἤδη φαίνεται παρὰ τὰ πρότερα, φύσει τέ τινα ὀρθότητα ἔχον εἶναι τὸ ὄνομα καὶ οὐ παντὸς ἀνδρὸς ἐπίστασθαι [καλῶς] αὐτὸ πράγματι ὁτῳοῦν θέσθαι· ἢ οὔ; {ΕΡΜ.} Πάνυ γε. {ΣΩ.} Οὐκοῦν τὸ μετὰ τοῦτο χρὴ ζητεῖν, εἴπερ ἐπιθυμεῖς 391.b.5 εἰδέναι, ἥτις ποτ' αὖ ἐστιν αὐτοῦ ἡ ὀρθότης. {ΕΡΜ.} Ἀλλὰ μὴν ἐπιθυμῶ γε εἰδέναι. {ΣΩ.} Σκόπει τοίνυν. {ΕΡΜ.} Πῶς οὖν χρὴ σκοπεῖν; {ΣΩ.} Ὀρθοτάτη μὲν τῆς σκέψεως, ὦ ἑταῖρε, μετὰ τῶν ἐπισταμένων, χρήματα ἐκείνοις τελοῦντα καὶ χάριτας κατατιθέμενον. εἰσὶ δὲ οὗτοι οἱ σοφισταί, οἷσπερ καὶ ὁ ἀδελφός 391.c.1σου Καλλίας πολλὰ τελέσας χρήματα σοφὸς δοκεῖ εἶναι. ἐπειδὴ δὲ οὐκ ἐγκρατὴς εἶ

12 Aqui se encontra mais um topos comum aos diálogos platônicos, o argumento do especialista. Segundo ele quem é melhor para julgar alguma coisa é quem sabe utilizá-la (o especialista), não quem a produz ou qualquer ser humano. Um citarista, e não um marceneiro, é que sabe quando uma cítara é boa ou não. O fato de, no caso dos nomes, o especialista ser o dialético é importante para o desenvolvimento do diálogo. Nesse quadro a busca do dialético pelo conhecimento lhe daria condições de julgar a correção dos nomes. Ou seja, o objeto desta busca pela verdade das coisas é que legitimaria o julgamento do funcionamento de um nome e não o contrário.

herança paterna não se caracteriza como sua, é preciso insistir com seu irmão sobre o dever dele te informar sobre a correção disso que ele aprendeu com Protágoras. H. Este dever seria para mim uma extravagância, Sócrates. Se no todo eu não aceito a verdade de Protágoras, como os valores verbalizados numa tal verdade me satisfariam? S. Se esta não te agrada, é preciso aprender de Homero e dos outros poetas. H. O que, e aonde, Homero fala sobre os nomes, Sócrates? S. Por todo lado! Melhor e maior é quando ele discerne os nomes pelos quais os humanos e os deuses chamam. Você não acha espantoso falar isto sobre a correção dos nomes? Pois é evidente que os deuses chamam mais corretamente e seguem a natureza dos nomes. Ou você não acha? H. Eu posso especificar que, se eles chamam, chamam corretamente. Mas onde estaria isto do que você fala? S. Você não é capaz de especificar? Sobre o rio de Troia que sozinho combateu Efesto13 ele diz “de Xantos chamam-no os deuses, mas os homens de Escamandro.”14 H. É mesmo. S: Pois então! Não acha que isto é um sinal de conhecimento? Há mais correção em se chamar aquele rio de Xantos do que de Escamandro? Se você quiser mais, tem também o caso das aves, quando ele diz que: “por Falcão evocam-no os deuses, mas os homens por Águia”15. Seria vulgar um tal aprendizado no qual é mais correto a mesma ave ser chamada de falcão do que de águia? E no caso de Batieia e Mirina16 ou de tantos outros deste e dos outros poetas? Porém, talvez isto seja muito grande para eu e você desvelarmos. Já o caso mais humano de Escamandrio e Astianax, na minha opinião, é mais fácil de passar por uma verificação. Ambos são ditos ser nomes do filho de Heitor, deles se fala que um é o mais correto. Por certo você pode especificar onde estão estas palavras das quais eu falo. H. Claro. S. Então, qual dos nomes você acha que Homero 13 cf. Hom. Il. 20.74 14 cf. Hom. Il. 21.342-380 15 cf. Hom. Il. 2.813 e Hom. Il. 24.29 16 cf. Hom. Il. 14.291

