O Delírio de Babel: estudo sobre a articulação do golpe duplo na flauta

July 25, 2017 | Autor: Helder Teixeira | Categoria: Flute, Flute pedagogy, Flute performance
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TEIXEIRA, Helder da Costa - O DELÍRIO DE BABEL: ESTUDO SOBRE A ARTICULAÇÃO DO GOLPE DUPLO NA FLAUTA

O DELÍRIO DE BABEL: ESTUDO SOBRE A ARTICULAÇÃO DO GOLPE DUPLO NA FLAUTA Helder da Costa Teixeira (UFF) 1. INTRODUÇÃO A maneira mais simples de emitir um som num instrumento de sopro é dando um impulso na corrente de ar com um movimento da língua no momento em que pronuncia uma sílaba. Hipoteticamente o toque da língua em diversas partes da cavidade bucal, produz ataques de diferentes tipos, da mesma forma que a articulação oral numa língua falada. Segundo a fonética, "ciência que estuda os sons da linguagem do ponto de vista de sua articulação ou de sua recepção auditiva"1, O trabalho que os órgãos do aparelho fonador realiza, resulta em fones2: o menor fragmento lingüístico. As diversas possibilidades de diferenciação sonora capazes de serem emitidas, se devem ao movimento dos chamados articuladores móveis (língua, véu palatal, lábios) em direção aos fixos (dentes, palato), em diferentes posições. Somente por isso somos capazes de identificar os fones ou pequenas alterações sonoras suficientes para alterar o sentido de uma palavra. A atividade dos órgãos do aparelho fonador, resulta na modificação da corrente de ar, ora obstruindo ou interrompendo parcialmente o fluxo de ar. Os diferentes tipos de fones são classificados pela fonética em dois grupos distintos: 1- Quanto ao modo de articulação3 - A forma em que os sons são articulados. Os sons podem ser oclusivos ou plosivos, quando ocorre uma interrupção total da corrente de ar; ou constritivos ou fricativos, quando a interrupção do fluxo de ar é apenas parcial. 2- Quanto ao ponto de articulação4 - Trata-se da zona ou ponto onde um determinado articulador móvel toca em outro articulador fixo ou móvel para alterar a corrente de ar. Tais pontos podem ser classificados como: bilabiais, produzida por dois articuladores móveis (lábios). Exemplos [p], [b]; labiodentais, articulador móvel (lábios) + articulador fixo (dentes). Exemplos [f], [v]; linguodentais, articulador móvel (língua) + articulador fixo (dentes). Exemplos [t], [d]; alveolares, articulador móvel (língua) + articulador fixo (alvéolos dentários superiores). Exemplos [s], [l], [r]; palatais, articulador móvel(língua)+ articulador fixo (palato). Exemplos [ ∫ ](ch), [ 3 ](j), [λ λ ](lh); velares, produzida por dois articuladores móveis (parte posterior da língua + véu palatino). Exemplos [k], [g]. O poema seguinte demonstra, em seus modos e pontos de articulação, como pequenas alterações do movimento dos articuladores móveis e a zona que os mesmos atingem, modificam os fonemas alterando assim, o significado das palavras e, conseqüentemente o sentido das frases. 1

Elena LOVISOLO et alii, Dicionário da língua portuguesa, p. 201. A unidade da fonética, o som da fala. Dinah CALLOU & Yonne LEITE, Iniciação à fonética e à fonologia, p. 11. 3 Carlos Emílio FARACO & Francisco Marto de MOURA, Gramática, p. 28. 4 Idem, Ibidem, p. 29. 2

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COLAR DE CAROLINA5 Com seu colar de coral Carolina corre por entre as colunas da colina colore o colo de cal, torna corada a menina. E o sol, vendo aquela cor do colar de Carolina, Põe coroas de coral nas colunas da colina. Cecília Meireles

Características semelhantes devem possuir os sons produzidos através de instrumentos de sopro. Determinado modo de articulação provavelmente será capaz de tornar um som, mesmo de igual freqüência, diferente de outro. O aparelho fonador, é composto de diversos órgãos que atuam no caminho da respiração provocando resistência à coluna de ar, obstruindo-o total ou parcialmente por um curto período de tempo, produzindo assim o que chamamos de articulação. A articulação poderá ser sonora, se a laringe6 estiver na posição fonatória, ou muda, se a laringe estiver na posição respiratória7. Além do fundamental sistema respiratório, os principais órgãos articuladores são: os lábios, a língua, os dentes, o palato e o véu palatal. Estes órgãos nos oferecem os principais meios de obstrução sobre a coluna de ar, alterando e produzindo os mais variados sons que compõem as articulações orais. Para as articulações mudas, os mesmos órgãos são acionados, com exceção das cordas vocais. A maior diferença, portanto dos sons orais e os produzidos por intermédio de um instrumento de sopro, é basicamente a localização do instrumento vibrador que funciona como transformador de energia eólia8 em energia sonora. No caso da voz, o instrumento é as cordas vocais, que vibram antes da coluna de ar ser articuladamente secionada, e nos instrumentos de sopro, primeiramente a coluna de ar é picada e articulada para depois atingir o instrumento que responde aos estímulos da corrente de ar. Apesar dos resultados articulados serem hipoteticamente semelhantes, torna-se necessário ao instrumentista de sopro enviar a coluna de ar para o instrumento já muito bem definida com relação à articulação, para que o som, por este produzido, se mantenha claro e tenha uma resposta sonora veloz, o que é, sem dúvida, um fator preponderante na qualidade do som. Ar + cordas vocais + articulação = som da fala Ar + articulação + instrumento = som de um instrumento de sopro Pode-se ver no alto da próxima página uma representação gráfica da glote vista de cima no aparelho laríngeo. Completamente fechada. As cordas vocais se encontram totalmente aproximadas. Músculo tireo-cricóide tencionado. Posição fonatória9. 5

Cecília MEIRELES Apud Carlos Emílio FARACO & Francisco Marto de MOURA, Ibidem, p. 16. “ Órgão da fonação situado no trajeto das vias respiratórias, entre a faringe e a traquéia.” Idem, Ibidem, p. 262. 7 As cordas vocais são constituídas do músculo ‘tireo-cricóide’ que tem a forma de lábios. Em uma extremidade é ligado às cartilagens aritenóides, e em outra à tireóide. Em sua posição de relaxamento, as cordas vocais, se encontram afastadas não oferecendo resistência à passagem do ar (posição respiratória); quando tencionadas resistem ao fluxo da coluna de ar e vibram produzindo som (posição fonatória). Dinah CALLOU & Yonne LEITE, Iniciação à fonética e à fonologia, p. 18. / Bernardo EISENLOHR, A Respiração no Canto, Revista Brasileira de Música, v. 5 (4): 32-6. 8 Referente a Éolo, o deus do vento na mitologia grega do período Helênico. Energia produzida pela força do vento. Entende-se como sendo o fluxo da corrente de ar. 9 Jochen GÄRTNER, The vibrato with particular consideration given to the situation of the flutist, p. 76-8. 6

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Figura 1

A glote em sua abertura máxima. As cordas vocais se encontram afastadas. Músculo tireo-cricóide relaxado. Posição respiratória10.

