O DESENVOLVIMENTO INOVATIVO EM CLUSTERS: UMA ANÁLISE SOBRE O SETOR CERÂMICO EM CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ

May 27, 2017 | Autor: R. Periódico dos ... | Categoria: Clusters, Inovação, Desenvolvimento Regional, Setor Cerâmico
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FOCO: revista de Administração e Recursos Humanos da Faculdade Novo Milênio.

O DESENVOLVIMENTO INOVATIVO EM CLUSTERS: UMA ANÁLISE SOBRE O SETOR CERÂMICO EM CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ Edson Terra Azevedo Filho1 Georgia Maria Mangueira de Almeida2 Manuel Antonio Molina Palma3

RESUMO A proposta do trabalho foi investigar o nível de desenvolvimento inovativo de um conjunto de empresas que fazem parte do cluster de cerâmica da cidade de Campos dos Goytacazes – RJ. O referido grupo de empresas que se caracteriza como unidade de análise é uma rede de treze empresas denominada Rede Campos Cerâmica (RCC), fundada em 2004. Para o alcance dos objetivos propostos foi efetuada uma análise comparativa entre práticas inovadoras geradoras de vantagens competitivas em clusters de sucesso de acordo com a literatura especializada no tema. Através da realização de um estudo de caso foi possível conhecer a realidade das empresas analisadas em relação à implementação de ações inovadoras e na transformação destas em diferenciais competitivos. Ao final do trabalho foi possível identificar o nível de desenvolvimento inovativo do referido grupo e a sua capacidade de geração de vantagens competitivas que permitem sua sobrevivência e diferenciação no mercado. PALAVRAS-CHAVE: Cerâmico.

Inovação.

Clusters.

Desenvolvimento

Regional.

Setor

THE INNOVATIVE DEVELOPMENT IN CLUSTERS: AN ANALYSIS OF THE CERAMIC SECTOR IN CAMPOS DOS GOYTACAZES ABSTRACT The purpose of this study was to investigate the level of innovative development of a set of companies that are part of the cluster of ceramic in Campos dos Goytacazes – RJ. This group of companies characterized as the unit of analysis is a network of thirteen companies named Rede Campos Cerâmica (RCC), founded in 2004. In order to achieve the proposed objectives was performed a comparative analysis of generating innovative practices for competitive advantage in successful clusters according to the literature on the subject. By conducting a case study it was possible to know the reality of companies analyzed in relation to the implementation of innovative actions and the transformation of these actions in competitive advantages. At the end of the study it was possible to identify the level of innovative development 1

Engenheiro de Produção/UENF e doutorando em Sociologia Política/UENF e professor do Curso de Administração da Universidade Candido Mendes/UCAM-Campos, RJ. 2 Mestra em Engenharia de Produção/UENF. 3 Doutor em Administração pela Universidade de São Paulo/USP. Professor Associado II da Universidade Estadual do Norte Fluminense/UENF.  

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of the group and its ability to generate competitive advantages that allow their survival and differentiation in the market. Keywords: Innovation. Clusters. Regional Development. Ceramic Sector.

1 INTRODUÇÃO A globalização apresenta-se como um dos fenômenos contemporâneos mais relevantes por consequência da conformação sofrida por nossa sociedade em função da constante influência de um intenso processo de modernidade (GIDDENS, 1991; CASTELLS, 1999). Atendo-se mais especificamente ao mundo corporativo, nota-se que em função da elevação do nível de competitividade4 global, as empresas são levadas a conviver com o paradigma da busca incessante pela criação

de

novas

estratégias

que

lhe

possibilitem

melhores

níveis

de

sustentabilidade (PORTER, 1993). As mudanças no ambiente competitivo têm trazido novas demandas por eficiência, qualidade e flexibilidade para as organizações e mais recentemente, algumas evidências passaram a indicar um novo requisito essencial para o sucesso: a inovação. Para tanto, as empresas estão procurando novas formas de se diferenciar no mercado para se fortalecerem no “jogo da competitividade”. (MAXIMIANO; SBRAGIA; KRONER, 1997). Assim, a capacidade de gerar inovações tem sido identificada consensualmente como fator chave no sucesso de empresas e nações. E no caso das aglomerações produtivas, que é o objeto de estudo deste artigo, tal capacidade é obtida através de intensa interdependência entre os diversos atores, produtores e usuários de bens, serviços e tecnologias, sendo facilitada pela especialização em ambientes socioeconômicos comuns (CASSIOLATO; LASTRES, 2003). Surge então, para as organizações, a necessidade de criar novas competências de modo a transformar a inovação em uma fonte geradora de vantagens competitivas, e desta forma buscam desenvolver sua capacidade de

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Pode ser entendida como a capacidade de obter lucratividade e gerar valor a custos iguais ou inferiores aos de seus concorrentes, relacionando-se com fatores como: intensidade e adaptação de tecnologias ao negócio da empresa, custos e condições de obtenção de recursos, nível de diferenciação, economias de escala e fatores externos (PORTER, 1993).

