O Desenvolvimento da Pesquisa Científica no Brasil Envolvendo Organizações e Sustentabilidade: evolução e estruturação do campo na área de administração

June 23, 2017 | Autor: É. Fernandes | Categoria: Brasil, Sustentabilidade, Comunicação Científica, Administração, Campo Organizacional
Share Embed


Descrição do Produto

O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA CIENTÍFICA NO BRASIL ENVOLVENDO ORGANIZAÇÕES E SUSTENTABILIDADE: EVOLUÇÃO E ESTRUTURAÇÃO DO CAMPO NA ÁREA DE ADMINISTRAÇÃO Érik Álvaro Fernandes (1); Carlos Eduardo de Lima (2); Saulo Fabiano Amâncio-Vieira (3) Programa de Pós-Graduação em Administração - Universidade Estadual de Londrina Rodovia Celso Garcia Cid, Km 380 - Campus Universitário. Londrina, Paraná, Fone/Fax 43 3371-4693 (1) [email protected]; (2) [email protected]; (3) [email protected] Érik Álvaro Fernandes – [email protected] Formação universitária para desenvolvimento sustentável em nível de graduação e pósgraduação – Políticas, procedimentos e programas educativos para sustentabilidade RESUMO

O desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade emergiram como propostas de solução aos problemas sociais e ambientais presentes na sociedade. No campo cientifico da área de Administração, cresceu o número de comunicação científica (periódicos, dissertações, teses, etc.), abordando esta nova realidade, propondo e analisando formas de ação, principalmente por parte das empresas. Este movimento ocorreu devido ao reconhecimento de seu papel, tanto para a consolidação dessas crises, quanto para a perspectiva de mudança que podem desempenhar. Diante do exposto, esta pesquisa visa determinar a evolução histórica do campo de pesquisa na área de administração e sustentabilidade. Quanto aos procedimentos metodológicos, a pesquisa classifica-se como exploratória, descritiva, quantitativa, cujos dados foram extraídos de periódicos nacionais na área de Administração, com qualis CAPES superiores a B2. No que tange os resultados, verificouse uma significativa evolução sobre o tema sustentabilidade entre 2000 e 2014; definiu-se os principais centros difusores de pesquisa e a rede de relacionamento que serve de suporte para o intercâmbio científico; pôde-se observar uma significativa evolução deste campo de pesquisa apontando para a possibilidade de consolidação do conhecimento nacional na área. Palavras-Chaves: sustentabilidade, Administração, campo organizacional, comunicação científica, Brasil ABSTRACT

The last decades of the twentieth century and early twenty-first century, sustainable development and sustainability emerged as proposed solutions to the social and environmental problems in society. In the scientific field of Administration, increased the number of scientific communication (journals, dissertations, theses, etc.), addressing this new reality, proposing and analyzing forms of action, mainly by companies. This move was due to the recognition of their role, both for the consolidation of these crises, as to the

prospect of change that can play. Given the above, this research aims to determine the historical evolution of the field of research in the area of administration and sustainability. In the methodological procedures, the research is classified as exploratory, descriptive, and quantitative and the data were extracted from national journals in the area of Administration, with qualis CAPES above B2. Regarding the results, there was a significant change on the sustainability issue and organizations between 2000 and 2014; set up the main research centers diffusers and the network of relationships which support for scientific exchange; could observe a significant evolution of this field of research pointing to the possibility of national knowledge consolidation in the area. Key words; sustainability, management, organizational field, scientific communication, Brazil.

1.