Figura 2

Em geral, os fonemas utilizados para articular um som num instrumento de sopro são oclusivos; isto é, linguodentais, velares e bilabiais. Não obstante, existem algumas exceções como por exemplo o alveolar [r]11, usado em ritmos pontuados por alguns intérpretes. Entretanto, em sua maioria os fonemas constritivos são utilizados para efeito sonoro na música contemporânea. Outro ataque muito utilizado é o chamado diafragmático12. Este, também oclusivo, não se utiliza da língua nem outro órgão do aparelho fonador para obstruir o fluxo da corrente de ar. Dentre todas as técnicas de articulação, este ataque se destaca dos demais pela diferente forma de produção. Os primeiros fonemas utilizados pelos iniciantes, são os linguodentais [t] e [d], formando sílabas como: te, de, ti, di, tu, du. As articulações produzidas por sílabas repetidas, são chamadas de golpe simples. Este permite um certo controle sobre a intensidade sonora dos ataques visto que são realizados na mesma parte da cavidade bucal; porém, 10

Idem, Ibidem, p. 76-8. TAFFANEL, Paul, GAUBERT, Philippe. Méthode Complète de Flûte. p. 90. 12 O diafragma sendo um dos músculo da respiração, se contrai na inspiração e relaxa na expiração. Não é, portanto, o responsável direto pela obstrução do fluxo de ar que caracteriza o ataque oclusivo. Esta articulação é efetuada graças aos músculos abdominais que se tencionam enquanto o diafragma relaxa provocando assim uma resistência muscular e, consequentemente a obstrução do fluxo do ar. Apesar de ser imprópria esta nomenclatura, faremos uso dela apenas por razão nominal. Jochen GÄRTNER, The vibrato with particular consideration given to the situation of the flutist, p. 72-4. 11

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restringe a velocidade. Esta questão é solucionada através da adição dos fonemas velares [k] ou [g], interpolados ao golpe simples: te, ke, te, ke, ou: de, gue, de, gue, etc. Esta articulação conhecida como golpe duplo, resolve o problema da velocidade, mas, resulta numa desuniformidade do nível sonoro dos ataques velares em relação aos linguodentais. Uma articulação nítida ou marcada de forma homogênea, é difícil de ser obtida com a utilização do duplo golpe normal. Aparelho fonador

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Figura 3

A idéia de substituição da sílaba velar pela articulação diafragmática, pode ser aplicado 13

P. Mário MARAFIOTI, Caruso’s method of voice production, p. 67. ( * Articuladores Móveis. ** Articuladores Fixos.).

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de forma simples e com maior equilíbrio entre às primeiras (linguodentais) com relação às segundas (diafragmáticas). Podendo resultar assim, numa dupla articulação com clareza acima da obtida com os tradicionais fonemas velares. O trabalho apresentado não visa revolucionar ou substituir as milenares técnicas de emissão das notas nos instrumentos de sopro, mas entender como se dá o processo da articulação do som nos vários modos de ataque e propor alternativas de emissão dos sons, principalmente para o golpe duplo, que seja no mínimo tão eficiente quanto o conhecido, e dê ao intérprete uma possibilidade a mais de domínio das técnicas essenciais, não só da flauta, como dos demais instrumentos de sopro. Pretendemos enfocar três dos principais tipos de articulação nos instrumentos de sopro: linguodental, velar, e diafragmático; observando-os minuciosamente com as singulares características presentes em cada um deles a fim de verificarmos exatamente o que ocorre entre o instante em que a corrente de ar atinge o instrumento e a formação do som em cada tipo de ataque acima mencionado, nas diversas regiões do instrumento, comparando-os entre si, e buscando comprovar se de fato os pontos e os modos de articulação interferem no formante senoidal sonoro em função do tempo em cada tipo de ataque. Comparar ainda, os sons articulados musicais com a mesma articulação sonora falada, e experimentar um golpe duplo, tendo a articulação diafragmática como substituta da sílaba velar nos estágios pares desta técnica de emissão sonora, observar ainda o efeito variável causal proveniente dessa hipótese, e compará-la com a técnica tradicional. 2. OBJETIVOS 1- Estabelecer um paralelo das várias formas de articulação da fonética com as técnicas de emissão de som na flauta; representando graficamente cada ataque, a fim de compará-los no momento da articulação. 2- Comprovar ou refutar, no decorrer da pesquisa, que a substituição da articulação velar pela "diafragmática" no golpe duplo, deixa o mesmo mais nítido e equilibrado no tocante a intensidade sonora. Resultando assim numa articulação dupla de qualidade, proporcionando uma nova alternativa à tradicional técnica. 3. METODOLOGIA E ORGANIZAÇÃO DA PESQUISA a. TRABALHO DE CAMPO Registro sonoro das articulações faladas e tocadas na flauta com diferentes tipos de ataques oclusivos, utilizando-se de aparelhos apropriados para medir e diferenciar os sons da fala. b. PESQUISA EXPERIMENTAL Pretende-se comparar os sonogramas obtidos do registro sonoro realizado no trabalho de campo, a fim de observar as supostas diferenças existentes entre os diversos tipos de articulação, primeiramente da fala e em seguida na flauta. Será realizado um experimento com um sistema de avaliação "antes/depois". Uma gravação de um pequeno trecho em golpe duplo tradicional servirá como referência de controle e outra gravação, já inserida a variante no golpe duplo, será utilizada como variável experimental a fim de comparação. A medida "antes" servirá como controle na proporção em que se supõe que represente o nível da variável dependente, na ausência do tratamento experimental. E a medida "depois" como variável causal. No término desta etapa as gravações serão confrontadas e analisadas, comprovando ou 179