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estabelecer relações interorganizacionais, de compartilhar conhecimentos e riscos, de inserirem-se em circuitos globais de informação e de beneficiarem-se da divisão de trabalho em regiões geradoras de economias de aglomerações (CAMPOS et al., 2002), como forma de se obter diferenciais competitivos. Discussões acerca da relação entre as aglomerações produtivas locais e a inovação têm sido enfatizadas, principalmente como instigadora do processo de inovação na competitividade das empresas. E Schmitz (1999), enfatiza que o interesse pelos clusters industriais tem crescido por parte dos pesquisadores em função da existência de diversos “casos de sucesso” em tempos recentes, tanto em países desenvolvidos como nos em desenvolvimento. É ressaltado, entretanto, que o volume de trabalhos que tratam das experiências nos países em desenvolvimento ainda é bem modesto se comparado com os que se referem aos países avançados. Assim, tomando-se como base as discussões a respeito da importância da inovação para o alcance da competitividade e as competências necessárias para este alcance e um número ainda não expressivo de trabalhos nos países em desenvolvimento, o presente trabalho visa realçar a capacidade das aglomerações produtivas gerarem vantagens competitivas por meio da inovação, através da ilustração do nível de desenvolvimento de uma aglomeração produtiva de cerâmica do município de Campos dos Goytacazes, estado do Rio de Janeiro, em relação aos diferenciais competitivos gerados na formação dos clusters contidos em ampla bibliografia. Sendo assim, o estudo é apresentado no seguinte formato: na seção 2 é apresentado o referencial teórico a respeito do processo inovativo como elemento instigador do desenvolvimento econômico de uma aglomeração; as ações inovadoras que propiciam ganhos de competitividade e os elementos diferenciais bem como a forma de geração das principais vantagens competitivas pela formação de uma aglomeração produtiva; na seção 3 é descrita a metodologia utilizada, a apresentação da estrutura e as limitações do estudo; na seção 4 é apresentado um estudo de caso em um cluster de cerâmica, com suas análises e discussões e, conclui-se, na seção 5 com as considerações finais e sugestões de demais pesquisas a respeito deste estudo.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 A Inovação como elemento do desenvolvimento econômico no Cluster A inovação tecnológica que é a grande tônica deste trabalho e pode ser definida como a utilização do conhecimento sobre novas formas de produzir e comercializar bens e serviços (SEBRAE, 2003). Tomando-se outra referência para o conceito de inovação tecnológica, apresenta-se como a introdução no mercado de novos produtos ou processos de produção, bem como sua difusão na sociedade, conclui-se que tais inovações implicam em uma série de atividades científicas, tecnológicas, organizacionais, financeiras e comerciais (REIS, 2004). A partir destas definições pode-se abranger a inovação como um conjunto de ações que visam à diferenciação e a melhoria de processos, em busca de maior competitividade. E neste sentido, enquadram-se as aglomerações produtivas como uma alternativa para enfrentar as turbulências dos mercados. Um dos grandes diferenciais que as aglomerações produtivas podem desejar é a formação de sistemas de inovação, que podem ser definidos como um conjunto de instituições distintas que contribuem para o desenvolvimento da capacidade de inovação e aprendizado de um país, região ou localidade (SEBRAE, 2003). De acordo com o conceito de aglomerações produtivas, em relação à proximidade e interação entre as empresas, pode-se caracterizá-lo como um potencial formador de um sistema de inovação e segundo também ao termo de referência do Sebrae (2003), uma característica fundamental para o desenvolvimento de processos inovativos é o nível de relações e interações entre as empresas do aglomerado, cuidando assim da difusão e aprendizado das empresas, e de uma certa forma uniformizando o conhecimento e gerando um aumento de potencial inovativo das empresas participantes. Portanto, pode-se destacar o nível de interação entre as empresas como um fator importante à inovação. Nestes processos, a aprendizagem interativa estabelecida pelas empresas no sistema de inovação envolve diversos atores como consumidores, competidores, agências reguladoras, entidades de desenvolvimento científico, tecnológico e gerencial, investidores de risco e outros mais. Apesar do fato de que as aglomerações produtivas favorecem o desenvolvimento de vantagens competitivas, segundo Dezi e Schiavone (2004), as V.7, nº1, Jan./Jul. 2014.

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empresas que compõem um determinado cluster necessitam possuir certas capacidades dinâmicas, que podem ser definidas como "rotinas organizacionais e estratégicas pelas quais os gerentes alteram seus recursos base, para gerar novas estratégias de criação de valor". De acordo com estes autores, quanto maior o nível de desenvolvimento destas capacidades, mais as empresas podem se aproveitar da sinergia gerada pela aglomeração produtiva e assim construindo mais diferenciais competitivos. De acordo com Cassiolato e Lastres (2003), muitas questões contribuíram para o entendimento do processo inovativo em aglomerações produtivas nos últimos anos, destacando-se entre elas: •

O reconhecimento de que inovação e conhecimento são elementos centrais da dinâmica e do crescimento de nações, regiões, setores, organizações e instituições;



A compreensão de que a inovação constitui-se em um processo de busca e aprendizado dependente de interações, sendo socialmente determinado e fortemente influenciado por formatos institucionais e organizacionais específicos;



A idéia de que existem marcantes diferenças entre os agentes e suas capacidades de aprender;



O entendimento de que existem importantes diferenças entre sistemas de inovação de países, regiões, setores, organizações, etc. em função de cada contexto social, político e institucional específico.



