O design como ferramenta de contribuição social e suporte a mulheres assediadas nas ruas

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Descrição do Produto

Instituto Infnet Escola de Comunicação e Design Digital - ECDD

O design como ferramenta de contribuição social e suporte a mulheres assediadas nas ruas

Rio de Janeiro 2016

André Marcelino e Emily Perrucho

O design como ferramenta de contribuição social e suporte a mulheres assediadas nas ruas

Projeto de pesquisa apresentado para aprovação na disciplina de Trabalho de Conclusão na Escola de Comunicação e Design Digital - ECDD do Instituto Infnet do Rio de Janeiro.

Orientadores: Prof. Leonardo Caldi, M. A. Profa. Barbara Emanuel, M. A.

Resumo Através de ações de design desenvolvidas a partir da participação do público-alvo, o presente projeto propõe contribuir para a diminuição de ocorrências de assédios sofridos por mulheres nas ruas, ao desenvolver um meio de explicitar estes eventos ocorridos em determinadas áreas urbanas. Assim, o projeto busca uma conscientização e uma colaboração para a segurança para mulheres que se sentem violadas com os assédios praticados nesses ambientes. O assédio, que é um tipo de violência, é parte do dia-a-dia da mulher nas ruas e é uma violência que ataca de forma sutil, sem intermediários pelo homem. Utilizando a metodologia design thinking foi possível compreender, através de entrevista etnográfica e questionário visual, os problemas aos quais as mulheres diariamente têm de se submeter: de casa ao trabalho, as importunações são frequentes. Algumas das entrevistadas diziam se limitar na escolha de uma determinada roupa, pois sabiam que possivelmente poderiam sofrer com o assédio nas ruas. O machismo contribui, principalmente, para que esse tipo de violência continue e permaneça na vida das mulheres sem que a sociedade se mobilize para a resolução deste problema. A insegurança e o medo, incluindo a falta de informação quanto às leis que tratam de punir o assediador, prejudicam na segurança para as mulheres nas ruas. Esse problema social tão delicado e grave tem tomado voz através de discussões em redes sociais graças a ativistas que tratam de tentar interromper essa violência há muito tempo consolidada na sociedade. Diante disso, acreditase que por meio do design, que é uma disciplina centrada no ser humano, seja possível diminuir essas ocorrências contínuas que incomodam e violam a mulher nas ruas. Palavras-chave interação; pesquisa em design; design thinking; experiência do usuário; mulheres e sociedade; ambiente público; design e espaços urbanos.

Lista de figuras Figura 1 - Arte de rua combate assédio disfarçado de elogio Figura 2 - Vídeo que mostra assédio nas ruas de Nova York viraliza Figura 3 - Hashtag #meuamigosecreto denuncia machismo no cotidiano Figura 4 - Campanha contra abuso distribui 10 mil apitos em Campinas Figura 5 - OAB divulga Ligue 180 em Fernandópolis Figura 6 - Informações de cada entrevistada Figura 7 - Perguntas anotadas em papel Figura 8 - Cores apresentadas no formulário Figura 9 - Imagens de diferentes interações nas ruas Figura 10 - Representações visuais de números Figura 11 - Representações de irritação e invasão, e texturas Figura 12 - Mexico’s Harassment Issue Figura 13 - Aplicativo Sai Pra Lá Figura 14 - Movimento 'Vamos juntas?' une desconhecidas contra a violência Figura 15 - Chega de Fiu Fiu Figura 16 - Cale o assédio: Assédio não é elogio, é violência Figura 17 - Stop Street Harassment Figura 18 - Tela: Fui assediada! Figura 19 - Tela: Ocorrência enviada Figura 20 - Tela: Art. 216-B Figura 21 - Tela: Canal de denúncia: DEAM Figura 22 - Tela: Canal de denúncia: Ligue 180 Figura 23 - Frente e verso do tótem interativo Figura 24 - Buttons para mochilas Figura 25 - Cartazes nas ruas Figura 26 - Blusas com o logo da campanha Figura 27 - Totens nas ruas

Sumário 1. Introdução 11 1.2. Tema 11 1.3. Formulação do problema 12 1.4. Justificativa 13 1.5. Objetivos 13 1.6. Objetivos específicos 14 1.7. Contextualização 14 1.8. Fundamentação teórica 18 2. Desenvolvimento 26 2.1. Pesquisas e entrevistas 26 2.1.1. Entrevista etnográfica 26 2.1.2. Caderno de sensibilização 26 2.1.3. Perguntas previamente estabelecidas 27 2.1.4. Questionário visual 28 2.2. Análises de similares 32 2.3. Geração de alternativas 46 2.4. Principais conceitos usados 48 2.5. Parâmetros para o desenvolvimento

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2.6. Concepção 52 2.7. Execução 53 2.7.1. Aplicativo 53 2.7.2. Tótem interativo 54 2.10. Descrição e especificações do projeto finalizado

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2.10.1. Aplicativo: processo de uso e informações técnicas

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2.10.2. Tótem interativo: descrições de uso e informações técnicas

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2.11. Produtos de campanha convencional

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3. Conclusão 66 4. Referências bibliográficas 67

1. Introdução O presente trabalho discorre sobre um problema há muito tempo consolidado na sociedade, que são os assédios nas ruas, praticados pelos homens e sofridos pelas mulheres. Por não terem liberdade ao transitar nesse ambiente sem que sejam assediadas verbalmente, sentem-se invadidas, expostas, e algumas até se culpam pelo assédio. A sociedade machista deixa impune o assediador e contribui para que a mulher aceite e se submeta a esta realidade infeliz, encarando os assédios não como desrespeitosos ou invasivos, mas, como “elogios”. Este assunto é de extrema relevância para a comunidade acadêmica justamente por ser um problema social, que atinge a sociedade por inteiro e não apenas a um determinado grupo. Por ser o design voltado para o ser humano, propõe-se, através de meios de comunicação visual, conscientizar a sociedade sobre este problema enraizado e contribuir para a diminuição dessas ocorrências frequentes, para que, assim, as mulheres se sintam mais livres e seguras ao frequentarem as ruas. 1.2. Tema Diante de uma inconformidade relacionada ao assunto principal deste documento, a realidade da violência contra a mulher é encontrada em todos os níveis de nossa sociedade: em escolas, ambiente de trabalho e lares. Com frequência, é noticiado algum tipo de abuso, mostrando não só o nosso reflexo como sociedade, mas expondo, também, que a mulher na sociedade é vítima diária desses abusos. Quando em alguns casos, tais notícias se passam com pessoas próximas; nesse momento sentimos o que, de fato, acontece.

Para as mulheres, locomover-se diariamente em áreas públicas na cidade

do Rio de Janeiro, infelizmente, torna-se um grande incômodo, o qual traz a sensação de estar exposta em um campo de caça para animais. A qualquer momento, pode ocorrer algum tipo de assédio (ou, até mesmo, ameaça) que venha ferir a saúde psicológica da mulher, causando medo, nojo e repulsa. Isto pode acabar por restringir o direito básico de ir e vir das mulheres, já que evitam circular em determinadas áreas por medo do assédio.

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Para este projeto, pretende-se compreender o problema que é o assédio

nas ruas e os indivíduos que a compõem. Contribuindo em amenizar as ocorrências de assédios, sofridos pelas mulheres, colocando-as como objeto central da estratégia de comunicação visual e interativa a ser criada. O tema abordado será projetado em formato de uma campanha interativa expondo o problema e trazendo-o à discussão, visando conscientizar as pessoas sobre o assunto, e, também, incentivar às mulheres a lutarem pelos seus direitos: a não se calarem perante os abusos nas ruas. 1.3. Formulação do problema Todos os dias, mulheres são submetidas a comentários de teor sexual em locais públicos, os quais podem ser entendidos pelo senso comum como elogios ou, ainda, como características “normais” de uma sociedade composta por homens e mulheres. Apesar do incômodo e do medo que mulheres sentem ao serem assediadas verbalmente, o assunto ainda não é tão discutido quanto deveria. Embora o assunto seja debatido positivamente em redes sociais, com campanhas realizadas por feministas, foi observado que o conhecimento sobre o problema não se transforma em ação. O que se vê é uma sociedade que conhece o problema, mas não investe em solucioná-lo. Figura 1 - Arte de rua combate assédio disfarçado de elogio

Fonte: Notícias UOL Pág. 12

Isso porque a presença do machismo naturaliza o assédio, tornando-o, assim, rotineiro e “normal” no dia-a-dia das mulheres, ainda que elas se sintam desrespeitadas e invadidas.

Desta forma, acredita-se que esse incômodo e/ou ameaça que as mulhe-

res sofrem pode ser minimizado com recursos como comunicação, conscientização e sistematização, de forma que elas se sintam mais seguras e empoderadas, sem medo ou culpa enquanto nas ruas. 1.4. Justificativa Ao observar a sociedade em seu meio urbano, foram encontradas diversas problemáticas e conflitos a partir de uma visão comportamental dos indivíduos que a compõem, envolvendo o seu bem-estar físico e emocional. Conflitos que, infelizmente, muitas vezes possuem doses de agressividade e falta de respeito com seu semelhante. Analisando o universo feminino, percebe-se um agravante, geralmente entendido e concebido pela sociedade como elogios ao corpo da mulher. Mas não o são.

Tendo como amplo o campo de conhecimento, pesquisa e desenvolvi-

mento de resoluções para o cotidiano, o design possui estratégias fundamentadas no comportamento social (design de interação), a fim de ter uma nova visão das relações humanas e, através desses meios, encontrar alternativas que amenizem conflitos. Nessa perspectiva, entende-se que o designer possui uma relevante responsabilidade social, em aspectos educacionais para com a sociedade, seja em uma diagramação de livros educacionais ou em uma campanha de conscientização de trânsito.