INTRODUÇÃO

O debate sobre a crise socioambiental tomou maiores proporções após a realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Homem e o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo no ano de 1972 e, posteriormente, em 1987 com a publicação do “Relatório de Brundtland”. Tais acontecimentos possibilitaram, a formalização do conceito de desenvolvimento sustentável como sendo aquele que responderia às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de responder às suas próprias necessidades (BARKEMEYER et al., 2011; VOZ, 2003; REDCLIFT, 2005). Desde então, desenvolvimento sustentável e, por conseguinte, a sustentabilidade emergiram como propostas que poderiam ser consideradas como respostas à crise socioambiental e suas implicações danosas equilíbrio dos ecossistemas às formas de vida existentes. Seja por busca de legitimação, imposição governamental ou pressão da sociedade, os princípios da sustentabilidade passaram a compor a agenda de muitas instituições ao redor do mundo, dentre elas as elas as ONGs e instituições de pesquisa. Seja no contexto público ou privado, cada organização passou a questionar sobre o seu papel em uma nova perspectiva de desenvolvimento, pelo qual o sistema produtivo anterior se demonstrava incoerente com a capacidade de carga do planeta tampouco dava conta dava conta dos problemas sociais. Preocupação está também presente no meio acadêmico. A internalização do conceito de sustentabilidade ocorreu via crescimento do número de programas de cursos em nível de graduação e pós-graduação com concentração e linhas de pesquisa nesta área, criação de projetos e grupos de investigação que aderiram ao tema, eventos específicos e maior volume de comunicação científica (dissertações, relatórios, teses e artigos científicos) relacionado a sustentabilidade. De modo geral, pode-se afirmar que este movimento também foi acompanhado pelo conhecimento científico na área de Administração em nível nacional. Os principais periódicos da área abriram espaço para o tema, notadamente após o ano 2000, marco pelo qual a frequência de artigos tornou-se constante. Dentre os trabalhos no período é possível destacar os trabalhos bibliométricos de Machado-Júnior et al., (2013), Souza e Ribeiro (2013), Freitas, Teixeira, Souza e Jabbour (2013), Machado Júnior, Ribeiro, Correa e Souza (2014), Machado Júnior, Souza e Parisotto (2014). Estes trabalhos tiveram como características o foco na dimensão ambiental e suas

delimitações em uma área específica da Administração, no entanto, nenhum deles abordaram a evolução do campo científico na área. Assim, formulou-se questionamento: como o campo de conhecimento científico sobre sustentabilidade está se institucionalizando nacionalmente na área de Administração? O uso da análise bibliográfica, bibliométrica e sociométrica, em trabalhos que englobem administração e sustentabilidade publicados no Brasil entre os anos 2000 e 2014, permite verificar se houve avanço nesse campo. Parte-se do pressuposto que o estudo do processo de institucionalização do campo (Administração e sustentabilidade) reflita a evolução e suposta ampliação deste campo, contribuindo para uma reflexão sobre a possível apropriação da Administração sobre o tema. Diante do exposto, organizou-se o trabalho da seguinte maneira: além desta introdução, a segunda seção apresenta uma breve descrição dos conceitos de desenvolvimento sustentável e sustentabilidade, posteriormente discorre-se sobre campos organizacionais e uma subseção foi destinada para abordar o tema comunicação científica; os aspectos metodológicos são delineados na terceira seção; os resultados são apresentados na quarta seção, seguido das considerações finais.

2.

REFERÊNCIAL TEÓRICO

2.1

Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade.

No século XXI, a sustentabilidade, tornou-se uma espécie de mantra por agregar a promessa da evolução de indicadores sociais, um mundo mais justo, mais rico, no qual o meio ambiente e a diversidade cultural deveriam ser preservados (DYLLICK E HOCKERTS, 2002). Na mesma perspectiva Leff (2010) afirma que a sustentabilidade surgiu com o intuito de reconciliar os contrários da dialética do desenvolvimento: o meio ambiente e o crescimento econômico. De maneira geral os pressupostos de sustentabilidade costumam ser sintetizados nas dimensões sociais, econômicas e ambientais como aquelas baseadas no enfoque Triple Bottom Line, conforme Elkington (2001). No entanto, Sachs (2002) se contrapõe à perspectiva de três dimensões e propõe oito dimensões, sendo elas: social, econômica, ecológica, cultural, territorial, ambiental, política nacional e política internacional. Vos (2007) afirma que a o conceito de sustentabilidade pode ter duas abordagens distintas: i) Visão estreita: reconhece poucos valores intrínsecos a natureza, defende que determinados tipos de capital natural não podem ser substituídos, enfatiza a relação de ganha-ganha nas relações econômicas, acredita que o crescimento populacional pode ser balanceado com crescimento de renda per capita na mesma proporção. Está visão possui ceticismo cauteloso com relação a tecnologia e as questões de redistribuição são deixadas para o mercado equacionar; ii) Visão espessa ou ampla: compreende as atividades de negócios que vão além das responsabilidades econômicas; reconhece valores intrínsecos a natureza, defende o não esgotamento do capital natural e o crescimento econômico e populacional com ressalvas, ceticismo profundo com relação à tecnologia e reconhecimento da democracia de base como um fator crucial para se atingir a sustentabilidade. Desenvolvimento sustentável e sustentabilidade são termos que trazem consigo uma gama

de definições e abordagens, que costumam se manifestar nos trabalhos acadêmicos. Ainda que esta complexa dinâmica envolva discussões de diferentes perspectivas, e vertentes teóricas, a institucionalização desse tema no campo da Administração reflete em um espaço de debate que propicia a apropriação do tema da sustentabilidade. 2.2