τῶν πατρῴων, λιπαρεῖν χρὴ τὸν ἀδελφὸν καὶ δεῖσθαι αὐτοῦ διδάξαι σε τὴν ὀρθότητα περὶ τῶν τοιούτων ἣν ἔμαθεν παρὰ Πρωταγόρου. {ΕΡΜ.} Ἄτοπος μεντἂν εἴη μου, ὦ Σώκρατες, ἡ δέησις, εἰ τὴν μὲν Ἀλήθειαν τὴν Πρωταγόρου ὅλως οὐκ ἀποδέχομαι, τὰ δὲ τῇ τοιαύτῃ ἀληθείᾳ ῥηθέντα ἀγαπῴην ὥς του ἄξια. {ΣΩ.} Ἀλλ' εἰ μὴ αὖ σε ταῦτα ἀρέσκει, παρ' Ὁμήρου χρὴ 391.d.1 μανθάνειν καὶ παρὰ τῶν ἄλλων ποιητῶν. {ΕΡΜ.} Καὶ τί λέγει, ὦ Σώκρατες, Ὅμηρος περὶ ὀνομάτων, καὶ ποῦ; {ΣΩ.} Πολλαχοῦ· μέγιστα δὲ καὶ κάλλιστα ἐν οἷς διορίζει ἐπὶ τοῖς αὐτοῖς ἅ τε οἱ ἄνθρωποι ὀνόματα καλοῦσι καὶ οἱ θεοί. ἢ οὐκ οἴει αὐτὸν μέγα τι καὶ θαυμάσιον λέγειν ἐν τούτοις περὶ ὀνομάτων ὀρθότητος; δῆλον γὰρ δὴ ὅτι οἵ γε θεοὶ αὐτὰ καλοῦσιν πρὸς ὀρθότητα ἅπερ ἔστι φύσει ὀνόματα·ἢ σὺ οὐκ οἴει; {ΕΡΜ.} Εὖ οἶδα μὲν οὖν ἔγωγε, εἴπερ καλοῦσιν, ὅτι ὀρθῶς καλοῦσιν. ἀλλὰ ποῖα ταῦτα λέγεις; {ΣΩ.}Οὐκ οἶσθα ὅτι περὶ τοῦ ποταμοῦ τοῦ ἐν τῇ Τροίᾳ, ὃς ἐμονομάχει τῷ Ἡφαίστῳ, “ὃν Ξάνθον,” φησί, “καλέουσι θεοί, ἄνδρες δὲ Σκάμανδρον;” {ΕΡΜ.} Ἔγωγε. 392.a.1 {ΣΩ.} Τί οὖν δή; οὐκ οἴει τοῦτο σεμνόν τι εἶναι γνῶναι, ὅπῃ ποτὲ ὀρθῶς ἔχει ἐκεῖνον τὸν ποταμὸν Ξάνθον καλεῖν μᾶλλον ἢ Σκάμανδρον; εἰ δὲ βούλει, περὶ τῆς ὄρνιθος ἣν λέγει ὅτι – χαλκίδα κικλῄσκουσι θεοί, ἄνδρες δὲ κύμινδιν, 392.a.5 φαῦλον ἡγῇ τὸ μάθημα ὅσῳ ὀρθότερόν ἐστι καλεῖσθαι χαλκὶς κυμίνδιδος τῷ αὐτῷ ὀρνέῳ; ἢ τὴν Βατίειάν τε καὶ Μυρίνην, 392.b.1καὶ ἄλλα πολλὰ καὶ τούτου τοῦ ποιητοῦ καὶ ἄλλων; ἀλλὰ ταῦτα μὲν ἴσως μείζω ἐστὶν ἢ κατ' ἐμὲ καὶ σὲ ἐξευρεῖν· ὁ δὲ Σκαμάνδριός τε καὶ ὁ Ἀστυάναξ ἀνθρωπινώτερον διασκέψασθαι, ὡς ἐμοὶ δοκεῖ, καὶ ῥᾷον, ἅ φησιν ὀνόματα εἶναι 392.b.5 τῷ τοῦ Ἕκτορος ὑεῖ, τίνα ποτὲ λέγει τὴν ὀρθότητα αὐτῶν. οἶσθα γὰρ δήπου ταῦτα τὰ ἔπη ἐν οἷς ἔνεστιν ἃ ἐγὼ λέγω. {ΕΡΜ.} Πάνυ γε. {ΣΩ.} Πότερον οὖν οἴει Ὅμηρον ὀρθότερον

supunha ter sido estabelecido mais corretamente para a criança? Astianax ou Escamandrio? H. Não tenho como falar. S. Averigue o seguinte. Se alguém te perguntasse quem você acha que chama pelos nomes mais corretos, seriam os mais sensatos ou insensatos? H. É evidente que eu diria ser os mais sensatos. S. Na sua opinião, para declarar o gênero num todo, quais seriam os mais sensatos nas cidades, os homens ou as mulheres? H. Os homens. S. E, quando Homero diz que o filho de Heitor é chamado Astianax pelos troianos enquanto evidencia que é Escamandrio para as mulheres, você não pode especificar que os homens lhe chamavam Astianax? H. É aceitável. S. Mas também Homero não supunha os troianos serem mais sábios do que suas mulheres? H. Acho que sim. S. Logo, ele achava que Astianax era mais correto de ser estabelecido para a criança do que Escamandrio? H. Parece que sim. S. Averiguemos se tem por onde. Ele mesmo pressupõe para nós o porquê deste ser o melhor quando diz “pois sozinho ele protegeu a cidade e suas grandes muralhas.”17 Por isso, aparentemente, haveria correção ao chamar o filho de um tal protetor de Astianax já que, como diz Homero, seu pai protegia cidade. H. Me parece que sim. S. Como pode, Hermógenes? Eu mesmo não aprendi nada com isso e você aprendeu? H. Por Zeus, eu não! S. Ora ora, meu caro, mas também foi Homero que colocou em Heitor o mesmo nome? H. Por quê? S. Porque, na minha opinião, este nome é bem congruente com Astianax. Os dois, aos gregos, aparentam ser o mesmo. Um Reitor também é quem tem a estima máxima. Ambos são nomes da realeza, uma vez que quem rege o faz com o máximo de estima evidenciando seu caráter na retenção de suas posses. Ou, na sua opinião, não te falei nada e escapei enquanto achava ter tocado numa pista sobre a opinião de Homero acerca da correção dos nomes? 17 cf. Hom. Il. 22.507

