O desenvolvimento dos instrumentos de metal tenores e suas primeiras aparições no Brasil. / The development of tenors brass instruments and their first appearances in Brazil.

July 26, 2017 | Autor: O. Estevam Júnior | Categoria: Trombone, Organologly, Bandas De Música, Euphonium, Bombardino, Oficleide
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1 O DESENVOLVIMENTO DOS INSTRUMENTOS DE METAL TENORES E SUAS PRIMEIRAS APARIÇÕES NO BRASIL

Por Osmário Estevam Júnior. Texto escrito em 2008 para a Pós Graduação (especialização) em MPB da FAP (Faculdade de Artes do Paraná) - Curitiba-PR.

Resumo: Neste texto são realizadas explicações sobre a história dos instrumentos de sopro, em especial sobre o desenvolvimento dos “metais” tenores. Estes são: o trombone, saxhorn barítono, oficleide e o eufônio. Tais instrumentos são relacionados às orquestras e bandas do começo do século XX, no Brasil. Eles fizeram parte do arsenal instrumental dos primeiros "chorões", sendo que inicialmente o oficleide foi um dos mais populares, mas hoje em dia o trombone prevalece. É explicada a diferença entre o saxhorn e o eufônio, já que ambos são chamados de “bombardino”, nome bastante popular nas "rodas de choros" e nas primeiras gravações no Brasil. Palavras chave: trombone, bombardino, oficleide, saxhorn, bandas de música, organologia. Abstract: In this paper are carried out explanations about the history of wind instruments, in particular on the development of brass tenors. These are: the trombone, baritone saxhorn, oficleide and the euphonium. These instruments are related to orchestras and bands of the early twentieth century in Brazil. They were part of the arsenal of the first instrumental "whiners", and initially the oficleide was one of the most popular, but nowadays the trombone prevails. It explained the difference between the saxhorn and the euphonium, as both are called "bombardino", very popular name in the "rodas de choro" and the first recordings in Brazil. Keywords: trombone, euphonium, oficleide, saxhorn, music bands, organology.

Muitos são os instrumentos que por diversos motivos foram abandonados e extintos, ora por terem se tornado obsoletos, ora por serem aniquilados junto a povos e culturas em momentos de guerra ou outros tipos de catástrofes. É grande a quantidade de fontes que provam a existência de vários instrumentos em outras épocas, representados desde a arte rupestre, passando pela tradição oral de tribos primitivas de vários continentes, até chegar à era da escrita.

2 Desde a “era do metal”, que aconteceu em épocas diferentes em cada lugar do mundo, podemos verificar a existência de instrumentos deste material. Muitas pesquisas arqueológicas contribuíram para isso, descobrindo instrumentos percussivos e instrumentos de sopro. Estes últimos já haviam sido construídos anteriormente com materiais como osso e madeira, mas foi a partir da descoberta da fundição do metal que foi possível criar ligas metálicas capazes de vibrar através da emissão de ar. Os instrumentos de metal primitivos, no caso os de sopro, eram de difícil execução, porém, já apresentavam um bom volume sonoro. Devido ao som forte emitido, os sopros de metal foram usados inicialmente com funções militares, nas quais determinados toques indicavam movimentos específicos para as tropas. Segundo a tradição bíblica, que nos fornece um relato bastante antigo com a presença de instrumentos de metal, depois que os hebreus deram sete voltas em torno de Jericó e os sacerdotes tocaram suas trombetas, os muros da cidade tombaram e ela foi ocupada pelas tribos de Josué. Acredita-se que a chegada dos hebreus com Josué tenha ocorrido entre 1400 e 1260 a.C. Também não são raras as imagens antigas onde metais aparecem sendo tocados por anjos. Na medida em que as ligas metálicas foram sendo desenvolvidas, a qualidade sonora dos instrumentos metálicos foi se aprimorando. Inicialmente se usou o bronze, que possui uma maleabilidade maior que a do cobre e do zinco. Seu ponto de derretimento é relativamente baixo, entre 900 e 940 graus Celsius. Ao ser misturado com o cobre e com o zinco, é possível chegar a metais mais duros ou mais moles, ganhando assim diversas características acústicas e possibilidades de criação de formas. Importada do Egito para a Europa, as primeiras trompas, construídas em cobre, em prata e mais tarde, na Idade Média, feitas de "Oricalchi" (liga especial idêntica ao latão), eram de forma reta, com uma boquilha em sua extremidade superior enquanto que,

