O DISCURSO DO MÍDIA NINJA: A (DES)IGUALDADE SOCIAL NAS REPRESENTAÇÕES E AÇÕES MIDIATIVISTAS

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O DISCURSO DO MÍDIA NINJA: A (DES)IGUALDADE SOCIAL NAS REPRESENTAÇÕES E AÇÕES MIDIATIVISTAS Antonio Augusto Braighi (Cefet-MG) 1 Resumo: Em 2013 o Brasil passou por diversas manifestações, muitas delas violentas, que levaram milhares de pessoas às ruas das principais cidades do país. Os atos foram marcados pelo grito da crise de representatividade, política e midiática; assim, bandeiras parlamentares e logos de mídias corporativas em geral não eram aceitas pelos ativistas nas marchas. É neste contexto que ganha representatividade o Mídia Ninja, coletivo de comunicação independente que registrava os protestos bem de perto, em tempo real, pela internet, pautando, inclusive, os tradicionais órgãos de comunicação. Em 2014, durante a Copa do Mundo de Futebol, mais uma vez os repórteres-Ninjas estavam nas ruas – período que representa o recorte de exame da pesquisa de doutorado a que este artigo faz referência. Os resultados foram obtidos a partir de uma apreciação balizada pela semiolinguística e análises fundamentadas em um amplo arcabouço teórico. Foi examinado o conjunto das transmissões simultâneas do Mídia Ninja, realizadas no período de 12 de junho a 13 de julho de 2014, composto por 290 vídeos, totalizando mais de 96 horas de exibição. Os dados indicam um forte posicionamento ideológico na defesa de causas sociais que, aparentemente, não têm grande apelo nos canais de comunicação de massa no país. Com uma métrica diferente da utilizada pela mídia corporativa, e uma parcialidade declarada, o coletivo tem dado voz a atores sociais sem muito espaço, fomentando os processos democráticos uma vez que potencializa os argumentos de movimentos sociais e de ativistas, alargando os horizontes da liberdade de expressão, trazendo mais informações para a sociedade civil. Esse artigo então, em tom ensaístico, tem como finalidade apresentar alguns resultados da tese supracitada, procurando centralizar a discussão nos aspectos discursivos que demonstram como a dinâmica desta mídia independente pôde contribuir ainda para um trabalho crítico dos internautas, gerando reflexão, engajamento e participação política. Palavras-chave: Mídia Ninja. Midiativismo. Análise do Discurso. Transmissões em Tempo Real.

21 de maio de 2011

Não era um sábado qualquer; representou o embrião do que veio a se tornar o Mídia Ninja e as transmissões simultâneas realizadas pela internet. Para além disso, o dia apresentava mais uma ação de protesto composta no Brasil: as manifestações em prol da 1

Doutor em Linguística do Texto e do Discurso (Estudos Linguísticos – FALE/UFMG) e professor no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG). E-mail: [email protected]

Anais do IV Simpósio Internacional sobre Análise do Discurso: Discursos e Desigualdades Sociais. Belo Horizonte: NAD/FALE/UFMG, 2016. ISBN: 978-85-7758-301-0.

legalização da cannabis sativa que, em razão da discussão em torno da (possível) apologia ao uso da maconha que o movimento estaria a fazer, tornaram-se marchas pela liberdade (de expressão). O que é marcante nessa soma evenemencial é o fato de, pela primeira vez, o país (as pessoas com acesso à web) ter tido a oportunidade de ver e ouvir, em tempo real, uma intervenção ativista a partir do ponto de vista de seus entusiastas. Evidentemente era um plano piloto; mas a ação já nascia pautada pela horizontalização da mediação, no relato em primeira pessoa, com a imersão no evento, em uma narrativa linear, sem cortes, sem edição, disponível abertamente on-line. Estimulada por investidas de comunicação advindas da Primavera Árabe e, sobretudo, do 15M espanhol, as transmissões em live stream no Brasil davam ali os seus primeiros passos. O responsável era o jornalista Bruno Torturra, apoiado pelos amigos que faziam parte do coletivo Fora do Eixo – estes últimos que viriam a se tornar, dois anos mais tarde, os principais responsáveis pela condução do projeto Mídia Ninja. O dia 20 de junho de 2013, mais especificamente, (ao menos para o autor desse texto) marca o apogeu dessa mídia independente. O país do futebol era tomado por manifestações de alta grandeza durante a Copa das Confederações. A cobertura verticalizada dos media, cada vez mais apartados dos protestos (pelos manifestantes), era contrapesada pelo registro empreendido pelos Ninjas direto do front. Paulatinamente o coletivo que fundia mídia e ativismo ganhava repercussão nas redes, nas ruas, e até mesmo junto aos conglomerados mediáticos – a pautá-los, inclusive. Diante ao intento acadêmico, parecia interessante tratar desse fenômeno, se assim podemos chamá-lo, a compreender suas nuances a partir de um amplo ferramental da seara (semio)linguística. Foi o que fizemos em uma pesquisa de doutorado encerrada há pouco (BRAIGHI, 2016) 2. O que o exame demonstrou, entre outros dados, é que além dos valores relacionados à repercutida cobertura de manifestações, o Mídia Ninja tem dado conta da projeção de atores e grupos sociais, bem como das respectivas causas defendidas pelos mesmos, numa parcialidade localizada e declarada. Servindo de plataforma com modelo diferenciado de registro, o coletivo diferencia-se dos canais de comunicação de massa no país e auxilia nos processos democráticos em terras brasileiras, alargando os horizontes da liberdade de expressão, ao trazer mais informações (argumentos e posições) para a sociedade civil. 2

