O desafio da mudança de paradigma: o Antropoceno nas Relações Internacionais
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O desafio da mudança de paradigma: o Antropoceno nas Relações Internacionais, por Larissa Basso e Eduardo Viola
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Cai o preço do petróleo, aumenta a produção de energia renovável: como explicar?, por Larissa Basso The Great Destruction in Brazil: How to downgrade an
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Internacional
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Roberto de Almeida Boletim Mundorama – No. 101 – Janeiro/2016
No início dos anos 2000, os professores Crutzen e Stoermer publicaram trabalhos nos quais refletem sobre
a
passagem
para
uma
nova
época
geológica. A mudança seria caracterizada pelo fim da
resiliência
dos
sistemas
ecológicos:
a
capacidade dos sistemas retornarem ao equilíbrio
Moçambique:
após enfrentarem interferências, presente desde
Um Estranho
a última glaciação (há aproximadamente onze mil
Silêncio, José
anos) até o terceiro quarto do século XX, teria
Alejandro
chegado ao fim. O principal vetor da mudança foi
Sebastian
o crescimento exponencial da população humana
Barrios Díaz
e a consequente acumulação dos impactos sobre
Notícias de Angola: as relações políticas entre Angola e Portugal segundo a imprensa portuguesa, por Samuel de Jesus Concurso de Monografias da União Europeia As cidades no coração da governança climática global, por Alberto Luiz Teixeira da Silva e Mercedes Pardo Buendía
o
meio
ambiente,
chamada
de
“grande
aceleração”. Na atual época geológica, diversas fronteiras planetárias, limites para uma existência segura na Terra (ROCKSTROM et al 2009; STEFFEN et al, 2015), estão sendo ultrapassadas. E porque a humanidade é o grande vetor da ultrapassagem, a época é denominada Antropoceno. As
Relações
atualização
Internacionais
para
essa
nova
carecem
de
realidade.
Os
conceitos base da disciplina foram elaborados na época em que o meio ambiente era estável, por isso considerado não mais do que plano de fundo para os conflitos humanos – esses sim centrais para as Relações Internacionais (DALBY, 2013). Poder, interesse nacional, ameaça e segurança eram definidos nessas bases: o “inimigo” era o outro; sobreviver no sistema internacional era o interesse maior de qualquer Estado; regras comuns só seriam válidas na medida em que emitidas e disciplinadas de acordo com o princípio da soberania. O risco de uma situação ter
impacto
de
desestabilizar
o
sistema
internacional era inversamente proporcional à http://www.mundorama.net/2015/12/31/o-desafio-da-mudanca-de-parad…no-nas-relacoes-internacionais-por-larissa-basso-e-eduardo-viola/
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A política
possibilidade de a situação ocorrer (DALBY, 2013).
externa
Ou seja: situações de alta probabilidade de
independente e
ocorrência tinham baixos riscos de perturbar o
algumas
sistema; situações de alto impacto sobre o
interpretações
sistema internacional, tinham baixa probabilidade
sociológicas
de ocorrer. Desde a década de 1950 emergiu um
sobre o Brasil:
novo tipo de risco/ameaça – a guerra nuclear
ecos na
global – com baixa probabilidade, mas capacidade
atualidade, por
de
Ana Carolina
provavelmente extinguir a espécie humana. Esta
Canellas
ameaça passou a dominar todo o sistema de
Brazil-Iran Relations: What to Expect from a Post-Sanctions Era, by Cristine K. Zanella
destruir
completamente
a
civilização
e
calculo decisório das superpotências: a doutrina de destruição mútua assegurada. Mas esse cálculos de risco, pré-armas nucleares e com as armas nucleares, não são mais válidos. A instabilidade ambiental tira o meio ambiente do pano de fundo e o coloca como protagonista das
Nova geração
grandes
de operações de
Mudança do clima, escassez de água doce e
paz da ONU?,
acidificação dos oceanos, entre outros, fazem da
por Vanessa
sobrevivência da civilização humana, no longo
Braga Matijascic
prazo, uma incógnita. Por esse motivo, os
Violência e tecnologia: é possível pensar a paz a partir de uma sociologia dos armamentos?, por Alcides E. Peron Opinião Pública e Política Externa no Governo Goulart (1961-
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ameaças
ao
sistema
internacional.
conflitos são, agora, muito mais complexos. De fato, os conflitos humanos ganharam, nas últimas décadas, nuances muito diversas. Há conflitos interestatais e mudanças na balança de poder entre Estados, com a ascensão parcial da Ásia/Pacífico para o centro do poder, dividindo-o com Estados ocidentais, e a diminuição do papel dos EUA como garantidor de última instância da estabilidade global – fenômeno da transição de poder. A sociedade da informação, porém, erodiu parcialmente poderes estabelecidos e trouxe para o
protagonismo
empresas,
atores
ONGs,
não
governos
estatais,
como
subnacionais,
organizações religiosas e redes societais. Sobem ao
centro
da
cena
internacional
interesses
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64) – uma
diversos dos de Estados nacionais; há conflitos
entrevista com
mais difusos e mais difíceis de serem controlados
os autores, por
– o terrorismo global e a atuação de redes
Daniel C. Gomes
criminosas internacionais são os exemplos mais
Interesses e valores na política externa de Obama– uma entrevista com Maria Helena de Castro Santos e Ulysses Teixeira, por Daniel C. Gomes
importantes.
