O diário de Anne Frank: da produção ao consumo da experiência

June 3, 2017 | Autor: Milena Pereira | Categoria: Museum Studies, Second World War, Consumo, Anne Frank
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8º Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação do Rio de Janeiro XII Seminário de Alunos de Pós-graduação em Comunicação Social da PUC-Rio Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Rio de Janeiro, 21 a 23 de outubro de 2015.

O diário de Anne Frank: da produção ao consumo da experiência

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Resumo O Diário de Anne Frank é um livro escrito por uma menina judia assassinada em um Campo de Concentração na 2ª Guerra Mundial. Conhecido mundialmente como uma narrativa em prol do não esquecimento dos horrores da guerra, o diário foi publicado em mais de 70 idiomas, foi transformado em filme e em peça de teatro e preservado dentro do Museu Anne Frank – criado no prédio em que a menina se refugiou por anos. A proliferação em diversas plataformas e acessos da narrativa íntima produzida durante o período da guerra leva-nos a refletir acerca do delicado viés que separa o desejo da memória da espetacularização e consumo da tragédia. Palavras-chave Narrativa; Consumo; Experiência; Infância; Guerra. Introdução Em 12 de junho de 1942, uma casa em Amsterdã, capital da Holanda, vivia um momento de celebração: Annelies Marie Frank, uma menina judia de origem alemã, comemorava seu aniversário de 13 anos. Entre diversos presentes, um pequeno diário de capa estampada em xadrez vermelho, que tinha tudo para ser apenas mais um mimo, um espaço para o florescimento da escrita e das experiências pessoais de Anne Frank, acabou indo muito além e tornando-se, tempos depois, um objeto de interesse e reflexão global sobre uma das maiores tragédias do século XX: a Segunda Guerra Mundial. Em uma de suas primeiras anotações, Anne apontou: Escrever um diário é uma experiência realmente estranha para alguém como eu. Não somente porque nunca escrevi nada antes, mas também porque acho que mais tarde ninguém se interessará, nem mesmo eu, pelos pensamentos de uma garota de 13 anos. (FRANK, 2000, p.15).

Ledo engano... O Diário de Anne Frank foi transformado em filme, em peça de teatro e em um dos livros mais vendidos de todos os tempos (com venda superior a 1

Trabalho apresentado no GT 3- Subjetividades, Narrativas e Produção de Sentido, do 8º Congresso de Estudantes de Pós-Graduação em Comunicação, na categoria pós-graduação. PUC Rio, Rio de Janeiro, outubro de 2015.

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8º Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação do Rio de Janeiro XII Seminário de Alunos de Pós-graduação em Comunicação Social da PUC-Rio Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Rio de Janeiro, 21 a 23 de outubro de 2015.

30 milhões2 de cópias e tradução em mais de 70 idiomas). Peculiar por imbricar tensões características da migração da infância para a juventude com as tantas outras tensões causadas pela complexa experiência de vivenciar uma guerra, a escrita de Anne se tornou uma importante narrativa em prol do não esquecimento dos sofrimentos causados pelo conflito mundial, tanto aos judeus quanto a humanidade. Como é sabido, na Segunda Guerra Mundial Adolf Hitler defendia o antissemitismo como uma postura necessária ao alcance da tão almejada “raça pura” alemã, que, na visão dele, era a ariana. Para o ditador, a Alemanha não deveria ter qualquer miscigenação, não deveria ter “outros”, como judeus, deficientes, homossexuais, ciganos e demais grupos marginalizados pelos nazistas. O discurso de ódio proclamado por Hitler baseava-se em um ideal sanitarista que defendia e justificava a perseguição e o extermínio dos “outros” não por conta de supostos pecados (BAUMAN, 1998), mas pela sua própria existência. Desumanizados pelo regime ditatorial de Hitler, os “outros” eram comparados a insetos peçonhentos que, por serem naturalmente asquerosos, necessitavam ser eliminados. Como lembra Zygmunt Bauman em seu livro Modernidade e Holocausto (1998): “O câncer, os parasitas e as ervas daninhas não podem se arrepender. Eles não pecaram, apenas viveram de acordo com a sua natureza. Não há nada por que punilos. Pela própria natureza do seu mal, devem ser exterminados.” (ibidem, p.95). Para Georges Didi-Huberman (2012), a construção do “outro”, um dissemelhante, era justamente o objetivo do Holocausto. Segundo o autor, os campos de concentração visavam destruir e negar o humano, tornar o indivíduo uma “coisa”, amorfa, distante e irreconhecível tanto aos olhos externos quanto aos olhos do próprio sujeito que se auto mira. Como ele diz, “o olhar desempenhava um papel fundamental: o homem era antes de mais o homem tornado apático em relação ao mundo e a si mesmo, ou seja, incapaz de empatia (...), ou mesmo de desespero (...).” (p.62).