A visão de que, apesar das Tecnologias de Informação apresentarem condições crescentes de transferência de conhecimento codificado, os conhecimentos tácitos de caráter localizado e específico continuam tendo um papel primordial para o sucesso inovativo e permanecem difíceis (senão impossíveis) de serem transferidos. Cassiolato e outros (1998 apud SMITH, 1997), argumentam que os sistemas

de inovação se estruturam em três pilares conceituais básicos representados abaixo, na Figura 1:

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Figura 1- Os pilares conceituais básicos do sistema de inovação. Sistemas de Inovação

Vantagem Competitiva

Conhecimento Tecnológico

Comportamento Econômico

Fonte: Elaborada pelos autores.

Dos três pilares apresentados na Figura 1, a capacidade competitiva de uma empresa é incrementada pela simples presença dela no cluster, se configurando como um ambiente favorável ao desenvolvimento de capacitações e habilidades (SANTOS; GARCIA, 2004). Assim, neste trabalho, será dado um maior enfoque às vantagens competitivas desenvolvidas pela formação de uma aglomeração produtiva de cerâmica, onde as características destes ambientes de cooperação para inovação podem ser sintetizadas em três dimensões: diversidade (de atores e competências), coerência (com respeito à integração de atividades complementares) e interatividade (relações fortes de cooperação). Estas características podem maximizar os benefícios de cooperação e garantir que efeitos de aprendizado e os níveis de inventividade sejam aumentados, devido a grande diferença cultural, técnica e de conhecimento entre os atores envolvidos (ALVES; MARQUES e MARQUES, 2007). Logo a inovação pode ser resultante da interação entre empresas por ser traduzida por Diniz (2000), como a estratégia ou o instrumento de desenvolvimento regional, pois a aglomeração ao reduzir as distâncias, permite o contato face a face facilitando o fluxo de conhecimentos. 2.2 Ações inovadoras que objetivam ganhos de competitividade Uma peculiaridade interessante nesta nova abordagem econômica, é que uma das características principais das aglomerações produtivas é justamente a

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importante presença de pequenas e médias empresas (SANTOS; DINIZ; BARBOSA, 2004), abordagem que contempla as organizações que são objeto deste estudo. Existem inúmeros conceitos a respeito das aglomerações produtivas, no entanto, será apresentado aquele que é utilizado por renomados autores, e que foi desenvolvido pela Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (Redesist), coordenada pelo Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que trata as aglomerações produtivas como sistemas locais de produção e inovação, conceituando-os como: Aglomerados de agentes econômicos, políticos e sociais, localizados em um mesmo território, que apresentam vínculos consistentes de articulação, interação, cooperação e aprendizagem e que incluem não apenas empresas – produtoras de bens e serviços finais, fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de serviços, comercializadoras, clientes, etc. e suas variadas formas de representação e associação – mas também outras instituições públicas e privadas voltadas à formação e treinamento de recursos humanos, pesquisa, desenvolvimento e engenharia, promoção e financiamento (CASSIOLATO; LASTRES, 2003).

Estas aglomerações recebem diferentes denominações, que vão desde arranjos

produtivos

locais

(APL),

segundo

o

SEBRAE

e

outros

órgãos

governamentais; clusters, tipologia que ganhou muita força com os estudos de Porter (1993), e sistemas produtivos locais (SPL) de acordo com a REDESIST, entre outros, porém, neste trabalho, será utilizada a denominação de clusters. Segundo Nicoluci e outros (2007) este modelo é uma agregação de firmas em que existe uma organização coletiva de produção, criando-se uma sinergia onde os ganhos são positivos, tendo-se como base a indústria, vinculada a uma concentração geográfica e setorial. Sendo o mais importante compreender como é criada a sinergia para obtenção de vantagens competitivas. Normalmente, a busca competitiva se dá em função de um conjunto de fatores que pode ser: por meio da divisão do trabalho; especialização ao nível das firmas; insumos, em geral, próximos às empresas; máquinas e equipamentos ao nível geral das empresas e, prestação de serviços, tudo próximo, numa mesma área geográfica, ou ao nível do setor, sendo um conjunto associado à concentração geográfica e setorial (KUPFER, 1996; RESENDE; BOFF, 2002 apud NICOLUCI et al., 2007). A aglomeração gera vantagens para as empresas que dificilmente teriam se estivessem atuando isoladamente. Isto remete à capacidade de sobrevivência das V.7, nº1, Jan./Jul. 2014.

