O Despotismo Ilustrado e a Educação no Exército (América Portuguesa: 1750-1777)

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A FORMAÇÃO DE ARTILHEIROS E DE ENGENHEIROS
EM PORTUGAL E NA SUA COLÔNIA AMERICANA –
UM ESTUDO COMPARATIVO
(1777-1808)

Ten.-Cel. Ped. Profª Drª Maria Luiza Cardoso (UNIFA[1])

A introdução das armas de fogo e o seu aperfeiçoamento, bem como das
novas técnicas de fortificação militar tornaram a guerra uma arte baseada
em saberes especializados: saberes matemáticos, tecnológicos, químicos, de
arquitetura e de engenharia.
Todavia, nos séculos XVII e XVIII, apesar das inovações e da
importância militar que a artilharia e a engenharia adquiriam nos
exércitos, a profissão de artilheiro e de engenheiro era desprezada pelas
elites portuguesas, uma vez que eram consideradas atividades "mecânicas" e,
por isso, passaram a ser recrutados para a área indivíduos que pertenciam
às classes mais desfavorecidas da sociedade.
Até a primeira metade do século XVIII, no exército português, ainda
não se distinguia muito bem a artilharia da engenharia. O que importava era
que os militares formados nessas áreas fossem capazes de se envolver nas
atividades de ataque e de defesa de territórios, e na construção de
fortalezas. Assim, ao artilheiro não cabia somente cuidar das "bocas-de-
fogo" para atingir o inimigo, mas, também, construir prédios, muros e
barreiras para defesa de uma tropa ou cidade.
No que se refere aos conhecimentos que os artilheiros tinham que
adquirir para exercerem as suas funções (de acordo com um tratado
manuscrito elaborado em 1450, por Mr. Favé, apud Cordeiro, 1895), esses
eram os seguintes: devia saber ler e escrever para conservar as "receitas";
saber construir fortificações, para resistir aos assaltos do inimigo; e
conhecer os pesos e as medidas. (p. 49).
Quanto ao conhecimento matemático, este interessava tanto a
artilheiros como a engenheiros, uma vez que embasavam as técnicas de
fortificação, de defesa e de ataque. Pelo fato desse conhecimento ser
escasso no reino, a formação desses profissionais era, na maioria das
vezes, conjunta e, assim, engenheiros ensinavam artilheiros e artilheiros
ensinavam engenheiros.
De acordo com Bueno (2000), as aulas se baseavam em tratados
(apostilas) produzidos pelos lentes e em textos clássicos. Mais tarde, os
livros passaram a ser traduzidos para o português e foram, também,
utilizados nas aulas. Todavia, a leitura desse material "não era passiva;
mas, dos vários textos consultados, [muitas vezes] compilava-se e discutia-
se as questões mais relevantes, enfatizando o debate entre os vários
autores e a própria opinião do lente sobre o assunto". (p. 53).
Devido à morte de D. José I, em 1777, o governo do seu primeiro-
ministro, o Marquês de Pombal (marcado pelas idéias dos enciclopedistas
franceses), foi seguido por um período denominado de "viradeira", quando D.
Maria I passou a reinar em Portugal (1777-1816), sendo substituída, em
1792, por seu filho D. João, devido a problemas psiquiátricos. Tal período
exprimiu uma alteração drástica nas relações que passaram a determinar o
poder e as dinâmicas econômica e social, desencadeadas no reinado anterior.

De acordo com a pesquisa realizada, quando D. Maria I assumiu o poder,
havia aulas para a formação de artilheiros e/ou de engenheiros nas
seguintes instituições do reino: na Academia Militar da Côrte (ou Aula de
Fortificação da Côrte), criada no reinado de D. Pedro II (1683-1706); nos
Regimentos de Artilharia e de Infantaria[2], iniciadas em 1762, quando o
Conde Lippe era o Comandante do Exército Português; e na Faculdade de
Matemática da Universidade de Coimbra.
Interessante, é que o Arsenal do Exército, de Lisboa, possuía uma
"Casa do Risco" (ou Aula do Risco), que era freqüentada, também, por
crianças e jovens[3]. Algumas delas se tornaram arquitetos civis famosos.
(MACHADO, 1922, pp. 153-197).
O Arsenal, também, possuía oficinas de espingardeiros, coronheiros,
fundição de artilharia, e, a partir de 1778, os pupilos da Santa Casa
puderam freqüentá-lo. (CORDEIRO, 1895, p. 225).
Reconhecendo-se que era fatigante para os expostos percorrer,
diariamente, o trajeto da Santa Casa da Misericória até o Arsenal, e vice-
versa, duas vezes por dia, "preparou-se uma casa, para os alojar, no páteo
da Fundição de Cima, junto à abegoaria, passando a ser abonados no rancho
dos presos sentenciados, empregados nos trabalhos braçais do Arsenal, e
sendo-lhes também ministrado o ensino de primeiras letras e distribuído
vestuário." (ANUÁRIO DE 1930, pp. 8-9). Também, havia "uma segunda aula, em
dias alternados, em que se ensinava desenho linear e de figura, francez,
arithmetica e geometria pratica, noções de algebra, architectura,
perspectiva, physica e mechanica pratica." (ANTUNES, 1886, p. 45).
Por meio do decreto de 7 de agosto de 1803, foi criada a Companhia de
Artifices do Arsenal do Exercito, com a finalidade de acabar com as
companhias de artifices nos corpos de artilharia, "em consequencia da
inutilidade da despeza e dos abusos que se commetiam". (CORDEIRO, 1895, p.
252-253).
No que se refere à América portuguesa, no início do reinado de D.
Maria I havia as seguintes aulas para a formação de engenheiros e/ou
artilheiros na Colônia: a Aula do Regimento de Artilharia da Bahia, a Aula
de Fortificação e Artilharia da Bahia (ou Academia Militar da Bahia), e a
Aula Militar do Regimento de Artilharia do Rio de Janeiro.
Todavia, já no final do reinado de D. José I, o exército português
começou a decair e, no governo posterior, chegou à ruína total. Enquanto os
estudos de navegação sofreram uma atualização, os estudos da artilharia e
da engenharia ficaram deficientes. Somente quando começou a Revolução
Francesa (1789), a rainha e sua côrte começaram a dar atenção ao exército.
Primeiramente, D. Maria I extinguiu a Aula de Fortificação da Corte
(ou Academia Militar) e criou, em seu lugar, em 5 de agosto de 1779, a
Academia Real de Marinha. Esse estabelecimento escolar foi instalado "no
edificio do Real Collegio de Nobres, [...] e só d'elle saiu em 1792, quando
as aulas d'aquelle Collegio se tornaram publicas". (SEPULVEDA, 1910, pp.
146-147).
A nova instituição foi criada com a finalidade de preparar oficiais
para a Marinha de guerra e mercante e, também, para o Exército. Segundo
Ribeiro (1872), "O pensamento do legislador, na creação da Academia Real de
Marinha, foi o de proporcionar aos portuguezes o estudo das sciencias
indispensaveis, [...] para se aperfeiçoarem na arte e na pratica da
navegação". (p. 33).
Os indivíduos que aspiravam tornarem-se oficiais engenheiros, e não,
oficiais de Marinha, tinham agora que freqüentar o curso de matemática da
nova Academia, constituído das seguintes matérias: aritmética, geometria,
trigonometria, álgebra, e, após esse conteúdo, "statica, dynamica,
hydrostatica, hydraulica e optica; depois do que [ou seja, depois de
formados com os osficiais de Marinha], passariam a ouvir as lições de
fortificação e engenharia, e a instruir-se no desenho[4]; [...]". (Grifo
nosso. RIBEIRO, 1872, p. 29). Todavia, as disposições do decreto de 1779,
com referencia às aulas de fortificação, engenharia e desenho, "nunca foram
cumpridas." (Ibidem).
A carta de lei de 5 de agosto, citada anteriormente, estabelecia que o
curso da Academia, que era matemático, deveria durar três anos. O seu
conteúdo ficaria a cargo de três professores, um para cada ano, assim
distribuídos: o primeiro professor, responsável pelo primeiro ano,
lecionaria "arithmetica, geometria, trigonometria plana, o seu uso pratico,
e os principios elementares da algebra até as equações do segundo grau
inclusive". O segundo, "iria proseguindo na continuação da algebra, na sua
applicação á geometria, e no ensino do calculo differencial e integral; e
só depois explicaria os principios fundamentais da statica, da dynamica,
hydrostatica, da hydraulica, e da optica". O terceiro, professor do último
ano, "ensinaria a trigonometria esphérica, e a arte de navegação theoretica
e pratica". (Ibid., p. 33).
Quanto aos alunos, o decreto estabelecia que para serem admitidos na
Academia deveriam ter, no mínimo, "quatorze annos completos", bem como
dominar as "quatro regras fundamentaes da arithmetica, verificado por meio
de exame pelo professor de geometria da academia". (Ibid., p. 33).
Para estimular os alunos ao estudo, foram criados 24 "partidos"[5],
"sendo 12 para os que se destinassem á marinha, e 12 para os que se
destinassem aos postos de officiaes engenheiros". (Ibid., p. 35).
Quando da seleção dos partidistas, os lentes eram recomendados a votar
"segundo o dictame da sua consciencia [sendo] Prohibo receber memorial
algum a favor de qualquer estudante, e communicar a outrem o juizo que
fizer". (Ibidem).
Os alunos das Aulas Regimentais poderiam se apresentar na Academia
Real de Marinha, desde que portando certidões de freqüência e exame dos
seus respectivos lentes.
A partir daí, seriam "examinados pelos lentes da [Real Academia]
[...]; e, ficando approvados, [...] estariam desde logo habilitados para
entrar na escola dos engenheiros, e gosar das graças e privilegios
concedidos aos matriculados e approvados na mesma Academia de Marinha".
(Ibid., p. 36).
No que se refere aos professores, "exigia-se o curso completo de 5
anos da Universidade [de Coimbra] e o licenciamento". (SILVA, 1937, p. 19).
A lei, também, considerava os estudos efetuados na Faculdade de
Matemática da Universidade de Coimbra equivalentes ao da Academia Real de
Marinha, uma vez que "não é da minha real intenção que nas aulas de
mathematica da universidade de Coimbra haja diminuição do numero dos
estudantes, [...]". (Apud ANTUNES, 1886, p. 29). Assim, a rainha
determinou:


hei por bem declarar que os estudantes, que se tiverem
applicado nos primeiros tres annos ao estudo das sciencias
mathematicas na mesma universidade, e apresentarem
certidões dos seus progressos, exames e approvações, serão
contemplados, como se tivessem feito o seu curso nas aulas
de geometria, calculo e sciencias physico-mathematicas de
Lisboa. (Ibidem).