Entende-se, também, que o design não é restrito apenas a uma função

estética organizacional e pode intervir no âmbito social. Propõe-se, através deste documento, ponderar e levantar a relevância da discussão dessa responsabilidade, com a premissa do bem-estar físico e emocional humano. 1.5. Objetivos Propõe-se relacionar o design com questões sociais, de forma que seja alcan-

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çada uma mudança do pensamento coletivo social em relação ao problema do assédio sofrido por mulheres. 1.6. Objetivos específicos •

Entrevistar mulheres para entender suas inseguranças enquanto nas



ruas e a reação de mulheres que são assediadas nesses ambientes;



Pesquisar e aplicar métodos de imersão, ideação e prototipação;



Identificar caminhos e elaborar estratégias para atuar na questão



do assédio sobre mulheres nas ruas;



Desenvolver, a partir de processos colaborativos, soluções



específicas que minimizem o problema;



Analisar similares que trabalham para contribuir com a diminuição



dos assédios nas ruas e com o empoderamento às mulheres, tais



como organizações, sites, movimentos e aplicativos;



Visitar movimentos feministas que combatam a violência contra



as mulheres nos espaços urbanos.

1.7. Contextualização A naturalidade com a qual a sociedade trata a violência contra as mulheres em ambientes públicos torna-as diariamente vítimas dessas circunstâncias, podendo sofrer ameaças, ou, em casos extremos, estupro. Contra elas, são executados diversos tipos de crimes, entendidos como situações aceitáveis na sociedade. De acordo com a instituição Banco Mundial, “Cerca de 70% das mulheres sofrem algum tipo de violência no decorrer de sua vida apenas por pertencer ao sexo feminino.” (BANCO MUNDIAL apud THINK OLGA, 2014, p. 4)

O índice de violência cresce não somente porque muitas mulheres se si-

lenciam perante a violência, mas, também, porque o machismo cultivado e praticado pelos homens colabora para que não sejam ouvidas. Mesmo que as agrida psicologicamente, os motivos de ignorá-la são por medo ou por insegurança em denunciar. Segundo a juíza Kenarik Boujikian,

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Dentre as razões apontadas por pesquisadores para que o registro não seja efetuado estão: temor, vergonha, sentimentos de autorresponsabilização, temor em enfrentar o fato perante os tribunais, carga emocional e física da agressão e desconfiança sobre o sistema. (BOUJIKIAN apud DOSSIÊ MULHER, 2015, p. 28)

Algumas delas, ainda, acreditam serem as culpadas por essas ocorrências que desmerecem e ferem o seu estado psicológico. As ocorrências desses assédios não se limitam apenas a um determinado tipo de público de mulheres: são mulheres que trabalham, estudam, mães, meninas do ensino fundamental e do ensino médio. Um público bastante abrangente de diferentes idades. As mulheres são submetidas a, no mínimo, constrangimentos o tempo todo. Figura 2 - Vídeo viraliza ao mostrar o assédio nas ruas de Nova York

Fonte: Notícias Terra



Geralmente, o assédio nas ruas não envolve contato físico, mas ataca de

forma destrutiva. A maneira como as atinge é tão marcante, que algumas mulheres limitam sua própria liberdade de escolha ao estabelecerem que tipo de roupa usar, ou evitam caminhar em determinado local justamente para evitar o assédio

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nesse ambiente. Além de se sentirem invadidas, muitas sentem-se intimidadas a revidar o assédio, pois têm receio de serem agredidas caso pretendam responder ao assediador. Os homens que cometem esse tipo de violência acreditam ter o “direito” de invadir o espaço da mulher e desrespeitá-la em público, pois dizem haver provocação por parte da vítima. Segundo o site Carta Capital, A culpabilização da mulher pela violência sexual fica evidente quando, por exemplo, 58% dos entrevistados dizem concordar "totalmente" com a afirmação de que ela só é vítima de agressão sexual por não se comportar de maneira adequada. “Por trás da afirmação está a noção de que os homens não conseguem controlar seus apetites sexuais; então, as mulheres, que os provocam, é que deveriam saber se comportar, e não os estupradores. A violência parece surgir como uma correção: ela merece e deve ser estuprada para aprender a se comportar. O acesso dos homens aos corpos das mulheres é livre se elas não impuserem barreiras, como se comportar e se vestir ‘adequadamente’. (CARTA CAPITAL, 2014)



Atualmente, o assunto tem tido destaque, e é debatido e divulgado em

meios como campanhas publicitárias, novelas, e movimentos nas redes sociais, criando um contexto favorável para iniciativas que colaborem para minimizar este problema tão delicado e importante. As mulheres têm encontrado meios de serem ouvidas, e maneiras de serem protegidas. Alguns desses meios, disseminados na internet através das redes sociais, são as hashtags #MeuAmigoSecreto e #MeuPrimeiroAssédio. A partir delas, são feitos relatos indiretos de casos de abuso e machismo cometidos por parentes e/ou amigos próximos (#MeuAmigoSecreto); e relatos ainda mais sérios sobre primeiros abusos sexuais (#MeuPrimeiroAssédio). Figura 3 - Hashtag #meuamigosecreto denuncia machismo no cotidiano

Fonte: G1 Pág. 16



Algumas outras iniciativas são também veiculadas na internet (e praticadas

no dia-a-dia), como a página “Vamos Juntas?” que incentiva mulheres a caminharem em companhia feminina nas ruas e, um outro exemplo, criado pela jornalista Juliana de Faria, o projeto feminista “Think Olga” tem como objetivo, Criar conteúdo que reflita a complexidade das mulheres e as trate com a seriedade que pessoas capazes de definir os rumos do mundo merecem (...) e empoderar mulheres por meio da informação e retratar as ações delas em locais onde a voz dominante não acredita existir nenhuma mulher (THINK OLGA, 2013).

Através do projeto, nasceu também a campanha chamada “Chega de Fiu Fiu”, a qual pretende combater o assédio sexual em ambientes públicos, especialmente nas ruas. A criação do “Mapa Chega de Fiu Fiu” foi o próximo passo: Uma ferramenta para tornar as cidades mais seguras para as mulheres ao relacionar geograficamente os locais e motivos que aumentam a incidência de casos de assédio em determinadas áreas em busca de soluções que mudem essa realidade (THINK OLGA, 2013).



Há também movimentos desenvolvidos por ativistas, como a campanha

“Não hesite, apite” em Campinas, que protesta contra os abusos nos espaços públicos através de apitos, distribuídos por todas as mulheres no protesto. "O apito é simbólico, mas se a mulher apita ao sofrer esse tipo de violência o ato torna-se significativo e provoca reações, para a mudança de atitude" (G1, 2014), fundamenta a advogada Rosana Chiavassa. Além da distribuição dos apitos, panfletos e palestras também são desenvolvidos e administrados pelo movimento. Além disso, 39 países tem tomado medidas contra o assédio nas ruas por meio de suas organizações, Cantadas na rua, comentários libidinosos, constrangimento, tocar partes do corpo sem consentimento, se masturbar em público. Durante esta semana, organizações de 39 países discutiram medidas para coibir este tipo de atitude na Semana Internacional de Combate ao Assédio nas Ruas. (MARIE CLAIRE, 2015) Pág. 17

Ações como essas possibilitam mudanças na sociedade em que elas vivem, dando voz às mulheres, vítimas diárias dessa violência. Figura 4 - Campanha contra abuso distribui 10 mil apitos em Campinas

Fonte: G1



Contudo, a pouca informação a respeito das leis que tratam dos assé-

dios e a insegurança que sentem leva a crer que se pode contribuir, através do design, para a diminuição dessa problemática enraizada na sociedade. Não há nas ruas (onde, justamente, os assédios acontecem) informações sobre como proceder em relação a assédios, as leis que as protegem e incentivos à denúncia. Por isso, propõe-se meios de comunicação visual dispersos nesses espaços, que servirão como incentivo à denúncia dos assédios, alerta sobre a quantidade (e a localidade) dessas ocorrências e informação para as mulheres sobre os tipos de lei que existem e que as protegem. Acredita-se que, assim, seja possível diminuir, corretamente, as ocorrências de assédios que diariamente as mulheres sofrem nesse tipo de ambiente. 1.8. Fundamentação teórica Judith Butler, filósofa feminista, fala como o homem exerce um poder imposto

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pelo sistema patriarcado, objetivando limitar o outro (e a si próprio) de acordo com leis culturalmente praticadas na sociedade (BUTLER apud VIEIRA, Helena, 2015). Esta cultura, executada quase ininterruptamente, reflete na vida e no cotidiano das pessoas desde muito cedo: é ensinado aos meninos que meninas que se vestem de uma determinada maneira devem ser “atacadas”, pois, por serem meninos, têm poder para isso (MADSEN apud CFEMEA, 2014). Essa, dentre diversas práticas machistas, determina a sociedade que se vê hoje: nos espaços públicos, a mulher é alvo de importunação frequente, porque, para o homem, ela é um mero objeto a ser apreciado.

Mulheres que são vítimas de assédio em espaços públicos colocam-se

como culpadas pela agressão, segundo a psicóloga Daniela Rozados, que diz Por vezes a mulher não percebe o quanto o ir e vir dela no espaço público está condicionado a esse papel. Isso que eu acho mais grave em termos psicológicos. Porque ela fica aprisionada no discurso machista de que ela não existe como sujeito. Isso em si já é bastante sofrido, mas muitas vezes a vítima não percebe que isso é produtor de sofrimento. Nessas abordagens do PUA ou no assédio de rua, o corpo está ali para satisfazer desejos. Mas quando não é física, essa violência está tão incrustada que é de baixa percepção por parte da própria vítima. E para quem reconhece como violência gera nervosismo, ansiedade, medo de andar por determinados lugares. (UOL, 2014) Ela recorda de um estudo desenvolvido pela engenheira Haydee Svab o qual trata de esclarecer como mulheres e homens adequam-se de maneira diferente na cidade: O mapa mental da cidade da mulher é menor do que o mapa mental do homem, o espaço público é extremamente condicionado ao gênero. Horários, regiões da cidade, meios de transporte, pontes. Mulheres têm medo de andar em pontes por causa das reiteradas histórias de estupro, por exemplo. Deixam de aceitar trabalhos porque teriam que andar a pé a noite ou pegar um ônibus em um lugar ermo. (UOL, 2014)

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De acordo com Rosangela Rigo, secretária adjunta de Enfrentamento