ἡγεῖσθαι τῶν 392.b.10 ὀνομάτων κεῖσθαι τῷ παιδί, τὸν “Ἀστυάνακτα” ἢ τὸν “Σκαμάνδριον”; {ΕΡΜ.} Οὐκ ἔχω λέγειν. {ΣΩ.} Ὧδε δὴ σκόπει. εἴ τις ἔροιτό σε πότερον οἴει ὀρθότερον καλεῖν τὰ ὀνόματα τοὺς φρονιμωτέρους ἢ τοὺς ἀφρονεστέρους; 392.c.5 {ΕΡΜ.} Δῆλον δὴ ὅτι τοὺς φρονιμωτέρους, φαίην ἄν. {ΣΩ.} Πότερον οὖν αἱ γυναῖκες ἐν ταῖς πόλεσιν φρονιμώτεραί σοι δοκοῦσιν εἶναι ἢ οἱ ἄνδρες, ὡς τὸ ὅλον εἰπεῖν γένος; {ΕΡΜ.} Οἱ ἄνδρες. 392.c.10 {ΣΩ.} Οὐκοῦν οἶσθα ὅτι Ὅμηρος τὸ παιδίον τὸ τοῦ Ἕκτορος 392.d.1 ὑπὸ τῶν Τρώων φησὶν καλεῖσθαι Ἀστυάνακτα, Σκαμάνδριον δὲ δῆλον ὅτι ὑπὸ τῶν γυναικῶν, ἐπειδὴ οἵ γε ἄνδρες αὐτὸν Ἀστυάνακτα ἐκάλουν; {ΕΡΜ.} Ἔοικέ γε. 392.d.5 {ΣΩ.} Οὐκοῦν καὶ Ὅμηρος τοὺς Τρῶας σοφωτέρους ἡγεῖτο ἢ τὰς γυναῖκας αὐτῶν; {ΕΡΜ.} Οἶμαι ἔγωγε. {ΣΩ.} Τὸν “Ἀστυάνακτα” ἄρα ὀρθότερον ᾤετο κεῖσθαι τῷ παιδὶ ἢ τὸν “Σκαμάνδριον”; 392.d.10 {ΕΡΜ.} Φαίνεται. {ΣΩ.} Σκοπῶμεν δὴ διὰ τί ποτε. ἢ αὐτὸς ἡμῖν κάλλιστα ὑφηγεῖται τὸ διότι; φησὶν γάρ – οἶος γάρ σφιν ἔρυτο πόλιν καὶ τείχεα μακρά. 392.e.1 διὰ ταῦτα δή, ὡς ἔοικεν, ὀρθῶς ἔχει καλεῖν τὸν τοῦ σωτῆρος ὑὸν Ἀστυάνακτα τούτου ὃ ἔσῳζεν ὁ πατὴρ αὐτοῦ, ὥς φησιν Ὅμηρος. 392.e.5 {ΕΡΜ.} Φαίνεταί μοι. {ΣΩ.} Τί δή ποτε; οὐ γάρ πω οὐδ' αὐτὸς ἔγωγε μανθάνω· ὦ Ἑρμόγενες, σὺ δὲ μανθάνεις; {ΕΡΜ.} Μὰ Δί' οὐκ ἔγωγε. {ΣΩ.} Ἀλλ' ἆρα, ὠγαθέ, καὶ τῷ Ἕκτορι αὐτὸς ἔθετο τὸ ὄνομα Ὅμηρος; {ΕΡΜ.} Τί δή; {ΣΩ.} Ὅτι μοι δοκεῖ καὶ τοῦτο παραπλήσιόν τι εἶναι τῷ Ἀστυάνακτι, καὶ ἔοικεν Ἑλληνικοῖς ταῦτα [τὰ ὀνόματα]. ὁ γὰρ “ἄναξ” καὶ ὁ “ἕκτωρ” σχεδόν τι ταὐτὸν σημαίνει, βασιλικὰ ἀμφότερα εἶναι τὰ ὀνόματα· οὗ γὰρ ἄν τις “ἄναξ” ᾖ, καὶ “ἕκτωρ” δήπου ἐστὶν τούτου· δῆλον γὰρ ὅτι κρατεῖ τε αὐτοῦ καὶ κέκτηται καὶ αὐτό. ἢ οὐδέν σοι δοκῶ λέγειν, ἀλλὰ λανθάνω καὶ ἐμαυτὸν οἰόμενός τινος ὥσπερ ἴχνους ἐφάπτεσθαι τῆς Ὁμήρου δόξης περὶ ὀνομάτων ὀρθότητος; 393.b.5

