O design de notícias para tablet e o novo papel do designer

July 28, 2017 | Autor: Raquel Cordeiro | Categoria: Interaction Design, News Design, Tablet, Communications design
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Descrição do Produto

Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Tecnologia e Ciências Escola Superior de Desenho Industrial

Raquel Corrêa Cordeiro

O design de notícias para tablet e o novo papel do designer

Rio de Janeiro 2014

Raquel Corrêa Cordeiro

O design de notícias para tablet e o novo papel do designer

Dissertação apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós-graduação em Design, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Orientador: Prof. Dr. Washington Dias Lessa

Rio de Janeiro 2014

CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/REDE SIRIUS/BIBLIOTECA CTC/G

C794

Cordeiro, Raquel Corrêa. O design de notícias para tablet e o novo papel do designer / Raquel Corrêa Cordeiro. - 2014. 99f. : il. Orientador: Washington Dias Lessa. Dissertação (Mestrado). Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Escola Superior de Desenho Industrial. 1. Design de informação - Teses. 2. Design de interação - Teses. 3. Design de comunicação - Teses. I. Lessa, Washington Dias. II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Escola Superior de Desenho Industrial. III. Título. CDU 744.42

Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta tese/dissertação, desde que citada a fonte. __________________________________ Assinatura

____________________________ Data

Raquel Corrêa Cordeiro

O design de notícias para tablet e o novo papel do designer.

Dissertação apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós-graduação em Design, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Aprovada em 23 de setembro de 2014. Banca examinadora:

_____________________________________________ Prof. Dr. Washington Dias Lessa (orientador) Escola Superior de Desenho Industrial da UERJ _____________________________________________ Prof. Dr. Sydney Fernandes de Freitas Escola Superior de Desenho Industrial da UERJ _____________________________________________ Prof. Dr. Ary Pimenta de Moraes Filho Escola de Belas Artes - Ufrj

Rio de Janeiro 2014

DEDICATÓRIA

Aos meus pais, por compreenderem minha ausência nesses dois anos. Ao meu irmão Fábio, por me escutar e me aconselhar sobre a pesquisa. Ao meu companheiro, Daniel, por ler e revisar todos os textos e artigos escritos durante o mestrado.

AGRADECIMENTOS

Aos meus colegas de trabalho, João Daniel e Telio Navega, por darem suporte aos meus atrasos e folgas, sempre dispostos a trocarem de horário para eu poder assistir às aulas. Aos meus chefes, Edgard Lago, Adriana Barsotti, Maria Fernanda Delmas e Aydano André Motta, por entenderem a importância da pesquisa junto com o trabalho. Aos designers de O Globo, por gentilmente me concederem as entrevistas. Aos participantes do teste de usabilidade, que se disponilizaram a avaliar O Globo a Mais. Aos meus amigos Mônica Carvalho e Sandro Lopes, por me incentivarem a entrar no mestrado. E por último, mas não menos importante, ao meu orientador, Washington Dias Lessa, por me ajudar a desenvolver este projeto.

“O papel do design não é a simplificação da complexidade mas sim a organização da complexidade” Jorge Frascara

RESUMO CORDEIRO, Raquel Corrêa. O design de notícias para tablet e o novo papel do designer. 2014. 99f Dissertação. (Mestrado em Design) – Escola Superior de Desenho Industrial, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. Esta pesquisa traz um panorama do mercado jornalístico para tablet. Classifica as variações de publicações digitais. Mostra os hábitos de leitura em dispositivos móveis e as formas de negócios. Apresenta como o designer se posiciona nesse fluxo de trabalho. Analisa o caso do jornal O Globo, que, com produtos impressos e digitais, proporcionou entrevistas com designers de diversas mídias. Ainda há a análise de O Globo a Mais, revista exclusivamente digital. Palavras-chave: Design de comunicação. Design de notícias. Design de interação. Tablet

ABSTRACT This research brings an overview of the journalistic market for tablet. It classifies the variations of digital publishing and shows the reading habits of mobile devices and the business ways. It also presents how the designer stands in this workflow and analyzes the O Globo newspaper's case, which, with print and digital products, provided interviews with designers from several media. There still the analysis of O Globo a Mais, an exclusive digital magazine. Keywords: communication design. News design. Interaction design. Tablet

LISTA DE FIGURAS Figura 1 – A internet uma década depois ................................................................. 16 Figura 2 - O horário nobre da internet no Brasil nos dias úteis ................................. 27 Figura 3 - Audiência do The Guardian durante o dia ................................................ 28 Figura 4 - Usuários de tablet multi-task (continua).................................................... 30 Figura 5 - Usuários de tablet multi-task (continuação) .............................................. 31 Figura 6 - Usuários de tablet multi-task (conclusão) ................................................. 32 Figura 7 - Tempo gasto em dispositivos IOS e Android ............................................ 34 Figura 8 - Website da Folha de S.Paulo ................................................................... 41 Figura 9 - Webapp do jornal The Daily ...................................................................... 42 Figura 10 – Banca do aplicativo do jornal Extra ........................................................ 43 Figura 11 - Flip do jornal Extra .................................................................................. 44 Figura 12 - Estadão Premium ................................................................................... 45 Figura 13 - Estadão Light .......................................................................................... 46 Figura 14 - La Repubblica Sera ................................................................................ 47 Figura 15 - Folha 10 .................................................................................................. 48 Figura 16 - Metodologia de trabalho para a produção diária .................................... 51 Figura 17 - Convergência contínua ........................................................................... 53 Figura 18 - Amostragem das entrevistas realizadas ................................................. 59 Figura 19 - Idade dos participantes ........................................................................... 59 Figura 20 - Banca O Globo a Mais ............................................................................ 72 Figura 21 - Capa O Globo a Mais ............................................................................. 73 Figura 22 - Organograma do Globo a Mais............................................................... 74

LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Funções jornalísticas............................................................................... 19 Tabela 2 - Síntese das características das leituras de contextualização, de atualização e de projeção. ........................................................................................ 25 Tabela 3 - Tempo de leitura dos jornais (minutos por dia) ........................................ 26 Tabela 4 - Produtos jornalísticos em tablet ............................................................... 40 Tabela 5 - Linha do Tempo ....................................................................................... 57

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CEO –

Chief Executive Officer

CSS –

Cascading Style Sheets

HTML –

HyperText Markup Language

IDC –

International Data Corporation

IOS –

Sistema Operacional móvel

ITTR –

IBOPE Twitter TV Ratings

IVC –

Instituto Verificador de Circulação

SBDI –

Sociedade Brasileira de Design da Informação

SDK –

Software Development Kit

SND –

The Society for News Design

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 14   1

REFERENCIAMENTO TECNOLÓGICO DA CONSTRUÇÃO DA NOTÍCIA ............. 22  

1.1

Pré-digital ...................................................................................................... 22  

1.2

Digital ............................................................................................................. 23  

1.2.1 Novos hábitos de leitura em dispositivos móveis ........................................... 24   1.2.2 A consolidação na presença dos tablets ........................................................ 35   1.2.3 A viabilização econômica do negócio digital .................................................. 36   1.3

Tipos de publicações jornalísticas em dispositivos móveis.................... 39  

1.3.1 Website ........................................................................................................... 40   1.3.2 Flip .................................................................................................................. 42   1.3.3 Aplicativos autóctones .................................................................................... 47   2

FLUXO DE TRABALHO ............................................................................................. 49  

2.1

Etapas para produção da notícia ................................................................ 49  

2.2

Tablet e fluxo de trabalho ............................................................................ 52  

3

ESTUDO DE CASO: O GLOBO ................................................................................ 56  

3.1

Entrevistas com designers de O Globo...................................................... 58  

3.1.1 Perfil profissional ............................................................................................ 61   3.1.2 Fluxo de trabalho ............................................................................................ 62   3.1.3 Novas mídias .................................................................................................. 63   3.1.4 Tendências ..................................................................................................... 65   3.2

Entrevista com Chico Amaral ...................................................................... 66  

3.2.1 Perfil profissional ............................................................................................ 68   3.2.2 Fluxo de trabalho ............................................................................................ 69   3.2.3 Novas mídias .................................................................................................. 69   3.2.4 Tendências ..................................................................................................... 70   3.3

O Globo a Mais.............................................................................................. 71  

3.3.1 Como funciona................................................................................................ 71   3.3.2 Organização ................................................................................................... 74   CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 76   REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 80   GLOSSÁRIO .............................................................................................................. 86   APÊNDICE A – Entrevista com designers de O Globo .............................................. 88  

APÊNDICE B – Entrevista com Chico Amaral ........................................................... 91   APÊNDICE C – A leitura de O Globo a Mais no iPad ................................................ 93   APÊNDICE D – Perfil do entrevistado ........................................................................ 94   APÊNDICE E – Roteiro de usabilidade ...................................................................... 95   APÊNDICE F – Relatório final .................................................................................... 99  

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa pretende investigar as publicações jornalísticas para tablet, abordando o trabalho do designer e procurando exemplificar com casos de O Globo e outros jornais que tenham publicações específicas para esta mídia. Primeiramente será feita uma abordagem histórica, situando o jornalismo e o desenvolvimento tecnológico para se chegar até o modelo atual. Então o design será contextualizado nesse setor, mostrando como ocorreu a sua valorização e a atuação nas diversas formas da produção de uma notícia. A pesquisa surgiu a partir da observação da mudança do trabalho de um diagramador do jornal impresso para um designer para tablet. Nessa variação de mídia, foi percebida uma considerável alteração nas atividades executadas, que levou a pesquisar sobre o assunto. O jornalismo para tablet é muito recente e dinâmico: à medida que foi sendo desenvolvida esta pesquisa, foram surgindo mais desdobramentos tecnológicos nesse novo meio. Apesar de os jornais procurarem novos modelos de negócios, com todas essas mudanças ainda não se sabe qual caminho irá prevalecer. Esse cenário motivou esta dissertação, que buscou investigar os novos modos de leitura trazidos pelas novas mídias, assim como procurou compreender as novas categorias editoriais e o novo papel do designer no jornal. Fazendo uma rápida indicação dos marcos tecnológicos que pontuam a história da imprensa, temos o marco inaugural no século XV, quando Gutenberg inventa a impressão com tipos móveis, processo de reprodução mecânica de textos. O primeiro jornal impresso publicado foi o Nieuwe Tijdinghen, na Antuérpia (atual Bélgica), em 1605. Ainda no começo do século XVII, o jornal tinha as formas impressa e manuscrita; as notícias eram lidas em voz alta, e algumas delas eram transcritas à mão. Chartier aponta que, em meio à quantidade de notícias disponíveis, o público valorizava as impressas como se tivessem uma garantia de verdade. (CHARTIER, 2007, p. 120) No ambiente da Revolução Industrial, a impressão se potencializa com a invenção da rotativa - por Koning, em 1812 -, que passou a permitir a tiragem em um número elevado de cópias e a baixo custo. (SOUSA, 2001)

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Avanços também são feitos em relação à produção de matrizes de imagens para a impressão. Inicialmente com a utilização da xilogravura de topo reproduzindo manualmente imagens fotográficas, iniciada entre as décadas de 1860 e 1870, que resistia ao impacto das grandes tiragens. A primeira fotografia reproduzida mecanicamente foi publicada no The New York Daily Graphic em 4 de março de 1880 (MEGGS, 2009, p. 192). Este fato só foi possível graças à invenção da tela de retícula, por Stephen H. Horgan. Até os anos 1970, o jornalismo impresso cresceu impulsionado, entre outros fatores, pelas tecnologias da litografia offset (1904), mais tarde pelo offset em quatro cores (1930), pela foto-composição (1945), pelas fotocopiadoras (1959), enfim, recursos que, gradualmente combinados, favoreceram a produção e elevaram a tiragem para a casa dos milhões de exemplares, além de proporcionar o uso de cores na impressão e a produção de peças gráficas sofisticadas em menor espaço de tempo. (MORAES, 2010)

Com o surgimento da televisão, os jornais impressos se sentiram ameaçados pela concorrência dessa nova tecnologia. Em 1982, o jornal USA Today foi lançado com muitas cores que contrastavam com o cinza predominante na imprensa. Seus textos curtos se aproximavam da linguagem televisiva, e a campanha de lançamento o anunciava como "o primeiro jornal moderno para leitores que cresceram como espectadores.” 1 O final do século XX traz a enorme mudança do surgimento dos computadores – Apple Macintosh, 1984 e Microsoft Windows, 1985 –, softwares de editoração eletrônica — Aldus PageMaker, 1985; Apple Desktop Publishing System, 1986 e QuarkXpress, 1987 –, programas de edição de imagens – Adobe Photoshop, 1990; Adobe Illustrator, 1987 e Macromedia Freehand, 1988. Um novo impacto ocorreu para o jornalismo: com o início do uso comercial da internet, na década de 1990, surgem as primeiras versões online. Vemos nesta última década um avanço muito rápido das tecnologias digitais. De acordo com pesquisa feita pelo Best Education Sites, em 2002 havia 569 milhões de usuários em rede, passando para 2,27 bilhões em 2012 (Figura 1). Os usuários ficavam conectados, em média, 46 minutos por dia; dez anos depois, esse tempo subiu para 4 horas por dia. A velocidade também aumentou, influenciando os outros pontos, já que em 2002 se levava 12,5 minutos para baixar uma música e 16 segundos para carregar uma página, enquanto que em 2012 esse tempo diminuiu para 18 e 6 segundos, respectivamente. 1

"the first modern newspaper for readers that grew up as viewers.” (LUPTON e MILLER, 2000: 144)

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Atualmente, o desafio está nos dispositivos móveis. A nova tecnologia que está mudando a forma de fazer jornalismo envolve os tablets e smartphones. Os surgimentos do Kindle, do iPhone e, a partir de 2010, do iPad, impuseram aos designers o desafio de pensar uma versão dos jornais para esses novos meios, “desvinculando o jornal fisicamente do papel, por um lado, mas sendo também obrigados a desenvolver projetos de modo a variar sua forma impressa, por outro.” (MORAES, 2010) Figura 1 – A internet uma década depois

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Fonte: Best education sites

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Para entender o posicionamento dos designers e as mudanças no jornalismo, primeiramente há que se definir o que é notícia. Marcondes define como a “informação transformada em mercadoria com todos os seus apelos estéticos, emocionais e sensacionais; para isso, a informação sofre um tratamento que a adapta às normas mercadológicas de generalização, padronização, simplificação e negação do subjetivismo.” (MARCONDES, 1986, p. 13) Já para Rodrigo Alsina (2009) “notícia é uma representação social da realidade cotidiana, gerada institucionalmente e que se manifesta na construção de um mundo possível”. Logo, ela está inserida em um sistema de produção, circulação e consumo no qual o design atua diretamente na criação. O papel do design vem se transformando à medida que vão ocorrendo mudanças no jornalismo. Moraes (1998, p. 242) afirma que o design de notícias corresponde à interseção entre o design e o jornalismo, e que é responsável pelo planejamento, organização, produção e direção do relato jornalístico nas suas manifestações visuais impressas e/ou digitais. Sousa relata o crescimento da importância do design, mostrando a evolução e o surgimento de uma área que, inicialmente, não tinha o seu valor reconhecido: Hoje em dia, valoriza-se significativamente o design de imprensa, mas nem sempre foi assim. Melhor dizendo, até meados dos anos sessenta do século XX não foi assim. Até essa década seria opinião reinante que o que interessava (mais) era o conteúdo das notícias, não a forma como estas eram apresentadas. Porém, mesmo que o design não fosse muito valorizado, a utilização, ao longo do tempo, de gráficos, diagramas, mapas e formas gráficas de hierarquizar e sistematizar a informação permite concluir que se foi dando conta de que a atitude dos leitores seria mais receptiva se os conteúdos fossem interessantes e a paginação garantisse