3 em sua extremidade inferior, se formava uma campana, representando a cabeça de um animal. Elas também foram sendo usadas junto à nobreza, em vários reinados que tinham o hábito de sair caçar. Para isso, usavam as “trompas de caça”, que caíram no gosto de príncipes e reis que patrocinaram a sua evolução. Com isso, não tardou para os metais começarem a executar funções musicais, agora ligadas a atividades religiosas. Os primeiros instrumentos de metal, com objetivos apenas musicais, tinham a capacidade de formar a série harmônica em cima da nota de afinação de cada um. Ou seja, se a nota central do instrumento era um dó, ele seria capaz de tocar apenas as notas da série harmônica de dó, por exemplo. No período musical do barroco, os sopros de metais tinham apenas uma função percussiva, apenas apoiando a música em momentos de grande intensidade. Em mudanças de tonalidades, os músicos eram obrigados a trocar de instrumentos. Era comum que um músico chegasse ao ensaio carregando um “saco de ferragens”, gerando alguns problemas de ordem funcional. Nessa época é que surgiu um estilo de composição chamado de Fanfarra, em que ritmos marciais eram tocados dentro das séries harmônicas, saudando reis, inaugurando edifícios e instalações, abrindo concertos, eventos esportivos e religiosos. Algo semelhante ao que muitas bandas de música fazem atualmente em eventos cívicos. É importante tratar deste assunto para compreendermos a realidade das bandas do Rio de Janeiro no século XIX, quando esta tradição sonora se firmou no Brasil. Sempre foi uma prática comum no Brasil o fato de um instrumentista dominar mais de um instrumento. Por exemplo, um músico com formação em trombone tem grande facilidade para tocar bombardino e oficleide, devido à semelhança da embocadura exigida para a produção sonora através da vibração dos lábios. Em outras palavras, todos estes instrumentos usavam o mesmo tipo de “bocal”. Por isso, os primeiros trombonistas do

4 choro, como o Irineu Batina e Candido Pereira da Silva, eram também executantes de oficleide e “bombardino” (eufônio e saxhorn barítono). Contudo, ainda é um tanto confusa a questão a respeito da afinação e transposição dos instrumentos. Demoraram várias décadas para começarem a estipular padrões adequados para a escrita e construção dos instrumentos. A família do oficleide tornou-se obsoleta com o passar dos anos, porém, foi a partir dela que Adolph Sax criou os saxofones e os saxhorns, sendo estes instrumentos transpositores, ou seja, com vários tamanhos e em várias afinações. O eufônio é um instrumento exclusivamente baixo/tenor e, assim como o trombone de vara, ele não é considerado transpositor e a sua escrita é em clave de fá na quarta linha, ou em clave de dó na quarta linha. Ambos são construídos como um instrumento em Si bemol, mas lêem a partitura em “som real”, como um instrumento em Dó. A palavra “bombardino” é como um “apelido” muito comum no Brasil, referente ao eufônio e ao saxhorn barítono, que são instrumentos bem parecidos. Existem polêmicas a este respeito, mas leva-se em conta que, num país continental como o Brasil, alguns instrumentos recebem nomes diferentes em determinadas regiões, sendo que muitos instrumentes que estavam pelas bandas brasileiras no começo do século XX não tiveram patentes reconhecidas ou demoraram para se definir. O fato é que essas semelhanças e diferenças sutis causam bastante confusão nas bandas, mas aos poucos os maestros e arranjadores estão compreendendo melhor as diferenças entre os instrumentos. De qualquer forma, o músico que toca estes instrumentos acaba desenvolvendo bastante a sua técnica de leitura e transposição.

