O Desafio da Aceitação Pública da Energia Nuclear

June 11, 2017 | Autor: Leonam Guimaraes | Categoria: Public Relations, Nuclear Energy
Share Embed


Descrição do Produto

Vista da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto - Angra I, Angra 2 c Angra 3 (em construção)

(J

O DESAFIO DA ACEITAÇÃO PÚBLICA DA ENERGIA NUCLEAR

LEO NAM DOS SANTOS GUIMARÃES•

Capitão de Mar c Guerra (RM 1-EN)

oje. no mundo. existem 6 7 usinas dcssats novas unidades representa 18% de nucleares em con~trução: 23 na Chiacréscimo à potência instalada das 439 na. nove na Rússia, seis na Índia. cinco usinas em operação. que atualmente geram nos Estados Un idos ~~~~~~~~~~~!~~~~~ 12'Yo da eletricidade da América (EUA). N produzida no munOS u' I. hmos dez anos, 42 . do quatro na Coreia do os últimos dez Sul. quatro nos Emi- novas usinas entra1 ram em ano!>. 42 novas usinas rados Ârabcs Unidos, operação. Isso demtonstra a entraram em operação. Isso demonstra duas no Japão. duas na Belarus. duas na Ucrâ- competitividade da geração a competitividade da geração nuclea r e m nia. duas no Paquistão, nuclear em termos de lermos de custos de duas na Eslováquia. duas em Taiwan, uma CUStOS de prodlllÇãO produção. Entretanto. duas razões explicam na Argentina, uma na por que o número de u!>inas nucleares em Finlândta, uma na 1- rança e uma no Brasil. construção não é bem maior: custos de Recentemente, o Reino Unido lançou a construção c aceitação pública. I lá, conconstrução de mais duas usinas. A potência

H

• Diretor de Planejame_nto. Gestão c Meio Ambtcntc da Eletrohrd~ Elctronuclear. Domor em Engcnhana e membro do Stand tng Advtsory Group on Nuclear I fll!rgy (Sagnc) da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

IWSAFIO li\ 11( ~ ITAÇÃO I'UOLIIC A O" F'\lRC,t \ ' l CLEAR

tudo. uma ligação importante entre essas duas causas. A aceitação pública não constitui impedimento para novos empreendimentos em muitos importantes países, como o número de usinas em construção demonstra. Os maiores problemas são o custo crescente de investimento de capital c as dificuldades de estruturar projetos para financiar esses mvestimcntos de longo prazo de maturação. Contudo, os números mostram que se abriu uma distância entre esses custos no Ocidente e no Oriente. onde se concentra a maiona das novas construções. I lá lormas que permitem que essa dtstância seja diminuída e que questões relativas à competiti' idade da energia nuclear sejam tratadas. l· ntretanto. as questões que envolvem a aceitação pública são pelo menos em parte responsáveis pelo problema subjacente dos custos de construção no mundo ocidental. Sena possível redutir esses custos padronizando projetos de reatores c adotando uma abordagem internacional de regulamentação. similar àquela que já existe ha muito tempo na mdústria aeronáutica. tendo uma cadeia de fornecimento global e aprendendo com a experiência asiática de gestão de projetos nucleares. Entretanto. reais ganhos na redução dec.ustos somente poderão ser obtidos se o público confiar no nuclear, pem1itindo um sistema de planejamento mais simples. um sistema rcgulatório sem re~lrições exageradas e acesso mais facil ao financiamento. Se Fukushima impôs mais obstáculos para a aceitação pública e. portanto. também aos custos da geração. o que a indústria nuclear pode tà;er a esse respeito? O primeiro ponto a assinalar é que a opinião pública c o nível de apoio político para a energia nuclear são basicamente locais. Há diferenças importantes de pais para país. rnas sabemos que, mesmo dentro de países onde há significativa aceitação da energia