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Disponível em: http://www.bestedsites.com/the-internet-a-decade-later/. Acesso em janeiro de 2013

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uma maior legibilidade das páginas e tornasse o jornal um produto mais bonito. (SOUSA, 2001, p.339)

No Brasil, essa mudança da valorização do design no jornal se deu principalmente depois da reforma gráfica do Jornal do Brasil, em 1959, por Almícar de Castro. A força e a consistência da nova caracterização visual do jornal evidenciam o papel estruturador que o raciocínio gráfico teve dentro da iniciativa propriamente jornalística [...]. Juntamente com Jânio de Freitas e Reynaldo Jardim, Amílcar de Castro é figura-chave nesse quadro, tanto por ser sua a definição de caracterísitcas importantes do novo layout, quanto por ter formalizado ideias e princípios que contribuíram para agregar questões gráficas modernas ao discurso jornalístico da época. (LESSA, 1995, p.17)

Margolin acredita que, para os designers gráficos assumirem novo papel na comunicação, precisam entender o processo de “como as linguagens fazem intermediação, como os signos e símbolos representam conceito e valores, como as formas gráficas criam estruturas que dão forma ao fluxo das narrativas”. Para ele, a comunicação é a essência do design, logo os designers devem “encontrar seu caminho para o interior do processo de comunicação e não apenas produzir os artefatos que resultam dele.” (MARGOLIN, 1994, p.13) É esse cenário de transformação de linguagem e relação de trabalho que caracteriza o pressuposto da pesquisa, no qual o design de notícias se reinventa junto ao mercado jornalístico, se expandindo com os tablets. Para entender a atuação dos designers em uma redação é importante situar o seu papel face aos outros profissionais que atuam no processo de produção e edição jornalística. A partir de uma tabela reproduzida na wikipedia3, procuramos inserir as novas funções trazidas pela informatização e pelo surgimento do tablet. Estão destacadas em cinza aquelas que podem ser exercidas por designers.

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Disponível em: . Acesso em

novembro de 2012.

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Tabela 1 – Funções jornalísticas Função

Impresso

Rádio

TV

Digital (site)

Digital (tablet) **

Edição

Editor, Editor-Chefe, Sub-Editor

Editor

Editor

Editor, Editor de Capa

Editor, Editor-Chefe, Sub-Editor

Reportagem

Repórter, Apurador, Pauteiro

Repórter

Repórter, Videorrepórter, Produtor

Repórter

Repórter

Redação

Redator, Articulista, Colunista, Crítico, Revisor

Redator

Editor de Texto

Webwriter (Editor de Página), Redator

Redator, Articulista, Colunista, Crítico,

Imagens

Fotógrafo, Editor de Imagem

----

Cinegrafista

Apresentação

----

Locutor

Apresentador

Fotógrafo, Editor de imagem e Cinegrafista* -----

Fotógrafo, Editor de Imagem, Cinegrafista -----

Formatação

Diagramador

Editor de Som

Editor de Imagens

-----

Diagramador

Arte

Infografista, Ilustrador, Cartunista

Sonoplasta

Videografista

Videografista, Infografista*

Infografista, Ilustrador, Videografista

Técnica

Gráfico

Operador de áudio

Iluminador

Programador

Programador

*Acrescentado pelo autora **Funções para produtos autóctones, desenvolvidos especificamente para tablets

Tradicionalmente o designer atua de diversas formas para organizar visualmente as notícias, sendo uma delas a diagramação, trabalho de design editorial que faz parte do jornalismo. Diagramas são utilizados tanto para complexos projetos visuais quanto para projetos pequenos que não utilizam muitos elementos na sua composição. À ação de ordenar, de combinar elementos nestes espaços midiáticos, deuse o nome de “diagramação”. Assim, diagramação é a atividade de coordenar corretamente o material gráfico com o material jornalístico, combinar os dois elementos com o objetivo principal de persuadir o leitor. O gráfico orientando o texto e vice-versa. (HOELTZ, 2001, p.6)

Logo, é função do diagramador conceber as páginas e criar uma relação entre todas as partes ou elementos necessários para elaborar uma publicação. “A concepção total das páginas articula a mais completa concepção de design, na hipótese de que design auxilia o conteúdo verbal.” (AMES, 1989, p.5) Outro elemento presente no trabalho do designer de notícias é a infografia, cuja área pertence ao design de informação.

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Trata-se de uma área voltada para o design gráfico, mas que se relaciona com a linguística e a psicologia aplicada, como a ciência da informação, entre outras áreas. O design da informação está voltado aos sistemas de comunicação, com o objetivo de otimizar o processo de aquisição de informação (SBDI, 2008). A inclusão de infográficos nestes sistemas de informação ocorre quando explicações gráficas tornam mais eficiente a aquisição de conteúdos informacionais. (LIMA, 2009, p.23)

Lima (2009) também define os infografistas como “transformadores” da informação, “um tipo de profissional que reinterpreta a informação, ou transforma a mesma, para adequá-la a contextos sociais diferentes.” Já o brasileiro Sergio Peçanha, editor de infografia do New York Times, acredita que houve uma mudança de posição da infografia, que passou de complemento da informação a um lugar para experimentos; dessa forma, sendo um dos principais elementos de diferenciação e inovação no jornalismo. “Na infografia, você pode ver mais experimentação, já que mistura programação, roteiro, animação, jornalismo investigativo, mídias sociais. Do ponto de vista de experimentação do meio, é onde mais se vê inovação hoje”, diz Peçanha.4 Para Rodrigo Silva, do departamento de infografia do El País, o elemento básico para um bom infográfico continua sendo a informação. “Um infografista é um jornalista que também faz notícia, mas por meio de mapas, gráficos, dados de economia", diz Silva em entrevista dada ao G1. 5 No Malofiej de 2013 – encontro mundial de infografia –, Badria Abdulla Obaid, infografista do Statistics Centre Abu Dhabi, foi perguntada sobre o porquê de dedicar-se à infografia: ela respondeu que era para facilitar às pessoas terem acesso a dados cujo significado o público leigo tem dificuldade para entender. Trabalhando com estatísticas e manipulando muitos números complexos, ela precisa representá-los com infografia e, assim, facilitar a compreensão para essas pessoas.6 Se tradicionalmente o designer tinha essas atuações, no ambiente digital ele também participa estrategicamente nas tomadas de decisões interativas referentes às notícias, estabelecendo propostas visuais que aproveitam os recursos digitais. A partir dessa proposta – a de investigar mudanças na linguagem do jornalismo e no trabalho dos designers –, referências categoriais foram 4

Disponível em: http://g1.globo.com/economia/midia-e-marketing/noticia/2012/10/infografia-e-campode-inovacao-no-jornalismo-diz-brasileiro-do-nyt.html. Acesso em dezembro de 2012. 5 idem 6 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=H_ECmps-EhI. Acesso em junho de 2013.

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estabelecidas a partir de uma pesquisa bibliográfica. Complementando esse arcabouço conceitual, informações quanto ao novo mundo digital foram buscadas em pesquisas de mercado desenvolvidas fora do meio acadêmico, pois este ainda não apresenta uma massa crítica que dê conta das rápidas e constantes mudanças do jornalismo. A fim de conhecer as formas de trabalho na nova redação e os novos produtos digitais existentes, foi desenvolvido um estudo de caso do jornal O Globo, analisando fluxos e entrevistando seus profissionais, sendo possível traçar um perfil do designer nesse novo contexto. E nesse quadro se destaca o caso de O Globo a Mais, jornal vespertino exclusivo para tablet, que nos mostra um novo caminho gráfico e jornalístico. Apesar de ter sido feito um teste de usabilidade tendo em vista a avaliação de um tablet por profissionais de design, optou-se por não privilegiar essa questão, apesar da sua importância na mídia interativa. A pesquisa focalizou os novos produtos e o fluxo de trabalho. No capítulo 1 da dissertação serão caraterizados os tipos existentes de publicações jornalísticas digitais e novos hábitos de leitura. Atualmente o uso de tablets está crescendo e consequentemente as maneiras de transmitir a notícia. Foram levantados exemplos de vários jornais pelo mundo, categorizando-os em três tipos: web, flip e aplicativos autóctones. No capítulo 2 serão explicadas as etapas para a elaboração da notícia no jornal e a atuação do designer. Serão descritas as características de uma redação integrada e comparadas com o trabalho recentemente incorporado pelo tablet. Neste cenário de integração da redação das mídias digitais com a impressa, serão definidas as etapas para a produção das notícias. Com esse mapeamento do fluxo de trabalho, será descrita a atuação do designer em cada mídia. Em seguida, no capítulo 3, será analisado o caso do jornal O Globo; para isso, foram feitas entrevistas com designers que trabalham em diferentes funções no impresso, site e tablet. Finalmente será apresentado O Globo a Mais, produto exclusivo para tablet, explicando a sua forma e organização de trabalho. Concluindo o estudo, será abordado o posicionamento do designer como agente de inovação no setor econômico de comunicação.

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1 REFERENCIAMENTO TECNOLÓGICO DA CONSTRUÇÃO DA NOTÍCIA

As notícias podem ser divulgadas através de formas e mídias variadas: jornais, rádio, televisão e revistas, além do jornalismo digital. Cada tipo de mídia trabalha com um determinado suporte, ou seja: papel, som, vídeo, radiodifusão ou teledifusão eletrônicas.

1.1 Pré-digital

Os produtos jornalísticos pré-digitais são o jornal impresso, rádio e televisão. O jornal tradicional é um meio de comunicação impresso, feito com papel barato e de menor qualidade. O papel-jornal é obtido da reciclagem de pedaços de madeira não aproveitados na fabricação de móveis e fibras, cortado em folhas de tamanhos padronizados: standard (entre 60 cm x 38 cm e 75 cm x 60 cm); tabloide (cerca de 38 cm x 30 cm); tabloide berlinense – ou europeu (cerca de 47 cm x 31,5 cm). Geralmente possui periodicidade diária, mas também pode ser semanal, quinzenal e mensal. Já as revistas costumam ter uma periodicidade menor, semanal, quinzenal ou mensal. São produzidas com um papel de qualidade superior, e impressão, em sua maioria, colorida. Os formatos são: magazine (20 x 26,5 cm); americano (17 x 26 cm); francês (12 x19 cm); italiano (16,5 x 12 cm); formatinho (13 x 21 cm). Outro meio de divulgação de notícias é o rádio. Radiojornalismo é a prática profissional do jornalismo aplicada ao rádio. O texto deve ser ainda mais curto e objetivo que o texto jornalístico de mídia impressa e de TV, com vocabulário o mais próximo possível do coloquial. Deve, ainda, ser muito descritivo para compensar a falta de imagens7. Já o telejornalismo surgiu no cinema, com a iniciativa de filmar notas de tipo informativo. O primeiro filme produzido foi a saída dos operários de uma fábrica, mostrando-se assim as capacidades informativas do cinema como meio.

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Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Radiojornalismo. Acesso em maio de 2013

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Com a chegada da televisão, os noticiários de cinema foram gradualmente perdendo relevância. O jornalismo de televisão copiou o formato do rádio: as primeiras notícias eram lidas diante da câmera. Algum tempo depois, surgiram as imagens que, no início, não possuíam som. Mais tarde, os filmes passaram a ser sonoros, com a utilização de uma câmera-gravadora. Logo depois, surgiu o videoteipe e a transmissão de imagens via satélite, o que acelerou o ritmo das transmissões.

1.2 Digital

Com o avanço das novas tecnologias, o jornalismo digital surgiu, cresceu e apresentou diversas formas de divulgação, como websites, blogs, newsletters, aplicativos para celulares e tablets. No jornalismo digital houve tanto uma adaptação do que já era feito para outras mídias como a criação de conteúdo exclusivo com produtos novos. O que diferencia a literatura eletrônica ou ciberliteratura da literatura tal como foi concebida pela modernidade não é o meio em que é publicada, como o computador e os e-readers. Sua singularidade está no fato de ter sido especificamente criada para o formato digital, explorando todas as suas funcionalidades. (BARSOTTI, 2010)

O jornalismo para dispositivos móveis modifica o cenário digital, uma vez que “demanda a produção e veiculação de produtos e serviços para um ambiente móvel, instantâneo, portátil e ubíquo.” (BURGOS, 2013) Além disso, a narrativa multimídia mistura vários campos artísticos, como relata Barsotti (2010), tais como as artes plásticas, o design, o vídeo e a música, mas também os games e a programação. No caso de edições jornalísticas produzidas especificamente para tablets, vemos uma mescla de características de diferentes mídias: A experiência retorna ao conceito de leitura sequencial, com uma ordem de leitura “sugerida” editorialmente, a exemplo dos modelos impressos. Entretanto, a qualquer momento o usuário pode alterar o fluxo de navegação, seja através de atalhos e menus contextuais, seja retornando a uma página de índice que tem a função de home-page. Percebe-se, dessa forma, que o modelo implementado busca mesclar características das duas mídias anteriores. Além disso, a interatividade é levada ao seu limite, com a utilização cada vez maior de infográficos, vídeos e hipermídias. (LOHMANN, BITARELLO e ROCHA, 2011)

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Dessa forma, percebe-se o retorno do “manuseio” da notícia e da navegação sequencial, e também mantém-se a possibilidade do usuário estabelecer o seu próprio fluxo de leitura. Sintetizando: foi observado um modelo para tablet que busca mesclar características das mídias anteriores, juntando conteúdo interativo sem abrir mão da estrutura de códice, própria da versão impressa. Porém, esta simulação do livro impresso, conforme também constatam Lohman, Bitarello e Rocha, ganha uma nova dimensão, tanto graças à tecnologia touchscreen, quanto pela interatividade hipermidiática, envolvendo texto, imagens, infográficos, vídeos e áudios.