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Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_livros_mais_vendidos

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Pode-se dizer, entretanto, que, na contramão desse processo, O Diário de Anne Frank – assim como tantas outras obras póstumas e relatos de memórias de sobreviventes publicados pós-guerra – nos vem como um esforço de humanizar as vítimas do Holocausto e dar nomes, rostos e características individuais a esses sujeitos; torna-los, de alguma forma, menos “outro”. Para além da humanização dos sujeitos vítimas da guerra, é interessante notar que o próprio objeto, o diário, para Anne, também recebe contornos humanizados, como ela diz: “Não quero jogar os fatos neste diário do jeito que a maioria das pessoas faria, quero que o diário seja como uma amiga, e vou chamar esta amiga de Kitty.” (FRANK, 2000, p.16). Por isso, todos os textos que compõem a brochura são escritos em forma de carta, começando com “Querida Kitty” e terminando com “Sua Anne”, o que sugere para o leitor um desejo da autora por endereçamento; uma busca por companhia e algum nível de diálogo. Vale ressaltar ainda que os escritos de Anne emergem como uma experiência possível dentre tantas. Seu texto chega a nós como uma fagulha de possibilidade de algum contato com o horror da guerra; contato este impreciso, mas nem por isso menos verdadeiro. Diante disso, o que temos em O Diário de Anne Frank é o testemunho de uma menina que, dentre as quase 60 milhões3 de vítimas da Segunda Guerra Mundial, consegue nos revelar não o todo do que foi a guerra, mas um fragmento, um instante de verdade, tão pleno quanto lacunar.

Estigma e comunicação na Segunda Guerra Mundial Segundo Anne, “depois de maio de 1940 os bons tempos foram poucos e muito espaçados: primeiro veio a guerra, depois a capitulação, e em seguida a chegada dos alemães, e foi então que começaram os problemas para os judeus.” (FRANK, 2000, p.18). No caso, os problemas atendiam pelo nome de Decretos Antissemitas, que proibiam e limitavam certos lugares e práticas para judeus, como fazer compras fora do horário estabelecido e frequentar estabelecimentos de não judeus, por exemplo. 3

Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mortos_na_Segunda_Guerra_Mundial

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Para além de todo esse cerceamento do ir e vir para os tais sujeitos, foi-lhes imposto também o uso da estrela de Davi, símbolo do judaísmo, preso a roupa. Muito mais do que um simples pedaço de tecido, o adereço funcionava como um rótulo, um elemento classificador que indicava concreta e imediatamente o que e quem a sociedade dominada pelo regime nazista, em sua maioria, desaprovava, condenava e excluía - literalmente. Podemos associar a imagem da estrela amarela de Davi, naquele momento, ao que Erving Goffman (1988) chama de um símbolo de estigma para os judeus, ou seja, um signo demarcador de uma dessemelhança. A estrela, que antes era um símbolo ornamental judeu, com a Segunda Guerra Mundial e a consequente ressignificação cunhada pelos nazistas, tornou-se uma espécie de indicativo de algo ruim que deveria ser evitado, uma ameaça à saúde e progresso da sociedade alemã. Enquanto o estranho está à nossa frente, podem surgir evidências de que ele tem um atributo que o torna diferente de outros que se encontram numa categoria em que pudesse ser incluído, sendo, até, de uma espécie menos desejável [...]. Assim deixamos de considerá-la criatura comum e total, reduzindo-a a uma pessoa estragada e diminuída. Tal característica é estigma, especialmente quando o seu efeito de descrédito é muito grande [...] (GOFFMAN, 1988, p.12).