nuclear. ela \a ria considera\·elmente segundo a região. Sabemos também que. mesmo em países onde há um forte sentimento antinuclear. há importante aceitação nas regiões que estão ao redor das instalações nucleares. Seria equivocado concluir que o apoio à energia nuclear nessas regiões decorra exclusivamente dos empregos associados a essas instalações. A familiaridade com a tecnologia e as próprias usinas. aceitas simplesmente como parte da vida cotidiana na região, são muito mais importantes. Esta é a razão fundamental pela qual a energia nuclear não consegue aceitação pública em outros lugares. A sua distância da sociedade em geral leva ao desentendimento e à susceptibilidade às imagens negativas difundidas com tanto êxito pelos antmucleares. O consenso da indústria em geral relativo à aceitação pública é que o setor nuclear comercial começou de uma base muito ruim nos anos 1950 e 1960 c desde então não conseguiu se recuperar. Surgir a partir de programas de armas nucleares significou que as ligações entre o uso ci"il c o militar da ciência nuclear estavam consolidadas, c o medo de armas nucleares contaminou o setor civil. Pode-se alegar. de fato, que esta contmua sendo uma força poderosa até hoje. A lone opostçào pública à energia nuclear na Alemanha está enraizada na sua posição geográfica bem no toco central da Guerra Fria, com annas nucleares táticas americanas localizada~ e prontas para serem usadas no seu território. E:. se pcrguntamlOS às pessoas hoje que palavra elas associam ao nuclear. é menos provável que seja "energia" do que "guerra", ''bomba''. ··explosão" ou algo semelhante. A arrogância (pelo menos pelos padrões de hoje) dos primeiros porta-voze-. da energia nuclear também criou muitos problemas que levaram anos para serem elimmados. O grau de sigilo relativo à informação que

O DESAFIO DA ACF.ITA( ÃO PÚBl-iCA OA f.;lof:RGIA 1\lCLf \R

--~·:SAl> lO O~~~·(r ULJC"A D'\ E'IERCIA Nl'CLEAR

se estendia até mesmo a fatos básicos pode no forte sentimento anti nuclear presente na ter sido inevitável, mas também foi uma Alemanha. Apesar do sucesso na economia mundial e de uma forte cultura científica e cn1z pesada que a indústria passou a ter que carregar. de engenharia que favorece a racionalidade, Hoje. contudo, a indústria está muito os al1emães são muito contrários ao nuclear. Muito disso pode estar enraizado numa melhor. Ela usa a mesma linguagem de "envisão do passado de certa forma romântica, voh imento das partes interessadas'' como qualquer outro setor, e programas de responna qual o nuclear foi uma imposição que sabilidade socioambiental corporativa são não é nada bem-vinda. seguidos por suas empresas. Esses programas Outra questão é a força do testemunho. são executados segundo a ideia de que não Quem transmite os fatos pode ser mais importante do que os próprios fatos. Bons há nada a esconder e que um público bem informado tem mais probabilidade de dar defensores independentes são fundamentais seu apoio à indústria. Esta também tem sido para o setor, mas é dificil encontrá-los. Ama abordagem adotada por associações nuclebientalistas que dão o seu apoio ao nuclear, ares regionais, nacionais e internacionais: corno Patrick Moore e James Lovelock, passar as informações com máxima clareza podem ter bastante influência, em particular c transparência para o público trará maior com públicos jovens, mas são necessários aceitação. Embora a mais. Fatos sobre o popularidade de todos nuclear são mais persuO problema da imagem asivos quando alguém esses serviços tenha crescido, o problema pública do nuclea·r continua independente os relata. da imagem pública do Mesmo as melhores nuclear continua limi- limitando o seu potencial de fontes de informação tando o seu potencial de contribuição par:a a matriz precisam de esforço contribuição para a mapara serem ouvidas. energética mlUndial triz energética mundial. Frequentemente, as A indústria sempre pessoas não querem ser soube, entretanto, que somente clareza e bombardeadas por fatos, ou simplesmente transparência na divulgação de fatos reais n1io querem reagir a eles. Dessa forma, a pt~rsuasão requer uma estratégia mais sutil e não são suficientes. Muitas pessoas que têm uma atitude antinuclear são muito bem b:aseada na emoção. A maioria das pessoas informadas e extremamente inteligentes. tc:m questões bastante difíceis para enfrenO problema é que elas vecm o mundo de tar em suas vidas cotidianas sem ter que se uma forma bem diferente. O seu sistema preocupar com a origem da sua eletricidade. de valores remonta a uma era mítica préEmbora tenham realmente que pensar a -industrial em que o mundo era um lugar r•espeito, seria melhor não. É só quando temais simples, no qual o campo abundante rnos uma crise de energia, quando falta lUZ, era muito verde e no qual as tribulações do quando bá filas nos postos de gasolina ou mundo moderno não existiam. A energia quando os preços sobem rapidamente, que nuclear personifica muito daquilo que esses a maioria das pessoas se dá conta e percebe grupos odeiam em relação à vida de hoje, e a importância da energia nas suas vidas simplesmente dar a eles fatos só reforçará a cotidianas. Temos a reação semelhante ao sua desaprovação. Pode-se alegar que essa 1reflexo involuntário do joelho, que leva atitude também é uma força muito poderosa provavelmente a políticas de curto pra7o RM 84'1"/20 IS

