O Custo Verdadeiro: Objetos Discursivos na Defesa da Indústria de Moda Rápida

May 30, 2017 | Autor: Eduardo Ayrosa | Categoria: Consumer Studies, Fast Fashion
Share Embed


Descrição do Produto

O Custo Verdadeiro: Objetos Discursivos na Defesa da Indústria de Moda Rápida Autoria: Renata Couto de Azevedo de Oliveira, Eduardo André Teixeira Ayrosa

Resumo No segundo capítulo de “A Arqueologia do Saber”, Foucault (2008) nos guia através do universo das regularidades discursivas e suas formações, compostas por unidades, como objetos discursivos, modalidades enunciativas, conceitos e, por fim, estratégias. No presente ensaio teórico, pretende-se explorar essas unidades como possibilidades de análise, com ênfase nos objetos discursivos contidos nas falas de defesa do mercado e do sistema de produção de moda denominado fast fashion que estão presentes no documentário The True Cost (2015). Palavras-chave: Arqueologia do Saber, Objetos Discursivos, Mercado, Fast Fashion, The True Cost 1. Introdução É inegável a importância e o destaque dos ensinamentos de Michel Foucault nos últimos cinqüenta anos, principalmente dentro do âmbito acadêmico. Vários são os pesquisadores que buscam em suas obras não apenas argumentos para suas fundamentações teóricas, bem como instrumentos que auxiliem na análise de seus dados. Em levantamento feito no sítio da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração (ANPAD) usando como palavra-chave “Foucault”, constata-se a marcante presença de trabalhos, principalmente dentro de Estudos Organizacionais, que exploram os conhecimentos do filósofo francês (como exemplo, poderíamos citar alguns trabalhos, como os de Souza, Machado, & Bianco, 2004; Diniz &Vieira, 2008; Mendes & Ichikawa, 2010; Pereira & Oliveira, 2011; Cavalcanti & Duarte, 2012; Sant’Anna, 2014; Mayrink & Patrus, 2015). Ressalta-se que o levantamento foi realizado somente dentro do sítio ANPAD, ou seja, o foco encontra-se tão-somente nas áreas relacionadas à Administração e Contabilidade, deixando de lado áreas do conhecimento como Comunicação, Saúde, Educação e Direito, entre tantas outras, nas quais os ensinamentos foucaultianos são largamente empregados. A amplitude do uso das obras de Foucault em outros campos justifica-se não apenas pela miríade de temas abordados por ele, como “formação dos saberes e dos discursos de verdade, das relações de poder, da construção da subjetividade e do governo de si e dos outros” (Dreyfus & Rabinow, 1995 como citado por Silveira, 2002). Destaca-se que o filósofo francês, ao invés de uma crítica que “rejeita todas as soluções possíveis com exceção de uma única que seria a melhor para todos” (p. 12), buscou problematizar, ou seja, criou um “movimento de análise crítica que procura investigar como diferentes soluções resultam de formas específicas de construção dos problemas” (p. 12), num movimento de questionamento constante. Interessa-nos nesse ensaio o método arqueológico, “próprio à análise da discursividade” (Dreyfus & Rabinow, 1995), desenvolvido por Foucault e que “aproxima-se de uma história conceitual das ciências, mas diferencia-se desta na medida em que não tem como referencial fundamental a própria noção de ‘ciência’, encaminhando-se progressivamente para uma análise dos ‘saberes’” (Fonseca, 2001, p. 32 como citado por Silveira, 2002). A arqueologia busca, assim, pesquisar sobre as regras de formação dos objetos do discurso de uma área específica do conhecimento (Alvarenga, 1998). Em “A Arqueologia do Saber”, o autor faz sua primeira tentativa de análise teórica sistemática sem envolver o arcabouço histórico que constitui o objeto de seus outros livros (Rabinow, 1984), ou seja, Foucault afasta o discurso das práticas e instituições sociais nas 1

quais ele está enraizado, buscando descobrir, segundo Rabinow (1984), quanta autonomia poderia ser legitimamente reivindicada para as formações discursivas, evitando análises de discurso como reflexões, por mais sofisticadas que sejam, voltando-se para uma análise mais profunda e real. Dreyfus e Rabinow (1995) afirmam que por mais que tenha se afastado das instituições sociais que influenciam as práticas discursivas em “A Arqueologia do Saber”, Foucault jamais abandonou tal crença, permitindo-se apenas nesse livro tratar dos discursos das ciências humanas arqueologicamente, ou seja, evitando “tornar-se envolvido em argumentos sobre se o que elas afirmam é verdade, ou até mesmo se suas assertivas fazem sentido” (Dreyfus & Rabinow, 1995, p. XX). O posicionamento afastado das instituições sociais gerou algumas críticas (Dreyfus & Rabinow, 1995), principalmente porque torna inteligível e incompreensível o tipo de influência que as instituições sociais possuem e que outrora foi o centro das preocupações do filósofo francês. Ao considerar a arqueologia um fim em si mesmo, Foucault “exclui a possibilidade de apresentar suas análises críticas em relação às suas preocupações sociais” (Dreyfus & Rabinow, 1995, p. XXI). Costa, Guerra e Leão (2011), deixando de lado as críticas, voltam a reforçar a mudança de ênfase promovida por Foucault em seu método arqueológico, afirmando que a análise discursiva perde o destaque “em nome da relação entre os grupos discursivos e as condições de seu aparecimento e transformação” (Costa, Guerra, & Leão, 2011, p. 1), evocando a descrição arqueológica como “método que se interessa pela regularidade dos enunciados, considera às incoerências internas da rede discursiva, o que foi realmente dito (elementos discursivos e não discursivos), e todas as relações possíveis estabelecidas entre os diversos enunciados”. (Costa, Guerra, & Leão, 2011, p. 1)

