O discurso do trágico nas capas dos jornais de Frutal-MG: a construção da violência e da morte nas manchetes de primeira página

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS CAMPUS DE FRUTAL

O discurso do trágico nas capas dos jornais de Frutal-MG: a construção da violência e da morte nas manchetes de primeira página

Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Daniel Levoti Portari Orientanda: Regina Papadopoulus Temporin

Frutal / MG AGOSTO / 2015

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Sumário INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 3 1.

O que entendemos por violência? ......................................................................................... 5 1.1 A morte como Valor-Notícia............................................................................................... 8

2.

Histórico do Jornal Pontal ................................................................................................... 12 2.1 Histórico do Jornal de Frutal ............................................................................................. 13

3.

O discurso da violência e da morte nos jornais de Frutal-MG ............................................ 13

4.

Considerações Finais ........................................................................................................... 27

5.

Referências Bibliográficas .................................................................................................. 28

6.

Anexos................................................................................................................................. 30

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INTRODUÇÃO A presente pesquisa faz parte de um projeto de espectro maior denominado “A informação fotográfica nas capas dos jornais de Frutal”, que tem como principal escopo analisar as representações do trágico, desdobrados na forma de violência e morte, nos jornais locais do município de Frutal-MG. Cidade com aproximadamente 60 mil habitantes, o município conta atualmente com seis publicações impressas, sendo duas delas de maior abrangência e circulação e de periodicidade constante: o jornal Pontal e Jornal De Frutal. Ambos são em formato standard e tem a morte e a violência como temas principais de suas primeiras páginas, conforme já pôde ser constatado no período de empiria do presente projeto. Enquanto isso, os demais concorrentes, intitulados 4° Poder, Jornal Diário Regional, Correio da Região e Jornal da Cidade, ocupam-se especificamente de temas vinculados à política. Na construção da narrativa jornalística nas capas das publicações que pretendese estudar no presente projeto, é clara a predileção pelo tema do trágico e, nesse aspecto, pode-se ressaltar que conforme autores como BYSTRINA (1996), ARIÈS (2012), FREUD (2012), MAFFESOLI (1998), PORTARI (2009; 2013), violência e morte são temas que se destacam e têm lugar privilegiado nas discussões da sociedade. No âmbito da mídia, essa materialização do tema se dá principalmente em jornais de maior apelo popular, que têm preocupação centrada no noticiário de bairro ou, quando muito, de alguma região que não extrapole algumas dezenas de quilômetros da sede de suas redações (PORTARI, 2013, p.124). Por serem temas relacionados intimamente com o instinto humano de sobrevivência, MAFFESOLI (2002) ressalta que violência e morte estão nas bases das estruturações sociais, estando marcadamente presentes em guerras e formações de territórios. No âmbito da mídia, BARBOSA (2013) relata que no Brasil, já no século XIX, os primeiros folhetins “de massa” passaram a se ocupar desse tema em suas páginas, como uma espécie de popularizar a circulação do impresso em meio a uma sociedade onde apenas 20% eram considerados letrados. No país observou-se que essa estratégia muito se assemelhava ao que era feito alguns séculos antes na França com os canards ou na Inglaterra como penny press, jornais de baixíssimos custo que se ocupavam principalmente desses temas em suas páginas. Além de crimes e mortes, esses jornais também se ocupavam de eventos “mágicos”, como o aparecimento de cometas ou eclipses solares e lunares, como bem relatam ANGRIMANI (1995), DIAS (1996) e BARBOSA (2013).

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Mais recentemente, no século XX, o extinto Notícias Populares tinha como principal foco de atuação a editoria policial, narrando e ilustrando as mais diversas formas de morte e violência diariamente em suas capas, inserindo o conteúdo no cotidiano dos leitores de forma explícita. Em Frutal, a situação não é diferente. Semanalmente os leitores dos jornais Frutal e Pontal , são bombardeados com imagens da violência e da morte em suas casas, colocados diante de imagens fotográficas de acontecimentos registrados no município que estão ligados à editoria de polícia. Seja um assalto, prisão por drogas ou assassinatos, é fato que a violência e a morte têm presença constante nos media, em especial em jornais locais que se voltam principalmente para o noticiário de bairro ou, no máximo, de abrangência regional. Nas capas dos jornais, o sincretismo entre texto e imagem é responsável por construir uma informação que se assemelhe aquilo que é entendido por “realidade”, ou “fato bruto”, nas palavras de CHARAUDEAU (2006). Partindo desse pressuposto, temos que a mídia, através das imagens, retomam diretamente conceitos que nos remetem ao conceito de “cultura” elaborado pelos semioticistas da cultura tal como BYSTRINA (1996) e Iúri Lótman, que apontam ser o medo da morte uma das bases para a criação da cultura. Ao dar publicidade à violência e à morte os jornais contribuem, ao mesmo tempo, para retomar os mais primitivos conceitos de segurança e sobrevivência e, ainda, reforçar oposições binárias (PROSS, 1989) como dentro x fora, vertical x horizontal e vida x morte. E é a partir destes conceitos que verificamos uma construção de um discurso destes dois jornais de modo a tornar a morte a violência parte integrante do cotidiano de seus leitores, o que pode provocar a banalização destes temas. Pretende-se, neste estudo, analisar quais são os caminhos seguidos pelas publicações ao tratar em suas primeiras páginas assuntos relacionados à violência e morte e quais os caminhos para a construção destas notícias. Violência e morte estão entre as notícias mais publicadas nos jornais na atualidade, chegando a se tornar uma obsessão temática, perdendo assim a função de ser apenas uma pauta, e sim, a pauta mais importante em quesitos comerciais, já que, historicamente, notícias envolvendo esse assunto atraem a atenção natural dos leitores. A constatação, apesar de empírica, também pode ser verificada ao se observar números do Instituto Verificador de Circulação (IVC) disponibilizados pela Internet: os jornais mais vendidos do país são aqueles que se encaixam na categoria de “popular” e que