inapro_p~iadas. Poucos países têm de fato - - - - - - ---d_e tudo o que se retere ao nuclear. A sua t t es ra eglas ~ne~géticas coerentes. Não paSituação na linha de frente da Guerra Fria rece q.ue o publtco em geral exija realmente r d I . com_ a_ rmas nucleares americanas ta'tl"cas' ess~. tpo e p aneJamento dos seus líderes pol~tlcos. o que é muito ruim. Temos que poslcto~adas no seu território. pode expliaceltar que a energia ainda seja vista car mtuto do que se vê hoje. Entretanto. muitas pessoas como água: é pratica me~~; parece que esse medo se espalhou também como se fosse um ato de Deus o fato de ~as gerações mais jovens. Ao contrário da ~star ali., En~retanto, podemos ver que o JUV~ntude de muitos países. parece que lmp~cto obvio do uso da energia no meio os _J~~ens alemães herdaram as mesmas opm10es dos seus pais. b ~m lente est,á gradativamente mudando ISSO. O debate sobre a mudança climática , . O viés da confirmação é outro conceito é a respeito de magnitudes e tipos de forutll. Ele postula que a maioria das pessoas nec1mento de energia. olha para 0 mundo não para encontrar a Os conceitos de verdade, mas simplesmente para encontrar "risco apavorante" e provas que deem suporExplicar at tecnologia te a crenças previamente ''viés de confirmação,, inculcadas. As pessoas podem ajudar aqui. n ] - se interessam muito Riscos apavorantes , uc ear e sem, fatos bás1"cos. nao são aqueles que cau- E importante para gerações em saber que podem sam medos despromais jovens que não estar erradas; não queporcionais, nos quais rem mudar os seus ponnenhum número ou ar- assimilaram OS preconceitos tos de vista. De acordo gumento técnjco pode e imagens negativas do com essa ideia, oferecer 1 mais provas poderia se influenciar a percepção, contra os quais é nuc ear, comum entre seus tornar contraproducenpraticamente impospais 1e avós te. Sempre soubemos sível lutar depois que que esse é o caso dos se estab_eleceram na mente das pessoas. ativistas antinucleares A energia nuclear está ligada ao medo da ~mpedernidos que, basicamente, não têm guerra mteresse na maioria dos aspectos do mundo . nucIear e ao pavoode uma morte por d radiação, que pode ser lenta e muito dolomo e~o, não somente na energia nuclear. rosa O r. E_ssa at_ltude, porém, é um fenômeno mu1"to • . e tato, em geral pode-se dizer que d fu o cancer representa um "risco apavorante" I ?dldo: todos os nossos esforços para · exphcar podem não valer para nada e tudo para , . mult_as pessoas, mesmo que hoie se sa b J o que dizemos tende a confirmar a Vl·sa-o de I a mwto mais sobre o seu diagnóstico e t~atamento do que antes. Portanto por que a energia nuclear não é segw-a. ll'le1o dess ' Então, como os defensores da energia .á e argumento, o setor nuclear 1 J perdeu a batalha com gerações mais nuc earchegariam até as pessoas? ComuniVelhas d . cações mais focalizadas com determinados . e cvena concentrar-se em educar ~s JOve~s. Explic~r-lhes tudo a respeito de grupo_s das partes interessadas podem de . ukushtma e radiação é particularmente ~ato ~Judar, e muito disso necessariamente lll'lportante nesse caso. Implicará explicar a tecnologia nuclear e O conceito de risco apavorante também seus fatos básicos. Sabe-se que é importante Pode ser útil para explicar o medo alemão co~e~arcom gerações mais jovens que não assimilaram os preconceitos e imagens neR\fB4rrt201S 109