Para o autor, a sociedade participa do processo de estigmatização, o que faz desta última um produto tecido na relação social. Capaz de categorizar os sujeitos, o símbolo de estigma (no caso, a estrela de Davi), age como um elemento sinalizador de pertencimento ou exclusão a um determinado espaço, grupo e/ou prática. Pode-se dizer, assim, que o adereço imposto aos judeus, na visão nazista, apontava de qual lado da “fronteira” o sujeito estava: do lado humano (ariano) ou não humano (“outros”, “estranho”). Isso fica mais claro ao vermos a experiência que Anne narra de seu momento de fuga: Saímos debaixo de uma chuva torrencial, papai, mamãe e eu, cada qual com uma pasta de escola e uma sacola de compras abarrotada até a boca de tudo o que pudemos colocar lá dentro. As pessoas que iam para o trabalho olhavam-nos com simpatia. Podia-se notar em seus rostos o quanto sentiam por não poderem oferecer-nos condução, mas ali estava a chamativa estrela amarela que falava por si mesma. (FRANK, 2000, p.29)

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Nota-se, no trecho acima, que usar a estrela naquele período era muito mais do que ostentar um adorno físico – por si só emblemático -; era uma advertência que sinalizava a quem não se deveria dirigir a palavra ou travar qualquer tipo de contato. Assim, sua adoção pelo regime nazista em prol da marginalização dos judeus consistia em uma estratégia para construir e reforçar socialmente uma atmosfera de rejeição e negação daquele sujeito “outro”. Em tal cenário, a estrela falava mais que o próprio sujeito; pode-se dizer que ela silenciava a individualidade dos judeus, afinal, todos que usavam a estrela eram judeus, e, de acordo com a ordem nazista, “judeus eram ruins”, independente de seus gostos, valores e/ou histórias pessoais. Ainda de acordo com Goffman, o estigma faz com que a individualidade empírica do sujeito seja menos valorizada que sua representação circunstancial. Logo, nesse cenário, o social teria o poder de anular o indivíduo. No caso, o judeu ao ingressar na classificação nazista de “nocivo” fica a mercê do que a sociedade cria e julga como “padrão”. Essa mesma sociedade nazista, por sua vez, investe uma série de esforços para reforçar e conservar a imagem - criada por ela- de deterioração dos sujeitos estigmatizados com fins de manter o controle social de acordo com a ideologia que desenvolveu. Sobre isso, uma das formas encontradas por Hitler para criar o “modelo padrão” dos cidadãos da Alemanha e, ao mesmo tempo, fomentar o ódio aos judeus foi o uso dos meios de comunicação. Para conseguir legitimidade ao seu discurso, o ditador adotou tais meios como armas estratégicas na guerra. Assim, no regime nazista era comum ver a publicidade, o rádio e o cinema atuando como instrumentos de pedagogização4 das massas, ensinando em tons doutrinários sobre estética, comportamentos e ideais desejados (e condenáveis) para o povo alemão. A função das mensagens emitidas pelos nazistas era educar a massa sobre a importância de ter uma Alemanha ariana e vitoriosa, livre de “outros”. Desse modo, as mensagens eram capazes de construir uma atmosfera tanto tolerante quanto defensora da violência contra os “inimigos”. Mein Kampf (1925), o livro escrito por 4

Vale ressaltar que a pedagogização dita também era aplicada em sala de aula, com materiais escolares feitos com base do discurso político de Hitler.

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Hitler, traz uma série de apontamentos incisivos sobre a importância da propaganda política para a construção de uma nação baseada no então regime ditatorial vigente. Em grandes movimentos mundiais, a propaganda “Incessantemente terá de esclarecer as massas sobre novas ideias, atraí-las para as suas fileiras, ou pelo menos, abalar as crenças em voga.” (HITLER, 1925, p. 247). Com esse pensamento, Hitler disseminou o ódio aos judeus na Alemanha, o que levou muitos deles a fugirem para outros países ou procurarem esconderijos, como foi o caso de Anne Frank.