Como podemos perceber, os estudos de navegação sofreram uma
atualização; mas, os estudos da artilharia e da engenharia ficaram
deficientes: "O exercito continuava atrazadissimo e em cada anno se ia
accentuando mais a deficiencia da sua instrucção technica, particularmente
nas armas especiaes, como mais exigentes". (SIMÕES, 1892, p. 7).
A fim de sobreviverem, as escolas regimentais (que ofereciam aulas de
artilharia e/ou de engenharia) procuraram se atualizar. Em 1786, o
Brigadeiro Christiano Frederico de Weinholtz, chefe do Regimento de
Artilharia da Corte, pediu autorização à rainha para substituir os livros
antigos, principalmente, os do curso de matemática de Belidor, adotados
desde a época do Conde Lippe, pelos de Bezout, mais modernos, que estavam
sendo ensinados na Academia Real de Marinha. (PORTUGAL, 1786).
No final do século XVIII, o corpo de oficiais de engenharia se separou
do corpo de oficiais da artilharia e da infantaria. Em 1787, foi criado o
Corpo de Engenheiros, inicialmente, composto só de oficiais. Em 1792[6],
esse Corpo passou a denominar-se Real Corpo de Engenheiros, "creando-se
tambem a classe dos subalternos, [...], sendo-lhe dado regulamento para os
seus serviços e disciplina [somente] em 12 de fevereiro de 1812". (ANTUNES,
1886, pp. 9-10).
Como citado anteriormente, foi a partir da Revolução Francesa (1789-
1799) que a rainha e sua côrte principiaram a dar atenção ao exército.
D. Maria I, sabendo que os estudos de fortificação e desenho não
estavam sendo oferecidos aos oficiais engenheiros que concluíam a Academia
Real de Marinha, e "querendo restabelecer e promover a solida instrucção de
um corpo tão essencial do meu Exercito [resolveu]: Hei por bem, que na
minha côrte, e cidade de Lisboa, se estabeleça uma Academia Real de
Fortificação e Desenho". (Preâmbulo da carta de lei de 1790, apud RIBEIRO,
1872, p. 28).
Em 2 de janeiro de 1790, foi criada, na cidade de Lisboa, a Academia
Real de Fortificação, Artilharia e Desenho (ARFAD), com a finalidade de
proporcionar estudos militares "de que necessitam os officiaes das
differentes armas do Exercito". (RIBEIRO, 1872, pp. 27-28). A carta de lei
encarregou a "direcção e administração [do estabelecimento] ao Engenheiro
Mór e Inspector Geral, com um Corpo cathedratico de seis Lentes e seis
Substitutos". (ALMEIDA, 1856, p. 20).
Segundo Machado (1979), a Academia foi instalada, inicialmente, no
Arsenal do Exército, passando depois "por vários lugares da capital, até
que foi arrumar-se no Colégio Real dos Nobres". (p. 18).
Cordeiro (1895), também, aponta como causas da criação da Academia a
falta de unidade de ensino das aulas regimentais, o despreparo dos seus
instrutores e o atraso "em relação ao avanço que a artilheria já tinha na
Europa, [...]". (p. 266).
No que se refere à falta de unidade no ensino, podemos observar que,
a partir de meados do século XVIII, a evolução da guerra impôs a
necessidade de se promover uma formação comum a todos os futuros chefes
militares. Assim, para ascender ao oficialato, passou a ser obrigatória a
freqüência a um estabelecimento de ensino superior militar.
O curso da ARFAD foi planejado, em 1787[7], com a duração de dois
anos. Todavia, "a riqueza das matérias que deveria leccionar, tornavam os
dois anos insuficientes para o aprofundamento conveniente e preparação
adequada do aluno." (CARVALHO, 1995, p. 109). De acordo com os estatutos
aprovados em 1790, o curso passou a ter a duração de quatro anos para
aqueles que fossem seguir a carreira militar na engenharia e na artilharia,
e de três anos, para aqueles que optassem pela cavalaria e pela infantaria.
Com o tempo, o governo entendeu que "devia considerar curso para
engenheiros o de quatro annos, o de tres para a artilheria e de dois para a
infanteria e cavallaria, o que foi estabelecido pela recusa da licença para
a frequencia dos annos seguintes, e não por ordem ou legislação escripta".
(CORDEIRO, 1895, p. 267).
Segundo um mapa de 20 de março de 1790, foram matriculados na
Academia, no seu primeiro ano, 44 discípulos, sendo que 38 estavam
freqüentando o estabelecimento naquele momento. (CARVALHO, 1995, p. 109).
Em agosto do mesmo ano, 33 ainda continuavam assistindo às aulas e somente
30 foram aprovados no período. Segundo Carvalho (1995), este foi uma ano
excepcional! (Ibidem).

No tocante à grade curricular, esta era assim distribuída:

1º. Anno: fortificação regular, o ataque e defeza das
praças, e os principios fundamentaes de qualquer
fortificação.
2º. Anno: fortificação irregular; fortificação effectiva e
fortificação de campanha.
3º. Anno: theorica da artilheria, das minas e contraminas,
e sua applicação ao ataque e defeza das praças.
4º. Anno: architectura civil, o córte das pedras e
madeiras, o orçamento dos edificios, e tudo o que respeita
ao conhecimento dos materiaes que entram na sua
composição; e bem assim, explicação dos melhores methodos
de construcção de caminhos e calçadas; e, finalmente, a
hydraulica, a architectura das pontes, canaes, portos,
diques e comportas. (RIBEIRO, 1872, pp. 29-30).

Quanto à aula de hidráulica, embora fosse ensinada, também, na
Academia Real da Marinha, os autores do projeto achavam que os
conhecimentos ministrados naquele estabelecimento de ensino eram muito
superficiais: "huns principios suscintos, em nenh'ua aplicaça'o à pratica".
(Apud CARVALHO, 1995, pp. 110-111).
Nessa Academia serviu de texto a Architedura militar, de Antoni,
importante obra italiana, traduzida pelos lentes Dias Azedo, Pedro Joaquim
Xavier, José Lare e Cypriano José da Silva. (SEPULVEDA, 1910, pp. 165-166).
Cada lente escolhia um livro, "pois as postilas (sebentas) levariam
muito tempo a escrever e trariam muitos inconvenientes". As traduções dos
livros deveriam ser realizadas como na Universidade de Coimbra. (CARVALHO,
1995, p. 110).
Também, de acordo com os estatutos, deveria existir na Academia "uma
colecção de livros sobre fortificação, ataque e defesa de praças,
artilharia e castramentaçâo, porque um compêndio é insuficiente para tratar
com profundidade as diversas matérias." (Ibidem). Dessa forma, os alunos
poderiam "analisar os diversos sistemas e compará-los". (Ibidem).
Além dos livros, os alunos deveriam ter acesso a instrumentos para
realizarem experimentações. (Ibidem). Também, deveria existir "duas
maquetas de fortificação, em escalas diferentes, para os alunos poderem
idealizar uma obra com aquelas características". (Ibidem).
Os alunos deveriam começar a estudar "às 9 horas, entre os meses de
Novembro e Fevereiro, e 1 hora mais cedo nos restantes". (CARVALHO, 1995,
pp. 111-112). Cada aula deveria durar uma hora e meia, e o tempo seria
distribuído da seguinte forma: "metade, de perguntas dos alunos e repetição
sobre a anterior, e a outra sobre o tema daquele dia". (Ibid., p. 112).
Infelizmente, não sabemos o horário em que terminava o período escolar. Na
Academia de Marinha, as aulas deveriam terminar às 10h 30min. (Ibidem).
Aos sábados e no final de cada mês, os alunos deveriam realizar
exercícios literários sobre os assuntos discutidos na semana. Segundo
Carvalho (1995), "Nesta prova, intervinham 9 elementos: 3 defendentes e 6
arguentes; sempre tirados à sorte." (Ibidem). Cabe ressaltar, que esses
exercícios "eram muito rigorosos e aos faltosos, era-lhes aplicado uma
penalização de falta dobrada, agravando os que tinham partido, além daquela
punição, com coima do dobro do que vencem por dia." (Ibidem).
Ao final de cada ano letivo, os alunos deveriam realizar um exame,
que tinha a duração de uma hora. A avaliação deveria ser feita por um júri
de três membros, "que avaliaria 1 das 3 matérias fixadas para o exercício e
colocadas em cofre forte com 24 horas de antecedência". (Ibidem).
Através da contabilidade realizada pelo secretário da Academia, João
Carlos Portelli, foi possível tomar conhecimento das várias atividades
realizadas naquela instituição:

Existem os recibos do papel (por tipos e quantidades), da
tinta, das canetas, das encademaçõs de livros, das
remessas dos livros e preços (com visto do Lente
requisitante), da cera (tochas c/seu peso) para
iluminação, de cargas de areia, de copos para os alunos
beberem, da limpeza (feita por rapazes da fundição, por
mulheres, por negros), letreiros para as estantes da
biblioteca, etc. Artigos próprios para a Academia
funcionar organizadamente. (CARVALHO, 1995, p. 108).