Aliás, é importante registrar, grande parte do que se apresenta aqui é um recorte da referida tese.

Nossa inferência para esse artigo, entretanto (subindo um pouco mais o tom do que se apresenta em nossa tese), é a de que esse dar a ver da realidade brasileira, esse evidenciar de desigualdades sociais (na medida da exposição das causas pelas quais se luta nas ruas), essa projeção de vozes preteridas nos medias, contribui para um trabalho crítico dos internautas, gerando reflexão, engajamento e participação política. Para tanto, nos localizamos como recorte na Copa do Mundo de Futebol de 2014. Foi examinado o conjunto das transmissões simultâneas do Mídia Ninja, realizadas no período de 12 de junho a 13 de julho de 2014, composto por 290 vídeos, totalizando mais de 96 horas de exibição. Assim, apresentamos a seguir como organizamos nosso estudo, a metodologia de análise e os principais resultados que nos ajudam na fundamentação das argumentações expostas anteriormente.

A tese

A principal pergunta que movia o nosso interesse pelo Mídia Ninja era: como um coletivo midiático tão púbere, completamente distinto do manual do jornalismo tradicional, marcado pela declarada parcialidade, conseguiu arrebatar, em tão pouco tempo, tantos aficionados Brasil afora? Começava a se arranjar o nosso problema de pesquisa. Questões diversas que conformam uma ausência de informações sobre o que é o Mídia Ninja e como o modo de produção discursiva dele era capaz de edificar sentidos tão particulares e com tanto vigor de afetação junto ao público. É importante dizer, de saída, que sempre nos interessou mais a produção audiovisual em tempo real. Isso porque o coletivo contempla uma série de iniciativas na web, entre elas uma fanpage no Facebook, um perfil no Twitter, um site, além da presença em outras redes sociais on-line e a produção de documentários. Compreender o tipo de efeitos que as transmissões simultâneas agenciam, como se estabelece a relação entre locutor e os seus interlocutores (e não falamos apenas da audiência mediada), as facilidades oportunizadas pelas novas tecnologias para feedback em tempo real, a função da imagem, o real time, entre muitos outros aspectos fomentam pesquisas que são tão novas no Brasil quanto o fenômeno que surge (e inéditas, dado que as características ninjas, ainda que influenciadas por estratégias de outros países, são únicas).

Entender o portento Mídia Ninja, sobretudo em sua frente de transmissão simultânea, é compreender não só um tanto do que representaram as Jornadas de Junho 3, mas principalmente a extensão disso até à Copa do Mundo do ano seguinte. O “Não vai ter Copa”, que ecoava em alaridos nas ruas em 2013, prenunciava um posicionamento ativista no ano seguinte. Assim, constituímos o objetivo geral deste trabalho em descrever e analisar as condições de produção do discurso do Mídia Ninja, buscando compreender o lugar que o coletivo ocupa no regime discursivo midiático que se tem na contemporaneidade. Como passos para alcançar tal perspectiva, tivemos três frentes específicas. A primeira foi a de descrever os aspectos estruturais que compõem o dispositivo técnico de produção do Mídia Ninja. Em outras palavras, decompomos todas as particularidades ligadas ao modo fabril e de emissão (e, de certo modo, até de recepção) do coletivo, no que se refere especificamente à análise do conjunto de aprestos, equipamentos e plataformas, envolvidos na confecção das coberturas simultâneas. Coube, então, avaliar quais são e como são utilizados pelos Ninjas: os smartphones, o sinal de transmissão, o Twitcasting4, entre outros recursos. O segundo objetivo específico foi o de descrever e sopesar o dispositivo comunicacional e enunciativo regular do Mídia Ninja. Essa segunda perna, a mais filiada às discussões da linguística, é decomposta ainda por uma articulação que engloba a dimensão contextual (dados externos do contrato comunicativo: identidades dos parceiros da troca comunicativa, além da finalidade, propósito e cenas enunciativas), a dimensão sonora, a dimensão visual, a dimensão verbal-enunciva-enunciativa (com os atos locutivos e os modos de organização do discurso), dimensão imagem-texto e a dimensão dos efeitos. Por último, buscamos, enfim, analisar a dinâmica interacional do coletivo com os receptores/interlocutores dele na plataforma Twitcasting, por meio do exame das trocas realizadas a partir dos chats. A dinâmica interacional é entendida aqui como um processo 3