Institucionalização e Campo Organizacional

A Teoria Institucional tem suas origens da Sociologia que teve como um de seus antecedentes os estudos do pesquisador Robert Merton, nas décadas de 1940 e 1950. Merton trabalhou com foco na dinâmica da mudança social, atendo-se a estudos empíricos, cujo intuito era o de compreender as relações entre os elementos da estrutura organizacional, elementos estes que ao se inter-relacionarem mantinham o equilíbrio do sistema. Porém, a figura de Philip Selznick, discípulo de Merton, é a mais associada às origens da teoria institucional. Naquele período, o campo da administração era orientado sob do paradigma racional-funcionalista e as contribuições de Philip Selznick convergiam como uma alternativa de estudo que considerou aspectos negligenciados pela teoria organizacional vigente, como os cognitivos (SCOTT, 1995; VIEIRA E CARVALHO, 2003). A abordagem institucional se difere da abordagem racionalista por considerar que as construções sociais são frutos da produção humana, onde o indivíduo é autônomo, sugerindo um processo estruturado e estruturante, que não é racional, mas fruto da interpretação e da subjetividade. A racionalidade ocorre no momento em que tais interpretações ganham utilidade no campo ou espaço social e passam a ser compartilhadas (VIEIRA E CARVALHO, 2003). O processo de estruturação dos campos organizacionais abrange a contextualização histórica anterior ao processo de institucionalização e por essa razão tem a capacidade de explicar sua natureza de forma mais completa. Assim sendo, a formação do campo exige um olhar interdisciplinar, em que o olhar histórico, sociológico, econômico e antropológico exerce papel fundamental de explicação neste nível de análise (VIEIRA E CARVALHO, 2003). Como unidade de análise o campo não se limita a uma firma competidora ou redes de organizações, mas mantem todos os atores relevantes cujos recursos não sejam necessariamente de ordem econômica. Os autores DiMaggio e Powell (1983) apud Vieira e Carvalho (2003), apontam o aparecimento de quatro indicadores que estão ligados à estruturação de campos organizacionais: aumento no grau de interação entre as organizações do campo; emergência de estruturas de dominação e de padrões de coalização claramente definidos; um aumento no volume de informações que as organizações em cum campo devem lidar; desenvolvimento de uma consciência mutua entre os participantes de um grupo de organizações sobre o fato de que estão envolvidas em um empreendimento comum. A estruturação do campo organizacional costuma seguir um ordenamento cronológico. Em seu estágio inicial o campo organizacional é formado de organizações isoladas e especializadas que não se reconhecem em um campo e não compartilham valores. Com o passar do tempo, o campo vai se estruturando e as organizações reconhecem a importância de uma as outras, estreitando relacionamentos, aumentando as interações e convergindo para o compartilhamento de valores, assim se tornam mais semelhantes e estáveis com o

passar do tempo (VIERIA & CARVALHO, 2003). Assim, no contexto acadêmico, à medida que decorre o tempo, os pesquisadores passam a se reunir e trocar informações e recursos com o objetivo de conseguirem maior legitimidade no meio acadêmico a ponto de tornar-se referência. Essa busca por legitimidade dos autores no campo reflete no prestígio acadêmico das instituições, que em conjunto conseguem exercer maior influência nos demais atores. Uma das formas de se demonstrar legitimidade no campo científico é através da divulgação de conhecimento nos periódicos, pois estes passam por avaliação e constituem uma forma de demonstrar conhecimento legitimado. 2.3