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Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPMEs), implicando na existência do conceito de economias internas, que se baseiam na redução de custos e ampliação da capacidade de produção da firma e, de economias externas (MARSHALL, 1890), relacionadas ao conceito de externalidades positivas da indústria local, onde externamente a firma interage obtendo-se sinergia com as demais. A economia de aglomeração está ligada à economia interna da aglomeração e, à economia externa, na esfera macroeconômica, competindo e se reconfigurando conforme o grau de sua eficiência coletiva, onde não mais uma micro, pequena, ou média, mas um conjunto de MPMEs consegue de forma coletiva obter vantagem a partir de uma forma organizativa em cooperação e obter vantagem competitiva, produzindo coletivamente, porém de forma independente. Podendo ser citados como exemplos, os clusters de calçados do Vale do Rio dos Sinos/RS e Campina Grande/PB; os de móveis de Ubá /MG e Arapongas/PR; os de confecções de Itajaí/SC, Nova Friburgo e Petrópolis/RJ e Cianorte/PR; e os de software de Campinas/SP e Joinvile/SC, entre outros. Pode-se ainda, identificar na literatura tanto nacional como internacional que compõe a revisão bibliográfica deste trabalho, diversas vantagens competitivas que podem ser geradas pela formação de aglomerações produtivas, denominadas aqui como clusters. Serão destacados alguns destes diferenciais e as formas pelas quais eles são gerados a seguir. 2.3 Elementos diferenciais e formas de geração de vantagem competitiva em Clusters Como visto anteriormente, a inovação é vista como um processo cada vez mais interativo, desde a fase da pesquisa básica, passando pela comercialização e difusão. O processo inovativo caracteriza-se também por necessárias interações entre diferentes departamentos dentro de uma dada organização (produção, marketing, P&D, etc.) e entre diferentes organizações e instituições. A interação passa então a constituir-se como fonte geradora de vantagens competitivas (CASSIOLATO; SZAPIRO, 2002). Este processo interativo é fundamental para a geração dos diferenciais competitivos nos clusters em função da busca de novas fontes de informação, repetição, experimentação, e outros mecanismos, difundindo o conhecimento e capacitando tecnologicamente as firmas e estimulando as suas atividades produtivas V.7, nº1, Jan./Jul. 2014.

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e inovativas (PURCIDONIO, 2007). Esta difusão de conhecimentos e experiências cria no cluster a tendência de certo equilíbrio tecnológico, contribuindo para a formação de um sistema vital, que segundo Dezi e Schiavone (2004) pode ser descrito como um sistema da sobrevivência, unido e integral. É homeostático, internamente

e

externamente

equilibrado

que

suporta

os

mecanismos

e

oportunidades para crescer, aprender, desenvolver e se adaptar, tornando-se sempre mais competitivo no seu ambiente. Desta forma pode-se considerar o nível de interação entre as empresas formadoras do cluster, imprescindível ao seu sucesso. Segundo o SEBRAE (2003), a inovação nos APLs pode ocorrer por meio de: intercâmbio sistemático de informações produtivas, tecnológicas e mercadológicas; interação envolvendo empresas e outras instituições, por meio de programas comuns de treinamento, realização de eventos, feiras, cursos e seminários; integração de competências, por meio da realização de projetos conjuntos, entre empresas e destas com outras instituições. Juntamente com o nível de interação, a cooperação possui muito destaque como característica de clusters, segundo o Termo de Referência para a Atuação do Sistema SEBRAE em APL (2003), identificam-se diferentes tipos de cooperação, incluindo a cooperação produtiva visando à obtenção de economias de escala e de escopo, bem como a melhoria dos índices de qualidade e produtividade; e a cooperação inovativa, que resulta na diminuição de riscos, custos, tempo e, principalmente, no aprendizado interativo, dinamizando o potencial inovativo do APL. A cooperação ocorre normalmente em marketing, promoção de exportações, suprimento de insumos essenciais, atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e outras (SUZIGAN, 2001). Nessa direção, Amato Neto (2000) afirma que a confiança nas relações de cooperação é fator decisivo, que faz com que os parceiros respeitem os compromissos assumidos entre as empresas pertencentes à determinada rede. Como foi visto no conceito de cluster, a proximidade geográfica é uma característica básica destas aglomerações, pois ela é fundamental para o desenvolvimento da interação e cooperação e também pela redução de custos de transportes, no caso de cooperação comercial entre as empresas (SANTOS; DINIZ; BARBOSA, 2004).

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Ao estudar um cluster deve-se buscar identificar, além da presença de economias externas locais relacionadas ao tamanho de mercado e outros fatores que favoreçam a especialização local. Assim estas características também podem ser descritas como geradoras de vantagens competitivas (SUZIGAN; GARCIA; FURTADO, 2007). Como citado anteriormente, um cluster não é composto somente de empresas. Ele é composto por várias organizações dos mais variados tipos. De acordo com o SEBRAE (2003), os atores que normalmente devem fazer parte de uma aglomeração produtiva de sucesso são: •

Primeiramente as empresas, de diversos portes, ligadas direta ou indiretamente à vocação produtiva e comercial do cluster;



Instituições financeiras públicas e privadas, para o financiamento das atividades empresariais do cluster;



Entidades de apoio empresarial como: SEBRAE, SESI, SENAI, entre outras;



Instituições de ensino e pesquisa;



Entidades de apoio público, federais, estaduais e municipais como: o governo do estado em que se encontra o cluster, prefeituras e associações locais;



Associações formadas pelos representantes das empresas e outros agentes;