1.2.1 Novos hábitos de leitura em dispositivos móveis

Para analisar os diferentes modos de visualização de conteúdo nas diversas mídias é importante saber como elas tendem a ser lidas e usadas pelos leitores. Neste sentido, citamos a pesquisa de cunho etnográfico desenvolvida com leitores habituados a consultar o portal Zerohora e o Zero Hora impresso, publicada por Knewitz e Jacks em 2011. As autoras consideraram três modalidades de leitura: a) de contextualização, que busca uma visão geral e que pode ser cumulativa (leitura do jornal impresso e do digital) ou substitutiva (leitura apenas do jornal digital); b) de atualização, que retorna ao jornal para acompanhar o desdobramento de notícias; c) de projeção, que busca retomar fatos e antecipar assuntos do dia seguinte. Essas modalidades são associadas a outras categorias, presentes na Tabela 2. Podemos perceber que, dependendo do contexto de leitura, o usuário pode estar propício a aceitar diferentes modos e complexidades de comunicação. Com base nas entrevistas realizadas, por exemplo, Knewitz e Jacks observam em relação ao jornal online que: Os informantes expressaram não gostar de “compor” as notícias ou de ter que clicar em algum link para tomar contato com o conteúdo; preferem ter as informações expostas em um mesmo plano. É por isso, por exemplo, que alegaram prestar mais atenção em fotos na versão impressa do que na web. Sobre os vídeos e áudios, os sujeitos investigados salientaram alguns ganhos de seu uso para reforçar, contextualizar, precisar e validar informações, mas assumiram fazer uma exploração bastante restrita desses recursos. Entre os motivos para essa utilização limitada foram citados: falta de tempo, baixa qualidade ou relevância dos materiais disponíveis, bloqueio de acesso no ambiente de trabalho e obstáculos de ordem técnica. (KNEWITZ e JACKS, 2011, p. 214)

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Tabela 2 - Síntese das características das leituras de contextualização, de atualização e de projeção. Categoria analítica

Leitura de contextualização Leitores cumulativos

Leitores substitutivos

Leitura de atualização

Leitura de projeção

Suporte

Papel

Tela

Tela

Tela

Local

Predominantemente no trabalho

Predominantemente no trabalho

Trabalho e faculdade

Casa

Uso do hipertexto

Escasso, pois Para se deslocar as pessoas diretamente da capa Para promover uma costumam se para certas notícias leitura mais profunda e contentar com ou, por meio da desordenada e facilitar a a leitura dos diagramação, para seleção dos conteúdos títulos da capa, prover a leitura alinear e a consulta a outras sem explorar das notícias dentro de fontes os demais uma mesma página níveis do site

Para promover uma leitura mais profunda e desordenada e facilitar a seleção dos conteúdos e a consulta a outras fontes

Uso dos recursos multimídia

Escasso e focado predominantemente em infográficos

Uso mais intenso quando vinculados às notícias de última hora

Momento em que os áudios e vídeos são mais acessados

No máximo 30 minutos

Em geral, pelo menos três acessos de cerca de cinco minutos cada

De 20 minutos a uma hora

Profundidade Alta

Média

Baixa. A proposta da leitura é justamente ser superficial

Média

Memorização

Média e restrita

Baixa e restrita

Média e restrita

Duração

Consulta a textos e imagens

Pelos menos 30 minutos

Alta e ampla

Fonte: Knewitz; Jacks, 2011, p. 218

Isto evidencia que não deve haver uma correlação necessária entre a tecnologia mais recente e a abundância de recursos. Apesar das variadas possibilidades oferecidas pelos tablets, nem sempre há a necessidade da utilização exaustiva de elementos multimídias. Deve-se analisar cada caso isoladamente e não usar recursos dispensáveis; além dos motivos citados pelos entrevistados, eles também podem tornar o arquivo mais pesado e dificultar o download. Criticando o uso indiscriminado de novas tecnologias, Donald Norman enfatiza, por exemplo, que “a recente corrida dos engenheiros de software para

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desenvolver interfaces gestuais tem levado ao esquecimento dos princípios e dos padrões sedimentados do design de interação” (NORMAN e NIELSEN, 2010). E fazemos aqui uma crítica ao design de interação, que também não levou em consideração muitos conhecimentos prévios do design gráfico. Logo, apesar da vinda de novas tecnologias e novos meios de expressão, o caminho deve ser o desenvolvimento contínuo do conhecimento e de experiências, sem ruptura do que já estava sendo estudado, de uma forma dinâmica e interdisciplinar. Porém, há como se explorar recursos gráficos alternativos para transmitir uma notícia e constatou-se que esse tipo de representação é bem recebido pelos leitores. Comparando o tempo de leitura entre as mídias, o jornal impresso no Brasil tinha um tempo de leitura de 41 minutos por dia em 2003, caindo para 35 minutos em 2012. As revistas eram lidas em média em 54 minutos em 2003 e passaram para 39 minutos em 2012 (Tabela 3). Por sua vez, a internet teve uma considerável alta, passando de 139 minutos em 2003 para 170 minutos em 2012. Esse aumento fez com que ela se tornasse a principal mídia de leitura dos jornais, ultrapassando a televisão, que teve uma queda para 129 minutos por dia. Tabela 3 - Tempo de leitura dos jornais (minutos por dia)

Fonte: Ibope Mídia (Brazil) – Target Group Index - Ano 10

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Disponível em: . Acesso em junho de 2013

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Não só o tempo de leitura aumentou na internet, como as mídias preferidas para se informar mudaram. De acordo com o Pew Research Center9, nos Estados Unidos, em 2008 o jornal digital tinha 29% da preferência, ficando atrás da televisão, rádio e jornal impresso. Em 2012 o digital subiu para a segunda posição na preferência de mídia. Figura 2 - O horário nobre da internet no Brasil nos dias úteis

Fonte: Hi-mídia. Dados de 2012.

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Essas novas mídias também mudaram os hábitos de leitura, transformandose em um perfil de uso noturno nos dispositivos móveis. A faixa das 19h às 22h é considerada o horário nobre da internet, no período de segunda-feira a sexta-feira, segundo pesquisa realizada pela Hi-Midia e a M.Sense no Brasil. PCs e laptops são fortes no horário de trabalho, mas começam a baixar drasticamente a partir das 18h. O acesso pelo smartphone é estável o dia inteiro e depois das 18h, chega ao máximo. Já o tablet tem alto uso pela manhã, fica fraco durante o dia e sobe muito à noite. (Figura 2) Esses dados são explicados já que tablets e smartphones são

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Disponível em: http://www.people-press.org/2012/09/27/in-changing-news-landscape-eventelevision-is-vulnerable/. Acesso em novembro 2012 10 Disponível em: http://www.hi-midia.com/pesquisas/pesquisa-aponta-o-horario-nobre-da-internet-nobrasil/. Acesso em novembro de 2012

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dispositivos móveis e, assim, mais usados durante o deslocamento dos usuários. O hábito de leitura noturno é uma característica que contrasta com o uso no local de trabalho, sendo preferido em um ambiente de relaxamento em casa. Na avaliação do Instituto Verificador de Circulação (IVC)11, a audiência por computador é maior das 8h às 18h e tem queda à noite por ser mais utilizado no trabalho. Já os adeptos dos tablets navegam mais na web das 21h às 23h e o dos smartphones, às 8h e às 18h, horários em que as pessoas geralmente estão em trânsito para ou de volta do trabalho. Mesmo sendo dados do Brasil, esses hábitos são corroborados com os gráficos a seguir do The Guardian, de abril de 2013: Figura 3 - Audiência do The Guardian durante o dia

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1. Consumo do jornal impresso durante o dia (linha azul escura) 2. Consumo de website tradicional durante o dia (linha vermelha) 3. Consumo de mobile website durante o dia (linha azul clara) 4. Consumo de mobile app durante o dia (linha laranja) 5. Consumo do website via tablet durante o dia (linha verde)

Com a análise deste gráfico, podemos perceber que há diferentes ritmos de leitura do mesmo jornal, The Guardian, em variadas mídias. Durante a manhã, a versão mais acessada é a do jornal impresso; no período da noite, o pico de leitura acontece às 21h, com o site visualizado pelo tablet. Ainda de acordo com a pesquisa da Hi-Midia e a M.Sense (Figura 2), 41% dos entrevistados afirmam que as principais atividades na internet são navegar nas 11

Disponível em: http://www.ivcbrasil.org.br/conteudos/pesquisas_estudos/AudienciaWeb2012.pdf Acesso em abril de 2013 12 Disponível em: http://www.pressgazette.co.uk/content/five-guardian-graphs-show-how-tablets-arechanging-web-consumption. Acesso em maio de 2013

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redes sociais, seguida da leitura de notícias (32%) e visualização de vídeos (31%). Já aos sábados e domingos, a maior concentração de acesso ocorre das 14h às 22h. Nesse caso, as atenções ficam voltadas ao entretenimento (53%) e à leitura de e-mails (41%). Outra tendência mundial é o fenômeno das duas telas, em que o usuário interage com diferentes dispositivos ao mesmo tempo, como por exemplo o uso das redes sociais em conjunto com outras mídias de massa, especialmente a TV. As pesquisas feitas pelo Facebook no Brasil13 comprovam que há um número significativo de interações durante transmissões como futebol e novelas. Isso pode ser percebido, por exemplo, no último capítulo das novelas, em que a audiência é maior e consequentemente há um maior investimento em publicidade no Facebook, na esperança de alcançar esse público. Podemos também ver essa tendência pela parceria do Ibope Media com o Twitter. O Ibope, que já monitorava a audiência da TV, passa a medir como os telespectadores brasileiros interagem com a programação televisiva pelo Twitter. O Ibope Twitter TV Ratings (ITTR) é uma estratégia da rede social de se associar com a experiência televisiva, a chamada “segunda tela”. O ITTR funciona da seguinte forma: monitora em tempo real todos os tweets escritos por brasileiros e os compara com palavras-chave associadas ao que está passando na TV naquele momento. Dessa forma, é possível saber quantas mensagens foram escritas sobre determinado programa e quantos internautas viram aqueles tweets. Como afirma Guilherme Ribenboim, diretor geral do Twitter Brasil, em reportagem ao jornal O Globo: O Twitter é uma plataforma de conversas aberta, sem filtros e em tempo real, o que cai bem com reações ao vivo aos programas de televisão. O comportamento da segunda tela fez com que surgisse espontaneamente no 14 mercado a demanda pela medição desse engajamento.

De acordo com pesquisa feita pela GfK MRI iPanel15, com usuários de tablets dos EUA em abril de 2012, sobre tablets e multi-tasking, 90% dos usuários de tablets são multi-task e 40% do tempo estão realizando outras atividades durante o uso. (Figura 4) 13

Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/1190864-proximo-bilhao-de-usuarios-vira-docelular-diz-executivo-do-facebook-no-brasil.shtml. Acesso em dezembro de 2012 14 Ibope vai medir a audiência da TV também no Twitter. O Globo, 8/5/2014. 15 Disponível em: http://www.gfkmri.com/assets/PDF/iPanelReporter_Tablets%20&%20Multitasking.pdf. Acesso em janeiro de 2013

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Na Figura 5 podemos ver uma série de atividades listadas que são praticadas durante o uso de tablets. A experiência em diferentes dispositivos simultaneamente também acompanha a tendência de uso noturno: 89% dos proprietários de tablets utilizam-nos quando estão em casa, e 60% o fazem no horário entre 17h e 20h. (Figura 6) Figura 4 - Usuários de tablet multi-task (continua)

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Figura 5 - Usuários de tablet multi-task (continuação)

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Figura 6 - Usuários de tablet multi-task (conclusão)

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Infográfico: Carlos Monteiro .

O uso dos dispositivos móveis, como celulares e tablets, agrega uma praticidade cada vez mais exigida pelos usuários. Os tablets estão diminuindo de tamanho para ser mais portáteis, enquanto os celulares estão aumentando suas telas para dar mais conforto na leitura. Estes novos dispositivos - que estão no meio do caminho entre smartphones e tablets - são chamados de phablets, pois possuem um tamanho entre 5 e 7 polegadas, confirmando o caminho da mobilidade agregada à funcionalidade. Essa tendência é mundial e afeta diferentes setores industriais. O presidente do Facebook na América Latina, Hohagen, em entrevista à Folha, em 2012, disse que a companhia está cada vez mais migrando para o modelo de negócios "mobile first”. “Tudo o que fazemos está focado em oferecer uma experiência tão boa no celular quanto no PC, o que é um desafio. O nosso próximo bilhão de usuários virá principalmente daí.” 17 16

Disponível em: http://www.adweek.com/news/technology/data-points-two-screen-viewing-145014 Acesso em dezembro de 2012 17 Disponível em: . Acesso em dezembro de 2012

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Tudo indica que indústrias jornalísticas também devem adotar o critério “móvel primeiro” e criar negócios sustentáveis, embora várias redações acreditem que o “móvel também” irá ser o suficiente. Cory Bergman - Gerente Geral do Breaking News, uma startup “mobile-first” que pertence à NBC News Digital - citou 5 razões para o mobile desestruturar o jornalismo tradicional, assim como a Internet fez uma década atrás. Primeira razão: design responsivo não é uma estratégia mobile, logo não adianta apenas pensar na adaptação do site para diferentes tamanhos de telas; segunda razão: dispositivos móveis não irão só superar o desktop, mas começam a destruí-lo; terceira: a queda do desktop irá pressionar a receita das notícias, exigindo novas abordagens financeiras; quarta: notícias precisam resolver problemas e não apenas informar; e quinta razão: empresas de tecnologias são mobile-first e gastam como tal, assim também deveriam ser os investimentos das empresas de jornalismo.18 Um exemplo do uso de dispositivos móveis, tanto em iOS quanto em Android, é que 80% do tempo gasto nesses devices é através de aplicativos, contra 20% em navegadores, e esses números vêm aumentando, de acordo com pesquisa feita pela empresa Flurry Analytics com consumidores norte-americanos (Figura 7). Isso demonstra que os sites não estão sendo desenhados pensando primeiramente no mobile; dessa forma, a experiência do usuário não é satisfatória. Em contrapartida, há os aplicativos desenvolvidos especificamente para essa finalidade, ganhando a preferência da maioria das pessoas. Tudo isso nos leva a perceber que o desafio do momento é o de aprimorar o jornalismo online e implantar o jornalismo em aplicativo móvel. E isto implica não apenas na atualização tecnológica constante, mas também no acompanhamento analítico da recepção dos novos modos de visualização de conteúdo por parte do leitor.