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trabalham em suas capas, diariamente, notícias de violência ou morte1. E é a partir dessa constatação empírica que se conduz a presente pesquisa, porém, com um enfoque na chamada mídia local ou regional, mais especificamente nos jornais impressos que circulam no município de Frutal – MG. Para além da questão comercial – que não é o enfoque principal da presente pesquisa – é preciso compreender como se dá a construção textual e imagética das notícias relativas a esses temas na mídia impressa do município de Frutal (MG), considerando que a página do jornal impresso é um espaço estruturador de sentidos, onde a publicação assume o papel de dispositivo que interfere na percepção cotidiana dos leitores. Dessa forma, compete a esse meio de divulgação de notícias fazer a mediação necessária para a compreensão da realidade, já que nele se materializam aquilo que é entendido como “realidade exterior” ao leitor, e considerando ainda que o hábito de leitura, bem como a periodicidade dos jornais faz com que seus leitores construam uma narrativa acerca de seu cotidiano a partir do conteúdo publicado, logo o papel do jornalista é de suma importância, de responsabilidade direta na concepção de realidade. (LEAL, 2012) Atualmente, a cidade conta com cerca de cinco periódicos semanais, porém, desses, dois têm predileção por notícias que envolvam a morte: o jornal Pontal e o De Frutal. Com essa mercantilização sugerimos a análise das capas dos jornais que se focam no âmbito da violência urbana – especificamente aquela em que uma pessoa age com a intenção de ferir outra para apontar quais são os possíveis discursos praticados pelas publicações na construção textual e seleção de imagens dos jornais apontados.

1. O que entendemos por violência? O conceito de violência é, de sobremaneira, relativo. Um ato considerado de violência por uma pessoa pode não ser, necessariamente, considerado por outra. Um exemplo típico relatado em PORTARI (2009) são os ataques às Torres Gêmeas nos Estados Unidos, ocorrido em 11 de setembro de 2001. Enquanto o mundo ocidental se consternava com a morte e a queda dos prédios, radicais islâmicos comemoravam o sucesso da empreitada, especialmente pelo fato de três aviões terem sido sequestrados e 1

Dados obtidos em janeiro de 2015 mostram que o jornal Super Notícia é o campeão de tiragem no país, superando a marca dos 300 mil exemplares diários. O jornal popular Meia Hora de Notícias, do Rio de Janeiro, também supera a casa dos 280 mil exemplares diários. Ambos têm em comum a característica de serem populares e noticiarem, diariamente, notícias de violência ou morte em suas capas, compondo a chamada Tríade Temática (PORTARI, 2013).

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centenas de “infiéis” terem sido mortos nos ataques planejados pelo Al Qaeda. Assim, para evitarmos interpretações dúbias, é necessário que se faça o recorte adequado do assunto. De acordo com o dicionário Houaiss, a violência é tida como exercício desproporcional do poder ou força que se sobrepõem ao principio da integridade (física, emocional, moral, religiosa, ética, laboral, familiar, doméstica, empresarial, etc). Esse segundo modelo é considerado como “violência simbólica” (SODRÉ, 2004), uma vez que não há a intenção de provocar ferimentos ou danos físicos em outrem. Paul Ricoeur (1994) considera violência como “dado da realidade”: “A violência não pode ser entendida como um dado da realidade, mas como um ângulo, uma percepção possível de um conjunto de fenômenos sociais, políticos e culturais, que costumam se chamar de violência”. (RICOEUR, 1994, p.123) Entende-se, assim, que o conceito de violência surge a partir da percepção que se tem entre violência e não-violência e, nesse sentido, o jornalismo atua de forma importante a reforçar essa construção por meio de dosagens repetitivas de notícias que falam sobre crimes, mortes, entre outras formas de violência. Cria-se, dessa forma, uma espécie de memória do medo, da violência, que passa a fazer parte do cotidiano dos leitores. “A memória do medo constitui o segundo elo principal na reportagem policial. Já que não somos capazes de reter na memória dados sensoriais, o conhecimento dessa realidade deriva da confrontação diária de nossa memória com experiências presentes” (FRENTRESS; WICKHAM,1992, p.21) Quando um novo crime acontece, atualizamos nossa memória e o ligamos com os crimes ocorridos anteriormente, criando assim a noção do imaginário urbano. Como a estigmatizarão da favela como lugar de perigo social está amplamente difundida no imaginário. “O medo molda o cotidiano das grandes cidades desde seus contornos arquitetônicos até o comportamento de seus habitantes.” MATEUS, 2011, p.25). Dessa forma, Calvino (1990, apud MATEUS, 2011, p.16) acrescenta que “as cidades são, antes de tudo, as histórias contadas sobre elas, existindo como narrativas que circulam.” O vidro dos veículos escuros, as grades que circundam as casas, os alarmes colocados nas portas, tudo isso não está ali por hábitos que transmitidos pela evolução, mas sim porque as cidades contam uma história, a configuração de violência a marginalização de muitos lugares são criados pelos índices de criminalidade determinado pelo mapa midiático do medo.

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Ao observar as primeiras páginas dos jornais de Frutal e Pontal, percebemos que, via de regra, a violência tem espaço em suas manchetes. Seja através de uma chamada seca ou manchete acompanhada de fotos, as matérias envolvendo o assunto ganham destaque na chamada “embalagem” do jornal. A explicação para este fato pode ser investigada sob dois aspectos: questões mercadológicas ou reconstrução da realidade conforme as linhas ideológicas das publicações. Pretende-se abordar, neste estudo, o segundo viés, deixando, por hora, as questões mercadológicas de lado. Por contrato firmado com os receptores, os jornais devem trazer a reprodução “fiel” dos fatos, ou seja, espera-se que a notícia seja um relato daquilo que aconteceu. O texto seria o que o repórter conseguiu ver e ouvir e, por isso, a notícia traria dados e detalhes de determinado acontecimento em que o leitor não esteve presente para acompanhar de perto, mas, o repórter faz as suas vezes, amparando seu relato com as imagens. Conforme aponta Luís Carlos Lopes (2002): Os “fatos” noticiados são selecionados a partir do conjunto de crenças e desejos que o jornalista representa. Na verdade, não se trata de um trabalho individual; como se sabe, o jornal-empresa moderno trabalha com equipes hierarquizadas que resselecionam e reconstróem(sic) o produto do trabalho jornalístico, decidindo o quê e como deve ser noticiado. Esse trabalho [...] consiste em uma construção social (material e simbólica), em que os emissores terão de considerar os receptores, sob pena de produzirem notícias sem qualquer anuência do público. (LOPES, 2002. p. 117)

Assim, a pesquisa parte da premissa de que os jornais, por meio de sua construção textual, sugerem a leitura que o receptor terá da realidade através das suas primeiras páginas. Nesse aspecto, a presença do texto se faz importante, já que é ele quem é responsável por transmitir a informação e contextualizar os acontecimentos presentes na capa. “A ponte que provoca a aproximação entre morte no jornal e leitor se dá também pelo texto escrito (assim como se dá pelas imagens, cores e diagramação). No texto são recriados mundos possíveis (FARRÉ, 2004) ou também o “mundo do texto” (RICOEUR, 2002), além de ser também ponto de interação entre as publicações e o leitor por meio da enunciação” (PORTARI, 2013, p.88). Além disso, é importante observa que, conforme BAKHTIN (1997, p.114), o texto também é “produto da interação de dois indivíduos socialmente organizados e, mesmo que não haja um interlocutor real, este pode ser substituído pelo representante médio do grupo social ao qual pertence o locutor”.

