O Demônio da Revolta

May 30, 2017 | Autor: Luiz Miguel Rossi | Categoria: Vegetarianism, Feminist Literary Theory and Gender Studies
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Um documentário, ótimo, que conta a extenuante e revoltante rotina desses trabalhadores é "Carne e Osso" ,Duração: 65 minutos,direção: Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros. Roteiro e edição: Caio Cavechini, Realização: Repórter Brasil, 2011.
René Descartes - Discurso do método, Martins Fontes, 2001.
Voltaire - Os Animais, extrato da coleção "Os pensadores", Editora Abril Cultural, 1978.
Retirada de uma das inúmeras declarações que o Deputado Jair Bolsonaro: "Mulher deve ganhar salário menor porque engravida". Jornal Zero Hora.
No mesmo estado de antes.
Danda Prado fez um trabalho magnífico sobre o tema no livro "o que é aborto" lançado pela Brasiliense.
Gilberto Freyre, Casa-grande & Senzala.
Trecho da musica "Substância Venenosa" do Rapper Eduardo Taddeo.
THOREAU, Henry David. A Desobediência Civil. – L&PM.2014.
Personagem do livro Laranja Mecânica, de Anthony Burges. Alex é um jovem que pratica atos da chamada "ultraviolência", coisas como estupro, roubo e assassinato, horas pois, a nossa policia tira isso de letra.
Digo isso mediante as noticias sobre as manifestações contra o aumento da tarifa em São Paulo, que ocorreram em 2013 e em 2015. Mas a repressão da policia fascista vai mais além do que nessas manifestações, como, por exemplo, em episódios como a grise hídrico que ainda assola a cidade de São Paulo, quando no "3º Grande Ato contra a Crise Hídrica", mais uma vez a policia mostrou como é o seu preparo para atuar com a população que ousam violar a ordem. Leia mais em: http://zip.net/bmqMp4
Países em desenvolvimento, também conhecidos como países do Terceiro Mundo ou subdesenvolvidos.
Trocadilho com o titulo do livro Senhor e Servo. Tolstoi nesse livro explica a lógica entre o lucro e o bem estar de um dos servos. Na história o patrão se arrepende, mais na vida real isso não acontece.
Paulo freire, p 35.
Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas.
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm


O Demônio da Revolta
I

Especismo é quando uma espécie se acha superior a outra, isso não é apenas uma retórica ao racismo, que é quando uma raça se acha superior a outra. Essa superioridade pode ser pela cor da pele ou por outros motivos... Nós os seres humanos pensamos que estamos no topo da cadeia alimentar, que apenas por essa razão nós podemos governar o mundo e escravizar os demais seres vivos do planeta. Destruir e poluir rios e matas, isso em troca do capital. Mas esse capital não é para a população, a destruição do meio ambiente, essa sim, mas o lucro não, esse fica na mão de meia dúzia de pessoas que não querem o bem da população, mas sim o acúmulo das suas riquezas. Os grandes empregadores que ficam na ponta o iceberg, não se importam com os demais, aqueles que eles exploram para terem o seu capital. O pensamento libertário surge justamente aqui, para emancipar essa população alienada, que foi ensinada a não pensar, apenas foi domesticada para ser manipulado, assim como Bakunin explica em seu texto "O Sistema Capitalista" que narra o pensamento do capitalista com relação aos trabalhadores explorados e escravizados:
"Fique sabendo, pagarei a você um salário tão pequeno, e irei impor a você uma jornada tão longa, sob condições tão severas, tão despóticas, tão cruéis quanto possível; não é por maldade, não é por sentir ódio de você, nem por querer fazer algum mal a você, mas pelo amor ao bem-estar e ao enriquecimento rápido; porque quanto menos eu te pagar e quanto mais você trabalhar, mais eu ganharei."
Porém, por que deixar de lado nossos irmãos animais? Não queremos a libertação da escravidão para os nossos semelhantes explorados pelo Estado ou por sistemas desumanos? Por que vamos deixar aqueles que nem voz tem? Não vamos esquecer-nos da dor e agonia que os animais humanos e não humanos sofrem todos os dias. Torturados em experimentos científicos chamados de vivissecção (literalmente abrir um ser vivo) e experimentos que são apenas para futilidades, como por exemplo: perfumes, cosméticos e testes para a indústria tabagista, fora a indústria da carne. E também os trabalhadores dos frigoríficos e abatedouros, que trabalham por mais de 12 horas, com pausas insignificantes para descanso, e que para desossar, por exemplo, uma perna de frango, esse trabalhadores fazem 18 movimentos em 15 segundos, imagine o quanto de dor e cansaço isso acarretara ao final dos dias e consecutivamente por semanas. Muitas das vezes essa rotina de trabalho lembra muito o trabalho escravo.
Como podemos constatar a exploração humana e animal estão ligados, não podemos realizar uma sem executar a outra. Com o avanço do texto, vou tentar dialogar melhor. Ser libertário é lutar! Faço minhas as palavras de Brian A. Dominick no livreto "Libertação Animal e Revolução Social":
"somente uma perspectiva e estilo de vida baseados numa verdadeira compaixão, podem destruir os conceitos opressivos da sociedade atual, começar uma nova ou criar relações e realidades desejadas... qualquer pessoa que não adote todas as lutas contra a opressão não preenchem a minha definição de anarquista. Pode até parecer que estou pedindo muito, porém nunca deixarei de pedi-los para o ser humano".