Assim, o objetivo do projeto arqueológico é “responder como os saberes surgem e se transformam, o que possibilita a abertura de um novo rumo para as análises históricas, desvelando as condições dessa aparição e as questões institucionais e políticas (Costa, Guerra, & Leão, 2011, p. 3). Pretende-se neste ensaio teórico, portanto, focar na principal unidade das formações discursivas que Foucault elenca no segundo capítulo de “A Arqueologia do Poder” (2008), qual seja, os objetos discursivos. A ênfase nessa unidade discursiva se justifica pelo caráter fundamental de sua formação dentro do método arqueológico. Em sua obra, Foucault sugere que “um campo discursivo não se caracteriza pelos objetos que estuda, pelas modalidades de enunciação, pelos conceitos ou pelas temáticas privilegiados, mas sim pela maneira pela qual se formam seus objetos” (Alvarenga, 1998). Assim, a presente análise se ampara na formação de tais objetos presentes nas falas de defesa do mercado e do sistema de produção de moda conhecido como fast fashion, presentes no recente documentário The True Cost (2015). Alvarenga (1998) ressalta que a arqueologia se constitui em método para descrição de campos de conhecimento e considera o discurso não sob o ponto de vista estrito da epistemologia, que privilegia requisitos de cientificidade, mas em nível mais amplo dos saberes que independem do rótulo científico. Dessa maneira, a arqueologia comporta “recortes, abordagens e leituras mais sensíveis da realidade” (Alvarenga, 1998). 2. O Custo Verdadeiro e a Indústria de Fast Fashion De acordo com Fleming, Pereira, Sauerbronn e Vieira (2014), obras cinematográficas são comumente usadas como objetos de análise em pesquisa acadêmica de marketing. Trabalhos como o de Hollbrook e Grayson (1986), Hirschman e Stern (1994), Vieira, Lengler e Fachin (2004), Cooper, McLoughlin e Keating (2005), Russell e Stern (2006) ilustram a



2

afirmação dos autores, que ressaltam ainda a existência do festival de filmes da Association for Consumer Research durante suas conferências desde 2002, bem como de uma seção inteiramente dedicada à análise de filmes no Journal of Macromarketing. Contudo, não é nossa intenção no presente ensaio empreender uma análise de cunho foucaultiano sobre o documentário The True Cost (2015) como um todo. Apesar do entusiasmo sobre o uso de filmes e recursos afins como objeto de análise, nosso foco é especificamente a formação dos objetos discursivos presentes nas falas de defesa do mercado e do sistema de produção de moda conhecido como fast fashion. A escolha do documentário surgiu do interesse da autora em temas relacionados ao mercado de moda, bem como globalização e violência. Os dois últimos temas aparecem associados à discussão sobre ideologia e marketing na edição especial do Journal of Macromarketing (Eckhardt, Dholakia, & Varman, 2013). Tal discussão é por vezes ilustrada com críticas a empresas de fast fashion e seu processo de produção em países em desenvolvimento, tendo como pano de fundo os contextos de desconsideração de alteridades (Westwood, 2003; Bouchet, 2015), necrocapitalismo e necropolítica (e.g. Mbembe, 2003; Banerjee, 2008). Não nos interessa aqui focar na indústria da moda como tradicionalmente foi constituída, uma vez que ao longo dos últimos 20 anos as fronteiras dessa indústria se expandiram drasticamente, modificando sua dinâmica (Bhardwaj & Fairhurst, 2010). A principal característica dessa indústria no mundo contemporâneo segundo Franks (2000) é a estratégia de sense and respond, ou seja, detectar os desejos dos consumidores e tendências de moda que os interessam e respondê-los na forma de entrega rápida de produtos, sendo tal estratégia sustentada por um relacionamento próximo entre fornecedores e compradores. As marcas de fast fashion, como Zara, H&M, Urban Outfitters, Forever 21, GAP, entre outras se destacam como empresas altamente competitivas e com constante oferta de novos produtos aos consumidores, seguindo a lógica do “hoje aqui, amanhã não mais”. Esse mercado oferece mais coleções por ano inspiradas pelas grandes casas de moda que “desfilam” um número maior de coleções por ano: se antes as grandes maisons, como por exemplo Chanel, ofereciam duas coleções anuais (primavera-verão e outono-inverno), hoje essa oferta se multiplicou em pequenas coleções que são lançadas entre as duas principais (por exemplo, coleções cruise, coleções-cápsula, edições especiais, parcerias com outras empresas e criadores). Não podemos nos esquecer que, de acordo com Bhardwaj e Fairhurst (2010), desfiles de moda e todo o “circo” que antes era destinado exclusivamente aos participantes da indústria fashion ganharam o gosto popular a partir de 1999, com revistas publicando fotos dos desfiles e a internet desmistificando tal processo. Os consumidores tornaram-se mais conscientes e influenciados pelo design e estilos diretamente das passarelas. As empresas de fast fashion, cientes de tal movimento, trataram de oferecer dentro de um prazo de três a cinco semanas interpretações de tais produtos (Barnes & Lea-Greenwood, 2006). Os produtos possuem ciclos de vida menores e as margens de lucro com a venda rápida dos produtos são altíssimas. Essa movimentação também encoraja que os consumidores, conscientes dos preços baixos, sedentos por novidades e gratificação instantânea, frequentem constantemente os pontos de venda dessas empresas (Bhardwaj & Fairhurst, 2010). Tal processo de resposta rápida ao mercado é suportado, de acordo com Tyler, Heeley e Bhamra (2006), por uma ênfase na redução nos prazos de entrega e manutenção de preços baixos, garantidos pela transferência dos processos de produção de roupas e acessórios para países em desenvolvimento, como China e Índia, nos quais os custos com os trabalhadores são baixos, garantindo assim preços competitivos. É justamente aqui que se concentra parte da crítica presente no documentário The True Cost (2015), que começa com uma fala de Andrew Morgan, diretor e narrador do documentário, informando a quem assiste que se trata de uma história sobre “as roupas que vestimos, as pessoas que fazem essas roupas e sobre o 3

