O (Des)Aprendizado de Si: transexualidades, interação e cuidado em saúde

O (Des)Aprendizado de Si

Ana Cristina Ostermann Professora titular do Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da Universidade do Vale do Rio dos Sinos e pesquisadora do CNPq

Rodrigo Borba Rodrigo Borba Doutor em linguística aplicada, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atuou como pesquisador visitante no Centre for Language, Discourse and Communication da Universidade de Londres e no Department of English Language and Applied Linguistics da Universidade de Birmingham, no Reino Unido. Ganhador do Prêmio Capes de Teses 2015 na área de Letras/Linguística.

O (Des)Aprendizado de Si: transexualidades, interação e cuidado em saúde

Esta obra contribui de forma inestimável para uma compreensão mais alargada e, ao mesmo tempo, mais aprofundada dos inúmeros fenômenos linguísticos, discursivos e semióticos envolvidos no Processo Transexualizador. Habilmente navegando em diferentes áreas — linguística (aplicada), sociologia, filosofia, antropologia —, Rodrigo Borba adentra e descreve, de forma inusitada, as instituições e outros espaços da vida cotidiana que não apenas constituem o cenário em que pessoas trans (des)aprendem a ser um transexual verdadeiro, mas que são, eles mesmos, constitutivos desse processo. O autor se vale de uma etnografia de ordem mais micro, a investigação da fala-em-interação, gravada e transcrita minuciosamente, e se propõe a olhar o que normalmente é entendido como pequenos detalhes da vida cotidiana, por exemplo, a forma como uma pergunta é feita, onde se encaixa um riso ou mesmo um suspiro na interação, os alinhamentos e desalinhamentos interacionais, entre tantos outros.

Antropologia e Saúde

Assim, com maestria, ao mesmo tempo que nos apresenta uma reflexão profunda que abarca as complexidades envolvidas no (des)aprender a ser trans, Borba nos proporciona um texto agradável e bastante sensível, que certamente interessará a leitores e leitoras das mais diferentes áreas voltadas para a (des)construção identitária de gênero e sexual e para as práticas de cuidado em saúde.

Antropologia e Saúde

(e institucionalizador). Com essa preciosa perspectiva analítica, amparado por notas de campo que também oferecem uma gama de outros recursos semióticos envolvidos no processo de ser e fazer no mundo, Borba é capaz de desvendar o não óbvio, aquilo que não é visto a olho nu.

O campo das investigações antropológicas sobre a saúde e a doença tem experimentado rápida expansão nos principais centros acadêmicos internacionais. Esse crescimento acontece também no Brasil, onde se verifica a consolidação de linhas de pesquisa que representam as mais variadas vertentes teóricas da antropologia da saúde. A coleção Antropologia e Saúde dissemina produção de alta qualidade, oriunda de centros de pesquisa e pós-graduação nacionais tanto em saúde coletiva como em antropologia, e divulga textos de autores estrangeiros considerados clássicos neste campo. Contribuir para o desenvolvimento e a divulgação de referenciais teóricos e metodológicos que suscitem perspectivas inovadoras na abordagem interdisciplinar do processo saúde­-doença e estimular um crescente diálogo entre as ciências sociais/antropologia e as ciências da saúde/saúde coletiva no Brasil são seus principais objetivos.

O (Des)Aprendizado de Si: transexualidades, interação e cuidado em saúde

O livro, portanto, sem jamais perder de foco os contextos macro, oferece-nos um mergulho profundo nas minúcias da (des)cons– trução identitária trans, nos processos e negociações discursivas que acontecem a cada novo encontro com o corpo multiprofissional na instituição de saúde, no cuidado que se tem com as escolhas ao se vestir, ao falar, ao impostar (ou não) a voz, e nas trocas e (des)aprendizagens que se dão entre os/as já iniciados/as e os/as iniciantes no percurso institucional