H. Não, por Zeus, sou da opinião de que talvez você tenha tocado algo. S. E não te parece, como a mim, que seja justo chamar de leão a progenitura de um leão e cavalo a progenitura de um cavalo? Não falo de algum caso excepcional, como se um cavalo gerasse algo diferente de um cavalo. Do que seria a progenitura natural do progenitor, é disso que falo. Se um cavalo engendra, contra a natureza, um bezerro, progenitura bovina por natureza, não convém chamá-lo 'potro' mas sim 'bezerro'. Tampouco acho que convenha chamar uma progenitura de 'humana', caso um humano não gere um humano. O mesmo também para as plantas e tudo mais, ou você não concorda? H. Concordo. S. Falou com charme! Mas me vigie para que eu não te desencaminhe. Seguindo na mesma fala convém ainda chamar de rei a progenitura gerada de um rei. Se o mesmo vem assinalado com estas ou aquelas sílabas, não é nada, nem se há adição ou subtração de alguma letra. Tudo isso não é nada se a existência característica da coisa vem evidenciada no nome. H. O que você está falando? S. Nada muito floreado. Num caso elementar fica ainda mais fácil de especificar. Nós falamos os nomes das letras e não as letras elas mesmas. As exceções são cinco: 'a', 'e', 'i', 'o', e 'u'. Para as outras, sonoras ou surdas, você pode especificar que usamos seus nomes pois as pronunciamos envoltas em mais letras. Um nome será correto para chamar uma letra desde que enloquemos nele algum princípio capaz de evidenciar aquilo que evidenciamos. Um exemplo é o nome da letra Jota. Veja que não faz mal algum ter-lhe acrescentado 'o', 't' e 'a', como quis o normatizador, uma vez que a natureza deste elemento não vai ser evidenciada pelo nome todo. Por conseguinte, alguém foi consciencioso ao colocar com charme os nomes nas letras. H. Na minha opinião você fala a verdade. S. E não se pode falar o mesmo no caso do rei? Pois, em geral, de um rei virá outro rei, de um excelente, outro excelente e de um charmoso, outro charmoso. Assim será para todo o resto, de cada gênero virá uma mesma progenitura, caso não seja gerado algo excepcional. Portanto, convém chamar a todos estes pelos mesmos nomes. Porém, é possível florear-lhes com sílabas até surgir uma opinião de que, pela sua particularidade, os mesmos seres são diferentes

{ΕΡΜ.} Μὰ Δί' οὐ σύ γε, ὡς ἐμοὶ δοκεῖς, ἀλλὰ ἴσως τοῦ ἐφάπτῃ. {ΣΩ.} Δίκαιόν γέ τοί ἐστιν, ὡς ἐμοὶ φαίνεται, τὸν λέοντος ἔκγονον λέοντα καλεῖν καὶ τὸν ἵππου ἔκγονον ἵππον. οὔ τι λέγω ἐὰν ὥσπερ τέρας γένηται ἐξ ἵππου ἄλλο τι ἢ ἵππος, 393.c.1 ἀλλ' οὗ ἂν ᾖ τοῦ γένους ἔκγονον τὴν φύσιν, τοῦτο λέγω· ἐὰν βοὸς ἔκγονον φύσει ἵππος παρὰ φύσιν τέκῃ μόσχον, οὐ πῶλον κλητέον ἀλλὰ μόσχον· οὐδ' ἂν ἐξ ἀνθρώπου οἶμαι μὴ τὸ ἀνθρώπου ἔκγονον γένηται, [ἀλλ' ὃ ἂν] τὸ ἔκγονον 393.c.5 ἄνθρωπος κλητέος· καὶ τὰ δένδρα ὡσαύτως καὶ τἆλλα ἅπαντα· ἢ οὐ συνδοκεῖ; {ΕΡΜ.} Συνδοκεῖ. {ΣΩ.} Καλῶς λέγεις· φύλαττε γάρ με μή πῃ παρακρούσωμαί σε. κατὰ γὰρ τὸν αὐτὸν λόγον κἂν ἐκ βασιλέως γίγνηταί τι ἔκγονον, βασιλεὺς κλητέος· εἰ δὲ ἐν ἑτέραις συλλαβαῖς ἢ ἐν ἑτέραις τὸ αὐτὸ σημαίνει, οὐδὲν πρᾶγμα· οὐδ' εἰ πρόσκειταί τι γράμμα ἢ ἀφῄρηται, οὐδὲν οὐδὲ τοῦτο, ἕως ἂν ἐγκρατὴς ᾖ ἡ οὐσία τοῦ πράγματος δηλουμένη ἐν τῷ ὀνόματι. 393.d.5 {ΕΡΜ.} Πῶς τοῦτο λέγεις; {ΣΩ.} Οὐδὲν ποικίλον, ἀλλ' ὥσπερ τῶν στοιχείων οἶσθα ὅτι ὀνόματα λέγομεν ἀλλ' οὐκ αὐτὰ τὰ στοιχεῖα, πλὴν τεττάρων, τοῦ Ε καὶ τοῦ Υ καὶ τοῦ Ο καὶ τοῦ Ω· τοῖς δ' ἄλλοις φωνήεσί τε καὶ ἀφώνοις οἶσθα ὅτι περιτιθέντες ἄλλα γράμματα λέγομεν, ὀνόματα ποιοῦντες· ἀλλ' ἕως ἂν αὐτοῦ δηλουμένην τὴν δύναμιν ἐντιθῶμεν, ὀρθῶς ἔχει ἐκεῖνο τὸ ὄνομα καλεῖν ὃ αὐτὸ ἡμῖν δηλώσει. οἷον τὸ “βῆτα”· ὁρᾷς ὅτι τοῦ ἦτα καὶ τοῦ ταῦ καὶ τοῦ ἄλφα προστεθέντων οὐδὲν ἐλύπησεν, ὥστε μὴ οὐχὶ τὴν ἐκείνου τοῦ στοιχείου φύσιν δηλῶσαι ὅλῳ τῷ ὀνόματι οὗ ἐβούλετο ὁ νομοθέτης· οὕτως ἠπιστήθη καλῶς θέσθαι τοῖς γράμμασι τὰ ὀνόματα. {ΕΡΜ.} Ἀληθῆ μοι δοκεῖς λέγειν. 394.a.1 {ΣΩ.} Οὐκοῦν καὶ περὶ βασιλέως ὁ αὐτὸς λόγος; ἔσται γάρ ποτε ἐκ βασιλέως βασιλεύς, καὶ ἐξ ἀγαθοῦ ἀγαθός, καὶ ἐκ καλοῦ καλός, καὶ τἆλλα πάντα οὕτως, ἐξ ἑκάστου γένους ἕτερον τοιοῦτον ἔκγονον, ἐὰν μὴ τέρας γίγνηται· κλητέον δὴ 394.a.5 ταὐτὰ ὀνόματα. ποικίλλειν δὲ ἔξεστι ταῖς συλλαβαῖς, ὥστε δόξαι ἂν τῷ ἰδιωτικῶς ἔχοντι ἕτερα εἶναι ἀλλήλων τὰ αὐτὰ ὄντα· ὥσπερ ἡμῖν τὰ τῶν ἰατρῶν φάρμακα χρώμασιν καὶ ὀσμαῖς πεποικιλμένα ἄλλα

