O DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO E O DOCUMENTÁRIO. NOVAS POSSIBILIDADES NA ERA DIGITAL

June 7, 2017 | Autor: Josias Pereira | Categoria: Documentarios
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O DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO E O DOCUMENTÁRIO. NOVAS POSSIBILIDADES NA ERA DIGITAL

Josias Pereira 1 - [email protected] Thálita Coelli 2 Paula Tortola 3 Fernando Lefevre. 4 Categoria de Apresentação: Comunicação Oral

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Mestre em educação, Documentarista, roteirista, professor e Pesquisador da FACNOPAR Aluna de Comunicação da FACNOPAR 3 Aluna de comunicação da FACNOPAR 4 Doutor e Pesquisador da USP - Um dos criadores do Discurso do Sujeito Coletivo 2

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Resumo: Neste trabalho iremos debater como o documentário contemporâneo vem sobrevivendo à nova estética do século XXI. O valor do documentário está resumido a matéria jornalística? E a linguagem evoluiu ? Como o Discurso do Sujeito coletivo pode contribuir na realização do documentário contemporâneo.

Palavras-chave: Documentário, Discurso do Sujeito Coletivo, subjetividade “Todas as pessoas que entram em contato com a realidade social constroem representações desta realidade em suas cabeças. Cada um de nos forma juízos de valor a respeito do mundo, seus personagens, acontecimentos e fenômenos e acredita que esses juízos correspondem a “verdade”,ou seja: a verdade de cada um é a idéia do real que cada pessoa crê ser a mais fiel ao que efetivamente existe.” Muito Além do Jardim Botânico Carlos Eduardo Lins da Silva (1985)

A sociedade está passando por transformações estruturais, novas formas de organização social estão surgindo, mudando as estruturas de poder. O documentário, que sempre foi um gênero que apresenta para a sociedade um questionamento, esta passando por mudanças, com a chegada de novos diretores, que tem em seu acervo cultural, apenas a linguagem televisiva. Como então este gênero esta se adaptando? Como está sobrevivendo no mundo digital? Como os novos diretores que não tem na linguagem cinematográfica sua marca registrada estão produzindo? A introdução das NTIC´s na sociedade vem acelerando mudanças no âmbito político, cultural e social. Uma delas vem de encontro à política internacional da globalização, o surgimento da banda larga e da possibilidade de assistir vídeos à distância, proporcionado por sites como o you tube foi uma revolução silenciosa iniciada em 2005 pelos amigos Chad Hurley e Steve Chen. A mudança realizada contribuiu para que o espectador saia da área da passividade, esperar um titulo ser escolhido para entrar na grade de uma emissora. O espectador só poderia assistir o que a emissora desejasse, devido a contratos ou política interna. Assim, ficávamos a “mercê” das emissoras. Com as mudanças na tecnologia e com a contribuição de sites de exibição de vídeos e troca de filmes via Internet, muitos filmes começaram a ser vistos, muitos curtas, a maioria amadores, começaram a se espalhar pela rede mundial de computadores. Outro fator importante para o crescimento dos sites de exibição foi o desenvolvimento em 1994 da tecnologia de vídeos digitais. Empresas como Sony e Panasonic criaram câmeras de qualidade com preços diferenciados do broadcasting 5 ,

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Transmissão de sinal (áudio ou vídeo) dentro dos padrões nacionais para recepção de qualidade pelo espectador.