18

Disponível em: http://www.poynter.org/latest-news/media-lab/mobile-media/204107/5-reasonsmobile-will-disrupt-journalism-like-the-internet-did-a-decade-ago/. Acesso em abril de 2013

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Figura 7 - Tempo gasto em dispositivos IOS e Android

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Disponível em: . Acesso em maio de 2013

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1.2.2 A consolidação na presença dos tablets

A venda de tablets está em ascensão e, consequentemente, o número de novos usuários; é nesse mercado que o jornal tenta encontrar um nicho. O jornalista estadunidense Ken Doctor, autor do livro "Newsonomics – Doze Novas Tecnologias que Moldarão as Notícias", acredita que o tablet é o elo perdido que os jornais procuravam para substituir o jornal impresso. Para ele, a tendência é que a década de 2010 seja a virada para a predominância da mídia digital. Os tablets ocupariam posição decisiva nesse contexto, dado o seu grande potencial de exploração de publicidade.20 Tablets e smartphones são um novo e importante suporte que tem se popularizado muito, com o seu uso aumentando cada vez mais. No Brasil, o mercado de tablets cresceu 275% no segundo trimestre de 2012 em comparação ao mesmo período do ano anterior, de acordo com um estudo divulgado pela consultoria IDC. Já em 2013, as vendas mundiais atingiram 49,2 milhões de unidades no período de janeiro a março, 142,4% a mais que no mesmo período de 2012. Pela primeira vez o sistema iOS, da Apple, foi ultrapassado pelo Android, porém o iPad ainda teve um aumento de 65,3%, com 19,5 milhões de unidades.21 Essa mudança, na liderança dos tablets mais vendidos, mostra outra tendência interessante de ser analisada: o aumento das vendas de tablets com preços mais acessíveis. De janeiro a setembro de 2012, 52% das vendas no Brasil foram de tablets de até R$ 1 mil, o que indica uma inversão em relação a 2011, quando a Apple dominava o mercado e 61% das vendas eram de aparelhos acima de R$ 1 mil. No final de 2012, a líder era a mineira DL, que passou a Apple e Samsung, oferecendo tablets a partir de R$ 399. O aumento da oferta de tablets por diversas fabricantes faz com que o preço caia ainda mais, assim como ocorreu com os smartphones, tornando-se um produto popular. O crescimento do poder aquisitivo da classe C no Brasil justifica essa nova realidade nas vendas dos tablets. Esse crescimento também foi percebido no mercado de jornais impressos: enquanto em todo o mundo a circulação estava 20

Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=1308031&tit=Tablet-deve-ser-aprincipal-plataforma-a-substituir-o-papel-diz-analista. Acesso em novembro de 2012 21 Vendas de tablets crescem 142% no primeiro trimestre. O Globo, 3/5/2013

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caindo, no Brasil ainda havia um crescimento devido ao sucesso de jornais populares que alavancaram a indústria jornalística. Porém, em 2013, os jornais brasileiros não mantiveram a tendência de crescimento anterior; de acordo com os dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC), os jornais impressos tiveram uma queda de 3,7% em sua circulação paga. Essa retração teria sido decorrência justamente do recuo nas vendas dos jornais populares, que vinham sustentando a alta durante a maior parte do período.22

1.2.3 A viabilização econômica do negócio digital

Apesar da ascensão dos tablets e do novo mercado que está se abrindo, uma preocupação ainda reina nos jornais: como sustentar economicamente um negócio digital? Já existem métricas que mostram um crescimento de 1,8% em circulação, registrado pelos jornais, devido às edições digitais. Dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC) mostram que a circulação digital dos jornais brasileiros cresceu 128% em 2012, em comparação com o ano anterior. Esse grande salto conseguiu elevar em 1,8% a média geral de circulação no ano, que encerrou 2012 com uma média de 4.520.820 exemplares (número recorde na auditoria do IVC).23 Mas como cobrar por um conteúdo digital? Apesar de muitos métodos terem sido aplicados, não se chegou a nenhuma conclusão. Alguns especialistas defendem o conteúdo gratuito como um costume já adquirido pelo usuário digital, e outros acreditam que essa realidade está mudando. Para Rosental Calmon Alvez, professor da Universidade do Texas, não há nada de errado em ser grátis, porém é necessário fazer as contas. Ele alerta, “não existe refeição grátis. Toda vez que você vê alguma coisa grátis é porque o produto é você”. Ele citou algumas experiências de diversificação de receita para empresas de mídia, como por exemplo a criação de departamentos de serviços de soluções

22

Disponível em: http://www.anj.org.br/cenario. Acesso em julho de 2014 Nessa contagem total estão inseridas todas as edições das publicações auditadas pelo Instituto. Disponível em: http://www.meioemensagem.com.br/home/midia/noticias/2013/01/23/Jornais-ficam-estagnadosem-2012.html#ixzz2Ipndtykf. Acesso em fevereiro de 2013 23

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digitais e de eventos, para assim oferecer produtos além de notícias. Ele acredita que as empresas de mídia devem pensar como empresas de tecnologia, não apenas como jornal ou televisão, mas sim como plataforma tecnológica. “É preciso descobrir novas linguagens e novas formas de se fazer jornalismo", afirmou em entrevista ao G1.24 Já o jornalista Pedro Doria, em artigo publicado em O Globo sobre os dez anos da loja iTunes, acredita que a Apple mostrou um caminho para a venda de conteúdo digital. “As pessoas não são contra pagar, se valorizam o que compram. Conforme o digital faz parte de nossos cotidianos, gastamos com ele. No rastro da loja iTunes, veio [...] a cobrança, pelo jornal americano New York Times, de uma assinatura digital paga por mais de meio milhão de leitores.” (DORIA, 2013) Contrariando a premissa de que na rede tudo seria de graça, Steve Jobs mostrou o contrário: o conteúdo não perde valor por ser digital. O paywall (muro de pagamento) pode ser de diferentes maneiras: para qualquer conteúdo digital; para assinaturas que são distribuídas através de todas as plataformas (o leitor paga uma vez e pode receber em papel, tablet, browser; para acessar um certo número de textos mensais gratuitamente, como é o caso do New York Times, e só então atingir o muro de pagamento); ou para pagar por certas partes do conteúdo editorial que o leitor tenha mais interesse. Para Amy Mitchell, do instituto Pew, as empresas jornalísticas precisam “entender seu mercado, sua audiência, e se capacitar assim a descobrir o modelo que funcionará melhor.”25 Morgan Guenther, CEO da Next Issue Media, acredita que uma solução muito simples seria o modelo da Netflix – em que o pagamento de uma mensalidade dá direito a centenas de filmes disponíveis – para revistas. “Você pega todos os grandes títulos no mundo e disponibiliza on-demand no seu tablet por um preço baixo por mês.”26 Além da venda de conteúdo digital, os anúncios também representam uma parcela importante na viabilização desse novo negócio. Os anúncios em jornais online no Brasil representaram 12,7%, em outubro de 2012, do faturamento da internet com publicidade no país, segundo o Projeto Inter-Meios, do grupo Meio & 24

Disponível em: http://g1.globo.com/economia/midia-e-marketing/noticia/2012/10/cobrar-porconteudo-nao-e-salvacao-diz-professor-e-pioneiro-da-web.html. Acesso em novembro de 2012 25 Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/1195991-fim-do-the-daily-mostra-desafiopara-novas-marcas-diz-analista.shtml. Acesso em janeiro de 2012 26 Disponível em: http://finance.yahoo.com/blogs/breakout/top-publishers-join-forces-create-netflixmagazines-180112956.html. Acesso em novembro de 2012

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Mensagem. Houve um crescimento em comparação a janeiro do mesmo ano, em que receberam 7,9%. Os anúncios nos sites representam 4,2% do faturamento total dos jornais com publicidade.27 Já no caso da revista Wired, a participação da publicidade online já era de 50% em 2012. “Digital contribuiu com metade de toda a receita publicitária da revista Wired nos últimos três meses de 2012. [...] Em todo o ano, anúncios digitais constituem 45% do total de vendas de anúncios na Wired.”28 As agências estão começando a descobrir - e valorizar - esse tipo de exposição publicitária. Os anúncios em tablets são três vezes mais eficientes e têm um índice de influência altíssimo, diz a jornalista Ana Ormaechea: As pessoas podem passar horas lendo uma só página e isso é algo que não se pode dizer na web e nem no papel. Ainda permite que a publicidade seja muito interativa, que vá mais além do visual e que o usuário pode inclusive ‘tocar’. Lamentavelmente, as métricas, a medição de dados para saber como se consomem os conteúdos em tablets, ainda têm que evoluir e os anunciantes têm que se acostumar a gerenciar e a interpretar esses 29 dados.

Diante dessa nova realidade e das possibilidades que estão crescendo, a tendência é do jornalismo dar cada vez mais atenção a suas mídias online. Não apenas como um suporte ou complemento da versão impressa, mas como conteúdo principal. Isso já é uma estratégia do jornal Financial Times, de Londres, como disse o seu editor, Lionel Barber, em e-mail enviado para toda a redação: "Nós precisamos garantir que estamos servindo a plataforma digital primeiro e o jornal em segundo. Esta é uma grande mudança cultural para o FT, que só deve ser alcançada com maiores mudanças estruturais.”30 Essa estratégia ainda é muito arriscada financeiramente, já que os anúncios e a venda do jornalismo digital não se sustentam. Como exemplo temos o jornal The Daily, que um ano e meio depois do seu lançamento encerrou suas atividades, mostrando os desafios de uma publicação exclusivamente digital.31

27

Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/1218423-cresce-participacao-dos-jornaisbrasileiros-na-publicidade-on-line.shtml Acesso em fevereiro de 2013 28 Disponível em: http://adage.com/article/media/digital-cracks-50-ad-revenue-wiredmagazine/238986/ Acesso em fevereiro de 2013 29 Disponível em: http://233grados.lainformacion.com/blog/2012/08/ana-ormaechea-poner-un-pdf-enuna-tableta-es-como-retransmitir-teatro-por-televisión.html Acesso em novembro de 2012 30 Disponível em: http://info.abril.com.br/noticias/mercado/jornal-financial-times-planeja-migracaopara-o-digital-22012013-23.shl Acesso em março de 2013 31 Disponível em: http://mashable.com/2012/07/31/the-daily-layoffs/?utm_medium=referral&utm_source=pulsenews Acesso em novembro de 2012

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1.3 Tipos de publicações jornalísticas em dispositivos móveis

Dispositivos móveis são aparelhos computacionais de pequeno porte, como assistentes digitais pessoais, telefones celulares, smartphones, e-readers e tablets. Neles são instalados os chamados aplicativos, que podem ser definidos como um programa ou um tipo de software projetado para preencher uma determinada demanda.32 Para criar um aplicativo, deve-se pensar que tipo é necessário: Webapp ou aplicativo nativo. Um app nativo é desenvolvido para um dispositivo móvel específico (celular, tablet etc) e instalado diretamente no aparelho. Os usuários geralmente baixam esses apps através de uma loja online, como App Store ou Google Play. Quando fala-se em webapp, refere-se a apps habilitados na internet com uma funcionalidade específica para dispositivos móveis. Eles são acessados através de navegadores e não precisam ser baixados e instalados no aparelho. “Sites são uma boa pedida quando o foco é consumo de conteúdo puro e simples. Se for requerer muita interação por parte do usuário, porém, pode ser uma ideia melhor desenvolver um app.” (NIELSEN, 2011, p.12) Burgos descreve as diferenças entre os aplicativos: Em relação a sua tipificação os apps podem ser: nativos, quando desenvolvidos com o Software Development Kit ou SDK de um sistema operacional específico; web, quando projetados para o ecossistema web app de acesso remoto (nuvem) e híbridos, aqueles que têm como predominância uma webview incorporada aos controles de aplicativos nativos. (BURGOS, 2013)

Nesta pesquisa propomos a divisão de produtos jornalísticos para tablets em três categorias. Produtos para website - visualizados em um navegador ou através de aplicativos online, em que é necessária conexão com a internet para acessar o conteúdo; Flip - versão do jornal impresso em pdf, sem adaptação do conteúdo; e aplicativos autóctones, nos quais o produto é projetado com interações específicas para cada dispositivo. Estes dois últimos são produtos com edições fechadas em que pode-se fazer download e navegar offline. Na tabela a seguir temos a divisão dos três tipos de produtos, mostrando a trajetória da criação até a adaptação digital: 32

Disponível em: http://www.oxforddictionaries.com/definition/english/application Acesso em abril de 2014

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Tabela 4 - Produtos jornalísticos em tablet

Fonte: Desenvolvido pela autora.

1.3.1 Website

Os sites jornalísticos são portais de notícias desenvolvidos para navegadores (ex. Google Chrome, Firefox, Safari, Internet Explorer etc). Quando acessados através de dispositivos móveis, muitos jornais têm os seus sites programamados para modificar o layout de acordo com o tamanho da tela em que será visto. Essa configuração adaptável se chama design responsivo: ... se refere a um método de estruturação para o dimensionamento de conteúdos do ecossistema desktop para mobile, sem que ocorra a necessidade de incluir na linguagem de programação do website folhas de estilos específicas para as diferentes orientações de telas, densidades de pixels e dimensionamentos de imagens, de cada smartphone ou tablet. O design responsivo reúne as linguagens HTML5, CSS3, seus atributos Media Queries, às técnicas de layouts (grids) fluidos e de imagens flexíveis. (BURGOS, 2013)

Esses websites visualizados em dispositivos móveis precisam de conexão com a internet para mostrar o conteúdo e são uma adaptação do site já existente para desktop, sem criação exclusiva para esse formato. Como exemplo temos o

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webapp do jornal Folha de São Paulo, acessado por um navegador, mas com uma customização do layout (Figura 8). Websites também podem ser acessados através de aplicativos online programas baixados para o aparelho -, com conteúdo que depende de conexão com a internet. Há aplicativos para cada sistema operacional, tanto para celular como para tablet. O conteúdo geralmente é o mesmo publicado nos sites, mas com uma apresentação diferente: há uma preocupação de usabilidade específica para cada dispositivo. Esse modelo é o mais utilizado, por ter uma boa navegação e não ser necessária a criação de conteúdo exclusivo. Um exemplo de aplicativo online é o extinto jornal The Daily, que foi criado especificamente para tablet, sem ter versão impressa. Sua proposta era de um aplicativo em que o conteúdo fosse constantemente atualizado (Figura 9). Figura 8 - Website da Folha de S.Paulo

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Figura 9 - Webapp do jornal The Daily

1.3.2 Flip

Aplicativos com edições fechadas são produtos mais parecidos com publicações impressas: apesar de precisarem de conexão com a internet para baixar a edição, o leitor pode navegar offline sem ser interrompido após ter sido feito o download. O flip é a reprodução idêntica do jornal impresso em pdf e sua navegação simula o passar de páginas do papel. Muitos jornais oferecem esse tipo de visualização: como exemplo, temos os aplicativos para tablet do jornal Extra (Figura 11), O Globo e Folha de São Paulo, em que é possível aproximar as reportagens – “fazendo zoom” nas páginas - e pesquisar nos textos. Ainda podemos ver uma variação desse modelo com a adaptação do conteúdo e enriquecimento com as funcionalidades do tablet. Podem ser acrescentados ao pdf um vídeo, uma fotogaleria, um scroll de texto ou um link. Um exemplo desse modelo adaptado é o aplicativo do jornal Estado de São Paulo (Figura 13) e Gazeta do Povo.