uns dos outros. Como no caso de remédios iguais, floreados pelos médicos com cores e cheiros, a ponto de nos parecerem diferentes. Apesar disso, para um médico que averígua o seu princípio ativo sem se deixar dissuadir pelo que está diante dos seus olhos, eles parecem iguais. Quem toma consciência dos nomes averígua do mesmo modo, sem ser dissuadido caso alguém adicione ou subtraia uma letra, ou até restabeleça, com letras completamente diferentes, o princípio ativo do nome. Era este o caso do que falávamos ainda agora. Astianax e Heitor, a exceção do 't', não possuem as mesmas letras mas, ainda assim, assinalam o mesmo. E quais letras eles têm em comum com Régis? De qualquer maneira, este também evidenciaria o mesmo. Existem ainda muitos outros que não assinalam nada diferente de rei. Já outros assinalam um combatente como Valentino, Severino ou Armando. Há também os médicos como Salvador e Sara. Deste mesmo jeito ainda descobriríamos vários outros que, dissonando em sílabas e letras, em princípio, constituiriam um mesmo pronunciamento. Te parece ser assim ou não?18 H. Muito. S. Logo, para aquilo que é gerado de acordo com a natureza, convém aplicar os mesmos nomes. H. Isso. S. Mas e para o que é gerado contra a natureza segundo uma especificação excepcional? Por exemplo, quando de um homem excelente e piedoso é gerado um impiedoso. Ora, não é como aquele caso anterior? Se um cavalo procriar uma progenitura bovina, esta não deveria ter a denominação de quem a procriou, mas sim do gênero ao qual ela pertenceria? H. Exatamente. S. Também se de alguém bem pio é gerado um impiedoso, convém aplicar-lhe um nome deste gênero. H. É mesmo. S. De modo que, aparentemente, se acontecesse uma tal correção nos nomes estes não seriam 'Amadeus', 'Divino' nem nada disso, mas algo que assinalasse o contrário.