Além do que foi ou será evidenciado a seguir, vale justificar um pouco mais de por que não analisar a cobertura do Mídia Ninja em 2013. Em primeiro lugar, observamos dezenas de trabalhos que se debruçaram sobre o que representaram as manifestações daquele ano e muitas abordagens ao coletivo também se valeram do midiativismo nas Jornadas de Junho – gostaríamos de trazer dados novos, a fim, inclusive, de contrastar com a realidade do ano anterior. Além disso, pouco das transmissões do primeiro período indicado estão disponíveis on-line. Ao contrário, no Twitcasting, muitas das lives de 2014 estão acessíveis, posto que as gravações são facilitadas por essa plataforma. 4 Trata-se de uma plataforma para realizar transmissões a partir de um smartphone (ou aparelhos com funcionalidades análogas) ou mesmo de um PC. Da mesma forma, os internautas também podem assistir às comunicações diretamente de um computador – acessando o site http://us.twitcasting.tv/, ou baixando um aplicativo específico para celular chamado Twitcasting Viewer.

que tem como suporte e fim as trocas comunicativas, autoinfluenciadoras, carregadas de significados, realizadas entre duas ou mais instâncias. Nesse sentido, buscamos compreender esse artifício por meio das perspectivas do interacionismo simbólico e das práticas conversacionais. Pensamos que a fundamentação em Kerbrat-Orecchioni (2006) é viável nesse sentido, devido à amplitude dela e a nossa filiação ao campo da linguística. Além disso, não é difícil verificar autores que relacionam a análise das dinâmicas interacionais on-line com as práticas conversacionais. Recorremos primeiro então a esses, no rastro das reflexões ora realizadas, para nos aproveitarmos da lógica da conversação já aplicada, em detrimento de uma releitura para gerar um novo modelo, senão uma forma mais completa de análise a partir da interseção de três abordagens que entendemos complementares: as investidas de Michel Marcoccia (2004), Amossy (2011) e Marques (2011).

Fundamentação Teórica

Tomando como base o arcabouço da semiolinguística e calcando-nos ainda em reflexões da comunicação e da sociologia, este estudo se preparou ao longo do primeiro semestre de 2014, arranjando o modelo metodológico de modo a guiar as vistas de forma crítica para o material que se constituiria no período da Copa do Mundo (que, como já anunciado, se instituiu como corpus). Ao longo desse período, de uma forma quase automática, fomos levados a reflexões das mais distintas. A primeira delas fora a respeito do surgimento desse fenômeno. Aos poucos, percebemos que a temática ligada ao tipo de veículo que visávamos observar era mais antiga e, diante de um contexto (senso comum e até junto a acadêmicos) de indefinições sobre os fundamentos, entendemos que era necessário fazer um levantamento histórico e conceitual. Carecia definição apropriada em razão de uma possível confusão entre termos aparentemente análogos, entre os quais estariam mídia alternativa (RENDEIRO, 2003; ATTON, 2002), livre, radical (DOWNING, 2004), de guerrilha (BRAIGHI; et. al., 2016), entre outros. Esses conceitos deveriam ser averiguados a fundo num processo inicial da pesquisa, de modo a calçar o trabalho e compreender o real significado dessas novas mídias que reivindicam o qualificativo – bastante controverso – de “independentes”. Entretanto, como escolha problematizadora, optou-se desde o início por tratar na tese, de

maneira crítica, o Mídia Ninja no interior do campo compreendido como Midiativista, entendendo que ele é, inclusive, de certo modo propulsionado pelas variantes listadas. Na oportunidade, nos alvitramos a propor um conceito para o campo. Entendemos, porém, que o midiativismo decorre da postura de um indivíduo, qualquer que seja, e não o contrário, compreendendo mais o lugar do homem do que propriamente das instituições, grupos ou coletivos. Logo, tem-se que o midiativista é um sujeito, portador de uma vontade solidária, que empreende ação direta transgressiva-intencional e vê a capacidade de intervenção social dele localizada sendo potencializada, pari passu à implementação da intervenção ativista, por meio de um registro midiático que visa amplificar conhecimento, espraiar informação, marcar presença, empreender resistência e estabelecer estruturas de defesa. Tal posicionamento decorreu do primeiro capítulo da tese, onde se optou por sinalizar e nos aprofundar acerca de uma tessitura sob a qual o midiativismo ninja surge: articulamos uma seção que tratou das relações de força entre sociedade, redes, ruas e mídias. Nossa intenção foi a de discutir esses conceitos e demonstrar como eles se inter-relacionam, situando nossas abordagens, sobretudo, em autores como Castells (2012, 2013). Empreendemos uma marcha histórica, largando do advento da Internet e perpassando a sua importância em relação aos novos movimentos sociais ao menos desde 1994 5 até chegar em 2013, ano das Jornadas de Junho no Brasil. Fizemos então uma leitura que privilegiou desde o olhar para os levantes populares mais contemporâneos, sobretudo dos que marcaram efetivamente a contextura social no Oriente Médio (com a chamada Primavera Árabe), as investidas ibéricas, norte-americanas e, evidentemente, brasileiras – pelo menos desde a chamada “Revolta do Buzú” em 2003. Foi importante, então, compreender um pouco do papel da Ação Global dos Povos (AGP) e do Fórum Social Mundial (FMS) nestes contextos, tanto quanto as particularidades das novas tecnologias da informação e comunicação em seus meandros, entre outras nuances sociais, políticas e culturais que marcam o espírito de um tempo de questionamento dos cidadãos frente aos rumos que os países, senão o mundo, vem tomando frente a questões econômicas, ambientais, políticas, entre outras – muitas delas específicas, sobretudo aquelas que afetam diretamente os direitos de minorias. Encerramos o capítulo traçando um histórico do Mídia Ninja e o seu advento em meio às múltiplas variáveis colocadas, incitando que ele nasceu de uma preocupação que 5