Organizações não governamentais. Ribeiro e Chávez (2004) citam alguns fatores como potenciais fomentadores

de importantes vantagens tais como a realização de compras coletivas de insumos e máquinas e de projetos conjuntos visando ao mercado externo; a geração de novos empreendimentos que venham fortalecer mais o aglomerado; e o barateamento dos custos dos fornecedores em função da demanda concentrada por produtos e serviços. E ainda, na concepção de Amato Neto (2000), algumas razões que induzem o desenvolvimento de diferenciais competitivos nos clusters são: • Dividir ônus da realização de pesquisas tecnológicas; • Exercer maior pressão comercial no mercado; • Compartilhar recursos; Uma das características mais importantes nos clusters de sucesso é o seu nível de governança. Segundo Stainsack (2006), a questão da organização da

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governança é fundamental para a execução de projetos de interesse de empresas dos APLs. Por governança em clusters, entende-se como a capacidade de comando ou a coordenação que certos agentes (empresas, instituições, ou mesmo um agente coordenador) exercem sobre as inter-relações produtivas, comerciais, tecnológicas e outras, influenciando decisivamente o desenvolvimento do sistema ou arranjo local. Assim entendida, a governança é um dos aspectos mais complexos dentre os que caracterizam a dimensão espacial das atividades produtivas e inovativas (SUZIGAN; GARCIA; FURTADO, 2007).

3 METODOLOGIA E ESTRUTURAÇÃO DA PESQUISA A metodologia empregada na realização deste trabalho consistiu em dois momentos. No primeiro momento, realizou-se uma pesquisa bibliográfica em diversos artigos nacionais e internacionais para estabelecer um referencial teórico a respeito das principais vantagens competitivas geradas pela formação das aglomerações produtivas. Ao estabelecer este referencial, iniciou-se a segunda etapa da pesquisa que, segundo Yin (2005), um estudo de caso empírico se propõe a investigar um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real. E o estudo de caso descritivo como estratégia de pesquisa possui vantagem distinta apresentando respostas às questões, como forma de ilustração das teorias. Logo, se propõe um estudo de caso em um cluster de cerâmica da cidade de Campos dos Goytacazes, visando avaliar o nível de desenvolvimento inovativo, assim como as vantagens competitivas que as empresas integrantes desta aglomeração produtiva conseguem gerar. A fim de que fosse possível esta avaliação, foi realizada uma entrevista em profundidade com o Presidente da Rede Campos Cerâmica5 (RCC), que possui ampla experiência neste ramo, sendo proprietário de uma das cerâmicas integrantes da RCC e que acompanhou todas as fases do processo de estruturação desta rede. A entrevista consistiu em cinco blocos de questionamentos divididos em interação, 5

inovação,

cooperação,

organizações

constituintes

do

cluster

e

A RCC será detalhada mais profundamente na apresentação do objeto de estudo.

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governança, investigando a respeito das potenciais vantagens competitivas que normalmente são geradas pelas aglomerações produtivas e os fatores que fomentam a sua geração. Esta investigação se deu pela comparação entre o nível de desenvolvimento deste cluster e as abordagens contidas no referencial teórico. Optou-se em utilizar a metodologia do estudo de caso, por esta atribuir características de maior realidade e relevância, através do relato do entrevistado sobre as práticas vivenciadas neste arranjo. Como fatores limitantes do trabalho podemos enfatizar que nem todas as empresas pertenecentes ao cluster puderam ser visitadas, visto que a falta de disposição dos líderes em compartilhar informações realmente relevantes e o tempo disponível para desenvolvimento das entrevistas nas cerâmicas foram os fatores negativos que afetaram a ampliação da discussão; não houve uma confrontação com um outro cluster de cerâmica para analisar se as vantagens competitivas possuíam características semelhantes.

4 O ESTUDO DE CASO A seção seguinte objetiva apresentar o objeto de estudo, caracterizado como um grupo de cerâmicas que fazem parte do cluster de cerâmica da cidade de Campos dos Goytacazes, além de relatar as análises e resultados da pesquisa. 4.1 Apresentação do objeto de estudo Segundo o sindicato dos ceramistas de Campos, o Aglomerado de Cerâmica não Refratária de Uso Estrutural da Região de Campos Dos Goytacazes – RJ, é composto por 110 empresas (76 são sindicalizadas), cerca de 40% delas criadas na primeira metade do século 20 e as restantes a partir dos anos 80, com o declínio do setor sucroalcooleiro, ainda segundo o sindicato dos ceramistas, são gerados em torno de 5.000 empregos diretos. Em torno de 60% da produção, em média cinco milhões de peças dia, têm o escoamento da produção na Baixada Fluminense e no Rio de Janeiro. Segundo o Presidente do sindicato, a realização de Fóruns de Inovação e Meio Ambiente do APL de Cerâmica Vermelha na cidade nos últimos dois anos, tem proporcionado a apresentação de novas tecnologias que possam gerar economia e proporcionar a V.7, nº1, Jan./Jul. 2014.