impacto que isso tem sobre nosso mundo”. De acordo com informações obtidas no site do projeto, os preços das roupas abaixou ao longo das últimas décadas, enquanto os custos para a humanidade e para o meio ambiente aumentaram dramaticamente, mas não temos consciência de quem paga o preço pela produção em ritmo frenético de nossas roupas. Dados obtidos no site do projeto informam que 97% das roupas que consumimos são produzidos em outros países, em geral países em desenvolvimento, nos quais os custos com os trabalhadores são baixos, leis trabalhistas e sindicatos não possuem força e a oferta de trabalho é sempre bem-vinda, obedecendo a lógica inescapável da globalização. O documentário nos informa que até a década de 1960, a América do Norte produzia 95% das roupas que eram consumidas internamente, quadro hoje que mudou para uma produção interna de apenas 3% do que é consumido. A produção foi “globalizada”, significando que, segundo depoimentos colhidos no documentário, ela ocorre em economias de baixo custo, nas quais 40 milhões de pessoas (85% dos quais são mulheres) trabalham na produção de vestuário e sofrendo violações de seus direitos (trabalhistas, humanos e da mulher). Cortar gastos e desrespeitar medidas de segurança visando baixar os custos da produção são práticas denunciadas pelo documentário. Destaca-se o desmoronamento em 2013 do Rana Plaza, em Bangladesh (Índia), no qual 1.129 pessoas que trabalhavam na produção de vestuário morreram devido ao estado precário das instalações do prédio. Tais condições (rachaduras nas paredes, por exemplo) foram denunciadas pelos próprios trabalhadores antes do desastre, mas seus apelos foram ignorados. O documentário também conta a história da indústria de sementes de algodão e a produção do insumo na Índia, descrevendo um processo que envolve sementes modificadas e uso de inseticidas visando colheitas mais produtivas e dependência econômica dos fazendeiros em relação aos fornecedores de sementes e pesticidas, culminando em endividamento, suicídio dos proprietários de terra decorrente desse endividamento, bem como doenças graves tanto nos trabalhadores que lidam diretamente com os pesticidas, quanto para as pessoas que estão indiretamente associadas à produção. O documentário apresenta não apenas falas de trabalhadores que lidam diretamente com a produção do vestuário em condições precárias, mas nos oferece entrevistas de ativistas e críticos do sistema atual de produção de vestuário, CEOs de empresas de moda fair trade, designers de moda de renome, além de representantes do livre comércio e defensores da manutenção do sistema de produção que revolucionou a maneira como a moda é vendida e consumida atualmente. 3. Sobre Objetos Discursivos Ainda que de maneira breve, devemos destacar em caráter introdutório a importância do trabalho arqueológico de Foucault dentro do contexto de análise do discurso. O pensamento do filósofo francês tem grande influência nas ciências sociais e humanidades em geral (Fairclough, 1992; Dreyfus & Rabinow, 1995; Silveira, 2002) e isso contribuiu enormemente para a popularização do discurso e de sua análise como método. Fairclough (1992) destaca a contribuição de Foucault para a teoria dos discurso que envolvem relações entre discurso e poder, a construção discursiva de objetos sociais e conhecimento, bem como o funcionamento do discurso na mudança social. A preocupação do filosofo francês, segundo o autor, é com as práticas discursivas como constitutivas de conhecimento e com as condições de transformação do conhecimento associadas com a formação discursiva em ciência (Fairclough, 1992, p. 38). Em seu enfoque arqueológico, Foucault dá ênfase aos tipos de discurso (ou formações discursivas) como regras constitutivas de áreas de conhecimento. O discurso, segundo Fairclough (1992), constitui a sociedade em varias dimensões, como, por exemplo, os objetos 4