Apesar de tudo: esconderijo e imaginação Diante dos riscos iminentes que os judeus passaram a correr mediante o avanço das tropas e a doutrinação cada vez mais intensa do discurso antissemita na Europa, Anne e sua família optaram (ainda que optar não seja a palavra mais adequada) por mudar de sua confortável casa em Amsterdã para um esconderijo que funcionava no anexo de um prédio comercial na mesma cidade, onde, no passado, o pai de Anne trabalhava. Assim que se assentou no local, Anne deu fôlego as suas palavras e passou a escrever mais intensamente no diário, talvez como uma segunda forma de fuga. Em seus primeiros textos é possível notar certa ansiedade em dar conta da transcrição de um espaço e de uma experiência que ela notoriamente identificava como sendo de difícil alcance imaginativo. Antes de se esforçar em explicar no diário a planta arquitetônica do esconderijo, por exemplo, Anne diz: “É uma coisa meio difícil de ser entendida por gente de fora, por isso vou explicar” (FRANK, 2000, p.30 – grifo meu); em outro momento, quando tenta descrever a complexa dinâmica do ato de tomar banho com estranhos, em silêncio e em um espaço compartilhado, ela comenta: “Acontecem as coisas mais estranhas quando a gente está escondida. Tente imaginar isso!” (p.52 – grifo meu). Sobre essa questão, Didi-Huberman (2012), citando Gradowski, nos lembra que para que o leitor consiga ter uma visão, ainda que superficial e falha, daquilo que se pretende representável, faz-se necessário distanciar-se de tudo. O autor alerta sobre a importância de fazermos o exercício do descolamento de nossa rotina para que 6

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consigamos minimamente nos aproximar de cenários e experiências absolutamente diferentes de tudo que já vivenciamos ou que sequer conseguimos supor ser possível vivenciar. “Imagens apesar de tudo: apesar de nossa própria incapacidade de sabermos olhar para elas como elas mereciam, apesar do nosso próprio mundo repleto, quase sufocado, de mercadoria imaginária.” (2012, p.15; grifo do autor). Didi-Huberman sugere a nós leitores um deslocamento de olhar, que por sua vez culmina em um deslocamento de significação. Vale ressaltar ainda que a própria Anne deslocou-se em muitas esferas, esferas estas que vão desde a mudança física de sua casa para o esconderijo -, até outros deslocamentos mais subjetivos, como: liberdade5, luxo6 e gosto7 e sorte8, por exemplo. Realmente, é de admirar que eu não tenha desistido de todos os meus ideais, tão absurdos e impossíveis eles são de se realizar. Conservo-os, no entanto, porque apesar de tudo ainda acredito que as pessoas, no fundo, são realmente boas. Simplesmente não posso construir minhas esperanças sobre alicerces formados de confusão, miséria e morte. Vejo o mundo transformar-se gradualmente em uma selva. Sinto que estamos cada vez mais próximos da destruição. Sofro com o sofrimento de milhões e, no entanto, se levanto os olhos aos céus, sei que tudo acabará bem, toda essa crueldade desaparecerá, voltarão a paz e a tranquilidade. (FRANK, 2000, p.306, grifo meu).

Para Didi-Huberman, “imaginar apesar de tudo” passa a exigir um movimento duplo, tanto de quem faz o relato de algo entendido como inimaginável quanto de quem o lê. Para ele, é necessário que se exercite tal narrativa para que possamos ter algum contato, ainda que mínimo e lacunar, com aquela experiência que nos desafia a compreensão. Como ele argumenta: “É porque a palavra das testemunhas desafia a nossa capacidade de imaginar o que elas nos contam que, apesar de tudo, devemos

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“Jacque sempre me dizia: “Eu não ouso fazer mais nada, porque tenho medo de que não seja permitido.” (p.18) 6 “Faz um calor sufocante. Todo mundo anda bufando e se esfalfando, e neste calor eu tenho de andar para todo canto. Só agora percebo como é agradável um bonde, mas nós judeus não temos mais permissão de usar este luxo.” (p.21). 7 “Preciso lhe contar, ainda, sobre os bolinhos que fazemos com a farinha do governo, água e fermento. São tão pegajosos e duros que caem no estômago como pedras. (...) Enfim, o importante é estarmos vivos e, frequentemente, até achamos gostosas nossas pobre refeições.” (p.232) 8 “Sinto-me má ao dormir numa cama quente enquanto em algum lugar meus melhores amigos estão morrendo de exaustão ou sendo derrubados. (...)” (p.76)