Os lentes e seus substitutos eram obrigados "a sair ao campo com os
seus discipulos, quando a estação o permitisse, para os exercitarem na
pratica das disciplinas que ensinassem". (RIBEIRO, 1872, p. 30).
Interessante é que desses exercícios deveriam participar todos os lentes,
"para se coadjuvarem, uns aos outros; mas o lente de cada anno é quem devia
dirigir o exercicio que lhe respeitava". (Grifo nosso. Ibidem). Hoje,
chamamos isso de interdisciplinaridade, que é um importante objetivo
educacional.
Os exercícios práticos deveriam envolver atividades de "topographia,
fortificações e sapas, construcções de obras, castrametação, manejo das
bôcas de fogo e construcção de baterias". (SIMÕES, 1892, p. 9). Todavia,
"As praticas não tiveram nunca um grande desenvolvimento. Servia de
desculpa o facto de se haver perdido o material de campo no incendio do
arsenal do exercito em 1794, onde estava alojada a academia; e não possuir
meios para o adquirir". (Ibidem).
Quanto aos professores e substitutos, de acordo com os estatutos,
deveria haver um lente, acompanhado de um substituto para cada uma das
matérias citadas. Também, deveria "haver um lente de desenho, encarregado
de ensinar o que os alumnos fossem aprendendo nos tres primeiros annos, e
bem assim de ensinar a copiar e reduzir plantas, representar perfis,
configurar diversos terrenos, e (diziam os estatutos) a traçar com
perfeição a letra redonda". (Ibid., p. 30).
Os lentes e discípulos tinham os mesmos privilégios que os da Academia
Real de Marinha e, por extenção, que os da Universidade de Coimbra. A este
respeito diz textualmente a carta de lei de 5 de Agosto de 1799:

Os professores da Academia Real de Marinha gozarão de
todos os privilégios, indultos e franquezas que tem os
lentes da Universidade de Coimbra. Serão tidos e havidos
como membros da Faculdade de Matemática existente na dita
Universidade, sem que entre os lentes da Academia Real de
Marinha e os de Coimbra se haja de interpor diferença
alguma ainda a respeito daquelas graças e franquezas que
requerem especial e expressa menção; porque quero que
estas sempre se entendam e julguem compreendidas; e serão
considerados e atendidos em tudo e por tudo, como se
realmente regessem as suas respectivas cadeiras na mesma
Universidade. Os discípulos, que legitimamenfmente
frequentarem a dita Academtia, gozarão dos mesmos
privilégios e franquezas que se concedem aos estudantes da
sobredita Universidade. (Apud SILVA, 1937, p. 19).

Cabe ressaltar que as funções docentes "eram vitalícias, jubilando-se
os lentes ao fim de 20 anos de serviço". (Ibidem).
O estatuto não estabelece as condições para a nomeação dos lentes.
Segundo Carvalho (1995), estas deveriam ser as mesmas adotadas para os
lentes da Academia Real da Marinha. Assim, o candidato deveria possuir o
"curso de Matemática da Universidade de Coimbra (5 anos), com a
licenciatura. Para a admissão, teriam de ser propostos pela Universidade de
Coimbra e pelos 3 professores da Academia Real de Lisboa". (p. 110).
No que se refere aos alunos, os que gostariam de ser engenheiros ou
artilheiros deveriam apresentar certidão de aprovação "no 1º. e 2º. anno do
curso mathematico da Academia Real de Marinha". (RIBEIRO, 1872, p. 30).
Também, deveriam possuir "uma constituição robusta; [sem qualquer] defeito
na vista, ou alguma tremura nas mãos". (Ibid., p. 31). Já aqueles que se
destinavam a oficiais de cavalaria ou infantaria, deveriam apresentar
certidão de aprovação somente "no 1º. anno da indicada academia". (Ibid.,
p. 30).
Quanto aos alunos das aulas regimentais, estes poderiam ser admitidos
na Academia de Fortificação desde que fossem examinados e aprovados pelos
lentes da Academia Real da Marinha. Para esse fim, "se concedeu a todos os
regimentos que o pudessem fazer o fundarem, á imitação dos corpos de
artilharia, uma aula particular para a habilitação nos necessarios
preparatorios mathematicos e scientificos". (SEPULVEDA, 1910, p. 150).
Mais tarde, os professores da Academia de Fortificação verificaram que
os estudos matemáticos da Academia de Marinha eram insuficientes e
tentaram, várias vezes, modificar o regime adotado, "com o fim sobretudo de
se melhorar a preparação dos candidatos à freqüência do curso de
engenharia". (SAMPAIO, 1937, p. 41).
Cabe ressaltar que todos os candidatos tinham que demonstrar
conhecimento suficiente da língua francesa.
Com relação às idades mínimas e máximas para cursar a Academia, nada
se legislou sobre o assunto.
Pôde-se observar que os alunos que freqüentavam a Academia possuíam as
seguintes origens: ou eram Cadetes (filhos de nobres ou de famílias
abastadas), ou eram militares que tinham começado a carreira como
Soldados[8], ou eram alunos civis. (CARVALHO, 1995, p. 114).
Para incentivar os alunos a estudar, o estatuto previa a distribuição
de seis partidos em cada uma das aulas de Fortificação, Artilharia e
Hidráulica, "para premiar os alumnos de maior merecimento". (RIBEIRO, 1872,
p. 31). Os prêmios deveriam ser dados, de preferência, aos alunos da
engenharia e da artilharia.
A Academia deveria possuir um secretário, que "ao mesmo tempo
desempenhasse as funcções de guarda livros, archivista e bibliothecario".
(Grifo nosso. Ibidem). O arquivo destinava-se a guarda "não só [dos] [...]
desenhos feitos pelos alumnos, se não tambem [de] todas as plantas, cartas
e projectos militares, de que fossem incumbidos os officiaes engenheiros".
(Ibidem). Também, "Devia haver um porteiro, e dois guardas da academia".
(Ibidem).
Mais tarde, em 1794, foi criada a função de diretor, "com o fim de
prover á regencia e aperfeiçoamento dos estudos da aula de desenho d'esta
academia, e de estabelecer na mesma academia a indispensavel escola de
gravado". (Ibid., p. 370).
Em princípio, a inspeção da Academia deveria ficar a cargo do
Engenheiro-Mór do reino. Na sua ausência, deveria ser nomeado um inspetor
que fosse engenheiro.
Os alunos que saíam da Academia como oficiais engenheiros,
primeiramente, "passavam a servir como tenentes aggregados nos regimentos
de infanteria durante dois annos, onde deviam aprender tudo que é relativo
á tactica e ao serviço de tropas". (SIMÕES, 1892, p. 9). Após esse período,
eram promovidos a primeiros tenentes e ficavam agregados dois anos na
artilharia. Só depois desses "estágios" eram designados "a servir como
ajudantes aggregados a algumas das brigadas do corpo de officiaes
engenheiros em tirocinio, no fim do qual eram confirmados officiaes
effectivos das mesmas brigadas". (Ibidem).
Os oficiais oriundos da Academia de Fortificação tinham preferência
nas promoções aos postos do exército, "preterindo outros [militares] mais
antigos, a não ser que estes se quisessem sujeitar a exame de todas as
materias d'esse curso". (SEPULVEDA, 1910, p. 149).
Na opinião de Carvalho (1995), "Poder-se-á afirmar que Academia Real
de Fortificação, Artilharia e Desenho possuía a mesma qualidade, e em
determinadas áreas, até mais, que a Universidade de Coimbra". (p. 120).
Cabe ressaltar que o ensino superior militar não estava situado apenas
em Lisboa: "Existiam 35 alunos no Regimento de Infantaria de Castelo de
Vide e 50 no de Artilharia do Algarve." (CARVALHO, 1995, pp. 119-120).
Também, por meio da carta regia de 16 de setembro de 1799, criou-se
uma aula de matemática na cidade de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira,
localizada nos Açores, a fim de oferecer "instrucção do batalhão de
infanteria com exercicio da artilheria da guarnição do castello de S. João
Baptista." (CORDEIRO, 1895, p. 267). Através desse documento, o antigo
regimento passou a ter exercício de artilheria, "passando a denominar-se
batalhão de artilheria, devendo todos os officiaes ter os estudos
determinados por aquelles estatutos, e só por estes estudos poderiam ter
accesso, precedendo exame e concurso". (Ibidem).
Quanto à América portuguesa, constatamos que, em 1776, o então
capitão de artilharia José Gonçalves Galeão foi enviado para a Bahia como
'oficial instruido', a fim de "integrar a reorganização do Regimento de
Artilharia nos moldes de Lippe e estabelecer a instrução metódica da
artilharia". (CURADO, 1997, p. 505).
No ano seguinte, o Governador encarregou-lhe de ministrar "a segunda
Aula de Matemática para haver oposição com a outra que havia, de que é
lente o sarg.-mor engº José António Caldas". (Ibidem).
Em 1778, Galeão já estava ensinando a arte da artilharia para "alguns
oficiais, oficiais inferiores e soldados que desejavam adquirir, por meio
dos estudos, as luzes indispensáveis para serem bons artilheiros, tanto na
teórica como na prática...". (Ibidem).
Com o falecimento de Caldas (1782), Galeão ficou responsável pela
instrução do regimento.
Nessa época, as obras de Belidor, mandadas adotar nas aulas dos
regimentos de artilharia pelo Conde Lippe, em 1763, já estavam
ultrapassadas, como mencionado anteriormente. Na Universidade de Coimbra e
na Academia Real de Marinha já se adotava o curso de matemática de Bezout.
Todavia, o plano de 1763 ainda não tinha sido atualizado e os regimentos do
reino e das suas colônias eram obrigados a ensinar pelos livros antigos.
Apesar dessa proibição, as obras de Bezout eram ensinadas na Aula do
Regimento de Artilharia da Bahia (!!!).
Cabe ressaltar que, na América portuguesa, o livro mais adotado do
general francês Bernard Forest de Belidor (1697-1761) foi "Geometria
Prática", que fazia parte do seu Curso de Matemática, em associação com o
livro "Aritmética" de Bézout. Segundo Valente (1997), Belidor trata, no
primeiro livro (ou capítulo) dessa sua obra, intitulado Introdução à
Geometria, "os vários temas iniciais da álgebra, da geometria e da
aritmética compondo um texto didático acessível aos alunos aos quais nada
era praticamente exigido além do conhecimento prévio das quatro operações
fundamentais da aritmética". (p. 65). Todavia, o restante do livro enfoca a
geometria, tão necessária às atividades de artilheiros e engenheiros. O
modo como escreveu o texto "liga-se estreitamente à escrita da forma como
ministrava suas aulas. O livro passa a ser uma espécie de transcrição das
aulas. Tudo muito detalhadamente explicado [até mesmo em função do baixo
nível de conhecimento matemático que os alunos possuíam]". (Idem, p. 68).
A tradução do curso matemático do professor Etienne Bezout (1730-1783)
para a língua portuguesa ocorreu quando da criação da Faculdade de
Matemática da Universidade de Coimbra, em 1772: "Na criação da Faculdade
reformam-se todos os saberes em ciências e também mudam-se os livros
utilizados até então". (Idem, p. 76).
Enquanto Belidor insere num único volume conhecimentos acerca da
geometria e da álgebra, por exemplo, Bezout elabora manuais independentes
para os diversos assuntos matemáticos. Portanto, no volume destinado à
Aritmética, "constam somente números e expressões numéricas. Assim, muitas
vezes as explicações cujo intuito é a generalização terminam sempre por
serem longas, mas assim mesmo, bastante didáticas". (Idem, p. 81).
No tempo em que, em Portugal, o curso de Bezout substituiu o de
Belidor no ensino da matemática, na América, os livros desses autores foram
adotados em conjunto. Belidor foi empregado para o ensino da geometria e
Bezout para o da aritmética.
De acordo com Valente (1997), "A adoção de Bézout e Bélidor inaugura
no Brasil a separação Aritmética e Geometria". (Idem, p. 83). Mais tarde, a
Álgebra também se tornará independente. Cabe ressaltar, que esse modo de
ensinar a matemática, no meio militar, irá influenciar o seu ensino no meio
civil, durante o século XIX.