à Violência Contra a Mulher (SEPM), é preciso que as mulheres se posicionem quanto aos assédios. Para isso, existe o número telefônico 180, da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR) que serve como um “canal direto de orientação sobre direitos e serviços públicos para a população feminina em todo o país” (SECRETARIA DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES, 2013) e também possibilita a denúncia, ou comparecer a uma delegacia especializada para que as ocorrências sejam colocadas em pauta, pois, assim, haverá mobilização por parte do sistema de justiça, onde providências serão tomadas. Ela afirma que é precária a quantidade de denúncias recebidas no 180 a respeito desses assédios. Porém, pontua que assim também aconteceu com a violência doméstica, que está há muito tempo naturalizada na sociedade, e também não era denunciada, o que começou a mudar. (UOL, 2016) Por isso essas campanhas, marchas e caminhadas de mulheres são tão importantes. Para que aumente essa conscientização e o empoderamento das mulheres e diminua a naturalização desse tipo de comportamento. (UOL, 2016) Figura 5 - OAB divulga Ligue 180 em Fernandópolis

Fonte: Compromisso e Atitude



O design thinking, constituído por “(...) processos de concepção, pesqui-

sa, prototipagem e interação com o usuário” (LUPTON, 2013, p. 5), tem tido

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destaque por ser um importante método para tratar problemas sociais urgentes (MENDONÇA, 2014, p. 1). Em uma palestra ministrada por Tim Brown, ele explica que o design É centrado no ser humano. Pode integrar tecnologia e economia, mas começa com uma necessidade humana, ou algo que pode vir a ser. (...) é mais do que boa ergonomia, como colocar os botões no lugar certo. É também compreender cultura e contexto antes que se saiba onde começar a ter ideias. (BROWN, 2009)

O papel do designer tem deixado de ser somente um prestador de serviços e passado a ser, sim, um contribuinte para mudanças sociais através de estratégias criativas. Lucy Kimbell, designer, educadora e pesquisadora com perícia em design thinking e design de Serviço, explica que (...) os designers desempenham papéis cada vez mais importantes, menos como fabricantes de formas e mais como intermediários culturais (Julier 2008). Eles são intérpretes de mudanças na cultura que, criam novos tipos de forma cultural. (KIMBELL, 2011, p. 287)



Por ser o assédio uma questão social, a abordagem para a identificação

de possibilidades, no desenvolvimento de um produto ou processo, se faz justamente pelo design thinking, modo de aproximação de problemas que se julga ser o ideal para o intuito deste projeto. As metodologias design thinking utilizadas para a obtenção de informações a respeito do público e o seu universo são: imersão preliminar (pesquisa desk e pesquisa exploratória) e imersão em profundidade (entrevista etnográfica e cadernos de sensibilização).

Através da pesquisa desk, que significa Busca de informações sobre o tema do projeto em fontes diversas (websites, livros, revistas, blogs, artigos, entre outros). O nome Desk origina-se de desktop, e é utilizado porque a maior parte da pesquisa secundária realizada atualmente tem como base referências seguras da internet (VIANNA, Maurício et al., 2011, p. 32),

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foram coletados dados de diversos lugares (desde documentários a websites na internet), que continham relatos de assédios sofridos por mulheres nas ruas. Alguns conteúdos traziam mulheres se posicionando contra essas ocorrências, como documentários sobre o assunto. Outros conteúdos, como vídeos, foram filmados pelas próprias mulheres, mostrando o seu dia a dia: assédios ininterruptos. Em seguida, foi aplicada a pesquisa exploratória, que propõe, Através da observação participante, técnica de pesquisa qualitativa oriunda da antropologia social. A equipe sai às ruas para observar e interagir com pessoas envolvidas no contexto do projeto. Procura-se por locais relevantes para o entendimento do assunto trabalhado e usuários do produto/serviço, além de indivíduos que atuam no ambiente de comercialização, uso ou suporte. (VIANNA, Maurício et al., 2011, p. 29)

A supracitada pesquisa possibilitou compreender como é o dia a dia nas ruas ao conversar com três mulheres, sem a necessidade de um roteiro de entrevista, para compreender o que pensavam sobre o assunto: se elas se sentiam incomodadas com o assédio, que tipos de situações presenciaram, se já passaram por algum evento traumático enquanto nas ruas, entre outras.

Os cadernos de sensibilização “(...) são uma forma de obter informações

sobre pessoas e seus universos, utilizada para coletar dados do usuário com o mínimo de interferência sobre suas ações (...)” (VIANNA, Maurício et al., 2011, p. 38), mas foram modificados para o que se necessitava para a entrevista: informações básicas sobre cada entrevistada (como a sua localidade, posição profissional, idade etc). Isso viabilizou conhecer um pouco mais o universo das mulheres que circulam no centro do Rio de Janeiro.

Para analisar como cada entrevistada se manifestava quando eram rela-

tadas situações passadas ou decorrentes, foi utilizada a metodologia entrevista etnográfica, que propõe, (...) a prática de coleta de dados por meio de observações, entrevistas e questionários. (...) Nem sempre as pessoas conseguem verbalizar o que querem, mas mostram isso por meio de sua linguagem corporal, dos ambientes ao seu redor e de outras pistas sutis. (LUPTON, 2013, p. 26)

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Isso ajudou a entender o perfil das mulheres que são assediadas nesses espaços: a maioria delas expressavam raiva, nojo e descontentamento ao falar de determinadas situações. Nas entrevistas, foram aplicadas perguntas previamente estabelecidas e apresentadas igualmente para cada uma. A maioria das respostas obtidas eram “não reajo quando sou assediada” e “quando me dou conta do assédio, prefiro não responder por medo ou por insegurança.” Apenas uma mulher informou que respondia ao assediador contanto que estivesse em um ambiente seguro (havendo pessoas ao redor).

Inicialmente, uma das entrevistadas tratou o assunto com indiferença, de

forma a não mostrar tanto descontentamento em relação as demais, mas, ao insistir em perguntas como “Mas o que você realmente gostaria de fazer? Quero dizer, o que você acredita que poderia amenizar essas ocorrências?” ela passava a responder com mais entusiasmo. Essas entrevistas foram feitas em fevereiro de 2016, com oito participantes (dos quais cinco mulheres foram entrevistadas pessoalmente, e outras três entrevistadas online), adquiridas através de entrevista individual para que as entrevistadas se sentissem mais à vontade em responder, sem o possível constrangimento de uma discussão em grupo. Na configuração do produto se mostram os atributos que constituem a sua possibilidade de comunicação, a sua “cara”. O produto diz de si próprio: suas qualidades e características, o seu modo de produção, o que serve, para quem se dirige. (NIEMEYER, 2009, p. 21)

Por isso, para que o artefato transmita a mensagem que se pretende, (NIEMEYER, 2009) foi aplicado o questionário visual online. No conteúdo do questionário continha opções de imagens representando interações humanas, tipos de diferentes texturas, formas e blocos de cores; o que possibilitou compreender de que maneira o artefato deveria ser (quanto a sua forma e as cores).

Para todo e qualquer projeto que necessite de produtos interativos e

usáveis, é necessário que seja estudado o perfil de quem irá utilizar o artefato e onde ele estará disposto para o uso, sempre pensando na perspectiva do usuário. A área design de interação propõe esta análise, a qual se caracteriza em projetar a usabilidade nos artefatos interativos. Terry Winograd, cientista da computação e professor da Universidade Stanford, explica de forma concisa que o

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design de interação “projeta espaços para comunicação e interação humana” (WINOGRAD, Terry apud PREECE, Jenny et al., 2005, p. 28)

No design de interação, é estudado que tipos de atividades as pessoas

normalmente fazem e quais são as suas preocupações, levando em conta como o usuário interagiria com o produto e outras questões que pertencem ao seu universo. Ainda segundo Preece, Rogers e Sharp (2005), o design de interação, “especificamente, significa criar experiências que melhorem e entendam a maneira como as pessoas trabalham, se comunicam e interagem”. Além de como projetar artefatos que interajam com o usuário no ambiente o qual estão inseridos, Donald Norman, professor de ciência cognitiva e ciência da computação, explica que há dois importantes fatores que orientam um bom design: Duas das mais importantes características de um bom design está na descoberta e compreensão. Descoberta: É possível até mesmo imaginar quais ações são possíveis e onde e como realizá-las? Compreensão: O que tudo isso significa? Como o produto é suposto em ser usado? O que todos os diferentes controles e configurações significam? (NORMAN, 2013)

Desse modo, o design de interação se faz útil para o desenvolvimento deste projeto, o qual um possível artefato interativo ajudaria as mulheres em casos de assédio enquanto nas ruas. Será provável pensar em como geralmente esses ambientes (as ruas) estão, para que o usuário (as mulheres) interaja de forma clara e fácil com o artefato interativo.

Ao pensar em que tipos de emoções as mulheres teriam ao interagir com

o produto, juntamente com a experiência que teriam com o artefato que pretende-se desenvolver neste projeto, de acordo McLellan, Researcher design, o design de experiência tem como objetivo Orquestrar experiências que sejam funcionais, determinadas, envolventes, atraentes e memoráveis. Para tal, é necessário projetar todos os detalhes do contexto no qual a audiência desse está inserida, e as características de design do conteúdo que está no material do curso a distância. (MCLELLAN apud FREIRE. 2009)

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É importante que seja analisado que tipos de processos, assim como, que tipos de elementos visuais e sonoros serão desenvolvidos neste projeto, para que permitam uma experiência agradável ao usuário (neste caso, às mulheres). Nas ruas, onde frequentemente esses assédios acontecem, deve haver algo que a faça se sentir mais segura, que possibilite a confiança e a tranquilidade em caminhar nesse ambiente: é o tipo de experiência que pretende-se desenvolver neste projeto. Donald Norman explica que “o lado emocional do projeto pode ser mais crítico para o sucesso de um produto do que como esse produto é utilizado” (NORMAN, 2004), por isso, não será pensado somente em como esse artefato será manuseado, mas, principalmente, em como possibilitará que a mulher assediada se sinta protegida, empoderada, através de materiais de campanha, e ouvida, por meio de um artefato interativo, que além de ajudá-la, alerte também a sociedade e as autoridades quanto a essas ocorrências frequentes, podendo assim, diminuir as ocorrências e motivar a mulher a se sentir mais segura enquanto nas ruas; quando antes não havia possibilidade.