Com a utilização da web pelo Exército de Libertação Nacional Mexicano.

precedeu a todos os acontecimentos vistos em 2013. Valemo-nos de levantamentos bibliográficos, de pesquisas em sites e em produções midiativistas (e até nos media), além da realização de entrevistas e a visita em duas casas coletivas onde residem integrantes do Mídia Ninja (em Belo Horizonte e São Paulo). No capítulo seguinte tivemos como intento procurar traduzir as perspectivas apresentadas na seção anterior com o campo da linguística, mais especificamente aquela que trata do texto e do discurso. Um autor nesse contexto nos é particularmente caro e aponta para o caminho teórico que seguimos: Patrick Charaudeau (2012). Nessa abordagem em especial, que guardou por vezes um tom ensaístico, dedicamos especial atenção à noção de contrato de comunicação, entendendo que ele foi fundamental como essência para a consecução do objetivo geral da tese. Essa parte, em verdade, apresentou-se como uma passagem para a seção seguinte (a metodologia), formando um só composto que arranja as perspectivas midiativistas com o campo da linguística; sendo, enfim, o deságue da inter-relação que alvitramos fazer na discussão sobre o texto e o discurso de coletivos do porte do Mídia Ninja.

Alguns resultados

Viu-se que, nas ruas, em 2014, a resiliência de protesto, ainda que enfraquecida pela egressão de diversos manifestantes de outrora, ganhava repercussão no Mídia Ninja. O coletivo, pautando a “copa das ruas”, continuava firme no desígnio de dar visibilidade às causas e voz a atores sociais afastados dos meios hegemônicos (das estruturas de poder), participando e fortalecendo, simultaneamente, ações diretas das mais distintas. Lançou-se à rede, ou aos enredados, em 2013 (ainda que lá estive há pelo menos dois anos), o Mídia Ninja; um coletivo, em verdade, posto às ruas. Nas tramas da web e no asfalto, um grupo de jovens continuou, um ano depois, a experimentar (em constante), quebrar padrões (cristalizados), registrar, agir, envolver, remixar, dar voz, falar e representar (no sentido cênico e da procuração). Acreditamos, com a nossa tese, ter mostrado isso, como funciona tal dinâmica e, tão importante quanto, o porquê disso. Outra vez o Mídia Ninja serviu de ponte, de intercessão, de mecanismo de mostração dos acontecimentos em curso, no fluxo, evidenciando o que aparece, o mais próximo do que parece – semelha. Um coletivo que deu voz, que problematizou. Mas toou

