O culto e devoção à virgem mártir santa Eufémia no seu santuário em Penedono

July 24, 2017 | Autor: Luciano Moreira | Categoria: Hagiography
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Revista Santuários Cultura, Arte, Romarias, Peregrinações, Paisagens e Pessoas Volume 1, Número 2, julho–dezembro 2014, ISSN 2183-3184 Cadernos Vox Musei Revista Internacional com comissão científica e revisão por pares (sistema de double blind review) Periodicidade: Semestral Revisão de submissões: arbitragem duplamente cega por pares académicos Direção: Luís Jorge Gonçalves, Mila Simões de Abreu, Ana Paula Fitas, João Paulo Queiroz, Moisés Espírito Santo, Jorge do Reis, Cláudia Matos Pereira, Leonardo Caravana Guelman, Manuel Calado Relações Públicas: Isabel Nunes Logística: Lurdes Santos Gestão financeira: Cristina Fernandes, Isabel Pereira, Andreia Tavares Propriedade: Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa Capa: Desenho em grafite sobre papel, baseado em cabeça que pode representar o deus Endovélico, e o pedestal com parte da epígrafe dedicado a este deus. Ilustração: Cláudia Matos Pereira, 2014. Contracapa: Ara dedicada ao deus Endovélico (Original no Museu Nacional de Arqueologia, foto José Pessoa) Ante Rosto: Augusto Prima Porta (Museus do Vaticano). Por ocasião dos dois mil anos da morte de Augusto (19 de Agosto de 14) que promoveu a fusão entre romanos e indígenas e de que resultou o santuário ao deus Endovélico Logo do Congresso: Jorge dos Reis Projeto Gráfico: Jorge dos Reis Paginação: Inês Chambel

Organizadores:

Impressão: Editorial do Min. da Educação e Ciência Tiragem: 350 exemplares Depósito legal: 379932/14 PVP: 10€ ISSN: 2183-3184 ISBN: 978-989-8771-02-5 Edição Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (FBAUL) / Centro de Investigação e Estudos em Belas-Artes (CIEBA) Instituto de Sociologia e Etnolgia das Religiões da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (ISER-FCSH-UNL) Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) Instituto de Artes e Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense (IACS-UFF) Laboratório de Observação de Artes e Saberes (LOAS) Centro de Estudos do Endovelico (CEE) Câmara Municipal do Alandroal (CMA)/ Fórum Cultural Transfronteiriço Apoio Turismo do Alentejo + informações: santuarios.fba.ul.pt

Apoio:

Comissão Executiva

Conselho Editorial/Comissão Científica

Luís Jorge Gonçalves, Portugal, Faculdade de Belas-Artes, Universidade de Lisboa / Centro de Estudos e de Investigação em Belas-Artes Mila Simões de Abreu, Portugal, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real Ana Paula Fitas, Portugal, Coordenadora do Centro de Estudos do Endovélico, Alandroal João Paulo Queiroz, Portugal, Faculdade de Belas-Artes, Universidade de Lisboa / Centro de Estudos e de Investigação em Belas-Artes Moisés Espírito Santo, Portugal, Faculdade de Ciências Socais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa Jorge dos Reis, Portugal, Faculdade de Belas-Artes, Universidade de Lisboa / Centro de Estudos e de Investigação em Belas-Artes Cláudia Matos Pereira, Brasil, Escola de Belas-Artes, Universidade Federal do Rio de Janeiro Leonardo Caravana Guelman, Brasil, Instituto de Artes e Comunicação Social, Universidade Federal Fluminense Manuel Calado, Brasil, IEPA — Instituto de Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado do Amapá Panayiotis Saraneopoulos, Grécia/Portugal, Centro de Investigação e Estudos em Belas-Artes