Pensando sobre banalidade do mal, (termo cunhado pela filósofa Hannah Arendt) que explica como um ser humano pode ser passivo ao mal, a banalizar atos que, de grosso modo, tendem a serem absurdos. Levando isso em consideração, pessoas que comem carne, também amam os animais (os seus animais), dão nomes, colocam roupas humanizadas e gastam muito dinheiro com coisas fúteis, querendo criar para o animal um ar mais "humanizado", esse pet (bichinho de estimação) não é uma coisa, é um ser com vontades próprias, um sujeito, não um objeto.
Essas pessoas comem carne sem o menor peso na consciência, elas amam os animais, não querem o extermínio de todos, mas apenas não os veem como sujeitos, os enxergam como coisas, seres que não pensam, que não sentem dor ou medo, como Descartes propôs, que animais não tem alma, logo não pensam e não sentem dor, sendo assim os maus tratos não eram errados… Mas que Voltaire rebateu com esplêndido conhecimento:

"Que ingenuidade, que pobreza de espírito, dizer que os animais são máquinas privadas de conhecimento e sentimento, que procedem sempre da mesma maneira, que nada aprendem, nada aperfeiçoam! Será porque falo que julgas que tenho sentimento, memória, idéias? Pois bem, calo-me. Vês-me entrar em casa aflito, procurar um papel com inquietude, abrir a escrivaninha, onde me lembra tê-lo guardado, encontrá-lo, lê-lo com alegria. Percebes que experimentei os sentimentos de aflição e prazer, que tenho memória e conhecimento. Vê com os mesmos olhos esse cão que perdeu o amo e procura-o por toda parte com ganidos dolorosos, entra em casa agitado, inquieto, desce e sobe e vai de aposento em aposento e enfim encontra no gabinete o ente amado, a quem manifesta sua alegria pela ternura dos ladridos, com saltos e carícias. Bárbaros agarram esse cão, que tão prodigiosamente vence o homem em amizade, pregam-no em cima de uma mesa e dissecam-no vivo para mostrarem-te suas veias mesentéricas. Descobres nele todos os mesmos órgãos de sentimentos de que te gabas. Responde-me maquinista, teria a natureza entrosado nesse animal todos os órgãos do sentimento sem objectivo(sic) algum? Terá nervos para ser insensível? Não inquines à natureza tão impertinente contradição."