I

O Ol ~.\tiO OA M tI f A~' \() l'llll I! A ll \ t "t'R!,IA ' li( U como sendo de alto risco, mas a indústria apenas começou a pensar como pode de tàto fazê-lo. !Percebem outras fontes de radioati\ idade, Di,ersas pesquisas de opinião mostram ..:omo os usos médicos e a radiação natural, que a aceitação pública da energia nuclear •;omo suscitando um risco muito menor. diminuiu desde que a crise de Fukushima Os especialistas veem as coisas de fonna começou, não só no Japão, mas também oposta: as primeiras como menos arriscadas c:rn outras nações ao redor do mundo. É do que o público crê, e as demais como fato também que, passados mais de quatro mais arriscadas do que em geral se admite. anos, essa tendência se reverteu e hoje os Esta diferença de percepção demonstra níveis de aceitação retomaram aos pataque a aceitação do risco é condicionada por mares anteriores ao acidente. As pessoas uma série de fatores, tais como a confian((a nos gestores da tecnologia e o apreço se opõem à energia nuclear por diversas pelos benefícios pessoais diretos que esta raLões, mas a preocupação predominante proporciona. Estratégias de comunicação é a percepção de que é uma tecnologia de alto risco. Essa percepção é amplificada que ajudem as pessoas a colocar os riscos por uma desconfiança da geração nuclear e das tecnologias comdos resíduos em persÉ nas comunidades mais pectiva, comparandoplexas generalizada na sociedade. -os com outros riscos. próximas das usinas Paradoxalmente, é podem ajudar a reduzir nas comunidades mais nucleares que se encontram o medo de radiação. próximas das usinas os mais altos níveis de Educação sobre a radianucleares que se enção também pode afetar aceitaçUo contram os mais altos as percepções de risco níveis de aceitação, o e atitudes. Embora as que pode ser explicado por convivência e diferenças entre as percepções dos leigos l' dos peritos não possa ser atribuída de conhecimento cotidiano, que fazem com alguma maneira direta ao grau de conhecique a percepção dos riscos seja mais realista, mas também por uma ptrcepção mais ' nento, é claro que uma melhor infonnação clara dos beneficios. sobre a radiação e suas consequências é A indústria nuclear tem tentado diversas necessária. estratégias para aumentar sua aceitação Há uma necessidade particulannente pública, incluindo campanhas de inforurgente de desenvolver planos e materiais mação, comparações de riscos e esforços para comunicação com o público em caso para promover a energia nuclear como dle acidentes radiológicos. O medo, a uma importante contribuição para mitigar raiva c a desconfiança da população após as mudanças climáticas. Nenhuma dessas Ct acidente de Fukushima mostram que a estratégias, entretanto, tem funcionado comunicação ainda é um grande problema. muito bem, principalmente porque pem1aO acidente de Chernobyl revelou enorneee uma lacuna de percepção. mes problemas na comunicação de risco O público percebe as formas de radiação na turopa. Funcionários rechearam suas de maneiras muito diferentes. PesqUisas mensagens com infonnações usando unifeitas em diversos países têm consistendades de medida obscuras para o público R\1A trrntHc