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não, a eficácia de uma articulação dupla sem a utilização das sílabas velares. 4. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA As primeiras experiências fonatórias do homem, não eram diferentes dos sons produzidos pelos animais, ou seja, os sons eram psiquicamente associados às atividades vitais, como por exemplo a emissão de um som a fim de alertar para a presença de um intruso que representasse perigo para o grupo. Todavia, diferindo dos animais, o homem atentava para o sentido sonoro e não somente para o som propriamente dito.(Léontiev, 1975?:22-7). Naturalmente, o período da gênese do conhecimento do homem estava lentamente aflorando em todas as áreas. A linguagem, os sons, a observação do meio em que viviam; enfim, tudo era realmente novo para aqueles, que foram de fato os pais da humanidade. Dentre esses pioneiros, nos chama atenção aquele cuja existência esteve ligada a origem da arte de emitir sons musicais. Jubal figura no livro de Gênesis como o “ pai de todos que tocam harpa e flauta” 14. Sua matéria-prima para confecção de seus instrumentos era, sem dúvida, o mais rudimentar possível: ossos, tripa de carneiro, bambu, etc. Deste pioneirismo, surgiram os primeiros instrumentos musicais que se tem notícia, e originaram o desenvolvimento de uma série de outros instrumentos musicais que produziam sons com timbres diversos. Independentemente da primitividade dos instrumentos de sopro, os mesmos, como a comunicação oral, necessitavam de uma ação articulatória para que o som fosse gerado. Se o objetivo de Jubal, por exemplo, ao soprar pela primeira vez num gomo de bambu, fosse imitar o som do canto de um pássaro, provavelmente teve que experimentar diversos pontos de articulação15 para se aproximar do que considerava um modelo estético. A dialética causada pela insatisfação de um modelo, ou perfeição, sempre almejado mas nunca alcançado, gerou o estudo de técnicas de emissão dos sons baseado, consciente ou inconscientemente nos fones16 da fala. Assim sendo, juntamente com o próprio instrumento, surgiu a preocupação com a técnica de emissão dos sons através do sopro. A gênese, tanto da linguagem oral como da música, estão assim, intimamente ligadas. Parece provável que os primeiros sons com freqüência definida (sons musicais), tenham sido os sons da fala, pois musicólogos que estudam as músicas de povos contemporâneos com cultura arcaica - os aborígenes da Terra do Fogo ou os Vedas do Sri Lanka -, mencionam de imediato a ausência da música puramente instrumental. A teoria mais difundida no meio científico sobre a origem da música é ainda a da tentativa da representação dos sons extraídos da natureza. (Léontiev, 1975?:22-7). Quando a linguagem oral começou a ser empregada, já se somava um certo número de articulações, as quais, variadas formavam as raízes das primeiras palavras. Através do pré-estabelecimento de um código sonoro, o homem começou a compreender o sentido das palavras manifestas através de sílabas variadas. No princípio os sons eram curtos, plosivos, sibilados, fricativos e expirados. Enfim, a capacidade de emissão do som desde o momento em que o homem começou a aplicá-los com intuito de comunicação, até estabelecer um código sonoro comum, não se multiplicou, desde que levado em conta a desenvoltura do aparelho fonador. Estes sons são produzidos graças as modificações da corrente de ar alterada por 14

Gênesis 4 . 21. Russell Phillip SHEDD, Bíblia vida nova, N.T. p. 112. Local ou zona onde os órgãos articuladores secionam e modificam a corrente de ar. Carlos Emílio FARACO & Francisco Marto de MOURA, Gramática, p. 16-29. 16 A unidade da fonética, o som da fala. Dinah CALLOU & Yonne LEITE, Iniciação à fonética e à fonologia, p. 11. 15

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intermédio de diversos movimentos dos órgãos que integram o aparelho fonador, obstruindo totalmente, ou apenas criando certa resistência à passagem do ar, formando assim, sons definidamente distintos. Desta forma a articulação oral tornou-se via de regra para a comunicação idiomática, uma vez que era necessário produzir sílabas e sons distintos para definir verbalmente a expressão pretendida. Uma linguagem se difere de outra por diferentes sons preestabelecidos que caracterizam as palavras de uma língua vernácula. Apesar de ser grande o número de vocábulos diferentes entre um e outro idioma, os sons de qualquer idioma são praticamente os mesmos, pois estes são limitados aos aspectos fisiológicos e fonatórios. Esta dualidade pós-Nimrodiana17 relativa aos sons fonatórios dividiu os objetos de estudo em dois distintos grupos: a fonologia18, que se ocupa do estudo dos sons dentro de um determinado idioma e a fonética19, que trata dos sons produzidos pelo homem de uma forma geral, não importando a língua ou significação de determinado som para uma cultura. (Callou & Leite, 1990:11). Para que uma frase seja bem compreendida, é necessário que seja bem articulada, para não criar no intervalo de um e outro som, um terceiro e indefinido som que venha confundir a mensagem por não fazer parte do código preestabelecido em uso. A necessidade da articulação ser bem definida, integra o falar bem e evidentemente deve ser observado em qualquer idioma, exatamente para que confusões como de balal e babel nunca mais ocorram. O legado de Nimrod, é para os estudiosos da fonologia, o ponto de partida para o emaranhado das significações dos sons da fala, porém constitui um veneno inócuo para a fonética, pois esta preocupa-se especificamente de todos os sons produzidos pela fala. Todo e qualquer som advém de uma ação, constituindo-o assim, numa reação subordinada à idéia previamente estabelecida. O som dos idiomas, ou os produzidos pela voz, são e estão subordinados às suas limitações físicas, por isso, não satisfeito com a gama de sons produzidos pela natureza que o cercava, sem poder reproduzi-los, passou o homem a se utilizar de instrumentos que o permitem produzir uma grande diversidade sonora que amplia os resultados sonoros de suas idéias, e cria assim uma forma de expressão não obtida através de um código sonoro estabelecido que é decifrado pelo intelecto. Os mais brilhantes músicos, intérpretes de instrumentos de sopro escreveram diversos 17