As
Relações
Internacionais
compreenderam essa transformação, a difusão de poder, e tentam adaptar seus conceitos a essa nova realidade. A instabilidade ambiental, porém, ainda não foi internalizada
pela
grande
maioria
dos
internacionalistas, embora este quadro esteja mudando significativamente nos últimos anos. Quando o meio ambiente se torna instável, a humanidade, além de seus conflitos internos,
How Coherent
passa a ter um desafio comum: enfrentar essa
Was Brazil’s
instabilidade para assegurar sua sobrevivência no
Public Opinion
longo prazo. Nessa situação, os conceitos de risco,
during the
ameaça
Administration
atualizados.
of President João Goulart (1961-1964)?, by Felipe Loureiro, Adriana Schor & Feliciano
e
interesse
nacional
precisam
ser
Em primeiro lugar, o cálculo de risco enraizado na psique humana não é mais válido: fenômenos da instabilidade ambiental têm alta possibilidade de acontecer – a mudança do clima, por exemplo, é consequência direta da acumulação de gases de
Guimarães
efeito estufa na atmosfera (leis da física) – e alto
As
probabilidade que ocorra é alta – já está em curso
especificidades da Segunda Guerra Mundial e o Japão de Shinzo Abe, por Fernando Horta Revista Austral apresenta chamada de
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impacto
sobre
o
sistema
internacional.
A
– e seu impacto é também alto. Temperaturas extremas,
secas
prolongadas,
enchentes,
tsunamis e outros fenômenos climáticos extremos tornaram-se mais frequentes, e os impactos já estão sendo sentidos – o número de refugiados climáticos, por exemplo, está aumentando e a situação tende a se tornar crítica no futuro próximo. Em segundo, o “grande inimigo” não é mais o
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artigos Émeric Crucé and The 1623 Plan for Global Governance: The Obscure History of Its Reception – an interview with Germán de la Reza, by Leonardo Bandarra
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outro, o diverso, mas os modos de vida de grande parte da sociedade contemporânea capitalista, os padrões de produção e hiperconsumo. Mitigar a ameaça
da
instabilidade
ambiental
significa
diminuir drasticamente o consumo das classes altas em todos os países e moderar o consumo das classes médias nos países de renda alta e média; precificar o uso de bens ambientais; eliminar os combustíveis fósseis e taxar as emissões de carbono; distribuir mais a renda; investir
pesadamente
em
educação
para
aumentar a consciência de causas e efeitos de longo prazo e para reformular a definição de sucesso.
É
uma
revolução,
e
envolve,
Os 40 anos da
simultaneamente, ações de direcionamento e
Resolução sobre
mudanças de comportamento.
Sionismo e Racismo da
Nesse sentido, e em terceiro lugar, interesse
ONU –
nacional passa a bases mais amplas: em um
entrevista com
mundo complexo como o da sociedade da
os autores, por
informação, pensar o Estado como ator unitário é
Leonardo C.
irreal. Ele é, na verdade, plural, conjunto de
Bandarra
governo,
Why did Brazil vote to brand Zionism a form of Racism?, by Norma Breda dos Santos & Eduardo Uziel Pope Francis and the Challenges of Inter-Civilization Diplomacy – an interview with Boris Vukićević,
empresas,
comunidade
científica
e
sociedade civil (VIOLA, FRANCHINI e RIBEIRO, 2013). Esses grupos têm interesse conflitantes, mas também interesses comuns, em especial a sobrevivência humana no longo prazo. Buscar diálogo em relação ao que é conflitante, de modo a acomodar as diferenças, mas sempre tendo em máxima consideração o que é comum, é a chave da atualização do interesse nacional para o século XXI. As
Relações
Internacionais
ainda
não
internalizaram a realidade do Antropoceno e a necessidade de atualização dos conceitos para fazer frente aos desafios dele decorrentes. É nosso papel na Academia insistir com essa necessária mudança de paradigma, de modo que
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by Leonardo C.
nossas pesquisas estejam em consonância com
Bandarra
os
desafios
contemporâneos
e
ajudem
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a
compreender as causas dos conflitos no sistema internacional e os caminhos de sua solução, razão de ser da disciplina. Referências: CRUTZEN
e
STOERMER
(2000):
The
Anthropocene. Global Change Newsletter, n. 41, p. 17-18. DALBY
(2013):
Biopolitics
and
climate
security in the Anthropocene. Geoforum, v. 49, p. 184–192. ROCKSTROM et al (2009): A safe operating space for humanity. Nature, v. 461, p. 472475. STEFFEN et al (2015): Planetary boundaries: Guiding human development on a changing planet. Science, v. 347, n. 6223. VIOLA et al (2013): Sistema internacional de
hegemonia
conservadora
–
governança global e democracia na era da crise climática. São Paulo: Annablume.
Larissa Basso é doutoranda no Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília e membro da rede de pesquisa Sistema Internacional no Antropoceno e Mudança
Global
do
Clima
(
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