O OF.SAFIO DA ACEITAÇÃO PÚBLICA DA ENERGIA NUCLF.AR

amplamente superado, é pouco provável que nunca foram bem explicadas. A ansieque os custos desçam a níveis que perdade do público era grande e nem sempre mitam que novas usinas nucleares sejam relacionada à ameaça real. Os porta-vozes realmente competitivas nos mercados estavam em desacordo uns com os outros atuais da eletricidade. e jnconsistentes em suas avaliações dos A Alemanha baniu a geração nuclear uniriscos de consumir produtos agropecucamente em razão da aceitação do público, ários. Comparações com a exposição à independentemente do absurdo econômico radiação natural nas atividades cotidianas que isso n;:presentou. Pouco progresso não foram bem recebidas, porque a mídia e foi feito na aceitação pública desde o acio público não confiaram nas fontes dessas dente de Fukush ima. informações. Outras A resposta da indústria comparações, como, por exemplo, as taxas É o medo das consequêucias nuclear mundial ao acidente tem s ido fraca naturais de ocorrência da exposição à radiação que e fragmentada. Esse, de câncer, foram ainda corrobora a maioria dlas entretanto, é um desapior recebidas. Muitas das declarações feiáreas em que a indústJria fio que deve ser v isto de uma perspectiva em tas por funcionários para acalmar o público vem sofrendo ataque, dtesde longo prazo. Esco lhen do e ntre deixaram as pessoas a mineração de urânio, os futuros cenários do ainda mais confusas e passando pela seguramça recente "World Energy irritadas. operacional dos reatores, O utlook 2014", lançaO acidente de Fukusbima mostrou até a gestão dos resíduos, do em 15 de j unho de 2015 pela Agência Inque a comunicação do desmantelamento e do ternacional de Energia, ainda é um grande proaqueles que apresentam blema e que o medo, a transporte de materhllis um declínio notável no raiva e a desconfiança nucleares setor nuclear na Europa da população ainda pere América do Norte, sistem. Com certeza, a mas com ,crescimento significativo na comunicação tem melhorado desde o acidente China e em alguns outros países, parecem de Chemobyl, em 1986, mas a resposta depois ser os mais prováveis. O declínio em países de Fukushima, em 20 11, indica que há ainda mais estabelecidos em termos nucleares um longo caminho a percorrer. Sabemos o irá levar algum tempo para ser revertido, suficiente sobre a radiação e comunicação em vista que o número de novas tendo de riscos para habilitar especiaJjstas a desenconstruções é insuficiente para compensar volver mensagens eficazes. O desafio é que imento das usinas existentes. o envelhec as estratégias de comurucaçâo deveriam ser Uma e!;perança seria que as lições consideradas uma prioridade gerencial. aprendidas por meio da construção de um Embora hoje os maiores problemas do grande número de usinas padronizadas na setor nuclear sejam, sem d úvida, o custo China sejam eventualmente transferidas e o prazo de construção de novas usinas, para o mUJndo ocidental. Entretanto, sem isto é, em última aná lise, causado por abordar a questão da aceitação do público seu baixo nível de aceitação p ública. Até que o medo que cerca o setor nuc lear seja de forma abrangente, é improvável que isso

O OF.SAFIO I>A ACEITAÇÃO PÚBLICA OA ENERGIA NUCLEAR

------

aconteça. Para aqueles de nós convencidos desafio, mas teria que começar com as aulas de ciências da escola. É essencialmente um de que o setor nuclear deve desempenhar um papel importante no atendimento à desafio educacional que tem que começar demanda mundial por energia deste século, com aqueles que estarão vivendo suas vidas isto é profundamente frustrante. durante a maior parte deste século. Até 2030, porém, a mensagem de que as Não pode estar além da capacidade do setor nuclear desenvolver materiais educaenergias renováveis não poderão preencher cionais fantásticos que possam ser usados a lacuna deixada pela diminuição da utilização de combustíveis fósseis certamente irá internacionalmente, trazendo à luz (Sol é um reator nuclear natural!) as exposições ser claramente confinnada. Nesse ponto, os naturais de origem terrestre e cósmica, às esforços direcionados hoje para superar o quais todos são permanentemente submefator medo da indústria nuclear poderão dar frutos objetivos, talvez com reatores de protidos, e as exposições médicas, às quais jetos inovadores, que apresentem melhores crescente parte de nós se expõe voluntaresultados econômicos pela combinação de riamente, em busca de cura para diversas doenças. As consequências de bombas simplicidade e segurança aceitável. O primeiro ponto num plano de ação nucleares não podem ser evitadas aqui: para conquistar "co- ~~~~~~~~~~~~~~~~ as grandes 1iberações rações e mentes" seria de radiação em testes Os riscos associ:ados a um atmosféricos passados a melhoria da compreensão do público baixo nível de •~xposição foram significativas, sobre a radiação e uma mas hoje estão proscrià radiação precdsam ser tas por tratados internaampla reforma do regime internacional de colocados adeqUtadamente cionais. A indústria não proteção radiológica. no contexto de outros riscos tem nada a esconder e É o medo das consequdeve p rimar pela total enfrentados pdos seres ências da exposição à transparência. Em para lelo, o perradiação que corrobohumanos verso regi me inte rra a maioria das áreas nacional de proteção em que a indústria radiológica fundado no modelo linear novem sofrendo ataque, descte':bnineração de -threshold (LNT), que não possui base nem urânio, passando pela segurança operacional dos reatores, até a gestão dos resíduos, comprovação científica, deve ser refonnado desmantelamento e do transpo11e de dlo. Sem dúvida, haverá futuros acidentes materiais nucleares. É justamente isso que lllucleares com limitadas liberações externas marca o setor nuclear como excepcional. dle radiação. Deve-se supor que algo da ordem de Fukushima possa vir a acontecer Até o público em geral e os seus representantes políticos entenderem melhor a novamente. Com as coisas como estão radiação e seus reais efeitos, seu medo (de hoje, nós estaríamos diante de mais uma fato terror) da energia nuclear não poderá evacuação em massa da população local, ser combatido. sem uma avaliação adequada dos riscos Esta primeira etapa de compreensão do nelativos envolvidos e dos correspondentes Público é extremamente dificil. Explicar custos e benefícios. tudo sobre algo que não pode ser detectado Os riscos associados a um baixo nível de Por nenhum dos sentidos humanos é um exposição à radiação precisam ser coloca-