do conhecimento, os sujeitos sociais e as relações sociais. Foucault também destaca a interdependência das práticas discursivas de uma sociedade ou instituição, significando dizer que os textos são gerados da combinação entre outros textos e definidos por essas relações. Fairclough (1992) destaca ainda que em seus trabalhos de cunho arqueológico, Foucault entende análise do discurso como uma análise de declarações, apenas uma dentre as possibilidades de se analisar performances verbais. O intuito de Foucault é especificar as variações sócio-históricas das formações discursivas (ou discursos), sistemas de regras que tornam possível que certas declarações, mas não outras, surjam em determinado momento, lugar e instituição. Uma formação discursiva consiste, para Foucault (2008), regras de formação de um conjunto particular de declarações e mais especificamente regras para a formação de objetos, de modalidades enunciativas, de posições de sujeito, de formação de conceitos e de estratégias.Tais regras de formação se constituem por combinações anteriores de elementos discursivos e não-discursivos, sendo que o processo de articulação desses elementos torna o discurso uma prática discursiva (Fairclough, 1992). Passaremos agora à descrição dos objetos discursivos e como eles se formam, visando posteriormente à análise das falas de defesa de mercado presentes no documentário The True Cost (2015). 3.1. Conceito e Formação Fairclough (1992), citando Foucault, descreve objetos discursivos como objetos de conhecimento, entidades que determinadas disciplinas ou ciências reconhecem dentro de seus campos de interesse e que usam como alvos de investigação. Tal conceito, ressalta o autor, pode ultrapassar a barreira formalmente organizada das disciplinas ou ciências, estendendo-se para entidades organizadas da vida comum. O exemplo dado pelo próprio Foucault (2008, p. 45) é o da formação de diversos objetos pelo discurso da psicopatologia a partir do século XIX, entre eles a loucura. Foucault (2008, pp.46-47) traça então três “instâncias” que inicialmente devem ser observadas quando pretende-se entender a formação dos objetos discursivos, ilustrando-as com o exemplo do discurso da psicopatologia e do surgimento do objeto ‘loucura’. Inicialmente, deve-se demarcar as superfícies de emergência (grifo nosso) desses objetos, ou seja, “mostrar onde podem surgir, para que possam, em seguida, ser designadas e analisadas as diferenças individuais que, segundo os graus de racionalização, os códigos conceituais e os tipos de teoria, vão receber a qualificação de doença”. O autor ressalta que tais superfícies variam de sociedade para sociedade, de época para época, mas é nelas que o discurso “encontra a possibilidade de limitar seu domínio, de definir aquilo de que fala, de dar-lhe o status de objeto – ou seja, de fazê-lo aparecer, de torná-lo nomeável e descritível” (Foucault, 2008, p. 47). O segundo passo seria descrever as instâncias de delimitação (grifo nosso) do discurso, isto é, “a instância superior que, na sociedade, distingue, designa, nomeia e instaura” algo como um determinado objeto (no exemplo de Foucault, a loucura). Ressalta-se aqui que um determinado objeto pode ser designado, nomeado e instaurado por mais de uma instância de delimitação. Concorrendo para a designação da loucura, por exemplo, temos a medicina, a justiça, a autoridade religiosa e a crítica literária e artística, segundo Foucault (2008, p. 47). Por fim, é necessário analisar as grades de especificação (grifo nosso), ou seja, “os sistemas segundo os quais separamos, opomos associamos, reagrupamos, classificamos, derivamos, umas das outras, as diferentes ‘loucuras’ como objetos do discurso psiquiátrico” (Foucault, 2008, p. 47).



5

Foucault ressalta que, contudo, essas três instâncias são insuficientes para a fornecer os objetos de um determinado discurso, uma vez que “o discurso é algo inteiramente diferente do lugar em que vêm se depositar e se superpor, como em uma simples superfície de inscrição, objetos que teriam sido instaurados anteriormente” (Foucault, 2008, p. 48). O autor também chama nossa atenção para o fato de que nessas instâncias demarcamos os planos nos quais os objetos podem aparecer, mas devemos ir além, verificando se existem relações entre eles, como opera o “sistema de formação” dos objetos. Dessa forma, Foucault (2008) sinaliza que os objetos emergem no discurso graças a um conjunto de relações determinadas entre planos de especificação, como, no exemplo da loucura, a relação entre a instância da decisão médica e a instância da decisão judiciária. São essas relações que, atuando no discurso, permitem a formação de um conjunto de objetos diversos. Importa, portanto, verificar como o discurso forma seus objetos, apurando tais relações entre instâncias de emergência, delimitação e especificação. Foucault (2008) prossegue afirmando que as condições para que se apareça um objeto são numerosas, significando que sua existência é determinada sob “condições positivas de um feixe complexo de relações” (p. 50), ou seja, os objetos não esperam em limbos para serem liberados, como coloca o autor. Ressalta-se também que as relações mencionadas anteriormente não estão presentes nos objetos e não são desenvolvidas em sua análise, apenas permitem que o objeto apareça, justaponha-se a outros objetos, situe-se em relação a eles, defina sua diferença e irredutibilidade para enfim ser colocado em um campo de exterioridade (pp. 50-51). O autor também informa que as relações propriamente discursivas, formadoras os objetos, não se confundem com as que chama de primárias ou reais e secundárias ou reflexivas e não são internas ao discurso, nem tampouco externas a ele. As relações discursivas, que fazem emergir objetos, estão no limite do discurso, “oferecendo-lhe objetos de que ele pode falar, ou antes (...), determinam o feixe de relações que o discurso deve efetuar para poder falar de tais objetos” (p. 51), caracterizando o próprio discurso enquanto prática. 3.2. A Formação dos Objetos Discursivos nas Falas de Defesa de Mercado “Quando se descreve a formação dos objetos de um discurso, tenta-se identificar os relacionamentos que caracterizam uma prática discursiva e não se determina uma organização léxica nem as escansões de um campo semântico”, coloca Foucault (2008, p. 54). A prática discursiva é “o lugar onde se forma ou se deforma, onde aparece e se apaga uma pluralidade emaranhada – ao mesmo tempo superposta e lacunar – de objetos” (p. 54). Passamos agora à análise das falas de defesa de mercado presentes no documentário The True Cost (2015) em busca dos objetos discursivos nelas presentes. Ressaltamos que não são muitas as falas em defesa da indústria de moda rápida no documentário, haja vista a predominância de seu tom crítico. 3.2.1. Objeto Discursivo: Submissão Inescapável à Lógica de Produção de Moda Rápida No minuto 6:20 do documentário, um narrador não identificado, provavelmente um comentarista que participa de um programa de televisão, afirma que o consumidor norteamericano foi “pego” pela idéia da indústria de moda rápida e que se trata de um consumidor orientado para o valor. Assim, combinando-se moda e valor, há uma “receita”. Essa receita traduz o novo modo de produzir e consumir roupas, conhecido por fast fashion. Esse processo, descrito no tópico anterior, é baseado na produção de roupas em países em desenvolvimento, nos quais os custo de produzir são mantidos abaixo do aceitável. As 6