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A partir daí, levantamos a questão de como esses dois órgãos de imprensa constroem as informações relativas ao assunto atuando diretamente na percepção de mundo de seus receptores. O enfoque dado às notícias e à construção das manchetes em suas primeiras páginas – principalmente quando o assunto é a violência – vão retratando (ou construindo) a realidade de acordo com a vontade de seus repórteres e editores. O direcionamento da narrativa jornalística ocorre na medida em que se enxerga somente aquela “fatia” selecionada pelo repórter e editor do acontecimento. Uma mesma notícia pode chegar de forma diferente através das páginas dos jornais. Ressalte-se que no processo de confecção da primeira página, “A rigor, o gosto e o interesse do leitor determinam, diariamente, a construção da manchete” (DIAS, 1996, p.62). De posicionamento semelhante, inspirada em Eliseo Verón, Flávia Silva Miranda (2009) destaca que o contrato de leitura estabelecido entre o jornalismo popular apresenta características diferentes nas “maneiras de dizer”, que conferem “distinção a elas e faz com que haja identificação por parte dos leitores” (MIRANDA, 2009, p.50). Dessa forma, por meio da pesquisa, pode-se chegar às intencionalidades de cada publicação ao retratar o tema, em suas primeiras páginas, que são consideradas as mais elaboradas de cada edição por também atuarem de forma “publicitária” para chamar atenção de potenciais leitores diante de outras publicações quando expostas em bancas de jornal ou mesmo nas ruas. O assunto merece atenção justamente pela forma como se é construído o mundo através da página do jornal. Pretendemos estudar, identificar e analisar como é feito esse processo de construção da violência nas primeiras páginas. Com os resultados produzidos no estudo, poderemos traçar um perfil de como os dois principais órgãos de mídia impressa da cidade reconstroem as informações em suas narrativas, abrindo ainda a possibilidade da pesquisa ser ampliada no futuro para outras faces da produção de sentido envolvendo a mídia impressa.

1.1 A morte como Valor-Notícia Se partirmos da definição do dicionário e da língua portuguesa, temos que a morte é um substantivo feminino singular caracterizado como fim da vida (ou do ânimus), pena capital, ruina, queda, fim e termino. Dessa forma, o homem convive com a morte desde o princípio de sua existência, estando ela presente especialmente nos chamados “textos culturais”, sejam eles obras de arte, literárias ou mesmo na música. A

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relação homem x morte também tem raízes nas estruturações sociais, estando presente até mesmo numa das histórias mais conhecidas do mundo, a Bíblia Sagrada. Logo na gênese do universo é relatada a primeira morte em decorrência de violência: o brutal assassinato de Abel, cometido por seu irmão, Caim. Ao longo de todo o texto religioso, dezenas de massacres e milhares de vida são extirpadas violentamente, o que nos aponta uma relação muito próxima dos homens com o assunto e, principalmente, as suas raízes culturais. Phillipe Ariès já demonstrava essa relação e destaca que na Idade Média, na Paris do Século XVI, os corpos apodreciam ao centro do Cemitério dos Inocentes para lembrar às pessoas de como o corpo é perecível. (ARIÈS, 2010, p.34) Estando dessa forma a ligada à curiosidade e à vida dos homens, não é de se estranhar que os órgãos midiáticos também se interessem por esse assunto, especialmente pelo fato dela promover o rompimento do cotidiano por meio do “extermínio” de outra vida. Partindo desse pressuposto, podemos observar que autores como Nelson Traquina (2008, 2009), Jorge Pedro Sousa (2010) e até mesmo Galtung e Ruge (1956) já apontavam que “bad News is good News”, ou seja, que as más notícias são boas notícias porque vendem e carregam por si só um “valor-notícia primordial”, como bem assinala Traquina. O autor português vai mais longe e afirma que “onde há morte, há jornalistas” (TRAQUINA, 2010, p.73), ilustrando de forma explícita como esse assunto carrega um valor-notícia tão forte por atender a diversas características observadas por essa teoria, dentre elas: o inesperado, a negatividade, a significância, entre outros valores inicialmente tratados por Galtung e Ruge: Em resposta à pergunta “como é que os acontecimentos se tornam notícia”, Galtung e Ruge enumeram doze valores-notícia: 1) a frequência, ou seja, a duração do acontecimento; 2) a amplitude do evento; 3) a clareza ou falta de ambiguidade; 4) a significância; 5) a consonância, isto é, a facilidade de inserir o “novo” numa “velha” ideia que corresponda ao que se espera que aconteça; 7) a continuidade, isto é, a continuação como notícia do que já ganhou noticiabilidade; 8) a composição, isto é a necessidade de manter um equilíbrio nas notícias com uma diversidade de assuntos abordados; 9) a referência a nações de elite; 10) a referência a pessoas de elite, isto é, o valornotícia da proeminência do ator do acontecimento; 11) a personalização, isto é, a referência às pessoas envolvidas; e 12) a negatividade, ou seja, segundo a máxima “bad news is good news”. (TRAQUINA, 2010, p.69-70)

Traquina prossegue ao afirmar que quanto mais raro um acontecimento, mais chance ele vai ter de se tornar notícia, e ilustra um exemplo dos próprios criadores a teoria ao dizer que “um assassinato leva pouco tempo e o acontecimento tem lugar entre a publicação de dois números sucessivos de um jornal diário, o que significa que