Essas metodologias e áreas de estudo possibilitaram compreender o que

seria necessário para aumentar a sensação de segurança no dia a dia das mulheres. Compreende-se que, para elas, há uma posição de risco quando assediadas, pois o medo e a insegurança (além de se sentirem desrespeitadas e enojadas) crescem, ao tentarem afrontar o assediador. A lei que trata do assédio, Art. 216B, descrita no Código Penal, diz que Assediar, intimidar, constranger, consternar, hostilizar, ofender, atordoar pessoa ou pessoas, independentemente do gênero, com palavras, gestos ou comportamentos, praticados por uma ou mais pessoas, em locais públicos ou privados com acesso público, que afetem sua dignidade, liberdade de livre circulação, integridade e honra, independentemente de outro crime que possa ser imputado. (PROJETO DE LEI DO SENADO, 2015, p.1)

a qual pune o assediador dependendo da gravidade de cada caso (por meio de multa, frequentar sistemas de reeducação ou prisão simples), é pouco aplicada pela falta de conhecimento, e isso acaba que por prejudicar na segurança delas. As mulheres entrevistadas sabiam da existência da lei, mas tinham pouquíssimo

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conhecimento sobre como proceder a essas situações, pois não é ensinado e nem informado a elas o que deve ser feito. Não somente isso faz com que esse tipo de violência permaneça, mas também a falta de conscientização na sociedade; muitas delas informaram nas entrevistas, que as pessoas tratavam o assunto como algo “normal” e que elas deviam esquecer o ocorrido.

Portanto, acredita-se que o design sirva como meio para diminuir essa

situação na sociedade, através de conscientização e participação do usuário, que coloca a mulher em poder de se defender e não se calar perante essas ocorrências diárias. E que a mulher em sociedade seja vista como um sujeito igual a todos, a qual mereça respeito e não seja vista como um mero objeto. 2. Desenvolvimento 2.1. Pesquisas e entrevistas 2.1.1. Entrevista etnográfica A compreensão do universo do público-alvo, bem como as suas preocupações e dificuldades, foi obtida através da entrevista etnográfica, que propõe observar os aspectos comportamentais de cada entrevistada - a maneira como gesticulam, se são indiferentes quanto a situações passadas ou se sentem extremamente sensibilizadas. A metodologia de design thinking contribui para o projeto, pois é possível, desta forma, compreender se é incômodo ou não e como se sentem ao falar sobre determinadas situações. 2.1.2. Caderno de sensibilização Através dos cadernos de sensibilização foram coletadas informações básicas como a profissão atual, idade e a localidade de cada entrevistada. Figura 6 - Informações de cada entrevistada

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Fonte: Elaborado pelos autores

2.1.3. Perguntas previamente estabelecidas No início da entrevista foi informado que nenhum conteúdo pessoal seria exposto ou publicado. As perguntas, a seguir, foram classificadas por temas: Pergunta nº1: Você poderia nos contar se você já sofreu assédio nas ruas especificamente? Ou se já presenciou algum? Tema: Saber se a entrevistada já passou por alguma experiência de assédio antes, ou se já presenciou alguma situação nas ruas. Pergunta nº2: Como é, geralmente, o ambiente nas ruas? Tema: Compreender como é o ambiente em que ocorrem os assédios. Pergunta nº3: Como é a sua reação? Tema: Entender como é a reação da entrevistada quando é assediada. Pergunta nº4: O que você realmente gostaria de fazer, se não fosse bloqueada pelo medo ou pela insegurança? Ou o que acha que deveria ser feito contra esse crime?

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Tema: Entender o que a entrevistada gostaria de fazer, realmente, se não fosse bloqueada por sentimentos de medo ou insegurança, ou, o que ela acha que deveria ser feito contra essa violência. Dessa forma, é possível compreender o que a mulher sente que deveria ser feito. Figura 7 - Perguntas anotadas em papel

Fonte: Elaborado pelos autores

Dessas entrevistas, destaca-se alguns pontos importantes que conduzirão o projeto: •

A maioria das entrevistadas tem pouco conhecimento quanto às leis que



punem o assediador;



Preferem não responder o assediador por medo ou por insegurança;



Sentem falta de assistência quando são assediadas;



Evitam usar tipos de roupas, justamente para evitar os assédios.

2.1.4. Questionário visual Para orientar no desenvolvimento da linguagem visual do projeto, no questionário foram apresentadas perguntas acompanhadas de imagens (texturas, cores e

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representações de interações humanas) para que fosse possível compreender, e também comprovar, que cores associam ao perigo ou em que tipos de situações se sentiam invadidas. O questionário visual foi distribuído via online pois desta forma seria possível obter uma quantidade considerável de informações. A seguir, as perguntas apresentadas no questionário: Pergunta nº1: Escolha a palavra que julga representar a proposta deste projeto. Se quiser, sugira um nome diferente que não esteja na lista. Objetivo: as opções mais votadas influenciarão na criação do nome do projeto. Por isso não significa que serão utilizados. Pergunta nº2: Que cores você associa a sensação de perigo? Objetivo: saber quais cores serão utilizadas para a linguagem visual do artefato, de acordo com o sentimento da mulher em relação a perigo dos assédios nas ruas. Figura 8 - Cores apresentadas no formulário

Fonte: Elaborado pelos autores

Pergunta nº3: Qual imagem representa mais o assédio nas ruas? Objetivo: foi apresentada uma seleção de imagens com diferentes interações humanas. Esta pergunta serviu para saber (e comprovar o que já foi constatado) com qual das situações elas lidam diariamente. Figura 9 - Imagens de diferentes interações nas ruas

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Fonte: Elaborado pelos autores

Pergunta nº4: Que imagem mais sugere alerta? Objetivo: foram apresentadas imagens de diferentes relógios e painéis de numerações, por conta da apresentação de números que serão exibidos no tótem interativo. Figura 10 - Representações visuais de números

Fonte: Elaborado pelos autores

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Pergunta nº5: A palavra “assédio” mais se assemelha: Objetivo: esta pergunta apresentava imagens de mulheres tampando os ouvidos, pessoas invadindo residências, poças de sangue no chão, alguém gritando no ouvido de uma mulher e alguém entregando um buque de flores mortas, o que orientarão no desenvolvimento do símbolo da campanha. Figura 11 - Representações de irritação e invasão, e texturas

Fonte: Elaborado pelos autores

Pergunta nº6: Você considera a população consciente sobre a seriedade da situação atual de assédios acontecendo nas ruas? Objetivo: saber se as mulheres acreditam que a sociedade as apoiam ou não. Pergunta nº7: Você acha que falta informação e suporte às mulheres nas ruas? Exemplo: informações quanto as leis, campanhas… Objetivo: comprovar o que constava-se anteriormente, de que falta orientar às mulheres quanto ao procedimento contra aos assédios. As informações a seguir, coletadas do resultado no questionário, orientarão no desenvolvimento da linguagem visual do projeto:

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A população deve ser atingida já que a sociedade é ignorante quanto



ao assunto;



A maioria das respostas informavam que falta orientação às mulheres



sobre as leis e como proceder aos assédios;



As cores vermelho e amarelo foram associadas ao perigo;



A imagem que simulava uma mulher caminhando na rua e homens



a assediando, foi a mais votada;



Imagens que simulavam invasão e irritação foram as mais votadas.

Por meio da entrevista etnográfica e do questionário visual, foi possível compreender que existe a necessidade em manter as mulheres informadas quanto a lei e canais de denúncia que as protegem. Por isso, propõe-se uma campanha que inclui aplicativo, tótem interativo como registrador (e alerta) dessas ocorrências, incluindo outros meios de comunicação visual para compor a campanha, a fim de conscientizar as pessoas que o assédio deve ser impedido e visto como um problema na sociedade. O propósito é incentivar as mulheres que não se silenciem, e denunciem. E, além disso, conscientizar não só as mulheres mas a sociedade como um todo, de que a mulher pode e deve vestir o que desejar vestir, e que não é culpada por essa violência diária, maquiada como “elogio”. Assim, a sociedade e as autoridades terão maior consciência desse problema. 2.2. Análises de similares Critérios para cada análise: As entrevistas individuais que foram realizadas no mês de fevereiro de 2016, contando com participantes de idade entre 18 a 25 anos, ajudaram a compreender quais são as dificuldades que as mulheres sentem e o que será necessário contribuir para a segurança delas.

Tendo como base as informações retiradas dessas entrevistas, para cada

análise foram criados os seguintes critérios:

Os critérios para os sites e aplicativos são: registro ou mapeamento dos

assédios; praticabilidade; informação às mulheres sobre a quantidade de ocorrências registradas em um determinado local; acessibilidade por qualquer mulher; oferecimento de canais para denúncia.

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Os critérios para as organizações, campanhas e movimentos sociais são:

oferecimento de apoio às mulheres; diminuição da sensação de desconforto e insegurança causada pelos assédios; praticabilidade; publicação de conteúdo educativo e informativo; proporcionamento de interação entre os membros; oferecimento de canais para denúncia. 1.

Movimento social: Mexico’s Harassment Issue

2.

Aplicativo: Sai Pra Lá

3.

Movimento social: Vamos Juntas?

4.

Site: Mapa Chega de Fiu Fiu

5.

Campanha: Cale o assédio

6.

Organização: Stop Street Harassment

1. Movimento social: Mexico's Harassment Issue “Mulheres mexicanas estão lutando contra os assédios nas ruas com armas de confetes e punk rock” (AJ+, 2015). Normalmente, as mulheres escutam os assédios e não os respondem por medo. O objetivo da ação é propor que as mulheres respondam a esses assédios, que não se silenciem e se posicionem. Figura 12 - Mexico’s Harassment Issue

Fonte: Conteúdo disponível por meio da página do Facebook do AJ+

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O problema é combatido porque: - Em vez de se se sentirem (culpadas, vitimizadas, invadidas, desrespeitadas, etc), elas trabalham juntas para se sentirem empoderadas, alegres; - É divertido, então ameniza a sensação ruim (de impotência, raiva e medo). Dificuldades na execução: - Algumas mulheres não se veem, enquanto andam nas ruas, na possibilidade de atirar confetes nos homens que as assediam; - Elas acreditam que a ideia é divertida, mas imatura: viraria "motivo de piada entre os homens, o que depois pioraria ainda mais a situação. Não é uma medida séria para um problema sério" diz a entrevistada, L. A., quando lhe foi apresentado e explicado o movimento social; - Existe a possibilidade de os homens reagirem de forma agressiva, piorando a situação. •

Oferecimento de apoio às mulheres: sim;



Eliminação da sensação de desconforto e insegurança



causada pelos assédios: sim;



Praticabilidade: não;



Publicação de conteúdo educativo e informativo: não;



Proporcionamento de interação entre os membros: sim;



Oferecimento de canais para denúncia: não.