empresas no topo da cadeira de valor decidem onde querem produzir, pressionando donos de fábricas, que por sua vez pressionam seus trabalhadores. Isso se confirma nas falas de John Hilary (minuto 7:02), diretor executivo da War on Want e do empresário indiano Arif Jebtik (minuto 8:00). O último menciona como as negociações com as empresas de fast fashion são feitas: “Olhe, aquela determinada loja está vendendo essa camisa por US$ 5,00, então eu preciso vender por US$ 4,00. Então é melhor você ‘espremer’ seu preço. Então nós ‘esprememos’. Então outra loja vem e diz ‘hey, ele está vendendo US$ 4,00? Então o preço-alvo é US$ 3,00. Se você puder fazer por US$ 3,00, o negócio é seu, caso contrário não.’ Como queremos muito fazer negócio, não temos outras opções, okay. Estamos tentando sobreviver todo o tempo, na realidade.” Em seguida, o empresário chinês Roger Lee (minuto 8:21), afirma que “em última análise, alguém tem que ceder. Ou o preço do produto deve subir, ou os fabricantes têm que fechar ou cortar custos para funcionar.” Aí temos descrito, ainda que de maneira bem sucinta, parte da lógica de produção da indústria da de moda rápida. Temos também o surgimento de um primeiro objeto discursivo, qual seja, a submissão à lógica de produção de moda rápida. Com base no transcrito acima, principalmente na fala de Arif Jebtik, vemos que os donos das fábricas que estão na ponta da cadeia de produção de moda rápida nos países em desenvolvimento enxergam a prática dos salários baixos, das longas jornadas de trabalho, das condições precárias e da falta de legislação trabalhista, por exemplo, como uma resposta à pressão feita pelas grandes empresas ocidentais que terceirizam sua produção. Essa resposta parece ser a única possível quando o objetivo é manter-se em operação no mercado, não existindo outras alternativas frente ao poder de barganha esmagador das empresas de fast fashion. É também usado como argumento para justificar, pelo lado dos donos de fábricas, os cortes feitos sobre salários e práticas de segurança. Por outro lado, esse objeto deixa transparecer que há uma forma de soberania exercida pelas empresas de moda rápida e que reside no poder e na capacidade de prescrever, em última instância, quem pode viver e quem deve morrer (Mbembe, 2003). Essa soberania, de acordo com Mbembe (2003, p. 12), está relacionada ao conceito de biopoder criado por Foucault e se traduz no exercício de controle sobre a mortalidade, definindo a vida como um desdobramento e manifestação de poder. Tem-se, portanto, que a lógica de mercado de moda rápida está inserida no contexto do necrocapitalismo (Mbembe, 2003; Banerjee, 2008), uma vez que sua atuação se traduz numa espécie de poder soberano que tem como conseqüência a manutenção de vidas humanas em situações de penúria e sofrimento e, em alguns casos, promove seu extermínio. O empresário indiano Mowla Chowdhury explica que “os trabalhadores não devem ter nenhum tipo de desconfiança dos seus empregadores. Se eles tiverem, não haverá uma boa atmosfera para o trabalho na fábrica. Eles têm que respeitar, o empregador é que nos paga. Se eles não têm esse tipo de confiança, não alcançamos o resultado.”





