O dilema do equilíbrio de poder: Waltz, Irã e a bomba atômica

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O dilema do equilíbrio de poder: Waltz, Irã e a bomba atômica
Iohana do Nascimento Corrêa Berto



Resumo
O presente estudo tem como objetivo fazer uma breve análise sobre a questão bélica nuclear em relação ao Estado iraniano. O texto escrito por Kenneth Waltz em julho de 2012 retrata a preocupação dos Estados ocidentais com as atividades nucleares do Irã e com o objetivo de interromper tais atividades, os Estados Unidos assim como a União Europeia fizeram a república islâmica alvo de sanções e embargos econômicos.

Por que ter uma bomba atômica?
Waltz ressalta a impotência da balança de poder entre os Estados e para o autor existem apenas três possíveis desfechos para o programa de armamento nuclear iraniano. No primeiro Waltz disserta sobre a ineficácia das sanções e embargos econômicos quando aplicados a casos como este e cita o episódio da Coréia do Norte, onde mesmo o Estado sofrendo sanções e embargos desenvolve seu programa nuclear.
No segundo ele fala que ainda que o Irã pare seus testes nucleares ele pode continuar a se desenvolver, e quando precisarem podem construir uma bomba rapidamente, Waltz cita então o caso do Japão que mantém uma vasta infraestrutura nuclear civi, a capacidade de fuga que possivelmente causaria uma satisfação das necessidades das políticas domésticas dos governantes do Irã assegurando a segurança e aproveitando os benefícios que uma bomba nuclear pode proporcionar. O problema, ressalta Waltz, é que esta possível capacidade de fuga pode não funcionar como esperado. O armamento nuclear do Irã causa um profundo desconforto ao Estado de Israel, e mesmo sendo possível que os Estados Unidos e a União Europeia aceitem com ressalvas o desenvolvimento nuclear iraniano, Israel vê as ações iranianas como uma ameaça
O ultimo possível desfecho deste caso seria o Irã continuar o programa que já vem seguindo e faça testes nucleares públicos. Os oficiais americanos e israelenses já declararam que tal acontecimento seria inaceitável, declarando que um Irã nuclear seria inquietante e aterrorizador, e até mesmo uma ameaça existente.
Waltz diz que o discurso utilizado pelos EUA e Israel é típico de grandes potências, que historicamente se irritam quando outro país começa seu programa nuclear independente, mas o que podemos observar é que com a redução de desiquilíbrios na balança de poder militar, novos Estados nucleares geralmente produzem mais estabilidade regional e internacional, não menos. O autor cita o exemplo de Israel, pois segundo ele, é o arsenal nuclear de Israel que contribui para a atual crise, e não o interesse do Irã em iniciar seu projeto nuclear.
O interesse do Estado israelense em manter o Irã sem um programa nuclear é se manter como o único Estado detentor de arsenal nuclear na região. Em 1981 Israel bombardeou o Iraque, em 2007 bombardeou a Síria e agora, Israel considerava uma ação similar ao Irã. Mas é evidente que este monopólio de poderio nuclear de Israel prolongou o desiquilíbrio de poder no Oriente Médio. Israel atacava seus rivais e saia impune desses ataques o que teve como resultado inevitável a ansiedade de seus inimigos de desenvolver meios para uma vingança a Israel para prevenir novos ataques.
Para Waltz, a melhor maneira de estabilizar a região é acabando com o monopólio de mais de 40 anos de Israel como potência nuclear no Oriente Médio. O autor ainda salienta que, caso isso ocorra, a probabilidade de um conflito com o Irã de Ahmadinejad seria remota devido ao equilíbrio de poder. A materialização dos arsenais de ambos os lados seria o suficiente para que os países se controlassem, pensando antes de partir para a ação militar, como relembra, que nunca houve uma guerra entre estados nucleares.
De acordo com a corrente neorrealista de Waltz, os países estão interessados em poder no sistema internacional, que na maioria das vezes é militar, para garantir sua hegemonia e segurança. Desta forma, um sistema com apenas uma potência é bem mais perigoso porque esse país pode execer seu poder de coerção em impor suas vontades sobre os demais. Waltz afirma que, quanto maior o número de potências, maior o equilíbrio de poder. Esses países potencialmente armados analisarão com mais cautela as consequências de um ataque militar se tiverem adversários com o mesmo poder bélico e que possam causar danos aos seus cidadãos.
Waltz acredita que não adianta em nada o Irã sofrer sanções econômicas, já que o país acredita que somente a tecnologia da bomba nuclear garante sua segurança. Desta forma, o autor acredita ser ineficaz os protestos e reprovações de Israel e EUA quanto a este assunto, pois o desenvolvimento da tecnologia sempre gera tensões e "falácias" entre os países que já possuem a arma, mas os mesmos acabam tendo que "aceitar" e nada podem fazer, de fato. Waltz ainda cita os exemplos da Coreia do Norte e das tensões entre Índia e Paquistão, afirmando que estes dois países estão mais "cautelosos", já que ambos detém o poder da tecnologia nuclear.
O autor desconsidera a ideia que de que os líderes da República Islâmica utilizariam suas armas em um momento impulsivo de conflito ou que entregariam ogivas a terroristas. Porque nesse contexto, apesar de os aiatolás adotarem um discurso de ódio, não possuem propensão à autodestuição. Como também, seria praticamente impossível repassar essas armas sem correr um altíssimo risco de ser descoberto, além de ser inviável entregar armas caras a grupos terroristas cujos líderes são incontroláveis.
A possibilidade de uma corrida nuclear no Oriente Médio porque o Irã está montando seu arsenal é descartada por Waltz, já que esta corrida não aconteceu nem mesmo quando Israel estava em guerra com os vizinhos islâmicos. Ainda sim, o autor salienta com cuidado que não se sabe as reais intenções iranianas com a bomba, mas que o país apresenta uma característica forte de autoproteção e não, suicida. Para o autor, as tensões atuais não demonstram o início de uma crise causada pelo desejo iraniano de obter armas nucleares, mas sim, o estágio final de uma crise que vem se arrastando por décadas no Oriente Médio, por causa da instabilidade causada por Israel, suas armas nucleares e seu comportamento "duvidoso".
O autor faz uma crítica a preocupação de muitos pensadores e políticos que, mesmo reconhecendo a racionalidade do Estado Iraniano, ainda se mostram receosos que a aquisição de armas nucleares fosse encorajá-lo a agir mais agressivamente e aumentasse o suporte destas armas a terroristas. Waltz afirma que, o efeito da obtenção de armas nucleares no comportamento dos Estados seria o oposto, pois os mesmos estariam mais vulneráveis e consequentemente, tornam-se mais conscientes de que eles também seriam alvos das grandes potências.


Referências Bibliográficas

WALTZ, K. Why Iran Should Get the Bomb Nuclear: Balancing Would Mean Stability. Foreing Affairs, jul/ 2012.



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