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são as “câmeras consumer” 6 . Com a junção de câmeras de qualidade, equipamentos de edição a baixo preço e Internet com banda larga e o surgimento do streaming 7 de vídeo, da inicio a revolução dos documentários do século XXI O documentário é um gênero que para muitos é sinônimo de “chatice” em função dos documentários etnográficos exibidos pelas emissoras de Tv na década de 70 e 80, neste tipo de documentário o pesquisador através de um off 8 , voz de DEUS, explicava o que estava acontecendo com um “ar de sabedoria”. Narrando, explicando o filme inteiro. Na década de 50 documentaristas americanos mudaram esta técnica reformulando o documentário. E os atuais diretores contam com equipamentos de baixo custo e alta tecnologia. São diretores oriundos de escolas de cinema que começam a revolução da linguagem do documentário. Nos site vemos outro tipo de diretores, em grande parte adolescentes que não conhecem a estrutura narrativa cinematográfica ou teatral e tem na Tv sua única escola audiovisual. Alguns destes novos “realizadores de vídeo digital” (Silva, J.P. 2007) nem tem conhecimento da linguagem audiovisual e realizam seus vídeos de modo “intuitivo”. Estes diretores, em boa parte, apresentam apenas na TV sua socialização para linguagem do documentário e no telejornal e nas reportagens especiais o modelo de como “fazer” uma edição, dirigir e produzir um documentário. Segundo Harvey, (1992), “as ordenações simbólicas do espaço e do tempo fornecem uma estrutura para a experiência mediante a qual aprendemos quem ou o que somos na sociedade”. A crescente inserção da Tecnologia de Informação nas atividades humanas está criando novos paradigmas sobre os relacionamentos humanos, e porque não uma nova socialização, a mídia. Segundo Luckmann (2000) a socialização primaria é realizada com afeto, emoção, diferentemente da socialização secundaria. E as NTIC´s conseguem emocionar sem impor, pois deixa a pessoa livre para escolher, mudar, alterar. Contribuindo assim para socialização do espectador. Para Baudrillard, ao invés do econômico ser o determinante da vida social, a cultura passa a ser o elemento principal das relações sociais, atuando, inclusive, sobre o significado dos aspectos econômicos, e, por conseguinte, no seu poder de influenciar a dinâmica das sociedades. (BAUDRILLARD, 1995). O Cinema O cinema surge como uma evolução tecnológica. Os irmãos Lumiere em 1895 realizam o primeiro registro de imagem em movimento, com a captação de imagens de trabalhadores saindo da fabrica da família Lumiere na cidade Francesa de Lyon. Os irmãos deixaram a câmera parada focalizando os trabalhadores andando, saindo da 6

Equipamento feito para o consumidor, mais simples de operar e de qualidade mediana.

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É uma tecnologia que permite o envio de informação multimídia por meio de pacotes. Assim não há necessidade de baixar o arquivo, áudio ou vídeo para o seu computador, você pode assistir ou ouvir enquanto o computador ainda esta lendo os dados graças ao buffer (é uma pequena área de memória que armazena os dados) 8 técnica utilizada no cinema e no telejornal, quando um narrador, fora do ambiente apresentado descreve ou apresenta ao espectador a cena, sem estar nela.

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fabrica. Os irmãos lumiere no fascínio de sua experiência retrataram vários aspectos que hoje podemos chamar de documentos audiovisuais. Já o ilusionista Méliès viu no cinema uma maneira de dar continuidade a sua profissão. E fez da nascente tecnologia um suporte para apresentar suas modificações da realidade, de modificar, criar ilusão. Isso fica claro em filmes como “Le Voyage dans la lune ("Viagem à Lua") de 1902. A nova tecnologia, o cinema, passa a ser usado de modo comercial para produção de curtas, mas ainda em espaços de tempo curto. Ate que Griffith começa a criar um novo tempo, o tempo fílmico, uma nova linguagem surge com a desarticulando do real. E o cinema sai da mera função de registro e passa a ser arte. Com o longa metragem de 1915 “ O surgimento de uma Nação” Griffith da inicio ao cinema clássico americano com a estrutura narrativa, enquanto isso comercialmente o documentário é deixado de lado. A ficção encanta mais que a realidade.