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manutenção do setor. Já que no próximo ano a cobrança de pedágio na BR-101, principal via de escoamento da produção, irá interferir na rentabilidade do setor. Já que o custo do transporte corresponde a 40% do valor do produto. Os principais produtos desta atividade são: o tijolo furado, a telha colonial e a cerâmica refratária. O referido grupo de empresas que se configura em unidade de análise é denominado Rede Campos Cerâmica (RCC), com 10 anos de existência, constituído por treze (13) cerâmicas, e várias entidades públicas e privadas, contando com dezessete (17) diversificados produtos, e com uma capacidade instalada de produção mensal de dezoito (18) milhões de peças. A partir da metodologia de Rede Associativa (oficina de associativismo do SEBRAE/RJ), a convite do Sindicato dos Ceramistas, realizada no período de 23 de março a 27 de abril de 2004, na sede do sindicato, foi criada a Rede Campos Cerâmica - RCC. Uma Rede de Indústrias de Cerâmica criada para cooperar entre si. Essa inter-relação se dá por intermédio de troca de conhecimentos, melhoria de processos, compartilhamentos de RH, compras, vendas etc. Hoje, a RCC tem sido um exemplo no país, em cooperação empresarial. Com a criação da RCC, as construtoras e empresas de materiais de construção passaram a contar com um parceiro, que contando com o apoio de entidades públicas e privadas, investe em padrão e qualidade. 4.2 Análise e discussão Segundo Jung (2004), as inovações tecnológicas por sistemas livres cooperativos partem do princípio de redes interpessoais de informações para o estabelecimento de recursos inovadores, onde o consumidor passa a ser usuário e parceiro da inovação auxiliando no desenvolvimento e aperfeiçoamento. Segundo o entrevistado, no ano 2000, em um congresso de cerâmica realizado em Florianópolis foi dito que em 2020 existiriam apenas 400 cerâmicas devido o investimento tecnológico para aumento da qualidade com a produção robotizada e das 12000 cerâmicas que existiam no país, em 2008 existem apenas 5500, parecendo que está se cumprindo a profecia.

Esta informação recebida em um congresso norteia as ações da RCC que vem investindo em padrões e qualidade na produção para se manter competitiva. De acordo com o entrevistado, desde que o cluster foi fundado um fator que sempre foi fundamental para o desenvolvimento das ações conjuntas e consequentes ganhos V.7, nº1, Jan./Jul. 2014.

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competitivos, é o nível de relacionamento entre os empresários que formam o mesmo. Apesar de nem sempre os proprietários das empresas possuírem a mesma visão a respeito dos ganhos que podem ser gerados com a aglomeração, todos são unânimes em destacar as vantagens da formação desta aglomeração. Sempre que alguma empresa que faz parte do cluster necessita de algum auxílio, seja por cooperação em recursos físicos, como um empréstimo de um caminhão, ou necessita de alguma informação das mais variadas, sejam técnicas, comerciais ou administrativas, há uma total liberdade e boa vontade do grupo de ajudar. Este fato é muito importante, principalmente em se tratando de MPMEs que nem sempre contam com recursos disponíveis a todo tempo. Desta forma, a RCC se enquadra perfeitamente no conceito de aglomerações produtivas também no quesito cooperação de recursos. Porém o Presidente afirma que não é comum a cooperação de recursos financeiros entre as empresas do grupo, exceto quando se unem para comprar um bem ou adquirir algum serviço em prol de todo o grupo. Em relação à cooperação para ganhos de escala, a RCC já adquiriu veículos e sempre que há a necessidade de aquisição de algum equipamento que será utilizado em prol do grupo, este assunto é colocado na pauta, é discutido e se for da vontade do grupo, é rapidamente adquirido através de recursos oriundos das contribuições mensais ou de uma programação definida para aquela compra específica. Em relação às ações voltadas a inovações comerciais, a RCC mantém um vendedor externo, que visita as principais regiões metropolitanas em um raio de aproximadamente 300 km da cidade de Campos, na busca de mercados externos, sempre explorando a marca da RCC através de ações de marketing compartilhado e promoção de vendas, e nunca representando empresas do grupo individualmente. Durante as reuniões semanais que são realizadas na sede da RCC, são discutidos assuntos relacionados ao desempenho do cluster e propostas ações que visam o alcance dos objetivos. Estas reuniões são os principais mecanismos formais de encontros entre os membros das empresas e são consideradas imprescindíveis para a disseminação e troca de conhecimentos. Além das reuniões, as visitas técnicas realizadas e a participação em feiras são fundamentais para a aquisição de conhecimento.