Nimrod foi um grande guerreiro e caçador. Fundador e rei de Babilônia. “ Partindo do oriente, fundou diversas cidades. Achando uma planície na terra de Sinear (Suméria), antiga Babilônia, edificou ali uma cidade, e no meio dela iniciou a construção de uma torre cujo o objetivo era que seu cume atingisse o céu. A intenção desta obra é incerta, poderia ser: ostentação, um zigurate, ou mesmo para demarcar com grandiosidade um território, aumentando assim o prestígio da cidade, ou ainda, quem sabe, pensava poder realmente atingir as moradas de algum deus. Porém, Deus confundiu a linguagem do povo que se dispersou e cessaram de edificar a torre, e aquele local ficou conhecido como Babel, que significa no hebraico ‘Porta de deus’ ou como é tradicionalmente traduzido pela etimologia popular com sentido de ‘confusão’, pois o termo hebraico balal é parecido com babel, embora possuam significados diversos. A associação verbal entre as duas palavras as tornaram sinônimas especialmente após o relato bíblico sobre a confusão das línguas. O épico babilônico sobre a criação, ao descrever a edificação de Babilônia no tablete 6 linhas 58-61 diz: “ durante um ano inteiro eles fabricaram tijolos. Ao chegar o segundo ano, eles levantaram alto a cabeça de Esagila” (o santuário de Marduque). SHARKALISHARRI Apud Russell Norman CHAMPLIN & João Marques BENTES, Enciclopédia de bíblia, teologia e filosofia, vol. 1, p. 421. Gênesis 11:1-9. Russell Phillip SHEDD, Bíblia vida nova, p. 16. A descrição da construção deste zigurate babilônico, está de acordo com a narração bíblica com relação aos tijolos cozidos e a utilização de asfalto como argamassa (Gênesis 11:3). A própria torre, segundo descrição babilônica, se chamou Etemenanki, que significa casa do alicerce do céu e da terra. Depois da dispersão do povo, Nimrod emigrou para a região da Assíria e edificou várias outras cidades entre elas a cidade de Nínive. Gênesis 10-1. Russell Phillip SHEDD, Bíblia vida nova, p. 15-6. / Helder TEIXEIRA, O legado do Verbo no império de Chrónos, p. 29. 18 “ Ciência que trata dos fonemas do ponto de vista de sua função numa língua dada.” Elena LOVISOLO et alii, Dicionário da língua portuguesa, p. 201. 19 Ciência cujo objeto de estudo engloba todos os sons da fala, independente de determinada língua ou dialeto. 181

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métodos onde o conhecimento empírico e o obtido através da transmissão oral consistiam a principal fonte de conhecimento desde as primeiras experiências musicais vividas pelo homem, que buscava uma forma de emissão dos sons que fosse naturalmente bela e clara como a articulação das palavras numa língua falada. A constante técnica sobre a emissão do som nestes métodos dão conta que a maneira mais fácil para um iniciante emitir um som na flauta, é utilizar uma sílaba que dê um impulso na corrente de ar, para que o som comece quase que imediatamente na medida em que o ar atinge o instrumento. Esta sílaba deve ser plosiva, isto é, deverá represar o fluxo da corrente de ar e liberá-la de uma só vez. A articulação linguodental intermitente (golpe simples), além de restringir a velocidade, devido ao esforço muscular repetitivo da língua, que no caso é o articulador móvel, poderá deixar as articulações muito agressivas visto que a oclusão dos ataques são semelhantes. Segundo alguns métodos, este ataque pode ser amenizado se alterarmos a área do toque da língua, dentro da mesma zona linguodental, mudando sensivelmente o ponto de articulação de ‘te’ para ‘de’. Não obstante uma sílaba ser mais sonora que outra, o que realmente importa na articulação das notas num instrumento de sopro são os pontos de articulação das consoantes, visto que a glote trabalha em posição respiratória não havendo, portanto, som de sílabas sonoras. Assim sendo, não há na verdade diferença entre o ‘te’ para o ‘de’, a não ser na sonoridade da sílaba, que é provocada pela laringe na posição fonatória. O ponto linguodental é único, assim como os demais. Em contrapartida a igualdade do golpe simples, no tocante a igualdade sonora, o desequilíbrio do duplo golpe, apesar de sua significativa presteza, é patente. A agilidade deste tipo de golpe deve-se ao descanso dos músculos na alternância dos articuladores. Muitos outros tipos de articulação são possíveis na flauta. Os fones oclusivos, de uma forma geral podem ser empregados em diversas situações em todos os estilos musicais; porém, cada uma dessas articulações possuem qualidades que se aplicam melhor em determinados casos. Por exemplo: os bilabiais [p] ou [b] são ótimos para ataques em ‘pp’; o alveolar vibrante [r] funciona muito bem para ritmos pontuados (Quantz, 1966:71-85). Os demais ataques, constritivos ou fricativos, praticamente não são utilizados pelo fato do ataque em si já produzir uma grande quantidade de massa sonora indesejável para a clareza almejada do som musical, porém algumas composições contemporâneas, sugerem a possibilidade de uso dessas raras articulações. Nos diversos e mais importantes métodos da flauta moderna20 é ensinado o golpe duplo com uma sílaba velar nos intervalos das linguodentais. O ataque diafragmático não tem feito parte das técnicas de emissão contidas nesses métodos. A transmissão oral dos grandes mestres da flauta é ainda a principal fonte de conhecimento desta e de outras técnicas que não estão inclusas em método algum. Pode-se definir articulação como sendo a forma, ou a maneira, pela qual um som começa e se finda, e o espaço de tempo existente entre um som, que termina, e o seguinte, que se inicia. Assim, um som é definido nos primeiros instantes de sua formação. A presença de cada harmônico, múltiplo da freqüência fundamental, e o momento em que se faz presente, deverá determinar a clareza de certas articulações. Este é um fator de grande importância num som, pois as diferenças dos pontos de articulação provavelmente modificam a velocidade da formação do espectro sonoro, no momento de sua gênese. O som produzido 20

Referente às modificações realizadas no instrumento desde o formato cilíndrico do tubo até o desenvolvimento de um novo sistema mecânico desenvolvido por Theobald Böhm com a colaboração de Gordon entre 1831-3. Pierre-Yves ARTAUD, La flauta, p. 28-9.