Análise: O ponto principal desta ação é o de propor que as mulheres respondam aos assédios. Porém, compreende-se que a resposta é inviável para muitas delas, já que sentem medo ao responderem o assediador. Sendo assim, acredita-se que uma campanha que utiliza diversos meios de comunicação, desde cartazes até artefato interativo, tem maior resultado quanto a conscientização e ao mesmo tempo quanto a dar voz às mulheres quando não conseguem responder aos assédios.

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No vídeo em que foi divulgado o movimento, percebe-se que existe pre-

sença do estilo punk rock: tipografias em caixa alta e cores como o verde fluorescente, preto e branco, mostra que a linguagem visual utilizada no vídeo tem sentido com o tema da campanha, que é o de rebelar-se. 2. Aplicativo: Sai Pra Lá Aplicativo desenvolvido por Catharina Doria, de 17 anos, tem como função Mapear os casos de assédio sexual que ocorrem diariamente pelo país. Para denunciar, basta baixá-lo e clicar no botão ‘fui assediada’. Assim que clicado, a usuária é redirecionada para uma nova tela, onde marcará o endereço onde ocorreu o assédio. O próximo passo será especificar o horário em que ocorreu – manhã, tarde, noite ou madrugada – e o tipo – sonoro, verbal, físico ou outros. Quando finalizar o processo, volta-se à tela inicial, onde a vítima poderá visualizar outros relatos de assédio de pontos onde outras mulheres registraram assédios. E para isso, não é necessário que a vítima se identifique. (OPTCLEAN, 2015)

Figura 13 - Aplicativo Sai pra Lá

Fonte: Stephanie Ferreira Blog

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O problema é combatido porque: - Mapeia os assédios que acontecem em diversos tipos de lugares que as mulheres frequentam; - Tendo registrado essas ocorrências, existe a possibilidade de levar esses dados às autoridades. Dificuldades na execução: Não foram encontrados dificuldades na execução do aplicativo e nem pontos negativos em relação às ocorrências. •

Registro ou mapeamento dos assédios: sim;



Praticabilidade: sim;



Informação às mulheres sobre a quantidade de ocorrências registradas



em um determinado local: sim;



Acessibilidade por qualquer mulher: sim;



Oferecimento de canais para denúncia: não.

Análise: O aplicativo “Sai Pra Lá”, que é um registrador de assédios, funciona de forma eficiente pois é praticável no dia-a-dia das mulheres, já que o registro dessas ocorrências não as expõem. O aplicativo limita-se, no entanto, ao registro, sem uma exposição pública dos dados. Para o presente projeto, é proposto o uso coordenado de um aplicativo voltado para o registro e de um tótem interativo voltado para a visualização da quantidade de ocorrências em determinada área. O objetivo não é somente registrar os assédios, como propõe o aplicativo “Sai Pra Lá”, mas expor essas ocorrências nas ruas, para que seja, além de voz às mulheres, alarme para as autoridades sobre esse problema frequente.

Foram identificados alguns problemas na linguagem visual do aplicativo.

As cores, incluindo da marca, não são contrastantes entre si. Além disso, a tipografia utilizada no logotipo “Sai Pra Lá” não é funcional para um logotipo, pois, se diminuída, teria dificuldade de leitura.

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3. Movimento social: Vamos Juntas? O movimento Vamos Juntas?, criado por Babi Souza, de 24 anos do Rio Grande do Sul, é uma “espécie de convite à união de desconhecidas contra a insegurança das grandes cidades” (G1, 2015). Isso porque as mulheres se sentem desconfortáveis ao andarem sozinhas nas ruas, justamente porque o assédio verbal e possíveis violências sexuais acontecem nesses meios urbanos. Figura 14 - Movimento 'Vamos juntas?' une desconhecidas contra a violência

Fonte: G1

O problema é combatido porque: - Existe uma sensação de segurança ao caminharem juntas; - Empodera as mulheres: unidas, elas se sentem fortes e seguras; - Se são feitos os assédios, as duas se sentem seguras para responder ou se proteger.

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Dificuldades na execução: Não foram encontrados possíveis problemas na execução do movimento. •

Oferecimento de apoio às mulheres: sim;



Diminuição da sensação de desconforto e insegurança



causada pelos assédios: sim;



Praticabilidade: sim;



Publicação de conteúdo educativo e informativo: sim;



Proporcionamento de interação entre os membros: sim;



Oferecimento de canais para denúncia: não.

Análise: O movimento “Vamos Juntas?” funciona bem na prática porque as mulheres ajudam umas as outras a se protegerem de possíveis assédios caminhando juntas. Por isso, elas se sentem seguras e empoderadas, ao invés de inseguras. Para a campanha de conscientização que pretende-se desenvolver neste projeto, também tem como propósito que as mulheres se unam contra o assédio ao denunciar essas ocorrências nas ruas.

O movimento utiliza cores que se contrastam bem entre si, como o ama-

relo, rosa e branco, cores caracterizadas culturalmente como “felizes” e “amorosas”, justamente o que o movimento pretende passar. As tipografias utilizadas na campanha são legíveis e combinam-se visualmente. Por isso, não foram encontrados problemas muito significativos na comunicação visual da campanha. 4. Site: Mapa Chega de Fiu Fiu Nascida em 24 de julho 2013, a Chega de Fiu Fiu é uma campanha de combate ao assédio sexual em espaços públicos lançada pelo Think Olga. Inicialmente, foram publicadas ilustrações com mensagens de repúdio a esse tipo de violência. As imagens foram compartilhadas por milhares de pessoas nas redes sociais, gerando uma resposta tão positiva que acabou sendo o início de um grande movimento social contra o assédio em locais públicos. (...) O próximo passo foi a criação do Mapa Chega de Fiu Fiu,

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uma ferramenta para tornar as cidades mais seguras para as mulheres ao relacionar geograficamente os locais e motivos que aumentam a incidência de casos de assédio em determinadas áreas em busca de soluções que mudem essa realidade” (THINK OLGA, 2013).

Figura 15 - Chega de Fiu Fiu

Fonte: Think Olga

O problema é combatido porque: - Conscientiza sobre os assédios, através de relatos que as mulheres contam e deixam registrados suas denúncias no site Chega de Fiu Fiu; - Já foi feito um documentário onde as mulheres relatam suas experiências e indignações; - Existem ilustrações realizadas pela campanha na internet que descriminam os assédios; - Também já foi publicado um livro que fala sobre a consciência do poder da mulher sobre seus corpos e suas decisões. Dificuldades na execução: Não foram encontrados dificuldades na execução do aplicativo e nem pontos negativos em relação às ocorrências.

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Registro ou mapeamento dos assédios: sim;



Praticabilidade: sim;



Informação às mulheres sobre a quantidade de ocorrências registradas



em um determinado local: sim;



Acessibilidade por qualquer mulher: sim;



Oferecimento de canais para denúncia: não.

Análise: O mapa virtual faria diferença significativa se o assunto fosse abordado nos meios urbanos, de forma que todos pudessem visualizá-los diariamente. Tendo percebido essa falta de informação nas ruas, a campanha que pretende-se desenvolver neste projeto estará localizada nas ruas, justamente onde ocorrem frequentemente essas ocorrências. A campanha irá depender de meios de comunicação diversos, objetivando conscientizar as pessoas sobre esse problema, mas, também, incentivar as mulheres a denunciar, e não se conformar com essa situação como parte de seu dia-a-dia.

A linguagem visual da Chega de Fiu Fiu é diferente das que já foram ana-

lisadas, pois utiliza técnicas manuais, não só para compor o logotipo, mas para toda a campanha. A marca é composta por rabiscos em tinta e tipografia com estilo em escrita. Os elementos que compõem a linguagem visual da campanha são visualmente harmônicos. 5. Campanha: Cale o assédio O vídeo da campanha “Cale o assédio” propõe combater o assédio mostrando ao homem, que geralmente é o assediador, o que as mulheres diariamente sofrem nas ruas. A ideia do vídeo é conscientizar sobre esse problema, uma violência diária em que as mulheres estão submetidas enquanto nas ruas. Figura 16 - Cale o assédio: Assédio não é elogio, é violência

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Fonte: Cale o Assédio

O problema é combatido porque: - Conscientiza a sociedade quanto ao assédio que as mulheres sofrem nas ruas; - Deixa claro que o assédio não é elogio, mas uma violência; - O vídeo da campanha é veiculado em sites que homens frequentam; - No site, fica disponível informações sobre a lei que pune o assediador. Dificuldades na execução: Não foram encontrados dificuldades na execução do aplicativo e nem pontos negativos em relação às ocorrências. •

Oferecimento de apoio às mulheres: sim;



Eliminação da sensação de desconforto e insegurança



causada pelos assédios: não;



Praticabilidade: não;



Publicação de conteúdo educativo e informativo: sim;



Proporcionamento de interação entre os membros: não;



Oferecimento de canais para denúncia: não.

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Análise: Apesar no site da campanha não disponibilizar canais para denúncia, é informado a lei que pune o assediador e protege a mulher. Porém, é mais provável que todas as mulheres saibam desta lei quando a mesma é exposta nos ambientes públicos, de forma a informar as mulheres diariamente por meios de comunicação. Portanto, para este projeto, acredita-se que seja importante e viável, desenvolver uma campanha de conscientização que utiliza meios de comunicação visual dispersos nas ruas, para informar a lei que pune o assediador, canais para denúncia (como o 180) e, conscientizar e alertar a sociedade quanto a quantidade de assédios registrados em determinadas localidades, a fim de tornar público essas ocorrências em números quantitativos.