O Documentário O Documentário é um gênero cinematográfico que se caracteriza pelo compromisso com a exploração da realidade. Não representa a realidade como ela é, mas do ponto de vista de um diretor. O documentário, assim como o cinema de ficção, é uma representação parcial e subjectiva da realidade, documentário não é a realidade, apenas retrata um assunto real é uma realidade “midiada”. O primeiro filme a ser considerado um marco histórico do gênero é “ O esquimó” de (1922) de Robert Flaherty. O que destacou o filme dos demais de viagens feitos na época é o fato de ele incorporar às imagens naturais estratégias próprias da narrativa ficcional. A criação do termo documentário é creditada ao escocês John Grierson pioneiro no estudo do documentarismo e criador da escola britânica de documentários, conhecida como a primeira no mundo a se dedicar ao estudo do assunto. Grierson não acredita na abordagem “exótica”, etnográfica e propõe a aproximação com o mundo que está à sua volta, em meio aos problemas econômicos e sociais como desemprego, pobreza, exploração da mão-de-obra e outros. Podemos dizer que : Escola Flahertyana – Uso do documentário como antropologia visual, etnográfico ligado à pesquisa, analise e registro dos fatos Escola Griersoniana – uso do documentário como denuncia social, contribuindo para um mundo melhor Grierson acredita que o documentário tem um potencial educacional sobre as “massas”, podendo ser utilizado para superar problemas econômicos, sociais ou políticos através da conscientização das pessoas a respeito de suas responsabilidades como cidadãos. Ele foi responsável pelo reconhecimento da produção fílmica enquanto produção autoral específica na Inglaterra dos anos de 1930. Na Rússia, na década de 20, foram realizadas pesquisas sobre o cinema, destacamos Dizga Vertov que cria o chamado “cimena direto”, ou cinema verdade que se empenha em captar, sem fins didáticos a realidade, e procura reproduzir o que o diretor julga ser realidade. De suas pesquisas resulta o filme “O homem e a câmera” uma obra prima sobre montagem e enquadramento.

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A Narrativa no Documentário No documentário a construção narrativa aponta para o ponto de vista do diretor. A estética e a linguagem audiovisual são deixadas em segundo plano e o discurso é valorizado em detrimento do “belo”. Muitas criticas realizadas ao modelo Griersoniana de se fazer documentário é a subjetividade do diretor em cena. A imagem não retrata apenas a beleza estética ou o plano perfeito, mas estão a serviço de uma narrativa, onde o importante é o entendimento do tema, a compreensão do que o diretor deseja apresentar, a visão do diretor sobre o que é a verdade, por isso que chamamos de uma verdade “midiada” . Muitas vezes há a inversão da estética para que o espectador veja e sinta um ponto de vista que geralmente a grande imprensa não apresenta. Imagens fortes e pontos de vistas diferentes. Em 1929, com o surgimento do som no cinema, o documentário ganha mais força com outro elemento de narrativa. O som passa a ser incorporado e usado pelos diretores. Porém, outro problema é apresentado, como fazer o corte do áudio? Onde cortar? Qual metodologia usar? Analise do discurso ou analise do conteúdo? Ao se entrevistar uma pessoa para uma reportagem ou documentário, o material colhido é sempre maior que o tempo para exibição ou para o recorte especifico que o profissional de mídia quer dar a matéria ou ao documentário. Assim, parte do discurso é eliminado, e a escolha é do profissional de mídia ou diretor. Ou seja, o que é apresentado ao grande publico, é sempre uma visão do material colhido, material este muitas vezes aquém de uma pesquisa profunda. Assim uma das criticas que fazemos ao gênero é sobre as entrevistas apresentadas. O diretor escolhe a pessoas que ele acha importante, 1º subjetividade. Depois o diretor vai ouvir a entrevista, cortando o áudio no ponto que ele deseja, deixando de fora às vezes ate o ponto de vista real do entrevistado, 2º subjetividade. Sem contar o numero de pessoas que são entrevistadas e não utilizadas, por motivos de não se adequar no que o diretor deseja passar. 3 subjetividade. Ou seja, documentário é a subjetividade do diretor, longe de ser a “verdade derradeira”. E o telejornal que é a base de aprendizagem de vários documentaristas não fica longe desta “realidade”. Como exemplo cito uma suposta matéria jornalística sobre o governo Brasileiro, a repórter entrevista 15 pessoas e só ira colocar na matéria 3 pessoas respondendo o seu questionamento sobre o governo. Se neste suposto exemplo 10 pessoas falem bem do governo e 5 não falem tão bem. Na hora de editar, a repórter pode colocar apenas 3 pessoas falando. Pela diretriz do Jornal e da reportagem ela escolhe os entrevistados e as falas e a matéria exibida fica assim. Duas pessoas não falando bem do governo e uma falando bem. Neste pequeno exemplo podemos ver que ouve manipulação de dados, ou pelo menos não foi registrado a totalidade da pesquisa que ele realizou, ou seja, quem assiste vê o jornal como um ponto de vista da verdade, mas não tem idéia do que não foi ao ar. Sabemos que o ser humano é um ser ideológico e político, a imparcialidade defendida pela imprensa não passa de delírio ou desejo. O espectador deve ter em mente que não há um viés na realidade do dia a dia dentro de uma emissora de TV, na finalização de uma matéria ou artigo, muito menos na edição de um documentário. Todo o processo é mediado por alguém ou por interesses. Profissionais da mídia vivem o