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pelo fone oclusivo velar [k], por exemplo, deverá ter um espectro harmônico inicial diferente da vogal exalada [e]21, e estas supostas diferenças deverão ser observadas nos primeiros milisegundos de formação do espectro destes sons. Neste aspecto é que podemos conhecer uma articulação: o tempo em que as parciais de um som se formam definindo assim seu timbre num espaço de tempo mais ou menos imediato. Utilizando-se do programa “ SoundScope 1.27 f” num equipamento Macintosh Quadra 700, com placa Audiomidia II, freqüência de amostragem de 44.1 KHz, e microfone Shure Unydine B do laboratório de fonética da Faculdade de Letras da UFRJ, observaremos pormenorizadamente alguns sons da fala, e tentaremos estabelecer a diferenciação da formação do sonograma no íctus das três articulações: a linguodental [t], a velar [k] e a diafragmática [e]. É importante lembrar que quando a glote se mantém na posição fonatória, as cordas vocais vibram produzindo som antes da articulação. Já no caso deste órgão na posição respiratória, o ar é primeiramente articulado para, somente depois de atingir o instrumento fazendo-o vibrar, se transformar em som. Algumas considerações tornam-se necessárias para melhor compreensão dos gráficos seguintes: 1- Todas as gravações realizadas foram executadas na flauta, contudo os demais instrumentos de sopro podem se utilizar desta pesquisa aplicando as técnicas aqui mencionadas com algumas alterações. Os metais, por exemplo, são instrumentos em que se pode aplicar perfeitamente os três tipos de articulação aqui abordados. Já com os instrumentos de palheta simples e dupla (clarineta, oboé, fagote, etc) o mesmo não acontece, exatamente por ter o acesso dos articuladores fixos obstruídos pela palheta ou boquilha. Neste caso o articulador fixo é a própria palheta ou boquilha, o que vem dificultar a observação dos pontos de articulação. 2- Os gráficos representam a formação do som expresso numa função de tempo, em milisegundos (horizontal) X freqüência, em Hertz (vertical). 3- A parte inferior do quadro demonstra a onda sonora numa variação de energia de 010, expressa em Volt. 4- O gráfico no canto superior direito (kHz X dB) corresponde ao nível sonoro de cada parcial no momento em que uma linha branca vertical corta todos os harmônicos no quadro principal. Os níveis sonoros bem como todas as freqüências são calculadas imediatamente abaixo no quadro de notas. 5. PARTE A - Sons da fala Esta primeira parte é reservada aos sons da fala, que será representado em três gráficos, um de cada um dos três tipos de articulação em questão. É apresentado em zoom aplicado sobre os gráficos demonstrando a formação dos mesmos sons no instante da pronúncia oral, com o tempo estabelecido em 10 milisegundos. Figura 122 - Representação gráfica em escala de 10 ms. Pode-se observar uma oscilação, que se apresenta em forma de ranhura antes do início do som da vogal, 21

As vogais são produzidas pela exalação do ar que faz vibrar as cordas vocais e não se utiliza nenhum órgão do aparelho fonador para sua emissão. Por isso comparamos o som das vogais ao ataque diafragmático que é produzido da mesma forma estando, contudo, a glote em posição respiratória. “ Vogal é o fonema produzido pelo ar que faz vibrar as cordas vocais e que não encontra nenhum obstáculo na sua passagem pelo aparelho fonador.” . Carlos Emílio FARACO & Francisco Marto de MOURA, Gramática, p. 21. 22 As figuras a que se referem encontram-se no Apêndice deste artigo 183

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característica particular da articulação linguodental do fonema [t]. Sobre esta oscilação aparecem alguns harmônicos em várias freqüências, antes do estabelecimento dos harmônicos definitivos. Figura 2 - Som da sílaba velar ‘ke’ numa representação gráfica em escala de 10 ms. Nota-se um tempo de aproximadamente 50 ms até o surgimento da vogal sonora [e]. A oscilação presente na articulação desta sílaba especificamente, requer um maior espaço de tempo para se realizar; e resulta numa grande concentração de harmônicos durante a obstrução do ar pelos articuladores móveis já antes mencionados. Compare a forma da onda sonora das vogais, após as ranhuras, com a figura 1. Figura 3 - O zoom aplicado ao início do som da vogal [e], nos revela com clareza a pureza do som exalado. Com a ausência da articulação de uma consoante oclusiva o som apresenta imediatamente a senóide com harmônicos definitivos, aumentando a energia na medida em que progride o tempo até o som se estabelecer totalmente. Após observados os gráficos das sílabas fonadas, tendo já visto comprovadamente as diferenças entre cada tipo de articulação fonada, compare com os gráficos seguintes que correspondem a diversos sons tocados na flauta utilizando-se das mesmas articulações, porém com a glote na posição respiratória. 6. PARTE B - Sons da Flauta Apresenta os gráficos dos sons tocados na flauta com os três tipos de articulação em questão, em diversas freqüências entre os registros grave, médio e agudo do instrumento; buscando uma comparação entre estes e os sons fonados apresentados nos gráficos da primeira parte. Por motivos pragmáticos apresentamos no presente trabalho apenas um som de cada oitava (G3, G4, e G5), com suas respectivas articulações. Contudo foi realizado todos os tons diatônicos entre G3 e G5, não sendo necessário a apresentação de todos, senão dos resultados observados. Figura 4 - G3 com articulação linguodental [t]. Tempo de 0,41 s, apresentado numa ampliação com corte e uma projeção gráfica em escala de 10 ms. No instante do ataque da nota percebe-se uma grande presença de harmônicos concentrados acima da faixa de 5000 Hz. A freqüência mais intensa é a primeira parcial (segunda linha horizontal), que corresponde a uma freqüência de 732 Hz com 65 dB. Veja quadro de notas no gráfico. Figura 5 - G3 com articulação velar [k]. Tempo de 0,39 s projeção em zoom de 10 ms. Em relação ao gráfico anterior, apresenta uma oscilação mais extensa antes da onda sonora. Acima desta oscilação, uma grande massa de harmônicos dissolvidos em toda a série harmônica aparece num espaço de tempo acima de 40 ms. O harmônico mais intenso é de 1421 Hz com 68 dB (quarta linha horizontal). Figura 6 - G3 com articulação diafragmática. Apresenta poucos harmônicos anteriores ao som no ato da articulação. Dos três ataques nesta freqüência, esta forma de articulação foi a que apresentou um som mais rico em harmônicos. A parcial mais intensa é de 1550 Hz com 71 dB (quarta linha horizontal). Comparando as figuras das articulações da fala com as tocadas na flauta, percebemos que o fato das articulações das notas na flauta ocorrerem antes do ar atingir o instrumento e produzir o som, altera o comportamento da articulação em relação as sílabas faladas como mostra os gráficos. Com a ampliação através do zoom, percebe-se 184