Porém, Descartes disse isso em meados do século XVII, e mesmo assim ainda há pessoas que pensam dessa maneira, isso não tem tanta relevância, já que temos pessoas que pensam que mulheres são menos inteligentes do que os homens e por essa, e também algumas outras razões, devem receber um salário menor, já que, pasmem "engravidam". Entretanto, voltando ao assunto dos animais não-humanos, ainda temos que ver tais pessoas com outros olhos, nós abolicionistas, temos que ter isso em mente, nos já fizemos a ligação, transformamos os animais em sujeitos, agora temos que ajudar os demais a fazerem essa ligação, pois o melhor caminho é o dialogo com o outro lado. Não apenas com nossos pares. Ter uma dialética clara e sem demagogias com os não vegetarianos é o caminho mais fácil para espalhar esse ideal libertário. Veja bem, não é por que um ser pensa diferente, que ele não pense, ou não tenha vontade de viver ou de pensar, quando estamos falando do ser humano. Os animais sentem dor e a expressam de maneiras diferentes, assim como os seres humanos. Nós humanos amamos os animais, apenas temos que desfazer a ideia de coisas. E não devemos tratar as pessoas que pensam diferente da nossa, de forma pejorativa. Temos que tratá-las como iguais, e explicar o nosso ponto de vista.
Os animais são companheiros e auxiliares para várias funções, como no caso do cão-guia, que seu trabalho é ajudar as pessoas cegas ou com dificuldades em enxergar. Fora esse trabalho eles ainda são personal trainer, psicólogo, entre outros cargos. Quem nunca desabafou com um cão, ou qualquer outro animal. Conheço uma pessoa que o melhor amigo dela foi um cão, no sentido mais completo da palavra "melhor amigo". Tinha uma relação de total comunhão com esse animal, abraçava, desabafava… Chorava. Sim, eles são muito mais do que bichinhos de estimação, ou forma de alimentação.
Tratar os animais de forma "humanitária" não é colocar roupas, ou dar casinhas, promover casamentos. Fazer o animal ser uma continuação do seu alter ego. Ou quando não se castra os cães machos, achando que a sua virilidade também será cortada. Não, isso é mentira, isso não tem nada a ver com a sua masculinidade, tem a ver com a melhor maneira de tratar o seu amigo, castrado ele fica mais caseiro e não contribui para o abandono de mais irmãos animais. Ou você ficará com todos os filhotes da ninhada? Não, apenas se forem de raças… e ainda para vender. Poucas pessoas ficam com os filhotes, então o melhor e o mais seguro é a castração, por vários motivos que não cabe aqui falar todos.



II
Acho muito valido o que Steven Best escreveu em um dos seus textos

"Todo movimento futuro que lute por paz, justiça, democracia e por direitos, que falhe em militar pela libertação animal será igualmente inconsistente e incompleto"

Acho realmente inválido, pessoas que se dizem libertárias, que lutam por igualdade, mas em sua intimidade são machistas ou misóginas. Mas essas questões vão bem mais além, há pessoas que anulam totalmente toda a forma de abolicionismo, em umas delas, o vegetarianismo. Muitas pessoas ainda não fizeram essa ligação com os irmãos animais, sentem dó, mas não compaixão, porém, não só com os animais, mas também com as pessoas "invisíveis". Os moradores de rua, as crianças abandonadas, pessoas que são indesejadas por muitos. Por todos esses temos que ter compaixão, os olhares com outros olhos, por que o de maldade e desprezo a maioria da sociedade já o faz.