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trauma do “índice de audiência” e os anunciantes se tornaram uma busca inconsciente e um carrasco desejado. Para Chauí (2004) “ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações de idéias e valores e de normas ou regras de conduta, que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem sentir e como devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer.” Linguagem O publico de modo geral está acostumado com a linguagem televisiva e com os códigos que a TV criou neste 50 anos de Brasil. Geralmente uma linguagem de fácil assimilação e entendimento, sem muitos detalhes e linguajar mais assimilável. Sem muitas “parafernálias” artísticas e tecnológicas. Segundo Silva, J.P. (2007) “A Tv funciona como restaurante fast food, da a sensação de estar bem alimentado, mas na verdade é uma alimentação com muitos carboidratos e carente de vitaminas, proteínas e sais minerais. Já o cinema é como um restaurante, que você escolhe o prato, dependendo do restaurante ele é feito, só para você. E quando chega a alimentação você aprecia cada parte, não para encher a “barriga”, se alimentar biologicamente, mas desfruta a comida com prazer, e não apenas para continuar Vivo.” Na TV, em diversos momentos é notório a imparcialidade do repórter, ou do apresentador, seu nervosismo e inexperiência. Há casos que o repórter precisa fazer três matérias por dia. Para Umberto Eco, a linguagem televisiva é uma combinação de três códigos: o icônico, o lingüístico e o sonoro. 9 O primeiro é a parte estética, referenciado a imagem. O segundo refere-se à língua, o discurso utilizado e o terceiro é o código sonoro relativo à música, e aos efeitos sonoros. Em nossa digressão o importante será o código lingüístico e como a narrativa pode ser realizada dentro deste código, e como a construção de um documentário se da via discurso e como o discurso do sujeito coletivo pode ser utilizado. A professora Consuelo Lins da UFRJ fala do documentário e a utilização do off 10, também conhecido como a “voz de Deus 11 ’; segundo a pesquisadora: “Os pioneiros do cinema direto americano iniciaram no final dos anos 50, umas das grandes mudanças no modo de filmar e montar documentários partindo de uma crítica radical ao que eles consideravam uma estética marcada pela herança do rádio. Filmes que eram absolutamente compreensíveis sem a imagem e que eram ininteligíveis sem a locução. Eles apostaram nas possibilidades narrativas da imagem optando pelo sincronismo entre imagem e som de planos seqüências que capturavam personagens em movimento, acontecimentos em processo.”