φαίνεται τὰ αὐτὰ ὄντα, τῷ δέ γε 394.b.1 ἰατρῷ, ἅτε τὴν δύναμιν τῶν φαρμάκων σκοπουμένῳ, τὰ αὐτὰ φαίνεται, καὶ οὐκ ἐκπλήττεται ὑπὸ τῶν προσόντων. οὕτω δὲ ἴσως καὶ ὁ ἐπιστάμενος περὶ ὀνομάτων τὴν δύναμιν αὐτῶν σκοπεῖ, καὶ οὐκ ἐκπλήττεται εἴ τι πρόσκειται γράμμα ἢ 394.b.5 μετάκειται ἢ ἀφῄρηται, ἢ καὶ ἐν ἄλλοις παντάπασιν γράμμασίν ἐστιν ἡ τοῦ ὀνόματος δύναμις. ὥσπερ ὃ νυνδὴ ἐλέγομεν, “Ἀστυάναξ” τε καὶ “Ἕκτωρ” οὐδὲν τῶν αὐτῶν 394.c.1 γραμμάτων ἔχει πλὴν τοῦ ταῦ, ἀλλ' ὅμως ταὐτὸν σημαίνει. καὶ “Ἀρχέπολίς” γε τῶν μὲν γραμμάτων τί ἐπικοινωνεῖ; δηλοῖ δὲ ὅμως τὸ αὐτό· καὶ ἄλλα πολλά ἐστιν ἃ οὐδὲν ἀλλ' ἢ βασιλέα σημαίνει· καὶ ἄλλα γε αὖ στρατηγόν, οἷον “Ἆγις” 394.c.5 καὶ “Πολέμαρχος” καὶ “Εὐπόλεμος”. καὶ ἰατρικά γε ἕτερα, “Ἰατροκλῆς” καὶ “Ἀκεσίμβροτος”· καὶ ἕτερα ἂν ἴσως συχνὰ εὕροιμεν ταῖς μὲν συλλαβαῖς καὶ τοῖς γράμμασι διαφωνοῦντα, τῇ δὲ δυνάμει ταὐτὸν φθεγγόμενα. φαίνεται οὕτως ἢ οὔ; 394.d.1 {ΕΡΜ.} Πάνυ μὲν οὖν. {ΣΩ.} Τοῖς μὲν δὴ κατὰ φύσιν γιγνομένοις τὰ αὐτὰ ἀποδοτέον ὀνόματα. {ΕΡΜ.} Πάνυ γε. 394.d.5 {ΣΩ.} Τί δὲ τοῖς παρὰ φύσιν, οἳ ἂν ἐν τέρατος εἴδει γένωνται; οἷον ὅταν ἐξ ἀνδρὸς ἀγαθοῦ καὶ θεοσεβοῦς ἀσεβὴς γένηται, ἆρ' οὐχ ὥσπερ ἐν τοῖς ἔμπροσθεν, κἂν ἵππος βοὸς ἔκγονον τέκῃ, οὐ τοῦ τεκόντος δήπου ἔδει τὴν ἐπωνυμίαν ἔχειν, ἀλλὰ τοῦ γένους οὗ εἴη; {ΕΡΜ.} Πάνυ γε. 394.e.1 {ΣΩ.} Καὶ τῷ ἐκ τοῦ εὐσεβοῦς ἄρα γενομένῳ ἀσεβεῖ τὸ τοῦ γένους ὄνομα ἀποδοτέον. {ΕΡΜ.} Ἔστι ταῦτα. {ΣΩ.} Οὐ “Θεόφιλον,” ὡς ἔοικεν, οὐδὲ “Μνησίθεον” 394.e.5 οὐδὲ τῶν τοιούτων οὐδέν· ἀλλ' ὅτι τἀναντία τούτοις σημαίνει, ἐάνπερ τῆς ὀρθότητος τυγχάνῃ τὰ ὀνόματα.

18 O problema dos sinônimos é tratado neste trecho. Se a correção de um nome dependesse das letras com as quais ele é formado não poderiam existir sinônimos. Porém, existem nomes com letras diferentes que significam a mesma coisa. Com isto parece ser defendido que a correção dos nomes depende do seu significado mas que o seu significado não depende das letras com as quais ele é formado. Esta questão será importante também no desenvolvimento e refutação da hipótese segundo a qual as letras compõem uma imitação do nomeado tal qual as cores numa pintura.

H. E muitos outros ainda, Sócrates. S. No entanto, Hermógenes, também deste modo Orestes periga estar correto, tenha sido este nome colocado nele por algum acaso ou por algum poeta. O nome apresenta o selvagem, rústico, enfim, o agreste da sua natureza19. H. Parece mesmo, Sócrates. S. Também o nome do pai dele aparenta estar de acordo com a natureza. H. Parece. S. Pois periga que Agamenon seja tal qual a nossa opinião sobre ele. Alguém que perseverou obstinado no apetite de um final opinadamente virtuoso. O nome Agamenon assinala um homem que aguarda menção. Se encontra aí um sinal da sua perseverança na dor da espera em Troia. Talvez também Atreu esteja correto. Tanto por ele mesmo ter assassinado Crísipo quanto por ter feito Tiestes passar por tantas crueldades20. Tudo muito atroz e ofensivo para a virtude de Atreu. A denominação através deste nome distorce e encobre alguma coisa pois não evidencia para todos a natureza do homem. Entretanto, para os suficientemente entendidos de nomes, fica evidente o que quer dizer Atreu. Este nome, correto segundo todos pontos de vista, lhe estabelece como atrevido, intrépido e atroz. Além dele, acredito também que o nome para Pélopes tenha sido estabelecido na medida. A denominação através deste nome é válida por assinalar quem tem uma visão restrita. H. Como assim? S. Pois se fala que este homem não inteligiu previamente o que ia gerar o assassinato de Mirtilo21. Ele nem mesmo expectava a imprecação de toda sua genealogia. Quanta decadência lhe envolveu por observar apenas o que havia de imediato! Assim Pélopes meteu as mãos pelos pés apetecido em tomar, de qualquer maneira, Hipodâmia por esposa. Todos também supõem que o nome de Tântalo teria sido colocado em correção com a natureza, caso seja verdade o que dele se fala. H. O quê?