Assim como o negro foi durante muitos séculos tratados como raça inferior, a mulher é tratada como um simples objeto, um troféu para o macho alfa. Todos esses já foram tratados como coisas, mas que através de reivindicações, de rebeliões conseguiram a sua libertação, saíram da alcunha de seres sem vontades próprias e passaram a serem sujeitos, entretanto, mesmo após séculos de lutas o racismo ainda existe, os maus-tratos contra a mulher ainda são latentes, há muita coisa a ser feita sobre isso. Houve melhorias, mas ainda os melhores empregos são de pessoas brancas que ascendem de classes superiores, na periferia os policias fazem o trabalhado muito parecido com os soldados da SS no século XX ou o tipo de serviço que os fanáticos da Ku Klux Klan perpetraram no século XIX.
Começarei pelas mulheres, que ainda são maltratadas e subjugadas, trabalham igual ou mais do que os homens e recebem menos, e ainda sofrem uma jornada dupla ou até muitas vezes tripla de trabalho…
Posso estar sendo leviano com relação ao feminismo, mas fico indignado como as próprias mulheres se tratam (logicamente falo daquelas que não são feministas, mas que se enxergam como tal e na realidade não passam de machistas as avessas). Quando crianças desde a mais tenra idade, já são – me perdoem pelo termo, mas não encontro outra palavra para tal fato – domesticadas. Ganhando vassouras, forninhos para já irem se acostumando com os trabalhos domésticos, e com bebês, brincam de serem "mamães", assim para num futuro, muitas vezes próximo até demais, já estarem aptas a exercerem essas funções. Isso me deixa muito transtornado, será que isso é certo? Só eu vejo que isso é uma forma de castrar todas as possíveis intenções de ser outra coisa. Nem todas têm o santo dever de serem mães, de gerarem uma nova prole. E se elas não quiserem? Não quiserem serem mães, não quiserem serem "do lar", se não quiserem ter maridos? Ainda o mais absurdo para muitos, serem homossexuais… A heterossexualidade compulsória entre os dois sexos é outra coisa que não vejo com bons olhos… Meninos têm que gostar de carrinhos e meninas de bonecas, porque quando crescerem um será um ótimo mecânico e a outra será uma ótima mãe… NÃO!! Isso é uma falácia, os meninos podem e devem brincar de bonecas, assim aos meus olhos saberiam como tratar melhor as nossas companheiras, entre outras coisas. As meninas devem brincar de carrinhos, com bonecos ou qualquer coisa que elas queiram, porque assim também saberão que elas não devem ficar presas em casa, como um Gulag, um gueto ou com qualquer coisa que se pareça com um campo de concentração… Elas devem almejar mais do que um fogão novo. Elas merecem mais. As mulheres sempre foram ditas como sexo fraco, na minha humilde opinião isso deve ser ideia de algum machista medroso. Todas as mulheres que eu conheci e conheço são mais fortes do que qualquer homem, não na força bruta, - nisso é muito fácil ser forte - mas na coragem, na força de vontade, na honra… Não perdem para ninguém.
Essas mulheres exploradas e humilhadas pela família nuclear e o sistema paternal, hoje se vem contra toda essa carga histórica, sempre renegada a servir, como coisas, não como sujeitos, assim como os nossos irmãos animas.
Temos que nos unir e dissipar essa cortina de falácias, primar sempre pela igualdade, a verdadeira fraternidade e sempre, e acima de todas as coisas: a liberdade, invertendo a ordem do lema maçom.
O que definirá a homossexualidade de uma criança não serão as brincadeiras de sua infância. Serão outros fatores, um deles é a maneira que ela é tratada com relação aos seus gostos e também com relação a religião, que em muitos casos é opressora, entre outras idiotices que nós somos obrigados a nos sujeitarmos, mudar o "status quo" é a única maneira.
A opressão feminina começa pelos seus pares, elas devem se enxergar como iguais, e não se renderem ao pensamento do macho alfa. Esse tipo de incentivo, como o do trabalho doméstico, pensamentos sobre a maternidade, não digo emancipados, mas reduzidos de forma drástica. O aborto é um direito de vocês. Não do nosso julgamento como homens, como parceiros sim, mas nunca como donos, mestres.
Falar sobre o massacre que ocorre sobre a população periférica, não será algo válido se não nos questionarmos sobre como ocorreu à escravidão em nosso país. Mesmo existindo alegações de pessoas que dizem que a "escravidão foi branda" e que ela se extinguiu em 1888. Porém, isso não passa de falácias, a "nossa" escravidão não foi branda, quando se diz coisas como essa, se abre precedentes para uma gama imensa de afirmações, como por exemplo, que não houve resistência por parte dos negros escravizados porque, para muitos, os índios não foram escravizados. Os indígenas, como "espíritos livres da floresta" souberam como se rebelar e fugir do cárcere, e assim não sofreram tantas sevicias como os negros sequestrados no território africano. Entretanto, os índios também sofreram, mas para esses houve uma leva de esforços para os catequizarem, para "salvar as suas almas" e os transformarem em novos cristãos. Já o escravo negro, nem para catequese serviu, o negro por muitos séculos foi visto como um ser sem alma, e dessa maneira não possuindo sentimentos, sendo como um "autômato", uma visão bem parecida com a qual temos com relação aos animais, logicamente que tirando as devidas proporções.