Será essa matemática, inicialmente ligada diretamente à
prática, que, desenvolvida pedagogicamente nas escolas
técnico-militares, organizada, dividida e didatizada para
diferentes classes, passará para os colégios e
preparatórios do século XIX, e orientará os autores
brasileiros a escreverem seus próprios livros didáticos.
(Ibidem).

No que se refere a Pernambuco, no ano de 1788, D. Tomaz de Melo,
Governador e Capitão-General da Capitania, criou uma Academia Militar que,
infelizmente, teve curta duração. De acordo com os seus estatutos,
aprovados em 1º. de março desse ano, a instituição foi criada para ensinar
"aquelas partes mais essenciais do Curso Matematico de Belidor e Bezout,
que necessario seja para qualquer ação do real serviço; [...]". (Grifo
nosso. Estatutos transcritos por PIRASSINUNGA, 1958, pp. 80-84).
Como podemos perceber, o governador implantava um curso matemático
com a bibliografia que estava sendo estudada no curso da Academia Real de
Marinha[9]. Seu primeiro lente foi João Rabelo de Sequeira Aragão,
engenheiro da capitania.
Quanto aos discípulos e às condições que deveriam possuir para serem
admitidos, o estatuto informa que "Os lentes da aula admitirão para seus
discipulos só aqueles sujeitos que [...] se acharem previamente exercitados
e expeditos na pratica das quatro regras fundamentais da Aritmetica, quer
sejam militares ou paisanos, [...]".(Grifo nosso. Ibidem).
Em 1795, foi criada uma Aula de Geometria, por determinação régia,
provavelmente, para substituir a Academia, e seu primeiro professor foi o
capitão de infantaria Antonio Francisco de Bastos (VITERBO, 1922, p. 249).
No Rio de Janeiro, durante o vice-reinado de D. Luiz de Castro, 2º.
Conde de Resende (1790-1801), a Aula Militar do Regimento de Artilharia
transformou-se na "Real Academia de Fortificação, Artilharia e Desenho da
Cidade do Rio de Janeiro" (RAFAD). Segundo Tavares (2000), o incentivador
da criação dessa Academia foi o Sargento-mor de infantaria, com exercício
de engenheiro, Joaquim Correia da Serra, que, desde 1789, foi designado
para servir por seis anos no Rio de Janeiro. Esse engenheiro, que estudou
na Itália, "Publicou trabalhos sobre Ciências, Matemática, Mecânica,
Arquitetura Civil e Militar e as artes do Desenho"[10]. (p. 176).
Em carta de 21 de dezembro de 1792, o Conde informou a D. Martinho de
Melo e Castro, ministro de D. Maria I, os estatutos da Academia, inaugurada
no dia 17 daquele mês. Eis um trecho do documento:

Remeto á V. Exa. os Estatutos da nova Aula Militar que no
dia 17 do presente mês, por ser o dos Anos de Sua
Magestade, mandei abrir nesta Cidade, á qual assisti com
um grande numero de oficiais e concurso de muitas pessoas,
que além dos matriculados, a quem com antecedencia havia
prevenido e feito avisar para assistirem a este ato,
poderão aproveitar-se dos Estudos da mesma Aula.
(PIRASSINUNGA, 1958, p. 29).

No que se refere à sua finalidade, nada encontramos até o momento.
Sabemos que os lentes e os funcionários deveriam ficar subordinados
diretamente ao Vice-Rei, como previsto no estatuto: "[...] os Lentes se
devem reger pelas Ordens imediatas que receberem de mim a quem recorrerão
para lhes dar as providencias que julgarem necessarias".
A Academia foi instalada na Casa do Trem[11] de Artilharia (hoje,
Museu Histórico Nacional), que foi edificada pelo General Gomes Freire de
Andrade, conhecido como Conde de Bobadela, no ano de 1762, época em que ele
era "Capitão-General do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais (1733-
63)". (BENTO, 1988). Ela foi construída para abrigar o material bélico
usado pelo exército quando da demarcação do Tratado de Madrid (1750).
Junto à Casa do Trem ficava o Regimento de Artilharia, que colaborava
para o funcionamento daquela instituição escolar.
De acordo com os estatutos, o curso da Academia duraria seis anos e
seu currículo seria baseado num curso matemático acompanhado de exercícios
práticos[12].
Esse curso matemático seria oferecido da seguinte forma:

Nos primeiros dois anos se ensinará o Curso de
Belidor[13].


No terceiro ano se ensinará a teoria de Artilharia, das
Minas e Contra-minas, e a sua aplicação ao ataque e
defensa das Praças, o que se fará pela doutrina de Sam-
Remy, na conformidade do Plano dos Regimentos de
Artilharia, ou (o que é o mesmo) pela Artilharia de le
Blond.


No quarto ano se ensinará a Fortificação regular, o ataque
e defensa das Praças e os principios fundamentais de
qualquer fortificação.


No quinto ano se ensinará a Fortificação irregular, a
Fortificação efetiva e a Fortificação de Campanha, no que
se seguirá a doutrina do Curso de Antoni, cuja instrução
dos ditos cinco anos será dada pelo Lente do Regimento de
Artilharia desta cidade. (Grifo nosso).

No sexto ano, os alunos estudariam

a Arquitetura Civil, o Corte das pedras e madeiras, o
Orçamento dos Edificios, e tudo o mais que fôr relativo ao
conhecimento dos materiais que entram na sua composição,
como também explicará os melhores metodos, que hoje se
praticam nas construções dos Caminhos e Calçadas.


[e] a Hidraulica e as mais partes que lhe são analogas,
como a Arquitetura das pontes, canais, portos, diques e
comportas; [...]. (Grifo nosso).

Como podemos observar, o curso destinava-se à formação de "artilheiros-
engenheiros". Todavia, aqueles que pretendessem seguir a carreira de
oficiais de Infantaria e Cavalaria, também, teriam que realizar o curso da
Academia:

bem entendido que os militares de Infantaria e Cavalaria
completarão no fim do terceiro ano o tempo das suas
aplicações; os de Artilharia no fim do quinto ano e os que
quiserem seguir a profissão de Engenheiros, e para esse
fim tenham sido providos em algum dos Seis Partidos da
dita Aula, só completarão o tempo da sua aplicação no fim
do Sexto ano.