O Of.'iAFIO UAACF.ITA(',\0 l'l BLICA DA f'EilGIA '•l(l I All

() OE:S \FIO O \ACt.ITAÇ\0 ~~ BLIC..\ D \F" liGIA :\lCI t· \R

deles acham a tecnologia nuclear atual tão dos adequadamente no contexto de outros riscos enfrentados pelos seres humanos. insatisfatória que abraçam novos conceitos Embora ainda haja algumas divergências um tanto quanto .., isionários" sobre reatointernas sobre isso, a indústria precisa res do futuro, os quais, invariavelmente, já chegar a um consenso pelo qual ela possa foram testados e abandonados no passado. Mesmo que algumas pessoas acreditem desafiar o regime atual. As pessoas de Fukushima foram muito mais vítimas da firmemente na ciência por trás da conclusão evacuação em massa do que da radiação. A de que impactos perigosos c irreversíveis indústria nuclear tem de assumjr a liderança ao clima já ocorreram a partir da atividade e solicitar uma avaliação mais racional e humana e que, sem ação, muitos mais virão, científica dos riscos humanos e começar a todo o processo de mitigação das mudanças colocá-la em todas as decisões. climáticas tomou-se um absurdo burocrático Uma enonne quantidade de trabalhos de intcmaciona I. Parece improvável que o setor pesquisa muito bem fcitosjá foi elaborada nuclear vá ganhar muito, se ganhar, a partir de nesta área. mas até que essa realidade se medidas que possam vir a ser criadas decorreflita nas políticas públicas, a indústria rentes de acordos internacionais ou políticas terá um grande prolocais. Pelo contrário, as blema. Em certa meregras que têm surgido O maior argumento dle dida. pode até se sentir internacionalmente tenvitimizada enquanto "venda" do setor nuclt::ar dem a penalizar o setor outros setores indusé que ele pode, operado nuclear. lsso porque as triais escapam livres pessoas que definem corretamente, produzir essas regras são, invade pressões, mas a indústria nuclear tem de grandes quantidades de riavelmente, contrárias superar isso por meio ao setor por razões ide-energia de forma muito ológicas diversas. de suas próprias ações. O segundo ponto Parece que sempre confiável, barata e coJtn. num plano de ação teque o setor nuclear se mínimo impacto ambie][)tal ria que ser uma reavaenvolve em qualquer liação das mudanças coisa em que burocratas climáticas como o principal argumento tentam comandar, controlar c proteger o púde justificativa para mais energia nuclear. blico, ele tende a perder, vide problema que Esta é uma proposta um tanto controversa, o setor nuclear tem com respeito à proteção e muitos a considerariam herética. Entreradiológica.. Pessoas bem-intencionadas se tanto, lançar mão de ambientalistas que propõem a ajudar, mas os resultados são finalmente "viram a luz" e atravessaram frequentemente contrários. Com as políticas as linhas inimigas para abraçar a indústria de mitigaçâtO da mudança climática, são as nuclear como uma espécie de último recurenergias renováveis que têm se beneficiado so quando todo o resto. na avaliação deles. muito, apesar de seus resultados muitas falhou não parece boa estratégia. vezes contraditórios, como o aumento das Uma crença fervorosa é tudo o que esses emissões de carbono na Alemanha e um auambienta listas trazem para a causa nuclear. mento ccomomicamente suicida nos custos. já que essas pessoas têm pouca compreenO aspecto ambiental da questão nuclear são das realidades comerciais da geração está mais ligado ao seu potencial de limpar elétrica nuclear no mundo de hoje. Muitos o ar nas cidades chinesas e à boa adm inis-