A resistência negra era feita de inúmeras maneiras, desde o simples fato de não trabalhar, sabotar colheitas ou até caso de suicídio, abortos e infanticídios. A luta por justiça sempre existiu, o escravo nunca foi passivo a moléstia. Ao longo de nossa história temos vários episódios de levantes e de revoltas sem fim, como por exemplo, a Revolta dos Malês ou a Revolta da Vacina, essa última mesmo não tendo ocorrido no período na escravidão (1904), serve como exemplo de resistência negra e escrava, mesmo com o término da escravidão, a população ainda estava a mercê dos novos senhores, ainda mais que apenas as parcelas mais pobres da população carioca foram privilegiadas com a campanha de saneamento, que traria inúmeras "melhorias" para a até então, capital da República.
Através dos tempos, sempre surgiram figuras de muito respeito que lutaram por melhorias e reivindicaram o seu espaço e justiça, no caso da Revolta dos Malês, nós temos a figura da Luíza Mahim, mãe de Luiz Gama, que foi um dos mais importantes abolicionistas no século XIX, também temos a figura de João Candido, o Almirante Negro, herói nacional que liderou a Revolta da Chibata em 1910. Todas negras e pobres, figuras periféricas, que viveram a margem da sociedade, não se sujeitaram as regras que os discriminavam e lutaram pelo que achavam justo, e mesmo sabendo que as retaliações seriam praticamente mortais, o silêncio para eles era o pior dos castigos. Ainda usando o exemplo da revolta da chibata, mesmo os marinheiros se rendendo, foram presos em lugares sem o mínimo de saneamento, e sofrendo inúmeras tentativas de assassinato. Isso se perdura até os nossos dias, quantas vezes pessoas desarmadas são conduzidas com extrema truculência policial? Quantas vezes não foi visto esses agentes da lei baterem ou atirarem em pessoas desarmadas? Acho que não é necessário ressaltar a cor da epiderme nem a qual classe social a vítima ascendia.
Os massacres perpetrados contra a população pobre sempre se fizeram presentes. Quando falamos de população pobre periférica, falamos de todas essas raízes da escravidão, de maus-tratos e descasos. Jogando a população para bairros mais distantes do centro das cidades, afastando os "indesejáveis". Em episódios como " Massacre da Sé, pinheirinho, Vigário Geral", isso fica bem escancarado, a eliminação de pessoas que não são bem-vistas, não são consideradas "pessoas de bem". Essa imagem de "quisto social" é herança da escravidão, a existência da periferia é nefasta, que para o topo da pirâmide, nada mais é do que um depósito de dejetos. E ainda somos vigiados por capitães do mato, que somente se diferem de seus antecessores coloniais no modo de vestir e nos métodos repressivos, mas o princípio continua a ser o mesmo, vigiar e punir, e assim manter a ordem, logicamente que é a ordem de escala, onde os pobres estão bem abaixo.
A repressão policial em bairros da periferia e bem diferente da maneira que ocorrem em bairros de classe media alta. Quando uma morte ocorre na periferia, ela não é divulgada com o ímpeto de que deveria haver uma investigação, apenas é noticiada pelos telejornais como algo comum, que a bizarrice fosse parte do normal para essas pessoas, que os moradores de bairros mais distantes dos centros urbanos fossem mais propícios a cometerem crimes violentos. Mas o que ocorre em bairros de "elite", um assassinato, por exemplo, é motivo de investigações e de furos intermináveis de reportagens, mostra que esse tipo de acontecimento e atípico, nesses bairros, em famílias bem estruturadas, de famílias de bem. "A grande maioria serve ao estado desse modo, não como homens propriamente, mas como máquinas, com seus corpos… Na maioria dos casos não há um livre exercício, seja de discernimento ou de senso moral, eles simplesmente se colocam ao nível das árvores, da terra, e das pedras", apenas seguem ordens, são usados pelo Estado, como cães de caça, que caçam os periféricos, "pessoas de cor", os pobres, pessoas indesejáveis ou invisíveis socialmente. A periferia sofre sevicias de puta "ultraviolência" que até o Alex ficaria de cabelos em pé.
Em casos como o do Massacre do Carandiru, ou qualquer chacina que correram ou ocorrerão na periferia ou dentro dos presídios, que nada mais são do que o depósito de uma massa que, aos olhos da lei e de uma grande porcentagem da sociedade perderam os seus direitos. A imagem do racismo é evidente, o policial pode até ser da periferia, mas ali ele não se vê como um dos demais, que sofrem pelas mãos do Estado, e sim como uma pessoa que tem a ilusão de uma meritocracia, que venceu na vida, enquanto os demais, não são nada, porque não tiveram a mesma força de vontade do que ele. Lógico que isso não se aplica só a polícia, mas também a vários setores da sociedade, de faculdades a empresas. Apenas, esses policias, são mais uma peça que funciona muito bem a favor da desigualdade social, ou da igualdade, depende de que lado da ponte você está. Do lado que quer higienizar a cidade, com os massacres as populações pobres ou do lado daqueles que são massacrados e apenas querem ser como os demais, terem as mesmas chances, porque afinal de contas a meritocracia é fácil para quem já nasceu no pódio.
Fora que a polícia e despreparada para atuar em conflitos, ou será que é justamente o contrário? Treinada para atuar de maneira truculenta, e com extrema violência em manifestações pacificas, onde a atuação dela é simplesmente para não deixar que a manifestação ocorra livremente, há uma pressão pelo Estado de que, pessoas como essas, que lutam por melhorias não avancem em seu ideal, para isso há esse tipo de profissional, que só serve para proporcionar bem-estar e proteção os ricos, que apenas servem as pessoas de bem, de descendência europeia e de epiderme clara.