muito a captação pela afetação de alguns eventos narrados – que o digam a abertura e o encerramento da Copa, dadas as ações violentas envolvidas nos episódios evidenciados. Tem-se o reflexo de uma mídia que se aproxima do jeito de fazer da audiência, da forma como qualquer sujeito o faz, hoje, se quiser. Não há segredos. Há disposição. O que as imagens revelam não é um estar ali para, mas estar por. Contando, claro, com uma transfiguração do olhar do espectador. Da pintura na tela à tela da televisão, o monitor, o computador, o celular. Mídia de multidão (HARDT; NEGRI, 2005), bancada menos por um veículo (talvez pelo efeito de sentido de sua marca) e mais pelo sujeito que porta a mídia. Ninja é uma chancela que apenas rotula um coletivo, que atesta aquilo que um grupo faz e pode ser feito, afinal, por qualquer um. Não sem motivos, ficou clara a nossa dificuldade de encontrar um padrão. Cada Ninja acaba por agir de um jeito. É bem verdade que o coletivo é seu dispositivo, seu balcão (o que alça) e limitador, e não se pode esquecer que é a rubrica do veículo que, de forma primária, traz a audiência. Ainda assim, vimos variações que correspondem a uma ausência de explicação, senão contextuais, de momento, de sensação mais do que intento. Tem-se uma liberdade condicionada pela situação a ser enquadrada, pelo estado de espírito do midiativista, pela filosofia e até direcionamentos do Fora do Eixo. Ainda que Rafael Vilela, um dos mais proeminentes integrantes do Mídia Ninja, tenha nos dito que os integrantes do coletivo ajam com alvedrio, é perceptível nas transmissões que as orientações (ainda que não se fale em normas de conduta, mas em modo reflexivo) influenciem numa maneira de agir dos Ninjas. Isso fica ainda mais claro quando se comparam as formas de atuação dos vinculados às casas coletivas com figuras como os colaboradores França e Vidigal. As concepções ideológicas, ainda que caminhando na mesma direção, parecem distintas e com mais radicalismo no último caso. Sobre o Fora do Eixo, aliás, não foi nossa intenção na tese avaliar se e como a rede agrega a si capital (simbólico e/ou, por consequência, financeiro) em função do trabalho e representatividade do Mídia Ninja. Todavia, de certo modo, parece perder tais recursos (quaisquer que sejam). A vinculação do coletivo midiático com tal sistema indica ter influenciado negativamente no próprio ethos do primeiro. É uma inferência que fazemos com base na leitura das missivas nos fóruns e até em uma interpretação de sentido no discurso de colaboradores como Vidigal (em transmissão e em entrevista ao autor deste artigo).

A impressão que temos, afinal, é que o acordo subscrito pelo Mídia Ninja com a audiência dele (e mesmo com quem não estava na rede, mas na rua ao longo de uma manifestação) é maior do que o contrato comunicativo, ainda que o influenciasse. Talvez tenha sido até pacto, não assinado – mas cativado – em certa altura, influenciado por uma intensa carga subjetiva que dispensava no coletivo todo um conjunto de desejos, de orexia por representação, da carência por heróis, mártires, de sujeitos sem vínculos com a política partidária praticada no país – extremamente maculada por comportamentos lobistas. O Mídia Ninja não poderia cumprir tal ideia, posto que quem conseguiria? A relação do coletivo com o Fora do Eixo não o conspurcava, tão-somente o caracterizava. E, ainda assim, seguia com o valor dele. Todavia, apostamos que a perspectiva midiativista ninja é resignificada a cada nova transmissão. A chamada cobertura do Mídia Ninja converte-se em registro de Filipe, Letícia, Alex, e tantos outros, tão logo o streaming acenda. Um novo contrato, ou um acordo pautado sob as cláusulas já dadas pelo coletivo, é assinado naquela cobertura. Nesse contexto, diz-se de possibilidade midiativista, pois nem todas as transmissões (diria até Ninjas) o são. Muitas vezes a ação direta, clara, parece correr fora do comportamento de alguns integrantes. Senão em comportamentos extremos, como o do Ninja Peçanha a encarar e questionar a polícia no Rio de Janeiro – a sofrer, na pele, as consequências, o que mais há de ativista no comportamento ninja? Compreendemos que, em primeiro lugar, o estabelecimento de uma narrativa específica, em primeira pessoa, sem edições, em e no fluxo dos acontecimentos, gerando um registro diferente daquele que se tem nos media, a partir de um movimento de experimentação evenemencial e que se posiciona claramente ao lado (físico e moral/ideal) de uma das partes em disputa dos desdobramentos dos fatos em evidência, configuraria mais o midialivrismo. Porém, observemos a expressão “movimento de experimentação evenemencial”; o que é importante assinalar no fragmento é que o midiativismo não se trata de uma vivência passiva, mas na intervenção que gera (ou pretende gerar) mudança, trazer o novo, a partir de cinco marcas que são facilitadas pelo uso de dispositivos técnicos – e sua manipulação com intentos claros, a saber, conforme já colocado antes: amplificar conhecimento, espraiar informação, marcar presença, empreender resistência e estabelecer estruturas de defesa. Senão de forma totalizante (as cinco frentes simultaneamente), conjecturamos que o Mídia Ninja, por meio do trabalho dos midiativistas que se vinculam ao coletivo, alcançou

