O DISCURSO DAS FOTOGRAFIAS DO TORNEIO UFC: ESTETIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA?

June 7, 2017 | Autor: Rafael Fernandes | Categoria: Discourse Analysis, Análise do Discurso, Mixed Martial Arts, Fotografia
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O DISCURSO DAS FOTOGRAFIAS DO TORNEIO UFC: ESTETIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA?1 Rafael de Souza Bento FERNANDES (UEM)2 Introdução O MMA (Mixed Martial Arts) vem conquistando cada vez mais fãs no Brasil, tanto que, segundo Ferreira e Orsolini (2012), já alcançou o posto de terceiro maior esporte no país, atrás somente da Fórmula 1 e do Futebol. Essa é uma situação recente tendo em vista que, até pouco mais de dez anos, as Artes Marciais Mistas não gozavam do mesmo prestígio social e eram relacionadas, por vezes, à brutalidade e à violência. Há, pelo menos, dois fatores envolvidos nesse processo: o desenvolvimento do torneio estadunidense UFC (Ultimate Fighting Championship) que ganhou elevada popularidade a partir de 2005 (com o início da exibição do reality show TUF – The Ultimate Fighter) e a chegada desse mesmo torneio ao Brasil, cujos direitos de transmissão foram adquiridos, em um segundo momento, pela Rede Globo de Televisão. Apesar de certa predisposição à abertura do público brasileiro para o esporte, o estigma de “brutal”, “animalesco” e “impróprio” teve que ser reformulado por uma intensa produção midiática que cumpriu o papel de reinventar o “Vale-Tudo”, já conhecido dos brasileiros3. Tal “operação de memória”, sob a ótica do discurso, teve como função reiterar uma série de enunciados valorizadores do MMA, ao passo que desvinculou a prática que mescla diversas modalidades de luta (assim como o UFC, o torneio que a representa) da carga pejorativa e pouco vendável dos espetáculos nos quais “tudo vale”. Por definição, esse último aspecto se traduziria como algo sem regras e amoral ou, ainda, que foge do que é considerado justo e bom no interior de uma formação discursiva esportista.

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Esse estudo foi desenvolvido, inicialmente, como parte das atividades da disciplina do programa de pós-graduação em Letras da UNIOESTE Fotografia, Linguagem e Memória, ministrada pelo Prof. Dr. Paulo Porto Borges. 2 Mestre em Letras pela UNIOESTE. Doutorando em Letras pela UEM, sob orientação da Prof. Dra. Ismara Tasso. E-mail: [email protected]. 3 Há inúmeras matérias no meio eletrônico que comprovam a desvinculação do MMA com o ValeTudo. Citamos aqui um exemplo retirado do site da rede de televisão SporTV, afiliada da Rede Globo, cujo título é autoexplicativo: “Vale Tudo? Longe disso! Conheça as regras usadas pelo UFC”.

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No processo do “desmarginalização” do MMA (a que denominamos de “operação de memória”), adotou-se, nas esferas midiáticas, como garoto-propaganda o lutador excampeão dos pesos-médios Anderson Silva. Ao contrário de uma memória estereotipada de lutador (monossilábico, viril, brutamontes), Silva é representado em diversos anúncios publicitários dos quais participou como o “bom moço” calmo e – até mesmo - de voz fina4. Essa quebra de paradigma é interessante já que contribui para o fortalecimento de um novo mercado dirigido aos entusiastas de MMA/UFC.5 Tendo em vista as condições de produção de emergência e reformulação do ValeTudo/ MMA, esse estudo tem como objetivo discutir até que ponto é possível admitir a existência, no torneio UFC, de certa “estetização” que camufla a violência intrínseca a todo embate físico sob a forma de espetáculo ou, como asseguram os produtores do torneio, de esporte. Para fazê-lo, tomar-se-á uma fotografia da luta principal entre Silva e Weidman do UFC-168, que ficou famosa no meio eletrônico. Adotaremos os pressupostos teóricometodológicos da análise do discurso de orientação francesa, segundo Michel Pêcheux (2009), assim como algumas reflexões de pensadores que se debruçaram sobre a questão da fotografia como materialidade de sentidos permeada por uma memória. 1. Fotografia e memória Anderson Silva, como exposto anteriormente, é uma espécie de “metonímia” do MMA no Brasil. Basta que se fale seu nome para associá-lo diretamente ao esporte ou mesmo ao torneio UFC (inclusive, para os que não são familiarizados com o tema, sequer há distinção entre MMA e UFC). No segundo tempo da luta principal do UFC-168 (que ocorreu no dia 28 de dezembro de 2013), em que Anderson Silva deveria recuperar o cinturão de campeão dos pesos-médios, o lutador sofreu uma grave lesão que obrigou o