7

Novamente, a preocupação em “alcançar resultados” parece ser a única levada em consideração pelos donos das fábricas dentro da cadeia de produção. Cabe ressaltar que a submissão à lógica de produção de moda rápida está diretamente associada, conforme indicado pelo documentário, com cortes de gastos relacionados à força de trabalho e medidas de segurança, ignorando por completo a alteridade dos trabalhadores. Isso se traduz em resultados catastróficos: acidentes com muitos mortos e feridos, como o que aconteceu em Dava, Bangladesh, além de enfrentamentos entre trabalhadores têxteis (em busca de salários anuais que consideram dignos), polícia e grupos paramilitares, que se assemelham à cenas de guerra, como o ocorrido em Camboja e retratado pelo documentário. 3.2.2. Objeto Discursivo: Lógica de Mercado gerando Desenvolvimento No minuto 14 do documentário, Benjamin Powell, diretor do Free Market Institut, justifica a existência dos sweatshops, fábricas e outros ambientes de trabalho precários, nos quais trabalhadores que ganham salários de menos de US$ 2,00 por mês e não contam com nenhum assistência sindical. Ele diz que “esses produtores com baixo salários, supostamente chamados sweatshops, (eles) não são a pior opção que os trabalhadores têm hoje. Eles são parte do próprio processo que eleva os padrões de vida e leva a salários mais altos e condições de trabalho melhores ao longo do tempo. As causas imediatas do desenvolvimento são o capital físico, tecnologia e capital humano, ou as habilidades dos trabalhadores. Quando os sweatshops chegam a tais países, eles levam todos esses itens aos trabalhadores e dão o ponta a pé nesse processo.” O próprio narrador do documentário, Andrew Morgan, destaca que todas as mazelas decorrentes da lógica implacável e destruidora de produção de moda rápida são desconsideradas face o desenvolvimento que a ação dessas mesmas empresas ocidentais nos países em desenvolvimento supostamente gerou: “salários baixos, condições inseguras e desastres nas fábricas são todos perdoados por causa dos empregos necessários que criam para pessoas sem alternativas. Essa história se tornou a narrativa usada para explicar como a indústria da moda opera no mundo inteiro” Até mesmo a indústria de sementes de algodão Monsanto, na base da produção de matéria prima para a indústria da moda, adota um discurso cujos objetos se assemelham com o acima. Líder em inovação na agricultura, suas inovações contribuem para “duplicar a produtividade para as necessidades futuras mundiais”, ajudando a “produzir mais e a conservar mais, enquanto melhoram as vidas das pessoas ao redor do mundo”. Percebe-se claramente que o discurso de livre mercado e avanço capitalista sobre áreas em desenvolvimento ao redor do globo se pauta fortemente no objeto discursivo de geração de emprego e desenvolvimento nessas áreas. Como se pode extrair do discurso da empresa Monsanto, todo esse movimento se justifica uma vez que o objetivo primordial é melhorar a vida das pessoas. Contudo, como podemos verificar com base nos depoimentos presentes no documentário, a realidade é outra. Vemos ambientalistas e até mesmo um ex-funcionário da Monsanto exporem como a indústria de produção de algodão atua em regiões extremamente pobres na Índia, gerando um sistema de dependência econômica para os fazendeiros locais e consequências para a saúde 8

dos trabalhadores e suas famílias. Além do crescimento exponencial do número de casos de doenças e problemas de saúde decorrentes diretamente do uso de pesticidas, o documentário também denuncia o aumento sem precedentes do número de suicídios entre fazendeiros que plantam algodão, devido ao alto nível de endividamento graças ao uso de sementes geneticamente modificadas de algodão Bt, produzidas pela Monsanto. A lógica capitalista e globalizada de mercado pode ser associada ao que LadsonBillings (2000) denomina epistemologia Euro-Americana, referindo-se ao regime de verdade (Foucault, 1973 como citado por Ladson-Billings, 2000) das nações desenvolvidas que atuam em regiões em desenvolvimento sob o pretexto de melhorar condições de vida, desconsiderando por completo os seres humanos, seus anseios e necessidades específicas, bem como sua cultura e diversidade local. Banerjee (2008, p. 1544) reforça esse entendimento ao sinalizar que o imperialismo é operacionalizado através de diferentes tipos de poder, entre eles o discursivo que constrói e descreve noções não contestadas de desenvolvimento, atraso e economia de subsistência ao mesmo tempo que impede que outras narrativas de emergir. Presume-se fazer o bem, levar o progresso e o desenvolvimento para áreas tidas como subdesenvolvidas e carentes, embalados pela ideologia de marketing que, segundo Eckhardt et al. (2012, p. 2), coloca um verniz suave e humano sobre o rolo compressor das estratégias e ações neoliberais que são, na verdade, duras e severas, visando apenas eficiência e não tolerando ambiguidades, “disciplinando, destruindo, desumanizando e desestabilizando”. Em última instância, como salienta Banerjee (2008), tais práticas organizacionais de acumulação envolvem violência, desapossamento e morte e representam o que o autor chama de “necrocapitalismo”. 3.2.2. Objeto Discursivo: Sweatshops como Melhor Opção para Trabalhadores No minuto 15:23, Benjamin Powell, em um programa de televisão norte-americano, é questionado sobre o significado de sweatshop e responde: “Sim, eu acho que devemos ser bem claros desde o início sobre o que estamos falamos. Então, estamos falando sobre lugares com condições de trabalho bem precárias, segundo os padrões norte-americanos normais, salários muitos baixos para nosso padrão, talvez lugares com trabalho infantil que talvez não observem leis trabalhistas locais. Mas há características chave dos tipos de lugares sobre os quais eu gostaria de falar com você hoje, Kennedy, e esses são lugares no quais as pessoas escolhem trabalhar, reconhecidamente como opção a outros lugares muito ruins” (grifo nosso). Avançando no documentário, no minuto 16:24, Powell retoma sua primeira declaração sobre sweatshops, dizendo que “trabalhos nos sweatshops parecem condições terríveis de trabalho e salários para qualquer um no ocidente que é saudável o suficiente para possuir uma TV e assistir ao seu vídeo. Mas temos que ter em mente que as alternativas disponíveis para esses trabalhadores não são as nossas próprias alternativas. Elas são muito piores do que as nossas e geralmente são muito piores do que aquelas que os trabalhadores fabris têm”.