5 1. O TROMBONE DE VARA

Figura 1: Foto do Sacabucha. Fonte: http://www.probertencyclopaedia.com/browse/VS.HTM (26/04/2007)

Com o descobrimento da vara, mecanismo que aumenta o tamanho do instrumento, nasce o trombone. Com ele foi possível tocar várias notas. Em cada posição da vara existe uma série harmônica nova. Surgiu assim o "Sacabucha", chamado na Itália de "trombone a tiro" (trompa spezzata), na Alemanha "Zugpousane", na Inglaterra “Sackbut” e, na França "trombone à coulisse", inventado e usado por Spartano Tyrstem, no final do século XV. O soprano da família dos trombones foi rapidamente abandonado, mas o contralto, o tenor e o baixo são usados até hoje. Em 1597, Giovanni Gabrieli (Veneza. C.1553-6 idem. Agosto de 1612) compôs um dos primeiros quartetos para trombones. Posteriormente, na segunda metade do século XVII, o trombone ganhou definitivamente o seu papel na orquestra. Leopoldo Mozart1 teve grande importância ao escrever um dos primeiros concertos para trombone, assim como um dos primeiros também para trompa. Nikolai Andreievich Rimsky-Korsakov2 e Theodore Von Gustav Holst3 foram grandes compositores que tinham o trombone como instrumento, sendo o Concerto para

1

Leopoldo Mozart (14 de Novembro de 1719, Augsburgo — 28 de Maio de 1787, Salzburgo). Nikolai Andreievich Rimsky-Korsakov (Tikhvin, 18 de março de 1844 - Liubensk, 21 junho de 1908). 3 Theodore Von Gustav Holst (Cheltenham, 21 de setembro de 1874; Londres, 25 maio de 1934). 2

6 trombone de Rimsky-Korsakov uma das peças mais executadas para este instrumento. Por um lado, o trombone não teve grandes avanços técnicos (salvo o sistema de compensação semelhante ao do eufônio, que será descrito mais a frente, e o avanço das ligas metálicas que forneceram maiores qualidades acústicas), mas por outro, a técnica de execução foi extremamente trabalhada até o século XXI. Contudo, era visível a extrema dificuldade técnica destes instrumentos ao executarem passagens difíceis, sendo assim, foram feitas várias tentativas de construir outros instrumentos mais ágeis e com características sonoras semelhantes as dos metais. Em 1780 surgiu o “Halternof”, que usava a chamada “Bomba Coulisse”, esta tentativa fracassou, mas inspirou o construtor de instrumento francês Legrain, a aplicar à trompa o “encastre a risorte”, semelhantes aos rotores de chaves atuais. Em 1813, os pistons foram inventados por Friedrich Bluhmel e Heinrich Stölzel, bem aplicados à trompa inicialmente e depois ao “trombone de pistões”, uma espécie de trompete baixo. No Brasil, o trombone é um dos instrumentos de sopro com maior participação na música popular, especialmente em sambas, como os de Angenor de Oliveira, conhecido como Cartola4, Cyro Monteiro5, Mílton de Oliveira Ismael Silva6, e Nelson Antônio da Silva, o Nelson Cavaquinho7. Muitos trombonistas brasileiros fizeram sucesso através deste instrumento, que é um dos mais expressivos e mais parecidos com a voz humana. O glissando da vara é um dos recursos que mais fornece expressividade ao trombone, podendo ser usado como um choro ou como uma gargalhada.

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Cartola (Rio de Janeiro, 11 de outubro de 1908 — Rio de Janeiro, 30 de novembro de 1980). Cyro Monteiro (Rio de Janeiro, 28 de maio de 1913 — 13 de julho de 1973). 6 Ismael Silva (14 de setembro de 1905 - 14 de março de 1978). 7 Nelson Cavaquinho (Rio de Janeiro, 28 de outubro de 1911 — Rio de Janeiro, 17 de fevereiro de 1986). 5

7 2. O OFICLEIDE

Figura 2: Desenho do Oficleidista. Fonte:http://manassscabral.blogspot.com/2011/01/curiosidadestuba-ou-souza-fone.html (26/04/2007)