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uma sensível diferença entre as articulações linguodental (fig. 1) e diafragmática (fig. 3) em relação à velar (fig. 2). Parece ocorrer no início de cada som velar uma pequena oscilação não percebida nos outros dois tipos de ataque no primeiro registro do instrumento (grave), bem como a boa qualidade da articulação diafragmática demonstrado em todos os sonogramas dos sons nesta região da flauta. Figura 7 - Articulação linguodental do som G4, primeira parcial de G3, com tempo de 1,2 s mostrado com corte o início do som ampliado em zoom numa escala de 10 ms. Além da presença de undertones23 e de harmônicos de alta freqüência caracterizando a plosividade do ataque, o espectro apresenta uma série de harmônicos no início do som que não fazem parte da série definitiva. A freqüência mais intensa é de 1593 Hz com 82 dB. Figura 8 - Articulação velar [k] do som G4, com tempo de 0,62 s mostrado numa escala de 10 ms. Os harmônicos espalhados em toda a série harmônica no instante do ataque, revela a qualidade de um som plosivo. A freqüência principal é a fundamental de 775 Hz com 83 dB. Figura 9 - Articulação diafragmática do som G4. Tempo 0,72 s mostrado com zoom de 10 ms. Possui um espectro inicial menos plosivo e a série harmônica definitiva se formou rapidamente, porém pobre em relação aos outros tipos de ataque nesta freqüência. O som fundamental, 775 Hz, é o mais intenso com 84 dB. Figura 10 - Articulação linguodental no ponto [t] de G5, com tempo de 0,36 s num gráfico com ampliação de 10 ms. Segunda parcial de C4 ou terceira de G3. Apesar da presença de undertones, o ataque é brando. A fundamental de 1593 Hz, é a freqüência mais intensa com 86 dB. Figura 11 - Articulação velar no ponto [k] de G5, em tempo de 0,31 s em ampliação gráfica com zoom de 10 ms. Ataque brando com presença de undertones. Fundamental de 1593 Hz é a freqüência mais intensa com 85 dB. Figura 12 - Articulação diafragmática de G5. Tempo de 0,49 s e gráfico ampliado com zoom de 10 ms. Presença leve de alguns harmônicos no início do som. Ataque brando. 7. CONCLUSÃO I Todo intérprete trabalha as diversas articulações, com a finalidade de deixá-las semelhantes no que se refere ao modo de articulação. A qualidade resultante deste estudo muitas vezes está dentro de um patamar em que criticamente os mais renomados profissionais consideram perfeito. No entanto, após a observação de cada ataque expresso em vários gráficos, notamos que na primeira oitava do instrumento, a articulação diafragmática parece ter se mostrado um pouco mais eficiente que as demais, e na segunda oitava o único tipo de articulação a não apresentar undertones em nenhum dos gráficos, o que não é suficientemente determinante para a comprovação de uma qualidade superior de ataque. As diferenças entres as articulações são mínimas e praticamente desprezíveis, pois observa-se que as notas por vezes são mais plosivas do que se deseja, e que o ponto de articulação velar [k], ao qual imaginava-se mais plosivo em comparação ao linguodental e ao diafragmático, com exceção da primeira oitava, mostrou-se eficiente de igual forma: 23

“ Sons que soam abaixo da fundamental.” Ocorre somente quando o som fundamental faz parte da série de outro som. Helder TEIXEIRA, O legado do Verbo no império de Chrónos, p. 81. 185

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brando com resposta veloz, e algumas vezes indesejavelmente plosivo e lento. As articulações representadas nos gráficos acima, foram gravadas buscando-se esconder o modo de articulação, isto é, os pontos de articulação não foram exagerados para aparecer diferenças nítidas, porque nos interessa saber a diferença das articulações dentro de uma normalidade articulatória, ou seja, uma articulação ‘idêntica’ em todos os tipos de ataque. O controle da oclusão da articulação, se enérgico ou brando, parece ser possível somente nos extremos, porém muitas vezes um ataque normal entra num estágio de meio termo entre estes dois extremos, e neste sensível ponto não há total controle. Ora o ataque se mostra mais enérgico que o desejado, e ora surpreendentemente brando. Mesmo a articulação diafragmática mostrou-se instável, em relação ao controle oclusivo, principalmente a partir da região média. Ponto marcante que se pode ter por concreto, baseado na observação dos gráficos, é a questão da dificuldade do controle de uma articulação suave. Os sons, de forma geral foram gravados buscando este tipo de ataque, contudo nota-se nos gráficos que muitos dos sons têm características de ataques de oclusão enérgica. Parece ser mais fácil articular plosivamente os sons do que torná-los suaves, e especialmente na região dos sons reais (primeira oitava). Os sons da região aguda foram os que reagiram com maior índice de acerto aos ataques brandos, independentemente do modo de articulação empregado. Neste ponto pode-se de imediato concluir que nenhuma grande diferença, além das que já foram apresentadas, é visível nos gráficos relativo à superioridade de uma articulação em relação à outra, para que se justifique uma substituição de qualquer articulação por outra dentro do contexto do golpe duplo. Contudo bastando para a pesquisa a comprovação de não ser qualquer uma das articulações inferior à outra - a não ser no aspecto da velocidade de produção sucessiva, pois a articulação diafragmática movimenta músculos maiores, mais fortes e consequentemente mais lentos - passamos a conjeturar sobre a questão central mais vívida e persuasivamente determinística da presente dissertação: a comparação da eficiência das articulações velares e diafragmáticas no contexto do golpe duplo. 8. PARTE C - Golpe Duplo Muitas vezes a sensação sonora obtida durante a execução desta técnica, é de um staccato simples, dado a perfeição com que alguns intérpretes a produzem. Esta sensação é coerente mediante ao observado nos gráficos de comparações dos ataques, que muitas vezes se mostraram semelhantes. Observaremos então a seguir as articulações velares e diafragmáticas inseridas no golpe duplo e a formação dos espectros sonoros destes sons com uma e outra articulação. As figuras apresentadas doravante correspondem ao golpe duplo realizado na mesma freqüência em três regiões diferentes da flauta: B3 (grave), B4 (médio) e G5 (agudo). A velocidade é de semínima = 126. O som inteiro apresentado entre dois outros cortados representa o ataque em observação. Figura 13 - Zoom em 20 ms do som B3 articulado no ponto velar [k], seguido e precedido de outro som homônimo de mesma freqüência com articulação linguodental. Detalhe do golpe duplo ‘te, ke’. Observa-se interrupções no som fundamental (primeira linha horizontal) o que representa pausas entre os sons linguodentais e velares. Figura 14 - Zoom em 20 ms do som B3 com articulação diafragmática seguido e precedido de som homônimo de igual freqüência com articulação linguodental. Detalhe do golpe duplo ‘te, he’. Observa-se neste gráfico que a interrupção do som fundamental entre o primeiro ataque, linguodental, e o segundo, diafragmático, é quase inexistente. A 186