III
A ideia de uma retórica ao ponto de vista da luta de classe sempre permeia as discussões, entre a crítica sobre a burguesia e no Estado, assim como a exploração no sul global. Mas nós nos vemos como classe? Estamos organizados como tal? Pensamos e agimos como classe A, mas na realidade estamos na C. Ter certeza do seu lugar é começar a entender o motivo das mudanças que almejamos.
É lógico que essa confusão é fruto das mentes maléficas dos proprietários do capital, aqueles que estão no topo da pirâmide, a ideia da inversão é valida. Conscientizar os trabalhadores do seu lugar, que na cadeia alimentar do capitalismo sempre será como seres inferiores. Explicar que os nossos patrões não são nossos amigos, que eles só querem o lucro, como "senhor e verme" mas nós queremos mais do que dinheiro, né? Quereremos a realização de sonhos, de metas, sem depender de ninguém, e logicamente sem pisar em ninguém para conseguir isso.
E o que falar das propagandas e novelas que nos informam de minuto em minuto o quanto somos infelizes por não ter tal roupa ou como as pessoas são felizes quando ricas. Realmente as pessoas não são felizes quando ricas, caso isso fosse verdade, elas não estariam preocupadas em mostrar isso em revistas como "Caras" ou em qualquer programa que mostre a vida de pessoas famosas. Quando você não precisa daquela roupa, mas está na moda ou você só será aceita/ bem-visto em certo meio, se trajar certa roupa ou ter determinado salário. Mais uma vez nos vemos no limiar do capitalismo selvagem e esquizofrênico.
Queremos viver, e não apenas sobreviver, não é? Bom, para isso temos que ter a consciência de classe, nos educar. O capitalismo nos castrou de várias maneiras, como o pensamento, o ato de se rebelar, como uma música do Ratos de Porão fala, "O homem Inimigo do Homem". Menos da metade do que você produz torna-se o seu salário, o excedente é o lucro desses "donos de terras'', sim isso é um paralelo com o sistema escravista. Nós ainda somos escravos. Desde a igreja, trabalho, até o álcool e drogas. Tudo aquilo que nos entorpece e diminui as nossas capacidades de reflexões e raciocino. Lógico que a droga e o álcool são as novas armas do sistema escravista… "novas" que argumento mais errado, isso vem desde a colonização do Brasil, alias não só da brasileira, mas de vários outros países ao redor do mundo. Uma maneira ardilosa de fazer "amizades", diga de passagem, com essas "novas" culturas. O Brasil foi "inventado" de cima para baixo, autoritariamente. Precisamos reinventá-lo em outros termos. "