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se pode contar uma notícia significativa de um dia para o outro. Mas escolher um assassinato durante uma batalha onde existe um morto, todos os minutos, fari apouco sentido...”. (TRAQUINA, 2010, p.70) Ainda temos que a morte e a violência também podem ser consideradas um fato social, que reproduz repercussões e chama a atenção da população. “Mesmo que se trate de evento individual, a morte impõem-se como fato Social, a reproduzir repercussões sobre diferentes dimensões da vida humana”. (MOTTA, 2009, p.15) A forma como cada grupo de pessoas lida com a morte é sintomática de seu valor e modo de vida. Num rápido resumo de como a morte foi tratada pela sociedade nos últimos séculos podemos nos remeter também ao século XVIII, quando começou a vigorar um processo de higienização dos espaços públicos. Antigamente a ideia de enterro estava relacionada à salvação, quem era mais importante naquela lógica era enterrado próximo aos altares e quem não era tido como qual, tinha que brigar por lugares próximos a igreja.

A higienização fez com que criassem cemitérios nas

periferias das cidades, onde cada pessoa podia ter uma cerimonia (enterro) digno e correspondente ao o que suas economias lograssem. “Esse movimento de ocultar a morte dos espaços sociais comuns é o primeiro índice de que ela passa a ser vista, na modernidade, como algo obsceno, que deve ser mantido longe dos olhos”. (ANDRADE, 2013, p.11) Essa medida sanitária ajudava a luta contra a infelicidade biológica, que a morte representa na vida de qualquer cidadão, ela para de ser um espetáculo social, além de ser carregada pela rejeição institucional que o moribundo ou inferno tem da impossibilitado de produzir, a obscenidade da morte se encontra a sua oposição com a vida, a imagem que causa ojerizarão, que repele e que não é bem quista por aqueles que vida tem. Na modernidade a morte foi tirada, subtraída do olhar publico, já na pósmodernidade, com a serialização, a banalização, rotina informativa se torna uma rotina midiática. Imbert, atenta que a morte nos dias de hoje, eximiu o caráter simbólico, deixou de ser um sentimento substancial e agregador, se tornando um evento que tem uma visibilidade fragmentada, própria para ser consumida pelos telespectadores. Segundo

Susan

Sontag,

“a

atração

pelo

repugnante

é

manifestada

principalmente, por uma atração do olhar”. Quando se vê um aglomerado de pessoas, logo se tem vontade de ir ver o que aconteceu, não é apenas por curiosidade, o

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repugnante e o horripilante chamam atenção, cativam. “Ser espectador de acontecimentos aterradores é uma experiência moderna fundamental, e um catálogo de fotografias e crimes, guerras, atentados e desastres naturais pode nos mostrar como essas imagens nos perseguem.” (SONTAG, 2008, p.97) A vida moderna é se deparar com o horror todos os momentos, no século XIX os aparatos para fotografia, possibilitava a mobilização dos fotógrafos, onde eles podem cobrir conflitos armados, guerras, acidentes ocorridos. A situação só se torna real aos olhos de outra pessoa, quando é fotografado, narrado ou filmado, pois aquilo cria uma nova noção de realidade daquele ambiente ao indivíduo que tem acesso aquele objeto de relado. Quando encaramos o acontecimento morte como algo tangível, a morte é noticiável, o jornalismo se insere nessa representação cultural que mantem o ritual midiático como forma de informação. A morte é uma pauta desde os primórdios, mas apenas no século 19 ganha o nome de jornalismo industrial, já que “(...) revela-se uma economia estética do sensacionalismo, que potencializa o poder da mediação dos jornais entre o publico, seu ambiente urbano e sua consciência temporal.” MATHEUS, 2011, p.12). O crescimento acelerado das cidades e a industrialização do mundo originaram a “caoticidade” e o sensacionalismo se tornou necessário para aplicar uma consciência sobre a vulnerabilidade do ambiente. Os jornais populares são os que têm predileção por esse tema, pois falam de cotidianos mais similares com a população. A estética sensacionalista nada mais é que uma estética usada para seduzir o leitor, pois não tem necessidade de saber nada para construí-lo , ele não se remete a nada além dele próprio, como dizia BARTHES (1964). A mídia, então, coloca-nos cara a cara com o trágico, com a morte: “Diante da impossibilidade de estar cara a cara com a morte, a mídia nos oferece, ao menos, uma dupla mediação: verbal e visual.” (ANDRADE, 2012, p.16). Os periódicos passam a incorporar e funcionar como uma memória emprestada, o jornal tem o trabalho de trazer o passado para o presente e construir a memória da cidade aqueles que a consomem, criando uma nova noção de realidade. O valor noticia está vinculado fortemente por forças culturais. A morte aparece como acontecimento social, coletivo, como um dado de uma realidade social. Como o periódico o denuncia se faz presente, reporta assuntos e mostra

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a fragilidade do Estado de cuidar da segurança, assume o papel de fiscalizador das ações do executivo, assim atraindo , seduzindo e criando um publico leitor fiel.

2. Histórico do Jornal Pontal O Jornalista Sérgio Carlos Portari, fundou o Jornal Ponta em Frutal, no dia 1 de julho de 1990. Antes de criar o Jornal Pontal, Sérgio trabalhava como editor-chefe do “Jornal Esquema” que era distribuído na região. O Jornal Pontal começou com uma tiragem de 5 mil exemplares, por quatro anos e permaneceu como exclusiva gazeta impressa na cidade, ate o ano de 1995, quando Mônica Alves, fundou o Jornal “de Frutal”, o principal concorrente do Pontal. O jornal inicialmente escolheu uma linha editorial voltada a questões políticas da cidade, eleições para deputado, presidente, governador e conflitos envolvendo esses temas, quais ganhavam o maior destaque no semanário. O município passava por uma necessidade de consolidar uma pessoa para ocupar a vaga de deputado estadual e federal, pois não havia a 100 anos representantes da cidade em Belo Horizonto nem em Brasilia. A primeira gazeta frutalense a fazer capa do jornal a cores foi o Jornal Pontal no ano de 1996. Estrategicamente abriu escritórios na região no Baixo Vale do Rio Grande, onde o Pontal já tinha circulação, os leitores podiam assim, usufruir de noticias de Campina Verde, Itapagipe, São Francisco de Sales, Prata e Iturama. O semanário pode ser dividido em três fases, a primeira vai de 1990 até o ano de 2000. Qual o jornal tinha predileção por temas que envolvessem política. A morte só era retratada quando era sobre pessoas “notáveis” da cidade, a violência urbana sempre ficava em segundo plano. De abril de 2000 a janeiro de 2007 o jornal chega a sua segunda fase da história, quando o jornal começa a ser editado e administrado pelos descendentes do Sérgio Portari. A linha editorial sofre mudanças nesse ano e a violência e morte começam cada vez mais a obter espaço e ganhar aceitação popular e essa mudança se deu a prior pela queda das vendas dos anúncios publicitários e venda em bancas. O jornal impresso era o único meio onde as pessoas podiam ter acesso as imagens de fatos policiais e problemas ocorridos na cidade pois não existia transmissão de TV local. Em fevereiro de 2007 a administração do jornal foi concedida a Organização Franco Brito de Comunicação, essa empresa aumentando a participação no mercado,