tal intento. Tais vetorizações foram perceptíveis em quase todas as abordagens durante a Copa do Mundo, conformando um modo específico de ação direta midiática, que, por suas características, estabelecem relação alinhada com o exercício de manifesto dos sujeitos aos quais deram voz durante as transmissões. Queremos destacar, todavia, que o Mídia Ninja de 2014 certamente não é o mesmo de hoje, 2016 – e poderíamos esboçar o planejamento para outra tese, no sentido de compreender esse Mídia Ninja atual; porém, seria inválido, senão para demonstrar como o cenário político (social, cultural, econômico) brasileiro interferiu em um modo de articulação desse coletivo. Diante dos contextos e da liquidez da sociedade contemporânea, ele e as outras iniciativas midiativistas devem reconformar-se, reconstruir-se, reinventar-se, continuando o exercício cíclico da experimentação que vem articulando. Nossa pesquisa, todavia, não perde o valor, pois acentua o registro temporal e o comportamento midiativista, importante, que se encontrou em um lugar marcante de nossa história. Percebe-se, afinal, uma nada tênue inter-relação entre os efeitos na condução ninja, fruto, muito provavelmente, da própria lógica de hibridização mídia + ativismo. Ao passo que o coletivo é fundamentalmente da ordem da informação e que, por isso mesmo, faça recorrência às perspectivas de realidade de forma recursiva, é outrora eminentemente compassivo e passional, posto que as transmissões referem-se a eventos que tem como norte mudanças no tecido social que, se efetivamente alcançadas, dirão respeito à vida de integrantes de diversos grupos sociais, senão, inclusive, desses sujeitos-repórteres. A interação na plataforma, a reboque da transmissão em tempo real, condiciona a criação de uma rede social efêmera, ágora passageira, na qual não há como avaliar os resultados, senão assinalar a contribuição disso para a circulação de saberes dos mais distintos. O espaço, em relação direta com os eventos em curso, no tomar de vozes diversificadas, na disputa, nas trocas nem sempre gentis, vão colocando em discussão temas que são contemporâneos e fundamentais de serem discutidos. Experencia-se uma prática dialógica nova, multimodal muitas vezes, que auxilia na conformação de pontos de vista, na subjetivação cooperativa e simultânea, numa conversa infinita que se estende pelas redes e pelas ruas (BENTES, 2015). Do ponto de vista metodológico, a (semio)linguística – como desejávamos e imaginávamos,

despontou-se

como

ferramenta

enérgica

para

as

análises

que

empreendemos. Aliás, acreditamos ter feito poucas adaptações em esquemas clássicos articulados pelo professor Patrick Charaudeau, dentro da tradição da linguística, o que foi

muito proveitoso para nossa dinâmica de estudo. Entretanto, em trabalhos porvindouros, indicamos, inclusive, o implemento de determinados (e pequenos) ajustes a uma apreciação mais aprofundada acerca de ações específicas do midiativismo. De toda forma, acreditamos que a tese traz uma contribuição para se pensar nos estudos linguísticos à luz de novas frentes midiáticas e de intervenção social, dado que sua aplicação ao cenário de exame aqui cultivado nos pareceu muito positivo. Almejamos ter contribuído socialmente, então, já que um comprometimento acadêmico que visou decompor de forma incisiva e criteriosa a produção de um coletivo que, para um significativo número de pessoas, foi eleito como baluarte da mediação, o representante de informação evenemencial (e até de atuação nas ruas). Assim, entendê-lo, de certo modo foi compreender um pouco (ou uma parte) de nossa sociedade, seus interesses, seus medos, suas necessidades e desejos. Um fragmento de coletividade que se cansou de versões sobre os fatos (calçadas em interesses diversos, distantes do comum) colocadas com o discurso de imparcialidade, se enfastiou de ver e ouvir os mesmos sustentáculos de arquétipos, se aborreceu com estereótipos e de saber que tantas vozes, causas e pontos de vista são aplacados tão-somente por serem ordinários, comuns.

Função Trabalho Crítico

Sobre o trabalho crítico, Ana Rosa Vidigal (2014) nos lembra que, para ele ocorrer, é preciso se considerar o conflito, o embate e a transação fundamentais para a efetiva construção do conhecimento. Ainda segundo a autora, o trabalho crítico (que em nossa opinião pode ser estimulado pelos media e não só a partir da manipulação em outras esferas do que eles produzem – na educação, por exemplo), “[...] envolve o tensionamento, o enfrentamento entre diferenças, negociações de sentido, aprendizagem colaborativa, disponibilidade para reconhecer a provisoriedade de convicções, [e o] livre debate.” (VIDIGAL, 2014, n. p.). Some-se a isso a ideia de que este deveria levar em consideração uma lógica freireana, com processos balizados pela problematização, pelo diálogo, pela desalienação e pela horizontalidade das trocas (FREIRE, 1987). O registro midiático dos Ninjas, como colocamos conceitualmente na lógica midiativista, visa potencializar a ação direta. O primeiro item nessa esteira, como fora evidenciado, é a geração de conhecimento. Por meio da construção de uma narrativa paralela à da mídia corporativa de massa, os midiativistas vêm realizando um papel de