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Eco apud Rezende, p. 38. Off também chamado Voz Over é quando aparece uma cena e ouve a narração do fato. 11 Artigo apresentado no compôs 2007 “O ensaio no documentário e a questão da narração em off” Consuelo Lins. 10

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O grande uso do off em alguns documentários pode ser explicado também pelo viés da pratica, já que muitos profissionais de mídia perceberam que a população de um modo geral, os mais carentes gostavam da linguagem da TV, assim era uma maneira, inconsciente, de fazer o documentário ser entendido. Outro motivo levantado é que alguns documentaristas foram trabalhar na Tv e outros surgiram da TV, como exemplo citamos Eduardo Coutinho 12. Assim, estes estilos misturados, Criaram uma confusão nos dias de hoje, o que é documentário e o que é jornalismo? Qual a diferença principal entre estas duas formas de expressão? Até profissionais se confundem na hora de delimitar os espaços de cada um. A voz de Deus, o off, aos poucos vai dando lugar à narração, personagens que narram o fato em vez do off, este tipo de linguagem imperou ate o inicio da década de 1990, quando a linguagem do documentário se aproximou do telejornalismo. Na década de 90 vimos surgir uma nova geração, diretores criados em faculdades de cinema com uma linguagem próxima da ficção, onde a narrativa do documentário é realizada em cima de atores sociais. Personagens são apresentados e seguidos, produzindo no espectador um modo de assimilação com a ficção. Era uma maneira de se usar os atores sociais, usar de seus discurso para mostrar o que o diretor optou por ser denuncia ou querer mostrar. Ainda ligado à tradição Griersoniana de se fazer documentário. A diferença básica entre o estilo de narração eo o narrativo ligado a ficção é que neste são escolhidos personagens que será apresentados e seguidos, naquele são depoimentos de varias pessoas refazendo a idéia do off sobre algum tópico. Com estes novos diretores surge uma edição pautada nos acontecimentos e na narrativa lógica dos diálogos editados. Como Jose Padilha realizou no ônibus 174. Deixar a coletividade e todos os atores sociais, indiferente de sua importância narrar. Documentários como “Pro Dia Nascer Feliz” Direção de João Jardim Duração, “Estamira” direção de Marcos Prado, “Meninas” direção de Sandra Werneck. São exemplos dos novos documentários onde a narrativa é feita pelo discurso do outro, atores sociais. Por ironia a ficção tenta imitar a vida real e o documentário tenta imitar a linguagem da ficção.

O Discurso do Sujeito Coletivo - DSC Possivelmente, um indivíduo qualquer, já tenha sido parado na rua e convidado a responder algum tipo de enquête ou pesquisa sobre determinado tema, como em uma pesquisa de opinião. O entrevistador lhe faz algumas perguntas e lhe apresenta respostas pré-estabelecidas, cabendo ao entrevistado optar por uma destas respostas como sua própria opinião, mesmo que o seu verdadeiro pensamento sobre o assunto não esteja no questionário. O entrevistador pode também fazer algumas perguntas abertas deixando mais liberdade para o entrevistado dar sua própria opinião. O Discurso do Sujeito Coletivo, ou DSC é uma método desenvolvido para ser usado em pesquisas de opinião onde se busca dar toda prioridade ao pensamento do entrevistado, utilizado sempre questões abertas, formuladas da maneira mais neutra possível para não induzir respostas. 12

Coutinho trabalhou no globo repórter

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A grande novidade deste método é que ele consegue conciliar as vantagens da entrevista aberta (liberdade ao entrevistado) com o pensamento das coletividades na medida em que as distintas opiniões coletivas sobre um determinado tema, com seus conteúdos e argumentos, são enunciadas na primeira pessoa do singular, unindo-se num só discurso os depoimentos das pessoas que tenham o mesmo pensamento ou opinião, criando então o Discurso do Sujeito Coletivo. Assim todos os entrevistados tem a oportunidade de ofertar sua opinião, mesmo que esta não esteja em uma categoria pré-definida, sendo dada atenção aos "conteúdos discursivos e argumentativos presentes nos discursos individuais" (Lefevre e Lefevre, 2004 ) e não simplesmente a concordância com idéias já pré-concebidas pelo entrevistador. O DSC descreve o pensamento das coletividades de modo qualiquantitativo de modo qualitativo reunindo, num discurso-síntese, as respostas semelhantes emitidas por entrevistados distintos, formando então, o pensamento coletivo através de uma soma qualitativa, que agrega as diferentes opiniões no intuito de formar o discurso coletivo; mas esta soma que é qualitativa é também quantitativa na medida em que cada DSC que expressa uma dada opinião coletiva é formado por um número determinado de depoimentos de sentido semelhante, emitidos por um determinado número de indivíduos (de 1 a N), que constitui uma fração ou um percentual dos indivíduos que compõe a amostra de indivíduos pesquisados. Assim, por exemplo, se numa pesquisa de opinião é feita uma questão para, digamos, 200 indivíduos pode haver, digamos, 10 opiniões diferentes sobre o tema pesquisado, que darão nascimento a 10 DSCs, cada um deles apresentando uma determinada distribuição ( 20%; 30%;1% etc.) no conjunto da população pesquisada. Todas as opiniões são respeitadas.