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comprou os direitos do jornal Pontal.

O jornal passou por uma mudança na

diagramação e ganhou mais páginas coloridas ,mas mantem seu padrão editorial da sua última fase, reforçando o principal foco no valor noticia que envolva morte. Essa linha editorial, caracteriza o Jornal Pontal como jornal de publicações “populares” por predileção por morte e violência.

2.1 Histórico do Jornal de Frutal O jornal de Frutal foi fundado no dia 06 de outubro de 1995, pela jornalista Mônica de Souza Alves, que havia concluído o curso de comunicação social há 5 anos e anteriormente trabalhava no jornal diário da cidade de Uberaba. A proposta inicial do jornal era levar informações locais aos leitores. A aceitação se mostrou muito positiva, pois o jornal era distribuído gratuitamente, o que tornava possível maior acesso a informações de pessoas com menor poder aquisitivo e se sustentava por ter bons contratos com empresas e executivo local. A tiragem inicial era em torno de 15 mil exemplares apenas com distribuição gratuita. O jornal circulava em Frutal e cidades adjuntas, como: Planura, Fronteira, Itapagipe e Pirajuba. O formato inicial era um tabloide preto e branco, mas após quatro anos tornou-se um standard e posteriormente, colorido. O jornal sofreu dificuldades desde sua fundação, a principal delas era financeira, pois não tinha facilidade de encontrar anunciantes, o comércio local era restrito e a concorrência grande. Apesar do jornal não seguia uma linha editorial rigorosa, no começo era mais focados em questões políticas, posteriormente, passou a dar enfoque às noticias policiais, pelo fato delas serem as mais lidas e mais procuradas pelos leitores. O jornal de Frutal passou por quatro reformulações gráficas e a proposta é que ainda este ano, um novo visual seja criado. Na visão de sua fundadora, a relevância do jornal de Frutal na região, ocorreu devido a democratização ao acesso de informação, pela abrangência de pautas e pela sua distribuição gratuita que ocorreu por mais de 8 anos.

3. O discurso da violência e da morte nos jornais de Frutal-MG A análise proposta será baseada no Jornal Pontal e no Jornal de Frutal, considerados os jornais de maior circulação no município de Frutal. Para fins de análise, realizamos um estudo comparado entre as capas das publicações nos meses de Março,

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Abril e Maio de 2015, com edições veiculadas nas mesmas datas. A partir da seleção do período e da metodologia já especificada, passamos para uma análise de conteúdo das publicações, aliada a uma demonstração quantitativa apenas para fins de verificação das análises empreendidas. Foram observadas a produção de sentido nas primeiras páginas, partindo do estudo das manchetes e imagens verificada, com a preocupação de desencadear um sentimento comum aos leitores e a linha editorial que os jornais tentam estabelecer, sobre os temas violência e morte. A noticia é o que move o jornal, ela é tida como um conjunto de informações que se relacionam em um espaço, qual tem por necessidade a novidade, que sai de uma determinada fonte ou acontecimento, que na mente do leitor tem por função se enquadrar em um tema, o que ajuda o leitor a conceber a visão de mundo.

(...) para que o acontecimento exista é necessário nomeá-lo.O acontecimento não significa em si.O acontecimento só significa enquanto acontecimento em um discurso. O acontecimento significa do nasce num processo evenemencial que, como vimos, se constrói ao termino de uma mimese tripla.É daí que nasce o que convencionou chamar de “a noticia”. (CHARAUDEAU, 2006, p.132)

O relato de forma simples de crimes violentos e sensações no impresso se deu, principalmente, para cativar novos públicos, cada vez maiores e que eram excluídos dos jornais de referência por não compreenderem a linguagem usada, o tipo de abordagem exposta e pela curiosidade por noticia no âmbito regional. “A empatia pretendida se perderia no vocabulário de acesso difícil e em forma de expressão que não corresponderiam ao „status semiótico‟ do público-alvo”. (ANGRIMANI, 1995, p.109)

(...) a linguagem sensacionalista não admite distanciamento,nem a proteção da neutralidade.É uma linguagem que obriga o leitor a se envolver emocionalmente com o texto, uma linguagem editorial “clichê”. (Idem, ibid., p.16)

Como o jornal narra acontecimentos impressos com a vida cotidiana, o leitor começa a desenvolver uma identificação com as narrativas do jornal gerando um sentimento de pertencimento da noticia. Esses jornais ganharam o nome de jornais Sensacionalistas, e tiveram como referência no Brasil o extinto Notícias Populares, que circulou até o ano de 2001.

15 As pessoas lêem jornais não apenas para se informar, mas também pelo senso de pertencimento, pela necessidade de se sentirem participes da história cotidiana e poderem falar das mesmas coisas que „todo mundo fala‟. O ato de ler um jornal e de assistir a um programa também está associado a um ritual que reafirma cotidianamente a ligação das pessoas com o mundo. (AMARAL, 2006, p.59)

O fait divers2 é o gênero jornalístico que faz mais sucesso ao gosto popular, é indissociável da impressa de sensações, no caso, do jornalismo sensacionalista. É uma informação quente bem localizada, com alto teor de carga de interesse humano, uma noticia que causa impressões.