Ana Paula Fitas, Portugal, Coordenadora do Centro de Estudos do Endovélico, Alandroal António Delgado, Portugal, Escola Superior de Arte e Design, Instituto Politécnico de Leiria Artur Ramos, Portugal, Faculdade de Belas-Artes, Universidade de Lisboa / Centro de Estudos e de Investigação em Belas-Artes Cláudia Matos Pereira, Brasil, Escola de Belas-Artes, Universidade Federal do Rio de Janeiro Cristiane de Andrade Buco, Brasil, IPHAN-Fortaleza Fernando António Baptista Pereira, Faculdade de Belas-Artes, Universidade de Lisboa / Centro de Estudos e de Investigação em Belas-Artes Federico Trolleti, Itália, Universidade de Trento Ilídio Salteiro, Portugal, Faculdade de Belas-Artes, Universidade de Lisboa / Centro de Estudos e de Investigação em Belas-Artes Javier Marcos Arévalo, Espanha, Universidade da Estremadura João Brigola, Portugal, Universidade de Évora João Paulo Queiroz, Portugal, Faculdade de Belas-Artes, Universidade de Lisboa / Centro de Estudos e de Investigação em Belas-Artes Jorge do Reis, Portugal, Faculdade de Belas-Artes, Universidade de Lisboa / Centro de Estudos e de Investigação em Belas-Artes José Ignacio Homobono, Espanha, Universidade do País Basco José Júlio Garcia Arranz, Espanha, Universidade da Estremadura Leonardo Caravana Guelman, Brasil, Instituto de Artes e Comunicação Social, Universidade Federal Fluminense Luís Jorge Gonçalves, Portugal, Faculdade de Belas-Artes, Universidade de Lisboa / Centro de Estudos e de Investigação em Belas-Artes Manuel Calado, Brasil, IEPA — Instituto de Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado do Amapá Maristela Salvatori, Brasil, Instituto de Artes, Universidade Federal de Rio Grande do Sul Mila Simões de Abreu, Portugal, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real Mirtes Barros, Brasil, Universidade Federal do Maranhão Moisés Espírito Santo, Portugal, Faculdade de Ciências Socais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa Nuno Sacramento, Reino Unido (Escócia), Scottish Sculpture Workshop, Aberdeen Panayiotis Saraneopoulos, Grécia/Portugal, Centro de Investigação e Estudos em Belas-Artes Paula Ramos, Brasil, Instituto de Artes, Universidade Federal de Rio Grande do Sul Paulo Caetano, Portugal, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa Ruy Ventura, Portugal, Investigador Salvador Rodríguez Becerra, Espanha, Universidade de Sevilha

O culto e devoção à virgem mártir santa Eufémia no seu santuário em Penedono

Resumo: Este artigo pretende apresentar o culto e devoção à virgem mártir santa Eufémia pelos milhares de devotos que a visitam no seu santuário em Penedono e a sua evolução ao longo dos séculos. Palavras chave: Santa Eufémia / Penedono / culto / devoção / peregrinações / pagamento de promessas.

The worship and devotion to the holy virgin martyr Euphemia in his sanctuary in Penedono

Luciano Moreira* *Portugal, Licenciado em Teologia pela Universidade Católica de Lisboa, Licenciado em História na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e Mestrando em História na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Reitor do Santuário da Virgem Mártir Santa Eufémia de Penedono e pároco de Penedono. E-mail: [email protected] Artigo completo submetido a 28 de Maio e aprovado a 14 de junho de 2014

1. Introdução A primitiva capela dedicada a santa Eufémia, virgem e mártir em Penedono foi construída nos inícios do século XVI. O seu culto rapidamente se estendeu pelas gentes da Beira e do Douro, de modo que em 1758, segundo o relato das memórias paroquiais era já “esta sagrada imagem de uma das maiores devoções que há nestas vizinhanças, por quanto em todo o circuito do ano há muita concorrência de romagem de freguesias muito distantes e remotas, aonde todo o género de males por virtude da mesma santa se extinguem… servindo de terno brasão de toda esta vila ou para melhor dizer de toda esta província e bispado”. …” (Memórias Paroquiais Volume 28, nº 114ª: 767). A capela teve vários aumentos até à sua construção definitiva em meados do século XIX. A sua administração sempre esteve ligada à paróquia de São Salvador de Penedono, tendo passado em 1912 para a Junta de Paróquia de Penedono, mais tarde Junta de Freguesia, até que em 1938 voltou para a posse da Fábrica da Igreja Paroquial de Penedono. Em 1955, o bispo de Lamego D. João da Silva Campos Neves, promulga um decreto de ereção de santuário, à capela de santa Eufémia e ao seu espaço envolvente, sendo em Portugal, um dos 3 santuários dedicados a esta virgem mártir (Moreira 2012: 17-29). 1.1 – O culto e devoção e o pagamento das promessas Já desde meados do século XVII, que o culto a santa Eufémia em Penedono, está enraizado nos cristãos sendo já conhecido a nível nacional (Cardoso 1657: 548). É certo que os tempos mudam, mas podemos afirmar que o culto a santa Eufémia continua a estar presente no coração e na devoção das gentes da Beira-Douro. O “pagamento da promessa” é uma das razões que traz tantos peregrinos ao santuário não só nos dias de romaria, mas ao longo de todo o ano. Ela expressa a gratidão que o devoto de santa Eufémia tem para com ela, pela graça ou graças recebidas por seu intermédio. 59

Moreira, Luciano (2014) “O culto e devoção à virgem mártir santa Eufémia no seu santuário em Penedono.”

