O DEBATE KIERNAN. ELO POUCO CONHECIDO DO DEBATE DA TRANSIÇÃO

June 23, 2017 | Autor: M. Parisi | Categoria: Marxismo, Historiografía, British historians, Transição Do Feudalismo Ao Capitalismo
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RESUMO EXPANDIDO O DEBATE KIERNAN. ELO POUCO CONHECIDO DO DEBATE DA TRANSIÇÃO Maurício Orestes Parisi

Em 1946, é publicado na Inglaterra, Studies in the development of capitalism, pelo economista britânico Maurice Herbert Dobb mais conhecido entre nós como “A Evolução do Capitalismo” (DOBB, 19). Obra de síntese intelectual que oferecia um quadro explicativo para a transição do feudalismo para o capitalismo de notório brilho. Nos finais da década de 40, o economista estadunidense Paul Sweezy apresentou críticas ao modelo de Dobb. Para ele, a transição estaria centrada na expansão das relações mercantis e nas conseqüências daí advindas opondo-se a Dobb e sua defesa da centralidade das transformações ocorridas nas relações de produção. Grosso modo, estas seriam as proposições principais de um debate que se travou nas páginas da revista Science and Society e se espalhou mundialmente e teve contribuições de especialistas não-anglófonos como Giuliano Procacci, Albert Soboul e Kohashiro Takaishi. Este debate foi coligido e posteriormente editado pelo medievalista britânico Rodney Hilton (HILTON 1983). E é o próprio Hilton que aponta o papel fundamental do Debate da Transição para a consolidação da historiografia marxista e como aprendizado para os jovens marxistas na sua trajetória de luta pela superação do capitalismo e a construção do capitalismo. Esta história tornou-se bastante conhecida, aqui e alhures. Tornou-se um cânone. Não, obviamente, no sentido de ser descontruída ou demolida. E sim na perspectiva de ser compreendida dentro da história da própria sociabilidade comunista e dentro das polêmicas constituintes do próprio marxismo. O núcleo duro do Debate foi o trabalho dos historiadores vinculados ao Grupo de História do Partido Comunista da Grã-Bretanha.

Na contramão do que concebem muitos comentaristas da trajetória da historiografia, como Harvey J. Kaye (KAYE, 1995). Este grupo não era meramente um grupo de pesquisa e debate acadêmico e sim uma frente de massas do Partido; Comprometido com uma estratégia de transição para o socialismo – the british road to socialism ; Fortemente escorada nas Frente Populares e no antifascismo. Cabia ao grupo desenvolver concepções de história que apresentassem o papel das classes subalternas na história britânica e como estas eram o motor da transormação social no sentido progressista, contribuindo tanto para superar a crise do feudalismo, derrubar o absolutismo e democratizar verdadeiramente a sociedade que se industrializou. O grupo estava dividido em áreas setoriais que iam da idade média ao contemporâneo, com grande ênfase para o século XVII e, geralmente esquecido, um grande espaço para educadores escolares e para a história local. (HOBSBAWN, 1978).A direção do grupo coube a veterana militante Donna Torr – responsável pela tradução d’ O Capital para a língua inglesa e que enfatiza o papel da História como chave para a política britânica. A direção política coube a Rajani Palme Dutt, militante ligado à cúpula do PCGB; Entre 1946 e 1950, o Grupo realizou uma série de reuniões que resultaram e m várias minutas e relatórios. Parte essencial destas foi coligida pelo historiador David Parker em Ideology, Absolutism and the English Revolution (PARKER, 2008); Nestas discussões,destacam-se as

intervenções do historiador Victor Gordon Kiernan.

Recém-chegado da Índia para assumir um posto na Universidade de Edinburgo. Kiernan criticou uma ortodoxia que se formou a partir da obra de Christopher Hill, A Revolução Inglesa de 1640 (HILL, s/ data); Nesta obra, a revolução é vista destruindo um estado absolutista caracterizado como feudal, daí o seu caráter de revolução burguesa. Kiernan descorda desta caracterização e aponta elementos quer apontam a vinculação do Absolutismo às relações capitalistas no período Tudor e Stuart. Estas asserções estavam vinculadas às concepções de N. Pokrovski. Militante bolchevique e figura líder na institucionalização da historiografia marxista após a revolução de Outubro. Foi responsável pela afirmação do conceito de “Capitalismo Comercial”. Posteriormente, condenada como revisionista e reformista, porque apontava a possibilidade da burguesia assumir o poder de estado por uma via não revolucionária, que, por tabela, invalidaria também o papel revolucionário do proletariado.

Contudo, Kiernan aponta para além disto e introduz a discussão sobre a religiosidade – o papel do protestantismo – e das formas gerais de concepção ideológicas. Enriquecendo o debate para além do economicismo reinante. A proposta desta comunicação é como o Debate Kiernan ressaltou elementos da concepção materialista da História e como num momento de reorganização das visões de mundo vinculadas à sociabilidade comunista, fizeram parte da tendência de recuperar o papel da Totalidade no Marxismo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DWORKIN, Dennis. Cultural Marxism in Postwar Britain. Duke University Press. 1997

HILL, Christopher. A Revolução Inglesa de 1640. Lisboa. Editora Presença. S/ data HILTON,Rodney et all. A Transição do Feudalismo para o Capitalismo.Rio de Janeiro. Paz e Terra. 1983 HOBSBAWN, Eric J. The Historians’ Group of Communist Party.in. CORNFORTH, Maurice (ed.,) Rebels and their Causes. Essays in honour of A.L.Morton. London Lawrence and Wishart. 1978 KAYE, Harvey J. The British Marxist Historians. New York. St. Martin’s Press. 1995 PARKER,David (ed.) . Ideology, Absolutism and the English Revolution. London. Lawrence and Wishart. 2008

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