Comunicação e Conhecimento Científico

O termo comunicação científica se refere à troca de informações entre cientistas e inclui todas as atividades associadas com a produção, disseminação e uso da informação, desde a hora em que o cientista teve a ideia da pesquisa até o momento em que os resultados de seu trabalho são aceitos como parte integrante do conhecimento científico. Para que a ciência se desenvolva o conhecimento já estabelecido é aumentado, aprimorado, revisto ou corrigido pelos resultados de novas pesquisas. A noção de continuidade é fundamental para a ciência e depende de um sistema de comunicação cujas regras sejam respeitadas por todos (GARVEY, 1979 apud PARISOTTO, 2012). A ciência constitui um conjunto de conhecimentos públicos, aos quais cada pesquisador acrescenta sua contribuição pessoal, corrigida e melhorada pela crítica recíproca. É uma atividade coletiva em que cada um dos cientistas vai construindo seu conhecimento a partir do trabalho realizado por seus antecessores. Assim, a ação dos investigadores produzindo, interpretando e mobilizando-se para as suas ideias são o objeto de pesquisa, tendo em conta as condições da organização acadêmica e conhecimento objetivado, que são por sua vez, um meio e resultado da atividade científica (ZIMAN, 1981; GUARIDO FILHO, MACHADO-DA-SILVA e GONCALVES, 2010). O conhecimento produzido através da atividade científica (normalmente sob a forma de publicações acadêmicas como artigos) representam uma certa visão de mundo que, quando compartilhada, influenciam a interpretação e, portanto, a compreensão dos fenômenos em estudo. Os estágios de institucionalização também estão presentes no processo de disseminação da comunicação científica que se fundamenta na informação científica e, portanto, gera o conhecimento científico. A ciência é infinitamente evolutiva e mutável, o que faz da pesquisa científica o seu instrumento central e da comunicação científica, o seu elemento básico (TARGINO e NEYRA, 2006). Logo, o padrão de comunicação científica legitima determinados autores e reitera padrões de produção acadêmica que serão ou não reproduzidos, sendo este um fator que reforça a influência de autores e instituições em determinado campo. Assim, a comunicação científica que aborde a sustentabilidade em seu conteúdo reflete uma possibilidade de propagação de um entendimento ou uma forma específica de se abordar a sustentabilidade.

3.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A presente pesquisa possui abordagem quantitativa, exploratória e descritiva. Para a coleta

e a identificação dos dados, foi realizado uma verificação junto ao banco de dados da Capes em de janeiro de 2015, selecionando os periódicos nacionais com estrato capes A1, A2, B1 na área de Administração, perfazendo um total de 20 revistas e 170 artigos científicos (Tabela 1). Optou-se pelos estratos superiores, pois tais periódicos tendem a ter maior impacto no desenvolvimento na academia, compartilhando o entendimento de Batistella, Bonacim e Martins (2008) e Favoreto, Amâncio-Vieira e Shimada (2014) que reforçam o amadurecimento das pesquisas veiculadas neste tipo de comunicação científica. Tabela 1 - Publicações sobre Sustentabilidade – Administração entre 2000 e 2014. Periódico Revista de Administração do Mackenzie Revista Eletrônica de Administração Gestão e Produção Revista de Administração da USP Cadernos Ebape Revista de Administração Pública FACES- Revista de Administração Revista de Administração da Inovação Revista de Administração de Empresas Organização e Sociedade Revista de Administração Contemporânea Revista BASE Brazilian Administration Review Gestão e Regionalidade Brazilian Business Review Organizações Rurais e Industriais Pesquisa Operacional Revista Brasileira de Gestão de Negócios Revista Brasileira de Gestão Urbana Revista de Contabilidade e Finanças

Estrato Qtd. de Artigos B1 18 B1 18 A2 16 A2 15 B1 14 A2 13 B1 12 B1 9 A2 8 A2 6 A2 6 B1 6 A2 5 B1 5 A2 4 B1 4 A2 3 B1 3 B1 3 A2 2

%A 10,59 10,59 9,41 8,82 8,24 7,65 7,06 5,29 4,71 3,53 3,53 3,53 2,94 2,94 2,35 2,35 1,76 1,76 1,76 1,18

%T 1,96 1,54 4,93 1,62 1,74 1,09 2,22 0,32 2,52 0,46 0,88 1,95 1,60 0,68 0,50 1,96 1,54 4,93 1,62 1,74

Fonte: Dados da pesquisa (2015). Elaborado pelos autores. Nota: %A = a porcentagem sobre a amostra do estudo e %T = percentual sobre o total publicado por cada periódico no período.