Pequenos escândalos, acidentes de carro, crimes terríveis, suicídios de amor, operários caindo do quinta andar, roubo a mão armada, chuva torrenciais, tempestades de gafanhotos, naufrágios, incêndios, inundações, aventuras divertidas, acontecimentos misteriosos, execuções, casos hidrofobia, antropofagia, sonambulismo, letargia. Ampla gama de atos de salvamento e fenômenos da natureza, como bezerro de duas cabeças, sapos de quatro mil anos, gêmeos xifópagos, crianças de três olhos, anões extraordinários. AUTREMENT,Abril 1988, apud,AGRIMANI,1995, p.25,Espreme que saia sangue

As matérias quentes e curiosas desencadeiam interesse humano por conta de sua pauta, como o jornal popular precisa vender , o fait drivers são usados geralmente em manchetes com a intenção de atrair o leitor e maior publico para comprar aquele conteúdo, desencadeando curiosidade para gerar o consumo do mesmo em proporções maiores. A manchete no jornalismo popular tem um papel muito importante, é onde encontramos com mais frequência palavras que chamam a atenção para as notícias mais quentes do dia. O jornal popular tem característica a utilização de linguagem acessível nas manchetes, com frases diretas, irrigadas de palavras claras e com um grande teor de impacto, diferente do que diz os manuais de redação de grandes jornais como Estado de São Paulo, que tem predileção pela linguagem formal.

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Fait divers é uma expressão francesa que significa fatos diversos, são aquelas noticias que são destacadas por serem curiosas e inusitadas, informação quente e bem localizada. “O sensacionalismo vai buscar no insólito e na extravagância do fait divers o ingrediente preponderante da manchete de capa”. P.26 Angrimani, Danilo

16 Em principio, é na manchete que se encontram as mais frequentes marcas da oralidade, as metáforas populares de efeito, o discurso dúbio da malícia, a sexualização constante dos referentes, a violência exacerbada do discurso, a gíria, as ousadias dos vocábulos obscenos, as frases feitas mais populares. Segundo os jornalistas, as manchetes merecem cuidados especiais porque delas depende o sucesso da venda do jornal, sendo necessário, portanto, motivar o leitor a facilitar o entendimento. A rigor, o gosto e o interesse do leitor determinará, diariamente a construção da manchete.” (DIAS, 1996, p. 62)

Foram colocadas em análise quantitativa vinte duas capas de jornais, onze do Jornal Ponta e onze do Jornal de Frutal, para mostrar visualmente e esquematicamente de forma mais clara os temas tidos como manchete principal nas capas dos semanários e as manchetes de forma geral na capa do mesmo. A metodologia utilizada realizou-se primeiramente analisando apenas as manchetes principais, primeiro do Jornal Pontal e depois do Jornal de Frutal. Para o sistema de analise ficar mais claro agrupamos, “latrocínio”, ”tirar a vida”, “acidente fatal”, “morre” todos os tipos de morte em apenas uma categoria, no caso, morte. Sempre levando em conta a ação ou instituição, diante disso, foi notado que muitos fatos que envolviam prefeitura, câmara, sargento, eram relatados por envolver esses ícones, mais do que pelo fato relatado que por muitas vezes eram fatos dispersos e únicos que não serviriam de nada analisados separadamente. Parti do pressuposto que agrupar em temas geraria uma pesquisa com dados mais coerentes e com temáticas relevantes para analise.

Manchete Principal Jornal Pontal 9% Morte Acidente

27% 55% 9%

Prisão Roubo

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Obteve-se no Jornal Pontal, a participação percentual do tema Morte na manchete principal com 55%, Prisão 27%, acidente 9%, roubo 9%. O Jornal de Frutal mostrou-se com distribuição de temas maiores, com a morte ocupando 46% do total de manchetes principais , Policia Militar 9%, Acidente 9%, Policia Federal 9%, Prisão 9%, Presidente 9% e Assalto 9%. Conforme se observa a morte se mostra mais presente que qualquer outro tema nos jornais analisados, comprovando nesse período de três meses, que foi a pauta tida como mais importante nesse município. O segundo aspecto analisado foram as manchetes das capas dos jornais com fotos ou ilustrações, excluindo da analise as manchetes, sem foto e chamadas com chapéus já definidos. O agrupamento foi feito por tema, e os recorrentes a prefeitura, policia militar, câmara, deputado, presidente, policia federal, foram agrupados por sujeito, sendo que a maioria das manchetes os envolveram pelo seu papel na sociedade e todos ocasionavam casos muito dispersos o que nada ajudaria na analise quantitativa, assim privilegiei o sujeito e o institucionalizando em uma organização, os vereadores, e coisas decididas na câmara , todas se agruparam no gênero câmara, sargento, PM, todos se agruparam em Polícia Militar, prefeitura, prefeito, todos se agruparam em prefeitura, tendo temas que ficaram dispersos e solitários pela falta de conseguir agrupa-los pelas informações da capa.

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Frequëncia Percentual

Manchetes Jornal Pontal 25 20 15 10 5 0

Manchete

Os resultados obtidos no Jornal Pontal, na segunda análise, a Morte apareceu com 24%, Acidente com 3%, Prisão com 15%, Roubo com 3%, Segurança Publica 9%, Obra 6%, Rodovia 3%, Câmara 18%, Mega 6%, Maioridade Penal 3%, Operação Tapa Buraco 3%, UEMG 3%, Verba 3% e Hidroex 3%. A morte sempre é protagonista da capa dos semanários, mas se mostrou muito forte na presença das figuras publicas, pois se tratando de um jornal local, a população tem interesse em saber o que se desenvolve tanto na parte da policia, quando os órgão de representação. O Jornal de Frutal teve como resultados na amostragem, os seguintes dados: a Morte com 16%, Polícia Militar com 13%, Prefeitura com 13%, Trânsito com 2%, Prisão com 11%, Álcool com 2%, Câmara com 8%, Rodovia com 3%, Assalto com 5%,