{ΕΡΜ.} Παντός γε μᾶλλον, ὦ Σώκρατες. {ΣΩ.} Ὥσπερ γε καὶ ὁ “Ὀρέστης,” ὦ Ἑρμόγενες, κινδυνεύει ὀρθῶς ἔχειν, εἴτε τις τύχη ἔθετο αὐτῷ τὸ ὄνομα εἴτε 394.e.10 καὶ ποιητής τις, τὸ θηριῶδες τῆς φύσεως καὶ τὸ ἄγριον αὐτοῦ καὶ τὸ ἐνδεικνύμενος τῷ ὀνόματι. {ΕΡΜ.} Φαίνεται οὕτως, ὦ Σώκρατες. {ΣΩ.} Ἔοικεν δέ γε καὶ τῷ πατρὶ αὐτοῦ κατὰ φύσιν τὸ ὄνομα εἶναι. {ΕΡΜ.} Φαίνεται. 395.a.5 {ΣΩ.} Κινδυνεύει γὰρ τοιοῦτός τις εἶναι ὁ “Ἀγαμέμνων,” οἷος ἃ δόξειεν αὐτῷ διαπονεῖσθαι καὶ καρτερεῖν τέλος ἐπιτιθεὶς τοῖς δόξασι δι' ἀρετήν. σημεῖον δὲ αὐτοῦ ἡ ἐν Τροίᾳ μονὴ τοῦ πάθους τε καὶ καρτερίας. ὅτι οὖν κατὰ 395.b.1 τὴν οὗτος ὁ ἀνὴρ ἐνσημαίνει τὸ ὄνομα ὁ “Ἀγαμέμνων.” ἴσως δὲ καὶ ὁ “Ἀτρεὺς” ὀρθῶς ἔχει. ὅ τε γὰρ τοῦ Χρυσίππου αὐτῷ φόνος καὶ ἃ πρὸς τὸν Θυέστην ὡς ὠμὰ διεπράττετο, πάντα ταῦτα ζημιώδη καὶ πρὸς 395.b.5 ἀρετήν. ἡ οὖν τοῦ ὀνόματος ἐπωνυμία σμικρὸν παρακλίνει καὶ ἐπικεκάλυπται, ὥστε μὴ πᾶσι δηλοῦν τὴν φύσιν τοῦ ἀνδρός· τοῖς δ' ἐπαΐουσι περὶ ὀνομάτων ἱκανῶς δηλοῖ ὃ βούλεται ὁ “Ἀτρεύς.” καὶ γὰρ κατὰ τὸ καὶ 395.c.1 κατὰ τὸ καὶ κατὰ τὸ πανταχῇ ὀρθῶς αὐτῷ τὸ ὄνομα κεῖται. δοκεῖ δέ μοι καὶ τῷ Πέλοπι τὸ ὄνομα ἐμμέτρως κεῖσθαι· σημαίνει γὰρ τοῦτο τὸ ὄνομα τὸν τὰ ἐγγὺς ὁρῶντα [ἄξιον εἶναι ταύτης τῆς ἐπωνυμίας]. {ΕΡΜ.} Πῶς δή; {ΣΩ.} Οἷόν που καὶ κατ' ἐκείνου λέγεται τοῦ ἀνδρὸς ἐν τῷ τοῦ Μυρτίλου φόνῳ οὐδὲν οἵου τε γενέσθαι προνοηθῆναι οὐδὲ προϊδεῖν τῶν πόρρω τῶν εἰς τὸ πᾶν γένος, ὅσης αὐτὸ 395.d.1 δυστυχίας ἐνεπίμπλη, τὸ ἐγγὺς μόνον ὁρῶν καὶ τὸ παραχρῆμα – τοῦτο δ' ἐστὶ “πέλας” – ἡνίκα προεθυμεῖτο λαβεῖν παντὶ τρόπῳ τὸν τῆς Ἱπποδαμείας γάμον. τῷ δὲ Ταντάλῳ καὶ πᾶς ἂν ἡγήσαιτο τοὔνομα ὀρθῶς καὶ κατὰ φύσιν τεθῆναι 395.d.5 εἰ ἀληθῆ τὰ περὶ αὐτὸν λεγόμενα. {ΕΡΜ.} Τὰ ποῖα ταῦτα;

19 Segundo a versão mais corrente do mito Orestes saiu de um exílio no interior, nas montanhas, para matar sua mãe, Clitemnestra. Esta, em conluio com seu amante Egisto, matara o seu esposo, e pai do jovem, Agamenon, quando do seu retorno da guerra de Troia. Cf. A trilogia Oresteia, de Ésquilo. 20 Segundo a mitologia Atreu é o pai de Agamenon e filho de Pélopes. Neste trecho do diálogo Sócrates traça o que é chamado de uma genealogia atrida. Na busca pelo poder Atreu teria assassinado seu meio-irmão Crísipo e feito seu irmão Tiestes comer, sem saber, a carne de seus filhos. 21 Mirtilo foi o comparsa de Pélopes na sabotagem da carruagem do seu sogro. O ardil fez com que Pélopes ganhasse a corrida que lhe valeu esposar Hipodâmia, filha de Enomau, e herdar o reino do sogro.