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Pode-se medir o potencial inovador do cluster, através da análise de algumas ações inovadoras descritas pelo Presidente da RCC, como trabalhos junto à Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - UENF de implantação de projetos de queima controlada e utilização de resíduos de outras empresas na produção da cerâmica. Uma ação considerada uma das mais importantes foi a parceria firmada com o Governo do Estado do Rio de Janeiro para a criação do LABCER, que é um laboratório de análise e melhoramento dos produtos da rede. Em relação aos atores que compõe a formação deste cluster e atuam em sua governança estão presentes além das cerâmicas: • SEBRAE/RJ, SENAI e a FIRJAN, representando as entidades de apoio público; • A UENF como instituição de ensino que oferece suporte tecnológico; • LABCER, que é o laboratório onde são analisados e melhorados os produtos; • FENORTE/TECNORTE, que são entidades de apoio público também; • FUNDECAM, FAPERJ / INVEST-RIO, que são instituições financeiras que oferecem suporte à RCC; • Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes - PMC; • GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO; • SINDCER, que é o sindicato dos ceramistas de Campos, o qual a RCC está afiliada; • ANICER, que é a associação nacional das indústrias de cerâmica, o qual o SINDCER é afiliado. Segundo o entrevistado, todas as instituições que compõe este cluster de cerâmica, estão sempre à disposição para o diálogo e não medem forças para ajudar no que a RCC necessita em termos de orientação e apoio. Porém é ressaltada a importância da atuação do SEBRAE/RJ, que pode ser considerado como a mola mestra do cluster em termos de governança, pois através do seu apoio, que foi possível a formação e o desenvolvimento da RCC. O SEBRAE/RJ funciona como um verdadeiro articulador do cluster, participando semanalmente das reuniões e ajudando na condução do planejamento estipulado e através da informação sobre feiras e novidades tecnológicas utilizadas em outros clusters de cerâmica presentes em outras regiões do Brasil.

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Os principais problemas segundo o entrevistado, é que alguns do grupo não possuem o ímpeto e muitas vezes a visão de cada vez mais trabalhar em conjunto, buscando a criação de novos diferenciais competitivos para que possam se aproveitar deles. Uma discussão que é muito comum nas reuniões, mas nem tanto ultimamente em função de uma maior conscientização, são as discussões sobre preço dos produtos, já que para alguns dos membros com menor poder de visão, o mais importante para o cluster são as decisões de reduzir os preços dos produtos, facilitando assim o processo de venda ao invés de se basearem nos diferenciais competitivos gerados pela aglomeração, que ao agregarem um valor superior aos produtos, podem gerar um lucro maior para a rede. Outro exemplo de falta de visão e comprometimento é de que alguns projetos que foram planejados para acontecerem, mas até hoje não saíram do papel em função até de uma possível acomodação por parte do grupo. A seguir, será apresentado o Quadro 1 que apresenta a comparação entre elementos promotores das vantagens competitivas segundo a revisão bibliográfica e os elementos geradores da inovação identificados na RCC.

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Quadro 1 - Ilustração das abordagens dos elementos promotores do sistema de inovação no cluster de cerâmica. Elementos promotores das Vantagens Competitivas segundo a Revisão Bibliográfica Organizações que compõem clusters de sucesso: • Empresas; • Instituições financeiras públicas e privadas, para o financiamento das atividades empresariais do cluster; • Entidades de apoio público; • Instituições de ensino e pesquisa; • Entidades de apoio público • Associações formadas pelas empresas e agentes; • Organizações não governamentais. Busca de novas fontes de informação e difusão do conhecimento Intercâmbio sistemático de informações produtivas, tecnológicas e mercadológicas; interação envolvendo empresas e outras instituições. Cooperação produtiva visando à obtenção de economias de escala e de escopo, bem como a melhoria dos índices de qualidade e produtividade. Confiança nas relações de cooperação Proximidade Geográfica das empresas Realização de compras coletivas de insumos e equipamentos Divisão do ônus da realização de pesquisas tecnológicas Exercer maior atuação comercial no mercado Compartilhar recursos Organização da governança influenciando decisivamente o desenvolvimento do cluster

Elementos geradores da inovação identificados na RCC Organizações que compõem aglomeração RCC: • 13 Cerâmicas • SEBRAE/RJ, SENAI e a FIRJAN • UENF • LABCER • FENORTE/TECNORTE • FUNDECAM, FAPERJ / INVEST-RIO • Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes - PMC • Governo do Estado do Rio de Janeiro • SINDCER • ANICER Participação em congressos no país e no exterior (Alemanha e Venezuela); Treinamentos (SENAI do Piauí); Contratação de consultoria de Santa Catarina, reuniões sistematizadas na RCC; Busca de parcerias com a UENF Treinamento, realização de eventos/feiras com o apoio do SEBRAE, Participação em cursos e seminários em diversas partes do país; Integração de competências, por meio da realização de parcerias Aquisição de veículos e equipamentos; Produção em conjunto e padronização dos produtos de acordo com a ABNT Respeito aos compromissos assumidos de produção para atendimento a demanda, e troca de informações na RCC Promoção da interação, cooperação e o desenvolvimento do cluster em função da proximidade geográfica. Compra de caminhão e equipamentos para a utilização coletiva Manutenção do LABCER, que é um laboratório de análise e melhoramento dos produtos da RCC Um vendedor externo, que explora a marca RCC em demais regiões que distam até 300 km da RCC Projeto de construção de uma central única de massa cerâmica e de reflorestamento SEBRAE/RJ como propulsor da governança

Fonte: Elaborado pelos autores.

Os projetos principais que ainda não se concretizaram são: a construção de uma central única de massa cerâmica para que todas as empresas do cluster utilizem uma matéria-prima padronizada; a normatização dos produtos de forma que possam atender a mercados com maiores níveis de exigência e também projetos de reflorestamento, que além de recuperarem o meio-ambiente, abre a possibilidade do V.7, nº1, Jan./Jul. 2014.