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Acidente com 3%, Área Dilacerada com 2%,PF com 2%, CTBC com 3%,Sequestro com 2%, Frei Gabriel com 2%, Seguro Desemprego com 2%, Meningite com 2%, Festa da roça com 2%, Presidente com 3%, UEMG com 3%,Aposentadoria com 2%, Ministro com 2% e Plantio De Palmeira com 2%. O Jornal de Frutal como o Pontal apresenta o tema morte com a maior porcentagem de manchetes na capa, é notável que o Jornal de Frutal tenha predileção por uma gama maior de temas, mas ambos seguem o mesmo padrão relacionado a preferência por usar temas que envolvam morte na capa. A morte está na parte mais alta da experiência humana, ela tem um mistério um desejo de saber uma repugnância e um horror que atraia e ao mesmo tempo desvia. Todos sabem que não é mera curiosidade que faz o trânsito de uma estrada ficar mais lento na passagem pelo local onde houve um acidente horrível.Para muitos, é também o desejo de ver algo horripilante (SERELLE, 2011;SONTAG, 2008; apud ANDRADE, 2012, p.18)

A contextualização da morte começa a ser quase que uma obsessão temática. Antes a morte era escondida e vivida apenas pela família, agora ganhou um processo de ultra visualização ocupando as maiores manchetes, sendo ilustrada e tida como experiência moderna fundamental. (...) A morte se personifica não mais como um ritual social ou familiar,mas comum feito mediado como representação: narrativa cruas e viscerais e relatos dramatizados que, muitas vezes, resultam de uma visão banalizada da morte e de uma apresentação dessimbolizada. (IMBERT, 2008, apud ANDRADE, 2012, p.15)

A partir do século XX boa parte dos conflitos mundiais foram retratados por turistas e não repórteres. Para aqueles que vivem longe do horror ele é construído e retratado sempre nas capas dos jornais e transformado como noticia, o jornal consome morte como ritual midiático, e esse fascínio é mostrado com a sua permanência de valor notícia fundamental. A morte aparece não como nova, mas „de novo‟. Aquela morte ocasionada por um crime, por um acidente, ou “por uma longa vida”, soma-se às muitas outras, “idênticas”, que todos os dias vêm e vão como acontecimentos jornalísticos e são ritualizadas. (TAVARES, 2010, p.76)

A ritualização da causa morte faz com que ela se torne normal, desencadeia curiosidade, mistério, mas não choca mais, ela releva uma natureza ambígua e tediosa, previsível, mas intensa, imprevisível, e se apresenta como banalidade.

20 A morte que nos „assusta‟ e que merece ser relatada diariamente possui, como acontecimento, um caráter de surpresa. Sua presença rotineira, entretanto, quando captada pela imprensa, dá à dimensão de sua vivência um outro caráter. A morte cotidiana que abunda as páginas do jornal é, ela mesma, uma morte comum, que assim se torna, pela maneira como o jornal a faz, repetitivamente, ordinária. (TAVARES, 2010, p.75).

Um dos artifícios usados no jornal é a técnica de “neutralização” (BYSTRINA,1995), que traz uma noticia tida como negativa mais logo em seguida outra notícia de entretenimento como: cultura, futebol, novela entre outros, e claro, a publicidade, assim essa linha editorial tira a carga negativa e faz com que o leitor não fique mal com acontecimentos que retratam violência diariamente e consiga sempre comprar o jornal por conta de ter se acostumado com aquele respiro, provoca uma reação adversa no leitor, isso explica a capa dos jornais que aliam violência com festa da cidade, como vemos nas gazetas de Frutal. Ao passar os olhos sobre a capa e os cadernos de qualquer diário, perguntamos-nos se o encadeamento de suas diversas editorias e sessões, com seus diferentes tratamentossem nos esquecer das inserções publicitárias que vem justapostas-, se essa mescla já não seria uma tentativa midiática de apaziguar os conflitos aos olhos do leitor.” (VAZ, 2010, p.25)

Nota-se nas seguintes capas extraídas, a primeira do jornal Pontal de 07 de maio de 2015, a segunda do Jornal de Frutal, 13 de março de 2015 o uso da neutralização.

21 Figura 1 - Jornal Pontal, 7 de março de 2015.

Figura 2 - Jornal de Frutal, 13 de março,2015.

Analisando as capas, percebe-se o emaranhado de temas que são colocados nelas, onde justaposto a uma foto perfil de seis suspeitos está a foto de dois jovens que aparentam ser de classe média, pelas escolhas das imagens para compor a matéria, ao lado da foto de um Audi todo destruído, no caso, o carro do acidente, abaixo está uma manchete falando da presidenta Dilma, perto da foto do atual prefeito da cidade, com um casal abraçado na esquerda e a direita uma manchete, “R$320 mil para Frutal” ao lado de várias chamadas, com chapéus de temas diversos cada um com um tom, como se fossem submanchetes sobre: Homicídio, futuro, fiscalização, reciclagem, Frei Gabriel, solução, posse, acidente, social, confraternização e classificados. No que se diz respeito às imagens utilizadas nos jornais, ela são usadas para situar o leitor no ambiente e substitui a imagem mental que pode ser criada pelo leitor, nas capas esconde-se o corpo do morto, tem a obsessão de mostrar acidentes com fotos factuais juntamente com fotos de pessoas vivas sobrepostas a foto do acidente, como podemos notar nessa capa:

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Figura 3 - Jornal Pontal, 12, de março de 2015.

Tendo como principal prerrogativa excluir o corpo morto da realidade, aquela imagem substitui a imagem do ocorrido em sua realidade, e como um ato simbólico não choca tanto, mas direciona o leitor para entender o fato e os personagens que o situam. E existe ainda um outro fenômeno que só recentemente começou a revelar seus imensos efeitos: a silenciosa transformação do corpo em uma imagem do corpo, a qual nega a diferença entre imagem e corpo. O imaginário assim surgido dá início, por um lado, à herança de poderes que foram dominantes na teoria e na prática medieval (teologia) e moderna (medicina). Por outro lado, tal imaginário substitui os corpos em sua realidade, tornando-os virtuais. No entanto, permanece por ora em aberto a quem compete dirimir a questão acerca da ausência e dos mortos. (KAMPER, 2000, p.2)

Pode-se notar no jornal abaixo o uso da neutralização, onde a manchete choca mais do que a própria foto escolhida pela gazeta, que é uma foto de uma pessoal viril.

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Figura 4 - Jornal Pontal, 28, de maio de 2015

No dia 26 de agosto de 2015, a repórter Alison Parker e o cinegrafista Adam Ward, ambos os jornalistas de uma rede de TV americana foram mortos quando estavam fazendo uma matéria ao vivo, por um jornalista que já havia trabalhado na emissora, mas o que mais impressionou e chocou os leitores foi que o atirador postou um vídeo matando ambos no Facebook e Twitter minutos depois do ocorrido, deixando claro que ele não tinha só a intenção de mata-los e sim de filmar e mostrar isso para o mundo, ele foi preso horas depois.