posicionamento ao lado de setores da sociedade que têm menos espaço para projeção argumentativa, oportunizando condições para que os seus pontos de vista possam repercutir. Não obstante, o choque das ideias propagadas pelos coletivos só surte o efeito positivo (da já mencionada geração de conhecimento e questionamento), quando utilizado de forma responsiva e responsável pelo leitor – isto é, de modo ativo e consciente. Um problema que se coloca, então, é a direção do cardume da recepção. Aliás, não se fala propriamente da ideia de coletividade de espécie, mas do comportamento, o fluxo num sentido, em grupo, na hiperenunciação do “é assim por que tem que ser assim”. Muitos sujeitos na Internet ainda não se deram conta do potencial da grande rede e repetem, em geral, o mesmo procedimento que têm na leitura das mídias off-line. Não estamos colocando o Mídia Ninja e o midiativismo em um pedestal. Apenas destacamos que a leitura da produção de coletivos do gênero tem condição de ampliar o cabedal de informações dos sujeitos, potencializando a produção de conhecimento a partir de um comportamento crítico acerca dos acontecimentos e da sociedade em que estamos inseridos. Para tanto, é preciso que o peixe seja fisgado, mas não fique preso a apenas uma rede. Vale lembrar, em relativização, que o Mídia Ninja não evidencia o que aparece; antes, na transmissão do coletivo aparece o que se evidencia, o que se quer mostrar, dentro de uma parcialidade localizada. Ficamos, no regime Ninja, com parte da história, com uma versão da verdade, construída em torno de maneiras de organização do discurso bem marcadas. Nesse sentido, apesar de reconhecido o importante papel social dessas mídias, ele, ratificando, é parcial. Assim, é preciso ter o cuidado de não cair em uma contraditória realineação com ares de libertação, em detrimento de uma efetiva desalienação que só é possível por meio da constante postura crítica, qual seja, diante de toda a realidade social construída e estabelecida (BRAIGHI, 2015). Enfim, pode se considerar que há pontos de convergência entre o midiativismo e o trabalho crítico. No entanto, parecem ser os midiativistas que fazem esse labor; isto é, de modo muito particular, individual, para eles (como, na verdade, deve ser). Parte-se do princípio, porém, que, na medida em que os repórteres verbalizam/materializam esse processo reflexivo, por meio das mais diversas estratégias, têm-se condições de contribuir também para a (trans)formação de outras pessoas. Entretanto, talvez a principal contribuição seja a constituição do espaço do “ruído”; aquele em que e a partir do qual, de

modo cíclico, um conjunto de pessoas engajadas poderão continuamente (re)aprender em conjunto. Nesse sentido, outra contribuição vem dos chats de transmissão. Na tese, eles foram classificados como fóruns, transformados em ágoras democráticas, apresentando-se como uma extensão das ruas e, ao mesmo tempo, um amplificador de vozes ausentes. Viu-se muito engajamento on-line – que não temos como mensurar, evidentemente, se acabou se convertendo em adesão no asfalto. Mas condicionou-se, invariavelmente, a inserção de diversos sujeitos em um espaço, ainda que virtual, marcado pela discussão, reflexão e ação política. Mesmo que não se saiba que tipo de consequências (positivas) podem haver nesse contexto, há grande potencial, dada a riqueza proporcionada pelos múltiplos posicionamentos, incluindo os dos Ninjas e dos entrevistados no evento narrado. No chat, perguntou o internauta conservador: Eles (os Ninjas) não trabalham? O que eles ganham com isso? “Navigare necesse; vivere non est necesse”, respondeu o romano Pompeu. Não foi Fernando Pessoa. Este outro, de quem sou da claque, transmutou a réplica como valor. Viver não é mesmo preciso; disse que necessário, de fato, era criar, tornar a vida grande, colocar tal pensamento a toda humanidade para vê-la evoluir, num propósito impessoal de engrandecer a pátria. Do que adianta viver sem valor? Eis o intento do midiativista, “ainda que para isso tenha de ser o seu corpo (e a sua alma) a lenha desse fogo” da mudança, do novo, de novo. Seja homem ou mulher; a Ninja Karinny agredida em Belo Horizonte, o Ninja Filipe Peçanha preso e espancado no Rio de Janeiro, e uma série de outros audazes, não apenas vinculados ao Mídia Ninja, Brasil afora. Afinal, que valor tem o gozo do gol nas arenas futebolísticas frente às mortes nas favelas, à ausência de teto dos trabalhadores – que despendem valores incoerentes ao que recebem de transporte coletivo –, às agressões físicas e psicológicas das minorias, à estigmatização, à ausência de voz, à marginalização que o centro imputa? Como eu sei que essa realidade existe? Em verdade por uma série de fontes. Mas uma delas martela, insiste, persiste, entra em luta simbólica, na guerrilha de sentidos, arrostando com as suas armas, nada frágeis, mas localizadas, pontuais. O midiativista não conta em gozar a vida, nem pensa – ao menos nos termos da adesão ao torneio da Fifa. Um ano depois das manifestações que sacudiram o Brasil, o Mídia Ninja estava lá. Mas não jazia toda a gente. Havia, pois, certa multidão – mesmo aquela da fundamentação teórica (HARDT; NEGRI, 2005), que não é de quantidade, mas de personalidade. Resiliente, envolvida, engajada, marinheiros ao mar, a preservar e apoiar