Assim, de acordo com o estatuto, os futuros oficiais da Infantaria e
da Cavalaria terminavam o curso ao final do terceiro ano. Os da Artilharia,
ao final do quinto ano, e os da Engenharia fariam o curso completo.
Também, esse documento estabelecia que o lente do Regimento de
Artilharia ficaria responsável pela instrução dos alunos, nos primeiros
cinco anos. Para o sexto ano, seria nomeado outro lente.
Para auxiliar os professores, seriam designados lentes substitutos
(dois para cada titular), a fim de "suprirem os seus impedimentos, [e]
[...] para os ajudar nos exercicios praticos e ainda nas Lições
expeculativas e de desenho". (Grifo nosso).
Vejam que não havia um professor de Desenho, como na sua congênere
portuguesa (criada em 1790), tendo os professores titulares que lecionar,
também, esta parte do conteúdo.
Ao observarmos o que diz o estatuto da Academia de Fortificação,
Artilharia e Desenho, de Lisboa, podemos perceber que as aulas deveriam ser
ministradas por 06 lentes, 06 substitutos e 01 professor de Desenho,
"encarregado de ensinar o que os alumnos fossem aprendendo nos tres
primeiros annos, e bem assim de ensinar a copiar e reduzir plantas,
representar perfis, configurar diversos terrenos, e (diziam os estatutos) a
traçar com perfeição a letra redonda". (RIBEIRO, 1872, p. 30). Considerando
que os lentes da RAFAD tinham, também, que lecionar o curso matemático que,
em Lisboa, era ministrado na Academia Real de Marinha, podemos imaginar que
eles ficavam sobrecarregados.
Como visto, na Academia reinol, os lentes e discípulos tinham os
mesmos privilégios que os da Academia Real de Marinha e, por extensão, que
os da Universidade de Coimbra. Teriam os lentes e alunos da RAFAD esses
mesmos direitos? Não sabemos.
Assim como na congênere portuguesa, os lentes, também, eram obrigados
a realizar exercícios práticos com os alunos, "quando as estações o
permitires". Essa instrução, realizada a partir do segundo ano, constava
das seguintes atividades:

No 2.° ano se ensinará o uso dos instrumentos pertencentes
á Geometria pratica; fará medir distancias inacessiveis,
nivelar terrenos, e tirar diversas plantas, e tudo quanto
puder praticar-se das matérias que tiver explicado.


No 3.° ano se ensinará o manejo das bocas de fogo que se
usam na Artilharia: fará construir bateria e exercitará os
discipulos em tudo que fôr suceptivel de praticar-se.


No 4º. ano se ensinará a delinear sobre o terreno qualquer
fortificação regular, e se delineará tambem sobre o mesmo
terreno as principais obras do ataque e defeza das Praças.




No 5.° ano se formará sobre o terreno alguma obra de
fortificação de Campanha, assim como ensinará a
Castrametação e tudo quanto puder praticar-se
relativamente as materias que tiver tratado.


O Lente do 6.° ano, sendo encarregado de alguma obra das
materias que tiver explicado, poderá exercitar-se na
pratica dela ou seus discipulos.

O estatuto prevê a realização de uma avaliação do ensino (exame)
somente a partir do segundo ano. Todavia, ele não informa sobre a sua
freqüência (mensal, semestral, anual). Na sua congênere portuguesa, os
exames eram anuais.
Os exames, feitos "na presença do respectivo lente e seu substituto"
deveriam ser realizados da seguinte forma:

Haverão diversos vasos que o Lente proverá de Sortes, nas
quais estejam notadas em cada uma delas uma das principais
proposições de cada livro do Curso de Belidor, das quais o
examinado tirará uma de cada um dos livros do dito curso
para ser perguntado por ela. O dito Lente proverá tambem
um Vaso de Sorte em que estejam notadas em cada uma delas
uma das proposições fundamentais da Artilharia, das quais
o examinado tirará três Sortes para ser perguntado por
elas e igualmente das explicações do 4º., 5.° e 6.° ano
haverão de cada uma delas Vasos com Sortes das suas
principais proposições, das quais o examinado também
tirará tres para ser perguntado por elas, dando-se a
todos, vinte e quatro horas desde que tirarem a Sorte até
serem perguntadas. (Grifo nosso).

Ao final de três anos, todos os alunos prestavam um exame de Língua
Francesa.
Aqueles que se destinavam à carreira militar na Infantaria e na
Cavalaria precisavam ser aprovados "até o decimo livro do Curso de Belidor,
para poderem passar ao estudo do 3º. ano".
Os alunos do curso de Engenharia que pretendessem concorrer a um
"partido" eram "obrigados a mostrar por exames que sabem a doutrina
correspondente ao primeiro ano (ao menos)". Pelo visto, somente os alunos
de engenharia podiam concorrer a essas vagas.
Para ser admitido na Academia, bastava saber "as quatro especies de
Aritmetica Ordinaria". Todavia, aqueles que pretendiam seguir a profissão
de engenheiros militares deveriam possuir "uma constituição robusta, sem
defeito algum na vista ou tremura de mãos".
Segundo Pirassinunga (1958), no seu primeiro ano, cursaram a Academia
cerca de 73 alunos, "entre oficiais, oficiais inferiores e soldados dos
Regimentos da Praça do Rio de Janeiro, partidistas do número e
particulares[14]". (p. 35). Cabe ressaltar que portugueses do reino também
estudaram nessa instituição.
Ao observarmos a "Relação dos primeiros alunos da Academia de
Fortificação, Artilharia e Desenho"[15], podemos verificar que foram
matriculados 03 Capitães, 01 Ajudante, 06 Primeiros-Tenentes, 07 Segundos-
Tenentes, 06 Alferes[16], 05 Sargentos, 10 Furriéis[17], 01 Porta-
Bandeira[18], 24 Cabos, 04 Cadetes[19], 04 Soldados e 02 civis. Portanto,
mais alunos do que na ARFAD, que teve 44 matriculados em 1790.
Assim, dos 73 alunos, 48 (mais da metade) eram oficiais inferiores
(sargentos, furriéis, porta-bandeiras, cabos), cadetes e soldados. Com
exceção dos cadetes, esses militares eram oriundos das classes sociais mais
baixas da sociedade.
Os alunos tinham aulas às segundas, quartas e sextas-feiras, pela
manhã, durante duas horas, "pelo que respeita as lições expeculativas".
Após essas duas horas, os lentes deveriam exercitar os alunos por "uma
hora e um quarto no desenho da doutrina correspondente áquele ano". (Grifo
nosso).
Os períodos de férias eram os seguintes: do dia 21 de dezembro até o
dia 6 de janeiro, Semana Santa e Páscoa, e "Semana da Festa do Espirito
Santo".
Após os seis anos de curso, os recém-formados engenheiros militares,
que recebiam a patente de Primeiro Tenente, deveriam ser encaminhados para
o Regimento de Artilharia, a fim de ali prestarem serviços, como agregados,
pelo período de um ano. Acreditamos que tal período funcionava como um
"estágio".
Depois disso, "tendo mostrado cumprirem com as suas obrigações no dito
Corpo, e tambem sendo aprovados nos exames das aplicações dos 6 anos [...]
serão propostos pelos Lentes em Ajudantes Engenheiros para eu [vice-rei] os
propor a S. Magde.". Observem que a avaliação final do curso de engenharia
só ocorria ao término do período de "estágio", como na sua congênere
portuguesa.
Os formandos que se destinavam à Infantaria, à Cavalaria e à
Artilharia, seriam "atendidos conforme sua aplicação". Provavelmente, os
melhores colocados poderiam escolher as suas vagas, ou seja, os locais onde
gostariam de servir.
Quanto aos oficiais inferiores (sargentos, cabos e soldados) que
terminavam o curso, estes "serão promovidos em consequencia das ditas
certidões".
A Academia deveria possuir um Secretário que ficaria responsável pelas
seguintes tarefas: "fazer as matriculas e assentos e de passar as Certidões
[de aprovação nos exames] do costume, como tambem de cuidar do arranjo e
ordem da Biblioteca Militar, e na conservação das Plantas e Mapas do
Deposito". (Grifo nosso). Vejam que o secretário exercia, também, as
funções de bibliotecário e arquivista.
No Arquivo (Depósito) da Academia ficava um livro que continha
"circunstanciadamente o merecimento de cada um dos discipulos", bem como
"desenhos que fizerem os discipulos, mas tambem todas as Plantas, Cartas e
projetos militares que devem resultar das diligencias de que forem
incumbidos os Oficiais Engenheiros".
O primeiro secretário da Academia foi o aluno (!) Domingos Francisco
Ramos, capitão do 2º. Regimento, que ainda estava "estudando o 1º. livro do
Curso Matemático". (PIRASSINUNGA, 1958, p. 34).
Além do secretário, a Academia deveria possuir um porteiro e dois
guardas, do efetivo do Regimento de Artilharia (provavelmente, militares),
que tinham como obrigação: "cuidar do asseio das Aulas, e no Arranjo, e
limpeza dos modelos, e instrumentos que lhes serão entregues por um
inventario e servirão nos Exercicios praticos em tudo o que lhes fôr
ordenado pelos Lentes ou Secretario".
Cabe ressaltar que nada encontramos sobre o cargo de Diretor, que
passou a existir na sua congênere portuguesa, somente, a partir de 1794.
Passado algum tempo de funcionamento da Academia, foi observado que os
Infantes não se adaptaram àquele meio. Eles alegavam que estavam tirando
muito pouco proveito daquilo que estava sendo ensinado naquela instituição,
no que diz respeito à sua especialidade. Realmente, analisando o currículo
da Academia, podemos notar que ele era voltado para a formação de
artilheiros e engenheiros, como na ARFAD. Todavia, não era só isso: de
acordo com o Conde de Resende, eles não estavam conseguindo acompanhar as
lições ministradas no curso.
O Conde, então, para solucionar o problema, criou uma nova
Academia[20], só para os infantes: a Academia de Aritmética, Geometria
Prática, Fortificação, Desenho e Língua Francesa para Oficiais de
Infantaria.
Cabe ressaltar que, em Portugal, os futuros oficiais de todas as armas
(Infantaria, Cavalaria, Artilharia-Engenharia) eram formados na mesma
Academia de Fortificação, Artilharia e Desenho. Assim, podemos dizer que a
iniciava do Conde de Resende, fora qualquer juízo de valor, foi inédita
para a época.
O estatuto da nova Academia foi aprovado em novembro de 1795[21], e a
instituição começou a funcionar em 1º. de dezembro desse mesmo ano. Segundo
Pirassinunga (1958), a Academia foi inaugurada "com um corpo discente de
cêrca de 16 alunos, todos matriculados na primeira quinzena dêsse mês e,
figurando entre êles os dois filhos do Conde de Resende". (p. 51).
De acordo com esse documento, a Academia deveria possuir um diretor
(ao contrário do que pudemos observar na RAFAD), e este tinha como
obrigação visitar muitas vezes a Academia.
No que se refere aos alunos, o diretor deveria "vigiar [...] sobre a
aplicação e fervor dos Discípulos". Quanto aos professores, ele deveria
acompanhar "o zêlo e cuidado dos Lentes, observando se êles se conformam
nas suas Lições ao metodo dos Autores nomeados, e se as traduções e
Extratos que devem fazer, são fieis, e ordenadas com clareza, e boa
digestão". (Grifo nosso). Como podemos perceber, o diretor possuía funções
pedagógicas.
O primeiro diretor da nova Academia foi o Tenente-Coronel Joaquim
Xavier Curado, americano de Goiás.
Segundo o estatuto, o currículo foi montado para um período de dezoito
meses[22], e procurou-se levar em consideração que muitos dos oficiais e
cadetes daquela Arma se achavam "sem os principios necessários para
servirem de base a lição dos Autores"[23]. Também, foi elaborado
considerando as particularidades das suas atividades militares. Portanto,
as novas matérias ficaram assim distribuídas:

se lhes ensinará nos primeiros seis meses o Tratado de
Artilharia, de Bezout[24].


nos seis meses seguintes aprenderão Geometria Pratica,
extraída do Curso de Belidor,


findos os quais se devem aplicar ao estudo de
fortificação, explicando-se por um metodo pratico os
Elementos de Fortificação por Le Blond.


Nesses dezoito meses ensinar-se-a juntamente o Desenho
pelo Tratado de Buchotte, e a Lingua Francesa. (Grifo
nosso).

Junto com o estatuto da Academia, o Conde de Resende enviou para
Lisboa uma relação de livros que seriam necessários aos estudos dos alunos.
Pela relação podemos verificar o que era ensinado (ou deveria ser ensinado)
na Academia. Eis a transcrição de parte do documento:

Alguns jogos do Curso de Aritmetica de Bezout;
Alguns jogos do Curso Belidor;
As obras de Le Blond;
A Fortificação de Antoni;
Ataque e defeza das Praças por Vauban;
Tratado de Desenho por Buchotte;
Engenheiro de Campanha por Clairac;
Arquitetura Militar;
Elementos de Tatica;
Ensaio de Tatica;
Arte da Guerra por Frederico 2.°;
Geografia de Busching;
Historia de Portugal por La Clede;
Historia da India por L'Affitan;
Dicionario Militar Historico;
Dicionario Francês e Português por Manoel de Souza."
(PIRASSINUNGA, 1958, pp. 48-49).

Ao compararmos esses livros com os que eram adotados na RAFAD,
pudemos verificar que os infantes, ao contrário dos artilheiros e dos
engenheiros, deveriam receber instrução sobre: Geografia, História de
Portugal, História da Índia e Tática Militar. Aliás, nem mesmo os alunos da
ARFAD, que funcionava no reino, tinham acesso a esses conhecimentos
(!!!)[25].
Somente em 21 de fevereiro de 1796, o Conde de Resende enviou uma
carta a D. Luiz Pinto de Souza, mencionando a criação da nova Academia.
Quanto à seleção do conteúdo, ele assim se manifestava:

Quanto às ciencias julguei que seria por agora bastante a
Aritmetica de Bezout, a Geometria de Belidor, a
Fortificação, o Desenho e a Língua Francesa; omitindo-se
porém nestas ciencias aquilo que elas tem de mais
abstrato, em atenção á falta de luzes e de principios que
tinha a maior parte dos discípulos. Determinei mais que
cada uma das referidas faculdades fosse ensinada por um
Lente particular escolhendo para este Ministerio a um
Capitão e tres Tenentes que eram Partidistas da Aula da
Artilharia e que estavam preteridos, tendo feito muitos
progressos na Geografia, Fortificação e Desenho [...].
(Grifo nosso. Apud PIRASSINUNGA, 1958, pp. 49-50).

Mais uma vez, chamamos a atenção para o fato de que, apesar da "falta
de luzes e de principios que tinha a maior parte dos discípulos", o Conde
matriculou dois filhos seus nessa Academia, e não, na outra, considerada
por ele como sendo mais difícil de acompanhar, devido à complexidade de
suas matérias. Seria o preconceito com relação à profissão de artilheiro e
de engenheiro?
Como visto anteriormente, de acordo com a carta do Conde de Resende,
os primeiros lentes dessa Academia foram um Capitão e três Tenentes da Aula
que era ministrada no Regimento de Artilharia. Aliás, essa "aula
regimental" é muito antiga, e data de 1763, quando o Conde Lippe era
comandante do exército português. Interessante, é que mesmo com a abertura
da Academia de Fortificação, Artilharia e Desenho, no Rio de Janeiro, a sua
aula regimental continuou existindo...
Todavia, Pirassinunga (1958) afirma, mais adiante, na obra citada
anteriormente, que os seus primeiros lentes foram cinco: o Capitão José
Caetano de Araujo (para Francês), o Capitão Albino dos Santos Pereira (para
Geometria), o Tenente Francisco Antônio da Silva Bittencourt (para
Aritmética), o Tenente Antônio Lopes de Barros (para Fortificação) e o
Tenente Aureliano de Souza e Oliveira (para Desenho). (Ibid., pp. 50-51). E
para ensinar artilharia? Quem teria sido designado? Não sabemos. Também, se
compararmos com a RAFAD, poderemos observar que esta, apesar de possuir
mais disciplinas e das mesmas serem mais complexas que as da nova Academia,
só possuía 02 lentes, que contavam com 02 substitutos para o caso de não
poderem ministrar as aulas. Também, a RAFAD não possuía um professor de
desenho, matéria fundamental para artilheiros e engenheiros.
Com relação à nova Academia, os lentes deveriam ensinar suas matérias
"conformando-se a capacidade dos Discipulos". Ìgualmente, deveriam procurar
"omitir aquelas demonstrações que [os alunos] não puderem compreender ao
principio". O importante era fazer com que "os menos habeis saibam as
definições e construções de todas as figuras de Geometria e
Fortificação"[26].
Cabia aos lentes dar conta ao diretor "dos progressos, ou descuidos
dos seus Discipulos, assim como das faltas, que não se legalizarem, para
que o mesmo Diretor todas as semanas dê uma relação circunstanciada a esse
respeito"[27]. Com relação à RAFAD, nada encontramos sobre esse modo de
avaliação.
Cabe ressaltar que, de acordo com o estatuto, os lentes dessa nova
Academia não possuíam auxiliares (substitutos). Somente quando tinham um
impedimento, se nomeava "outra pessôa para substituir o seu logar".
Quanto às aulas práticas, os professores de Geometria e Fortificação
tinham que, anualmente, realizar exercícios "sobre o terreno aos seus
Discipulos na prática e delineação daquelas figuras e Obras que ocorrem
mais frequentemente nas ocasiões do serviço, fazendo-lhes conhecer o uso
dos Instrumentos e o modo de se servirem das estacas, piques e cordéis".
O professor de Desenho, também, tinha que ensinar "o modo de
representar as diversas configurações do terreno e de tirar as plantas
militares".
No final dos primeiros seis meses de Academia, os alunos deveriam ser
examinados "para o fim de serem excluidos do numero dos mesmos dispensados
se não derem prova do seu adiantamento, ou puderem passar ao estudo de
outra materia".
Depois desse período, deveria realizar-se uma avaliação semestral,
publicamente, "presidindo o Diretor, e sendo Examinadores os tres Lentes de
Aritmetica, Geometria e Fortificação, os quais darão o seu voto ao Diretor,
que decidirá pela pluralidade dos mesmos votos".[28]
Assim como na RAFAD, vinte e quatro horas antes de serem perguntados,
os alunos tiravam "sortes" dos vasos, a fim de se prepararem para a
avaliação dos pontos sorteados.
Interessante é que o aluno podia solicitar ao diretor o adiantamento
dos exames, provavelmente, por achar que estivesse em condições de passar
para outra matéria ou nível de instrução.
Todos os oficiais de Infantaria e cadetes eram "sem a menor
condescendencia[29] obrigados a frequentar a Academia", desde que
"desembaraçados das Obrigações do Serviço". Sobre esse assunto, o Conde de
Resende informa, por carta, a D. Luiz Pinto de Souza, em 1796:

Para facilitar os meios de adquirirem estes os
conhecimentos inseparaveis dos que se querem distinguir na
Profissão Militar, dispensei de todo o Serviço da Praça a
um certo numero de oficiais em cada Regimento, com a
obrigação de serem examinados no fim de 6 meses para se
lhes continuar a mesma graça se derem provas do seu
adiantamento, ou para serem excluidos e entrarem outros a
gozar da mesma izenção. Os outros oficiais que não foram
dispensados do Serviço tambem são obrigados a ir á
Academia, porem não estão sujeitos ás mesmas condições.
(Grifo nosso. Apud PIRASSINUNGA, 1958, p. 50).