A escolha do período de 2000 a 2014 se justifica por dois motivos: (i) as pesquisas bibliométricas encontradas vão até 2011 (SOUZA; RIBEIRO, 2013); (ii) nem todas essas pesquisas envolveram análise sociométrica para evidenciar a estruturação do campo em torno dessa temática na área de Administração. Assim, contribui-se para a atualização dessas pesquisas ao mesmo tempo que sugere um olhar sobre o campo através da sociometria. Dentre os periódicos, foram considerados somente os nacionais, porque o objetivo é demonstrar a estruturação do campo nacionalmente. Ainda cabe salientar que o estrato A1 não apresentou nenhum periódico com essas características. A análise bibliométrica, baseou-se na classificação por meio de estatística descritiva em uma planilha eletrônica. A partir dessa planilha foi desenvolvida uma outra contendo os

vínculos entre os autores para posteriormente realizar-se análise sociométrica das relações no software Ucinet 6 (BORGATTI; EVERETT; FREEMAN, 2002). Na análise sociométrica, buscou-se explorar a rede de relações dos atores e instituições através dos gráficos e da medida de centralidade, que quando aplicada no gráfico, modifica o tamanho de cada ponto conforme sua quantidade de relações que esse estabeleceu com outros distintos. A rede de instituições foi confeccionada a partir da rede autores onde também se aplicou a medida de centralidade para modificar o tamanho dos pontos.

4.

RESULTADOS E ANÁLISES

4.1

Análise Bibliométrica

A pesquisa revelou que a abordagem da sustentabilidade no campo científico da Administração foi dinâmica. De acordo com a base de dados, verificou-se que a comunidade acadêmica nesse campo inclui 390 pesquisadores e 124 instituições (nacionais e internacionais). A figura 1 esboça a evolução do número das publicações, autores e instituições na área entre 2000 e 2014. 100

99 80

50

47 37 23 1

0

1

8 2 1

9 8 3

10 8 5

Quantidade de Artigos

8 6 5

12 6

23 15 9

15 10

26 18 10

Número de Autores

31 15 13

24 19

46 33 29

42

33 20 17

Número de Instituições

Figura 1. Evolução quantitativa da comunicação científica sobre sustentabilidade. Fonte: Dados da Pesquisa (2015). Elaborado pelos autores. Na figura 1, nota-se uma evolução quantitativa tanto dos do número de artigos, quantos dos autores e instituições, ainda que no início dos anos 2000 o crescimento anual tenha sido menor, pode-se afirmar que foi crescente até o ano de 2013. O quadro1 revela os autores com maior número de trabalhos publicados no período. Quantidade de Artigos

Autor e Instituição

7 5 4

Eugenio Ávila Pedrozo (UFRGS). José Carlos Barbieri (EAESP- FGV) Adriana Marques Rossetto (UNIVALI), José Célio Silveira Andrade (UFBA),

Clandia Maffini Gomes (UFSM) e Tânia Nunes Silva (UFRGS). Francisco Correa de Oliveira (UNIFOR), João Carlos Cunha (UFPR), Isak Kruglianskas (USP), Jordana Marques Kneipp (UFSM), Sieglinde Kindl da Cunha (UFPR), Mônica Cavalcanti Sá de Abreu (UFC) e José Carlos Lázaro da Silva Filho (UFCE).

3

Quadro 1. Autores com Maior número de Publicações no Período 2000-2014. Fonte: Dados da Pesquisa (2015). Elaborado pelos autores. De acordo com o quadro 1 é possível demonstrar aqueles autores com maior participação em autoria ou coautoria nos periódicos, sendo que ainda trinta e um (31) autores publicaram dois artigos e trezentos e quarenta e sete tiveram sua autoria registrada em somente um artigo no período pesquisado. Por meio da figura 1 é possível notar a evolução da quantidade de autores, instituições e quantidade de artigos publicados no período estudado. Nota-se que a USP, mesmo com um volume maior de publicações, vinte e oito (28) no período, apresenta apenas o autor Isak Kruglianskas, entre os mais produtivos com três publicações, o que demonstra uma “pulverização” das publicações desta instituição entre os vários autores a ela vinculados. 4.2

Análise Sociométrica

A análise sociométrica permite ver como os autores estabeleceram laços de autoria e coautoria ao longo dos 14 anos. Alguns autores ficam mais evidentes com o passar do tempo, devido ao fato de estabelecerem mais laços do que outros, o quadro 2 mostra a medida de centralidade para os 10 primeiros autores e instituições. Autor PEDROZO, E. A. GOMES, C. M. BARBIERI, J. C. KNEIPP, J. M. ROSSETTO, A. M. ABREU, M. C. S. ANDRADE, J. C. S. SILVA, T. N. SILVA-FILHO, J. C. L. OLIVEIRA, B. C.