Os instrumentos mais graves ainda eram dependentes da vara, até que, em 1821, a fabrica francesa Halary patenteou um instrumento de bocal, com tubo cônico e dobrado sobre si mesmo. Esse instrumento foi chamado de "ophicleide", palavra que provém do grego "ophis", que significa serpente e "kleis", que quer dizer tampa ou abafador, combinação que pode ser traduzida como "serpente de chaves". O Oficleide não substituiu o trombone, mas devido ao seu timbre particular, com um som grave e escuro, diferente do som estridente do primeiro, foi usado em orquestras e se popularizou através das Bandas de Música, sendo um dos “avós” da tuba e do eufônio. Os oficleides possuíam de nove a doze chaves, tinham formato de “U” e usavam bocal. As chaves davam bastante agilidade aos tenores da família. Por isso, grandes compositores dedicaram partes importantes de suas músicas a esse instrumento. Ele começou a aparecer em 1819, antes mesmo de ser patenteado, na ópera Olímpia, do compositor Luigi Pacifico Gaspare Spontini8. Outras grandes obras que usaram este

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Luigi Pacifico Gaspare Spontini (Maiolati, 14 de novembro de 1774; idem, 24 de janeiro de 1851).

8 instrumento foram Elias e Sonho de uma Noite de Verão, de Felix Mendelssohn9, além da Sinfonia Fantástica, de Louis-Hector Berlioz10. Aliás, Berlioz dedicou algumas páginas de seu tratado de orquestração ao oficleide. Por ser doce e versátil no registro superior e aberto e potente no registro grave, os compositores Verdi, Giacomo Meyerbeer11 e Wilhelm Richard Wagner12, também compuseram e escreveram peças específicas para oficleide. Na Itália e Inglaterra, haviam grandes oficleidistas, como Samuel Hughes e J.H. Guilmartin, levando fama com o instrumento até meados de 1890. Porém, na primeira década do século XX o instrumento parou de ser fabricado, desaparecendo já no catálogo do fabricante de instrumentos “Courtois”. Devido a invenção de outros instrumentos com melhores qualidades de afinação e de controle de dinâmicas, o oficleide foi se tornando obsoleto. Um dos maiores responsáveis por isso foi Antonie Joseph Adolphe Sax13, o pai do saxofone. Belga, filho de um fabricante de instrumentos musicais, aos 25 anos, Sax foi morar em Paris e começou a trabalhar no projeto de novos instrumentos. Em 1940, Adolph Sax adaptou uma boquilha semelhante à de clarinete a um oficleide, com isso ele teve a idéia de criar o saxofone, patenteado em 1844. Por ter um som único, com propriedades tanto dos instrumentos de madeira quanto dos de metal, o saxofone logo foi adotado por muitos músicos. No Brasil, o oficleide teve como o seu grande instrumentista o músico Irineu Batina, que em 1913 passou a atuar no grupo "Choro Carioca", participando da primeira gravação de Pixinguinha com a obra São João debaixo d'água, tango do próprio Irineu,

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Felix Mendelssohn (Hamburgo, 3 de fevereiro de 1809 — Lípsia, 4 de novembro de 1847). Louis-Hector Berlioz (La Cote-St.-André, Isère, 11 de dezembro de 1803; Paris, 8 de março de 1869). 11 Giacomo Meyerbeer (nascido Liebmann Beer, Berlim, 1791—Paris, 1864). 12 Wilhelm Richard Wagner (Leipzig, 22 de maio de 1813 — Veneza, 13 de fevereiro de 1883). 13 Adolphe Sax (Dinant, 6 de novembro de 1814; Paris, 4 de fevereiro de 1894). 10

9 no qual este atuava ao oficleide e Pixinguinha na flauta. Também podemos escutá-los em gravações da banda do corpo de bombeiros do maestro Anacleto de Medeiros.

3. O SAXHORN BARÍTONO

Figura 3: Foto do Saxhorn Barítono Fonte: http://www.besson.com/en/instruments.php?mode=productsList&cid=7 (26/04/2007)

O timbre do oficleide ficou por muito tempo exclusivo, mas entre 1842 e 1845, Adolph Sax produziu a família dos Saxhorns. Essa família de instrumentos de bocal e válvulas, ou pistons, compreende o Genis, conhecido popularmente como “Maria Chiquinha”, ou Saxhorn alto em Mi bemol, o Bombardino, ou Saxhorn Barítono em Si bemol ou dó, e o Bombardão, ou Saxhorn Baixo em Si bemol ou Mi bemol. Devido à semelhança de timbres destes instrumentos com o oficleide, e pelas melhores qualidades de afinação, foram estes seus primeiros substitutos. O objetivo de Adolph Sax era o de desenvolver uma família homogênea de instrumentos (à imagem do que ele tinha feito

