O cronista do entorno

June 3, 2017 | Autor: Def Yuri | Categoria: Hip-Hop/Rap, Artigos, Viva Favela
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O cronista do entorno

Autor: Def Yuri | 22/10/2001 | Seção: Def Yuri

Durante o seminário "As Linguagens da Violência", em setembro, tive a oportunidade de conhecer uma das revelações do cenário hip hop brasileiro. E não estou falando de um rapeador, grafiteiro, b-boy ou dj. Falo de um cara comum, um brasileiro do entorno paulistano, digo, da periferia paulistana, que se movimenta agindo e resistindo a partir da escrita, da literatura, duas coisas que às vezes passam longe da comunidade hip hop, mas que formam mais um elemento da nossa cultura: talvez o quinto, o sexto quem sabe? Esse cara é autor do livro "Capão Pecado", coordenador do movimento cultural "1 da sul", que faz roupas, oficinas e também dá suporte para grupos de rap, como o "Degredo" e o "Outra versão". Recentemente, lançou a revista de literatura marginal (Caros Amigos), que tem por objetivo divulgar várias expressões da periferia. Após a participação dele enquanto palestrante do seminário, e em meio a sanduíches de churrasco argentino na companhia do Wilsão e do Atrês, ambos da família "1 da sul", pude conferir as idéias desse cronista urbano. Confiram:

1) Nome e idade? Ferréz. E tenho 25 anos. 2) O que é o hip hop para você? O hip hop transcendeu os 4 elementos e já é a maior manifestação popular brasileira. 3) Quando você foi infectado? Há muitos anos atrás, quando escutei uma música de um cara chamado "GOG", o nome da música era "assassinos sociais". 4) Movimento ou cultura? Eu chamo de movimento cultural, os dois são a mesma coisa. 5) Espaço para uns ou espaço para todos? Espaço para todos desde que não sejam da elite.

6) O hip hop é uma manifestação da periferia geográfica ou da periferia da sociedade? Eu acho que é da sociedade, a periferia está impregnada em todos os lugares. 7) O hip hop a partir de São Paulo ou do Brasil? Em Aracaju, eu vi os moleques que fazem o hip hop: não tinham chinelo, nem camisa. Os moleques fazem a cultura. É o Brasil todo! 8) Qual a importância dos registros escritos para a nossa comunidade? Uma nação que não tem uma história passada, pelo menos tem que ter uma história presente. Nós estamos fazendo a parada para os nossos descendentes. 9) Quais são as suas referências? As minhas referências são as seguintes: Plínio Marcos, João Antônio, Flaubert, Tchecov, Herman Hesse, Racionais, Facção Central, Apocalipse 16 , MV Bill, Consciência Humana. 10) Você acha que o hip hop ruma para assumir a responsabilidade social ou permanecerá na irresponsabilidade social? Ele ruma para a responsabilidade social e isso é um exercício de cidadania. 11) Comente a democracia racial. Falta muito ainda. 12) O que você pensa sobre armas de fogo? O verdadeiro genocídio que está acontecendo aqui no país é feito através de outra arma: a caneta. 13) O que você pensa de crianças-soldados? Sem resposta. 14) Para você, qual a importância das campanhas de desarmamento? Elas valem mais pela idéia do que pela ação. 15) O rap é sensacionalista? Alguns rappers não tem cultura suficiente para mostrar a real das coisas, tem que ter o mínimo de cultura para subir no palco. O rap é que nem uma igreja: alguns entram para rezar, outros para "cata" mina, e no rap alguns entram para melhorar a condição de vida e outros por maldade. O rap tem que dar informação para uma vida melhor. 16) O hip hop, de uma forma geral, critica a ação da mídia. Porém, às vezes acaba por reproduzir essas ações, você concorda? Concordo, inclusive aqui em São Paulo já têm uns pseudo-grupos fazendo o esquema marqueteiro. Diz que vendeu mais, fala que matou mas não matou. Foi preso, mais não foi. Nessa inversão de valores quem perde é o público que recebe uma ideologia turva. 17) Mesmo sabendo que a maioria ainda não tem acesso, me diga a importância da Internet... A Internet te possibilita uma informação fácil, se bem usada. 18) Uma mensagem para o Viva Favela. Até hoje em dia, o caminho mais curto para a sobrevivência e o sucesso do pobre, do favelado, é a escola. Vamos estudar para poder se defender mais pra frente. Antes ler um livro agora do que ter que ler o código penal mais tarde.

Maiores informações sobre o escritor Ferréz, livros e etc, acesse: www.ferrez.hpg.com.br

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