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tentar fazê-lo precisamente a fim de melhor ouvirmos essa palavra do testemunho.” (DIDI-HUBERMAN, 2012, p.88). No caso, ao olharmos para a estrutura do testemunho de Anne ao longo do tempo, é curioso perceber que até março de 1944 o diário aparentemente fora feito apenas para registro próprio, repleto de relatos íntimos da menina; no entanto, após esse período, graças a um pronunciamento no rádio que alertava o interesse na publicação de cartas e diários ao fim da guerra, aparentemente Anne ressignificou seu olhar sobre o diário e, também, sua própria posição enquanto interlocutora de uma experiência sabidamente peculiar. Como ela disse: Imagine que interessante seria se fosse publicado o romance do Anexo Secreto. O título, por si só, lembra histórias de detetives. Mas, falando sério, até que seria engraçado se, dez anos depois da guerra terminada, nós, judeus, contássemos nossa vida aqui, o que comíamos e sobre o que falávamos. Embora eu lhe conte muita coisa, você ainda sabe muito pouco sobre nossas vidas. (FRANK, 2000, p.228).

Após este momento, nota-se que Anne passa a descrever mais detalhadamente a rotina dos moradores do Anexo, algo que sugere-nos um esforço da menina em tornar sua experiência mais alcançável àqueles que estão de fora, àqueles que poderiam ser seus leitores em algum momento futuro. Com isso, ela revisa textos anteriores e acrescenta comentários e pequenas notas a fim de qualificar mais a sua fala e tornar mais inteligíveis tanto sua escrita quanto sua vivência. Vale ressaltar, entretanto, que todos os escritos da menina mantiveram adendos com críticas e sensações; ou seja, não houve uma divisão certeira capaz de dividir cirurgicamente seus textos em “descritivos” e “emocionais”, houve uma montagem de ambos. Didi-Huberman explica que toda imagem (e neste caso, testemunho) possui um duplo regime que abriga uma complexa montagem, “o contraste dilacerante, numa mesma e única experiência, de dois planos em tudo oposto.” (2012, p.49). O duplo regime consiste então na mistura de verdade e obscuridade, simplicidade e complexidade. Como o autor defende, os testemunhos são naturalmente subjetivos, inexatos e possuem uma relação “fragmentária e lacunar com a verdade de que são

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testemunho” (ibidem, p.52), entretanto, e apesar disso, nos oferecem tudo que temos para minimamente imaginarmos tal experiência narrada. Ainda segundo o autor, costumamos pedir ou muito ou pouco ao testemunho (ou imagem), o que tende a esvaziá-lo para os dois extremos: ou, ao pedirmos muito, julgamos que ele diz pouco frente a tudo que julgamos saber sobre o acontecimento; ou, ao pedirmos pouco, passamo-lo para a esfera do simulacro e assim o excluímos do campo histórico, tomando-o como um mero registro.

Desaparecimento: espaço e relações Imagino que você vai querer saber como se sente uma pessoa que "desaparece". Pois confesso que eu também ainda não sei. Acho que neste lugar nunca vou me sentir realmente em casa, o que não significa, porém, que eu o deteste. Sinto como se estivesse em férias, morando em uma pensão esquisita. Talvez seja uma comparação meio doida, mas é assim que eu sinto. (FRANK, 2000, p.33)

A sensação de redefinição do espaço frente à experiência, narrada por Anne, para Irit Rogoff (2000) se dá por conta da relação. Segundo a autora, o espaço carrega denotações importantes de significado e pertencimento para além do que a existência física o representa. Nessa visão, não se constitui a ideia de espaço fora da dinâmica das relações. Assim, por exemplo, uma sala de aula só é entendida como tal por ter práticas e dinâmicas sociais características que nos levam a determinado conhecimento sobre o que é/forma esse espaço; apenas carteiras e quadro de giz, no caso, não bastariam para fazer dela esse tal espaço, já que é preciso considerar as relações que acontecem nela. Segundo Rogoff (ibidem), “portanto, o significado do nome de um lugar nunca é sua atividade designada ou propriedade física, mas sua interação com subjetividades muito menos óbvias e com as ações e práticas significantes que provocam (ou mascaram) estes.” (p.23). No caso do Anexo onde Anne Frank se abrigou, o espaço era uma fábrica de condimentos que se tornou concomitantemente um esconderijo e um lar. Lar este improvisado e fugidio ao que se espera de um, mas que, tal como qualquer outro, se torna também um palco para cenas de tensões e afetos. Sobre isso, um ponto interessante a se observar é que Anne usa as palavras “casa” e “esconderijo” quase em 9