O DSC e o documentário Desde a sua gênese o documentário se apresenta como um ponto de vista do diretor. Nos primórdios do documentário, quando o cinema ainda era mudo, a imagem tinha valor central, narrando a historia e apresentando o fato. Porém a imagem apresenta varias interpretações, e nem sempre é a que o diretor desejava. Com o advento do áudio no final da década de 20 o documentário incorpora para sua estética este elemento tecnológico, mas em vez do áudio complementar a imagem, ele tenta assumir e deixar a imagem em 2º plano. Segundo a pesquisadora Consuelo Lins “A narração em off, recurso inventado nos anos 30 pelo movimento liderado pelo documentarista John Grierson e que marcou definitivamente a trajetória de filmes documentais”. Nosso questionamento, e o que desejamos debater é como estas falas são eleitas, escolhidas, e colocadas em uma ordem. O que alguns diretores fazem é deixar um ator social comentar um ponto da historia, e o ator social B ira contrapor a idéia ou reforçar a mesma. A criação narrativa do documentário é feita pela associação destas frases criando um discurso único, como um texto narrativo, uma coesão narrativa e de idéias que postos em seqüência dão unidade à narrativa. Diferentemente da ficção no documentário a principal fonte de informações vem dos depoimentos, aos quais ele dá apoio. Para RONDELLI, (1998, p. 32)

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“a suposta existência de um exercício livre e polifônico das vozes discursivas pode ser contestado pelo argumento de que a simultaneidade de várias vozes, embora independentes, se desenvolve a partir de um mesmo referencial, todas partem de um mesmo conjunto de fatos, previamente eleitos, postos à discussão pública”.

Criando um protocolo - Como fazer um documentário usando o DSC? Em nossa pesquisa na utilização do DSC no documentário temos visto que precisamos, diferentemente do documentário tradicional, diminuir a interferência que o diretor possa dar a realidade, informar o espectador o numero de pessoas que foram entrevistados, colocar todos os pontos de vista, e fazer um resumo das diferentes visões e onde a pesquisa foi realizada. Assim, estaremos dando mais transparência. Pois como exemplo posso entrevista 30 pessoas e só usar 5 no documentário, pois estas estavam dentro do que eu queria mostrar e apresentar, mas e a opinião dos que eu não utilizei? É simplesmente eliminada, pois não esta dentro do ponto de vista que o diretor queria dar ao documentário. Usando o método DSC esta duvida acaba, pois terei que informar o espectador o número de entrevistados que utilizei. Temos em mente que isso no inicio poderia criar um afastamento do espectador, por isso, a apresentação dos dados no final do documentário. Para dar fluência a linguagem audiovisual, os depoimentos devem ser cortados sem plano de apoio ou efeitos 13 , que poderia caracterizar no espectador um pensamento continuo do entrevistado, pelo contrario, o pulo de imagem ou um flash branco ira denunciar que naquele ponto houve a manipulação do diretor. 1º Etapa A idéia principal do uso do DSC no documentário seria utilizar uma Amostra das pessoas entrevistadas, fazer com que o contexto global da pesquisa seja resumido proporcionalmente a poucos entrevistados, pois com o uso do DSC a opinião de todos será utilizada, mas não necessariamente todos terão que aparecer. A idéia central que deve ser a principal. 2º Etapa A edição pode ser realizada com frases de cada entrevistado formando o DSC. Todas as falas seriam uma seqüência lógica, onde uma complementaria a outra formando um só discurso. Varias vozes criando um discurso único . E os outros entrevistados que apresentarem falas diferentes formariam outro discurso, fazendo com que todas as opiniões fossem realmente apresentadas, sem deixar de mostrar nenhuma. 3º Etapa