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retomada do ataque linguodental apresenta uma interrupção semelhante ao do gráfico anterior. Uma característica irregular do golpe duplo. Figura 15 - Zoom em 20 ms do som B4 articulado no ponto velar [k], seguido e precedido de outro som homônimo de mesma freqüência com articulação linguodental. Detalhe do golpe duplo ‘te, ke’. Observa-se neste gráfico as mesmas características deste golpe duplo já observadas na figura 13. Figura 16 - Zoom em 20 ms do som B4 com articulação diafragmática seguido e precedido de som homônimo de igual freqüência com articulação linguodental. Detalhe do golpe duplo ‘te, he’. Também observa-se neste gráfico o mesmo resultado do som B3. Compare com os gráficos 13 e 14. Figura 17 - Zoom em 20 ms do som G5 articulado no ponto velar [k], seguido e precedido de outro som homônimo de mesma freqüência com articulação linguodental. Detalhe do golpe duplo ‘te, ke’. Este gráfico revela a tendência de igualdade do golpe duplo nas diversas regiões do instrumento, pois apresenta um resultado semelhante aos outros gráficos apresentados anteriormente. Figura 18 - Zoom em 20 ms do som G5 com articulação diafragmática seguido e precedido de som homônimo de igual freqüência com articulação linguodental. Detalhe do golpe duplo ‘te, he’. Os mesmos detalhes observados nos gráficos anteriores que retratam a articulação diafragmática são observados também neste, o que também confirma a tendência desta articulação, em meio ao golpe duplo, de ter os sons mais próximos e com menos interrupção. 9. CONCLUSÃO II A eqüidade da intensidade dos sons, por serem de igual freqüência, se assemelham, e a comparação das duas figuras revelam propriedades distintas entre um e outro modo de articulação. Primeiramente, como já visto, o tempo de interrupção sonora que separa o ataque linguodental do diafragmático é constantemente menor que o espaço de pausa entre o linguodental e o velar. Esta é a grande diferença entre uma e outra forma de articulação, pois certamente o resultado sonoro será modificado. Também observa-se que a presença de sons harmônicos distribuídos verticalmente na série no instante do ataque é mais freqüente na articulação velar do que no ataque diafragmático, sugerindo que o ponto velar dentro do golpe duplo possui uma tendência oclusiva exagerada, de difícil controle, tendência esta bem menor quando o golpe duplo é realizado com a articulação diafragmática. 10. PARTE D - Comparação Procurando uma articulação homogênea, evitando-se a interrupção sonora entre uma e outra nota no golpe duplo, onde parece ser maior a diferença entre um e outro tipo de articulação dupla, as duas diferentes técnicas, com as articulações velares e diafragmáticas, foram postos novamente à prova, desta vez uma ao lado da outra, para efeito de melhor comparatividade entre as diferentes áreas de atuação experimentadas: 1- com igual freqüência; 2- com graus conjuntos; 3- com graus disjuntos. 187

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Neste ponto o experimento contou com a participação de 3 flautistas de nível profissional, a fim de determinar a realização, bem como a compreensão dessa técnica. Os resultados obtidos foram semelhantes. Compare a performance dos dois tipos de golpe duplo nestas três diferentes modalidades. Figura 19 - Som da nota B3 em golpe duplo. Primeiramente (à esquerda), golpe duplo articulado com o ponto velar [k], e à direita, o mesmo golpe duplo, com o mesma som, tendo a articulação diafragmática em lugar da velar. Velocidade de semínima = 126. O gráfico apresenta os dois tipos de golpes duplos dentro de uma mesma escala de tempo. Verifica-se neste quadro, uma diferença, a qual foi constatada na parte anterior, quando da apresentação dos diferentes modos de articulação em zoom. Observa-se, no segundo e quarto sons, que no ataque da direita os sons em questão possuem uma forma de onda mais encorpada do que o da esquerda, esta diferença pode ser também constatada através da representação do som da fundamental, primeira linha horizontal intermitente, que no golpe duplo da direita possui uma separação menor do que o da esquerda. Figura 20 - O Gráfico representa os dois tipos de golpes duplos com articulação uníssona do som B4 num tempo comum. As mesmas características observadas no golpe duplo na primeira oitava se repetem aqui, ou seja, as interrupções entre os sons, que os deixa intermitentes, são maiores no golpe duplo com sílabas velares. Observe a linha que representa os sons fundamentais. Figura 21 - Representação gráfica dos dois tipos de golpe duplo na primeira oitava do instrumento com sons distintos (graus conjuntos). Percebe-se também nesta situação que o golpe duplo com articulação diafragmática como substituta da sílaba velar deixa o golpe duplo um pouco mais homogêneo que o primeiro, representado do lado esquerdo do gráfico. Observe a diferença do espaçamento existente do primeiro para o segundo som, e do terceiro para o quarto na primeira linha horizontal intermitente nos dois tipos de ataque. Figura 22 - Representação dos dois tipos de golpes duplos na região média da flauta (segunda oitava), também com graus conjuntos. As mesmas observações feitas nos gráficos anteriores, tanto com sons de igual freqüência, como em graus conjuntos na primeira oitava, servem para esta figura, que se comporta de forma semelhante. Figura 23 - Representação gráfica dos dois tipos de golpes duplos na região grave da flauta em graus disjuntos. Parece ser um pouco mais difícil de perceber as diferenças na série harmônica, porém na forma das ondas sonoras nota-se que o segundo e o quarto som do golpe duplo com articulação diafragmática (à direita) é mais encorpado do que no golpe duplo da esquerda com articulação velar. Figura 24 - Representação dos golpes duplos na região média da flauta em graus disjuntos. As diferenças entre os dois tipos de golpes parecem ter diminuído neste gráfico, não sendo perceptível, como nos gráficos anteriores, as diferenças entre um e outro tipo de articulação. Contudo, percebe-se os sons da articulação dupla com ataque diafragmático (à direita) sensivelmente mais encorpados do que a da esquerda. 11. CONCLUSÕES GERAIS 1- Ao contrário do que se imaginava no início desta dissertação, os diferentes modos de articulação não possuem uma identidade particular como as articulações fonatórias. Uma nota articulada na flauta, não importando o ponto de articulação 188