Segundo o estatuto, a idade não valia de desculpa, "porque a
assistencia destes servirá de animar aos outros".
Quando admitidos, os alunos faziam um exame de Aritmética, a fim de
"seguirem este estudo, ou para frequentarem a Aula de Geometria".[30]
Portanto, não era necessário saber as quatro operações da aritmética, como
acontecia na ARFAD e na RAFAD.
A seguir citamos os nomes, as idades em que foram matriculados e as
unidades militares a que pertenciam, dos primeiros alunos da nova Academia
(Fonte: Mapa de 1798[31]). Os alunos também foram relacionados do maior
para o menor posto.

Sargento Mor[32]
D. Luiz Benedicto de Castro – 18 anos (filho do Vice-Rei)

Capitães
D. Jozé Benedicto de Castro – 15 anos (filho do Vice-Rei)
Luiz Carlos da Costa – 26 anos (1º. Regimento de Infantaria)

Tenentes
Luiz de Seixas Souto Maior – 18 anos (2º. Regimento de Infantaria)
Antonio da Costa Barros – 20 anos (3º. Regimento de Infantaria)

Alferes
João Nunes Cordeiro – 23 anos (2º. Regimento de Infantaria)
Luiz Gomes da Cruz – 26 anos (3º. Regimento de Infantaria)
João Manoel da Fonseca Silva – 26 anos (1º. Regimento de Infantaria)
Francisco de Lima da Silva – 13 anos (1º. Regimento de Infantaria)[33]
Ignacio Jozé Gomes – 28 anos (2º. Regimento de Infantaria)
Francisco de Sales Gameiro – 11 anos (3º. Regimento de Infantaria)
Antonio Carlos Corrêa Lemos – 19 anos (2º. Regimento de Infantaria)

Cadetes
Jozé Caetano de Araujo – 11 anos (1º. Regimento de Infantaria)
Luiz Vieira de Andrade – 12 anos (3º. Regimento de Infantaria)
Francisco Manoel Dormundo – 14 anos (2º. Regimento de Infantaria)

Porta-Bandeira
Luiz Manoel Feliciano Kely – 14 anos (1º. Regimento de Infantaria)

Vejam que, ao contrário do que pudemos observar na RAFAD, em que a
maioria dos alunos era de oficiais inferiores, aqui, só um aluno pertencia
a esta classe: o porta-bandeira.
Os alunos tinham aulas às terças, quintas e sábados, pela manhã, das
7h às 10h, no verão, e das 8h às 11h, no inverno.[34]
Das 7h às 8h30min., os lentes de Aritmética, Geometria e Fortificação
(cada um na sua sala, provavelmente), "tomavam" as suas lições. Após esse
período, todos os alunos se dirigiam para a classe de Francês, cujo período
de instrução durava 30 minutos (!). Das 9h às 10h, todos os alunos tinham
aula de Desenho.
Os períodos de férias eram os seguintes: "de 21 de Dezembro até 6 de
Janeiro, de Domingo de Ramos até os Prazeres, e do Domingo do Espirito
Santo até o da Trindade".
A Academia deveria possuir um secretário para executar as seguintes
tarefas: fazer as matrículas dos alunos, em um determinado livro; lançar o
resultado dos exames, em outro livro; elaborar as certidões de aprovação
nas matérias; cuidar da Biblioteca; e do Arquivo.
Além do secretário, deveria haver um porteiro, que tinha a obrigação
"de cuidar no asseio da casa e na Limpeza dos Instrumentos e moveis que
nela existem".
Com o tempo, os alunos foram se desinteressando pelos estudos e as
faltas começaram a aumentar assustadoramente, "servindo-se uns da escusa
por motivo de doença, outros pelas obrigações do serviço e ainda outros não
apresentando nenhuma justificativa que satisfizesse". (PIRASSINUNGA, 1958,
p. 52). Em resposta a esse comportamento, em 20 de junho de 1797, o Conde
baixou a seguinte ordem, enviada posteriormente a Portugal para aprovação
real:

Todo o Estudante, seja qual fôr a sua graduação, que
faltar nos dias de Estatuto à Aula, não qualificando as
causas que tem para o fazer, e que sendo advertido e
convencido do seu delito se não corrigir, o suspendo do
exercicio do seu Posto, e o prenderei em uma Fortaleza,
não lhes assistindo senão com metade do Soldo da sua
Patente; pois como S. Magestade despende para a
conservação do seu Exercito imensas somas estas se
inutilizam quando se empregam em pessoas inhabeis e até
prejudicialissimas porque abandonando-se ao domínio dos
seus vicios não podem jamais sujeitar-se as regras da
virtude, do valor, do patriotismo e da ciencia. (Apud
PIRASSINUNGA, 1958, p. 53).

Finalmente, em 1810, as duas Academias ("Real Academia de
Fortificação, Artilharia e Desenho" e "Academia de Aritmética, Geometria
Prática, Fortificação, Desenho e Língua Francesa") foram reunidas, pelo
Ministro da Guerra do Príncipe Regente D. João – Conde de Linhares, para
formar a Academia Real Militar, "precursora da actual Academia Militar das
Agulhas Negras". (VIEIRA, 1997, p. 48).

ANÁLISE DO "MAPPA DOS NOMES, IDADES E OBSERVAÇOENS DOS ALUMNOS DA NOVA
ACADEMIA MILITAR DO RIO DE JANEIRO" (1798)

Segundo o estatuto, o currículo foi montado para um período de dezoito
meses, em que os alunos freqüentariam, inicialmente, as aulas de aritmética
(de Bezout); depois de aprovados, as aulas de geometria (de Belidor); e,
após examinados, as aulas de fortificação, assistindo, paralelamente, às
aulas de desenho e de francês.
Todavia, encontramos no mapa alunos que, matriculados em 1795, ainda
estavam freqüentando as aulas de aritmética em 1798, como é o caso dos
Alferes João Nunes Cordeiro e Luiz Gomes da Cruz. Até quando eles poderiam
cursar essa matéria? Não podemos esquecer que só depois de aprovados nas
aulas de aritmética, os alunos poderiam seguir geometria.
Também, os alunos de francês e de desenho, matriculados em 1795, ainda
freqüentavam essas aulas em 1798; portanto, há três anos.
Apesar de o estatuto prever aulas de Artilharia, Geometria Prática,
Fortificação, Desenho e Língua Francesa, não vimos qualquer vestígio do
ensino da artilharia, nesses três anos, e sim, no seu lugar, era ensinada a
aritmética de Bezout.
Cabe ressaltar que nesse novo estabelecimento, também, funcionavam
"aulas de primeiras lettras", como pudemos comprovar através da análise do
mapa. Igualmente, notamos que alguns alunos que cursavam essas aulas não
assistiam às de desenho, porque "principiavam na escrita". Com relação à
RAFAD, não encontramos informações a respeito dessas aulas, a fim de
efetuarmos um estudo comparativo.
O mapa, datado de 1798 (portanto, três anos depois da sua
inauguração), vem com a assinatura do então "Capitão Lente de Fortificação,
e encarregado da Direcção d'Academia" Antonio Lopez de Barros. Vejam que,
nessa época, o lente exercia, também, a função de diretor.
Igualmente, é interessante mencionar que o Capitão Albino dos Santos
Pereira, que aparece no mapa como lente de Geometria, tinha sido aluno da
Academia de Fortificação, Artilharia e Desenho.
Apesar de o estatuto determinar que os professores de geometria,
fortificação e desenho tivessem que realizar exercícios "sobre o terreno",
nada encontramos no mapa sobre o assunto. Portanto, não sabemos se os
alunos, realmente, tinham instrução prática.
Como pudemos perceber, no ano de 1797, o número de alunos aumentou
consideravelmente, pois foram matriculados militares da Cavalaria, bem como
de outros grupamentos que não pertenciam à tropa regular[35] e foram
admitidos alunos civis.
Em 1798, a Academia recebeu um militar de outra província que não a do
Rio de Janeiro.
Nesses três anos de funcionamento, freqüentaram a Academia: 19
oficiais, 16 cadetes, 06 oficiais inferiores[36] e 07 civis. Ou seja, a
grande maioria dos alunos era constituída de oficiais e cadetes, ao
contrário da ARFAD e da RAFAD.