Centralidade 15 14 11 11 11 9 9 9 9 7

Instituição USP FEI FGV-SP UFRGS UNINOVE UFPB UFRJ UFSC UECE UFC

Centralidade 20 10 10 10 10 9 8 8 7 7

Quadro 2 – Medida de centralidade dos autores e instituições. Fonte: Dados da Pesquisa, elaborado pelos autores com software Ucinet 6. Nestas medidas de centralidade, destaca-se ainda que alguns autores repetem as parcerias nos artigos, como por exemplo: Gomes – Kneipp / Rosseto – Rosseto / Pedrozo – Silva / e o trio Oliveira – Abreu – Silva-Filho, o que iguala as medidas entre eles e outros autores, porém se considerar a distinção desses autores o valor é reduzido. Desta forma, destacamse os autores Andrade e Barbieri, que tem números altos de centralidade sem recorrer a repetição de parcerias. Estas parcerias ficam mais evidentes na figura 2.

Figura 2. Rede de relacionamento das instituições com base na rede de autores. Fonte: Dados da Pesquisa, elaborado pelos autores com software Ucinet 6. Na figura 2, a USP apresenta o maior destaque na rede formada por instituições. Tal fato pode ser explicado pela “pulverização” das publicações entre os autores vinculados a esta instituição e seus laços com autores de outras instituições. Quando esses autores são condensados e formam o ponto que representa a USP no gráfico, eleva-se o número de relações desta com outras instituições. Destaca-se ainda que há uma relação entre a USP e a FGV-SP, mas não se verifica o mesmo caso com a UFRJ e a FGV-RJ, sendo que essa última está mais presente na rede que abrange majoritariamente a região de São Paulo, talvez por estar diretamente vinculada a FGV-SP. No Rio de Janeiro, a principal instituição é a UFRJ, onde ela se posiciona como uma “ponte” entre a USP e outras instituições vinculadas a ela. Em São Paulo, a USP é a mais proeminente, mas conta com o apoio da FEI, FGV-SP e UNINOVE, três centros difusores menores, mas que auxiliam na propagação dos estudos envolvendo a sustentabilidade. Na Região Sul, a UFRGS é a instituição mais proeminente, também sendo o elo de ligação entre um conjunto de instituições e a USP. Além disso, destaca-se que a UFPR, UFBA e a UFMG, são instituições federais de expressão, que não se encontram em acesso direto com a USP (diferentemente de outras Universidades Federais). Ainda nesta rede, além das instituições de Ensino Superior, encontram-se ainda empresas públicas (Banco do Brasil, IBGE), privadas (Analitix) e instituições estrangeiras oriundas do Canadá, Alemanha, Estados Unidos, Peru, França, e Reino Unido. Apesar da metodologia sociométrica permitir a visualização das relações entre os autores em relação ao contexto acadêmico da sustentabilidade, para a análise do processo de formação do campo é necessário perceber a evolução destas redes. Desta forma, para que o efeito da formação da rede ficasse mais evidente, foram produzidos gráficos a cada triênio, onde a figura mostra esse resultado para a rede de autores.

Evolução do campo pelas relações dos autores 2000 – 2002 2003 – 2005

2006 – 2008

2009 – 2011

2012 – 2014

Figura 3 – Evolução do campo através das relações dos autores. Fonte: Dados da Pesquisa, elaborado pelos autores com software Ucinet 6. Por meio da sequência de imagens percebe-se um incremento progressivo dos laços entre os autores, que está alinhado com a expansão do número de publicações, ou seja, ao aumentar as interações entre os autores no campo, emergem as coalizações entre alguns deles (os subgrupos, inclusive com a repetição de duplas em alguns deles). As estruturas de dominação não ficam claras, pois há grupos parecidos “competindo” pela hegemonia. Apesar de uma ampla rede sobre o tema sustentabilidade, a falta de relações entre alguns autores implica na dificuldade de disseminação das informações nessa rede, onde tem todos puderam estabelecer relações com aqueles autores mais proeminentes. Portanto, dois dos indicadores da formação do campo não ficaram claros, não sendo suficiente para indicar a formação do campo.