9

Kate Ball-Young, ex-gerente de sourcing da marca Joe Fresh, diz “Me incomoda que pessoas estejam trabalhando em fábricas, fazendo roupas para americanos ou para, você sabe, europeus? Ou que eles estejam – estejam gastando suas vidas dessa maneira? É isso que você está me perguntando? Não. Digo, você sabe, eles estão fazendo o trabalho deles. Há coisas muito piores que eles poderiam estar fazendo.” Minutos depois, após um corte do documentário que traz a declaração de Benjamin Powell sobre o que são sweatshops, Kate Ball-Young retoma sua fala, declarando que “não há nada intrinsecamente perigoso em costurar roupas. (risadas) Então nós começamos com, você sabe, uma indústria relativamente segura. Não é como mineração de carvão ou de gás natural, ou um bando de outras coisas que você poderia... que são muito mais perigosas” (grifo nosso). Ao analisarmos o presente objeto discursivo, percebemos que a soberania mencionada por Mbembe (2003) e Banerjee (2008) se impõem de maneira clara e inescapável, mas sempre sob o manto do discurso de desenvolvimento e melhores opções para trabalhadores em situações miseráveis. Os mesmos argumentos trabalhados acima para justificar a ação da lógica de mercado das empresas de moda rápida em países em desenvolvimento poderia ser transplantada para a análise desse objeto discursivo. No mesmo cenário de imperialismo neoliberal com técnicas discursivas próprias e verniz de benevolência, vemos que reforça-se o abismo que separa o ocidente desenvolvido das áreas mais pobres e que se convencionou chamar “em desenvolvimento” do planeta. Isso se deve ao fato dos discursos de civilização e desenvolvimento estarem associados à noção de soberania, que por sua vez é uma noção constituída com base no colonialismo e no imperialismo (Banerjee, 2008). A soberania, afirma Banerjee (2008), sempre esteve associada aos termos “civilizado” e “desenvolvido”. Essa diferença é reconhecida por Benjamin Powell quando afirma que as condições de trabalho nos sweatshops podem parecer ruins para um ocidental, mas que as alternativas para os trabalhadores fabris não são as mesmas que nós possuímos. Ao construir seu argumento dessa maneira, Powell reconhece de certa forma que as condições de trabalho não são adequadas, mas a lógica operando aqui é a de que os sweatshops oferecem aos trabalhadores da indústria têxtil uma oportunidade de ouro frente ao quadro desolador que se coloca a sua frente. Essas oportunidades seriam uma espécie de “mal menor”, uma vez que existem coisas muito mais perigosas (grifo nosso) do que costurar roupas, segundo Ball-Young. Nos parece que a prática da soberania das empresas de moda rápida em países em desenvolvimento naturaliza de certa forma e em certo grau a total desconsideração pelas vidas de milhares de trabalhadores, podendo traduzir-se numa forma de violência disfarçada pelo discurso de desenvolvimento. Conforme aponta Banerjee (2008, p. 1544), esses trabalhadores fabris se aproximam, de certa forma, da noção de homo sacer do direito romano, que se traduz em vidas sem valor para os deuses e, portanto, que não poderiam ser sacrificadas, mas, por outro lado, poderiam ser mortas impunemente uma vez que estavam condenadas a não ter valor para a sociedade.





10

4. Conclusão Procuramos através do presente trabalho elencar e analisar os objetos discursivos presentes nas falas de defesa do mercado de moda rápida que fazem parte do documentário The True Cost (2015). Percebemos que ao descrever como tais objetos se formam, ainda que brevemente, conseguimos identificar alguns dos relacionamentos que caracterizam a prática discursiva do mercado de moda rápida e de seu processo de produção. Destacamos que a defesa dessa lógica de mercado se traduz, em primeiro lugar, na submissão aos seus mecanismos de negociação e que esse objeto é usado como justificativa por empresários de países em desenvolvimento para se manter atuantes no mercado. “Aceite os termos ou abandone o jogo” parece ser o binômio de opções que rege a relação entre as empresas de moda rápida e os fabricantes que produzem para elas. Vimos também, sem segundo lugar, o objeto discursivo do desenvolvimento que a presença de sweatshops traz para regiões do globo carentes, principalmente, de trabalho. Por fim, em terceiro lugar, destacamos que tais trabalhos são caracterizados, de acordo com o terceiro objeto discursivo identificado, como a melhor opção para as pessoas em regiões em desenvolvimento, que contam tão-somente com alternativas ainda mais degradantes. Todos esses objetos discursivos criados pela lógica dominante do neoliberalismo e sustentadas por práticas de mercado e até mesmo pela ideologia de marketing, estão inseridos num contexto muito mais amplo que envolve questões com origens no colonialismo e no imperialismo e que contemporaneamente se traduzem no que se convencionou chamar de necropolítica (Mbembe, 2003) e necrocapitalismo (Banerjee, 2008). O neoliberalismo é tido como uma forma radical de imperialismo capitalista e enquanto a espada do comércio era mais ativamente visível na era do imperialismo, sua atividade na era pós-colonial dá continuidade à violência de uma forma mais sutil e dissimulada (Banerjee, 2008, p. 1546). Como bem coloca Said (1993 como citado por Banerjee, 2008), “o poder retórico produz facilmente uma ilusão de benevolência quando empregado num cenário imperialista”. Vemos isso retratado claramente ao longo do documentário The True Cost (2015), principalmente nas falas dos representantes do mercado de moda rápida quando tentam justificar sua atuação em locais como Índia e Camboja. Os objetos discursivos destacados revelam relações que nos levam a acreditar que as vidas de milhões de pessoas, entre eles, principalmente, os incontáveis trabalhadores da indústria têxtil, são totalmente desconsideradas dentro da cadeia produtiva de moda rápida, que se volta exclusivamente para o lucro. Ao desconsiderar todas essas vidas e o impacto nefasto que exerce sobre elas, tal indústria atua de forma violenta (Bouchet, 2015), violência essa naturalizada pelo discurso de desenvolvimento. Poderíamos dizer que a indústria de moda rápida trata essas pessoas, esses trabalhadores assim como seus consumidores tratam os produtos que ela produz: como coisas baratas e descartáveis e, em última instância, sem nenhuma importância. 5. Referências Alvarenga, L. (1998). Bibliometria e arqueologia do saber de Michel Foucault-traços de identidade teórico-metodológica. Revista do IBICT- Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, v. 27, n. 3 Banerjee, S. B. (2008). Necrocapitalism. Organization Studies, 29(2), pp. 1541-1563 Barnes, L., & Lea-Greenwood, G. (2006). Fast fashioning the supply chain: Shaping the 11