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Figura 10 – Banca do aplicativo do jornal Extra

Banca do aplicativo onde é possível baixar as edições diárias do jornal

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Figura 11 - Flip do jornal Extra

Uma vez baixada, a edição fica disponível para ser lida offline. O flip é a versão pdf do jornal impresso

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Figura 12 - Estadão Premium

Reprodução do jornal impresso do Estado de S. Paulo

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Figura 13 - Estadão Light

O Estadão Light é a adaptação do flip para tablet, com o mesmo conteúdo publicado na versão impressa

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1.3.3 Aplicativos autóctones

Aplicativos autóctones são publicações feitas especificamente para tablets, explorando as possibilidades desta plataforma. Este modelo é mais usado em revistas e ainda está crescendo entre os jornais. Por apresentar um enriquecimento maior e mais interatividade, é necessária uma produção mais trabalhosa que dificulta sua publicação diária. Barbosa (2013) chama essa categoria de quinta geração de desenvolvimento para o jornalismo nas redes digitais. Ela situa as mídias móveis como agentes propulsores de um novo ciclo de inovação, no qual “a emergência dos chamados aplicativos jornalísticos autóctones para tablets são produtos paradigmáticos.” (BARBOSA, 2013) Ela define aplicativos autóctones como aplicações criadas de forma nativa com material exclusivo e tratamento diferenciado (BARBOSA, FIRMINO DA SILVA, NOGUEIRA, 2012). Estes se destacariam como potencialmente mais inovadores, tendo mais campo para exploração de conteúdo de forma original, levando-se em conta as características e potenciais oferecidos pelo dispositivo. Como exemplo temos O Globo a Mais (O Globo) e La Repubblica Sera (La Repubblica, Itália) (Figura 14) e, com menos interação, Estadão Noite (O Estado de S. Paulo) e a revista Folha 10 (Figura 15), da Folha de S. Paulo. Geralmente, esses produtos disponibilizam seus conteúdos no período da noite, como é o caso de O Globo a Mais, às 18h; La Repubblica Sera, às 19h, e Estadão Noite, às 20h. Figura 14 - La Repubblica Sera

Primeiro aplicativo autóctone lançado para tablets

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Figura 15 - Folha 10

Publicação semanal da Folha de S.Paulo

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2 FLUXO DE TRABALHO

Podemos definir fluxo de trabalho como o “processo de automatização dos procedimentos em que documentos, informações ou tarefas são passados entre os participantes de acordo com um conjunto definido de regras para alcançar, ou contribuir, para uma meta global de negócios.” (HOLLINGSWORTH, 1995) Em uma empresa de comunicação, o objetivo do fluxo de trabalho é a captação e tratamento escrito, oral, visual ou gráfico da informação, em qualquer mídia. Para isso, a redação de um jornal se organiza em quatro etapas distintas: pauta, apuração, redação e edição.

2.1 Etapas para produção da notícia

As etapas da produção da notícia que sintetizam um consenso da experiência jornalística são: •

Pauta: seleção dos assuntos que serão abordados. É a etapa de escolha sobre quais indícios ou sugestões devem ser considerados para a publicação final.



Apuração: processo de averiguar a informação em estado bruto. A apuração é feita com documentos e pessoas que fornecem informações, chamadas de fontes.



Redação: tratamento das informações apuradas em forma de texto verbal. Pode resultar num texto para ser impresso (em jornais, revistas e sites) ou lido (no rádio e na TV).



Edição: finalização do material redigido em produto de comunicação, hierarquizando e coordenando o conteúdo de informações na forma final em que será apresentado. No jornalismo impresso, a edição consiste em revisar e cortar textos de acordo com o espaço de impressão pré-definido. A diagramação é a disposição gráfica do conteúdo e faz parte da edição de impressos. No radiojornalismo,

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editar significa cortar e justapor trechos sonoros junto a textos de locução, e, no telejornalismo, edição de imagens em movimento. 33 Neste cenário, quando as definições de conteúdo são feitas por jornalistas (repórteres e editores), os designers trabalham com uma ideia proposta pelo editor, sem uma participação anterior que poderia auxiliar na definição da melhor maneira para ilustrar a notícia. Quando as informações chegam, já há uma predefinição do conteúdo, dificultando a elaboração de propostas alternativas de representação. Porém, a partir de 1980, sempre que houve uma reforma editorial e gráfica nos jornais, o designer foi deslocado para a fase de tomada de decisões, através da presença de um editor de arte nas reuniões de pauta e de planejamento de ações editoriais. (MORAES, 2010, p.168) Moraes destaca a diferença de atuação do profissional em reportagens com notícias ordinárias e extraordinárias, chamadas de apostas. Na rotina diária da redação, o designer se concentra na produção de discurso para esse segundo tipo de reportagem, enquanto as demais podem ser desenvolvidas por outros tipos de profissionais, através de templates. (Figura 16) É interessante comparar esse esquema com a pesquisa desenvolvida nos EUA pela designer Rachel Schallom (2012), que enfoca a satisfação dos designers que trabalham em jornal e se consideram jornalistas. A autora indica como este autorreconhecimento leva a posicionamentos dentro da redação, no trabalho e na preparação para os projetos, que causam satisfação. De acordo com Schallom, designers que se veem como jornalistas ficam satisfeitos em colaborar com editores e repórteres, pois gostam de criar conteúdo. Por outro lado, os que não se consideram jornalistas diziam que não liam, nem se interessavam pelo assunto das reportagens; eles só gostavam do ofício de designer gráfico. Estes últimos, geralmente, são profissionais formados em escolas de arte ou design, raramente estudaram jornalismo, e preferem trabalhar em escritório de design ao invés da redação. Os profissionais que se consideram jornalistas valorizam a qualidade do jornal como um todo e como o trabalho deles impacta os leitores. Eles se importam em informar o público e acreditam que criação do conteúdo é dever dos designers, lançando ideias através de mapas, gráficos ou outras soluções. Em contrapartida,

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Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jornalismo. Acesso em novembro de 2012

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designers que não se consideram jornalistas se concentram em liberdade de criação e usam elementos artísticos para contar uma notícia. Figura 16 - Metodologia de trabalho para a produção diária

Fonte: Moraes, 2010, p.172

A principal queixa dos designers na pesquisa é o relacionamento com os editores dos jornais. Eles acreditam que os editores são desorganizados e falta planejamento. Além disso os dois grupos concordavam em alguns aspectos: eles gostavam de ter diferentes tarefas a cada dia e de fazer parte de uma equipe reconhecida pela qualidade do trabalho – como ganhar o prêmio da SND (Society for News Design). Nos EUA é comum haver centros de design, nos quais os profissionais fazem trabalhos para diferentes jornais. Neles, as responsabilidades variam: alguns

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designers são ocasionalmente chamados para construir gráficos complexos e trabalhos para jornais locais. Outras responsabilidades se assemelham a linhas de montagens, nas quais o trabalho de design se limita a layouts básicos. O problema do trabalho nesses centros é que o designer fica afastado das redações, criando barreiras de informação e comunicação. Eles raramente vão para reuniões de pauta ou de planejamento, não estando presentes nas decisões de notícias e brainstorming, que muitas vezes são feitas informalmente. Essa pesquisa exemplifica bem a diferença de atuação dos “designers jornalistas”, na etapa inicial de pauta, e dos “designers artistas”, na edição final do conteúdo, afetando assim o fluxo de trabalho e o resultado da apresentação da notícia. Silverstein ainda afirma: … os designers devem aprender sobre jornais. […] os jornais devem aprender como usar os designers. Isso implica em reescalonamento, novos procedimentos e, acima de tudo, em nova relação entre editores, pessoas de imagens, pesquisadores de imagem e todos mais. (SILVERSTEIN, 1980)

Logo, é de fundamental importância posicionar estrategicamente o designer dentro do fluxo da redação, sabendo explorar a melhor funcionalidade de cada um. Isso implica em não apenas reconhecer a função do designer, mas também proporcionar uma melhor relação em equipes multidisciplinares.

2.2 Tablet e fluxo de trabalho

Comparando o caminho da integração das redações impressas e da internet com o trabalho para os tablets, vemos uma diferença de posicionamento do designer. No primeiro caso de integração, onde a redação do jornal impresso se juntou com a do online, os designers não foram muito atingidos, pois continuaram a trabalhar para uma ou outra mídia. Porém, com o início do trabalho para os tablets, as funções começaram a se misturar, trazendo a realidade interativa para os designers do impresso e as limitações espaciais para os designers do site. Com o surgimento da internet, redações especializadas nesse novo meio, independentes e com conteúdo exclusivo, também foram sendo criadas. Como acrescenta Salaverría:

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Com o tempo se fomentaram as sinergias com as outras mídias, de modo que a edição em internet passou a funcionar como uma seção independente que se coordenava com as mídias tradicionais. A partir do ano 2000, alguns meios começaram a integrar suas redações, principalmente impressa e internet. (SALAVERRÍA et al, 2010, p. 54)

A integração das redações que estão presentes em diferentes mídias já é uma realidade nas principais empresas jornalísticas. Em 2003, Dailey et al classificaram as formas de convergência em cinco fases (Figura 17): promoção cruzada, clonagem, competição cooperativa, compartilhamento de conteúdo e total convergência. Esta última é o estágio na qual os profissionais mais cooperam para divulgar a notícia na mídia mais apropriada. O objetivo comum é usar os pontos fortes das diferentes mídias para contar a história da maneira mais eficaz. Na total convergência, equipes híbridas de jornalistas de organizações parceiras trabalham juntas para planejar, reportar e produzir uma história, decidindo ao longo do caminho qual parte da história será dita mais efetivamente no impresso, rádio e meios digitais. (DAILEY et al, 2003) Figura 17 - Convergência contínua

Fonte: Dailey et al, 2003, p.

Silcock e Keith (2006) propõem um novo estágio neste esquema, a co(re)criação, isto é, a modificação dos conteúdos originais de diferentes meios para ser publicados em uma terceira mídia. A convergência jornalística é um processo multidimensional que, facilitado pela implantação generalizada das tecnologias digitais de telecomunicação, afeta ao âmbito tecnológico, empresarial, profissional e editorial dos meios de comunicação, propiciando uma integração de ferramentas, espaços, métodos de trabalho e linguagens anteriormente separados, de forma que os jornalistas elaboram conteúdos que se distribuem através de múltiplas plataformas, mediante as linguagens próprias de cada uma. (SALAVERRÍA et al, 2010)

Hoje vemos um movimento similar em relação aos tablets: como é algo novo, as equipes são criadas independentes dos outros meios, com profissionais exclusivos. Entre os designers há uma junção do designer editorial com o designer

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de interação. As separações feitas anteriormente – pauta, apuração, redação e edição – não se enquadram para os mesmos tipos de profissionais. No caso do tablet, é interessante explorar diferentes formas de se apresentar uma notícia, pois, além de ser uma mídia nova, há a mescla da tactilidade do impresso com o conteúdo multimídia da web. Assim, é ainda mais necessário que haja uma atuação prévia na produção da notícia por um profissional de imagem, pois ele pode definir possíveis caminhos alternativos para apresentar graficamente a informação e, assim, propor aos jornalistas outras direções. Moraes enfatiza que, com essas novas mídias, a forma da página de notícias ganhou importância porque agregou a ideia de "variedade" aos produtos editoriais oferecidos pelas publicações: A etapa de projeto no ciclo de produção jornalística ganhou relevância, sem dúvida alguma, como uma contribuição do campo do Design ao processo. Se for possível uma ‘fabricação da notícia’ […], ou seja, dar a um acontecimento que atenda aos requisitos que identificam um fato como notícia também sua forma sensível pela aplicação de modelos de redação e padrões de apresentação – gráfica, audiovisual etc. –, é possível também afirmar que o Design tornou-se um agente decisivo nessa produção no sentido de produzir o discurso jornalístico, de planejá-lo e também viabilizálo. (MORAES, 2010, p. 48)

Dentro desse cenário convergente - em que se discute muito a integração dos jornalistas, produzindo conteúdo para diversas mídias -, cabe o questionamento sobre os designers. Como eles se encaixam nessa nova realidade? Também irá acontecer uma junção de tarefas, na qual o designer irá pensar a pauta e como aplicá-la visualmente em várias plataformas? Será possível haver uma versatilidade do profissional, aprendendo linguagens diferentes? Se hoje essa realidade parece difícil - que profissionais consigam realizar diferentes tarefas ao mesmo tempo -, se olharmos a curto prazo, onde a geração crescida com a tecnologia já está entrando no mercado de trabalho, esse cenário se torna totalmente plausível. Esses jovens são da era dos indivíduos multitarefas, que estudam ao mesmo tempo em que lêem notícias na internet, escutam música e assistem TV. Eles estão sempre em busca de desafios e de aprender novas atividades: o tempo passa mais rápido, logo é essencial aproveitá-lo ao máximo. Trazendo essas características para o lado profissional, se encaixam perfeitamente na nova realidade necessária às funções multiplataformas. Porém, ainda é cedo para avaliar os desdobramentos dessa nova realidade, podendo gerar profissionais super preparados, ou com características inesperadas.

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Como toda nova tecnologia, o tablet não é uma inovação total, mas uma releitura do que já era produzido previamente. O trabalho do designer se modificou, surgiram novas possibilidades projetuais e novas preocupações analíticas ao longo da elaboração de um projeto editorial interativo. Assim como a mídia agrega funções anteriores, o profissional também passa a ser multitarefa. Precisa conhecer o trabalho de diagramação do papel e a organização de elementos em um layout, como também precisa estudar a interação e usabilidade de uma publicação digital. Dessa forma, constata-se que o designer de notícias que trabalha para tablet deve aliar conhecimentos de design editorial, de design de informação e de interação, o que no momento se dá de um modo mais integrado do que na segmentação existente no jornalismo impresso.

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3 ESTUDO DE CASO: O GLOBO

Para exemplificar o estudo será feita uma análise do jornal O Globo, pertencente à empresa Infoglobo, parte do Grupo Globo. Pioneiro no Brasil em jornalismo para tablet, a versão impressa de O Globo tem mais de 80 anos de existência. Em 1925, foi publicada a sua primeira edição; em 1997, foi lançada a versão para internet; em 2009, o jornal foi distribuído pelo Kindle; em 2010, foi a vez da versão para iPad e, em janeiro de 2012, foi criado O Globo a Mais, publicação diária para tablet. O Globo é uma empresa de grande porte, com tradição e muitos projetos para jornalismo em novas mídias, além de dezenas de designers na equipe. Nos últimos anos, a empresa passou por grandes transformações, com integração das redações online e impressa (2009), mudança da plataforma de publicação (2011), redesenho do projeto gráfico de todos os produtos (2011-2012) e lançamento de publicações para novas mídias (2012). Consequentemente, após todas essas mudanças, os designers, assim como outros profissionais, tiveram suas rotinas alteradas, dadas as novas condições e exigências trazidas pelas mudanças. Esta realidade não é um caso específico de O Globo, mas de toda a indústria jornalística, já que ela está tendo que repensar os modelos de negócios praticados. A primeira página de O Globo foi publicada no dia 29 de julho de 1925. Inicialmente, também era um jornal vespertino, circulando diariamente com duas edições: a partir de 1962, o jornal tornou-se exclusivamente matutino. Em 1995, o projeto gráfico foi redesenhado por Milton Glaser e Walter Bernard. Em 1998, inaugurou-se o novo parque gráfico em Duque de Caxias e lançou-se o jornal Extra, para o público B e C. Em 1996 foi lançado o site, e em 2006 houve o seu redesenho. Também em 2006 a Infoglobo lançou o Expresso, jornal popular voltado para as classes C e D. Em 2011, O Globo começou a reformulação de redesenho dos projetos gráficos de todos os seus produtos. Foi contratada a empresa catalã Cases I Associats, que começou mudando o site e o aplicativo para celular. Em janeiro de 2012 foi lançado O Globo a Mais, junto com o redesenho do aplicativo para iPad. Finalmente, em setembro deste mesmo ano, o jornal impresso foi reestruturado graficamente. Em 2013 O Globo iniciou sua atuação no mercado de e-books, lançando o selo “e-books O Globo.”

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Tabela 5 - Linha do Tempo

Fonte: Desenvolvido pela autora.