Abstract: This article aims to present the cult and devotion to the holy virgin martyr Euphemia by thousands of devotees who visit the shrine in his Penedono and its evolution over the centuries. Keywords: St. Euphemia / Penedono / worship / devotion / pilgrimages / pay promises.

Moreira, Luciano (2014) “O culto e devoção à virgem mártir santa Eufémia no seu santuário em Penedono.”

O pagamento da promessa é a primeira ação realizada ao chegar ao santuário, pelos peregrinos de santa Eufémia. Normalmente consiste em fazer romaria em volta da capela (a pé ou de joelhos), por norma 3 ou mais voltas conforme a promessa, numa atitude de oração, muitas vezes rezando o terço e só no fim é que entra na capela. Algumas vezes, os devotos de santa Eufémia fazem o percurso da romaria com uma réplica na mão em cera representativa de algum órgão do corpo humano que esteve doente. Até há bem pouco tempo também eram usadas réplicas feitas em tecido, que eram enchidas com cereais e oferecidas a santa Eufémia. A romaria termina com as chamadas “3 voltas por dentro”, ou seja, passar por detrás do altar-mor da capela e, por fim pagar a promessa, seja em dinheiro, cera, cereais, cravos ou doutra forma. O pagamento da promessa implica quase sempre um esforço físico (vir a pé da sua povoação, fazer romaria de joelhos, etc.) e uma dávida material (oferta de dinheiro, ouro, flores, cera, etc.). As promessas ou pedidos a santa Eufémia podem ser feitas pelos próprios devotos em prol de si mesmos ou feitos em favor de outros, pedindo auxílio para um familiar ou amigo. Da mesma forma, as promessas são cumpridas individualmente ou em conjunto, por norma em família. As promessas, também podem incluir a participação na eucaristia na capela do santuário ou o pedido para celebrar eucaristias a santa Eufémia em ação de graças, agradecendo os benefícios recebidos por seu intermédio. Outras promessas podem incluir, uma participação ativa nas procissões das romarias, carregando o andor de santa Eufémia, ou percorrendo o itinerário ao lado do andor, muitas vezes com os pés descalços. No passado recente, algumas das promessas que eram feitas incluíam deixar na capela as “mortalhas … como troféus memoráveis da morte, em tantos conflitos destroçada, testemunham-no tantas muletas penduradas, como padrões imortais do movimento em tantos aleijados e paralíticos restituídos; comprovam-no os inumeráveis enfermos de todos os achaques.” (Memórias Paroquiais Volume 28, nº 114a, p. 767-768). Até meados do século XX havia ainda a tradição de vir à romaria de santa Eufémia trazendo vestido a roupa que estava destinada para o funeral como forma de pagar as promessas. Eram as chamadas mortalhas, mas as pessoas que tendo recorrido a santa Eufémia tinham encontrado a perfeita saúde, vinham entregar essas mesmas mortalhas na capela. Quando estas promessas eram feitas por intenções de crianças, estas vinham por norma vestidas de anjinhos. Outra forma de pagar essas promessas era mandar pintar em tabuinhas a narração das graças recebidas por intermédio de santa Eufémia, gravando para a posteridade esses milagres. Na capela de santa Eufémia, ainda podem ser encontrados cerca de 7 ex-votos. Num passado recente, o culto a santa Eufémia também remetia para o ciclo agrícola. Em quinta-feira da Ascensão os rebanhos eram benzidos, os pastores ofereciam cordeiros e os agricultores cereais, em tributo à “Santa” pelas graças por ela alcançadas. Santa Eufémia, sendo invocada como protetora para doenças de pele, normalmente os “cravos” que nascem nas mãos, era também invocada em momentos de aflição nas mais diversas situações negativas da vida, quer dos homens, quer dos animais, como o provam a serie dos ex-votos expostos na capela. O declínio do cultivo dos cereais e da criação de animais fez mudar certas características do culto. O culto hoje está mais vocacionado para a manutenção da saúde física e psíquica do corpo. Damos conta desta mudança, pela natureza das promessas feitas na atualidade a santa Eufémia pelos seus devotos, que a ela recorrem e se aclamam, procurando sobretudo amparo nas doenças cancerosas e de pele. Outra transformação que se deu foi a monetarização das ofertas no cumprimento das promessas em detrimento dos pagamentos em dor e das ofertas em géneros agrícolas, como trigo e centeio ou até mesmo linho, no caso de serem devotos mais abastados, embora ainda sejam ofertadas as chamadas “luvas de trigo”, quando a promessa é feita a pedir o desaparecimento dos “cravos” nas mãos. Atualmente, o devoto de 60