Evolução do campo pelas relações das instituições 2000 – 2002 2003 – 2005

2006 – 2008

2009 – 2011

2012 – 2014

Figura 4 – Evolução do campo através das relações das instituições. Fonte: Dados da Pesquisa, elaborado pelos autores com software Ucinet 6. Na figura 4, além do incremento no número de laços das instituições, na formação de coalizações, percebe-se também uma rede mais homogênea centrada na USP, indicando que esta apresenta uma capacidade maior de disseminação das informações em relação as instituições que não pertencem a esse subgrupo. Aliado a isso, percebe-se o aparecimento de uma estrutura de dominação (centrado na USP), que é o núcleo produtor de publicações na área. Neste caso, pelo gráfico da rede de instituições, ficou mais perceptível a estruturação do campo organizacional, mesmo que na rede dos autores não tenha ficado evidente. Toda essa estrutura evolutiva parece indicar a presença de uma consciência mútua entre os participantes, principalmente os mais proeminentes e que pertencem a grande rede, de que o tema da sustentabilidade é fundamental para o desenvolvimento de uma nova sociedade e que por isso merece ser pesquisado profundamente, entretanto isso só se mostra possível de ser verificado a partir de uma pesquisa qualitativa com esses autores o que foge do escopo deste trabalho que era mapear. Essa característica indicam a formação de um campo ao longo desses 15 anos e que se evidencia nos periódicos de estratos A2 e B1 na área de

Administração. Apesar disso, a análise sociométrica não captura a queda acentuada de publicações em 2014, devido ao fato que olha para o processo como uma evolução onde alternâncias pontuais não são sensíveis a esse tipo de análise.

5.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desenvolveu-se este estudo buscando verificar como o tema da sustentabilidade está se institucionalizando no campo acadêmico na área de administração, em nível nacional, entre os anos 2000 e 2014. Observou-se que, após o ano 2000, a quantidade de artigos, pesquisadores e instituições foi frequente e a oscilação era pequena e tendia ao crescimento até o ano de 2013.Também se observou que o aumento de interações, do volume de informações, o que a indica a presença de uma consciência mútua, onde algumas coalizões são formadas e uma estrutura dominante é percebida. Tudo isso indica que o tema sustentabilidade tem se tornado importante ao longo desse processo que caracteriza evolutivamente na formação de um campo. A combinação das duas técnicas de análise permitiu destacar autores em comum em ambas, bem como distintos e que possuem certa influência em determinadas regiões das figuras, o que indica um campo em expansão, mas não consolidado, permitindo espaço para mudanças significativas. Nota-se ainda que no ano de 2014 houve uma acentuada queda no volume de artigos publicados sobre o tema, o que gera insights para pesquisas futuras. Uma possibilidade seria investigar se as publicações no campo nacional ganharam maturidade e passaram a ser aceitos e publicados em periódicos internacionais, não contemplados nesta pesquisa. Outra possibilidade de os autores estarem submetendo seus trabalhos para revistas específicas do tema, tais como Revista de Gestão Social e Ambiental, Revista de Gestão Ambiental e Sustentabilidade, Revista Gestão e Sustentabilidade Ambiental, Revista Sustentabilidade Organizacional, Revista Amazônia- Organizações e Sustentabilidade, Revista Organizações e Sustentabilidade que surgiram após os anos de 2007, 2012, 2012, 2012, 2012 e 2014 respectivamente. Tais periódicos não foram contemplados nesta pesquisa devido ao fato de seus qualis serem inferiores aos que foram verificados nesta, logo a pesquisa pode ter seu escopo ampliado o que geraria novas possibilidades de resultados. Agradecimento: Os autores agradecem a Capes pelo suporte financeiro para a realização desta pesquisa.

6.