De acordo com o IVC34, O Globo tinha 18.161 assinantes digitais em julho de 2014 e 181.716 assinantes impressos. A circulação do jornal aos domingos era de 286.040 e, nos dias úteis, 204.589, com uma média em 7 dias de 216.224. Na análise do dia primeiro de julho de 2014, o site teve 2.089.735 visitantes únicos, 4.549.395 pageviews e o tempo médio de permanência foi de 00:04:02.35

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Fonte: Instituto Verificador de Circulação (IVC) - Maio/2013 Fonte: Google Analytics - de 1/7/2014

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3.1 Entrevistas com designers de O Globo

A fim de explicar a rotina da redação e conhecer o fluxo de trabalho das diversas mídias de O Globo, foram realizadas entrevistas com vários designers. A partir desses dados, foi possível fazer uma comparação entre os modelos de trabalho e diferentes formas de visualização de notícias no impresso, site e aplicativo para tablet. De acordo com Goldenberg (1997), uma entrevista bem sucedida depende da criação de uma atmosfera amistosa e de confiança, o que propicia o surgimento de outros dados revelados pelos participantes. Foi escolhida a técnica de entrevista estruturada, que é desenvolvida ‘a partir de uma relação fixa de perguntas, cuja ordem e redação permanece invariável para todos os entrevistados, que geralmente são em grande número.’ (GIL, 1999, p. 121) A amostragem foi de 10 pessoas; entre elas, três durante o pré-teste. Foram escolhidos profissionais que trabalham há mais de 18 anos e conhecem a rotina de outras empresas. No total, três eram mulheres e sete homens, todos com nível superior e quatro com pós-graduação (Figura 18). Dentre as funções analisadas, foram escolhidos profissionais que atuam no jornal impresso, na internet e em tablet, com diagramação, ilustração, infografia e web design. Os designers que trabalham com internet foram divididos em dois grupos – um que trabalha na redação, especializado em infografia interativa; e outro que trabalha com produtos de O Globo, como páginas webs ou aplicativos. Foram feitas perguntas sobre: perfil profissional, fluxo de trabalho, novas mídias e tendências. As respostas geraram um mapeamento da atuação do designer e enfatizaram as diferenças na forma de apresentação das notícias em cada mídia. Todos os entrevistados trabalhavam no jornal O Globo na época da entrevista; dois já haviam trabalhado no Jornal do Brasil, dois em O Dia, dois no Jornal dos Sports, e ainda um no Lance, no Valor Econômico, na Tribuna da Imprensa, no Zero Hora e no Correio da Manhã.

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Figura 18 - Amostragem das entrevistas realizadas

Fonte: Produzido pela autora Figura 19 - Idade dos participantes

Fonte: Produzido pela autora

Quando foram perguntados sobre diferenças entre metodologias de trabalho nos jornais pelos quais já haviam passado, a maioria indicou o fato de não haver mudanças significativas nas formas de trabalhar, e sim nas estruturas das

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empresas. Quanto maior o jornal, mais recursos ele tem e, consequentemente, mais organização. O Zero Hora se destaca por apresentar um fluxo de trabalho diferente dos outros jornais analisados: “Primeiro, os jornalistas escrevem os textos e, quando chega para o designer, já está tudo pronto. A partir daí que a página é desenhada. O diagramador chega no jornal às 18h da tarde; até lá, eles estão produzindo o material, que só vai para a página quando o editor já leu tudo. [...] Eles já sabem o que querem, não mexem muito nas páginas; por isso, você pode fazer páginas mais livres, mais diferentes, porque você sabe que eles não vão mudar nada.” O designer que trabalhou no Lance destaca algumas pequenas diferenças entre os jornais, como por exemplo o desenvolvimento da ideia da pauta, feita de uma maneira conjunta, com a participação de todas as áreas. “A redação do Lance tinha três linhas de mesa: uma com a arte, outra com a chefia e outra com a fotografia. Por essa proximidade, o trabalho de edição e discussão era todo muito junto; com isso, conseguíamos fazer trabalhos especiais com mais antecedência”. Nesse caso, a posição de trabalho do designer influenciou a etapa de atuação no processo produtivo. Quando perguntados sobre as mudanças que vinham ocorrendo desde que eles começaram a trabalhar com jornal, 70% responderam que a grande mudança veio com a informatização. "Houve uma valorização do nosso papel. [...] Se concentrou na nossa mão um poder e responsabilidade muito grande, passamos a ter um controle muito maior do resultado do nosso trabalho. Fazíamos um trabalho muito maqueteado e, quando ia para produção, não saía da forma como gostaríamos. Esse controle maior foi uma mudança muito grande da qualidade e do valor do nosso trabalho”, destaca o diagramador da versão impressa. O papel do design no site foi mudando, segundo relata o web designer que trabalha desde 2000 com jornalismo online. “Quando entrei, fazia pequenos produtos editoriais específicos. Tinha que pensar o projeto de um site que desse vazão à publicação de conteúdo e à edição contínua desse material. Começou a haver publicação de conteúdo em várias formas de mídias, relacionamento de conteúdo em imagem, texto, visual, imagem em movimento. […] Então começamos a trabalhar a infografia dentro do site, conteúdos especiais interativos, surgiam novas necessidades, novos conhecimentos que você precisava adquirir, mais gente para fazer, mais gente com conhecimento específico e novas linguagens para fazer

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isso”. Essa mudança do papel do designer pode ser observada com o aumento significativo da equipe especializada no site: surgiram outras necessidades, o que encadeou o crescimento. Existiam profissionais encarregados do desenho das páginas, do aspecto visual e da identidade do produto. E, ainda, havia quem cuidava da implementação do desenho e da produção de conteúdos específicos que agregavam interatividade, representação visual, funcionalidade e tecnologia.

3.1.1 Perfil profissional

As habilidades necessárias para um designer de notícias são bem amplas: nove pessoas ressaltaram a importância de saber representar visualmente, bom senso estético e mínima noção de desenho; cinco entrevistados destacaram o conhecimento de softwares; três enfatizaram serem imprescindíveis cultura geral e espírito jornalístico. Entre os web designers, foi observada uma preocupação com usabilidade e programação. A equipe de arte do site tem perfis variados, sendo cada um especializado em alguma técnica. O entrevistado costuma trabalhar com dados, criando infográficos mais complexos a partir de organização de informação. Eles trabalham desde a pesquisa voltada ao design, pesquisa de uso, modelos ambientais relacionados à psicologia, até programação e arquitetura de informação. Foi muito enfatizada pela maioria dos profissionais entrevistados – independentemente da mídia – a importância do conhecimento das notícias e de ser muito bem informado. Não só para participar da edição com mais propriedade, mas também para estimular a criação de ideias, tornando as soluções mais criativas. “Esse momento de desenhar e elaborar uma página dá ao diagramador o mesmo nível, e tanto poder, que o editor. Se existe uma confiança mútua, o trabalho flui maravilhosamente bem, mas para isso é preciso que o diagramador não seja só um bom técnico, um fantoche ou um braço que vai apertar os botões e colocar as formas nas páginas. Nesse sentido, é muito importante discutir a página de igual para igual, tanto a parte de conteúdo quanto a parte estética”, observa o diagramador do jornal impresso.

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“Estar antenado em tudo que está acontecendo, estar ciente do noticiário é necessário para saber o que é importante para cada veículo. Tem que ter uma capacidade de edição, de mudar com muita agilidade,” concorda outro entrevistado. Ter uma boa cultura geral é uma forma de construir referências para inspirações. “Muita informação ajuda no processo criativo. Criatividade acho que é basicamente isso, muita informação”, acrescenta o infografista. O diagramador do impresso relatou que, no jornal diário, há poucas situações em que possa ter uma participação mais criativa. “Acho que 90% do jornal é feito basicamente com um modelo muito engessado. Acho que tem que ser assim, é a identidade do jornal, não acho que caiba ali muita criatividade”. Ele acredita ser importante ter esse modelo rígido para tornar a produção viável e manter o padrão gráfico do jornal. Percebemos, através das respostas, uma preocupação em conhecer o conteúdo. Não apenas para criar um trabalho esteticamente agradável, mas também para decidir a melhor maneira de transmitir determinado assunto.

3.1.2 Fluxo de trabalho

Quando perguntados sobre como a informação chega ao designer para a produção de um projeto, todos os profissionais que trabalham em mídia digital (internet e tablet) relataram que a notícia vem “crua”, e eles discutem com o editor a melhor forma de passar aquela informação. O web designer interfere organizando o conteúdo, que geralmente não está estruturado. “O papel do designer é desenhar a estrutura de como aquilo se organiza, para ver o que é cada coisa e como cada coisa se resolve, como a gente vai comunicar aquilo visualmente”, relata. No jornal impresso, os trabalhos feitos em menos tempo, para produção diária, chegam através dos jornalistas com uma ideia estabelecida, para assim o designer fazer interferências e finalizar. Quando há mais tempo ou é um conteúdo especial, existe uma troca maior, “eu interfiro no conteúdo e deixo que o jornalista interfira na página também”, relata o diagramador do impresso. Outro designer, que trabalha nos suplementos do jornal impresso, acha importante participar das

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reuniões de pauta para assim ter uma noção maior de toda a edição e poder ajudar a definir quantas páginas serão necessárias por assunto. Os infografistas costumam propor conteúdo, o trabalho preferido deles: “Você participa desde o início: apura, entrevista, fotografa, até como fonte de dados, de informação. O ideal seria a gente ter um modelo desses; o New York Times tem essa estrutura, a editoria de arte é uma editoria independente. No Brasil, é muito abaixo das outras; é muito ruim, porque às vezes a gente não domina completamente a informação, que é fundamental.” O designer que trabalha em O Globo a Mais e já participou da produção do jornal impresso explicou que há um fluxo diferente de trabalho: os designers participam da reunião propondo caminhos visuais e buscam informações para enriquecer o conteúdo. Na mídia impressa, os infografistas conseguem propor conteúdo visual e assim participar das etapas iniciais da produção, o que não acontece com os diagramadores. Já no site e em O Globo a Mais, essa participação na pauta é mais comum, havendo um envolvimento maior por parte dos designers.

3.1.3 Novas mídias

As novas tecnologias mudaram a forma de trabalhar de alguns designers. Dos dez entrevistados, apenas quatro não mencionaram mudanças com o surgimento da internet e tablet: três são diagramadores do papel e um é ilustrador, que continua fazendo seus desenhos com as mesmas técnicas, independente do suporte. Dentre os profissionais que trabalham com a mídia impressa, os infografistas foram os que perceberam maiores mudanças. “Agora, a gente tem que pensar de uma maneira diferente para entregar o trabalho, porque o iPad agrega essas funcionalidades que a web tem, com a diferença de manipulação. Essa maneira de lidar com ele [o iPad] que é diferente de você lidar com um computador e simplesmente navegar na web. [...] Então isso é um pensamento a mais do que tem que ser feito”. Os dois destacaram a mobilidade e o formato como as principais

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diferenças dos tablets para os computadores, sendo mais uma mídia para adaptar os infográficos. Um designer entrevistado, que trabalha com web mas já trabalhou com mídia impressa, destacou a diferença do desenvolvimento de projetos nas diversas mídias. “As especificidades são outras, as formas de construir precisam ser outras; para poder construir alguma coisa que lá no final vai funcionar de uma determinada maneira, você precisa ter esse envolvimento das várias partes desde o início, porque o fluxo não é linear. Você não constrói uma coisa e passa para o outro fazer, e em cima disso ele cria: não necessariamente isso vai funcionar. O processo de você conceber uma coisa está muito ligado à forma e à função que aquilo vai ter lá no final; o conteúdo está muito misturado à forma e à função dele. Você pode entender como vai publicar, mas isso vai ter um reflexo na forma como vai se oferecer para o usuário e como ele vai se relacionar com esse conteúdo, porque, como não é um conteúdo estático, ele pede uma interação. Você precisa entender como essa interação se dá e como se modifica o produto que está oferecendo a ele.” Sobre a especificidade dos tablets, ele afirma: “Eventualmente, tem o teclado virtual e não tem mais o mouse, então muda a forma de interação, mudam as propostas. Está muito relacionado aos dispositivos menores, que a gente já tinha, mas é uma outra dimensão, então você pode explorar alguns detalhes que antes deviam ser bem mais sintéticos”. Para ele, é preciso entender essas possibilidades e o que muda na relação de comunicação com o leitor - como e em que momento ele usa -, para assim entender o que vale a pena entregar como produto. “Você pode construir uma coisa super complexa, mas o cara usa de uma forma muito rápida, então talvez não esteja alinhado como o tablet se insere na vida da pessoa.” O diagramador que trabalhava no papel e agora está em O Globo a Mais disse que uma mudança significativa foi a rapidez para ver o resultado do seu trabalho: “Você não espera rodar, não espera fazer uma chapa, você vê o que vai sair na sua frente, vai sair igual. No jornal, tem muitas coisas que influenciam, [como] por exemplo [a] tinta, e muita coisa você não controla, sai diferente do planejado.” Percebemos que os designers que mais notam a mudança de trabalho com as novas mídias são os que se envolvem com as etapas iniciais, com a criação do conteúdo, e dessa forma se preocupam também com o desdobramento final. O

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profissional que trabalha em O Globo a Mais ainda enfatizou: “Agora sou designer, não diagramador.”

3.1.4 Tendências

Sobre as tendências para o futuro em cada função, quatro entrevistados acreditam que a principal mudança será o crescimento de novas tecnologias e, consequentemente, novos suportes para adequação dos seus trabalhos. Dois diagramadores do papel imaginam que essa função irá acabar e haverá apenas designers responsáveis pela criação do projeto gráfico, e não mais para a produção diária. O ilustrador também não vê futuro na sua função: “O jornal tende a ser ilustrado, mas por aquela ilustração que é informação também; não é uma ilustração para instigar o leitor a ler, tornar uma página visualmente mais leve e mais atraente. O jornal vai precisar cada vez mais de espaço para informação propriamente dita, então [a ilustração] vai se reduzir. A ilustração que eu faço não é um adorno, mas é dispensável.” Um infografista relatou que, no futuro, o trabalho seria por demanda, sem necessidade de haver um profissional disponível fisicamente na redação: eles trabalhariam em casa, remotamente, quando solicitados. O web designer acredita que a infografia com muitos dados pode ficar complexa demais e não atingir o leitor leigo; logo, para ele, o próximo passo é fazer uma arte escalonável, com dois níveis de leitura. “O leitor tem a informação, sem perder tempo navegando. A primeira visão tem que ser já o que é a pauta, mais ou menos o que o impresso faz; não tem recurso para navegar, então está lá o conteúdo mastigado”. E, para quem quiser se aprofundar mais no assunto, ele propõe outro nível mais detalhado do infográfico, com mais dados. Outro infografista entrevistado concorda que há uma tendência por visualização de dados, mas imagina que vai voltar à moda a infografia tradicional. “Infografia não é só visualização de dados, é um leque maior. [...] Lá fora, têm duas correntes bem distintas: de visualização de dados, e essa corrente mais ligada ao desenho e infografia tradicional, que no momento está sendo desvalorizada. Mas,

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como na vida tudo é cíclico, e desenho é desenho, acho que a gente ainda não definiu nosso modelo de infografia. Acho que os gráficos vão ser cada vez mais interativos, mas não sei se vão ser mais subjetivos, ou ter cada vez mais informação, porque daí é uma questão editorial.” Já o web designer acredita que uma tendência é a valorização do papel do designer, na atuação em toda a cadeia do desenvolvimento do produto, desde a concepção até a implementação e a “entrega”. “Já não se fala tanto em entrega, se fala em desenvolvimento contínuo, vai evoluindo e mudando de direção, de acordo com as novas necessidades que surgem a partir de novos fatores que entram no circuito; acho que o designer está muito presente nesse papel de acompanhar e fazer esse processo ser um ciclo, contínuo, em movimento, que vai gerando novas demandas, fazendo e entregando novas coisas e, a partir daí, mudando o contexto”, finaliza.