10 com os saxofones), para serem usados como substitutos dos metais de orquestra, para as bandas militares e bandas de metais. Contudo, podemos dizer que os saxofones surgiram adaptando-se boquilhas ao oficleide, enquanto os saxhorns, tubas e eufônios, surgiram adaptando-se pistões ao oficleide. Também não se deve confundir os saxhorns com as “trompas Wagnerianas”, instrumentos similares aos de Sax, mas foram criados especialmente para o Ciclo do Anel, de Richard Wagner. Também foram usadas por Anton Bruckner14 em algumas de suas sinfonias colossais. Atualmente, se fabricam estes instrumentos exclusivamente para tocar a música destes dois compositores, mas em muitos lugares o eufônio os substituiu. No Brasil, o bombardino, como geralmente é chamado o saxhorn barítono, é extremamente popular, sendo inclusive tocado por Pixinguinha. Até hoje se encontram saxhorns barítonos e saxhorns altos em bandas militares e conjuntos similares, porém, aos poucos este instrumento está sendo substituído pelo Eufônio, que também é chamado de “bombardino”, o que gera certa confusão entre os músicos. Esta confusão pode ser resolvida se considerarmos “bombardino” como um apelido popular para instrumentos com formatos similares aos do eufônio e saxhorns. Este apelido, de origem italiana, se deve ao fato de que inicialmente se usava no Brasil a expressão “bombardino” para descrever um tipo de fraseado melódico que contrapontua em contracanto, realizado por qualquer instrumento grave de sopro na banda de música. O saxhorn barítono e o eufônio acabaram sendo chamados de “bombardino” por serem os que mais executam este tipo de fraseado. Outros insturmntos sem patente, mas de formato similar, também eram chamados de bombardino.

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Anton Bruckner (Ansfelden, 4 de setembro de 1824 — Viena, 11 de outubro de 1896).

11

4. O EUFÔNIO

Figura 4: Foto do Eufônio Fonte: http://www.besson.com/en/instruments.php?mode=productsList&cid=9 (26/04/2007)

O Eufônio (Tuba baixo-tenor) é frequentemente confundido com o Saxhorn Barítono, porém é pertencente à classe das Tubas, com tubo mais largo, bocal mais profundo, enquanto à classe das Saxhorns possui tubo mais estreito, bocal mais semiesférico. O nome do instrumento provém da palavra grega Euphonium, que significa “som bonito”, contudo, assim como ocorre com o Saxhorn barítono, no Brasil, ele também é

12 chamado de “bombardino”. Este é um dos instrumentos de sopro com a maior extensão, hora soa na região grave, como uma tuba, hora soa na região aguda, como uma trompa, ultrapassando 4 oitavas. Também é o que tem maior projeção de som entre os “sopros”. Consegue atingir grandes fortíssimos e pianíssimos, além de que os eufônios possuem uma afinação praticamente perfeita, devido ao sistema compensado. Este sistema de compensação de afinação foi inventado pelo britânico David Blaikey, em 1874, para que, no caso do eufônio, trombone e tuba, se possa tocar uma escala cromática afinada ao utilizar o registro grave. Nos eufônios de sistema não compensado a 4ª válvula é a mais desafinada, sobretudo nas notas mais graves, em que esta chega a estar meio tom mais alto (Dó1 e Si1). Esse sistema entra em ação quando o eufonista usa uma combinação da 4ª válvula com outra(s). No caso do trombone, ao invés de termos a 4ª válvula, temos um rotor (ou chave) na entrada do tubo da campana. Ao usar a 4ª válvula, o ar é canalizado de forma a passar por uma pequena extensão de tubo, baixando ligeiramente a afinação, e assim, resolvendo o problema da afinação das notas graves. Atualmente os eufônios estão se popularizando cada vez mais, são usados para substituir os oficleides, que se tornaram obsoletos, assim como substituem os saxhorns barítonos em bandas de música. Já existe um vasto repertório escrito para Eufônio, geralmente peças de extrema virtuosidade. Também é comum encontrar eufonistas tocando concertos para trombone, tuba, trompa, fagote e violoncelo. São poucos instrumentos com tamanha versatilidade. Gustav Holst usou o eufônio em sua suíte Os Planetas, com solos em trechos de Marte, Júpiter e Urano. Outro compositor que explorou muito bem os recursos do eufônio foi Gustav Mahler15, logo nos primeiros compassos da sua Sétima sinfonia, surge o