1.2 – As peregrinações e romarias É nos dias 15 e 16 de Setembro que a romaria da virgem mártir santa Eufémia atrai mais devotos ao santuário, vindos dos quatros cantos da diocese de Lamego e das dioceses vizinhas. Podemos afirmar que esta é a romaria das gentes do Douro e da Serra, uma vez que o santuário fica muito perto da transição da Beira com o Douro. Vêm peregrinos sobretudo dos concelhos de São João da Pesqueira, Vila Nova de Foz Côa, Mêda, Carrazeda de Ansiães, Alijó (Douro), Sernancelhe, Trancoso, Pinhel, Aguiar da Beira e Moimenta da Beira (Beira). A grande romaria dos dias 15 e 16 de Setembro tem sido precedida nas últimas 3 décadas de uma novena na capela do santuário, que se inicia no dia 7 e termina dia 15 de Setembro, e que consta da celebração da eucaristia com sermão, oração das vésperas dos mártires, meditação da via-sacra ou do terço. O dia 15 começa com a chegada dos feirantes, que se instalam no largo da feira com as suas barracas. Ao início da noite é celebrada eucaristia campal com pregação no palco do grande patamar inferior à capela, acompanhada por uma banda filarmónica. Esta no final da eucaristia, depois da imagem de santa Eufémia ter recolhido à capela do santuário, onde os peregrinos fazem a sua romaria em volta do 61

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santa Eufémia prefere oferecer em cera a parte ou partes do corpo que estava doente e que por seu intermédio foi curada ou fazer a sua oferta em dinheiro. A oferta de objetos em ouro, como pulseiras, brincos, cordões, ou outros objetos, muito popular na segunda metade do século XX, tem caído em desuso. Hoje está também em uso a oferta de flores, seja para os arranjos dos altares da capela seja para o andor de santa Eufémia em dias de festa. Outro foco de atracão, dos peregrinos ao santuário de santa Eufémia, é a feira anual que se faz nos dias 15 e 16 de Setembro. Ela representa a união que existe entre o sagrado e o profano. Ficando Penedono na zona de transição entre as regiões do Douro e da Beira-Alta, a feira de santa Eufémia, foi durante séculos, lugar de troca de produtos agrícolas por parte dos agricultores das duas regiões. Temos de realçar, que ela se realiza numa época em que terminam as colheitas e os trabalhos de Verão e se iniciam as colheitas e os trabalhos de Outono. Atualmente, a feira já não serve tanto para a troca destes produtos, dada a crise em que vive a nossa agricultura. Outro fator importante para a feira ser tão popular era o facto, de que por norma a abertura do ano escolar, isto já durante o século XX, se iniciar depois dos dias 15 ou 16 de Setembro. A feira de santa Eufémia era onde muitos pais vinham comprar as roupas novas para os seus filhos levarem para a escola. Este ritual tem-se perdido dada a baixa natalidade da nossa região e a substituição das compras escolares feitas na feira pelos grandes centros comerciais e do uso generalizado das roupas de marca. Os frequentadores da feira de santa Eufémia dos tempos atuais, já não vêm à feira com o intuito de comprarem utensílios agrícolas para a época das vindimas que se aproxima ou sementes para as sementeiras de Outono e de Inverno. Vêm pela tradição de à noite comerem as fêveras ou da “marrã” nas barracas de comes e bebes, pela súcia que se faz com a família e os amigos, para verem o fogo-de-artifício e escutarem as bandas filarmónicas, e claro, pela fé e crença em santa Eufémia. A feira de santa Eufémia em Penedono, tal como acontece noutros locais em Portugal onde à romaria se junta a feira, tem por tradição, os romeiros comerem carne de porco. Tal tradição compreende-se, visto que em tempos mais longínquos, era apenas nos meses de inverno que as famílias faziam a “matança” do porco. Comer carne fresca em Setembro era um privilégio quase único da feira de santa Eufémia. Por detrás deste costume, florescia um incentivo económico para muitas famílias, que apesar de não serem feirantes a tempo inteiro, nos dias da feira de santa Eufémia montavam as suas barracas e nela vendiam a famosa marrã, a que se juntava o vinho, os doces, o café e o chá, ganhando assim um extra para o sustento da família.

Moreira, Luciano (2014) “O culto e devoção à virgem mártir santa Eufémia no seu santuário em Penedono.”