research agenda. Journal of Fashion Marketing and Management, 10, no. 3, pp. 259–71. Bhardwaj, V., & Fairhurst, A. (2010). Fast fashion: response to changes in the fashion industry. The International Review of Retail, Distribution and Consumer Research, 20(1), pp. 165-173. Bouchet, D. (2015) What is Violence? Journal of Macrmarketing. Vol. 35, No. 1. Cooper, S., Mcloughlin, D., & Keating, A. (2005) Individual and neo-tribal consumption: tales from the Simpsons of Springfield. Journal of Consumer Behavior, v.4, n.5, pp.330-344. Costa, F. Z. da N., Guerra, J. R. F., & Leão, A. L. M. de S. (2011). O solo epistemológico de Michel Foucault: possibilidade de pesquisa no Campo da Administração. III Encontro de Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade (EnEPQ), João Pessoa/PB – 20 a 22 de novembro de 2011 Dreyfus, H., & Rabinow, P. (1995) Michel Foucault, uma trajetória filosófica: para além do estruturalismo e da hermenêutica. Forense Universitária: Rio de Janeiro. Eckhardt, G. M., Dholakia, N., & Varman, R. (2013). Ideology for the 10 Billion: Introduction to Globalization of Marketing Ideology. Journal of Macromarketing, 33(1), pp. 7-12. Fairclough, N. (1992). Discourse and Social Change. Polity Press. Cambridge: UK. Fleming, M., Pereira, M., Sauerbronn, J. F. R., & Vieira, F. G. D. (2014). Serra Pelada enquanto um Sistema de Marketing – Uma Análise Fundamentada no Macromarketing. Artigo apresentado no V Congresso Nacional de Administração e Ciências Contábeis (AdCont), realizado no Rio de Janeiro, RJ, em 16 e 17 de outubro de 2014. Foucault, M. (2008). A Arqueologia do Saber. Forense Universitária: Rio de Janeiro Franks, J. (2000). Supply chain innovation. Work Study 49, no. 4, pp.152–156. Hirschman, E. C., & Stern, B. B. (1994) Women As Commodities: Prostitution As Depicted in the Blue Angel, Pretty Baby, and Pretty Woman in: ALLEN, C. T.; ROEDDER, D. J. Advances in Consumer Research, V.21, Provo, UT : Association for Consumer Research, p.576-581. Holbrook, M. B., & Grayson, M. W. (1986) The semiology of cinematic consumption: symbolic consumer behavior in Out of Africa. Journal of Consumer Research, v. 13, n.3, p.374-381. Ladson-Billings, G. (2000). Racialized Discourses and Ethnic Epistemologies. In: DENZIN, N.K. & LINCOLN, Y.S. Handbook of Qualitative Research (pp.257-277). Thousand Oaks: Sage Mbembe, A. (2003). Necropolitics. Public Culture, 15(1), pp. 11-40.



12

Rabinow, P. (1984) The Foucault Reader. Panthenon Books: New York Russell, C. A., & Stern, B. B. (2006) Consumers, characters, and products: a balance model of sitcom product placement effects. Journal of Advertising, v. 35, n.1. Silveira, R. A. da. (2002) Michel Foucault, Poder e Análise das Organizações. 197 p. Dissertação de Mestrado, Fundação Getúlio Vargas/EAESP, São Paulo, SP, Brasil. The Trus Cost (2015). Produção de Michael Ross, Lucy Siegle, Lívia Firth, Vicente Vittorio, Christopher Harvey e Laura Piety. Direção de Andrew Morgan. Recuperado em 23 de dezembro de 2015, de http://www.truecostmovie.com Tyler, D., Heeley, J., & Bhamra, T. (2006). Supply chain influences on new product development in fashion clothing. Journal of Fashion Marketing and Management 10, no. 3, pp. 316–28. Vieira, M. M. F., Lengler, J. F. B., & Fachin, R. C. Woody Allen e a desconstrução do mercado. In: PARENTE, J., WOOD, T., & JONES, V. (Org.). Gestão Empresarial: Estratégias de Marketing. São Paulo: Atlas, 2003. Westwood, R. (2003). Economies of violence: an autobiographical account. Culture and Organization, 9(4), pp. 275-293.





13

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.