15

Gustav Mahler (Kalischt, Boêmia, 7 de Julho de 1860 — Viena, 18 de Maio de 1911).

13 eufônio sendo explorado em toda a sua capacidade. Compositores contemporâneos, como John Towner Williams16 e Vincent Ludwig Persichetti17, não cansam de escrever belas partes para este instrumento. No Brasil, este instrumento está ganhando bastante espaço nos últimos anos, devido a criações de Bandas Sinfônicas por todo o território nacional.

5. OS INSTRUMENTOS DE METAIS TENORES SOBREVIVENTES

Figura 5: Foto do Serpentão Fonte: http://csolanope.blogspot.com/2009/06/los-metales-en-la-orquesta.html (26/04/2007)

Curiosamente, podemos perceber que entre os instrumentos de metais tenores sobrevivem hoje apenas o mais antigo e o mais moderno. São, o trombone de vara e o eufônio, respectivamente. Estes instrumentos dificilmente se tornarão obsoletos. O trombone, por ter conseguido atingir um nível de construção aceitável desde o barroco, ganhou diversas composições específicas e se popularizou em todo o mundo. É um instrumento de construção relativamente simples, fazendo com que seu preço seja acessível para as pessoas com menos condições. Sendo assim, ele ganhou muito espaço na música popular.

16 17

John Towner Williams (Long Island, Nova Iorque, 8 de fevereiro de 1932). Vincent Ludwig Persichetti (6 de junho de 1915 – 14 de agosto de 1987).

14 No caso do Eufônio, apesar de ser um instrumento muito caro, devido a complexidade de sua construção, ele conseguiu seu espaço na música por ser extremamente completo e versátil. Muitas invenções curiosas, como os “serpentões” e até mesmo o oficleide, foram criados antes até chegarmos ao eufônio. Este resolve definitivamente os problemas de sonoridade e afinação de seus antepassados e aos poucos vai conquistando o seu espaço na música erudita e também na popular, justamente por substituir o oficleide e o bombardino nas bandas de música, charangas e orquestras. Contudo, sabe-se que certas fábricas tradicionais ainda se preocupam em fabricar e conservar instrumentos de época. Com recursos modernos, um oficleide construído hoje pode ter características sonoras bem mais aprimoradas do que os de antigamente, porém, essa é apenas uma tentativa de guardar as memórias e tradições da música e estes instrumentos recriados são extremamente caros. Algumas “casas de óperas”, como a de Sydnei, na Austrália, investem nesta tradição, executando peças com todos os instrumentos originais, ou seja, usam oficleide se for necessário.

REFERÊNCIAS

A HISTÒRIA DO TROMBONE. Disponível em Acesso em: 27 jul.2010. BYRNE, Nick. The Oficleide. Disponível em . Acesso em: 27 jul.2010. CABRAL, Sérgio. Pixinguinha, vida e obra. Rio de Janeiro, Lumiar, 1998. CAZES, Henrique. Choro: do quintal ao municipal. São Paulo: Ed. 34, 1998.

15 DICIONÁRIO CRAVO ALBIN DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA. Disponível em Acesso em: 27 jul.2010. DINIZ, André. O rio musical de Anacleto de Medeiros: A vida, a obra e o tempo de um mestre do choro. Rio de Janeiro: JZE, 2007. KOBBÉ, Gustav. Kobbé, O livro completo da Ópera: organizado pelo conde de Harewood. Rio de Janeiro: JZE, 1997. MASSIN, Jean & Brigitte. História da Música Ocidental. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1997. SADIE, Stanley. Dicionário Grove de Música: Edição Concisa. Rio de Janeiro: JZE, 1994.

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