Fig. 1. Fotografia de Luciano Augusto Moreira, Vista geral da capela do Santuário de Santa Eufémia, Penedono. (2013) Fig. 2. Fotografia de Luciano Augusto Moreira, Vista do interior da capela do Santuário de Santa Eufémia, Penedono. (2014) Fig. 3. Fotografia de Luciano Augusto Moreira, Ex-voto à Virgem Mártir Santa Eufémia – Capela de Santa Eufémia, Penedono (2014) 62

altar da mártir e pagam as suas promessas, dá sempre um grande concerto, para os milhares de romeiros presentes na esplanada. Até alguns anos atrás, o concerto da noite era sempre feito com duas bandas, que tocavam até altas horas da noite, sucessivamente numa constante disputa, para verem qual era a que agradava mais aos romeiros, que esperavam ansiosamente pelo fogo-de-artifício. O resto da noite é passado numa constante animação, na zona da feira, onde se vai comendo e bebendo ao som das concertinas e dos cantares ao desafio. O dia 16 inicia-se bem cedo; uma salva de morteiros anuncia a chegada dos peregrinos vindos a pé e das gentes que vêm pagar as suas promessas e fazer as compras na feira, preparando-se assim para as épocas de trabalho que se aproximam; as vindimas, a apanha da castanha e as sementeiras de inverno. No começo da manhã, celebra-se novamente eucaristia campal com pregação no palco do grande patamar e no final, enquanto a banda oferece um concerto aos peregrinos na esplanada, os sacerdotes atendem em confissão os peregrinos na capela e na casa do ermitão. Ao início da tarde, volta a celebrar-se eucaristia campal, no grande patamar, sendo esta normalmente presidida pelo bispo da diocese de Lamego. Terminada a eucaristia, inicia-se a triunfal procissão com o andor da milagrosa santa Eufémia e outras imagens em volta do santuário. É um dos momentos mais esperados pelos romeiros, que a acompanham com muita fé e devoção, até entrar novamente na capela. Grande parte das imagens dos santos, que se encontram na matriz e capelas da vila de Penedono, integram também a procissão com os seus andores enfeitados a preceito com flores naturais. Santa Eufémia, no seu andor, é a última da procissão, seguindo-se os sacerdotes e a banda filarmónica que a soleniza. Todos os anos na segunda-feira de Páscoa e no domingo da Ascensão, faz-se romaria no santuário, com celebração da eucaristia e procissão. Num passado bem recente, a romaria de segunda-feira de Páscoa e de quinta-feira da Ascensão era marcada com a visita dos pastores ao santuário, que com os seus rebanhos faziam romaria em volta da 63

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Fig. 4. Fotografia de Diana Palheiro, Pagamento das promessas à Virgem Mártir Santa Eufémia - Capela de Santa Eufémia, Penedono (2013)

Moreira, Luciano (2014) “O culto e devoção à virgem mártir santa Eufémia no seu santuário em Penedono.”

capela, como já foi referido. Esta tradição infelizmente perdeu-se com o desaparecimento dos rebanhos. Ultimamente, tem-se feito uma peregrinação no mês de Agosto para os emigrantes, uma vez que normalmente estes já não podem estar nos dias 15 e 16 de Setembro. Durante o ano são várias as atividades que se fazem no santuário, desde a meditação da via-sacra durante a quaresma, à celebração de casamentos e batizados, tal como retiros ou encontros dos mais diversos movimentos ou associações. Diariamente, encontramos peregrinos no santuário, sejam as gentes de Penedono ou do concelho, ou vindas de todo o país, em grupos ou individualmente, seja para rezarem e pedirem graças e auxilio à virgem mártir, seja para pagarem as suas promessas e agradeceram as graças recebidas, seja para descansarem e comerem nos parques à sombra das majestosas árvores ou até levarem para suas casas a límpida e sempre fresca água que jorra nas fontes do santuário (Moreira, 2012: 52-60).

d`Oliveira. Moreira, Luciano Augusto dos Santos (2012). Santuário da Virgem Mártir Santa Eufémia em Penedono História e Culto. Penedono: Santuário de Santa Eufémia – Penedono. PT-TT-MPRQ/28/114a, Memórias Paroquiais, Volume 28, nº 114a, p. 767-768

Referências Cardoso, Jorge (1657). Agiologio Lusitano dos Sanctos, e Varoens Illustres em virtude do Reino de Portugal, e suas conquistas: consagrado aos gloriosos S. Vicente, e S. Antonio, insigns patronos desta inclyta cidade Lisboa e a seu illustre Cabido Sede Vacante. Tomo II. Lisboa: Na Officina de Henrique Valente

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