IV

Não concluirei esse texto, tentei escrever sobre várias coisas, assuntos que penso serem pertinentes a qualquer pessoa que lute por igualdade, não interessando qual a bandeira que carregue, ou se não carregue nenhuma, acho que ainda tem muita coisa a ser pensada e escrita, em um futuro continuarei escrevendo sobre esses temas. Minha ideia não é esgotar todos os argumentos sobre a discussão, nem sanar todas as dúvidas, isso seria muita pretensão, apenas quero jogar mais lenha na fogueira, continuar criticando e discutindo algo que há muito a se falar. Mas acima de tudo, ajudar a pensar, criar argumentos para criticar algo muito maior do que essas linhas que escrevo, assim como eu, esse texto estará em constante mudança e evolução.
Falar sobre vegetarianismo e feminismo são faces da mesma moeda, e quando falamos de luta de classes e sistema escravista, também estamos falando das mesmas coisas, todas são formas de exclusão, há muita coisa acontecendo e as maneiras de opressão só tem se intensificado. Então não vamos aprisionar esse demônio da revolta que temos dentro de nós, vamos libertá-lo, alimentá-lo ao máximo, fazer se alastrar cada vez mais essa revolta. Assim como um incêndio toma conta rápido de uma casa, quando bem alimentado, vamos ascender essa centelha de revolta, com tudo que vemos e ouvimos todos os dias, injustiças e moléstias, porque afinal de contas somos estuprados de todas as maneiras. Vamos fazer esse incêndio acontecer da maneira mais violenta e bruta possível, vamos fazer as classes mais altas tremerem, porque o gigante nunca acordou, já que ele nunca dormiu, todos nós fazemos parte da mesma coisa, estamos do mesmo "lado da ponte", como diria o Racionais MC'S.

Quero terminar com um texto que o meu amigo Tiago Jaime Machado - da Editora Monstro dos Mares - escreveu há algum tempo, quando o li, achei que era síntese de nossa sociedade, algo tão caótico quando uma tempestade em alto-mar, ou um dia em nossos centros urbanos. As figuras de linguagem usadas no texto completam de alguma forma ideias que não consegui deixar bem as claras nessas linhas ai de cima.


ISTO É UMA OBRA DE FICÇÃO, MAS NEM TANTO **
Consegue ouvir os estrondos de ferro retorcido e escombros sendo engolidos por essa fumegante máquina de opressão e morte?
Consegue ver que nessa superficialidade cotidiana as pessoas que estão morrendo afogadas em ignorância e medo de tentar? Mesmo sabendo que elas são capazes de respirar embaixo d'água.
Enquanto uns tentam sobreviver a ira do leviatã, outros seguem preocupados apenas em não deixar cair suas migalhas, moedas e poucos pertences do barco, ainda que navegando em direção da grande, escura e sangrenta boca da fera.
Por detrás do monstro, sopra uma fumaça com cheiro do suor dos trabalhadores de fábricas, das tábuas de suas malocas em chamas, com uma chuva de papel picado - de todas as carteiras assinadas e direitos sociais estraçalhados - Nos horizontes dessa enseada um grupo de ricos se diverte em iates luxuosos que vão e vem, de estádios em estádios, apertando os botões do controle remoto da coisa-grotesca-que-devora-qualquer-pobreza para abrir caminhos aos ricos.
Enquanto isso, em seus pequenos barquinhos financiados, um grupo do precariado intelectual e estagnados políticos estacionam em ilhas que estão sendo pagas em 72x. Cercam-se de carnês, prestações, desejos fúteis de segurança e esperança na polícia. Achando que ela será capaz de afasta-los dos pobres e de tudo aquilo que ela não acha bonito, branco e dourado. Mesmo sem saber que a polícia nada mais é do que o cardumes de peixes do esgoto que se alimentam do sangue dos mortos nas favelas.
Apenas um pequeno bando de resistentes mergulha nas águas pardacentas, fica lá por um tempo e retornando em cada ato trazendo baderna, livros, coquetéis molotovs e tambores de maracatu, e; vencedores ou não, devorados ou não pela monstruosidade-sistema, são os poucos que estão ali de frente, corpo entregue, sem esconderem-se atrás de escrivaninhas de ongs e repartições públicas, mesas dos poucos bares onde os marxistas arrotam suas teorias ou atrás da justificativa da urnas e do ano eleitoral.
Cedo ou tarde, essa maldita máquina de morte, juros, transgênicos, vivissecção, agrotóxicos e desapropriações vai morder o rabo dos ricos e levar consigo seus bancos, igrejas, mansões, helicópteros, quilos de cocaína e noites de sono. Aquilo que foi criado por eles será sua tragédia!
Basta sabermos se tudo isso vai acontecer antes ou depois do monstro palitar os dentes de tanto comer coxinha de classe-mérdia ou ainda se irá aguentar engolir mais e mais de nossa garapa bagaceira dos pobres, cadeieiros e marginalizados.
Do jeito que está, cedo ou tarde, nada poderá sobrar.
Essa civilização merece acabar.






















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