A linguagem visual, tanto a do site quando a do vídeo da campanha, é

bastante escura e contrastante, utilizando cores como o preto e o branco, para representar visualmente o que o assédio nas ruas realmente significa: algo assustador e pesado de ver. Também são utilizadas, como fundos para o site e para o vídeo, fotografias de paredes, a fim de representar o ambiente nas ruas. O logo da campanha não utiliza nenhum símbolo, apenas tipografia e um elemento simples que lembra um balão de fala. 6. Organização: Stop Street Harassment Stop Street Harassment (SSH) é uma organização sem fins lucrativos dedicada a documentar e acabar com os assédios em meios urbanos, ao redor do mundo. Iniciou-se como um blog em 2008 e agora é conhecida como organização. Nós acreditamos que os assédios causados nas ruas bloqueiam a igualdade de gênero e isso precisa ser levado a sério. Porque o assédio nas ruas é frequentemente um problema invisível (principalmente para pessoas no poder) e descartado como um ‘pequeno aborrecimento’ ou uma ‘piada’, ou como culpa da pessoa que foi assediada, nosso foco principal é documentar o problema e demonstrar porque é uma violação dos direitos humanos que deve ser abordada. (STOP STREET HARASSMENT, 2015).

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Figura 17 - Stop Street Harassment

Fonte: Stop Street Harassment

O problema é combatido porque: - Há sempre campanhas e eventos onde as mulheres estão participando; - Possibilidade de compras de livros que falem sobre o problema em questão; - Além de campanhas e eventos, existe também documentários realizados pela organização;

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- Existem vários materiais informativos no site, o que ajuda as mulheres quando precisarem de suporte (como, por exemplo, informações sobre lei e direitos da mulher) e, também, a estarem envolvidas em pesquisas e debates; - Há também campanhas realizadas pela organização que criticam e denunciam as companhias (empresas como Allstate e Fiat) que subliminarmente propagam o assédio e machismo, através de suas vendas. Dificuldades na execução: Não foram encontrados dificuldades na execução do aplicativo e nem pontos negativos em relação às ocorrências. •

Oferecimento de apoio às mulheres: sim;



Diminuição da sensação de desconforto e insegurança



causada pelos assédios: não;



Praticabilidade: sim;



Publicação de conteúdo educativo e informativo: sim;



Proporcionamento de interação entre os membros: sim;



Oferecimento de canais para denúncia: não.

Análise: Acredita-se que a organização possa ser um dos mais importantes pilares de contribuição para o este projeto, ao patrocinar o artefato interativo da campanha.

A marca é chamativa, como se estivesse alarmando sobre algo. As cores

têm excelentes contrastes entre si. É simétrica, e a tipografia utilizada no logotipo em caixa alta combina com a composição geral da marca. Utilizam desenhos de graffiti, tanto na composição do logo quanto na linguagem visual da campanha. Também utiliza apenas tipografias e alguns elementos gráficos para compor o logo da organização. Análise geral de todo o conteúdo apresentado:

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Em cada similar foram encontrados pontos positivos que poderiam ser melhorados, sendo implantados para o presente projeto. Considera o movimento social "Mexico’s Harassment Issue" o que combate de forma menos eficiente o problema de assédios nas ruas; já que não é cabível no dia-a-dia das mulheres, pois elas se sentiriam desconfortáveis ao executar a ação. Possivelmente seriam ridicularizadas por conta do ato, e, além disso, estariam expostas à agressão do assediador.

Outros similares propõem soluções mais eficazes, como o aplicativo "Sai

Pra Lá", que possibilita o registro dos assédios nas ruas sem expor a mulher, já que a maioria das entrevistadas disseram ter dificuldade para responder aos assédios. Compreende-se que esta ideia é interessante no ponto de vista da praticidade, e também no ponto de vista ao registro dos assédios, pois o registro no aplicativo alerta a mulher sobre as ocorrências de assédios ali registrados por outras mulheres, em uma determinada região; e quanto a praticidade, a mulher não tem necessidade de se expor e se adéqua às atividades do seu dia-a-dia. Para este projeto será aplicado uma ideia semelhante, dependendo de um tótem interativo que armazenará e exibirá a quantidade de assédios registrados em uma determinada região, de forma a alertar a todos sobre esse problema diário que as mulheres sofrem. Por intermédio do aplicativo, o objetivo é expor as ocorrências registradas de forma que todos vejam através de um tótem interativo; e não serem vistos apenas de modo online ou pessoal, como é o que propõe a "Chega de Fiu Fiu" (site) e "Sai Pra Lá" (aplicativo).

A companhia e a presença feminina nas ruas geralmente faz com que as

mulheres se sintam mais unidas e mais seguras ao frequentarem as ruas, justamente o que propõe o movimento "Vamos Juntas?", que incentiva as mulheres a andarem juntas, em duplas ou até em grandes grupos. Apesar do movimento social não informar as leis que punem os assediadores e nem mesmo disponibilizar canais para denúncia através de suas redes sociais, ainda assim o movimento propõe combater dois pilares que perturbam a vida das mulheres: a insegurança e o medo enquanto nas ruas. Pensando nisso, a campanha desenvolvida neste projeto também se apoia na ideia de união e força, ao incentivar as mulheres a denunciarem juntas qualquer tipo de importunação nas ruas. A união de mulheres pode facilitar as denúncias, pois as duas se sentem mais seguras e confiantes ao visitarem uma delegacia juntas para prestarem queixa.

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O combate ao assédio se faz também através da informação quanto aos

direitos das mulheres, a implementação de palestras que se relacionam com o assunto e protestos contra os assédios frequentes nas ruas. A organização “Stop Street Harassment” propaga e pratica essa ação, informando e disponibilizando materiais para compreender (e combater) o assédio que as mulheres sofrem diariamente nas ruas. Acredita-se que a organização seja útil para patrocinar a campanha desenvolvida neste projeto, já que trata do mesmo assunto. A organização trata de propagar diversos tipos de informações acerca dos direitos das mulheres e também quanto ao combate a violência contra a mulher; mas, para este projeto, propõe focar em alertar quanto a quantidade dos assédios e, também, quanto as leis que existem e que devem ser aplicadas.

No site da campanha “Cale o assédio” é informada apenas uma lei que

trata de punir o assediador e proteger a mulher; porém, assim como os demais similares posteriormente apresentados, não há canais disponíveis para denúncia, nem no site e nem no vídeo. Apesar de informar uma lei apenas que protege a mulher nessas situações, não são exibidas todas as leis que existem quanto aos assédios e possíveis violências mais graves que frequentemente ocorrem nas ruas. Por ser esta uma importante questão a ser passada para as mulheres, este projeto inclui meios de comunicação visual, com o intuito de informar as leis que existem (e que devem ser aplicadas), incluindo incentivos à denúncia do assédio sofrido nas ruas. A campanha "Cale o assédio" também veicula no site um vídeo que mostra ao público masculino como é a realidade da mulher nas ruas. O que se propõe para este projeto (além de informar quanto as leis que existem) não é alertar somente a um determinado grupo sobre a quantidade de assédios, mas a sociedade num todo: mulheres, homens, autoridades. 2.3. Geração de alternativas Alternativa #1 Esta alternativa propicia um alarme que é disparado pela mulher, através de um dispositivo pequeno, quando a mesma for assediada nas ruas. Esse alarme ilumina os outdoors, banners e todo o tipo de material da campanha que ali estiver próximo. Quando o alarme é disparado, todas as mulheres o identificarão.

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Ao escutá-lo, todas ali próximas reclamarão com o homem que a assediou, e o entregará um cartão com informações que reflitam sobre a sua conduta. O objetivo desta alternativa é de possibilitar que o homem se sinta flagrado e reflita pelo o que fez e que as mulheres se unam contra essas ocorrências; mas não alcança esse objetivo porque não é praticável no dia-a-dia das mulheres enquanto nas ruas. Além de problemas ao ouvir o alarme (por ser as ruas um ambiente hostil), muitas não teriam coragem ou mesmo vontade para ter a atitude de se reunir e “flagrar” o homem. Também haveria dificuldade em identificar o homem que a assediou, mesmo se a mulher assediada mostrar quem a assediou. Alternativa #2 Trata-se de um dispositivo que se encaixa na orelha da mulher, onde captura a voz do sujeito que a assedia enquanto na rua. A mulher ouve o assédio, e o dispositivo captura o som da voz do assediador. No mesmo instante o áudio é enviado para um tótem ali próximo através de conexão WiFi. Como se acabasse de receber uma mensagem importante, o tótem emite um som com capacidade para chamar a atenção das pessoas próximas àquela região. Uma mensagem surge juntamente com o som, descrevendo o perfil do assediador. Posteriormente, uma frase surge: “O que eu escuto, você gostaria que a sua mãe escutasse?”. O objetivo desta alternativa é o de expor o homem, causando vergonha e uma possível reflexão. Mas esta alternativa foi automaticamente descartada, pois levou-se em conta que, na realidade, isto não funcionaria, pois não existe dispositivo com capacidade tão assertiva para compreender (até sentir) que o que foi dito foi uma ofensa. Além disso, ao tornar pública a voz do assediador nos tótens, o homem que assediou poderia não fazer reflexão sobre o assunto, mas, sim, processar a campanha por estar o expondo para todos nas ruas, sem o seu consentimento. Alternativa #3: Escolhida como a mais provável Esta alternativa propõe desenvolver uma campanha que utilizará artefato interativo localizado nas ruas, acompanhado de um aplicativo, que possibilitam a denúncia aos assédios e alerta quanto a quantidade dessas ocorrências, e, também,

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informa os tipos de leis que protegem as mulheres, bem como os canais de denúncia que dão suporte as que sofreram algum tipo de violência. Quando assediada, a mulher denuncia o ocorrido através do aplicativo que direciona a ocorrência automaticamente para o tótem interativo, que exibirá a quantidade de assédios registrados em uma determinada região. O tótem expõe as ocorrências quantitativamente, para alertar quanto aos assédios registrados, chamando a atenção da sociedade como um todo, incluindo, principalmente, as autoridades. Nos espaços urbanos, não se vê campanhas que incentivam à denúncia do assédio, tampouco informações quanto às leis que auxiliam a mulher quando assediadas. Por isso, acredita-se que esta alternativa seja não somente praticável no dia-a-dia das mulheres, mas, também, possibilite conscientizar a sociedade sobre a seriedade de assédios nas ruas e informar a mulher quanto às leis que existem e às preservam. 2.4. Principais conceitos usados Cada vez mais observa-se um aumento exponencial de tecnologias para novos meios de comunicação, assim como a própria internet por meio da inclusão digital. A todo momento é gerado mais e mais conteúdo e informação, que é compartilhada, recebida e algumas vezes remontada pelos usuários de forma colaborativa, agregando valor a todo tipo de conhecimento. Essas conexões, trazem soluções mais eficazes e inovadoras para todo tipo de projeto de design.