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Como é o caso da campanha publicitária da marca Burger King para divulgação do produto “Mega BK Stacker”, veiculada em agosto/setembro de 2011, com o slogan: “Tão assustador que você afina”. 5 A empresa UFC é avaliada pela revista Forbes (Miller, 2013) como detentora de “bilhões de dólares” e, no Brasil, impulsionou a venda de marcas como a Sky (as assinaturas aumentaram 54% após o início do canal Combate em março de 2012), “P&G” (três meses após relacionar o aparelho de barbear Gillette ao MMA, as vendas crescera 30%) e a paulista “Marck4” (que vendeu mais de 150 mil produtos entre roupas e acessórios, em 2011, com a grife UFC), para citar apenas alguns exemplos. Esses dados são referentes à pesquisa realizada pela revista Istoé Dinheiro, edição 757, 05/04/2012.

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árbitro a parar a luta e anunciar a vitória do adversário Chris Weidman. Fotografias do ocorrido repercutiram massivamente na internet, em especial, o seguinte ângulo:

Figura 1 - UFC-168

Em decorrência da fratura, fãs brasileiros mostraram solidariedade na internet (principalmente em sites de relacionamentos como o Facebook e o Twitter) considerando que Silva, na verdade, não sofreu as possíveis consequências de um esporte de alto grau de periculosidade como o MMA, mas sim foi vítima de “um grande azar”. Uma possibilidade de leitura indica que a técnica de Weidman de por o joelho no lugar da parte inferior da perna para se defender do golpe de Anderson Silva foi desprezada em nome da manutenção da aura de lutador cuja invencibilidade é (ou era) inquestionável. A fotografia de Silva com o rosto visivelmente afetado pela dor, já com a guarda das mãos baixa (ainda que esteja cerrando fortemente os dedos contra a palma) e principalmente com a canela quebrada em “estado singular” contrasta com a imagem clássica do “guerreiro” que permaneceu intocável por sete anos (de 2006 a 2013) e dez defesas de cinturão. No que tange a esse “contraste” de imagens, em que reside a memória da aura do lutador, interessante citar os estudos de Jean Davallon (2010). O filósofo considera que a

estudioso, entre “realidade” e “fato de significação”.

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os processos de manutenção da coesão social, apesar de que existe diferença, para o

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memória social está naturalmente presente nos arquivos da mídia e atua intimamente com

Para esse autor, a imagem – acrescentamos aqui também a fotografia - abre a possibilidade de um controle de memória social, no sentido de que a transmissão dos objetos culturais é ideológica e, portanto, está condicionada a determinadas posições nas quais os sujeitos se inserem em relação, entre outros aspectos, às representações de mundo (nos termos da AD, está condicionada a uma formação discursiva): Por que a imagem? Porque ela oferece – ao menos em um campo histórico que vai do século XVII até nossos dias – uma possibilidade considerável de reservar a força: a imagem representa a realidade, certamente; mas ela pode também conservar a força das relações sociais (e fará então a impressão sobre o espectador). (DAVALLON, 2012, p.27).

Dessa forma, a imagem possui uma “eficácia simbólica” que conduz a um jogo de interpretação (como denomina Davallon (2012), um acordo de olhares) relacionado às condições de produção de uma dada materialidade. No caso da fotografia em análise, tratam-se das condições de emergência do MMA/UFC nas mídias brasileiras e da instauração da “aura” de herói “politicamente correto” que mitifica o lutador Anderson Silva 6. Adotar o ponto de vista, no qual a fotografia provoca reações além do que propõe a superfície desse texto (o “real empírico”, aquilo que não se pode negar), implica em considerar que a fotografia não é plenamente objetiva, não é uma mera cópia da realidade. Corrobora a esse ponto de vista Andrade (2002) que, a partir de uma perspectiva antropológica, traça um histórico do advento da fotografia desde a época do daguerreotipo até a contemporaneidade. De acordo com a retomada histórica da autora, houve um profundo receio à nova invenção: Baudelaire, por exemplo, acreditava que haveria um empobrecimento da arte francesa graças à aliança desta com a indústria e com a “idiotice da multidão”. A conclusão é a de que a técnica da fotografia transformou conceitos e valores, sobretudo da burguesia da época. O modismo dos retratos de estúdio do século XIX é um exemplo da situação. Na sua busca da burguesia por um resgate de um passado nobre que não possuía, acabaram-se cometendo os excessos de “mau-gosto”, como colunas gregas