REFERÊNCIAS

BARKEMEYER, R.; HOLT, D.; PREUSS, L.; TSANG, L. What Happened to the “Development” in Sustainable Development? Business Guidelines Two Decades after Brundtland. Sustainable Development, 2011. BATISTELLA, F. D.; BONACIM, C. A. G.; MARTINS, G. A. Contrastando as produções da Revista Contabilidade & Finanças (FEA-USP) e Revista Base (Unisinos). Revista de Educação e Pesquisa em Contabilidade, v. 2, n. 3, p. 84-101, 2008. BORGATTI, S. P., EVERETT, M. G.; FREEMAN, L. C. Ucinet 6 for Windows: software for Social Network Analysis. Harvard: Analytic Technologies, 2002.

DIMAGGIO, P. J.; POWELL, W. W. The iron cage revisited: institutional isomorphism and collective rationality in organizational fields. American Sociological Review, v.48, 1983. DYLLICK, T.; HOCKERTS, K. Beyound the business case for corporate sustentability. Business Strategy and the Environment. v.11, p.130-141, 2002. ELKINGTON, J. Canibais com garfo e faca. São Paulo: Makron, 2001 FAVORETO, R. L.; AMÂNCIO-VIEIRA, S. F.; SHIMADA, A. T. A produção intelectual em RBV: uma incursão bibliométrica nos principais periódicos nacionais. Revista Brasileira de Estratégia, v. 7, 2014 FREITAS, W. R. S.; SOUZA, M. T. S.; TEIXEIRA, A. A.; JABBOUR, C. C. Produção científica sobre gestão de recursos humanos e sustentabilidade: síntese e agenda de pesquisa. Revista de Ciências da Administração, v. 15, 2013. GUARIDO-FILHO, E. R.; MACHADO-DA-SILVA, C. L.; GONCALVES, S. A. Organizational Institutionalism in the Academic Field in Brazil: social dynamics and networks. RAC. Revista de Administração Contemporânea, v.4, 2010. LEFF, E. Discursos sustentáveis. São Paulo: Cortez, 2010. MACHADO JÚNIOR, C.; PARISOTTO, I. R. S.; SILVA, H. H. M.; SOUZA, M. T. S. DE. Estudo bibliométrico de teses e dissertações de administração na dimensão ambiental da sustentabilidade. Revista Eletrônica de Administração. Porto Alegre, v. 76, 2013. MACHADO JÚNIOR, C.; SOUZA, M. T. S.; PARISOTTO, I. R. S. Institucionalização do Conhecimento em Sustentabilidade Ambiental pelos Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu em Administração. Revista de Administração Contemporânea, v. 18, 2014. PARISOTTO, I. R. dos S. A institucionalização do conhecimento científico em sustentabilidade ambiental resultante das teses e dissertações em Administração no Brasil. Tese (Doutorado em Administração) – UNINOVE, São Paulo, 2012. PARISOTTO, I. R. S. A produção de teses e dissertações em administração sobre sustentabilidade nas regiões norte e centro-oeste. Gestão & Regionalidade v. 30, 2014. REDCLIFT, M. R. Sustainable development (1987-2005) – an oxymoron comes of age. Sustainable Development, v. 13, p.212–227, 2005. RIBEIRO, H. C. M.; CORREA, R; SOUZA, M. T. S. Marketing verde: uma análise bibliométrica e sociométrica dos últimos 20 anos. Revista Gestão & Sustentabilidade Ambiental, v. 21, 2014. SACHS, I. Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. RJ: Garamond, 2002. SCOTT, R. W. Institutions and organizations. London: SAGE, 1995. SOUZA, M. T. S.; RIBEIRO, H. M. Sustentabilidade Ambiental: uma metanálise da produção brasileira em Periódicos de Administração. RAC, v. 17, p. 368-396, 2013. TARGINO, M. G.; NEYRA, O. N. B. Dinâmica de apresentação de trabalhos em eventos científicos. Informação & Sociedade: Estudos, Paraíba, v. 16, n. 2, 2006. VOS, R. O. Defining sustainability: a conceptual Orientation. Journal of Chemical Technology and Biotechnology, Volume 82, Issue 4, 334–339, Abr, 2007. VIEIRA, M. M. F.; CARVALHO, C. A. Sobre Organizações, Instituições e Poder no Brasil. In: VIEIRA, M. M. F.; CARVALHO, C. A. Organizações, Instituições e Poder no Brasil. Rio de Janeiro: FGV, 2003.

ZIMAN, J. M. A forca do conhecimento: a dimensão cientifica da sociedade. BH: Itatiaia, 1981.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.