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utilizado, está sujeita a fatores aos quais nem sempre são dominados. Estes fatores interferem na formação dos sons fazendo com que os mesmos levem mais ou menos tempo para se definirem como freqüência desejada. Os ataques velares, dos quais desconfiava-se não obter a mesma qualidade dos linguodentais e diafragmáticos, revelaram-se tão sujeitos a interferências quanto os demais, não havendo nada a comprovar quanto as reações dos ataques diafragmáticos serem melhores do que os de outros modos de articulação, com exceção da região grave da flauta, onde este ataque se mostrou muitíssimo eficaz; em contrapartida na região aguda da flauta o inverso ocorre: o ponto velar tende a funcionar com maior presteza do que o ataque diafragmático. Comprovadamente temos a certeza de ser os ataques, apesar dos diferentes modos de articulação, praticamente iguais no aspecto do controle oclusivo. 2- Em todos os gráficos apresentados do golpe duplo com notas repetidas, isto é, de freqüências iguais, observou-se que quando a segunda sílaba do golpe duplo é velar, os sons são distintamente mais separados, e fato contrário ocorre com a articulação diafragmática. A pouca separação (apenas nos sons parciais) dos sons de mesma freqüência articulados com este tipo de articulação, sugere uma nota longa com vibrato, pois a primeira linha horizontal mostrada nos gráficos (correspondente ao som fundamental) não se interrompe totalmente. Mediante esta observação, concluímos que o golpe duplo com articulação diafragmática deixa as notas bem próximas uma das outras, existindo apenas uma pequena separação um pouco maior que a difere de uma nota longa com vibrato. O golpe duplo tradicional, com articulações velares, possui como característica a separação dos sons com maiores intervalos de pausa. Entre os dois tipos de articulação dupla, cada uma delas possui uma qualidade individualizante, não cabendo à articulação tradicional, mesmo de forma branda ou tenuta, a mesma característica da articulação dupla com ataques diafragmáticos. 3- Com relação ao golpe duplo realizado em graus conjuntos e disjuntos, os mesmos efeitos foram observados: é nítido que a separação da articulação linguodental para a velar é maior do que para a diafragmática. Figura 25 - Som da nota B3 com vibrato. Observa-se que apenas o som fundamental, primeira linha horizontal, não é interrompido, o que caracteriza o som contínuo. Figura 26 - Som da nota B3 com articulação dupla normal. Verificasse uma grande perda de energia sonora no som fundamental, que representa uma pequena separação entre as notas. Figura 27 - Som da nota B3 com articulação dupla diafragmática. Nota-se que a ligação do primeiro ataque para o segundo, se assemelha mais a uma nota com vibrato do que na técnica de articulação utilizada no gráfico da figura 26, tendo o nível de energia quase constante não chegando haver de fato uma interrupção entre os sons. A maior separação dos harmônicos superiores, dão a este tipo de articulação a impressão de sons intermitentes. O golpe duplo com as articulações pares sendo produzidas do modo diafragmático, possui qualidades e características diferentes do golpe duplo tradicional. Os limites de velocidade impostos a este tipo de articulação dupla, torna o golpe duplo tradicional o principal meio de emissão das notas velozes, pois tendo sido testado a performance do golpe duplo com articulação diafragmática no tocante à velocidade de emissão das notas, este não superou a marca de 528 ataques por minuto (semínima = 132), o que significa que este tipo de articulação funciona muito bem dentro de um tempo cômodo, não sendo possível sua utilização em grande velocidade, enquanto, apesar de apresentar notas um pouco mais separadas, o golpe duplo tradicional pode ser utilizado em qualquer velocidade, pois os músculos menores que são utilizados para este fim descansam tempo suficiente durante a troca dos articuladores. Outro aspecto de relevância concernente ao 189

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golpe duplo com ataque diafragmático, é a dificuldade de realizá-lo na região aguda do instrumento (terceira oitava), que além de mostrar, na melhor das hipóteses, um gráfico semelhante ao da articulação tradicional, no tocante a oclusão do ataque, mostrou-se com tendência a provocar uma tensão na região laríngea, causando um som gutural indesejável, principalmente quando articulado com maior velocidade. A tensão na região da laringe se revela como algo importante a ser observado, pois indica que a obstrução da corrente de ar na chamada articulação diafragmática passa, com o aumento da velocidade, a se realizar na glote o que faz ocorrer o som gutural e o conseqüente desconforto na região laríngea. Praticamente as mesmas características entre os dois tipos de golpes duplos são observados quando da realização dos mesmos em graus conjuntos. Todavia mediante a comparação das duas técnicas em graus disjuntos, verifica-se uma maior equiparação entre os dois, principalmente da metade da região média para a oitava superior, onde o golpe duplo com articulação diafragmática revelou-se ser muito instável e de difícil execução. Assim sendo, esta técnica de golpe duplo apresentou uma maior diferença do tradicional, inclusive com maior clareza, apenas no registro grave até a região média da flauta, perdendo suas melhores características nas freqüências mais altas do instrumento. 12. APÊNDICE

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