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mesma dose para designar o “espaço Anexo”; algumas vezes ela chega a usar as duas palavras

combinadas em uma única sentença. Isso dá margem a supormos que

embora o Anexo não fosse a confortável residência que vivera em outrora, ainda assim era naquele espaço que estavam aparentemente seguros e que por hora viviam, logo, era a casa deles, o lar; no entanto, ao mesmo tempo, o sótão lembrava-os sempre, em cada restrição necessária – como a impossibilidade de fazer barulho e abrir janelas, por exemplo - que ele também não era o “verdadeiro” lar deles, o que o fazia ser mais uma vez um esconderijo. Falo sobre depois da guerra, mas é como se estivesse falando de castelos no ar, de uma coisa que nunca pode ser verdade. Vejo nós oito, no Anexo, como se fôssemos um retalho de céu azul rodeado por nuvens negras e ameaçadoras. O trecho perfeitamente redondo onde estamos ainda é seguro, mas as nuvens se aproximam e o círculo entre nós e o perigo que se aproxima está cada vez se apertando mais. Estamos rodeados por escuridão e perigo, e em nossa busca desesperada de uma saída, vivemos nos chocando uns contra os outros. Olhamos as lutas lá embaixo e a paz e a beleza lá em cima. Enquanto isso somos cortados pela massa de nuvens, de modo que não podemos subir nem descer. Ela paira diante de nós como uma parede impenetrável, tentando nos esmagar, mas ainda não conseguindo. Só posso chorar e pedir “Ah, círculo, círculo, abra e nos deixe sair!”. (FRANK, 2000, p.140)

No trecho acima, fica visível a confusão que aquele local era para a menina. Ao mesmo tempo um centro de segurança e perigo, o Anexo ficava em uma instável zona intermediária tão rodeada quanto atravessada por fortes tensões. Pode-se dizer que a sensação apresentada na metáfora feita por Anne se aproxima do que Rogoff chama de “geografia exaurida”, ou seja, uma forma de pensar as ideias de lugar e subjetividade em locais que, por não terem mais fixidez, de fato esgotaram suas significações e passaram a ter outro sentido, ou simplesmente não tê-lo. Sob esse viés, o flácido espaço de fábrica-esconderijo-casa, que escapa de qualquer definição categórica e objetiva, torna-se passível de algum tipo mínimo de representação e entendimento ao ser assumido – pela Anne e pelo leitor – enquanto um local de difícil conceituação geográfica, um espaço exaurido de limites e fronteiras, algo tão vacilante quanto um “retalho de céu azul”.

O desejo do não esquecimento 10

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Após uma série de relatos sensíveis às mais variadas emoções e sentimentos, O Diário de Anne Frank teve sua última página escrita em 1º de agosto de 1944. No livro, a história chega ao fim com uma folha branca marcada com os seguintes dizeres em letras garrafais: “O diário de Anne termina aqui.”; frase curta e objetiva representando o corte abrupto tanto da narrativa quanto da vida da menina. Todos os moradores do Anexo morreram em campos de concentração, apenas Otto, o pai de Anne, sobreviveu. Diante disso, ele assumiu a missão de levar adiante o projeto de fazer com que o mundo conhecesse mais sobre Anne Frank e a experiência da família no Anexo. Em 1947 Otto publicou a primeira edição do diário de Anne, e em 1960 conseguiu fazer com que o prédio do esconderijo se tornasse um museu aberto à visitação. “Acho que o Anexo Secreto deve se tornar um lugar de encontro, de reflexão e de inspiração, além de museu.”, disse9. O pai de Anne desejava que a experiência de sua filha, tão traumática quanto a sua própria e a de tantos outros judeus, não fosse silenciada e tampouco caísse no esquecimento. Desse modo, tanto a publicação dos livros quanto a inauguração do museu no prédio do Anexo foram iniciativas que objetivaram dar certa concretude a algo tão fluido e ao mesmo tempo tão duro quanto o sofrimento causado pela Segunda Guerra Mundial. Como Otto, mais sobreviventes publicaram suas memórias e/ou as de seus entes queridos. Filmes foram produzidos, exposições organizadas, memoriais construídos; tudo, em algum nível, para estimular o não esquecimento da tragédia ocorrida. O interesse da sociedade em se debruçar sobre as “memórias subterrâneas” (POLLAK, 1989) das vítimas da Segunda Guerra Mundial, por muito tempo ocultas e marginalizadas, justifica-se em parte pela ânsia de se entender um pouco melhor como se deu a formação de tal acontecimento para além, e em tensão, ao que a memória oficial (ibidem) solidifica. Vemos aflorar esta proximidade mais contemporaneamente porque o próprio interesse dos sobreviventes por falar e ouvir 9