a subjetivação. Esse renque pôs-se a obrar e viu-se potencializado na tela do coletivo; isso é, no ecrã dos monitores de quem não estava lá – ou estava? Acreditamos, com todo o conjunto de dados de nossa tese, que o lugar que o grupo ocupa no regime discursivo midiático atual é o da contrainformação, o da problematização, do posicionamento à margem e o da ausência de moldes e modelos estanques de atuação – a subverter os conhecimentos que, inclusive, detêm de um modo produtivo e estético tradicional das mídias (TV, cinema, artes). O lugar do Mídia Ninja não parece ser um ponto fixo, tampouco está em porto seguro. Aliás, indica ser isso mesmo, nada contraditoriamente, que procura. O coletivo nasce com fidúcias, mas cresce com apenas uma certeza: sua efemeridade. Na condição de midialivrista, quer quebrar a ideia do sistema de comunicação que se tem hoje, com a dominação dos espectros de radiofrequência, que instala uma ditadura midiática estruturada em oligarquias de poder. O que se visa é a democratização, um sistema sem regulamentos, mais colaborativo, ao mesmo passo participativo e que permita, inclusive, que o ativismo midiático se faça cada vez menos presente na medida em que se dê a existência de um regime linear, em que as vozes sejam ouvidas, que as ideias sejam respeitadas, as causas debatidas e, quiçá, resolvidas. Nesse contexto, o espaço do Mídia Ninja e dos coletivos midiativistas (e midialivristas) no chamado regime midiático é intrusivo (não devia estar ali), visando ser diruptivo. Vivemos tempos incertos em relação à hegemonia de um sistema de significação, muito em razão das possibilidades e potencialidades da web. Não precisamos nem lembrar que, o conjunto de regras e o padrão cartesiano, que se encontrava na produção da informação midiática, se vê ainda em xeque diante das arestas encontradas no modelo industrial dos media, revelando problemas para a sustentação dos grandes grupos. O regime midiático contemporâneo, como conjunto de normas fixas, então, cada vez mais tem se tornado a ausência delas, conformando um sistema de redes no qual qualquer um pode hoje intervir com uma produção própria. O Mídia Ninja e os seus colaboradores souberam mobilizar sentidos nesse contexto, conseguiram manipular traçados e estabelecer novas linhas de significação, colocando na web (na rede e aos enredados) quem lá não estava – ainda que, desde muito tempo, afetado por ela. Por fim, ainda que pretendêssemos concluir a tese de modo efetivo, o estudo não fecha o fenômeno que estamos vivenciando, que está em curso, sofrendo e imputando mutações nos campos midiático, da web, político, dos novos movimentos sociais, entre

outras frentes. Saímos com a sensação de incompletude. A percepção é a de que o prodígio não se permite encaixar no que fizemos – tampouco em muito do que lemos de outros pesquisadores até aqui –, e não parece terminar nisto. Isso porque, em nossa opinião, o Mídia Ninja não é só um coletivo que dá conta da prática evenemencial. Ele parece ser o próprio acontecimento. Um evento que se transforma em cada lance registrado. Uma fissura que luta pela manutenção da atenção aos campos problemáticos, num pelejo utópico para que eles não existam mais em detrimento de serem cobertos pelo manto da naturalização, do esquecimento, em função do que está mais quente. Tenta não deixar esfriar, mas é refém da ação direta – da existência e manutenção dela –, que não controla, dado que apenas colabora, fortalece, faz parte. Condição complicada pelo regime midiático atual, que parece privilegiar a discussão, mas ainda está longe da construção efetiva de conhecimento, da troca aprofundada, que gera a efetiva mudança não apenas no mundo, mas nas pessoas. O trabalho crítico vem no contar de gotas. A web mostra-se como ferramenta fundamental de mobilização social, e não é de hoje. Mais do que isso, pode converter-se em um poderoso instrumento de trabalho crítico, de crescimento, de desenvolvimento dos sujeitos. Ainda será. Hoje, ainda é experimento, laboratório de criação, produção de significados aleatórios, numa rede complexa que depende ainda muito do ânimo e direcionamento de cada internauta; a semântica ainda é cada um de nós que arranjamos. Fazemos nós, mas ainda não nos fazemos por completo. Autopoiesis em conformação. Adendo: isso não é justificativa para ausência de sucesso dos midiativistas em detrimento da mídia de massa. Estamos falando do processo de subjetivação deles também, principalmente, em detrimento do alcance que têm. Futuro incerto, inebriado, que se vê complexificado por cenários políticos problemáticos no Brasil e, eles também, influenciam no redirecionamento do comportamento Ninja e midiativista em geral (e não que estejam indo num mesmo sentido). Estrutura e investimento de atenção e tempo que correspondem exatamente à mudança social que se aguarda no país. Como e onde ela será feita são questões por demais complexas. Quando, parece ser mais fácil: no momento mesmo dessa leitura.

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