Em trabalho anterior (FERNANDES e CATTELAN (2013)) discutiu-se a questão com maior profundidade, adotando por corpus representações de Silva nas revistas Superinteressante e Veja, nas quais o lutador é posto na condição de “gladiador tranquilo” e campeão com “atitude MMA”.

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emergindo do tapete, conforme ironiza Walter Benjamin.

Andrade (2002) busca um meio termo entre duas concepções sobre fotografia: enquanto há uma concepção que afirma que a fotografia tem por função documentar o real, há outra concepção que questiona a objetividade da técnica ao afirmar que os elementos do objeto resultante são de interpretação plenamente livre que depende, tão somente, da impressão de cada observador. Conforme defende a teórica, se a posição do fotografo é ideológica e, portanto, permite análises que ultrapassam os dados materiais, os elementos nunca são metafóricos: a canela de Anderson Silva aparece quebrada na fotografia, essa constatação independe da percepção do observador, ao mesmo tempo é significativo o fato de que foi justamente esse ângulo que tenha repercutido na mídia de forma geral: O fotógrafo registra e documenta, mas não significa que as imagens sejam despidas de valores estéticos. Representarão sempre um meio de informação, de conhecimento, e conterão sempre um valor documental e iconográfico. (ANDRADE, 2002, p.41-42).

Já Walter Beijamin (1987) afirma que há uma relação entre as transformações técnicas e a percepção estética de forma geral. A técnica de reproduzir um determinado objeto (de arte), em que se inclui a fotografia, provocou um abalo sério na tradição ao retirar desse objeto a “autenticidade”, a sua “existência singular” ou ainda a sua “aura”. Essa unicidade da obra se daria pela sua inserção do objeto ao contexto de sua produção o que, incialmente, possuía um fundamento teológico e mágico. Caberia, então, à arte a adoção de novas funções tendo em vista que “com a reprodutibilidade técnica a obra de arte se emancipa, pela primeira vez na história, de sua existência parasitária, destacando-se do ritual” (BENJAMIN, 1987, p.171). Esse novo terreno, para Beijamin (1987), é a política. Assim, o “valor estético” da fotografia em análise, que, em um primeiro momento, choca e causa repulsa, principalmente em função da posição da canela de Silva quase que deslocada do resto do corpo, tem como um dos efeitos retomar a memória do “gladiador tranquilo“, de aura imbatível que, novamente, não caiu, mas sim foi vítima do azar. É um objeto cultural despido de valores de autenticidade e univocidade, tendo em vista que a sua “força” consiste, justamente, de sua vasta reprodução no meio eletrônico. Cabe, a seguir,

“estetização”, promovido pelo torneio UFC.

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produção, bem como analisar se essa fotografia é representativa de um processo maior de

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examinar os discursos que atravessam essa fotografia em relação às suas condições de