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Plano de apoio é utilizado quando se deseja reprimir uma parte da fala e juntar com outra. Tecnicamente a imagem iria apresentar o que chamamos de pulo de imagem. E o que se faz em alguns casos é que no momento do corte se coloca um plano de outra coisa, ou detalhe do entrevistado, assim para o expectador o corte fica mascarado.

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E no inicio de cada depoimento do grupo apresentar o número de entrevistados e a porcentagem daquele grupo. Diminuindo assim a idéia de que so apresentaram as pessoas entrevistadas. 4ª Etapa Opcional: Focar a opinião do jornalista ou diretor embasado academicamente, por um pesquisador respeitado da área, fazendo explicações sobre a realidade do assunto apresentado, indo contra ou a favor das opiniões apresentadas. Conclusão Não pregamos a neutralidade no documentário, pelo contrario, apenas desejamos contribuir com uma nova visão que pode ser realizada, ou experimentada na academia e por novos diretores. Acreditamos que a faculdade tem por tradição a pesquisa e a busca de novos caminhos. Desejamos que a população tenha em mente que todo discurso apresentado pelos meios audiovisuais é um discurso construído a partir de fragmentos da realidade, o que não se permite concluir, que é a verdade, mas um trabalho de subjetividade e de verdade de quem produziu a matéria ou o documentário. E que o publico pode, e deve, concordar ou discordar, pois o meio só apresenta um ponto de vista! E o DSC pelo menos minimiza a distancia entre o que foi coletado nas ruas nas entrevistas e o que realmente foi utilizado. Como diria Bretch “Não tomar partido em arte, é ficar do lado do continuísmo” Bibliografia BAUDRILLARD, J. Para uma crítica da economia política do signo. Lisboa: Edições 70; Rio de Janeiro: Elfos, 1995. ALTUSSER, L. Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado in Zizek, S. (org.) – Um Mapa da Ideologia. Rio de janeiro: Contraponto, 1996, pp. 105-142. FISKE, John. Televisão e Cultura. Londres: Ed. Metuen, 1987. MACHADO, Arlindo. A televisão levada a sério. São Paulo: Ed. SENAC/SP, 2000. PENAFRIA,Manuela. O filme documentário:história, identidade, tecnologia. Lisboa:Ed.Cosmos, 1999. BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal . São Paulo: Martins Fontes, 1997. - REZENDE. Guilherme Jorge de. Telejornalismo no Brasil. São Paulo. Summus. 2000. TRAQUINA, Nelson, As notícias. In: TRAQUINA, Nelson (org). Jornalismo: questões, teorias e “estórias”,p. 168, 1993. POSSENTI, Sírio. Enunciação, autoria e estilo. São Paulo: Ed. UNESP, 2001. PENAFRIA, Manuela. O filme documentário: história, identidade, tecnologia. Lisboa: Cosmos, 1999. Consuelo Lins - O ensaio no documentário e a questão da narração em off LEFÉVRE, F.; LEFÉVRE, A. M. Depoimentos e discursos: Uma proposta de análise em pesquisa social. Brasília: Líber, 2005a. LEFÉVRE F; LEFÉVRE AMC. O discurso do sujeito coletivo. Um novo enfoque em pesquisa qualitativa. Desdobramentos. Caxias do Sul: Educs 2005b. BERGER, Peter, LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade. Petrópolis: Vozes, 2005. CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia, São Paulo: Editora Ática, 1997.

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