O desafio da mudança de paradigma: o Antropoceno nas Relações Internacionais

June 8, 2017 | Autor: Larissa Basso | Categoria: International Relations, Climate Change, Anthropocene
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O desafio da mudança de paradigma: o Antropoceno nas Relações Internacionais, por Larissa Basso e Eduardo Viola

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Roberto de Almeida Boletim Mundorama – No. 101 – Janeiro/2016

No início dos anos 2000, os professores Crutzen e Stoermer publicaram trabalhos nos quais refletem sobre

a

passagem

para

uma

nova

época

geológica. A mudança seria caracterizada pelo fim da

resiliência

dos

sistemas

ecológicos:

a

capacidade dos sistemas retornarem ao equilíbrio

Moçambique:

após enfrentarem interferências, presente desde

Um Estranho

a última glaciação (há aproximadamente onze mil

Silêncio, José

anos) até o terceiro quarto do século XX, teria

Alejandro

chegado ao fim. O principal vetor da mudança foi

Sebastian

o crescimento exponencial da população humana

Barrios Díaz

e a consequente acumulação dos impactos sobre

Notícias de Angola: as relações políticas entre Angola e Portugal segundo a imprensa portuguesa, por Samuel de Jesus Concurso de Monografias da União Europeia As cidades no coração da governança climática global, por Alberto Luiz Teixeira da Silva e Mercedes Pardo Buendía

o

meio

ambiente,

chamada

de

“grande

aceleração”. Na atual época geológica, diversas fronteiras planetárias, limites para uma existência segura na Terra (ROCKSTROM et al 2009; STEFFEN et al, 2015), estão sendo ultrapassadas. E porque a humanidade é o grande vetor da ultrapassagem, a época é denominada Antropoceno. As

Relações

atualização

Internacionais

para

essa

nova

carecem

de

realidade.

Os

conceitos base da disciplina foram elaborados na época em que o meio ambiente era estável, por isso considerado não mais do que plano de fundo para os conflitos humanos – esses sim centrais para as Relações Internacionais (DALBY, 2013). Poder, interesse nacional, ameaça e segurança eram definidos nessas bases: o “inimigo” era o outro; sobreviver no sistema internacional era o interesse maior de qualquer Estado; regras comuns só seriam válidas na medida em que emitidas e disciplinadas de acordo com o princípio da soberania. O risco de uma situação ter

impacto

de

desestabilizar

o

sistema

internacional era inversamente proporcional à http://www.mundorama.net/2015/12/31/o-desafio-da-mudanca-de-parad…no-nas-relacoes-internacionais-por-larissa-basso-e-eduardo-viola/

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A política

possibilidade de a situação ocorrer (DALBY, 2013).

externa

Ou seja: situações de alta probabilidade de

independente e

ocorrência tinham baixos riscos de perturbar o

algumas

sistema; situações de alto impacto sobre o

interpretações

sistema internacional, tinham baixa probabilidade

sociológicas

de ocorrer. Desde a década de 1950 emergiu um

sobre o Brasil:

novo tipo de risco/ameaça – a guerra nuclear

ecos na

global – com baixa probabilidade, mas capacidade

atualidade, por

de

Ana Carolina

provavelmente extinguir a espécie humana. Esta

Canellas

ameaça passou a dominar todo o sistema de

Brazil-Iran Relations: What to Expect from a Post-Sanctions Era, by Cristine K. Zanella

destruir

completamente

a

civilização

e

calculo decisório das superpotências: a doutrina de destruição mútua assegurada. Mas esse cálculos de risco, pré-armas nucleares e com as armas nucleares, não são mais válidos. A instabilidade ambiental tira o meio ambiente do pano de fundo e o coloca como protagonista das

Nova geração

grandes

de operações de

Mudança do clima, escassez de água doce e

paz da ONU?,

acidificação dos oceanos, entre outros, fazem da

por Vanessa

sobrevivência da civilização humana, no longo

Braga Matijascic

prazo, uma incógnita. Por esse motivo, os

Violência e tecnologia: é possível pensar a paz a partir de uma sociologia dos armamentos?, por Alcides E. Peron Opinião Pública e Política Externa no Governo Goulart (1961-

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ameaças

ao

sistema

internacional.

conflitos são, agora, muito mais complexos. De fato, os conflitos humanos ganharam, nas últimas décadas, nuances muito diversas. Há conflitos interestatais e mudanças na balança de poder entre Estados, com a ascensão parcial da Ásia/Pacífico para o centro do poder, dividindo-o com Estados ocidentais, e a diminuição do papel dos EUA como garantidor de última instância da estabilidade global – fenômeno da transição de poder. A sociedade da informação, porém, erodiu parcialmente poderes estabelecidos e trouxe para o

protagonismo

empresas,

atores

ONGs,

não

governos

estatais,

como

subnacionais,

organizações religiosas e redes societais. Sobem ao

centro

da

cena

internacional

interesses

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64) – uma

diversos dos de Estados nacionais; há conflitos

entrevista com

mais difusos e mais difíceis de serem controlados

os autores, por

– o terrorismo global e a atuação de redes

Daniel C. Gomes

criminosas internacionais são os exemplos mais

Interesses e valores na política externa de Obama– uma entrevista com Maria Helena de Castro Santos e Ulysses Teixeira, por Daniel C. Gomes

importantes.