2. Fotografia e discurso Não é certo considerar que uma fotografia é, por si só, um discurso; contudo, é possível afirmar que se trata de um objeto cultural no qual se materializam discursos segundo Pêcheux (2009), efeitos de sentido entre os interlocutores - relativos a um determinado entorno histórico-ideológico, vinculadas a determinada formação discursiva. As observações a seguir partem do campo epistemológico da análise do discurso francesa, desenvolvida na década de sessenta por Michel Pêcheux (2009). O filósofo francês, profundamente incomodado com a inocuidade das ciências sociais (especialmente a Psicologia Social), que se limitavam à superfície dos problemas sem adentrar, contudo, às comandas sociais (origem das contradições), elaborou as bases de um novo objeto (o discurso) sobre o qual seria possível interferir materialmente nas ideologias: “É a ideologia que fornece as evidências das quais ‘todo mundo sabe’ (...) e que mascaram, assim, sob a ‘transparência da linguagem’ aquilo que chamaremos de caráter material do sentidos das palavras e dos enunciados” (PÊCHEUX, 2009, p.146 - grifos do autor). O caráter material do sentido se faz pela dependência constitutiva do “todo complexo das formações ideológicas”. Essa “dependência” é defendida por Pêcheux (2009) em duas teses; a primeira, que interessa aos propósitos do estudo ora apresentado, consiste em dizer que o sentido não existe “em si”, mas sim é determinado pelas posições ideológicas em jogo no processo sócio histórico no qual as palavras são produzidas. Parafraseando Pêcheux (2009), isso significa que as palavras, expressões, proposições mudam de sentido conforme as posições daqueles que as empregam. Um exemplo seria a palavra “terra” posta “na boca” de um sem-terra, de um indígena e de um latifundiário. Ainda que o termo designe algo concreto, produzirá efeitos de sentido diferentes de acordo com cada uma das posições, ainda que no interior delas apresente-se como plenamente transparente (óbvio) um determinado sentido e não outro. Esse é o conceito de formação discursiva (doravante FD).

consciente, mas se dá na forma do assujeitamento a uma dada “evidência de realidade” enquanto sistema de evidências e significações percebidas, aceitas e experimentadas.

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complexo dominante”. Nesse sentido, adentrar uma dada FD não é um processo

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A segunda tese é a de que toda FD dissimula sua dependência com o “todo

Assume-se a hipótese de que, quando se trata da problemática do MMA/UFC, haja duas formações discursivas que mais ou menos encerram os posicionamentos sobre o tema. Na primeira FD (FD-1), MMA é um esporte e deve ser tratado com tal: os lutadores são atletas e, também, são ídolos que, na maioria dos casos, ascenderam de uma posição de pobreza e, por isso, tornam-se alvos de idealizações. O “outro” desse posicionamento (FD2) é o de que MMA é um espetáculo perigoso porque camufla a brutalidade sob as cores do showbiz e, justamente por isso, banaliza a violência. Ainda que não seja o objetivo da análise tomar partido entre um ou outro posicionamento, é possível afirmar que na FD-1 há um processo de alta valorização desenvolvido por meio dos veículos da mídia, o que promove um apagamento necessário da vinculação histórica do MMA com o Vale-Tudo. Nesse processo de reformulação de uma memória, uma possibilidade de análise é que exista certa “estetização da violência” no UFC, de modo que todos os rituais criados no torneio tornam esse espetáculo (ou esporte) aprazível ao consumo. Tomemos o exemplo da constituição da arena de combate. O octógono é minuciosamente preparado antes de cada edição do torneio e apresenta um jogo de luzes característico de grandes produções cinematográficas. Cada lutador escolhe uma música e a entrada dos adversários é acompanhada desde o camarim (no caso de defesas de cinturão):

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Figura 2 – Octógono do UFC

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Ademais, ao contrário das grades de confronto de times de futebol, por exemplo, em que há uma federação que rege cada uma das lutas, o UFC atua como uma empresa na qual os dirigentes escolhem arbitrariamente os competidores, de acordo com o apelo comercial. O corpus do artigo, nesse sentido, é também um produto das lentes de fotógrafos contratados pelo evento, que ficam nos arredores da arena, e que lançam o material ao grande público segundo as determinações do UFC. Em relação ao processo de estetização da arte, Walter Benjamin (1987), incomodado com o avanço do Nazi-Fascismo na Europa e com o uso da propaganda na imposição de tais ideologias, afirmou que a crescente “proletarização” e “massificação” são duas faces da mesma moeda. Esse processo estaria estreitamente relacionado com o desenvolvimento das técnicas de reprodução e de registro (como o cinema e a fotografia) isso porque “de modo geral, o aparelho apreende os movimentos da massa mais claramente que o olho humano” (BENJAMIN, 1987, p.195). O recurso de se estetizar a arte tem como fim a disseminação e a manutenção das relações de produção. O autor retoma o artista ligado ao movimento futurista Marinette para quem: a guerra é bela, porque graças às mascaras de gás, aos megafones assustadores, aos lança-chamas e aos tanques, funda a supremacia do homem sobre a máquina subjugada. A guerra é bela, porque inaugura a metalização onírica do corpo humano. (BENJAMIN, 1987, p.195).