3.2 Entrevista com Chico Amaral

Com a finalidade de conhecer a opinião de um profissional renomado na área, foi entrevistado Francisco Amaral, que trabalhava na empresa catalã Cases I Associats e foi responsável pelo redesenho de O Globo em todas as mídias. Após o processo de consultoria gráfica, ele foi contratado como editor executivo de O Globo, atuando na edição multimídia do jornal. Apesar de Chico ser um artista plástico de formação, dos seus 50 anos de idade, 32 deles trabalhou com jornal. A importância dessa entrevista se baseia em sua experiência em diversos jornais, projetando para mídias diferentes. Ele também é o gestor da equipe de designers entrevistada anteriormente e, portanto, trouxe um ponto de vista gerencial em relação às perguntas feitas sobre a produção do jornal. Chico iniciou sua carreira trabalhando como revisor e repórter de um jornal em Rondônia, e, logo, também começou a diagramar. Naquela época, a tecnologia usada era a linotipo, e, assim, Chico teve contato com pessoas com formação tipográfica, que puderam lhe transmitir conhecimentos de tipografia, o que ele destaca como tendo sido fundamental para sua formação.

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Desde o começo de sua carreira, ele trabalhou diagramando e editando, e assim aprendeu como montar uma página direto no chumbo. “Era um momento em que eu me metia muito na sala de fotolito, porque a seleção de cores era muito cara, então muitas eu fazia na mão. Eu aprendi na precariedade da linotipo, que não tinha cliché de imagem, a ficar inventando formas de ilustrar e de reproduzir”. Graças a essa experiência, quando surgiu a impressão offset, ele já tinha habilidade em criar soluções alternativas para as imagens. Chico acredita que, com a informatização, os jornalistas perderam muito tempo. Ele exemplifica isso com sua experiência no jornal Correio Braziliense, onde existia um longo caminho entre a sala do teletipo até a fotocomposição. Essa distância dava ao jornalista mais tempo para refletir sobre o que estava escrevendo, logo, com a informatização, houve uma compressão do tempo. “Acho que o jornalismo, antes, se beneficiava muito mais dessa carência tecnológica, no sentido de produzir uma bela peça de papel. Não sou saudosista, não, mas acho que o que muda na essência é isso.” Ele destaca que um bom diagramador naquela época era aquele que deixava pouco texto sobrando na reportagem, rápido na contagem de caracteres e criativo. Outra mudança que Chico observou durante a sua carreira foi a melhora da legibilidade nos jornais. Nos anos 1980, o corpo usado nos textos era de tamanho 8, contrastando com hoje, que não existe jornal com corpo menor do que 10. Logo, há menos texto em uma página, a informação é mais condensada e necessita de uma habilidade jornalística de síntese maior do que havia antes. Ele cita o processo de cadernização dos jornais brasileiros como sendo consequência da evolução tecnológica, que possibilitou a impressão colorida. As cores só poderiam estar nas capas dos cadernos, e começou a existir uma demanda muito grande de publicidade colorida, pressionando comercialmente a ponto de até os classificados terem cor, como é o caso do jornal Estadão. De acordo com Chico, o avanço tecnológico trouxe uma mudança na qualidade do jornal, pois ele ficou mais legível e mais sintético; dessa forma, melhorou o texto e a estrutura de navegação, já que permitiu mais recursos e consistência para o projeto do produto. “A partir dos anos 1980, o jornal passa a ser mais consciente de que eles estão disputando um tempo livre do leitor, então eles têm que sofisticar o produto (…) e a edição gráfica começa a se modernizar mais”. Ele compara o Jornal da Tarde como sendo muito mais ousado do que os jornais

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atuais, pois conseguia fazer com que a tipografia "falasse”. Nele havia uma integração muito maior da função do designer dentro do fluxo da redação, que desapareceu com a informatização, e consequentemente as ousadias gráficas também foram reduzidas. Ele acredita que no caso de O Globo, com exceção das capas do Segundo Caderno - que tem a obrigação de serem criativas -, no resto do jornal as soluções são previsíveis. Há uma preocupação maior em manter a consistência de identidade visual e linha editorial do que propriamente criação. “Quando você pega essas referências, os jornais de hoje são pouco ambiciosos.” Na sua experiência no Correio Braziliense, de sete anos, existia uma obsessão em construir uma linguagem que fosse própria, única. Ele cita como sendo um ambiente de trabalho com condições perfeitas, já que havia uma equipe em que era difícil identificar qual era o papel de cada um, a única preocupação de todos era a apuração. O foco de todo o trabalho, seja ele de edição ou gráfico, era se a coleta de informação era consistente, para não se tornar apenas uma página bonita. “Com uma boa apuração você tem condições de criar peças que expressem o conceito.” Resumindo, considerando o resultado do trabalho jornalístico, ele não vê mudanças significativas causadas pela tecnologia, mas pelo mercado, pelas equipes e pela atuação do jornal. “A Wired é criativa não é por causa do design; ela é criativa porque ela é pensada de uma forma criativa. (…) O trabalho jornalístico de contextualização, é isso que faz um jornal ser criativo, não a tecnologia.”

3.2.1 Perfil profissional

Para Chico, o designer que desejar trabalhar em uma redação de jornal deve primeiramente saber o que é notícia; segundo, ser comprometido, e o resto ele aprende. Ele acredita que a mídia em que for trabalhar não tem importância, já que as gerações novas são habituadas às novas mídias. Segundo ele, o profissional ideal mistura o interesse pela notícia, compromisso e conhecimento de tipografia. Ser criativo e saber lidar com linguagem visual já é intrínseco para um designer.

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Quando se fala em convergência de mídia, em que jornalistas escrevem para diversas plataformas e fotógrafos filmam, Chico enfatiza que esse contexto também deve se tornar realidade para os designers. Para ele, todos os profissionais têm que saber a linguagem de todas as mídias.

3.2.2 Fluxo de trabalho

Chico vê o fluxo de trabalho funcionando a partir de uma coordenação de direção de arte, em que o profissional consiga olhar para todos os produtos desde a reunião de pauta. Não é apenas pegar a informação, mas sim atuar na criação. Ele acredita que o conceito de edição tem que mudar, que não é colocar a informação em uma página, no site, no papel ou no tablet, mas que edição seria um processo de acompanhar a informação desde o momento que identifica a sua existência. “Para mim o fluxo ideal é esse, uma integração desde o momento que concebe a pauta, para definir qual é a melhor maneira de representar.” Ele foi enfático na sua resposta sobre a melhor maneira dos designers trabalharem, em núcleos ou inseridos em editorias. Para Chico, não há dúvida de que núcleo é a melhor opção, pois há uma racionalização de custo e, principalmente, compartilhamento de conhecimento. “O fluxo pode estar bem desenhado ou mal desenhado, pode parecer muito industrial, mas isso é uma irracionalidade, é uma falta de sensibilidade de quem gerencia o núcleo”, afirma sobre o risco de mecanizar o ritmo de criação.

3.2.3 Novas mídias

Para Chico, não houve grandes mudanças no trabalho dos designers com o surgimento dos tablets. Ele acredita que o profissional teve que assimilar mais conhecimentos sobre ferramentas e usabilidade, apesar do conceito de usabilidade já existir no jornal impresso.

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A função do engenheiro de usabilidade poderia ser exercida por um designer, pois é uma pessoa que estuda os pontos de interação dentro de uma superfície. Ele afirma que hoje existe uma carência desse profissional, porém, ele próprio já trabalha com usabilidade há 30 anos. Chico compara essa nova valorização de uma função antiga com o termo designer. “Chamar de designer, com essa nomenclatura, é uma forma tola de valorizar, de fazer um marketing melhor de uma função que já está inserida dentro de um contexto.” Ele não vê o tablet como uma grande novidade para os designers, pois o que se faz no tablet já era feito no desktop. Para ele, a grande mudança está no contexto digital, com uma superfície nova para se trabalhar. A dificuldade está na programação, o desafio no trabalho digital é ter um designer que saiba programar, segundo Chico, algo muito complicado. “Meu sonho é que tenham ferramentas que a gente não veja a programação que está por trás”, confessa. A chegada do tablet foi vista com entusiasmo pelo mercado, porém, hoje em dia, Chico está cauteloso. Para conseguir explorar todas as possibilidades dos dispositivos móveis, o ideal seria desenvolver produtos nativos, logo, tem que se trabalhar atualizações frequentes, tanto tecnológicas, quanto de design. Ele acredita que a solução é programar em html5 para todos os dispositivos, não precisando, assim, mudar o desenho a cada atualização do sistema.

3.2.4 Tendências

Chico tem dificuldades para imaginar como será a função do designer de notícias no futuro, mas acredita que será multi-plataforma. Ele vê um profissional que saiba lidar com ferramentas de edição no papel, programação, edição de vídeo e motion graphics. Para ele, o profissional não pode temer estar de manhã trabalhando para uma mídia digital e à tarde para uma impressa, pois é assim que se divide a notícia; logo, o designer iria acompanhar esse fluxo. Cada vez mais surgirão novos dispositivos, por isso ele crê que a melhor forma de se trabalhar é em núcleo, em que há uma difusão maior de conhecimento.

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“A vantagem do designer é que ele sempre tem curiosidade, fica olhando o cara ao lado e aprendendo.”

3.3 O Globo a Mais

País: Brasil (Rio de Janeiro) Lançamento: 30/01/2012 Dias: Segunda a sexta Horário: 18h Preço: $ 0,99 Buscando

compreender

melhor

os

novos

caminhos

para

tablet

e

consequentemente os novos campos para o designer, foi feita a análise de O Globo a Mais, que, lançado em janeiro de 2012, é disponibilizado por um aplicativo para tablets e smartphones com sistema operacional Android e iOS, de segunda a sextafeira, às 18h. O produto tem um horário de fechamento; logo, são edições sem atualizações, diferindo do jornalismo online. Uma vez baixada a edição, não é mais necessária a conexão com a internet. Esse modelo é uma tendência mundial, com características que refletem o resultado das pesquisas dos hábitos de leitura dos usuários de tablets. Como define Barbosa (2012), é um aplicativo autóctone, situado na quinta geração de desenvolvimento para o jornalismo nas redes digitais.

3.3.1 Como funciona

O usuário pode baixar o aplicativo de O Globo a Mais na banca da Apple ou do Google Play. Inicialmente, ele era disponível junto com o aplicativo do flip do jornal; posteriormente, ele foi separado, ficando com um aplicativo exclusivo para ele (Figura 20). Na criação do produto, muitas notícias do jornal impresso eram antecipadas (publicadas em O Globo a Mais antes de saírem no impresso) e

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apresentadas de uma forma exclusiva; até a data de conclusão dessa dissertação, o conteúdo estava disponível posteriormente apenas para o site. O fluxo de trabalho acontece de uma maneira singular, não só por ter um horário de fechamento antecipado, mas devido às particularidades na produção. Caso o usuário seja assinante digital do jornal, há acesso livre para ler O Globo a Mais no tablet; senão, terá que comprar a edição avulsa, que custa U$ 0,99. Figura 20 - Banca O Globo a Mais

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Figura 21 - Capa O Globo a Mais

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3.3.2 Organização

A equipe de O Globo a Mais é composta por um editor executivo, que não é responsável apenas por O Globo a Mais, mas também pelos outros produtos digitais do jornal. Abaixo dele, o editor responsável pela revista, um editor adjunto e um assistente, três designers e sete repórteres, sendo no total 13 profissionais exclusivos para O Globo a Mais. Figura 22 - Organograma do Globo a Mais

Fonte: Desenvolvido pela autora

As colunas e seção de dicas costumam ser produzidas um dia antes da publicação. Já as chamadas hard news - reportagens com assuntos atuais - são fechadas durante o dia, tendo pouco tempo para criar materiais enriquecidos. Todas as páginas têm algum tipo de interação, seja uma galeria de fotos, um vídeo ou um infográfico animado. Com a análise de O Globo, podemos perceber a diferença do papel dos designers e consequentemente das formas de apresentação das notícias, já que a

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visualização de informação no tablet acontece de uma maneira mais lúdica e leve. É interessante ressaltar que, no início do Globo a Mais, as reportagens eram assinadas apenas pelos jornalistas e fotógrafos; porém, com o decorrer das edições, foi sendo percebido que o trabalho do designer era essencial para o resultado final do produto. Dessa forma, sentiu-se a necessidade de dar o crédito do designer no alto, junto com os outros colaboradores, e assim, destacar a contribuição deste profissional. Essa nova forma de expor a notícia vem sendo bem recebida, tanto na área do jornalismo quanto na do design. Esse recente produto já obteve reconhecimento ao vencer dois prêmios importantes no seu primeiro ano de existência: o Prêmio Esso de 2012 – um dos principais prêmios do jornalismo brasileiro –, na categoria contribuição à imprensa, e o Prêmio Internacional de Excelência em Design no SND – Society for News Design, pela edição especial das Olimpíadas de 2012. É interessante observar que a pesquisadora Rachel Schallom (2012) já havia destacado na sua pesquisa o interesse entre seus entrevistados em fazer parte de uma equipe ganhadora desse prêmio.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir desse cenário exposto e do contexto atual dos tablets, podemos concluir que o designer tem uma importância muito grande no jornal. Esse papel foi crescendo

com

a

informatização,

a

chegada

de

novas

mídias

-

e,

consequentemente, novas formas de apresentar as notícias - e finalmente como estratégia de diferenciação para agregar valor ao conteúdo. Com tantas concorrências de fontes de informação, a indústria jornalística precisa inovar para apresentar uma notícia de forma relevante. De acordo com as entrevistas realizadas, os designers não perceberam grandes mudanças na forma de trabalhar entre diferentes empresas jornalísticas, porém notaram mudanças com o avanço tecnológico. Já Chico Amaral destaca a importância do objetivo projetual, e que a mudança está no contexto digital e não apenas no surgimento de uma mídia nova. Segundo ele, a tendência é que surjam cada vez mais dispositivos diferentes e o designer tem de agir segundo o mesmo princípio: como apresentar graficamente a notícia da melhor maneira possível, independente da tecnologia disponível no momento. Pode-se concluir que, mesmo com o crescimento do jornalismo digital, não há uma mudança radical do papel do designer, pois a natureza do trabalho continua a mesma. Porém quem vivencia as transformações operacionais são os profissionais envolvidos no processo de produção, não trabalhando apenas em uma mídia, mas se preocupando também com o ciclo completo da notícia. Essa descoberta da competência do designer pelos jornais foi tardia, de acordo com Silverstein (1980), que afirma ser “o último grande meio a descobrir e usar diretores de arte ou designers profissionais”. Porém, a partir das características presentes nos designers, percebemos uma grande oportunidade e capacitação desse profissional para inovar e, assim, viabilizar modelos de negócios pagos nesse momento de crise econômica. “Concretiza-se cada vez mais o que apontou Rich Gordon há dez anos: a convergência fazendo emergir formas inovadoras para a produção e apresentação das informações jornalísticas a partir, principalmente, dos dispositivos móveis, dos computadores, além da televisão interativa.” (BARBOSA, 2013)