Disponível em: http://www.annefrank.org/pt/Subsites/Linha-do-tempo/#!/pt/Subsites/Linha-dotempo/Periodo-do-pos-guerra-1945--/Inaugurada-a-Casa-Anne-Frank-/

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tais experiências é consideravelmente recente. Logo após o fim da guerra havia pouca disposição (em toda complexidade do termo) de ambas as partes para dialogar sobre o ocorrido; o silêncio parecia tão inevitável quanto necessário para todos os envolvidos. Sobre o silenciamento dos sobreviventes do holocausto, Pollak diz: Seu silêncio sobre o passado está ligado em primeiro lugar à necessidade de encontrar um modus vivendi com aqueles que, de perto ou de longe, ao menos sob a forma de consentimento tácito, assistiram à sua deportação. Não provocar o sentimento de culpa da maioria torna-se então um reflexo de proteção da minoria judia. Contudo, essa atitude é ainda reforçada pelo sentimento de culpa que as próprias vítimas podem ter, oculto no fundo de si mesmas. (...) Em face dessa lembrança traumatizante, o silêncio parece se impor a todos aqueles que querem evitar culpar as vítimas. E algumas vítimas, que compartilham essa mesma lembrança "comprometedora", preferem, elas também, guardar silêncio. Em lugar de se arriscar a um malentendido sobre uma questão tão grave, ou até mesmo de reforçar a consciência tranquila e a propensão ao esquecimento dos antigos carrascos, não seria melhor se abster de falar? (ibidem, p.3 e 4)

Segundo o autor, por muito tempo o assunto foi um tabu nas histórias individuais dos sujeitos que viveram tal trauma, no entanto, quase quarenta anos depois do ocorrido, os interesses políticos e familiares concorreram para acabar com o então silêncio provavelmente porque “no momento em que as testemunhas oculares sabem que vão desaparecer em breve, elas querem inscrever suas lembranças contra o esquecimento.” (ibidem, p.4). Tudo isso culminou para o crescente interesse moderno e contemporâneo nas diferentes memórias desenvolvidas durante e após a Segunda Guerra Mundial. Entretanto, ainda que muito venha sendo dito sobre o assunto, ainda há muito do “não dito” em cada discurso, ou seja, há uma série de lembranças indizíveis por vergonha, trauma ou perigo; uma série de zonas cinzas que por vezes são estimuladas pelo próprio indivíduo devido a necessidade de tornar mais tolerável a rememoração de seu passado.

Conclusão Feito no tempo presente da guerra, dentro de um esconderijo dividido com mais sete pessoas, os relatos de Anne nos levam a refletir acerca da heterogeneidade dos sujeitos, das suas relações e da consequente pluralidade de interpretações e vivências constituintes de um mesmo evento traumático, no caso, a Segunda Guerra 12