Se a guerra é bela, porque provoca novos olhares sobre a relação do homem com a máquina, pode-se dizer o mesmo do combate físico na relação do homem com o próprio corpo utilizado como uma arma. E, por isso, a fotografia em questão é chamativa, interessante e, no mínimo, instigante. É possível, a partir dela, recuperar toda a conjuntura de trajetória do herói Anderson Silva no exato momento em que houve o “acidente” que lhe tirou a possibilidade de recuperar o cinturão dos pesos-médios. Toda a produção que envolve a composição desse objeto cultural a um só tempo marca uma quebra em relação à aura de invulnerabilidade de Silva como também o coloca na posição de mártir. A expressão do rosto não é resultado de uma composição artificial (como seria uma pintura, onde é possível a existência de marcas metafóricas), mas a

torna-se representativa de um momento especial da história do MMA (como diria Davallon (2012), que foge à insignificância), plenamente estetizado conforme os paradigmas do

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A canela partida ao meio, assim, de ato grotesco, definição visual de brutalidade,

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divulgação massiva dessa fotografia está inscrita na esfera do discurso.

torneio espetáculo/esporte. Para Andrade (2002), a fotografia não é uma cópia quimicamente revelada da identidade, assim como não é apenas seu registro documental e científico. É uma realidade revelada: A mais banal das fotografias detém ou apela para uma presença. Guardamos em nossas carteiras e em nossas casas imagens de santos, de bichos, da família, bem como imagens daqueles que gostaríamos de ser, ídolos, heróis, objetos de desejo. Recorremos às fotografias para fazer presente o que está ausente. (ANDRADE, 2002, p.49).

Como objeto cultural, “inventário da mortalidade”, “lembrança que responde” é da esfera do discurso e, portanto, possui marcas nas quais se materializam efeitos de sentidos inscritos em uma dada historicidade (as condições de produção). Tomando por base esses pressupostos, discutiu-se, no estudo, se as fotografias de combate (em especial a fotografia da canela do lutador de MMA Anderson Silva no momento da fratura) são capazes de remeter a certa memória (a constituição da imagem positiva de Silva) e até mesmo se fazem parte de um processo de estetização, que torna aprazível o consumo de uma indústria que pode vir a ser considerada violenta (FD-2). Essa é uma possibilidade de leitura que responde por que uma foto considerada, em um primeiro momento, tão repugnante causa tanto fascínio a ponto de ser reproduzida à exaustão em diferentes tipos de mídias. Referências ANDRADE, Rosane de. Fotografia e antropologia: olhares fora-dentro. São Paulo: Estação da liberdade: EDUC, 2002. BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In: __________. Magia e técnica, arte e política – ensaios sobre literatura, história e cultural. Trad. Sergio Paulo Rouanet. 3ª ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987. (p.165-196).

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FERNANDES, Rafael de Souza Bento; CATTELAN, João Carlos. Imagens do lutador Anderson Silva em exemplares das revistas Veja e Superinteressante sob a ótica da análise do discurso francesa: retratos de um gladiador tranquilo. Revista Linguasagem, 21ª ed. Disponível In: < http://www.letras.ufscar.br/linguasagem/edicao21/artigos/artigo07.pdf >. Acesso 10/12/2013.

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DAVALLON, Jean. A imagem, uma arte de memória. In: Achard, Pierre (org.). Papel da memória. Trad. José Horta Nunes. 3ª ed. Campinas, São Paulo: Pontes Editores, 2010.

FERREIRA, Rosenildo Gomes; ORSOLINI, Marcio. O golpe de mestre do UFC. DisponívelIn:. Acesso: 01/08/2012. MILLER, Matthew. Ultimate cash machine. Disponível Acesso em 15/06/2013.

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PÊCHEUX, Michel. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Trad. Eni Orlandi et. al. 4ª ed. Campinas, São Paulo: Editora da Unicamp, 2009. PESSANHA, Klima. Vale tudo? Longe disso: conheça as regras usadas pelo UFC. Disponível In: Acesso em 15/06/2013.

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REVISTA ISTOÉ DINHEIRO. São Paulo: Abril. Ed. 757, 05/04/2012.

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