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O New York Times também está trabalhando para criar experiências inovadoras nos seus aplicativos. Para isso, estão fazendo testes com distribuição de notícias de uma forma mais elaborada do que os simples templates já característicos. “Designers e desenvolvedores têm trabalhado para fazer o aplicativo do NYT ser menos um recipiente sem forma, que recebe reportagens da mídia impressa e websites, e mais uma experiência única de notícias.”36 Dessa forma, com um investimento na diferenciação da publicação digital também iria ocorrer uma valorização do produto para atrair mais leitores e anunciantes. Rodrigo Silva, do El País, enfatiza: “Creio que, se não apostarmos em qualidade ou diferenciação, vamos todos naufragar. Sobreviverão aqueles que apostem em algo diferente, algo que mereça o leitor, que o faça pagar o valor que seja.”37 A diferenciação está sendo feita através de um investimento em um jornalismo que mistura informação com marketing, publicidade e entretenimento. Segundo Marshall (2003, p.36), “jornalismo transgênico.” No caso de jornalismo para tablet, isso fica mais evidente. A apresentação da notícia se torna lúdica, tátil e multimídia. Logo, o conceito de infotenimento exemplifica essa característica. O neologismo “infotenimento” surgiu nos anos 1980, nos EUA, para designar a mistura de notícia com diversão em um mesmo pacote. Seria uma “tendência a veicular, a qualquer preço, informações atraentes.” (NEVEU, 2006, p.19) […] a interação do leitor com tais máquinas com telas sensíveis ao toque exige que os jornalistas reorientem o processo de produção da informação jornalística na direção a uma pedagogia de movimentos para se comunicar com seu público, numa atmosfera que conduz à exacerbação das sensações e do infotenimento. Nossa hipótese é que, deste processo, emerge um jornalismo centrado na lógica das sensações, um jornalismo sensorial: não basta à notícia ser apenas lida, vista ou ouvida; ela é, sobretudo, sentida, experienciada pelas sensações, vivenciada ao máximo pelos sentidos.” (BARSOTTI, 2013)

Segundo Palacios e Cunha (2012, p.17), “é de se esperar uma mais imediata aplicação da tactilidade na área dos newsgames”, por exemplo, com transposição dos progressos da tactilidade na área dos games em geral para o formato específico dos newsgames disponibilizados em aplicativos jornalísticos. (BARBOSA, 2013) 36

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Para o diretor geral da BBC, George Entwhistle – em entrevista quando assumiu o cargo –, os jornais devem agora criar conteúdo concebido para plataformas interativas e não apenas reinterpretar conteúdo das antigas mídias.38 Isto é, para criar essa nova forma de jornalismo, não é possível apenas adaptar um conteúdo pensado para outra mídia, mas é preciso realmente reformular o que é a notícia e como informar da maneira mais atrativa, aproveitando ao máximo o lúdico e o potencial das novas mídias. Quem já está pensando dessa maneira é o jornal USA Today, que teve no redesenho do seu projeto gráfico a preocupação com aparência e funcionalidade em todas as plataformas digitais. “O site, aplicativo para tablet, aplicativo do Facebook e aplicativo para celulares também foram reformulados para facilitar imagens maiores e reportagens gráficas que são apresentadas de uma forma ‘divertida e envolvente’”, se pronunciou a empresa.39 A fim de se aproximar da realidade da leitura e saber se esse novo tipo de jornalismo gera interesse no usuário, foi realizado um teste de usabilidade em O Globo a Mais (CORDEIRO e LESSA, 2013), que mostrou um grande interesse em ler as notícias através dos recursos gráficos disponíveis. Os usuários não têm grandes dificuldades que os impeçam de navegar; porém, a falta de padrão nas sinalizações e nas possibilidades de interação foi uma reclamação recorrente dos participantes do teste. Essa análise foi importante para conhecer os padrões de uso de uma nova revista digital, mas também para saber as limitações e obstáculos que muitos recursos poderiam provocar, e assim dosar a informação, para que ela seja atrativa mas não impeditiva de leitura. Para isso ocorrer, é necessário um profissional que repense essa forma interativa da notícia. Como ressalta Freire, essa evolução das tecnologias de informação e comunicação estimula o “crescimento da relevância do design para o webjornalismo como estratégia de diferenciação.” (FREIRE, 2008, p. 576) O designer tem a capacidade de ancorar o lúdico com o informativo, viabilizando esse novo caminho jornalístico. Logo, a inteligência do design justifica essa capacidade de inovação, conforme define Cross: o design thinking “envolve uma interação intensa e reflexiva 38

Disponível em: http://paidcontent.org/2012/09/18/new-bbc-chief-vows-to-re-invent-content-not-justre-purpose-it/. Acesso em outubro de 2012 39 Disponível em: http://usatoday30.usatoday.com/money/business/story/2012/09/13/usa-todayunveils-redesigned-newspaper-website-mobile-apps/57776732/1. Acesso em novembro de 2012

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com representações de problemas e soluções, e uma capacidade de mudar facilmente e rapidamente entre as representações concretas e pensamentos abstratos, entre fazer e pensar.” (CROSS, 2010, p. 101) Alexiou, por seu turno, se refere à base neurológica da cognição presente na prática do design: Comparadas com a resolução de problemas, (atividade cognitiva), tarefas de design recrutam uma rede mais extensa de áreas cerebrais. Sugere-se que estas áreas do cérebro trabalhem em conjunto para realizar operações semânticas, avaliar os meios e finalizar respostas adequadas e representações, apoiar a resolução de conflitos e modular tomada de decisão sob incerteza. (ALEXIOU et al., 2009)

Podemos concluir que a inovação no jornalismo está em uma abertura informativa, que pode juntar o entretenimento com a notícia, sendo o designer um profissional que tem uma grande contribuição a dar nesse sentido. Para que isso ocorra, é necessário que a atuação tenha origem a partir das etapas iniciais da produção; assim, verifica-se uma valorização do papel do profissional e uma maior preocupação com a notícia. Dessa forma, o profissional concentra o esforço no conteúdo e não apenas na representação final, independente do dispositivo de leitura. Ou seja, o designer irá pensar a melhor maneira de apresentar determinada notícia, seja ela em qual mídia for, e assim valorizar o produto final que o leitor irá receber, justificando a sua atenção.

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GLOSSÁRIO

Android

Sistema operacional móvel do Google

Aplicativo

Programa ou tipo de software projetado para preencher uma determinada demanda

Aplicativo autóctone

Aplicações criadas de forma nativa com material exclusivo e tratamento diferenciado. (BARBOSA, FIRMINO DA SILVA, NOGUEIRA, 2012)

Aplicativo nativo

Aplicativo

desenvolvido

com

o

Software

Development Kit ou SDK de um sistema operacional específico (BURGOS, 2013) App Store

Loja da Apple para comercializar aplicativos

Browser

Navegadores para acessar páginas da internet

Desktop

Computador de mesa

E-book

Livro digital

E-reader

Leitor digital com tela feita de tinta eletrônica

Flip

Versão em pdf do jornal impresso

Formato berlinense

Formato do jornal que mede cerca de 47 cm x 31,5 cm

Formato standard

Formato do jornal que mede entre 60 cm x 38 cm e 75 cm x 60 cm

Formato tabloide

Formato do jornal que mede cerca de 38 cm x 30 cm

Google Play

Loja digital do Google

Hard news

Notícias fortes e atuais do dia

iPad

Tablet da Apple

iPhone

Celular da Apple

iTunes

Loja digital da Apple

Kindle

Leitor digital

Mobile first

Estratégia empresarial que prioriza o conteúdo para dispositivos móveis

Multi-task

Pessoas que fazem várias atividades ao mesmo tempo

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Newsletter

Boletim informativo digital

Paywall

Sistema que impede usuários de acessar o conteúdo do site sem pagar

Scroll

Rolagem do conteúdo digital

Smartphone

Celulares inteligentes com sistema operacional que executa programas

Tablet

Dispositivo móvel em formato de prancheta

Touchscreen

Tela sensível ao toque

WebApp

Aplicativos projetados para o ecossistema web app de acesso remoto (nuvem). (BURGOS, 2013)

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APÊNDICE A – Entrevista com designers de O Globo

População: Designers de diferentes funções no jornal, com mais tempo de experiência Contexto: Transição da mídia impressa para digital Atividade: Trabalhando na redação, no dia a dia do jornal Pergunta geral (objetivo): Qual seria a dinâmica das diferentes funções do designer no jornal impesso e digital? Nome: _________________________________ Idade: _________________________________ Sexo: _________________________________ Cargo: _________________________________ Formação: _________________________________ Há quanto tempo trabalha com jornal? 1. Quais mudanças, em relação à forma de trabalhar, ocorreram desde que você entrou no jornal? ______________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 2. Quais habilidades técnicas são necessárias para a sua função?

(Ex:

desenho, conhecimento do software, programação...) ______________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 3. Como a informação chega até você? ______________________________________________________________ ___________________________________________________________________

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___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 4. Qual o seu processo criativo? ______________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 5. Qual a média de tempo que você costuma levar na realização do seu trabalho, desde a chegada da informação até o produto final? ______________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 6. Você pode narrar como é sua rotina na sexta-feira? ______________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 7. O que diferencia seu trabalho no final de semana e nos dias comuns? ______________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 8. Você costuma trabalhar sozinho ou em grupo? ______________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________

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9. O que mudou no seu trabalho com o surgimento dos tablets? ______________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 10. Como você imagina a sua função no futuro? ______________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________

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APÊNDICE B – Entrevista com Chico Amaral

Nome: _________________________________ Idade: _________________________________ Sexo: _________________________________ Cargo: _________________________________ Formação: _________________________________ Há quanto tempo trabalha com jornal? 1. Quais mudanças, relacionadas à forma de trabalhar, ocorreram desde que você começou a trabalhar com jornal? ______________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 2. Quais habilidades técnicas são necessárias para as diferentes funções de designers no jornal? (Ex: desenho, conhecimento do software, programação...) ______________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 3. Como deve ser o posicionamento dos designers para ter acesso à informação com a qual irão trabalhar? ______________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 4. Cada vez se fala mais em convergência das mídias, em que o repórter escreve para o jornal impresso, site e tablet e o fotógrafo tira foto e filma. Na sua opinião, a convergência das mídias é possível para o designer? Ou seja, é

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benéfico/positivo o profissional saber um pouco de cada mídia ou seria melhor se especializar em uma? ______________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 5. Como você acredita ser a melhor maneira de trabalhar: um núcleo, com vários designers trabalhando para diferentes áreas, ou o designer inserido em uma editoria específica? ______________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 6. Quais mudanças você percebeu no trabalho dos designers com o surgimento dos tablets? ______________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 7. Como você imagina a função de designer de notícias no futuro? ______________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________

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APÊNDICE C – A leitura de O Globo a Mais no iPad

Caro Sr./Sra.,

A intenção deste estudo é descobrir a eficiência de O Globo no iPad. Gostaria de contar com a sua ajuda para encontrar os problemas que O Globo a Mais apresenta e como podem ser solucionados. Técnica: a) Gostaria que você verbalizasse, à proporção que fizer cada tarefa, como está tentando resolvê-Ia, que comandos julgaria apropriados e por quê. Além de o que você acha que a máquina fez como resposta ao comando e por qual razão. É como se estivesse fazendo um comentário contínuo sobre o que faz e pensa. b) Quando se encontrar em dúvida sobre qual comando utilizar, peça-me conselho. c) Além disso perguntarei sobre o que está tentando fazer e que efeito espera que os comandos tenham. Teste: Folhear uma edição, do começo ao fim, durante 30 minutos e ler o que interessar. Tarefa: Quando chegar ao fim, volte para a capa. Muito obrigado (a) pelo seu apoio, cooperação e participação.

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APÊNDICE D – Perfil do entrevistado

Nome: ____________________________________ 1. Sexo

¨ M ¨ F

2. Qual a sua idade? ¨ 19 a 24 anos ¨ 33 a 42 anos ¨ 52 a 59 anos ¨ 25 a 32 anos ¨ 43 a 51 anos ¨ 60 ou mais 3. Escolaridade ¨ 1o Grau incompleto ¨ 2o Grau incompleto ¨ 3o Grau incompleto ¨ Especialização ¨ 1o Grau completo ¨ 2o Grau completo ¨ 3o Grau completo ¨ Mestrado e/ou Doutorado 4. A quanto tempo você utiliza tablet? ¨ 2 a 6 meses ¨ 7 meses a 1 ano ¨ 1 a 2 anos ¨ 2 a 3 anos ¨ 3 a 4 anos ¨ 4 a 5 anos ¨ 5 anos ou mais 5. Qual a sua profissão: _______________________________________________________________

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APÊNDICE E – Roteiro de usabilidade

Capa Viu o scroll das chamadas? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Viu o link das matérias? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Giro Viu os personagens? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Viu os números? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Imagens do dia Viu as legendas? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Viu a versão horizontal? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Conseguiu passar para a próxima página? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Conseguiu passar as fotos? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Reportagem 1 Viu a continuação na vertical? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não

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Viu os documentos dos ministros? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Reportagem 2 Viu a galeria de fotos? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Entrevista Viu o box “quem é”? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Reportagem 3 Viu os personagens? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Videorreportagem Viu a versão horizontal? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Viu o vídeo? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Colunista Texto Viu o scroll de texto? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Colunista vídeo Viu o vídeo? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Reportagem 4 Viu a galeria? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não

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Viu a animação? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Reportagem 5 Viu a galeria de fotos? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Dica ler Viu o scroll de texto? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Viu os botões da seção? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Viu a galeria de fotos? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Conseguiu fechar a galeria? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Dica Assistir Viu o scroll de texto? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Viu os botões da seção? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Conseguiu fechar a galeria? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Galeria de arte Conseguiu passar de página? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não

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Viu as ilustrações? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Imagem a mais Viu o vídeo? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Conseguiu fechar? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Expediente Viu os emails? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não Viu que era a última página? ¨ Sim ¨ Não de primeira ¨ Teve que procurar ajuda ¨ Não

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APÊNDICE F – Relatório final

Quais são as melhores e piores características do produto? +

-

Como você avalia o nivel de complexidade do Globo a Mais comparado a outras revistas que tem o costume de ler? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Conseguiu visualizar as páginas que tinham versão na horizontal? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Como você avalia as marcações do número de páginas, no canto inferior direito? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________

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