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Mundial. Podemos dizer que a menina apresenta uma verdade bastante própria - tanto plena quanto lacunar -, sobre sua experiência individual. Anne narrou o caos que vivia, fosse ele por conta do florescimento da juventude, da guerra, ou pela mistura de ambos. Ainda que dificilmente nos reconheçamos em sua escrita pelo elo da experiência, nos aproximamos pelo elo do humano, o que ajuda a desanuviar a ideia de “outro” como alguém distante, apesar das fronteiras geográficas, históricas e culturais envolvidas. Os textos sobre as experiências cotidianas da menina, que envolvem conflitos internos, dilemas familiares, amorosos e pessoais, são aparentemente semelhantes à de tantas outras crianças e jovens de outros tempos e lugares do mundo, o que coloca Anne – a “outra” – em algum nível de igualdade com o “nós”. Concomitantemente, esses mesmos relatos nos desafiam o entendimento e embaçam a fronteira do imaginável por revelarem peculiaridades de uma vivência absolutamente distante de tudo que já experienciamos e ou tenhamos tido condições de cogitar ser possível. Neste processo, o consumo da experiência de Anne, seja através da leitura do livro ou da visita ao Museu da Anne Frank, contribuem para a aproximação desses mundos. Estar dentro do museu, por exemplo, faz com que seja possível tocar em algum grau esse passado. Com isso, fazer-se presente naquele espaço se torna uma forma de imergir e compartilhar um pouco de sua experiência - dentro do que se faz possível e com o imprescindível esforço de imaginação, claro. De certa forma, o acesso tátil à estrutura física da casa, sua mobília e objetos, oferece um pouco mais de concretude à memória construída no diário, ainda que nem isso a faça efetivamente palpável. O mesmo acontece com a comercialização do livro, de DVDs e demais artigos que levam o nome de Anne: todos eles aproximam o leitor de uma representação e faz com que a experiência dela, enviesada pela espetacularização, se torne um pouco mais imaginável. Tomando o conceito de espetáculo de Guy Debord (1994), que diz que este “não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens” (p.14), acreditamos que os diversos produtos disponíveis podem ser entendidos enquanto uma espécie de ponte de relação possível entre o presente e o 13

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passado, entre a imaginação e o inenarrável, esquecimento e lembrança, o outro e o eu. Uma ponte irregular, imperfeita, com ausências e excessos, mas ainda assim capaz de criar algum nível de conexão entre sujeitos e tempos. O fato de que percorremos a tal ponte, acompanhados de nossas vivências individuais, faz com que nosso contato com esse passado da menina seja tão naturalmente falho quanto o próprio relato feito por Anne, ainda que o esforço em fazê-lo pleno tenha sido mútuo. A ansiedade moderna de ouvir e falar mais sobre a Segunda Guerra coincidiu com o surgimento do que Guilles Lipovetsky (2007) chama de hiperconsumidor, ou seja, a emergência do sujeito ávido pelo consumo de experiências e sensações variadas, o que inclui “vivenciar”, ainda que por minutos, um esconderijo de judeus localizado no coração de Amsterdã, um tour pelos campos de concentração de Auschwitz –virtual e físico -, um “turismo de guerra”10 em palcos de sangrentos confrontos mundiais etc. Vivemos em um tempo em que os sujeitos desejam vivenciar experiências e consumir produtos que os aproximem das tais. Nesse cenário, pode-se dizer que as várias edições de livros (incluindo versão ilustrada para crianças 11), o filme (e a menção em outros filmes, incluindo o mais recente best-seller e sucesso de bilheteria A culpa é das estrelas), a peça teatral, o museu (que bateu recorde em 2014 com 1.227.462 visitantes12), a presença nas redes sociais (Twitter e Facebook), os aplicativos e o site (incluindo um subsite em que é possível fazer visita online 3D em todo espaço do Anexo13) se tornam um ponto de contato. Iniciativas como essas são capazes de tornar a história narrada em O Diário de Anne Frank mais acessível e, de certa forma, tão dinâmica quanto o próprio exercício de rememoração do passado o é.

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Disponível em: http://www.istoe.com.br/reportagens/185632_TURISMO+DE+GUERRA 11 Disponível em: http://cultura.estadao.com.br/blogs/babel/historia-de-anne-frank-ganha-versaoilustrada-para-criancas/ 12 Disponível em: http://www.annefrank.org/en/News/News/2015/Januari/Record-number-of-visitors/ 13 Disponível em: http://www.annefrank.org/en/Subsites/Home/Enter-the-3D-house/#/house/20/

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Bibliografia BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e Holocausto. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. DIDI-HUBERMAN, Georges. Images malgré tout. Les éditions de minuit. Paris, 2003. FRANK, Anne. O diário de Anne Frank: Edição integral. Tradução: Ivanir Alves Calado. 15ª edição. Rio de Janeiro: Record, 2000. GOFFMAN, Erving. Estigmas – notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4. ed. Rio de Janeiro: LCT, 1988. HITLER, Adolf. Mein Kampf. Alemanha: Eher Verlag, 1925 LIPOVETSKY, Guilles. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo. Tradução: Maria Lúcia Machado. São Paulo: Companhia das Letras. 2007. POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol.2, n.3, 1989. ROGOFF, Irit. Terra Informa – Geography’s visual culture. New York: Routladge, 2000.

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