S. A sua especial decadência plural, tanto ainda em vida, cujo final foi a destruição de toda sua pátria, quanto depois de finado, pois no Hades Tântalo tinha sempre sobre a cabeça uma pedra a atentá-lo. É espantoso o quanto isto é consoante com seu nome! Se fosse sem técnica, aparentemente, iriam querer lhe nomear Atentado mas, ao invés disso, de maneira encoberta, ele foi nomeado e declarado Tântalo. Assim, também este nome, aparenta nos orientar rumo a um acontecimento desditoso. Ainda falam que o seu pai era Zeus, outro nome que parece ter sido estabelecido com muito charme. Este não é tão fácil de se inteligir sem partir de alguma técnica, mas somente porque o nome de Zeus é como um tipo de fala. Dividindo em duas partes, nós usamos, ora uma ora outra, já que uns o chamam de Zeus e outros de Júpiter. Uma vez reunidos a natureza do deus fica evidente, em correspondência ao que dissemos que um nome tinha que ser para funcionar. Afinal de contas não há, para nós e para todos outros, uma causa maior da vida do que o rei comandante de tudo. Por conseguinte, este deus foi nomeado corretamente já que, sendo um zeloso juiz pro viver, ele começa a vida para todos. Então, como eu falava, apesar de ser um, o seu nome foi dividido em dois, Zeus e Júpiter. Quem escuta de repente acredita que este seja o filho insolente de Cronos, mas o fabuloso Zeus tem que ser a progenitura de alguma grande inteligência. De modo que Cronos não vem de crônico, que assinalaria a insolência do seu filho, mas sim de crânio, que fala do intelecto cru do filho de Urano. Assim também o estudo do céu tem um nome charmoso ao ser chamado uranologia pois é rumando o olho pra cima que, como dizem os astrônomos, é engendrado um intelecto puro. Portanto, Hermógenes, o nome para Urano também foi estabelecido corretamente. Se eu me lembrasse quais são os progenitores acima dele na genealogia feita por Hesíodo nada me pararia de seguir falando quão corretamente seus nomes foram estabelecidos. Assim eu delimitaria se é ilimitado ou não o que pode criar esta sabedoria que me sobreveio de repente sem eu poder especificar exatamente de onde. H. Sócrates, eu acredito mesmo que você não segue nenhuma técnica, tal qual quem está inspirado e declama de repente. S. E mais, Hermógenes, é por causa do Eutífron Prospaltiano que isto me sobreveio. Estive com

{ΣΩ.} Ἅ τέ που ἔτι ζῶντι δυστυχήματα ἐγένετο πολλὰ καὶ δεινά, ὧν καὶ τέλος ἡ πατρὶς αὐτοῦ ὅλη ἀνετράπετο, καὶ τελευτήσαντι ἐν Ἅιδου ἡ ὑπὲρ τῆς κεφαλῆς τοῦ λίθου 395.e.1 θαυμαστὴ ὡς σύμφωνος τῷ ὀνόματι· καὶ ἀτεχνῶς ἔοικεν, ὥσπερ ἂν εἴ τις βουλόμενος ὀνομάσαι ἀποκρυπτόμενος ὀνομάσειε καὶ εἴποι ἀντ' ἐκείνου “Τάνταλον,”τοιοῦτόν τι καὶ τούτῳ τὸ ὄνομα ἔοικεν ἐκπορίσαι ἡ τύχη τῆς 395.e.5 φήμης. φαίνεται δὲ καὶ τῷ πατρὶ αὐτοῦ λεγομένῳ τῷ Διὶ 396.a.1 παγκάλως τὸ ὄνομα κεῖσθαι· ἔστι δὲ οὐ ῥᾴδιον κατανοῆσαι. ἀτεχνῶς γάρ ἐστιν οἷον λόγος τὸ τοῦ Διὸς ὄνομα, διελόντες δὲ αὐτὸ διχῇ οἱ μὲν τῷ ἑτέρῳ μέρει, οἱ δὲ τῷ ἑτέρῳ χρώμεθα – οἱ μὲν γὰρ “Ζῆνα,” οἱ δὲ “Δία” καλοῦσιν – συντιθέμενα 396.a.5 δ' εἰς ἓν δηλοῖ τὴν φύσιν τοῦ θεοῦ, ὃ δὴ προσήκειν φαμὲν ὀνόματι οἵῳ τε εἶναι ἀπεργάζεσθαι. οὐ γὰρ ἔστιν ἡμῖν καὶ τοῖς ἄλλοις πᾶσιν ὅστις ἐστὶν αἴτιος μᾶλλον τοῦ ζῆν ἢ ὁ ἄρχων τε καὶ βασιλεὺς τῶν πάντων. συμβαίνει οὖν ὀρθῶς 396.b.1 ὀνομάζεσθαι οὗτος ὁ θεὸς εἶναι,
Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.