As

Relações

Internacionais

compreenderam essa transformação, a difusão de poder, e tentam adaptar seus conceitos a essa nova realidade. A instabilidade ambiental, porém, ainda não foi internalizada

pela

grande

maioria

dos

internacionalistas, embora este quadro esteja mudando significativamente nos últimos anos. Quando o meio ambiente se torna instável, a humanidade, além de seus conflitos internos,

How Coherent

passa a ter um desafio comum: enfrentar essa

Was Brazil’s

instabilidade para assegurar sua sobrevivência no

Public Opinion

longo prazo. Nessa situação, os conceitos de risco,

during the

ameaça

Administration

atualizados.

of President João Goulart (1961-1964)?, by Felipe Loureiro, Adriana Schor & Feliciano

e

interesse

nacional

precisam

ser

Em primeiro lugar, o cálculo de risco enraizado na psique humana não é mais válido: fenômenos da instabilidade ambiental têm alta possibilidade de acontecer – a mudança do clima, por exemplo, é consequência direta da acumulação de gases de

Guimarães

efeito estufa na atmosfera (leis da física) – e alto

As

probabilidade que ocorra é alta – já está em curso

especificidades da Segunda Guerra Mundial e o Japão de Shinzo Abe, por Fernando Horta Revista Austral apresenta chamada de

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impacto

sobre

o

sistema

internacional.

A

– e seu impacto é também alto. Temperaturas extremas,

secas

prolongadas,

enchentes,

tsunamis e outros fenômenos climáticos extremos tornaram-se mais frequentes, e os impactos já estão sendo sentidos – o número de refugiados climáticos, por exemplo, está aumentando e a situação tende a se tornar crítica no futuro próximo. Em segundo, o “grande inimigo” não é mais o

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artigos Émeric Crucé and The 1623 Plan for Global Governance: The Obscure History of Its Reception – an interview with Germán de la Reza, by Leonardo Bandarra

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outro, o diverso, mas os modos de vida de grande parte da sociedade contemporânea capitalista, os padrões de produção e hiperconsumo. Mitigar a ameaça

da

instabilidade

ambiental

significa

diminuir drasticamente o consumo das classes altas em todos os países e moderar o consumo das classes médias nos países de renda alta e média; precificar o uso de bens ambientais; eliminar os combustíveis fósseis e taxar as emissões de carbono; distribuir mais a renda; investir

pesadamente

em

educação

para

aumentar a consciência de causas e efeitos de longo prazo e para reformular a definição de sucesso.

É

uma

revolução,

e

envolve,

Os 40 anos da

simultaneamente, ações de direcionamento e

Resolução sobre

mudanças de comportamento.

Sionismo e Racismo da

Nesse sentido, e em terceiro lugar, interesse

ONU –

nacional passa a bases mais amplas: em um

entrevista com

mundo complexo como o da sociedade da

os autores, por

informação, pensar o Estado como ator unitário é

Leonardo C.

irreal. Ele é, na verdade, plural, conjunto de

Bandarra

governo,

Why did Brazil vote to brand Zionism a form of Racism?, by Norma Breda dos Santos & Eduardo Uziel Pope Francis and the Challenges of Inter-Civilization Diplomacy – an interview with Boris Vukićević,

empresas,

comunidade

científica

e

sociedade civil (VIOLA, FRANCHINI e RIBEIRO, 2013). Esses grupos têm interesse conflitantes, mas também interesses comuns, em especial a sobrevivência humana no longo prazo. Buscar diálogo em relação ao que é conflitante, de modo a acomodar as diferenças, mas sempre tendo em máxima consideração o que é comum, é a chave da atualização do interesse nacional para o século XXI. As

Relações

Internacionais

ainda

não

internalizaram a realidade do Antropoceno e a necessidade de atualização dos conceitos para fazer frente aos desafios dele decorrentes. É nosso papel na Academia insistir com essa necessária mudança de paradigma, de modo que

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by Leonardo C.

nossas pesquisas estejam em consonância com

Bandarra

os

desafios

contemporâneos

e

ajudem

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a

compreender as causas dos conflitos no sistema internacional e os caminhos de sua solução, razão de ser da disciplina. Referências: CRUTZEN

e

STOERMER

(2000):

The

Anthropocene. Global Change Newsletter, n. 41, p. 17-18. DALBY

(2013):

Biopolitics

and

climate

security in the Anthropocene. Geoforum, v. 49, p. 184–192. ROCKSTROM et al (2009): A safe operating space for humanity. Nature, v. 461, p. 472475. STEFFEN et al (2015): Planetary boundaries: Guiding human development on a changing planet. Science, v. 347, n. 6223. VIOLA et al (2013): Sistema internacional de

hegemonia

conservadora



governança global e democracia na era da crise climática. São Paulo: Annablume.

Larissa Basso é doutoranda no Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília e membro da rede de pesquisa Sistema Internacional no Antropoceno e Mudança

Global

do

Clima

(
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