Considerações finais

Podemos observar que a modernização do Estado português trouxe consigo
a modernização do exército.
Como os nobres não se interessassem pelos estudos, principalmente, na
área da artilharia e da engenharia, as aulas militares foram abertas às
pessoas que quisessem aprender a "arte da guerra". Foi assim que indivíduos
de camadas sociais inferiores tiveram acesso à educação (também, militar).
Aos poucos, o título de oficial deixou de estar ligado à
hereditariedade, ao título e à nobreza para assentar-se no seu papel e na
sua função profissional.
No que se refere à "Academia dos Infantes", vivia-se numa época em que
a arte da guerra tinha se tornado demasiadamente complexa para ser exercida
por nobres sem instrução. Daí a necessidade de criarem-se ambientes
educacionais para a formação dos futuros comandantes dos corpos do
exército.
A presença de pessoas provenientes de classes inferiores na ARFAD e na
RAFAD pode ser explicada pelo fato de que o exército começava a se
profissionalizar, não importando tanto a origem social dos soldados, mas, a
aptidão dos mesmos para a área militar. Tal mudança ocorreu na Europa com o
absolutismo e a conseqüente criação dos exércitos permanentes e, em
Portugal, no governo do Marquês de Pombal. A partir de então, o soldado se
tornou um "funcionário" do rei e só a ele e seus representantes devia
obediência.
A aristocracia resistiu a este processo procurando afirmar que a "arte
da guerra" deveria ser exercida por aqueles que eram nobres de nascimento.
Todavia, a "nova" guerra exigia saber profissional, capacidade técnica,
especialização, qualidades que se sobrepunham ao título de nobreza.
Apesar dessas mudanças políticas e sociais, cabe ressaltar que as
mesmas foram vagarosas e os postos mais elevados continuaram a ser
ocupados, por muito tempo, pela aristocracia.
Com relação às aulas militares citadas, criadas com a finalidade de
formar militares para exercerem atividades nas áreas da artilharia e da
engenharia militar, podemos observar que as mesmas ofereceram uma
oportunidade de estudo e de ascensão social, principalmente, para os
portugueses pobres (meninos, jovens e adultos) que não fossem negros, que
tinham nascido em Portugal ou na América Portuguesa.
Referências

Resumo em inglês e em português, contendo um currículo reduzido do autor.
Os trabalhos deverão estar de acordo com as normas preconizadas pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):
Papel A4 (21 cm x 29,7 cm);
Fonte Times New Roman 12 para o texto e 10 para citações longas, notas
de rodapé, paginação e legendas das ilustrações e tabelas;
Digitação na cor preta;
Espacejamento: espaço 1,5 para todo o texto. No final do trabalho
entre as referências digitadas o espacejamento deve ser de dois espaços
simples.
Espaço simples para citações longas, notas, referências, legendas das
ilustrações, tabelas e ficha catalográfica; e
Para os títulos das subseções, utilizar em relação aos textos que os
precede e os sucede, dois espaços 1,5.
Os trabalhos selecionados para publicação nos "Anais do Congresso"
deverão ser escritos em inglês, português, francês ou espanhol, não podendo
exceder 6500 palavras, excluídas as referências.

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[1] Universidade da Força Aérea Brasileira.
[2] Por muito tempo, a engenharia esteve subordinada à infantaria.
[3] Segundo o medievalista James A. Schultz, citado por Heywood (2004, pp.
10-11), por cerca de dois mil anos (desde a Antiguidade até o século
XVIII), as crianças, no Ocidente, foram consideradas como adultos em
miniatura, imperfeitos ou "deficientes". Somente, mais tarde, teria surgido
o sentimento de que as crianças seriam especiais, e, portanto, dignas de um
tratamento diferenciado.
[4] O desenho, que hoje chamamos "projeto", "era [...] o exercício mental
que precedia a viabilização de qualquer intento, não exclusivamente os
arquitetônicos, [...]". (BUENO, 2004, p. 153). A palavra "projecto", que
foi importada para a língua portuguesa somente nos finais do século XVII,
"invadiu a cena e progressivamente foi roubando parte do alcance semântico
do vocábulo "desenho", [...] reduzindo o "desenho" a mera representação
gráfica (tal como o conhecemos hoje)". (Idem, p. 154). Assim, "A cartilha
básica do arquiteto e do engenheiro ensinava, portanto, que este era um
instrumento eficiente para a demonstração da obra a realizar-se, bem como
para a visualização prévia do conjunto, permitindo antever e corrigir os
futuros erros, [...]". (Idem, p. 156).
[5] Bolsas de estudo.
[6] Principalmente, depois da criação da Academia de Fortificação,
Artilharia e Desenho, como veremos a seguir.
[7] Ano de criação do Corpo de Engenheiros.
[8] Denominados "tarimbeiros".
[9] Seria a Academia de Pernambuco equivalente à Academia de Lisboa? Não
sabemos. Todavia, acreditamos que o conteúdo de algumas Aulas militares
oferecidas durante o período colonial não ficava a dever àquele ministrado
nas Academias do Reino. Se considerarmos que nestas era oferecido o curso
superior, então, na Colônia, este, também, existia.
[10] Provavelmente, ele teve acesso ao projeto de criação de Academia Real
de Fortificação, Artilharia e Desenho, situada na cidade de Lisboa, que
data de 1787.
[11] "Designava-se TREM – de modo genérico – a um conjunto de utensílios
destinados a certo fim. Este termo é originário da palavra francesa
"TRAIN", com a mesma significação. Em Portugal foi este vocábulo empregado,
tanto para o conjunto de petrechos bélicos terrestres, como para as navais
– trem de artilharia, trem de carretas, trem de guerra etc." (PONDÉ, 1962,
p. 31).
[12] Acreditamos que o curso da RAFAD tinha duração superior ao da ARFAD
para compensar as aulas que os alunos desta última instituição tinham que
frequentar na Academia Real de Marinha, como pré-requisito para matrícula.
[13] Interessante é que não encontramos a citação dos livros de Bezout,
mais modernos, que estavam sendo utilizados, na época, no curso matemático
da Academia Real de Marinha, bem como nas Aulas da Academia Militar e do
Regimento de Artilharia, ambos localizados na Capitania da Bahia.
[14] Peregrino (1967), também, afirma que, na Academia, também, "eram
admitidos alunos civis, sob a designação de particulares, os quais foram
dois entre os 73 oficiais, cadetes, furriéis e cabos que constituíam a
primeira turma". (p. 7).
[15] Apud PIRASSINUNGA, 1958, pp. 35-37.
[16] Tenente inferior, ou Segundo-Tenente, nos dias de hoje.
[17] Hoje não existe esse posto, mas, podemos dizer que ficava abaixo de
Sargento.
[18] Também, inexistente nos nossos dias, mas, na época, era superior ao de
Cabo.
[19] Como visto anteriormente, esse posto foi criado para os filhos de
nobres ou de oficiais acima de Sargento-mor, que iniciavam a carreira
militar.
[20] Infelizmente, não sabemos onde ela se localizava.
[21] Apud PIRASSINUNGA, 1958, pp. 46-48.
[22] Na ARFAD, localizada no reino, o curso dos infantes tinha a duração de
02 anos, acrescentados do período em que tinham que frequentar a Academia
Real de Marinha. No que concerne à RAFAD, esse mesmo curso foi planejado
para um período de 03 anos.
[23] De acordo com o Conde de Resende. Porém, se os infantes não possuíam
uma base teórica para frequentar o curso da RAFAD, por que, então, este
teria sido planejado para, apenas, 18 meses? A Real Academia oferecia um
curso de infantaria com uma duração maior do que a planejada para a nova
Academia.
[24] Vejam que as obras de Bezout, mais modernas, passaram a ser empregadas
nessa nova Academia, ao contrário do que pudemos observar na RAFAD, que
adotava, de acordo com o seu estatuto, somente, as obras de Belidor,
adotadas na época do Conde Lippe, como consta no seu estatuto.
[25] Cabe ressaltar que nos baseamos nos documentos oficiais da época,
citados nesta pesquisa.
[26] Aqui podemos observar a preocupação com a metodologia de ensino.
[27] Também, havia a preocupação com a avaliação semanal da aprendizagem de
cada aluno.
[28] Na ARFAD, a avaliação era anual.
[29] Inclusive os de nove anos (!), como veremos adiante.
[30] Podemos observar que, tanto em Portugal como na sua Colônia, não havia
exigências, nos estatutos, quanto à constituição física, para ser admitido
no curso de infantaria e de cavalaria.
[31] Mappa dos nomes, idades e observaçoens dos alumnos" dessa nova
academia, datado de 31 de Dezembro de 1798, encontrado no Arquivo Histórico
Militar, quando da realização de um estágio de doutoramento financiado pela
CAPES, de agosto de 2005 até julho de 2006.
[32] Equivale a Major, nos dias de hoje.
[33] De acordo com Bento (1988), esse oficial seria "O futuro Regente do
Império, Mal. Francisco de Lima e Silva, pai do Duque de Caxias". Ele
afirma que o marechal "estudou de 1796-97 na Nova Academia de Aritmética,
Geometria Prática, Fortificação e Desenho e Língua Francesa, desmembrada
temporariamente da Real Academia". (s. p.). De acordo com o mapa encontrado
em Portugal, pudemos verificar que ele ainda estava lá no ano de 1798.
[34] Uma vez que os alunos da RAFAD tinham aulas às 2ªs., 4ªs., 6ªs. e
Sábados, podemos imaginar que a "Academia dos Infantes" funcionasse,
também, na Casa do Trem. Se isso for verdade, esse local deveria ficar
repleto de estudantes, das quatro especialidades, somente, aos Sábados.
[35] A tropa regular ou de 1ª. linha era formada por militares
profissionais pagos pela Coroa.
[36] Nenhum Sargento ou Furriel.
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