tração dos recursos da Terra. economizando in.dustrial. Constata-se, porém, que essas hidrocarbonetos valiosos que têm imporinf01mações ajudam pouco em obter uma tantes usos alternativos. do que à geração re.al aproximação à opinião pública. De fato, de energia. Entretanto, sabemos que os as pessoas são irracionais quando apresenfomlUladores de políticas, infelizmente, têm tadas aos fatos sobre o setor nuclear. O que ignorado de forma abrangente os beneficios os defensores da indústria pensam serem nucleares, embora eles já tenham sido claramensagens muito positivas sobre o aumento mente identificados pela análise do ciclo de dat segurança dos mais recentes projetos de v ida de sistemas de energia há muitos anos. reatores ou quanto aos novos procedimentos O maior argumento de "venda" do setor que superam limites rcgulatórios estabenuclear é que ele pode, operado corretale·cidos, acabam levando ao público uma mente. produzir grandes quantidades de mensagem oposta, a)jrnentando seus receios. energia de forma muito confiável, barata e A resposta tem que vir de uma mudança com mínimo impacto ambiental. de imagem da indústria. Isso será muito O terceiro c último ponto do plano de difícil de ser alcançado, dado o ponto ação é ficar longe da abordagem baseada de partida desfavorável: muitas pessoas em fatos para conquistar a opinião pública. pensam que a energia nuclear é uma das A indústria nuclear coisas mais perigosas sempre acreditou que do planeta. Conseguir "a verdade vai premelhor compreensão Em última análise, para valecer" c, portanto, sobre a radiação c coaqueles que acreditam, conta com o fornecilocar as mensagens nenhuma prova é mento de uma massa positivas certas sobre a de notícias e informanecessária, e para aqueles energia nuclear (limpa, ções, acreditando que barata e segura) vai que não acreditam, isso 1rá convencer as ajudar muito, mas esta pessoas de que sua nenhuma prova é suficiente é claramente uma tatecnologia é a melhor refa para especialistas opção. Entretanto, a de relações públicas. informação tactual detém pouca inOuência fmagens positivas da energia nuclear na no comportamento das pes~o~. sendo a TV c no cinema muito ajudariam, possivelcrença o fator "todo-poderoso". O campo mente um personagem de desenho animado antmuclear tem sido muito bem-sucedido rdacionado à energia nuclear (certamente ao longo dos anos em incutir nas pessoas a niio llomer Simpson). Tudo para criar crença de que a energia nuclear é perigosa e familiaridade do público com a geração "do mal". As aflições são atiçadas apelando elétrica nuclear. passando este a vê-la como para as emoções. e não ao intelecto. Por essa uma atividade normal e não como uma razão, quaisquer declarações factuais contra "máquina do fim do mundo". Alguns bons essa crença devem ser C\ itadas. Tcntati' as defensores demonstrando apoio à indústria de oferecer somente cada vez mais c melhor também seriam muito úteis. como talvez informação podem ser contraproducentes. notáveis desportistas, atores e músicos. As organizações representativas da Em última análise, para aqueles que indústria nuclear provavelmente fornecem acreditam. nenhuma prova é necessária, e mais e melhor informação para o resto para aqueles que não acreditam, nenhuma do mundo do que qualquer outro setor pmva é suficiente. Ficar longe da nuvem de

114

115

O DES.\nO O\ \( fiT\Ç \() l'l BLICA DA E'\fR(,IA 'lCLt.
Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.