Entretanto, muitas ferramentas de design que foram seguidas pela escola

de Bauhaus e posteriormente por Ulm, vinham de uma visão funcional herdada do grande momento que foi a revolução industrial e posteriormente da arquitetura, possuindo grande força no período das escolas, assim como, um objetivo estético a partir dos movimentos artísticos emergente em boa parte da Europa, onde a função e a forma seguiam com rigidez o centro dos projetos.

O design veio recebendo influência dessa crescente procura e troca de in-

formações, criando novas ferramentas que foram evoluindo e agregando valores, técnicas e conhecimento de outras profissões, afim de ter um novo olhar sobre projetos, possibilitando novas alternativas e resoluções mais eficazes e colaborativas, dessa vez trazendo o usuário como centro dos projetos, objetivando solucionar ou atender suas necessidades.

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Em 1992, Richard Buchnam é o primeiro a utilizar a expressão Design Thinking (MELO, Adriana; ABELHEIRA, Ricardo, 2015, p. 28) em seu artigo “Wicked Problems in Design Thinking”. Definido com um processo de soluções criativas e inovadoras para projetos, o conceito recebeu transformações ao ser levado para o mercado, sendo reconhecido como design de serviço, onde é aplicado todas as ferramentas do design thinking em projetos, da pesquisa mais básica á prototipação, a todo o momento centrado nas relações humanas. Design Thinking é uma metodologia que aplica ferramentas do design para solucionar problemas complexos. Propõe o equilíbrio entre o raciocínio associativo, que alavanca a inovação, e o pensamento analítico, que reduz os riscos. Posiciona as pessoas no centro do processo, do inicio ao fim, compreendendo a fundo suas necessidades. Requer uma liderança impar, com habilidade para criar soluções a partir da troca de ideias entre perfis totalmente distintos. (MELO, Adriana; ABELHEIRA, Ricardo, 2015, p. 15)

Essas relações trouxeram a importância de compreender como funciona a conexão do usuário com o produto ou serviço em seus meios, ou seja, como funciona não apenas sua execução final, mas o processo de uso, sendo pré, durante e o pós uso.

Entretanto, o caminho direto da ação e reação do usuário, não é mais

intermedial frente as novas tecnologias; as respostas não são mais unilaterais de uma simples função homem-computador. Digitar um texto, enviar e receber um emoticon, postar uma foto e receber “likes”, mostram como a interação humaniza mecanismos meramente tecnológicos.

O design de interação é o estudo de design focado em métodos e etapas

condizente a experiência do usuário com o objetivo de tornar acessível e prático o uso de produtos e serviços, permitir que recebam, transmitam e às vezes moldem algum tipo de informação. Nesse âmbito, o projeto caminha e se desenvolve a partir desse feedback, melhorando a interface ou processo, o caminho ou jornada do usuário e pôr fim a usabilidade.

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Usabilidade é só um dos aspectos com os quais o designer de interação precisa se preocupar. Antes de mais nada, ele precisa pensar como o produto se insere na vida do usuário, ou seja, sua utilidade (ou inutilidade). Além de aspectos funcionais, é preciso avaliar aspectos emocionais do produto. Um produto interativo pode ter valor prático nulo e ao mesmo tempo ter uma relevância emocional tremenda (um tamagotchi, por exemplo). (USABILIDOIDO, 2006) Após entender os aspectos que envolvem o desenvolvimento em sua fase criativa e o encadeamento do processo de uso de um produto ou serviço junto ao usuário, encontra-se um conceito entre o agradável e útil, uma outra etapa, além de solucionar ou amenizar um problema e tornar essa tarefa de fácil execução, encontramos uma afinidade entre usuário-produto. Uma relação emocional de diversão, prazer, entusiasmo, ou até raiva, medo e ansiedade entre outros sentimentos aplicados durante uso e pós uso. Esse conceito revela o quanto é importante saber quais são as emoções relevantes e quais precisam ser descartadas já na fase de projeto, essa habilidade trata-se da especialidade do Experience Design.

Donald Norman sugere em seu livro “Design Emocional – Por que adoramos (ou

detestamos) os objetos do dia-a-dia” (2004), que nossas emoções estão associadas a três níveis de processamento; visceral, o nível subconsciente onde nossos sentidos como visão e tato indicam o quão bom é a experiência de usar um produto, através de suas cores e formas; comportamental, nível consciente relacionado a ao prazer de realizar uma tarefa de forma fácil e eficiente através de uma boa usabilidade; reflexivo, nível considerado o superego, que examina, entende e apreende de uma forma associativa, junto aos sentimentos do momento de uso., visando entender de que forma o produto contribui para sua imagem desejada, ligado ao status social. Em si os três níveis possuem uma característica de reação automática frente as emoções. Esse estudo cognitivo contribuiu, para entender o comportamento emocional do consumidor o utilizar jogos, perfumes ou um simples objeto como um martelo. A mente humana é incrivelmente complexa e embora todas as pessoas tem basicamente as mesmas formas de corpo e de cérebro, elas também têm enormes diferenças individuais. Mas as dificuldades devem ser vistas como oportunidades. Nunca faltaram aos designers coisas para fazer, novas abordagens a explorar. (NORMAN, 2004)

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Por isso, essas ferramentas influenciarão no desenvolvimento da campa-

nha e dos artefatos que a envolvem. Associando não apenas a necessidade da mudança de pensamento quanto ao assédio, mas a sua familiaridade junto a vivência da mulher em nossa sociedade, em que ponto acontece a experiência emocional do ocorrido e onde devemos centralizar questões visuais, de usabilidade e experiência, frente ao problema. 2.5. Parâmetros para o desenvolvimento Pesquisas realizadas via internet e entrevistas (que inclui o caderno de sensibilização e perguntas previamente estabelecidas), possibilitaram compreender qual forma o projeto tomaria. O público analisado pede cores como o vermelho e amarelo ao associar as palavras “perigo” e “alerta”; essas palavras se aproximam da ideia do assédio porque é considerado crime, e, portanto, precisa ser alertado para sociedade como um problema. A maioria das entrevistadas, tanto online quanto pessoal, associava as palavras “invasão” e “irritação” ao assédio nas ruas; todas essas informações conduzirão as mensagens passadas nos meios de comunicação, para cartazes, blusas, tótens e buttons.

A falta de informação quanto às leis que as protegem também foi bastan-

te comunicada durante a entrevista, como foi dito nas questões de perguntas dissertativas, através do questionário visual publicado na internet. Logo, o propósito principal da campanha é o de orientar diariamente as mulheres enquanto nas ruas, ao que deve ser feito quando assediada e informar, também, os canais de denúncia que muitas desconhecem, como o número telefônico 180.

O material de conscientização deve ser voltado também para a popula-

ção, visto que é indiferente e preconceituosa quanto ao assunto. Tendo em vista que muitas mulheres informavam que não usavam tipos de roupas para evitar o assédio nas ruas, a campanha também introduzirá nos meios de comunicação mensagens que incentivem as mulheres a não se intimidarem, que elas sejam livres para escolher e vestir o que quiserem, pois não devem se culpabilizar pela sociedade machista em que estão inseridas. Por isso, é crucial que a sociedade entenda que o corpo da mulher não é um objeto público a ser apreciado, e muito menos “pedindo para ser assediada”. Que compreenda, então, que o assédio é um problema grave e que engloba a todos, e não somente a mulher.

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2.6. Concepção Como já dito, o projeto tem como objetivo não apenas informar as mulheres sobre seus direitos perante a lei em decorrência dos assédios, mas também conscientizar a população e as autoridades sobre o problema do assédio nas ruas. Um ponto crucial é o encorajamento. É preciso que as mulheres se sintam determinadas a denunciar os assédios ocorridos. Para que isto ocorra, propõe-se uma campanha localizada nas ruas, justamente onde ocorrem os assédios. A campanha inclui vários meios de comunicação, como cartazes, blusas, tótens e buttons.

Baseado nas marcas dos similares encontrados, o logo deste projeto não

utiliza símbolo, mas apenas tipografia e elementos simples para compor, se necessário. Além disso, em todos os materiais de conscientização haverão fundos preto e amarelo (incluindo o vermelho apenas para os detalhes) com o intuito de alertar sobre o assédio nas ruas. Algumas mulheres chegam a ignorar este triste acontecimento diário, por isso que, alertar sobre essa situação é tão importante. É preciso que diga, para todos, que o assédio é um assunto urgente, que deve a atenção de todos, e não somente a um determinado grupo. Por isso, a escolha do amarelo e vermelho baseia-se, não apenas por terem sido as cores mais votadas no questionário visual, mas, também, por serem cores entendidas pelo senso comum como alarmantes. E, como o objetivo não é somente atingir as mulheres, mas de forma secundária toda a população, as cores vermelho e amarelo, ao combinar com o preto, transmitem perigo e alerta. Do mesmo modo cabe para o nome da campanha; além de ter como base nos dados obtidos por meio do questionário visual, também foi pensado como o nome poderia representar o propósito do projeto, que é a denúncia, e não mais a submissão e a falta de informação. E sim, a quebra do silêncio.

Junto à campanha, o artefato interativo (tótem) registra e exibe as ocor-

rências dos assédios nas ruas. Essas ocorrências serão feitas inicialmente através do aplicativo onde estará disponível a lei que pune o assediador e como proceder ao assédio. Informações quanto aos outros tipos de violência sexual que ocorrem em ambientes distintos, poderão ser visíveis através de um link externo, disponível apenas ao acessar o aplicativo.

Dessa forma, pretende-se que as mulheres possam ser conduzidas às de-

núncias dos assédios. Esses registros feitos no aplicativo serão exibidos como

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um alerta no tótem interativo, que é um registrador de ocorrências diárias. O tótem serve para que tanto mulheres quanto homens entendam que nos pontos citados estão ocorrendo muitos casos e, possibilitando assim a mobilização das autoridades. O caso da mulher viraria mais um número infeliz demonstrado no artefato.

Diferente do aplicativo, no tótem interativo estará disponível canais de de-

núncia que protegem a mulher e como proceder quando assediada. Esses totens poderão ser patrocinados por empresas que se interessam em apoiar a causa, como ONGS, revistas especializadas, empresas de cosméticos e vestuário, entre outras.