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Figura 5 – Reprodução do Facebook

O vídeo mostra o atirador, que esperou o momento certo para atingir a repórter e o cinegrafista, a repórter tenta fugir, mas não consegue. O vídeo mostra exatamente a hora em que o corpo é atingido pela bala e depois a câmera cai e só mostra a jornalista fugindo, segundo o G1, o atirador conseguiu dar cerca de sete tiros. Esse acontecimento chocou o mundo, as pessoas se manifestaram em peso nas redes sociais sobre o ocorrido, todos perplexos com o fato do atirador ter tido coragem de além de executar outro ser humano, filmar tal ato.

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Figura 6 - Comentários tirados da página do G1, no dia 26|08|2015.

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Pode-se notar que a morte exposta, o corpo sendo morto choca, o vídeo fez referência a isso, mesmo não mostrando ambos mortos no final, pois a premissa de atirar em alguém exatamente no peito é almejar a morte. Pelos comentários (comentários expostos à cima) as pessoas se mostraram incomodadas e revoltadas em observar tal vídeo. ...uma das condições do nosso tempo se encontra justamente ai: Escondermos e considerarmos obscenos os corpos que podem encenar a morte, pois a morte é oposição à vida e sua imagem contundente nos choca e repele. (ANDRADE, 2012, p.14).

O caso causou comoção de grande parte da população, pode-se analisar que foi um acontecimento que mostrou a morte explicita, acontecendo exatamente no ato, onde não teve nenhuma edição ou corte editorial, a imagem da morte estava nua e crua. A presença da imagem vinculada ao texto relata diretamente o município de Frutal, mostrando dados geográficos, indiciando pessoas, no caso de capas com suspeitos, não culpados, assim o assunto fica mais real para o leitor, que não precisa mais imaginar o que está lendo e só observar e identificar os locais, que é fácil para uma pessoa nativa de Frutal, assim o jornal vira um formador sócio simbólico para os que o leem. A perspectiva de mundo dos leitores vai sendo criada por meio de interpretações textuais e imagéticas que o jornal intitula e relata como verdades diariamente, assim construindo sua visão de mundo a partir disso.

A narrativa, ou o comportamento narrativo, tem papel fundamental, sendo ato mnemônico por excelência.Assim, é possível compreender a importância que a mídia e os jornais diários de maneira particular assume nos processos de memória. Não é artificio qualquer de memória. Trata-se de um lugar privilegiado de memória,devido ao seu poder de narratividade (...)”. (CHRAUDEAU, 2006, p.93)

As escolhas das palavras no relato do acontecimento interferem na forma como ele é reconstruído (CHARAUDEAU, 2006) e o mundo passa a ser compreendido a partir de relatos textuais, já que o jornalismo (re)constrói o mundo e nos informa sobre ele. Assim, o jornal, ao apelar para uma linguagem mais popular e explorar de forma mais intensa a morte, passa a se preocupar menos com o “interesse público” e passa a suscitar mais um “interesse do público” sobre o assunto, provocando uma espécie de

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agendamento do leitor e, mais que isso, estabelecendo uma das partes do contrato de comunicação midiático onde aquele que compra as publicações já sabe o que esperar em suas primeiras páginas, tal como demonstrado anteriormente nos gráficos.

O jornalismo praticado no segmento popular da grande imprensa subverte essa lógica de priorizar o “interesse publico”. Baseia-se no entretenimento e não na informação, mistura gêneros, utiliza fontes populares e muitas vezes trata a informação de um ponto de vista tão particular e individual que, mesmo dizendo respeito a grande parte da sociedade, sua relevância se evapora. Muitas vezes, o interesse do publico suplanta o interesse público não em função da temática da notícia, mas pela forma como ela é editada, com base na individualização do problema, o que dá a sensação de não realização do jornalismo. (AMARAL, 2006, p.52)

Os receptores dificilmente julgarão a imparcialidade daquela notícia, pois partem do pressuposto que o jornal é um veiculo de informação que tem como missão trazer apenas a verdade, atribuindo, para isso, valores culturais como credibilidade. No entanto, muitas vezes, não se dão conta da preferência de um assunto ou outro ou, pelo menos, da forma como esses assuntos são selecionados e elencados no jornalismo.

4. Considerações Finais A pesquisa feita aponta o fato que a morte se apresenta com relação efetiva nas capas dos semanários analisados, como protagonista das manchetes principais, ocupando o espaço de 55% das capas analisadas do Jornal Pontal e 46% do Jornal de Frutal. A morte permanece de forma tão recorrente que se acredita que ela retrata a fragilidade do município por meio do horror, numa espécie de obsessão temática em cultivar a memória do medo. ...não podemos pensar em nenhuma realidade humana possível sem que a cultura e os processos da comunicação social (as imagens partilhadas) desempenhem papel central na formação da realidade, ou, pelo menos, na forma como os homens a concebem e com ela interagem. (CONTRERA,2002,p.39)

E esse medo que não é nosso medo e sim do outro, ocupa a vida de forma coletiva, com prerrogativa de criar concepções a partir dessa realidade retratada, moldando assim o cotidiano e vida social, “Medo molda o cotidiano das grandes cidade, desde seus contornos arquitetônicos até o comportamento de seus habitantes” (MATHEUS,2011,p.25)

28 ...em larga medida, o afeto que construiu nossas vidas sociais foi o medo. E há de se pensar sobre isso, e há de se pensar se boa parte do nosso bloqueio da nossa criatividade politica e social de nossa incapacidade e dificuldade de traçar novos futuros possíveis não venha do fato que o afeto em larga medida que construiu nossa sociedade foi o medo” T. 9:25 Vladimir Safatle Café Filosófico

A forma como a morte aparece no jornalismo popular tem dimensões politicas e sociais fortes, os procedimentos editoriais que organizam o jornal tem esse discurso como o principal para obter visibilidade, pois a questão mercadológica é envolvida diretamente antes do jornal chega ao leitor, e quando chega, carrega uma “cadeia de transformações

que

lhes

entregam

um

real



domesticado”

(MOUILLAUD,2002a,p.51).

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6. Anexos

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