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manejo florestal para a produção de lenha, principal combustível dos fornos cerâmicos. Mas uma importante vitória obtida pelo grupo, na visão do entrevistado, foi a venda paletizada de seus produtos, fator de grande diferencial competitivo para comercializar produtos com empresas de grande porte e com níveis elevados de exigência, como as construtoras. Percebe-se que um dos principais problemas da RCC está relacionado com deficiências nas capacidades dinâmicas que as empresas devem possuir para poderem se beneficiar das vantagens competitivas que por ventura sejam geradas nos clusters. Estas deficiências estão relacionadas com a falta de comprometimento e visão de como eles poderiam investir e se beneficiar das vantagens competitivas que podem ser geradas pela formação do cluster. O Presidente da RCC destaca um fator que chama a atenção por estar fazendo com que alguns dos empresários se desenvolvam mais e participem de forma mais dinâmica da RCC, é o aumento do nível educacional, já que estão buscando se graduar e se especializar em cursos relacionados à gestão de negócios e inovação tecnológica. Um importante fato que demonstra a geração de valor advinda da formação desta rede é a realização de um estudo a respeito do estabelecimento de uma cota a ser paga pelas cerâmicas que desejarem participar da RCC, em função do nível de desenvolvimento alcançado pelo grupo e também pelos bens já adquiridos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A capacidade de gerar inovações tem sido identificada consensualmente como fator chave no sucesso das organizações. E no caso das aglomerações produtivas, que são de grande relevância para o contexto do desenvolvimento econômico-social, conseguem através da intensa cooperação entre os diversos atores, gerar ações inovadoras que lhe permitem a construção de vantagens competitivas para a sobrevivência no mercado. A inovação, quando definida como um conjunto de ações que visam à diferenciação e a melhoria de processos, em busca de maior competitividade deve

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considerar em seu contexto as aglomerações produtivas como uma alternativa para enfrentar as turbulências dos mercados Ao confrontar as informações sobre o cluster de cerâmica obtidas na entrevista com o referencial teórico, a respeito das vantagens competitivas potenciais e os fatores geradores que normalmente as fomentam em aglomerações produtivas, pôde-se concluir que a Rede Campos Cerâmica (RCC) possui um considerável potencial inovador, fato demonstrado pelos diferenciais competitivos que as empresas que fazem parte do cluster já desfrutam, além de lançamento de novos produtos e ações que visam o desenvolvimento comum, através da interação e cooperação. Futuras pesquisas em demais aglomerados produtivos poderiam contribuir com esta constatação, pois foi possível perceber o potencial inovador do cluster, através da análise de algumas ações inovadoras descritas pelo Presidente da RCC, como os trabalhos de P&D realizados em conjunto com a Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) para utilização de um rejeito de uma indústria de celulose como insumo para a produção da cerâmica, reduzindo custos, sem agressões ao meio ambiente e propiciando vantagens competitivas, demonstrando assim que não se constituem apenas inovações tecnológicas por sistemas livres cooperativos, mas por sistemas abertos, que segundo Jung (2004) são os resultados divulgados de pesquisas desenvolvidas por universidades para que possa ser utilizado por outras empresas, já que o modelo básico original (no caso a cerâmica) já é de domínio público e a utilização deste insumo poderá ser feita por qualquer ceramista. O trabalho da universidade na pesquisa de novas tecnologias é muito valorizado, conforme expressado pelo Presidente da RCC: “na UENF, as portas estão sempre abertas para a gente”. Porém este aglomerado ainda possui dificuldades na capacidade de absorção do conhecimento, devido a paradigmas como receio em investir e inovar, que ainda não são superados por alguns ceramistas. Mas é expressiva a ação conjunta dos atores como uma forma de garantir a competitividade e a sobrevivência das cerâmicas. Através do trabalho de criação de rotinas organizacionais, desenvolvimento do setor de recursos humanos e criação de estratégias vem alterando este cenário, onde as empresas poderão se aproveitar da sinergia gerada pela aglomeração produtiva e assim contribuindo mais na formação de seus diferenciais competitivos. V.7, nº1, Jan./Jul. 2014.

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A título de exemplo, a participação de empresários, financiada por entidades constituintes do cluster, em feiras, a visitas técnicas e treinamentos em diversas partes do país tem ampliado o conhecimento e iniciado um novo olhar sobre o mercado da cerâmica. Embora existam algumas dificuldades neste aglomerado, a diversidade dos atores

e

das

competências,

a

coerência

na

integração

das

atividades

complementares, como produção conjunta para atender uma grande demanda e interatividade através de fortes relações de cooperação entre os agentes têm levado o cluster de cerâmica da cidade de Campos dos Goytacazes a maximizar os benefícios desta cooperação e assegurar que os resultados de aprendizado e os níveis de inventividade sejam aumentados, reforçando assim a trajetória rumo ao rompimento de seus paradigmas. Logo, o presente trabalho visou ilustrar a teoria através do estudo de caso descritivo, realçando a importância das aglomerações produtivas na geração das vantagens competitivas. Foi possível também apontar evidências de que a formação de aglomerados propicia uma importante estrutura favorável à inovação e imprescindível à busca e manutenção da competitividade das empresas que buscam esta estratégia de atuação no mercado.

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