Um exemplo de local para implementação de um totem é a Rua São José,

que fica no centro da cidade do Rio de Janeiro. As características do local são próprias a esta instalação porque há bastante calçadas e pessoas circulando frequentemente. A viabilidade para instalação dos totens é total, visto que ele seria composto de metal e vidro.

A seguir, é explicado mais profundamente, o que o projeto pretende

trazer em termos visuais, materiais, informacionais e de navegação aos produtos citados — tótem, aplicativo e produtos de campanha convencional (buttons, cartazes e blusas), bem como suas possibilidades de interação. 2.7. Execução Espera-se que a experiência almejada seja a de segurança e confiança em poder caminhar tranquila nas ruas sem ter a sua integridade invadida. É fundamental para a mulher a convicção de que está sendo ouvida. A campanha, por sua vez, se pretende como um suporte às mulheres que não conseguem responder ao assediador por receio. Buscando evidenciar e estampar essas ocorrências, gerariam um sentimento de amparo e de ajuda dinâmica ao evidenciar números e gráficos diariamente. Também serão desenvolvidos cartazes, blusas, tótens e buttons para fortalecer e propagar o propósito desta ação. 2.7.1. Aplicativo Assim que acessado o aplicativo, na sua interface inicial será exibido um botão “Fui assediada”, que, quando clicado (ao mesmo tempo que envia a ocorrência Pág. 53

registrada por meio de conexão WiFi para o tótem, e exibe este dado) leva a uma outra página com o título “Foi assediada nas ruas? Não se cale” indicando que a mulher acesse a página a seguir, que seria a “Conheça as leis” e como proceder a cada tipo de assédio. O menu, “conheça as leis” e “canais de denúncia”, somente é visto na tela inicial do aplicativo.

Os canais de denúncia “Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher

(DEAM)” e o “Ligue 180”, criados pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR), estarão disponíveis separadamente nas telas do aplicativo. No canal de denúncia, “Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM)”, será preciso que a mulher ligue o GPS do smartphone para que o aplicativo informe a delegacia mais próxima a sua região e faça a denúncia. Deverá deixar claro, também, que o registro desses assédios deverão ser feitos enquanto nas ruas, e por isso requer que a mulher tenha consciência disso. 2.7.2. Tótem interativo O artefato exibe as ocorrências dos assédios nas ruas. Essas ocorrências são feitas inicialmente no aplicativo quando acionado que houve assédio. A ocorrência é enviada por meio de conexão WiFi para o tótem interativo. Em cada localidade do Rio de Janeiro haverá um tótem, e a cada sete horas o tótem emite um som para chamar a atenção das pessoas próximas. Não haverá no tótem informações sobre as leis, mas somente informações sobre os canais de denúncia e como proceder ao realizar uma denúncia. As leis poderão ser vistas quando feito o download do aplicativo através do QR Code disponível no tótem. 2.10. Descrição e especificações do projeto finalizado 2.10.1. Aplicativo: processo de uso e informações técnicas Esquema do processo de uso: Figura 18 - Tela: Fui assediada!

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Fonte: Elaborado pelos autores

1ª instância - Tela: Fui assediada!: Ao clicar no botão, o usuário é direcionado para a página que certifica se a ocorrência foi registrada ou não, através de conexão WiFi. O menu do aplicativo somente estará disponível na tela inicial do aplicativo, caso o usuário queira ler sobre as leis e os canais de denúncia. O menu desaparece quando o usuário é direcionado para outra página. Também será informado que o registro só deverá ser feito se a mulher estiver nas ruas, e a mesma for assediada. Figura 19 - Tela: Ocorrência enviada

Fonte: Elaborado pelos autores

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2ª instância - Tela: Ocorrência enviada. Foi assediada nas ruas? Não se cale. Conheça as leis: Nesta página, é informado se a ocorrência foi concluída ou não por meio de conexão WiFi. O usuário é induzido a passar para a próxima página, que diz respeito as leis e a como proceder aos assédios. Figura 20 - Tela: Lei Art. 216-B

Fonte: Elaborado pelos autores

3ª instância - Tela: Lei Art. 216-B. Assédio verbal ou físico: Por existir diversos tipos de situações de assédio neste ambiente, é importante informar a mulher que, o registro do assédio pode ser feito no aplicativo mesmo que não haja a possibilidade de identificar o assediador. Mas quando houver, a lei informada no aplicativo, assim como os canais de denúncia, possibilitarão a denúncia do assediador, ao dizer em que horário isso regularmente acontece e em que local o assediador se encontra. Na tela, é informado a lei que diz respeito ao assédio que ocorre em espaços públicos (PROJETO DE LEI DO SENADO, 2015, p. 1) e a pena que o assediador deve receber. Na tela também é induzido que o usuário passe para a próxima página, pois há continuação. Caso a mulher tenha sofrido uma violência diferente, como no trabalho ou em casa por exemplo, estarão disponíveis dois links externos de forma a ajudar nestes casos, também, informando as leis que tratam de cuidar desses casos.

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Figura 21 - Tela: Canal de denúncia: DEAM

Fonte: Elaborado pelos autores

4ª instância - Tela: Canal de denúncia: DEAM: Assim que é informado os tipos de leis, o próximo passo é a denúncia. Se a mulher deseja ir à uma delegacia, de preferência DEAM mais próxima, é preciso que o smartphone esteja com o GPS ligado, pois desta forma, o aplicativo consegue saber a sua posição. Na página é pedido que o usuário ligue o GPS, se não a ação não é efetuada. Figura 22 - Tela: Canal de denúncia: Ligue 180

Fonte: Elaborado pelos autores

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5ª instância - Tela: Canal de denúncia: Ligue 180: Além da ida à uma delegacia, a mulher pode também pedir instruções ou realizar uma denúncia somente ligando para o 180. É dito resumidamente sobre o propósito do 180 e informações quanto a sua disponibilidade, pois assim a mulher se certifica de quando pode ligar. Feito o processo, a mulher poderá retornar ao início a partir do botão “voltar ao início”. Para compreender a sua usabilidade, acesse o aplicativo através do QR Code:

Informações técnicas: A altura do aplicativo é de 545px, e a largura de 309px, possibilitando a funcionalidade em diferentes telas de smartphones. O aplicativo funciona nos sistemas operacionais mais populares, como iOS, Android e Windows Phone. 2.10.2. Tótem interativo: descrições de uso e informações técnicas Esquema do processo de uso: Figura 23 - Frente e verso do tótem interativo

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Fonte: Elaborado pelos autores Pág. 59

1ª instância: Quando houver assédio, a mulher deverá clicar no botão do aplicativo “Fui assediada!” assim, essa ocorrência será enviada automaticamente, através de conexão WiFi, para o tótem. 2ª instância: A cada sete horas, o tótem emite um som exibindo a quantidade de assédios recebidos. Independente se não houve registro de ocorrências passada as sete horas, o som será emitido. Informações técnicas: Composto de metal e vidro, o tótem interativo tem 1152x1920 (88 pol.) e 6.0mm de resolução. A altura do som emitido pelo tótem interativo possibilita que as pessoas ao redor dele ouçam claramente. 2.11. Produtos de campanha convencional Figura 24 - Buttons para mochilas

Fonte: Elaborado pelos autores

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Figura 25 - Cartazes nas ruas

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Fonte: Elaborado pelos autores

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Figura 26 - Blusas com o logo da campanha

Fonte: Elaborado pelos autores

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Figura 27 - Totens nas ruas

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Fonte: Elaborado pelos autores

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3. Conclusão Ainda na fase de ideação, encontramos obstáculos referentes a associação de problemas sociais e do cotidiano ao design, como ferramenta de contribuição para o bem-estar humano. Enxergar conexões além de uma visão fermentada do profissional que executa tarefas criativas para o mercado, exigiu um esforço mental, principalmente quando o assunto foi referente a violência contra a mulher, neste caso, o tema assédio nas ruas, por ser um campo muito relativo socialmente, marcado por diversos tipos de opiniões. O que conhecíamos por experiência até então, eram práticas de design relativas em criar projetos de boa ergonomia, fácil percepção e execução. As metodologias Design Thinking (Design de Interação e Experience Design) nos ajudaram a pensar de forma ampla os níveis sociais e psicológicos relacionados ao problema, e tratar de forma delicada um assunto complexo para quem sofre esse tipo de violência diariamente.

Ao iniciar a pesquisa de campo, percebemos o quão amplo é o público

atingido pelo problema, independente de idade e classe social. Da entrevista etnográfica coletamos informações direcionadas a emoções e o psicológico das entrevistadas, entendendo como é conviver com o assedio; nessa imersão compreendemos problemas como, a falta de conhecimento das leis vigentes; falta de assistência dos órgãos públicos e privados; e medo. Em geral, como essa mulher é posicionada socialmente, sem um questionamento aberto quanto ao problema, sem direitos e sem voz. Com base na realidade encontrada, concluímos que, o assédio é um comportamento ofensivo que viola o campo de privacidade da mulher assediada. Constatamos que a melhor ação para contribuir em amenizar o problema é a mudança de pensamento através de campanha e seus elementos interativos. Buscamos através dessas informações desenvolver uma campanha interativa que conscientize a população desse problema.

Esperamos que a pesquisa, por meio do estudo de caso, possibilite um

novo olhar para o design brasileiro, sua importância na sociedade e nas relações humanas. Propomos uma análise imersiva e contemplativa frente aos conceitos e ferramentas aqui utilizados, entendendo a responsabilidade de gerar mudanças sociais, e não apenas no setor de negócios. A nossa preocupação em relação ao

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projeto, é de que sirva de inspiração e leve o pensar a população em geral, ao discutir assuntos relevantes como o assédio nas ruas. Por meio do artefato, aplicativo e produtos criados, acreditamos ter alcançado os resultados desejados ao compreender o universo deste público-alvo, cumprindo os objetivos pré-dispostos no início da pesquisa.

Hoje temos consciência que, como profissionais, precisamos avaliar com

habilidade e, principalmente, sensibilidade, todos os pontos que envolvem um projeto emocional, sintetiza-lo em sua complexibilidade e por fim, tratar de forma clara e objetiva os resultados. 4. Referências bibliográficas

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